• DEZESSEIS - RAMON
A música alta ecoa pelas paredes personalizadas do estabelecimento. Para onde olhamos podemos contemplar nomes de sucessos não só da música popular brasileira como também de outros seguimentos musicais, assim como instrumentos em alto relevo nas paredes vermelha e cinza. Nossa mesa estava próxima das portas duplas de entrada, que eram de madeira bruta e muito bem lustrada exibindo um brilho de verniz.
Nana tinha um braço no ar e o agitava ao som da música com um sorriso de contentamento no rosto bonito e maquiado. No mesmo ritmo, com a outra mão segurava um copo longo com cerveja até quase transbordar. Minha cópia se balançava no lugar jogando os cabelos loiros para o lado. Seu celular vibrou sobre a mesa, sua euforia foi tão grande que quase se jogou sobre a mesa. Eu dei uma risadinha, minha amiga olha por sobre meu ombro e pisca para alguém. Deixo - a tendo uma conversa somente pelo olhar com quem quer que seja o sortudo de passar um tempo com ela e me viro para minha irmã.
- Nossa, quem é o sortudo?
Ela me olha atravessado, pega o celular e digita ferozmente.
- Estamos nos vendo tem pouco tempo! - minha risada morre e sinto meu queixo ficar frouxo.
- E não iria me dizer nada? - Murmuro fracamente. - Primeiro é vovó namorando sem eu saber e agora você? Vocês tem algo contra mim? - essa última fala digo dramaticamente. Ela emite um som que é a mistura de uma risada e um bufo.
- Estamos saindo ainda Ramon. - deixa o aparelho sobre a mesa de vidro escuro após responder a mensagem. Apoiando o queixo sobre uma das mãos, me observa. - Ele trabalha como assistente do presidente da empresa.
Tento puxar na minha mente quem é seu patrão. Aline conseguiu entrar como nova secretária dele alguns dias depois de chegar aqui. Estou orgulhoso pois quando apareceu em minha porta com malas e tudo, eu sentia que ela estava fazendo mais do que fugir dos dogmas impostos por nosso pai e sua religião. Ela também estava pronta para viver. De acordo com sua própria vontade, andando com suas pernas e amando com seu coração livre.
- Você vai se lembrar dele. - fornece amavelmente. - Ele é dono de uma construtora de renome aqui no Rio e tem outras filiais pelo Brasil. Otávio Lambertini.
Foi como se uma lâmpada tivesse sido acesa sobre minha cabeça. Aceno levemente me lembrando dos olhos escuros poderosos assim como sua constituição física que vi em uma revista um tempo atrás. O homem estava muito bem para quem estava na casa dos cinquenta. Tudo nele era muito bom para olhar.
- Ah lembrei! Ele é um bom patrão? - indago muito interessado. Não se sabe muito da vida do homem. Ele parece ser avesso a mídia e sua exposição excessiva. O que não lhe tiro a razão.
- Sim. - diz realmente feliz. - No início eu tinha medo de estar no mesmo ambiente que ele sabe? - Nana pede licença e se mistura no meio das mesas em direção ao banheiro. - Eu achava que ele seria um arrogante comigo. Eu estava julgando - o de acordo com os conceitos pré concebidos que eu sempre tive de pessoas que eram ricas. Mas não. Ele é muito sério, nunca o vi sorrir a não ser que fosse para sua esposa que as vezes invade sua sala ou os amigos. Mas com o tempo vi que ele só quer que o trabalho seja feito com excelência e nada mais.
- Fico tão feliz que esteja seguindo seu caminho. Imagino como deve ter sido viver com nossos pais esses anos todos sem mim.
Ela para por um momento talvez considerando se vale a pena ou não dizer algo a respeito. Desde que chegou e após se abrir comigo sobre os motivos de ter vindo para cá, ela não falou mais sobre seus anos lá. Sei que aqui não é o lugar certo de conversar sobre isso. Depois de uma semana cheia de trabalho e compromissos nós decidimos nos dar esse sábado de folga para nós. Arthur deveria estar aqui também mas surgiu um imprevisto no seu trabalho e vai dobrar o turno para um colega.
