• NOVE • RAMON
Com nossos rostos juntos, fazemos beicinho na frente da tela do celular. A câmera frontal nos permite ver como a foto está. Minha irmã que tem os cabelos hoje em ondas sobre os ombros, me manda fazer outra pose. Para fazer uma gracinha e estragar a foto, fico vesgo colocando minha língua para fora e também enfiando meu dedo indicador no seu nariz. Ela dá um gritinho após ver a foto que bateu no susto, me acertando uma cotovelada. Corro dela rindo como um louco, ficando sem ar no processo.
Ela me envia olhares mortais. Não sinto medo algum.
- Seu ridículo! Estragou nossa foto!
- Não seja dramática! Nós tiramos outras antes dessa!
- Mas eu queria postar essa!
- Então posta! - dou uma volta completa na frente do espelho de corpo inteiro em meu quarto. A calça preta apertada, juntamente com a camisa branca e uma quadriculada por cima, em conjunto com o All Star colorido que uso, me deixam com uma aparência mais jovem do que realmente sou.
- Agora que vou postar mesmo! Depois não reclama! - seus dedos voam a uma velocidade assustadora sobre a tela.
Meu celular vibra sobre o criado mudo, o pego vendo que é uma mensagem de Nana, avisando que está subindo. Corro para pegar meu afilhado nos braços. Estou com muita saudade dele. A última vez que o vi foi ontem em um vídeo que sua mãe me enviou, onde ele faz uma bagunça danada dentro do armário de cozinha. O menino de alguma forma conseguiu rasgar o pacote de farinha de trigo e mergulhou na farinha branca, rindo alto como se tivesse encontrado ouro. Na hora do banho, minha amiga me disse que tinha farinha até onde não deveria.
Abro a porta e nem ao menos cumprimentando ela, já vou embalando meu bebê em meus braços. Ele que é todo atirado, agarra meu pescoço com suas pequenas mãos e me enche de beijos úmidos.
- Oi bebê do tio! Tá bonito ein. Pronto para uma festa de pijama com a vovó Elisa?
- Vó! - procura por sobre meu ombro, apontando o minúsculo dedo na direção que ela está, todo sorrisos.
- Isso mesmo!
- Mas olha como você cresceu! - diz a partir do sofá. O levo até ela que o senta em suas pernas. Ele tenta pegar seus óculos com suas mãozinhas rápidas.
Nana coloca as bolsas com as coisas dele sobre o outro sofá. Assim como Aline, ela está usando um vestido colado ao corpo cheio de curvas. O tecido vermelho parece brilhar a luz ambiente. Quando se inclina para deixar um beijo no rosto de minha avó, vejo que suas costas ficam expostas pelo corte quase indecente do vestido. Minha irmã aparece com seu vestido branco, moldado ao seu corpo, não há costas expostas no caso dela mas o decote que o modelo tem, não cobre muita coisa. Ambas estão muito bem maquiadas e sorriem quando se vêem.
Elas se conhecem tem pouco tempo mas parecem ser amigas de infância.
- Está linda Nana!
- Vocês também estão lindos! Seu vestido é lindo Lili. - se vira para mim, observando - me atentamente. - Essa calça deixa sua bunda maravilhosa! Deu até vontade de apertar!
- Vocês também não estão nada mal meninas! Vou ter que ficar de olho em vocês. Serei o segurança particular de vocês! - lhes pisco olho. Me arrependendo quase que imediatamente de citar tal profissão.
Depois da conversa que tivemos e que mais parecia uma troca de farpas do que outra coisa, não vi mais Arthur. Quando o pequeno David veio aqui, fizemos a sessão pipoca que prometi para ele e quando deu a hora do irmão busca - lo, quem apareceu foi o tal tio Fábio. Que mal falou com minha avó, demonstrando uma tremenda falta de educação e já foi arrastando o menino para a casa dele. Ainda trabalhei em mais dois eventos nessa semana e estive no hospital.
- Ei Ramonzito, tudo bem? Está com dor de barriga?
Pisco algumas vezes.
- Hum... não! - forço um sorriso.
- Tem certeza? Essa sua careta diz o contrário!
- Não é nada Nana! - bato palminhas pronto para mudar de assunto. Posso sentir, mesmo sem ver os olhos de águia da minha avó sobre mim. - Agora vamos, estou doido para tomar aquele chopp gelado.
- Eu também, faz tempo que não saímos para beber não é?
- Agora que está falando....- pouso o indicador sobre o queixo. - Tem razão, tem o que? Dois meses?
- Quase isso! - suspira. - O buffet as vezes toma todo o meu tempo. Mas adoro o que faço. - vejo minha cópia retornando do carro com uma pequena bolsa na cor prata, nem tinha percebido que saiu da sala. Ela estava tão animada para sair. Desde que chegou aqui só saímos de manhã para ir na feira ou no supermercado. Ainda não tinha tido a oportunidade de apresentar a noite carioca para ela. Estava muito feliz por isso, acredito que hoje será a primeira vez que ela se permitirá beber algo mais que água, suco ou refrigerante.
