Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

33

υм ƒυτυяο ρяόϰιмο

━ Nora, Nora, volte aqui! ━ chamou Astrid, aumentando o passo para acompanhar a amiga que marchava furiosamente em direção à casa. As luzes suaves de Berk mal iluminavam o caminho, deixando a noite fria e silenciosa, mas o que Bocão havia dito parecia ecoar na mente de Lenora com intensidade.

Astrid alcançou Lenora e caminhou ao lado dela, tentando acompanhar o ritmo apressado e pesado.

━ Lenora, por que você está saindo desse jeito? ━ perguntou a loira, observando a expressão fechada da amiga. ━ Por que ficou tão afetada pelo que o Bocão falou?

━ Eu não fiquei afetada! ━ Lenora respondeu rapidamente, seu tom tenso. ━ Eu estou totalmente… inegavelmente calma e… normal!

Astrid cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha.

━ Se você estivesse "totalmente calma e normal", não estaria vermelha como uma pimenta. ━ provocou, em um tom brincalhão.

Lenora parou de repente e encarou Astrid, claramente frustrada.

━ Eu só não consigo acreditar que o Bocão disse aquilo! ━ explodiu, a voz carregada de indignação. Logo em seguida, retomou o caminho em direção à sua casa, pisando firme.

Finalmente, ela chegou à pequena cabana onde morava com Soluço, subiu direto para o quarto e sentou-se pesadamente na beira da cama, ainda bufando.

━ Eu só não acredito que o Bocão disse aquilo ━ repetiu, em um tom mais baixo, mas ainda irritado.

Astrid, sem dizer nada, seguiu-a e se sentou ao lado dela, estudando o rosto da amiga. Após um momento, ela deu um suspiro compreensivo.

━ É o Bocão ━ disse Astrid, tentando ser racional. ━ Quero dizer, ele sempre fala as coisas de um jeito meio... direto demais. Você saindo daquele jeito provavelmente mandou uma mensagem ainda pior do que a dele.

Lenora suspirou, deixando a cabeça cair entre as mãos.

━ Eu sei, ━ murmurou, a voz abafada. ━ Mas o que eu deveria fazer? Eu não vou ter essa conversa com o Bocão… e com todo mundo ouvindo! Isso é algo privado.

Astrid franziu os lábios, pensativa. Lenora, ao perceber o olhar dela, franziu a testa. Ela conhecia aquele olhar ━ era o olhar de quem estava pensando em algo importante.

Astrid hesitou, e depois falou com suavidade, escolhendo as palavras com cuidado:

━ Lenora… ━ começou, num tom quase hesitante. ━ Por acaso você, sei lá, está esperando um… pãozinho no forno?

Lenora arregalou os olhos, surpresa com a pergunta. Mas, ao ver a expressão de preocupação sincera de Astrid, sentiu o rosto esquentar e os ombros relaxarem. Ela não podia mais mentir, pelo menos não para a sua melhor amiga. Deixou os ombros caírem e abaixou a cabeça, acenando que sim.

Astrid levou a mão à boca, em uma mistura de surpresa e alegria.

━ Lenora… você está mesmo? ━ perguntou, com um sorriso que começou a iluminar seu rosto.

Lenora suspirou, parecendo cansada, mas também aliviada de finalmente poder compartilhar seu segredo.

━ Sim, Astrid… ━ disse, num sussurro. ━ Eu estou esperando. Eu descobri há pouco tempo e ainda estou tentando me acostumar com a ideia. Eu… nem contei para o Soluço ainda.

━ Mas por quê? ━ Astrid segurou a mão dela, buscando seus olhos. ━ Lenora, isso é maravilhoso! Por que você não contou? Ele vai ficar tão feliz!

Lenora desviou o olhar, mordendo o lábio.

━ Eu sei que ele ficaria… eu acho, ━ disse ela, hesitante. ━ Mas também sei que ele já tem tanta coisa para se preocupar… as responsabilidades com Berk, os dragões… E, pra ser sincera, Astrid, eu estou com medo.

━ Medo? ━ Astrid perguntou, em um tom de surpresa. ━ Do quê, Lenora?

Lenora fechou os olhos, como se fosse difícil confessar.