- E eu estou feliz por estar aqui com você. Eu não sabia que tinha uma avó ver seu Facebook.
Faço careta. Com um palito, pesco um pedaço de presunto. Jogo - o em minha boca, quase suspirando ao sentir o sabor.
- Por falar nisso, não vai mudar aquela foto?
- Nem estou entrando nele. - tomo um pouco mais da minha cerveja.
- Deveria. Aquela sua testa brilhando não está bonita!
Reviro meus olhos.
- Eu não entendo uma coisa sabe? Por que nosso pai foi embora deixando uma mãe amorosa para trás?
- Eu não sei. Acho que a religião era prioridade naquele momento.
- Vocês parecem estar muito sérios! - sou envolvido em um abraço de urso. O perfume único de minha amiga entra em minhas narinas. Como eu amo essa mulher. - O que acha de dançarmos?
- É para já! - Aline se coloca de pé, a música agora é um pagode das antigas.
A conversa tem seu fim ou fica para outro dia e outro momento. Nós nos dirigimos para o centro do bar, nos enfiando no meio de outras pessoas que também se levantaram e foram até lá para dançar. Se libertar nem se for por algumas horas, de uma rotina muitas vezes exaustiva e opressiva. Me permiti me deixar levar pelos sons, de mãos dadas com as pessoas que amo, curtindo um sábado de noite noite estrelada e abafado.
Em determinado momento, desejei que meu segurança favorito estivesse ali comigo, se envolvendo no embalo maravilhoso da música, sentindo - o bem juntinho de mim. Seu corpo composto de músculos firmes e bem desenhados, de alguma forma se moldando ao meu com suas gordurinhas adicionais. Um sorriso completo se abre em meu rosto, meu coração galopando loucamente quando me lembro dos nossos banhos.
Não temos como nos ver todos os dias, por causa de nossas rotinas que as vezes se desencontram. Então, depois de me deixar ser visto completamente por ele, não só fisicamente. Sempre que temos a oportunidade, dividimos o mesmo banho. Onde nós nos beijamos, conversamos ou apenas trocamos carinhos.
Não fizemos sexo ainda. Ambos estamos muito ansiosos para esse momento. Mas estamos seguindo conforme meu tempo. E acredito que quando aconteceer vai ser mágico. Muito diferente das minhas outras vezes.
- Ah meu Deus! Isso tudo é saudade do segurança gato?
- Nana!
Ela ri alto, jogando a cabeça para trás, os cabelos chicoteando para os lados. Dançando de uma forma que faz seus quadris largos protagonizarem uma dança de sedução intensa. Há tantos olhos nela.
- O que? Você não consegue esconder amigo! Sua orelha, pescoço e bochechas dizem muito.
Aline ri tentando acompanhar o ritmo de minha amiga.
- Eu posso estar com calor sabia? - tento me salvar.
- Me engana que eu gosto!
- É difícil não sentir falta!
- Fofo! - aperta minhas bochechas quentes. Se inclinando até seu nariz ficar rente ao meu, nossas respirações imersas em álcool se misturando. - Já chegaram nos finalmente?
- Não vou falar com você sobre isso! - ela finge estar magoada.
- Por que? Gosto das partes quentes!
- Pois vai ficar sem elas. Estamos indo devagar.
- Você quer dizer quase parando não é? - me abraça de lado rindo baixinho. - Estou brincando Ramonzito. Leve o tempo que precisar. Só não deixe que as inseguranças te atrapalhem.