- Estou pronta de verdade gente! - dá pulinhos no lugar. Os saltos altos a deixando um pouco mais alta que eu.
- Nós também estamos! - me viro para minha avó que sorria enquanto Caio assistia a algo em seu tablet completamente vidrado no que era exibido. Os cabelos castanhos como os da mãe estavam apontando para todas as direções possíveis. Era um fato que a juba não era domada por nenhum gel no mundo. Beijo os rostos deles. - Tchau vó, vamos naquela choperia que abriu tem pouco tempo. Qualquer coisa você pode nos ligar!
- Não vou precisar ligar para vocês! Sei muito bem cuidar de uma criança sabe? - nos pisca um olho. Rimos enquanto Nana enchia o filho de beijos.
- Nós sabemos vó!
- Agora vão! Se divirtam com responsabilidade. E Ramon meu neto, eu coloquei na sua carteira aquelas camisinhas que brilham no escuro que você tanto gosta! - anuncia animada. Sinto minhas orelhas vermelhas. As meninas estão rindo como hienas de mim.- Está rindo de que minha neta? As suas tem diversos sabores! A de chocolate deve ser maravilhosa, depois me conta o que achou! - aponto o dedo para minha irmã rindo alto, que assim como eu está completamente vermelha. O seu constrangimento como o meu, começa mas orelhas, indo para o rosto e por último o pescoço.
- Não vou transar com ninguém hoje! - bate o pé no chão.
- Mas é bom andar prevenida! Espero que esteja prevenida também menina Nana.
- Nunca ando sem vó Elisa! - ri alto, enquanto ela nos esquece para dar sua total atenção para meu pequeno.
Nos despedimos deles e após trancar o apartamento usando minha chave, deixamos o prédio com uma energia pulsante de animação pela noite que nos esperava. Minha irmã digita em seu celular enquanto cantarola uma música em um tom baixo. Nana irradia animação e eu quase danço no lugar tamanha a vontade que estou de me jogar na noite fresca e estrelada. Após nos acomodarmos em seu carro e colocarmos nossos cintos de segurança, seguimos para a choperia.
Quando consegue um lugar bom para estacionar, Nana diz para irmos na frente. Aline segura em meu braço em busca de apoio pois há lugares desnivelados na calçada diante do local e olha deslumbrada para tudo e todos. Lhe dou um aperto suave transmitindo através desse gesto todo o entendimento. Ela viveu tão presa com nossos pais que qualquer local para onde vá, é o mesmo que fosse um novo mundo para ela. Me lembro da primeira vez que fui a uma boate depois de alguns meses morando aqui, além de não saber para onde olhar, Nana só sabia rir de mim e quando recebi uma cantada de um cara lindo e de sorriso deslumbrante, não soube lidar. Resultando comigo correndo como tanta atenção.
- Vamos arrumar uma mesa para nós!
Acena animadamente.
Há dois ambientes dos quais podemos escolher. Há o interno que é composto pelo salão extenso, uma bancada de madeira maciça escura e com entalhes em alto relevo, que pega de uma parede a outra. Quatro banheiros, dois dos clientes e dois para os funcionários. Há também um palco de tamanho médio que é o lugar onde bandas de pequeno porte tocam suas músicas animando a clientela.
O ambiente externo é composto por kesaas e cadeiras altas de ferro escuro e tampos de vidro temperados na forma quadrangular. Fica em uma área que vem antes da calçada ter início, não atrapalhando o tráfego das pessoas. Como a noite está longe de estar fria, escolho uma mesa que fica perto de uma das janelas enormes abertas e que nos dará uma visão maravilhosa do palco onde uma grupo que ouvi tocar samba arruma seus instrumentos. O cantor é lindo de morrer. A pele em um tom caramelo e tocada pelo Sol me chamam como um irmã. Ele sorri quando um dos integrantes do grupo levando um pandeiro diz alguma coisa que parece ser muito engraçada pois sua gargalhada é alto.
- Hoje ouviremos samba, você gosta?
- Amo! - brinca com os guardanapos arrumados.
- Eu também gente! Quero dançar até suar hoje! - Nana se senta ao meu lado. Olha para o palco também. Suspira dramaticamente se abanando. - Nossa que braços! Imagina aquilo tudo me pegando!
Minha irmã ri tapando a boca. Os olhinhos como os meus brilhantes.
- Quais os deles? São todos tão fortes!
- Nisso você tem razão! - quase que minha mente me trai e um par de braços fortes me vem a mente. Mas apago sem lhe dar chance de povoar minha mente.
