• QUINZE • RAMON
De mãos dadas, tentamos acompanhar o ritmo elétrico do garoto a nossa frente. Meu fim de semana está sendo maravilhoso, achava que ele seria diferente mas ele superou minhas expectativas. Eu passei com minha família e não me arrependo. As vezes os afazeres do dia a dia nos soubam tempo preciosos com aqueles que amamos. E estou tão feliz que em alguns momentos um medo de que tudo termine tão logo como começou tenta se apoderar de mim.
Sonho que meu pai tem razão. Que eu vou sim para o inferno somente por amar sem restrição. Acordo suado e tremendo, com lágrimas escorrendo por meu rosto e o único remédio que tenho ao alcance é abraçar meu travesseiro até meu coração se acalmar e eu repetir uma vez ou outra até dormir novamente, que tudo não passou se um sonho. E que ele não tem razão e nunca terá.
Ele está longe de mim. E da minha irmã, não tendo como espalhar seu ódio e preconceito disfarçados de religiosidade pare condenar nosso modo de viver e amar.
Olho de esguelha para o homem ao meu lado percebendo que estou sendo observado, recebo um aperto suave em minha mão.
Avisto um banco de ferro pintado um vermelho vivo. A praça onde decidimos dar uma volta após o almoço, fica em um bairro localizado perto do condomínio onde moramos. Davi se pendura em uma gangorra dajdo gritinhos de alegria.
Dou uma risadinha, deitando minha cabeça contra seu ombro. Ele está usando camiseta sem manga, deixando seu musculoso braço a mostra.
- Vai me contar o que tanto pensava?
Suspiro baixinho.
- Hum... só estou muito feliz. - Ele me aperta em seus braços.
- Eu também, não imagina o quanto!
- Eu posso imaginar! Estar com você é ....- me calo não querendo me expor e ficar tão vulnerável diante dele. Meus sentimentos por ele vem crescendo cada vez mais e é tão bom. Me sinto completo e de alguma forma amado.
- Estar comigo....?
- É bom! - dou de ombros, evitando seus olhos escuros e que em alguns momentos parecem enxergar mais do que o recomendável.
- Vou deixar passar!
- Tio Ramon! Me empurra por favor! - dou risada ao ver o olhar de cãozinho pidão que ganho.
- O amor da minha vida me chama!
Ele finge estar horrorizado.
- O amor da sua vida não seria eu?
Faço uma longa pausa para pensar. Tentando ficar muito sério.
- Um dia você chega lá! - jogo no ar e saio correndo quando faz menção de se levantar.
- Pois saiba que você já é o amor da minha vida! - grita pois estou já bem perto de onde seu irmão me espera sentado no balanço feito de pneu.
Andando de costas ainda, observo todo o seu rosto procurando por um indício de que a declaração seja uma brincadeira. Mas não vejo nada nele a não ser a mais pura seriedade marcando os traços firmes e rígidos. Meu coração para e volta a bater em um espaço de um segundo. A vontade de gritar que meus sentimentos por ele são muito fortes para conter em meu peito vem com força mas me freio. Terei um momento oportuno para isso. Lhe pisco um olho, o sorriso em meu rosto quase o divide ao meio tamanha a intensidade dele. Mando um beijo no ar, o qual ele pega guardando em seu peito. Sinto minhas orelhas, pescoço e bochechas vermelhas.
Me coloco atrás de Davi e começo a empurra - lo. Sua risada contagiante preenche o ar ao nosso redor. Ainda não há crianças por perto mas creio que será por pouco tempo. Esse parque fica bem cheio por volta das três da tarde e não são nem duas horas ainda.
Algum tempo depois, vou na gangorra junto com Davi. Claro que quem ganhou na brincadeira fui eu que nem me importei de usar meu porte de adulto para deixa - lo no ar por tanto tempo quanto conseguia. Ele ria de engasgar ao tentar me fazer baixar mas eu era firme. Muito adulto da minha parte mas não ligo. Nossa brincadeira ganhou intensidade quando Arthur com todo aquele peso em músculo, veio ajudar o irmão. Eu cheguei a choramingar como um bebê em busca de ajuda mas não consegui.
Brincando com esse pequeno pacote de energia, me dei conta de uma verdade dolorosa para mim. Me mostrou que não tive a oportunidade de ser uma criança que brincava sempre que queria. Nossa vida se resumia a estar na igreja. Minha irmã tinha que ser uma menina perfeita aos olhos da congregação e eu o músico perfeito. Minha comida era muito restrita pois não podia parecer gordo aos olhos da congregação e sempre ouvia que gula era pecado e o filho do meu pai não era um pecador.