━ Medo… medo de ser como a minha mãe, ━ sussurrou, finalmente, com os olhos fixos em algum ponto distante. ━ Sigrid sempre quis tanto que eu fosse algo… que eu nunca fui. Ela queria que eu fosse uma mulher do lar, sempre impecável, que cuidasse da casa, que tivesse o cabelo perfeito, a pele perfeita, que usasse vestidos. ━ Ela soltou uma risada amarga. ━ E, ao mesmo tempo, meu pai queria que eu fosse uma guerreira destemida, matadora de dragões. Alguém… que não sou.

Astrid ficou em silêncio, escutando atentamente enquanto Lenora continuava.

━ Eles sempre exigiram tanto… e eu nunca soube qual caminho seguir. Até hoje eu me sinto dividida, Astrid. Às vezes eu penso que ser uma guerreira é o que eu quero, mas… ━ Ela hesitou, colocando a mão no próprio ventre, sentindo o pequeno segredo que ainda guardava para si mesma. ━ Será que o que eu realmente quero está aqui dentro, crescendo em mim agora? ━ perguntou em voz baixa. ━ E se eu exigir demais desse filho? E se eu e o Soluço acabarmos impondo expectativas diferentes, e ele acabar tão perdido quanto eu sempre me senti?

Lenora engoliu em seco, tentando segurar as lágrimas.

━ O Soluço vai ser um pai incrível, eu sei disso… mas eu tenho medo, Astrid. Medo de falhar, de me tornar como a minha mãe, ou como meu pai, querendo que ele seja algo que talvez não queira ser. ━ Ela fechou os olhos, tentando conter o aperto no peito. ━ Eu não quero que ele sofra como eu sofri, dividida entre as vontades dos outros.

Astrid se aproximou, colocando uma mão gentil no ombro de Lenora.

━ Lenora, você não é sua mãe. E nem seu pai ━ disse ela, com suavidade. ━ Você tem a chance de ser diferente, de criar esse bebê com amor, do seu jeito. E, independentemente do que ele escolher, eu sei que você e o Soluço vão estar lá para apoiar. E eu estarei também ━ acrescentou com um sorriso largo. ━ Vou ser a melhor tia que Berk já viu, vou cuidar dele ou dela com todo o carinho, e tenho certeza de que essa criança vai crescer rodeada de amor e de apoio.

Lenora sorriu, enxugando uma lágrima que escorreu.

━ Obrigada, Astrid. Isso realmente significa muito para mim ━ murmurou, sentindo-se aliviada. ━ Eu… eu só preciso de um pouco mais de tempo para me acostumar com tudo isso antes de contar ao Soluço ou a qualquer pessoa.

━ E está tudo bem ━ respondeu Astrid, apertando a mão dela com firmeza. ━ Conte quando se sentir pronta. Até lá, eu estou aqui pra te dar força… e para manter o Bocão bem longe, se você precisar!

As duas riram, e pela primeira vez naquela noite, Lenora se sentiu mais tranquila, acreditando que, com Astrid ao seu lado e o apoio de Soluço, ela poderia enfrentar essa nova jornada com coragem.

De repente, o rangido suave da porta fez as duas olharem rapidamente. Lenora mal teve tempo de reagir antes de ver um par de olhos cor de avelã espiando através da fresta, junto com mechas ruivas sendo iluminadas pelo fogo fraco que aquecia o quarto. Leo, seu irmão, estava parado ali, com uma expressão de surpresa, claramente constrangido por ter escutado mais do que devia.

Ele cambaleou para dentro, balançando as mãos em um gesto nervoso.

━ Eu… desculpem, eu não queria ouvir. ━ Ele se interrompeu, coçando a nuca. ━ Mas… Lenora, você tá grávida?

Lenora arregalou os olhos, sentindo o calor subir ao rosto. Sem pensar duas vezes, ela foi até a porta e a fechou com força, certificando-se de que ninguém mais pudesse ouvir.

Ela empurrou o irmão para dentro do quarto e olhou para ele com seriedade, encostando-se levemente na porta.

━ Leo, você não pode contar pra ninguém o que ouviu aqui, entendeu? ━ Ela mantinha a voz baixa, quase em um sussurro, mas sua expressão era firme.

Leo, ainda processando a revelação, esboçou um sorriso bobo enquanto parecia imerso em devaneios.