Absorvo suas palavras como uma terra seca que há muito não é agraciada com o líquido precioso. Aceno firmemente, pois mesmo que internamente estou trabalhando em minhas inseguranças. A psicóloga que me atendeu durante meu tempo no abrigo em Campos de Esperança, sempre me dizia que o primeiro passo é eu acreditar em mim mesmo. E depois as coisas vão fluir tranquilamente.
- Eu não vou!
- É isso aí! - aperta minhas bochechas novamente. - Vocês são lindos juntos.
- Eu também acho. Estão tão apaixonados.
Me sobressalto em minha cadeira alta. Será que está tão nítido assim?
- Posso estar só um pouquinho. - faço graça.
- E Papai Noel existe! - Nana volta para sua cadeira acenando para um garçom que logo abastece nossos copos.
Não tocamos mais no assunto, o restante da noite nós apenas nos permitimos dançar, conversar, beber e rir escandalosamente. E também percebi que confirme Aline foi ficando solta por causa do Chopp, ela também foi ficando mais vocal. Chegou em um momento que todos no bar eram capazes de ouvir o que quer que ela estivesse falando e foi também nesse momento que decidimos ir embora. Caio aquele fofo estava com a avó por isso Nana se permitiu ficar na minha casa. Era quase cinco da manhã quando Arthur me mandou uma mensagem avisando que tinha chegado. Como não confiava em mim para estar perto dele sem ataca - lo no meu estado bêbado, apenas respondi um "OK" que saiu um "0Y".
Não senti quando dormi.
Eu estou me sentindo sufocado. Tento me mover mas não é possível. Solto um grunhido tentando dar um soquinho no que for que estiver impedindo minha respiração. Recebo um tapa como resposta. A medida que vou ficando mais desperto outra realidade me atinge. Há também um peso em minha barriga. Devagar abro meus olhos, segurando uma risada. Nana está agarrada a mim. Seu aperto é tão forte e é o motivo de me sentir sufocado. E minha irmã está deitada de forma estranha, muito especificamente sobre mim.
- O que vocês estão fazendo na minha cama? - bocejo abrindo minha boca tão largamente que ouço o estalo da minha mandíbula.
A primeira a se fazer de viva é Nana, que me observa apenas através de um olho castanho. Ela ainda não se moveu, seu braço me enforcando.
- Por que está falando tão alto? - diz baixinho. Nossos hábitos nada agradáveis se chocam. Ambos recuamos tapando nossos narizes. - Jesus, sua boca parece um bueiro.
- Olha o hálito de menta falando! - reviro meus olhos.
- Que horas são?
Nem faço força para me sentar, minha barriga está servindo de cama para minha irmã que além de estar babando entre minhas dobras, tem suas pernas firmemente enroladas nas minhas.
- Não sei!
- Aline? - balanço - a por seus ombros. Ela nem ao menos se move. - Aline? Acorda, preciso ao menos trocar de posição.
- Está tão quentinho aqui!
- Acordem crianças! Menino Arthur está aqui! - dei um pulo tão rápido que cada uma caiu para o lado. Os resmungos delas eram como música para meus ouvidos.
- Meu Deus! Esse homem não dorme não? Ele chegou as cinco da manhã. - minha amiga diz ainda deitada no chão.
- Deve ser saudades. - Aline boceja e engatinha somente de calcinha e top até seu celular que começou a tocar. Suas sobrancelhas loiras quase se tornam uma ao ver a tela. - Só são nove da manhã!
Essa é sua forma de cumprimento. Mas ela não parece mais nervosa. Ao ouvir o que a pessoa diz do outro lado da linha, ela dá uma risadinha, se senta com as pernas cruzadas e de costas para nós. Enquanto vou para o banheiro praticamente me jogando dentro do box, abrindo o chuveiro para que a água morna caía sobre meu corpo, deixo Nana ainda no chão.
