• TRINTA - RAMON / ARTHUR
RAMON
Não sabia que meu dia, que estava tão bom, terminaria desse jeito. Comigo machucado, meu pai tentando leva - la a força para casa, minha mãe como um apoio silencioso para ele e vovó já empunhando sua bengala, pronta para nos defender ao seu modo.
- Vai! Seu noivo...
- Eu não vou! - grita a plenos pulmões. - Não vou mesmo seu louco! - mais uma vez ele tenta avançar contra ela. Me agarro a ela fortemente, ninguém vai tira - la daqui. No mesmo instante, meu namorado passa como um raio por nós. Jesus Cristo, ele vai amassar meu pai todinho. Com rapidez suas mãos envolvem o colarinho muito bem arrumado, bagunçando no processo. Faz com que fiquem quase nariz a nariz, já que Arthur é mais alto que ele alguns centímetros.
Aline passa por eles como um foguete e logo estamos com vovó que nos beija e chora ao ver meu rosto. Em seus olhos tão parecidos com os meus, há um rio em forma de pedido de desculpas. Ela não tem culpa, na mente dela o filho realmente queria nos ver por estar sentindo saudades nossa. Ela ficou sem vê - lo muitos anos e não tinha noção do que ele havia se transformado.
- Me larga sua...- Pela primeira vez na vida vejo o grande homem com medo. Engole em seco, evitando olhar para os olhos do homem que o segura firmemente.
- Sua o que? Vamos! - ruge em seu rosto. Todos nós pulamos no lugar. São poucas as vezes que Arthur mostra esse seu lado rude. Pouco controlado. Quem o as vezes sorrindo para o irmão ou me jogando no ar quando menos espero, nunca pensaria que ele poderia te fazer urinar somente com um olhar. Como agora, vendo - o nos defender com tudo de si.
- Por favor...- Herminia se cala ao receber o mesmo olhar.
- Quero que me escute com bastante atenção! - o homem não responde. Arthur o balança como um boneco e logo tem Oscar acenando freneticamente. - Você vai pegar a sua mulher, vai seguir pelo mesmo caminho que vieram e vão embora, só voltando aqui quando virarem gente! Fui claro? - diz tudo isso calmamente. A fúria de segundos atrás sendo vista somente queimando em seus olhos.
- Quem...- pigarreia. - Quem..você pensa que é?
- Eu? - seus olhos se fixam em mim. Há tanto amor, carinho e respeito neles que me toca. - Eu sou o homem dele. O cara que fica muito puto com quem ousa toca - lo do jeito que tocou. Eu sou o homem que o ama com tudo de mim e que é capaz de passar por cima de tudo e todos por ele, para defende - lo. Inclusive de você!
Silêncio no ar. Mas meu coração é um maremoto de alegria e como queria pular em seus braços e beija - lo profundamente.
- Não pode...não pode nos expulsar.
Arthur ri.
- Ouviu isso dona Elisa? Eu não só posso como vou! - a porta já está aberta e nem havia percebido.
Com simplicidade, meu namorado guia meu pai ainda segurando - o pelo colarinho e simplesmente o joga no corredor. O susto é tão grande que Herminia que quase não reage as coisas, dá um gritinho indo para o lado do marido que está deitado meio torto no chão onde foi jogado. Respirando fundo, fecha a porta no rosto deles e vem até nós.
Vovó perde a força das pernas ficando branca como um papel.
- Vó! - a amparo jogando o gelo meio derretido para o chão. Ela tenta sorrir e apertar minha mão mas seu aperto é fraco. - O que está sentindo? Pega água para ela Aline! - ela vai aos tropeços. Arthur me faz sentar também.
- É minha pressão meu neto. Nada demais. - faço careta.
- Nada demais? Amor, pega o remédio para pressão dela no quarto?
- Meu neto...
- Onde está vovó? Na sua bolsa? Na gaveta do armário perto de sua cama?- digo desesperado. A ajudo a beber um pouco de água.
- Bolsa! - logo tenho o remédio em mãos. Destaco um e ela o pega tomando - o em seguida. - Me desculpa meu neto, não sabia que isso iria acontecer. Ele pareceu sincero quando disse estar com saudades.
- Você disse certo. Não sabia e não vamos falar disso hoje. Vou te fazer um chá.
- Seu chá é horrível Ramon!
- Disse que gostava Aline!