━ Meu Deus… você realmente tá grávida? Eu vou… eu vou ser tio? ━ Ele se interrompeu, visivelmente emocionado, com o olhar brilhando. ━ Lenora, isso é maravilhoso! Soluço vai ser pai, e você vai ter um bebê! Eu não acredito…!

Lenora bufou, cruzando os braços.

━ Sim, sim, vou ser mãe, vou ter um herdeiro e toda essa história que vocês acham incrível. Mas ninguém, absolutamente ninguém pode saber disso ainda, entendeu?

Leo assentiu, mas era óbvio que ele mal estava ouvindo, ainda embriagado pela novidade.

━ Mas Lenora, você sabe o quanto papai e mamãe vão ficar felizes com isso? E Soluço! Ele vai enlouquecer de felicidade! ━ Leo dava risadinhas, quase como se estivesse sonhando. ━ E eu vou ser tio! Eu vou ser um tio incrível… e o Stoico… ele ficaria tão orgulhoso…

Antes que ele pudesse continuar, Astrid se levantou de onde estava e, sem hesitar, deu um leve tapa na nuca dele para trazê-lo de volta à realidade. Leo parou, surpreso, e olhou para ela, confuso.

━ Você não sabe que é feio escutar a conversa dos outros? E ainda mais de mulheres, Leo! ━ Astrid repreendeu, cruzando os braços.

Leo piscou, parecendo ligeiramente constrangido, e coçou a nuca de novo.

━ Desculpa, desculpa. Eu só… só me preocupo com a minha irmã. Ela saiu daquele jeito do jantar, então… vim ver se estava tudo bem.

Lenora suspirou, mas um pequeno sorriso surgiu no canto de seus lábios.

━ Tudo bem, Leo, eu sei que você só queria ajudar. Mas… por favor, eu realmente não estou pronta para que todo mundo saiba ainda. Então você tem que prometer que vai guardar segredo.

Leo inclinou a cabeça, a expressão curiosa e um tanto teimosa.

━ Tá, mas… por que não contar? Principalmente pro Soluço? Ele merece saber, né? Além disso, nossos pais iam ficar nas nuvens com a ideia de serem avós…

Lenora soltou um suspiro cansado, passando a mão pelo rosto antes de responder.

━ Eu sei, Leo… mas o Soluço já tem muita coisa pra resolver. Ele tá com Berk inteira nas costas. ━ Ela fez uma pausa, olhando para o chão. ━ A ilha tá lotada de dragões, e a gente tá ficando sem espaço. Ele quer tanto criar essa utopia onde todo mundo vive em harmonia, mas… ━ ela suspirou de novo, mexendo distraidamente nos dedos. ━ Eu não sei, às vezes parece quase impossível. Ele tá insistindo tanto nisso, tentando encontrar uma solução, que eu só… não quero ser mais um peso pra ele. Não agora.

Leo ficou quieto, absorvendo aquelas palavras. Ele a observava, percebendo a preocupação profunda que Lenora carregava, um fardo invisível que ela tentava esconder.

━ Eu entendo ━ disse ele, com um tom mais suave. ━ Mas você não acha que… você tá assumindo isso sozinha? Tipo, ele devia ter o direito de saber.

━ Talvez, mas… por enquanto eu prefiro lidar sozinha com isso, Leo. Deixar que o Soluço tenha um pouco de espaço pra respirar. Eu sei que ele vai ser um ótimo pai, mas eu preciso encontrar uma maneira de falar isso sem sobrecarregá-lo ainda mais.

Leo a observou por um instante, como se tentando processar o que aquilo significava. Então, o rosto dele se iluminou com um sorriso animado, e ele não conseguiu segurar a curiosidade.

━ Tá bom, tá bom, eu vou respeitar. Mas… fala sério, Lenora, você já teve aqueles desejos estranhos? Tipo, vontade de comer… sei lá, peixe com mel? Ou carne com frutas?

Lenora soltou uma risada, revirando os olhos.

━ Ainda não, Leo, e espero que isso nunca aconteça!

Ele riu e olhou para a barriga dela, como se estivesse tentando ver algo invisível.

━ Já dá pra ver alguma coisa? Posso… tocar?

Ela suspirou, balançando a cabeça, mas acabou sorrindo e assentindo.

━ Tá, vai em frente. ━ Deixou que ele tocasse a barriga, notando a reverência quase infantil no jeito dele.