Escovo meus dentes debaixo d'água mesmo para não demorar tanto. Após me secar, saio somente de toalha para pegar uma roupa para mim. Coloco uma cueca boxer verde, shot de pano mole vermelho e uma camiseta preta. Luna está quietinha em seu lugar e as meninas já estão fora do quarto. Tento domar meus cabelos mas depois de alguns minutos, se prova ser impossível.
Na sala encontro Arthur sentado em toda a sua glória conversando animadamente com minha avó. Minha irmã e Nana já estão na mesa devorando todo e qualquer alimento disponível. Ambas tem os rostos amassados, cabelos presos em um coque alto e ainda fedem a cerveja.
- Tomar banho faz bem sabia? - tapo meu nariz de forma dramática mas há um fundo de verdade na brincadeira.
Recebo um dedo do meio e uma língua para fora de ambas.
Me sento ao lado de Arthur que envolve minha cintura com sua mão grande e me traz para seu colo. Dou um gritinho sentindo meu rosto queimar.
- Não estamos sozinhos! - digo com o rosto enterrado em seu pescoço. Vovó ri baixinho.
- Também senti sua falta sabia! - beija a lateral da minha cabeça.
- Onde está o pequeno?
- O levei para passar o dia com um colega da escola.
Me faço confortável em seu colo. Meu estômago sem um pingo de educação resolve rosnar para a vida, me deixando envergonhado por outro motivo. Ele ri alto, o ato fazendo seu peito vibrar ao meu lado. Dou - lhe um soco que não tem efeito algum, pois o homem continua a rir de mim.
- Já tomou café?
- Não! Eu vim te buscar para uma caminhada!
Não digo nada e tento me fingir de morto. Mas minha postura não dura por muito tempo, pois seus dedos longos atacam minhas costelas, fazendo - me revirar em seu colo, rindo de engasgar.
- Não...- tento respirar normalmente.- Não... quero!
- É só uma caminhada e vai ser aqui no condomínio! - segura meu rosto e faz - me ficar nariz a nariz com ele. A empolgação está escrita por todo o seu rosto.
- Tenho direto a um pão doce na volta? - o ridículo finge pensar.
- Só hoje!
Tento reprimir meu riso. E encho seu rosto se beijos. Ele parecendo perder a paciência, agarra minha nuca tomando meus lábios em um beijo profundo e quente. Sua língua fazendo maravilhas com a minha e o gemido que corta o ar é alto.
- Isso é que é um beijo se respeito! - Nana diz tranquilamente. Enche sua boca com pão de queijo me lançando um beijo no ar. Aline sorri de lado e vovó tem seu celular na mão, parece está tentando ver algo nele.
- Aline minha neta, responda essa mensagem para mim? Meus óculos estão longe, não consigo enxergar essas letras miúdas.
Nos viramos quase ansiosos. Passando o celular para ela, arruma os cabelos. Minha irmã engasga com o bolo que está comendo, as bochechas completamente vermelhas.
- Vó, vocês...
- Nós podemos transar. Não estamos mortos.
Enfio meu rosto em seu peito, tentando não rir.
Ela pigarreia e após se recompor, diz.
- Como vou responder?
- Diga a ele que eu posso ou não ter comprado alguns brinquedinhos para nós!
Silêncio.
Aline deixa o aparelho cair sobre a mesa e deita o rosto sobre ela. Os ombros magros tremem. Nana cai no chão ao lado da cadeira, segurando a barriga, rindo tão alto que será possível o condomínio todo pode ter ouvido. Arthur perde a guerra em se manter sério e ri alto também.
- Eu sou sua fã vó Elisa!
- É sempre bom inovar na relação menina Nana! Se não as coisas podem esfriar!
- Anotado!
Depois de alguns minutos, conseguimos parar de rir. Aline se recusou a mandar a mensagem e Nana se ofereceu prontamente, acrescentando mais algumas coisas. Olho para Arthur e toco seu queixo.
- Posso tomar um pouco de suco?