- Posso ter mentido uma vez ou outra. - faz uma careta. Sorrio com meu coração cheio de amor por essa menina.
Olhando por outra ótica, foi bom esse encontro ter acontecido. Não a parte do soco, afinal de contas quem nessa vida gosta de apanhar? Ninguém. Mas digo na questão de enfrentar meu pai sem ter o medo me dominando. Ao enfrenta - lo, eu o fazia também com o meu passado. Com meus medos e inseguranças que vez ou outra sussurram em minha mente palavras que sempre saíram da boca das pessoas que deveriam me amar e não me diminuir sempee que podiam.
- Te amo sabia? Mesmo mentindo sobre gostar do meu chá. - ela ri alto.
- Eu sei que me ama. Mas que seu chá é uma merda, isso não posso negar.
- O que acha de deitar um pouco? Te levo até no colo!
- Sérgio que não ouça isso menino Arthur! Seus braços até que não são uma péssima ideia. - rimos enquanto vemos os dois sumirem corredor a dentro. A tempo de ver vovó apertando seus braços.
- Ramon...- volto - me para minha irmã. Que tem os olhos úmidos. Seguro suas mãos nas minhas. - Seu rosto...
- Vai voltar ao normal em breve.
- Obrigada por me defender.
- Não agradeça por algo que farei sempre! - a abraço. - Ele não tinha o direito de fazer o que fez. Você é adulta e dona de si. Ele que vá para o inferno com as exigências dele.
Ficamos por um tempo abraçados. Arthur retorna e se senta no sofá, me olhando atentamente. Tento lhe piscar um olho mas não consigo, sinto - o inchado. Digo que vou ficar um pouco com Aline e que logo estarei na sua casa. Ele acaria os cabelos dela suavemente e beija minha testa. Passamos pelo quarto de nossa avó e a encontramos deitada, de olhos fechados e ouvindo outro de seus louvores. Ajudo minha irmã a escolher uma camisola e mando - a tomar banho. Vestida com a roupa que separei, penteio seus cabelos e faço com que se deite com a cabeça em meu colo. Nos perdemos em meio a conversa sobre nossa vida. Sobre nossos anseios para o futuro e logo ela dorme. Beijo seus cabelos e deixo seu quarto. Pego uma bolsa pequena onde coloco tudo o que vou precisar e vou para o apartamento ao lado.
Está escuro e silencioso quando entro. Graças a Deus Davi deve estar dormindo. Não queria que visse meu rosto desse jeito. As portas da varanda estão abertas, deixo a bolsa sobre o sofá. Mal chego na varanda, sou envolvido por braços fortes, braços esses que conheço muito bem. Um beijo demorado é deixado em meu pescoço. Então estou caído, só dá tempo de soltar um gritinho. O bobo ri debaixo de mim.
- Meu Deus! Isso vai ceder com a gente.
- Não vai! - me aconchego em seu peito, pousando meu queixo sobre meu punho para poder olhar bem para ele. Um vinco se forma entre suas sobrancelhas grossas. Desfaço - o beijando bem ali. - Ele te machucou!
- Mais uma vez. - suspiro baixinho quando seu dedo traça a área ao redor do machucado. - Mas será a última! Eu fui muito além de enfrenta - lo. Eu fui contra meu passado! - agora quem traça seu rosto e principalmente sua boca sou eu. - Me defendi como me ensinou. - exponho orgulhoso. Arthur algumas vezes me leva para treinar com ele. E tem me ensinado muita coisa. Sei dar uma voadora sem voar junto.
- Quase! Deixou sua esquerda desprotegida.
- Nem tudo é perfeito nessa vida! - reviro meus olhos.
- Tem você, que é perfeito para mim! - sinto minhas bochechas quentes. Suspira olhando para o teto por um segundo. - Desculpa por jogar seu pai daquele jeito. - dou uma risadinha sem me conter. Atraio seu olhar para mim. - O que é engraçado?
- Nada! - engulo o ar junto com saliva quando me cutuca não acreditando em minha resposta. - Ah!
- Não acredito! - me cutuca de novo. Dou um pulinho quase virando a rede com a gente. Ele me segura firmemente.
- Você fez foi pouco. Pensei que iria amassar ele todinho!
Ele fica um segundo em silêncio. Mas engasga segurando a barriga cheia de gomos e ri alto. Tapo sua boca com minha mão.
- Shii! Vai acordar o Davi!