━ Caramba, Lenora… você tem noção de que eu vou ser tio? ━ Ele ergueu os olhos, com um sorriso que quase iluminava o rosto. ━ Isso é… isso é incrível! Eu prometo que vou ser o melhor tio do mundo! E a Astrid também, né? ━ Ele olhou para ela, que assentiu sorrindo.

Astrid colocou a mão no ombro dele, dando um leve empurrão.

━ Claro que sim! Esse bebê vai ser supermimado. Eu vou ser a melhor tia do universo!

Lenora sentiu o coração aquecer ao ouvir aquilo, e a ideia de que seu filho seria rodeado de amor fez com que ela sorrisse de forma tranquila e carinhosa.

Ela olhou para o irmão e a amiga, sentindo-se profundamente grata.

━ Muito obrigada, de verdade. Mas, Leo… você não pode contar pra ninguém, ok? ━ Ela colocou a mão no ombro dele, com um olhar firme. ━ Isso precisa ser uma decisão minha.

Leo hesitou, mas acabou assentindo, com um sorriso carinhoso.

━ Tudo bem, eu prometo. ━ Ele fez o gesto de “zipar a boca” com os dedos. ━ Mas, por favor, não demora muito pra contar! Eu tô louco pra gritar isso pro mundo.

Ela riu, balançando a cabeça.

━ Quando eu estiver pronta. Agora vai pra casa… e age como se não soubesse de nada.

Leo acenou, ainda com o sorriso brincando no rosto, e deu um abraço apertado na irmã antes de se dirigir à porta. Astrid o seguiu, piscando para Lenora com um ar de cumplicidade.

━ Qualquer coisa, me chama, tá bem? Vou estar por perto. ━ Ela sorriu e se retirou, fechando a porta atrás deles.

Quando finalmente ficou sozinha, Lenora suspirou profundamente e foi até a cama, deitando-se com os olhos no teto. Um turbilhão de emoções percorreu sua mente ━ a empolgação de Leo, o apoio silencioso de Astrid, o amor que sentia por sua família. E então, seus pensamentos voltaram para o futuro, para o bebê que estava por vir.

Ela fechou os olhos, sentindo o coração transbordar de felicidade e expectativa. Sabia que enfrentaria desafios, mas prometeu a si mesma que, não importava o que acontecesse, daria o seu máximo para ser uma mãe presente e amorosa.

Sorriu levemente para si mesma, sentindo-se finalmente em paz, e deixou o cansaço levá-la para um sono tranquilo, embalando-a com a promessa de um novo começo.

Lenora despertou subitamente, seus pensamentos ainda embaralhados por um sono breve e inquieto. Talvez tivesse dormido por meia hora, se tanto. Ela virou-se para o lado, sentindo o vazio frio da cama, onde seu marido ainda não havia voltado. A preocupação a puxava para fora da cama, e ela decidiu que precisava procurá-lo. Esta seria uma conversa difícil, talvez dolorosa para ele, mas também sabia que era uma conversa inevitável.

Ao sair para as ruas de Berk, o cenário que encontrou não a surpreendeu, mas o peso da realidade a atingiu novamente. O céu estava escurecido pelos vultos dos dragões, suas sombras se projetando sobre os edifícios e as pessoas. As ruas estavam abarrotadas de poleiros improvisados, e a presença esmagadora dos dragões se tornava quase sufocante. Berk nunca estivera sob tanto risco, e todos sabiam que isso só pioraria se nada fosse feito.

Ela sabia que Soluço se recusava a admitir o quão insustentável a situação se tornara. Sabia exatamente por quê ━ e era isso que machucava profundamente. Soluço ainda carregava o medo de não ser suficiente sem Banguela. Ele se agarrava à crença de que era o dragão que dava sentido a quem ele era, que sem Banguela ele se tornaria novamente aquele jovem inseguro e “inútil” aos olhos do pai.

Era como se, apesar de todas as conquistas e vitórias, ele ainda não conseguisse enxergar o próprio valor. Ele acreditava que tudo o que ele havia construído só fora possível graças a Banguela: seus amigos, o amor de Lenora, o orgulho que o pai sentira por ele antes de partir. Sem Banguela, pensava, seria apenas aquele garoto frágil novamente.