- Já vão pedir? - uma moça de sorriso simpático diz bem perto de nós. A camisa com a logo do estabelecimento não a deixa menos bonita.
- Eu vou querer água por enquanto.
- Aline pode beber! Vim de carro mas vamos voltar de táxi. Eles sempre entregam o carro no dia seguinte.
- Tenho medo de passar vergonha. E constranger vocês. - encolhe os ombros. - Nunca bebi na minha vida.
A moça simpática não parece chateada por estarmos discutindo ao invés de fazer os pedidos.
- Se for para pagar mico por estarmos bêbados, vamos fazer isso juntos. Vai irmãzinha, não deixe de fazer as coisas por vergonha.
Após pensar por um momento, acena com entusiasmo. Assim como ela pedimos Chopp e enquanto esperamos, conversamos como foi nosso dia. Minha irmã me conta animada que na segunda irá na sua primeira entrevista de emprego. Assim que veio para o Rio, se cadastrou em um site para conseguir um emprego. Achei que fosse demorar um pouco mas hoje ela me contou muito animada e dando pulinhos ao meu redor que recebeu um e - mail informando sobre uma entrevista na segunda na empresa Lambertini. Seria a nova secretária do dono da empresa. Nana fala que rompeu seu lance com um dos caras com quem sai, pois ele insistia em ter um compromisso com ela. Coisa que não está a procura no momento. Nós rimos quase até engasgar com o ar quando ela imitando o carinha que não aceitou muito bem o "rompimento" deles.
A primeira rodada de nossas bebidas chega. O líquido um pouco amargo mas bem geladinho desce maravilhosamente por minha garganta. Suspiro e começo a dançar no meu lugar ainda sentado quando o grupo começa a tocar a primeira música. E juro quase tenho um orgasmo com a voz do cantor. O homem poderia ser uma cópia fiel do Diogo Nogueira. Sua voz só fãs completar tudo.
Percebo que as duas degustam de suas bebidas com minha irmã dando uma risadinha após tomar um pouco da sua mãe juntamente com minha amiga parecem esperar por alguma coisa de mim.
- O que?
- Conta para a gente! E o vizinho? Como vai? - sentei - me ereto, esperando mais do líquido gelado descer corretamente por minha garganta.
- O que tem ele? - disse com um pouco mais de força.
Recebo somente uma sobrancelha erguida. Minha irmã está ocupada olhando ao redor. A animação tomando seus traços é como um carinho na minha alma. Ela está se divertindo e enfim vivendo como jovens da idade dela fazem. E isso para mim, já valeu minha noite.
- Você não tem falado dele mais!
- Não tenho o que falar! - dou de ombros.
- E as coisas que anda sentindo? - insiste mais um pouco. Me remexo de maneira desconfortável em minha cadeira alta.
- Podemos mudar de assunto? - peço sinceramente. - A noite está tão boa! - seus olhos se fixam nos meus e são tão profundos e sábios, que é como se pudessem tirar toda a informação que precisa de mim, mas diante do meu pedido, após alguns segundos sua boca se estica em uma linha fina.
- Certo! - aperto sua mão rapidamente, lhe dando um sorriso sincero.
Outro samba tem início e após terminar minha bebida já pedindo por outra me coloco de pé. Nana né acompanha e nos deixamos levar pelo ritmo maravilhoso. Não aguento ver minha cópia sentada e seguro sua mão, levando - a para perto de nós. Nossa segunda rodada chega e com um copo em uma mão e a outra segurando a sua, a ensino a dar os primeiros passos. No início ela parece um pedaço de pau mas quando se solta, recebe palmas e assovios quando parece dominar o pequeno local que escolhemos para dançar. Nana toca seu quadril com o meu e dançamos.
Voltamos a nos sentar. A banda parou por alguns minutos para se hidratar. Estamos na quinta rodada de chopp. Minha bexiga manifesta sua presença e aviso que vou ao banheiro. Lavo minhas mãos e as seco no papel toalha disponível ali. No corredor bato em um corpo grande, suado e cheio de músculos.
Alguém segura minha cintura. Olho para cima e sorrio.
- Oi. Desculpa não te vi aí!
- Sem problemas! - ele continua me segurando. - Posso soltar? - brinca suavemente. Finjo estar bravo
- Não estou bêbado! Consigo fazer um quatro aqui, quer ver?
Tendo certeza de que não vou beijar o chão, me solta devagar. Pigarreio quando seu olhar profundo escaneia todo meu corpo. Filho da puta gostoso.
- Não precisa! Está gostando das músicas? - puxa assunto.
- Demais! Não sei se já ouviu isso, mas sua voz é idêntica a de um cantor... - ele ri coçando a nunca. Seu olhar quente me mede de cima a baixo.