Ele tenta rir em silêncio. O movimento fazendo a rede balançar um pouco. Aos poucos a seriedade vai retornando para seus traços e olhos. Me aperta em seus braços, beija rapidamente.
- Eu te amo Ramon! E não vou deixar que te machuquem. Seja fisicamente ou emocionalmente. Não se eu puder evitar. - uma lágrima sorrateira desliza por minha bochecha, sendo capturada por um beija leve seu. Nunca vou me cansar de ouvi - lo dizer que me ama.
Muitos podem condenar nosso amor, alegando que estamos errados. Nos minando com seu preconceito. Mas nada vai mudar o fato de que eu o amo com tudode mim e sinto seu amor por mim quase palpável.
- Eu te amo também amor! - enterro meu rosto em seu peito. Beijando o local onde bate seu coração.
Ficamos por muito tempo assim. Somente curtindo a companhia um do outro. Ouvindo nossos corações e trocando beijos que dizem muito sem precisar colocar em palavras. É tarde quando nos despedimos e volto para meu apartamento, pois iria dormir com Arthur mas conversamos que seria melhor eu ficar com minha avó. Ao passar em seu quarto, vejo Aline toda enrolada nela. Sorrio e vou rapidamente tomar um banho. Deito do outro lado da cama dela e juntos fomos para a terra dos sonhos.
ARTHUR
Me olho no espelho pela quarta vez, decidindo se troco ou não essa camisa. Evito suar de nervosismo. Estou assim desde que me levantei hoje. Pois finalmente, após alguns encontros. Me senti seguro em apresentar formalmente minha mãe para Ramon. Não que eu tenha vergonha dele ou algo do tipo. Nunca. Se eu pudesse anunciar todos os dias e momentos para o mundo que ele é o homem da minha vida, faria sem ao menos hesitar. Amo ver como fica vergonha. Como fica todo vermelho.
O primeiro encontro deles não foi muito agradável, mesmo com meu namorado dizendo que para ele tudo estava resolvido. Mas sinto que ao ter os dois juntos no mesmo local conhecendo a mesma mulher com quem tenho estado tem alguns meses, será como dar outra parte de mim a ela. Mostrar sem ao menos dizer que a aceito em minha vida. Sem mais mentiras ou meias verdades.
Braços rodeiam minha cintura. Um beijo é depositado no centro de minhas costas. Logo vejo sua cabeça surgir ao lado do meu corpo. Instantaneamente sorrimos para nosso reflexo no espelho.
- O que tanto olha nesse espelho?
Dou de ombros.
- Acho que vou trocar de camisa. - seus olhos me esquadrinham de cima a baixo.
- Por que? Está tão gostoso nessa camisa! Olha esses músculos saltando.
- Por isso mesmo. Não acha que vai mostrar muito?
De repente fico ansioso de verdade. Além de ser apresentado formalmente para minha mãe. Vou conhecer pessoalmente meu padrasto. O homem que ainda sem conhece - lo já tem meu respeito por amar minha mãe com suas falhas e sua história. E aceita - la sem buscar mudar nada nela. E que a incentivou a ir atrás dos filhos.
- Seu padrasto vai te amar amor.
- Não sei. - fico em dúvida. - Ele e minha mãe já tem uma vida e....
- Se ele não quisesse vocês nela, acredito que não incentivaria sua mãe a procura - los.
Aceno lentamente. Respiro fundo, virando - me em seus braços que tentam me envolver por completo mas não conseguem pois sou bem maior que ele. Beijo seu rosto, seu nariz e sigo para sua testa. Vendo - o fazer beicinho para receber seu beijo na boca. Finjo que não vejo, tentando me afastar.
- Você tem razão! - me viro novamente para o espelho.
- Não está esquecendo nada não Arthur?
- E seria? - prendo o riso com seu bufo inconformado.
- Meu beijo homem! Faça o serviço completo oras!
- Não temos tempo para o serviço completo. - o agarro, fazendo nossos corpos ficarem tão juntos ao ponto de se fundirem em um só, se for possível
- Você me entendeu! - revira os olhos claros. Nem ao menos pisco. Tomo sua boca sem aviso. Enfiando minha língua em sua boca macia, tomando tudo o que me pertence. Da saliva com gosto de menta da bala que chupava a pouco a respiração dura e ofegante, que é só minha.
A campainha toca nos tirando do nosso beijo. Que queria repetir mais vezes até não pensarem mais nada não ser somente nós. Ramon está um pouco tonto quando nos separamos e se segura em mim.