Mas Lenora sabia que ele estava errado. Ele nunca fora inútil, nem mesmo antes de encontrar o dragão. Banguela havia sido um grande amigo, um aliado e um símbolo de tudo o que ele queria realizar. Mas o verdadeiro Soluço, o líder forte e sábio, estava dentro dele o tempo todo. Não era o dragão que lhe dera isso; ele sempre tivera essa força, esse coração de dragão, alma de líder.

O dilema agora era devastador. Berk não podia mais suportar a presença de tantos dragões. A utopia que Soluço tanto sonhava era uma inspiração, mas talvez fosse impossível mantê-la naquela ilha. Para onde poderiam levar os dragões? Onde encontrariam um refúgio seguro, onde não ameaçassem nem fossem ameaçados?

Lenora sabia que essa conversa seria uma batalha por si só. Ele resistiria, argumentaria que os dragões dependiam dele, de Banguela, para guiá-los, para protegê-los. Ele carregava o peso de um líder e sentia que falharia se os deixasse partir. Mas, no fundo, ela esperava que ele pudesse ver além do medo, ver que ele sempre foi suficiente por si só.

Suspirando, ela olhou para o céu carregado de dragões, uma visão ao mesmo tempo maravilhosa e trágica. Onde estaria Soluço? Ela sabia que a conversa seria difícil, mas estava decidida a ajudá-lo a enxergar que, talvez, o maior ato de amor e coragem fosse permitir que os dragões seguissem para um novo lar.

Lenora montou em Rendi, seu dragão, e afagou suas escamas firmes enquanto voavam lado a lado pelas nuvens em busca de Soluço. O vento a envolvia, e ela murmurou promessas para Rendi, como sempre fazia. Ela jurou a ele que o manteria seguro, que nunca o perderia de novo como quase aconteceu quando Drago o capturou. Contudo, por mais que tentasse acalmar seu coração, temia estar colocando todos que amava em perigo.

Enquanto voavam, ela se inclinou para frente, abraçando gentilmente o pescoço de Rendi. O céu exibia tons de rosa e dourado no crepúsculo, e a visão trouxe à mente a memória de seu primeiro voo em Banguela, ao lado de Soluço. Por um breve momento, a nostalgia aqueceu seu coração, mas logo foi tomada pela ansiedade.

Finalmente, ela avistou Soluço exatamente onde imaginara que estaria. Mesmo quando ele buscava refúgio distante no oceano, em um penhasco isolado ou em alguma coluna de rocha, Lenora sempre sabia como encontrá-lo. Observando Berk ao longe, a vila iluminada pela última luz do dia, Lenora se deu conta de quanto aquele lugar e Soluço haviam mudado ao longo dos anos ━ e, mesmo com todos os desafios, principalmente para melhor.

Assim que pousaram, Lenora sorriu, espantando o medo que ameaçava subir à garganta, e comentou, em um tom brincalhão:

━ Então é aqui que você se esconde do Bocão?

Soluço riu, colocando uma pedra em seu mapa para impedir que o vento o levasse. Banguela soltou um grunhido animado ao ver Lenora e Rendi, e correu em sua direção. Quando Lenora deslizou da cela, Banguela a alcançou, ele carregava a perna de Soluço na boca, balançando-a em um gesto de boas-vindas. Ela riu e torceu o nariz ao perceber a baba de Banguela.

━ Eca! ━ brincou, segurando a perna com dedos exigentes antes de arremessá-la para longe. Banguela e Rendi dispararam para buscá-la, como se fosse um jogo.

O sorriso de Soluço ao vê-la parecia relaxá-lo, mas Lenora sabia que a mente dele estava distante, voltada para as preocupações que nunca pareciam ter fim. Aproveitando a leveza do momento, ela aproximou-se, preparando-se para a conversa que, embora difícil, seria necessária para ambos.

Soluço sorriu gentilmente e respondeu, com um leve tom de humor:

━ Não tenho ideia do que você está falando.

Mas, ao ver Lenora limpando a baba de Banguela no traje dele, ele recuou ligeiramente.

━ Ah, credo. Obrigado, Nora ━ disse, com um sorriso contido.

Lenora suspirou, desviando o olhar para o horizonte. Pulou de uma pedra para outra, tentando encontrar as palavras certas. Soluço observou atentamente, percebendo sua inquietação.