Saio de minhas divagações ao som do riso de Davi. Ele me chama para ir brincar de outra coisa, nesse meio tempo algumas crianças já tinham chegado e ocupavam os outros brinquedos.
Fomos montar castelos de areia enquanto Arthur foi atender uma ligação. Estava terminando de encher meu baldinho de cor verde, quando notei o menino muito quieto ao meu lado. Ele estava ocupado em encher seu baldinho.
- Ei, o que houve?
Seus pequenos ombros sobem e descem suavemente.
- Posso te contar uma coisa tio Ramon?
Arthur ainda está no telefone e pela sua cara, não parece estar gostando do que quer que esteja ouvindo. Prestando um pouco mais de atenção, vejo que o ar descontraído que o envolvia se foi. Os ombros e costas tensos me dizem que ele está se segurando. E que é muito difícil para mim vê - lo com raiva. Na verdade nunca o vi cheio dela. Pelo pouco que o conheço, ele se mostrou um homem muito educado, sério e responsável. E acima de tudo, com um coração enorme. Pois se puder te ajudar em tudo ele fará. Ele está tão preocupado em cuidar dos outros que as vezes se esquece de si mesmo.
- Tio, olha para mim! - viro - me encontrando a cópia fiel dele me encarando com um beicinho em seus lábios. Sorrio minimamente.
- Desculpa! Pode falar pequeno!
Suspirando pesadamente, me encara agora como se não tivesse dez anos mas cem. Com uma maturidade e sabedoria que me espantam.
- Eu sei que minha mãe não me quis! - recebo a afirmação como um tapa. Chego a me sentar na areia, a atividade de montar uma ponte de areia esquecida por mim. Olho para minhas mãos tentando pensar em algo para dizer mas fico receoso.
Estou inteirado sobre a história de ambos os irmãos tem um tempo. Não foi algo que Arthur quis esconder. Ele se abriu comigo na noite que fui jogado na fonte, me informando que no pacote que era ele, vinha de brinde o irmão. E aceitei mesmo que não estejamos em um relacionamento que tenha qualquer rótulo. Sei que ambos abandonados por uma mãe que não mostrou nenhum arrependimento em faze - lo. Um foi deixado com a avó que não era a mais carinhosa das senhoras mas o criou mesmo assim. E o outro foi deixado com o irmão com poucos meses de idade. Na mesa quando estávamos tomando café, vi que ao explicar para minha avó o motivo de sua mãe não estar por perto foi amaciado por Arthur mas pelo que ouvi segundos atrás, o garoto está bem ciente do que aconteceu.
- Como? Quem te disse isso?
- Não precisa me esconder as coisas tio, ouvi meu irmão falando com tio Silas uma vez que minha mãe não me quis. Assim como não o queria também.
- Davi...- minha garganta se fecha de repente. Ele só tem dez anos. Não deveria se sentir assim. Sem valor. Mas o olhar firme em seu rosto me quebra ainda mais.
- Eu sinto falta dela sabe? Mas eu quero ficar com meu irmão para sempre. Ele me ama um tanto assim oh! - tenta abrir os finos braços o quanto pode. - Faz pão com ovo para mim, pois eu gosto muito. Deixa eu tomar banho sozinho por que já sou um homem. Me ensina o dever de casa, ele é muito inteligente sabia?
- Eu sei. - Murmuro engasgado com as muitas emoções que me acometem.
- Deixa eu ver os filmes que gosto. Passeia comigo e me leva para tomar sorvete sempre. Se minha mãe aparecer, não sei como vai ser. Não quero ficar sem meu irmão. - o trago para meus braços. Ele envolve meu pescoço e o encho de beijos, fazendo - o rir alto, o que atrai a atenção das outras pessoas mas não ligo.
- E não vai ficar! - me arrisco a fazer uma promessa que nem eu sei se serei capaz de cumprir. Mas vou fazer de tudo para que aconteça como prometi. Nem se eu tiver de buscar ajuda longe. Sei que sempre posso contar com o anjo que me ajudou tanto quando não tinha mais um teto sobre minha cabeça. - Todos nós vamos te proteger!
- Vai precisar malhar para ficar bem forte igual meu irmão! - dou risada.
- Ah eu tenho alergia a exercícios físicos!
- Existe isso tio?