- Eles chegaram! Eles chegaram! - Davi passa correndo no corredor.
- Eu vou abrir Davi! - grito quando tento arrumar os cabelos de Ramon. Ele sorri com os lábios inchados, os quais deixa ele ainda mais bonito.- Gostou do serviço? - brinco, minha ansiedade a tempos esquecida. Dou um tempo para minha ereção diminuir.
- Continua incompleto. - solta o ar com força de seus pulmões.
Olho para e toco com suavidade o local antes ferido pelo arremedo de pai. Não há mais nada ali. Se passou quase duas semanas desde que tudo aconteceu e parece que foi há muito tempo. Avó e netos, se possível for parecem ainda mais unidos. E foi como se uma pendência do passado tivesse sido resolvida. Tirando assim todo o peso que carregavam para sempre. Eles estão felizes e é isso que importa.
- Mais tarde eu termino com prazer! - pisco - lhe um olho. De mãos dados seguimos até a sala onde Davi, indo contra minha ordem ao abrir a porta, espera juntamente com Viviane e seu marido.
O homem é de estatura média, pele negra como a minha, olhar gentil e suave. Ele está sentado ao lado da esposa que conversa animadamente com meu irmão que lhe conta como foi a escola essa semana.
- Desculpa a demora! - murmura formalmente, um tanto vermelho.
- Sem problemas. - ambos se erguem. - Arthur, esse é Mário Alves. Meu marido. - ele estende suamão, apertando a minha com firmeza.
- Prazer em conhece - lo Mário! Já conhece meu irmão imagino. - o próprio ri alto abraçado a cintura da mãe que lhe acaricia os cabelos. O homem acena.
- O prazer é meu e seu irmão é um garotinho muito educado. O homem transpira gentileza e vejo que era disso que minha mãe precisava da sua família, da vida. Gentileza.
- Obrigado! - com a mão na cintura do meu namorado, sorrio. - Esse é Ramon, meu namorado. O homem da minha vida.
Não há julgamento na forma de nos olhar. Um dos meus muitos receios em relação a ele. Apenas aceitação.
- Eu te conheço rapaz! - diz alegremente. Meu namorado falta pouco engasgar com a própria saliva. Ele ri nervosamente.
- Eu cai na sua frente em algum momento e não me lembro? - pergunta baixinho e é bem capaz. Suas pernas as vezes não o obedecem.
Todos gargalham.
- Não. Você é musicoterapeuta no hospital onde trabalho. - meu loiro fica aliviado. - O trabalho que faz com toda a equipe do hospital é muito bonito.
- Uffa. Uma vergonha a menos. - suas bochechas avermelham. - E obrigado. Eu amo o que faço.
- Admiro isso. Quando se trabalha por amor, tudo é leve. E alcança a muitos.
- Ramon...- Minha mãe se aproxima, parece constrangida. Ramon é todo sorrisos. - Queria pedir desculpas pela primeira impressão que causei.
- Está tudo bem. Não era o melhor momento, eu entendo. Você é uma ótima pessoa e gostaria de ter um bom relacionamento com a mãe do meu namorado.
Ambos sorriem e se abraçam. Ramon ergue o dedo em sinal de joinha ainda abraçado a minha mãe.
- Davi tem razão, vocês realmente sabem abraçar. - rio enquanto seco uma lágrima fujona do meu rosto.
- Você faz meu filho feliz. E isso já é motivo o suficiente para eu gostar muito de você. - diz enquanto se separam. Ramon fica mudo mas o sorriso que estampa seu rosto diz tudo.
- Gente, eu estou com fome. - o pequeno se pronuncia arrancando mais risadas nossas.
Juntos colocamos a mesa e aquecemos a comida que dona Elisa fez questão de deixar pronta antes de partir juntamente com a neta e o namorado e meus amigos para um Hotel Fazendo. Vão ficar o fim de semana todo lá e na semana que vem vamos todos jangar em um restaurante para que eu possa apresentar meus amigos a eles. Nos sentamos para comer, sem deixar de conversar sobre tudo. A verdade meses atrás me destruiu mas me libertou também. Tenho uma linda família, amigos que são meus irmãos, um emprego que amo e o homem ao meu lado, que em breve vai sentir a textura do meu anel em seu dedo por toda a sua vida se Deus assim permitir.
Não preciso de mais nada. Sou muito feliz e sou grato.
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