- Eu sei. Diogo Nogueira. - Ficamos em silêncio. Eu descaradamente o observo por completo. As veias saladas em seus braços me dão ideias e acho que não consigo disfarçar pois o sorriso que me lança é luminoso. Fico sem jeito.
- Tenho que ir.
- Claro! - antes que possa passar por ele, segura meu cotovelo levemente. - Tem alguma coisa para fazer mais tarde? Gostei de você!
Sorrio pronto para quase me lançar sobre ele. Mas bem no fundo de minha mente ouço suas palavras. Tento não pensar nelas, faz tempo que não dão o ar de sua graça.
- Claro! - não lhe dou ouvidos. O homem está a quilômetros de distância de mim mas as vezes parece estar tão perto. - Estou em uma das mesas lá fora.
Ele me pega de surpresa beijando levemente meus lábios. E desaparece indo em direção ao banheiro. Volto para minha mesa com o rosto em chamas. Nana me olha atentamente, segura meu braço.
- O que aconteceu no banheiro?
- Nada! - digo a verdade. - Conversei com o cantor da noite e ele me chamou para sair depois daqui!
Ela não para de me olhar.
- E por que seu rosto, orelhas e pescoço estão vermelhos?
Aline se inclina para estar mais perto de mim.
- Não estão! - nego veementemente. Sinto - os quente.
- Ah Jesus! Você beijou! - diz alto. Gargalhamos, tomo mais gole.
- Foi apenas um selinho! - a música volta a tocar. A voz do homem me arrepiando até a alma agora. Dou uma olhada para o palco e recebo uma piscadela de presente.
- Arrasou amigo! Pegando o sósia do Diogo Nogueira!
Jogo o guardanapo nela que desvia a tempo. Nos perdemos em uma conversa sobre a família de Nana que chegará do cruzeiro em algumas semanas. Aline desapareceu um momento depois e acredito que esteja com o rapaz que não parava de lançar olhares quentes para ela. Mas resolvo mandar uma mensagem dizendo para não sair daqui antes de me avisar. Minutos depois, ela aparece com o rosto, pescoço e orelhas vermelhos. Os lábios inchados. Há um segundo de silêncio na mesa quando se senta e então minha amiga ri tão alto e forte que quase caí da cadeira. A seguro a tempo.
- Meu Deus! Vocês são péssimos em esconder uma foda!
- Nana! Não cheguei a transar!
- Mas iria não iria? Ramonzito estragando a foda alheia!
- Não foi por querer irmãzinha! - tento conter meu riso.
- Eu sei! - olha por sobre meu ombro, apertando os olhos para poder enxergar algo. - Oh, o vizinho delícia está aqui!
Sinto minhas entranhas se retorcendo. Mas não olho. Me forço a dar um longo gole em minha bebida.
Sua presença imponente é a primeira a me atingir. A segunda coisa é seu olhar fixo em mim mas o ignoro. O perfume doce demais que vem da pessoa que está com ele me envolve. Ele assim como seu acompanhante fala com minhas meninas e quando o silêncio desce sobre a mesa, forço um sorriso.
- Oi Ramon! - sua maldita voz me arrepia por completo. Engulo em seco, sentindo - me vulnerável por um instante.
- Oi! - digo secamente. Recebo sobrancelhas erguidas. Me viro para o cara que está ao seu lado. Seu braço envolto no de Arthur que me olha com uma intensidade enervante. Ele é um pouco mais baixo que meu vizinho mas ainda assim é mais alto que eu. Seus cabelos são cacheados e moldam seu rosto bonito. Ele seria mais bonito se não estivesse me enviando olhares mortais e me pergunto se ele sabe que beijei o homem dele. - Oi para você também! - ele força um sorriso.
- Vamos nos sentar em outra mesa. Foi bom ver vocês!
Não digo nada. Peço mais um copo.
- Pode se sentar com a gente! - nesse momento eu odeio minha irmã. Chuto sua canela, ela dá um pulinho em seu lugar. - Aí!
- O que foi?
- Nada! - me olha com as sobrancelhas juntas.
- Já que insistem! - o tal do Fábio se senta bem perto de mim. Do outro lado, mas na minha frente, o filho da puta não para de me olhar.
Arthur que passou o tempo todo me observando enquanto espera pelo chopp que pediu para ele e o acompanhante, se prepara para dizer algo mas no mesmo instante, a música para e o cantor pigarreia.
- O próximo samba eu dedico a você carinha que não sei ainda o nome mas espero que seja tão ou mais bonito que você!
Sinto meus olhos se arregalando quando o cantor me lança outra piscadela e ouço um grunhido. Ignoro, minha vida não é da sua conta.
- Ai Ramonzito! Tem certeza de que vocês só se beijaram naquele banheiro?
- Você nunca vai saber amiga!
Capítulo supresa!
31/10/20
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