- Não existe! - diz uma voz acima de nós. Arthur segura seu celular firmemente em uma de suas mãos. A outra ele usa para acariciar o cabelo do irmão. Olho para seu rosto que está sereno mas seus olhos me contam outra história. Parecendo advinhar o rumo dos meus pensamentos, joga o queixo para o irmão.
- Existe sim! - empino meu queixo.
- Isso se chama preguiça! - meu queixo cai em falso horror.
- Não sou preguiçoso!
- Ah tá! - dizem.
Guardando minha conversa para expor ela mais tarde para Arthur, faço cócegas em Davi que se contorce em meus braços rindo tanto que seu rostinho fica vermelho. O restante da tarde passamos brincando e quando deu a hora de voltarmos, o pequeno pediu para tomar um sorvete. Paramos na sorveteria que fica perto do condomínio e fazemos a alegria dele. Eu também entrei no ritmo. Coloquei tanta jujuba e confeitos em meu sorvete que era quase impossível enxerga - lo. Meu segurança favorito ficou apenas com um açaí puro.
De frente para meu apartamento, Arthur entrega as chaves do seu nas mãos pequenas e ansiosas do irmão, que corre para entrar em casa. Me recosto na madeira fresca quando me ergo nas pontas dos pés e deixo um beijo em seu queixo. Seu suspiro baixinho preenche o pouco espaço que há entre nós. Suas mãos vão para minha cintura, colando seu corpo ao meu. Seus músculos se moldando perfeitamente em mim. Meu coração acelera e nem me surpreendo mais com minhas reações a sua proximidade. É sempre assim. É como se fosse a primeira vez que nossos lábios se encontram.
Seus olhos escuros encontram os meus.
Se inclinando, junta de forma serena sua boca na minha. Primeiro é uma breve mas intensa carícia. Sem me conter, solto um gemido de antecipação abrindo minha boca para receber sua língua quente e esperta em minha boca. Me apoio em seus braços, com vontade de escalar todo o seu corpo em busca de mais. Minha mente me avisa que estamos em pleno corredor.
Nos separamos em busca de ar. Seus lábios estão inchados, como acredito estarem os meus. Com um olhar de contemplação, ele traça minha boca com seu dedão.
- Amo te beijar sabia?
- Eu também. - me sinto quente em tantos lugares, que prefiro nem pensar.
- O bingo começa às sete certo? - pisco uma vez para tentar me concentrar nas palavras. Tinha até me esquecido do bendito bingo. Se eu não amasse tanto minha avó, eu não iria.
- Hum....certo! É sério, não precisa ir!
- E perder a oportunidade de vê - lo sendo apertado o tempo todo? - me lança um sorriso sacana. Lhe dou um soco no braço, que nem ao menos o abala.
- Ridículo!
- Que você ama beijar!
Reviro meus olhos.
Respiro profundamente, me lembrando da conversa que tive com seu irmão e também do seu telefonema.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro!
- Com quem estava falando mais cedo? Você ficou estranho depois de desligar. - olha para o lado e volta sua atenção para mim.
E pelo seu olhar, não me dirá nada. Não hoje e nem agora.
- Você não é obrigado a me dizer nada Arthur. - digo suavemente. O que é uma verdade sólida. - Ainda estamos no começo do que talvez será um relacionamento, não quero ser invasivo. Apenas quero te ajudar.
- Não tem nada de talvez aqui. - diz com intensidade enquanto beija minha testa. Meu coração se aquece.
- Só ouviu isso homem? - dá de ombros.
- Sei que quer me ajudar, só não quero falar sobre isso hoje. Nosso domingo está tão bom, não quero estraga - lo.
Sorrio pousando meu rosto contra seu peito. Como sempre não há perfume algum nele e mesmo tendo corrido tanto hoje com a gente, não está cheirando a suor.
- Tudo bem. - me afasta um pouquinho dele. Engulo em seco e digo tudo de uma vez. - Acho melhor você conversar com seu irmão sobre a mãe de vocês. - ele fica tenso e me observa bem de perto. - Hoje ele me disse que sabe que a mãe o deixou por não querer ele. Que sente falta dela mas não quer ficar longe de você.
Ele parece petrificado. Pisca algumas vezes talvez tentando se orientar.
- Mas como ele soube disso?
- Ouvindo uma conversa entre você e Silas.
Ele passa a mão pela barba escura e bem feita. Apertando os lábios carnudos em uma linha fina. Solta o ar com força de seus pulmões.