━ Está tudo bem, meu amor?

━ Sim, estou bem, querido ━ respondeu ela, com um leve desvio no olhar, antes de se corrigir. ━ Bem... talvez.

Ela percebeu os olhos atentos de Soluço enquanto ele esperava pacientemente, observando-a. Inspirando fundo, Lenora se virou para a vila e comentou, como se falasse para si mesma:

━ Talvez Bocão esteja certo, sabe?

Soluço parou, olhando para ela surpreso, quase alarmado.

━ Sério? Você acha que nós deveríamos...? ━ Sua voz era cautelosa, referindo-se ao assunto de filhos que Bocão havia insinuado.

━ Ah, Deus! Não ━ Lenora apressou-se a mentir, nervosa, desviando o olhar. ━ A menos que... você queira, claro.

Ela disse isso em um sussurro baixo, e Soluço coçou a nuca, sem perceber que um lampejo de decepção surgiu em seu olhar enquanto esfregava as palmas das mãos sobre a calça, como se tentasse afastar uma tensão invisível.

━ É uma ideia meio louca, né? ━ Ele murmurou.

Lenora sentiu uma pontada de frustração. Será que Soluço realmente não queria ter filhos? Ou achava que ainda era cedo demais? Agora, mais do que nunca, ela precisava que ele a compreendesse.

━ Na verdade, o que eu quis dizer é que ele está certo sobre... tudo isso aqui. ━ Lenora fez um gesto amplo, indicando toda a ilha de Berk e os dragões que ocupavam cada canto.

━ Ah, sim. Claro ━ respondeu Soluço, parecendo aliviado ao mudar de assunto.

Lenora se sentou ao lado dele, alisando o pergaminho do mapa que ele tentava firmar no chão, enquanto as botas balançavam sobre a borda, arranhando levemente as pedras pontiagudas.

━ Parece que o mundo inteiro está de olho em nós agora ━ suspirou ele, olhando para o horizonte.

Ela cantarolou em concordância.

━ E quanto mais dragões trouxermos para cá... ━ Lenora murmurou, olhando para o brilho da íris verde de Soluço, um brilho intenso que carregava um peso. ━ Maior será o alvo que colocaremos em nós mesmos.

Ele assentiu lentamente, sua expressão pensativa.

A perna de Soluço caiu ao lado dela com um som pesado, fazendo Lenora dar um passo para trás, soltando um leve som de desgosto.

━ Sério? ━ Ela disse, irritada, mas pegou a perna e a jogou de volta para ele com rapidez. Seus dragões dispararam atrás da perna, como se estivessem brincando.

Ela se inclinou um pouco, aproximando-se de Soluço, quase sem perceber. Desejava, naquele momento, que existisse uma forma de ter paz. Suspirou e limpou a baba de dragão que havia ficado em suas mãos, esfregando-a na grama.

━ Talvez exista uma maneira ━ disse Soluço, sua voz suave, mas carregada de um certo tom misterioso.

Ela o encarou, surpresa, tentando decifrar o que ele queria dizer. Soluço se inclinou para trás, encontrando o olhar dela com uma expressão esperançosa.

━ Meu pai costumava contar uma história antiga ━ ele começou. ━ Um mito de marinheiros, sobre uma terra secreta no fim do mundo, onde todos os dragões viviam, longe de qualquer ameaça.

Lenora seguiu o olhar dele até o horizonte, desejando que essa história fosse verdadeira, mas logo balançou a cabeça.

━ Você sabe como são os marinheiros, Soluço... Sempre contando histórias fantásticas ━ ela disse, recostando-se na grama e soltando um leve sorriso.

Soluço riu, mas não desistiu da ideia.

━ Eu sei, mas... e se for real? ━ Ele pegou a mão dela, fazendo-a encará-lo novamente. Os olhos dele brilhavam, cheios de expectativa.

Lenora suspirou, sentindo que, uma vez que ele colocava uma ideia na cabeça, era difícil fazê-lo mudar de opinião.

━ Pode ser a resposta para todos os nossos problemas, Nora.

Ela arqueou as sobrancelhas, tentando manter a calma, mas a ideia parecia absurda demais.

━ Mandar os dragões para lá? ━ perguntou ela, incerta.