Me ajuda a levantar pois minhas pernas podem estar um pouco bambas após esse beijo. De mãos dadas vamos até a mesa e acabo mudando de ideia em relação ao suco, ao ver que tenho mais opções. Encho um copo alto com o que acho ser vitamina de banana. Arthur nega quando ofereço e balança sua garrafa com água na minha cara. Reviro meus olhos.
Troco de roupa e na porta encontramos a mãe de Nana com o pequeno Caio que ao me ver, quase se joga em minha direção. Pego - o em meus braços após cumprimentar sua avó e lhe faço cócegas ou o encho de beijos. Seus cabelos castanhos estão apontando para todas as direções e por mais gel que a mãe passe neles, nada amansa os fios bonitos e brilhantes. Me despeço deles e desço as escadas de mãos dadas com meu segurança favorito.
Como ele havia dito, nós damos algumas voltas pelas calçadas do condomínio. Nos envolvemos em uma conversa leve sobre como foi nossa semana e fim de semana. Mas ainda assim o senti um pouco recluso em seus próprios pensamentos. Depois de me roubar um beijo, que senti em minha alma, me levou até a padaria da esquina e nos sentamos nas mesas dispostas pelo estabelecimento. Posiciono o pão com creme na superfície e seguro suas mãos nas minhas. Ele me olha, a sombra de preocupação nítida sob seus olhos.
- O que está acontecendo? Notei que após nossa ida no parque, você ficou um pouco preocupado. Sabe que pode contar comigo para o que for não é?
Há um minuto de silêncio. Após passar o dedo indicador pelos lábios e queixo, suspira profundamente.
- Viviane entrou em contato.
Sinto meus olhos ficarem arregalados. Agora entendo sua preocupação. A mulher que abandonou ambos os irmãos, depois de anos decide entrar em contato e posso imaginar como deve estar sua cabeça sem saber o que ela quer. Aperto um pouco mais suas mãos, tentando passar todo o apoio que posso para ele.
- O que...- pigarreio quando minha voz sai fraca. - O que ela queria?
- Ver David!
- Jesus Cristo! Essa mulher é louca? Sei que ela é a mãe dele ...
- Ela não é nada nossa! Nunca vai ser!
Ele diz com tanta ferocidade que eu a sinto no ar entre nós. Bem diante de mim, vejo que o abandono ainda o machuca de alguma forma mas ele não deixa que isso dite o que ele é ou que interfira em sua vida. Ele é como uma fortaleza para o irmão e vejo que fará de tudo para protege - lo.
Me ergo da minha cadeira que fica de frente para a dele e me sento ao seu lado, nossas mãos nunca se largando.
- Ela não vai chegar aqui após anos e fingir que nada aconteceu. Exigindo direitos que ela não tem.
Tento ser racional, por mais que machuque.
- Arthur...- hesito por um segundo. Mas resolvo dizer mesmo assim. - Um juiz pode....
- Eu sei amor...- meu coração quase para em meu peito mediante o apelido. - Mas eu vou ter ajuda. Meu patrão já me disponibilizou um advogado e seu amigo é um juíz muito bom aqui do Rio.
Sorrio feliz por ainda existir pessoas boas nesse mundo. Não conheço seu patrão pessoalmente a não ser por revistas. Mesmo sendo herdeiro de uma grande fortuna, Tyler Nikolaiev se mostra ser muito bom e até amigo do meu amor. Eles já até saíram para tomar cerveja juntos.
Sabendo que não será tão fácil que essa mulher se aproxime dos homens da minha vida para feri - los de alguma forma, me sinto mais calmo.
- Se ela aparecer, vamos lidar com isso! Estou aqui para te apoiar!
- Obrigado por tudo! - beija meus lábios rapidamente.
Deito minha cabeça em seu ombro e divido meu pão doce com ele. Que após se abrir um pouco comigo, parece mais aliviado.
15/11/20
Sem revisão gente! E aí? A mãe do Arthur vai ser um problema?
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