- Eu vou conversar com ele quando chegarmos. - me abraça, enfiando o rosto em meu pescoço. Sinto - o aspirar meu cheiro e não consigo me conter pois o ato me trás cócegas. - Amo seu cheiro!
- Argh! - Tento sair de perto rindo muito. - Como pode isso? Estou suado.
- Até suado, você tem um charme!
- Mentiroso!
Nos afastamos rindo. Olhando para seu rosto pela décima vez no dia, me perguntando como pude ter tanta sorte de encontrar um homem como Arthur. Eduardo, sério, de coração grande, amigo, companheiro.
- O que é esse olhar em seu rosto?
Sorrio.
- Nada. - ainda de costas, apoio minha mão na maçaneta da porta. - Tenho que entrar.
E acontece o inacreditável. Um homem de dois metros de altura faz beicinho para mim.
- Está fazendo beicinho?
- Não! - diz com um riso preso. - Quero te fazer um convite.
O olho ansioso. Por um instante, penso em vê - lo constrangido mas essa impressão é tão rápida que penso ter visto errado.
- Aceita tomar um banho comigo?
Minha boca se abre em choque. A vontade de dizer um "Sim" bem alto, me assalta com força mas me freio. A insegurança de estar totalmente nu diante dele me faz recuar. E se ele não gostar do meu corpo? E se pensar depois de me ver, que não vale a pena? Ou se rir de mim? Deus, eu sei que Arthur nunca tiraria sarro de mim. Mas...
- Sei o que está pensando! - segura meu rosto em suas mãos grandes. - E vou voltar a te dizer: eu acho você lindo! Todo você! Acredite que quero muito mais do que tomar um banho com você, mas vou esperar seu tempo.
- Eu também quero. - engulo em seco. - Não quero que se decepcione com o que vai ver! - digo muito rápido. Ele beija de forma casta meus lábios.
- Não vou!
O abraço novamente. No apartamento dele encontramos seu irmão e primo montando algumas figuras de lego. Cumprimento o homem de porte esguio e cabelos cacheados com um simples "oi", que é retribuída de forma educada. Arthur me leva para seu quarto, onde pega duas toalhas vermelhas que mais parecem um lençol de tão grandes, uma roupa para mim para que possa ir para meu apartamento e duas cuecas boxer. Uma delas estando ainda ensacada. Apoiado em sua pia, observo - o se despir sem vergonha alguma bem diante de mim. Ver gradativamente cada centímetro de pele sendo revelado a medida que tira suas roupas, é quase um modo de tortura. Minha boca se enche d'água quando a última peça vai embora, permitindo que eu veja o quão excitado está.
Vagarosamente, se aproxima e posso sentir o quão quente está sua pele. Nunca senti por outra pessoa o que sinto com Arthur. É uma vontade de estar bem perto dele. De traçar cada linha firme de seus músculos, lamber seus mamilos escuros, beijar todo o seu corpo. De deixar minhas inseguranças de lado e experimentar tudo com ele.
Ganho um beijo bem abaixo de minha mandíbula. Seguro o gemido que seus lábios quentes me provovam. Ele dá uma risadinha, na certa ciente do que faz comigo.
Minha blusa de pano mole é a primeira a ir embora. Os beijos continuam em direção a minha orelha que esquenta quase que imediatamente. Seguro seus braços em busca de apoio, minhas pernas de repente perderam a firmeza.
Estou tão excitado. O que esse homem tem? Jesus o que acontecerá quando chegarmos nos finalmente? Uma pessoa pode morrer de prazer?
- Arthur....
- Eu sei... só vamos tomar um banho.
Com a mesma lentidão com que me beija, me livra das minhas roupas. Agora estamos totalmente pelados, com alguns centímetros nos separando. Não desvio meus olhos de seu rosto para ver como reage ao meu corpo e quase caio ao ver quanto desejo tem ali. É como uma fome que precisa ser saciada.
Ele me deixa para ligar o chuveiro e por incrível que pareça sinto sua ausência. Juntos entramos debaixo do jato d'água fria. O clima está tão quente que não ligo. Arthur sem esperar, me beija com gana e desejo. Nossos corpos já não tem espaço vago entre nós. É quase como se quiséssemos nos fundir um no outro. Não sei quanto tempo nos perdemos um no outro, em beijos profundos e apaixonados. Mas foi muito bom.
Quando saímos, não estava mais receoso.
Eu tinha certeza de que meu corpo pode não agradar muita gente. Mas eu tinha que gostar dele em primeiro lugar. E estava feliz por isso.
07/11/20
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