━ Não ━ respondeu Soluço, balançando a cabeça com convicção. ━ Todos nós.

As palavras dele fizeram Lenora arregalar os olhos. Ela se ajeitou, sentando-se de frente para ele, cruzando as pernas e colocando as mãos no colo, buscando algum sentido naquilo.

Ele estava realmente falando sério? O plano dele era deixar Berk? Deixar a casa deles, o lar que tinham construído com tanto esforço?

━ Abandonar Berk? ━ murmurou ela, incrédula, a voz quase saindo em um sussurro. ━ A casa dos nossos antepassados... a casa onde você nasceu, onde seus filhos devem crescer, felizes e protegidos? Essa é a solução?

Soluço franziu as sobrancelhas, a discordância dela o surpreendendo.

━ Esta é a casa que seu pai te deixou para proteger, Soluço. A casa que foi construída por sete gerações. E é isso que você quer deixar para trás?

Lenora sentiu uma pontada de tristeza. O futuro que ele estava propondo parecia fugir do que sempre sonharam juntos, e ela temia que ele não visse o que isso realmente significava.

Soluço suspirou, abaixando a cabeça ao perceber que Lenora era completamente contra sua ideia de abandonar Berk. A menção de filhos trouxe uma tensão ao ar, uma tensão que geralmente não existia entre eles, pois quase sempre concordavam em tudo. Mas agora, era como se ele estivesse colocando seu sonho de uma utopia para os dragões acima do futuro deles juntos ━ acima dos filhos que, quem sabe, um dia teriam. (Bom. Lenora sabia).

A ruiva desviou o olhar, sentindo uma leve tristeza. Ela sempre acreditou que estariam prontos para tudo juntos, mas agora se perguntava se estavam prontos um para o outro, se realmente compartilhavam o mesmo sonho. E o que seria daquele filho que, no fundo de seu coração, ela esperava? Ela pensava que Soluço estaria mais preparado para a vida de família do que para qualquer aventura. E doía imaginar que talvez ele não estivesse.

O silêncio constrangedor entre eles foi quebrado quando os gritos de Randi, um dragão teimoso, começaram a ecoar, tentando morder a perna artificial de Soluço que Banguela segurava. Banguela rosnava para o
dragão e tentava segurá-la firme, mas Randi não desistia e tentava arrancar a perna das "mãos" de Banguela.

Soluço olhou de lado e, tentando aliviar o clima, mudou de assunto.

━ Bem, sempre podemos seguir os conselhos de Bocão sobre... ter filhos ━ disse, fazendo uma imitação engraçada do guerreiro mais velho, gesticulando com dramaticidade.

Lenora, que até então tentava se recompor, soltou uma risada sincera ao vê-lo tentando imitar Bocão, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e desviando o olhar. Mas então, ao ver o sorriso brincalhão de Soluço, ela sentiu uma pontada de ternura e carinho.

Ele continuou com a discussão, falando sobre família e filhos, e abriu os braços como se não restasse dúvida de que queria construir um futuro com ela.

━ Mas, ei! ━ Soluço interrompeu, fingindo indignação. ━ Se você está tendo dúvidas sobre ter uma família com este humilde ferreiro, tenho certeza de que o Melequento está disponível!

Lenora ficou boquiaberta com a insinuação dele. Seus nervos imediatamente se dissiparam, e ela soltou uma risada verdadeira, balançando a cabeça diante da audácia do marido.

━ Oh, por favor! Todo mundo sabe que ele só tem olhos para a sua mãe! ━ ela retrucou, com uma expressão sarcástica.

Soluço soltou um suspiro dramático, fingindo-se horrorizado e olhando para ela em choque, o que a fez rir ainda mais. Ele estendeu a mão para dar um leve soco no ombro dela.

━ Ah, então está jogando sujo agora, hein? ━ ele riu, e ela inclinou-se para frente, com um brilho provocador nos olhos.

━ Você vive para isso, meu amor! ━ respondeu ela, estendendo os dedos em direção ao pôr do sol e jogando o cabelo por cima do ombro. ━ Quem sabe, talvez ainda haja espaço para mais uma criança correndo por aí…

Antes que pudesse continuar, Soluço se lançou para a frente, enlaçando-a firmemente pela cintura e puxando-a contra seu peito.

━ Como você ousa? ━ brincou, começando a fazer cócegas nos lados dela. Lenora se contorcia e ria, tentando escapar do abraço, mas ele continuava, sorrindo maliciosamente enquanto ela tentava se afastar.

━ Não, pare! ━ ela gritava, rindo sem parar, mas Soluço aproveitava cada segundo da "vingança", sem nenhuma intenção de parar.

Finalmente, ela conseguiu puxar as pernas para dentro e tentou se libertar, mas ele a pegou de novo.

━ Oh, não, não! Volte aqui, milady! ━ Soluço brincou, imitando um tom dramático. ━ Você não vai escapar!

Lenora riu, tentando se esquivar enquanto ele a puxava de volta para um novo abraço.

━ Isso é demais! Você passou dos limites! ━ disse ela, rindo.

Com uma habilidade rápida, ela se livrou e deu um leve empurrão nele, e tornceu seu braço na costa, o suficiente para Soluço soltar um “Ai, ai, ai!” brincalhão e fingir estar rendido, batendo a mão no chão.

━ Ok, ok, você venceu! Você venceu! ━ ele admitiu, enquanto Lenora ria, ajeitando os cabelos com um sorriso triunfante.

━ Você sempre vence! ━ ele disse, rindo.

Lenora inclinou-se para perto do rosto dele, esfregando o nariz contra o dele em um gesto carinhoso.

━ Você sabia no que estava se metendo quando se casou comigo! ━ sussurrou ela, enquanto ele deslizava a mão para a parte inferior das costas dela, sorrindo com amor e admiração.

━ Uhum ━ Soluço resmungou suavemente, aproximando os lábios dos dela. ━ Certo, milady.

Ele a puxou para mais perto e a beijou, um beijo terno e cheio de emoção. Seus lábios se tocaram suavemente, e a intensidade aumentou enquanto eles se entregavam ao momento, como se o mundo ao redor desaparecesse. O vento soprava ao redor deles, mas tudo que importava era o calor entre eles, as batidas sincronizadas de seus corações, a sensação de um amor profundo e eterno.

De repente, Soluço se afastou, alertado por um movimento ao lado. Banguela, o dragão inseparável, levantara as orelhas e estava com o olhar fixo na floresta. Intrigado, Soluço franziu a testa e seguiu o olhar do dragão. Em um piscar de olhos, Banguela se lançou na direção da borda do penhasco, Soluço pegou sua perna mecânica encaixando-a rapidamente. Banguela pulou de pedra em pedra, com uma determinação que Soluço raramente via, até abrir as asas e desaparecer em direção às árvores, atravessando a névoa sem olhar para trás.

━ Amigo! ━ Soluço chamou, mas Banguela ignorou, continuando sua trajetória misteriosa.

Solto na borda do penhasco, Soluço observou, confuso e ligeiramente perplexo.

━ Ah, sim, claro! ━ resmungou com sarcasmo. ━ Não se incomode em esperar por nós…

Lenora observava a cena ao lado dele, a confusão estampada em seu rosto. Banguela nunca agia assim; ele sempre priorizava Soluço, e era raro vê-lo partir de forma tão impulsiva. Ela trocou um olhar com Soluço, refletindo a mesma preocupação.

━ Vamos ━ disse ela, colocando uma mão firme no ombro de Soluço e virando Randi para encarar a floresta. Ela subiu com destreza nas costas do dragão.

Ele a seguiu rapidamente, envolvendo os braços ao redor de sua cintura para se firmar, e, com um aceno, Randi deu um salto e mergulhou no ar, seguindo o rastro de Banguela pela floresta, enquanto eles tentavam entender o que poderia ter levado o dragão a partir tão abruptamente.




Olá, queridos leitores! Espero que tenham gostado deste capítulo! Sei que a atualização demorou um pouco mais do que o esperado, e peço desculpas por isso. A vida às vezes toma um rumo inesperado, mas estou animada para continuar a jornada de Soluço, Lenora, Randi e Banguela.

Gostaria muito de ouvir suas opiniões! Se puderem deixar um voto e um comentário, ficarei extremamente grata. Como estão se sentindo em relação aos personagens? Estou especialmente interessada em saber o que vocês acham da dinâmica entre Soluço e Lenora.

Agradeço de coração pelo apoio contínuo! Até o próximo capítulo!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro