єяєτ, ο ϲαναℓєιяο ∂є ∂яαgα̃ο

LENORA TENTOU PENSAR EM UM PLANO ENQUANTO caminhavam até a beira do barco, mas o peso da culpa a sufocava. Ela só conseguia pensar em como tinha arrastado todos para aquela situação perigosa. Seus amigos, seu irmão... Como poderia ter permitido colocá-los em perigo? O barco balançava sob seus pés, impulsionado em direção ao conflito iminente. Era culpa dela.

À beira da embarcação, Lenora se viu empurrada para mais perto da borda, cerrou os dentes e tentou reunir coragem.

━Oh, este dia poderia piorar?━  choramingou Melequento, um traço de nervosismo em sua voz.

Lenora derrapou até parar logo atrás de Eret, lançando um olhar angustiado para o mar revolto. Ele sentiu o peso dos punhais simbolicamente cravados em suas costas, embora seus movimentos permanecessem silenciosos.

━Hum, deixe-me ver━ disse Cabeça Dura, encolhendo os ombros com uma expressão descontraída. Ele parecia imperturbável, como se já tivesse enfrentado situações ainda mais arriscadas. Lenora percebeu que, para ele, tudo aquilo talvez não fosse tão assustador. ━Vamos pular na água gelada e depois morrer afogados.

━Vou considerar isso um não━ respondeu Leo com uma tentativa de humor forçado, tentando dissipar a tensão.

Enquanto Eret contemplava o mar agitado, Lenora sentiu que algo o inquietava profundamente. Ela também sentia, como se algo sinistro estivesse se aproximando sob as ondas, algo relacionado ao misterioso dragão que tinham visto submerso anteriormente. Não havia tempo para especulações, não com a iminência do perigo que os aguardava naquelas águas geladas.

Nesse turbilhão de emoções e incertezas, a mente de Lenora vagou para Soluço. Ela ansiava pelo conforto do toque dele, pelas memórias dos momentos compartilhados com ele e os dragões. Onde estaria Soluço agora? Estaria seguro? Teria Stoico e Bocão o encontrado? E se Drago atacasse Berk na ausência de Soluço...?

Lenora sentiu um nó se formar em sua garganta, uma onda de emoções que ela escondeu cuidadosamente dos outros presentes. Ela imaginou uma vida ao lado de Soluço, envelhecendo juntos, tendo filhos com cabelos ruivos e olhos verdes. Era um futuro que ela havia visualizado, mas agora, no calor da batalha iminente, percebia o quanto desejava aqueles sonhos se realizarem.

━Se ao menos eu pudesse vê-lo mais uma vez...━ murmurou para si mesma, as palavras escapando por entre os lábios apertados.

Leo, percebendo a mudança no semblante de Lenora, aproximou-se dela com uma expressão preocupada. ━Você está bem?━, perguntou ele suavemente.

Lenora ergueu os olhos, forçando um sorriso fraco. ━Só pensando... em como vamos sair desta enrascada.

Leo assentiu, compreensivo. ━Vamos dar um jeito, como sempre fazemos━, respondeu ele, tentando transmitir confiança.

Lenora sentiu uma mistura avassaladora de emoções. O futuro que imaginara parecia desmoronar diante dela, desfazendo-se como as três flores que se perderam na correnteza.

━Parece refrescante ━ murmurou Eret. Olhando de volta para Lenora, ele sorriu. ━Por favor, primeiro as damas.

Aquelas palavras, embora aparentemente simples, acenderam uma fúria intensa dentro de Lenora. Era como se vapor estivesse prestes a sair de seus ouvidos enquanto ela encarava Eret, filho de Eret. Primeiro, ele havia derrubado o dragão dela. Em seguida, os conduziu para uma armadilha e capturou seu dragão e seus amigos. E agora, ele tinha a coragem de dizer aquilo a ela...

Lenora se conteve por um instante, sentindo o coração martelar em seu peito. Ela precisava escolher suas palavras com cautela, apesar da torrente de raiva dentro dela.

━Você acha isso engraçado, Eret?━ Ela perguntou, sua voz carregada de desdém. ━Após tudo o que aconteceu, você ainda tem a audácia de fazer piadas?━

Eret arqueou uma sobrancelha, aparentemente surpreso pela reação de Lenora. Ele recuou um pouco, percebendo que tocara em um nervo sensível.

━Eu... não quis dizer isso de maneira ofensiva,━ ele tentou explicar, sua expressão agora mais séria.

Lenora respirou fundo, tentando acalmar suas emoções. Ela não podia permitir que a raiva a dominasse completamente, não agora.

━Você pode não ter tido más intenções, mas suas ações falam mais alto do que suas palavras,━ respondeu ela, olhando firmemente nos olhos de Eret.

Eret pareceu ponderar as palavras de Lenora por um momento, parecendo genuinamente arrependido.

━Eu sei que não posso desfazer o que aconteceu, mas estou disposto a ajudar a corrigir isso,━ disse ele, sua voz carregada de sinceridade.

Lenora soltou um suspiro pesado. Ela queria acreditar nas palavras de Eret, queria acreditar que ele poderia se redimir de alguma forma. Mas uma parte dela permanecia cética, guardando a dor e a desconfiança que haviam sido semeadas pelas experiências anteriores.

━Veremos,━ foi tudo o que Lenora conseguiu dizer, mantendo uma postura firme, apesar da turbulência de sentimentos que a consumia por dentro. ━ Mas por enquanto você é um monte de estrume de dragão!

O sorriso desapareceu do rosto de Eret e, com um aceno sério, ele gritou: ━ Cuidado.

Lenora mal teve tempo de entender o que ele queria dizer antes de Eret desferir um chute direto em sua direção. Ela se abaixou instintivamente, ouvindo os grunhidos de dor dos soldados quando suas mandíbulas foram atingidas pelo impacto da bota. Lenora observou atentamente enquanto suas lanças voavam pelo ar. Com agilidade surpreendente, Eret se arrastou até elas, utilizando suas mãos ainda amarradas para agarrá-las e, habilmente, romper as cordas que o prendiam. Com as mãos livres, ele empunhou as lanças com destreza e lançou um olhar significativo para Lenora, como se dissesse: ━Entendeu agora?

Ela piscou, surpresa e impressionada com a destreza e coragem de Eret.

━ Avise os outros!━ gritou um dos guardas, indicando um alerta. Em resposta, eles deixaram os cativos e partiram para o ataque. Cabeça Quente, ainda se recuperando do choque, murmurou entre dentes: ━ Acaba com eles, filho de Eret!

Eret enfrentou os agressores com uma determinação feroz, girando as lanças com habilidade letal. Os outros observavam, atônitos, enquanto ele cortava e empurrava, desviando-se habilmente dos golpes inimigos. Um dos atacantes foi atingido por um dardo de raiz de dragão na garganta, outro tropeçou para trás e caiu do convés na água. Eret então ergueu um terceiro inimigo, pegando uma zarabatana de raiz de dragão para eliminar o último oponente.

Cabeça Quente, testemunhando a bravura e habilidade de Eret em ação, não pôde conter seu entusiasmo.

━Tá legal, me conquistou de novo━ murmurou ela, seus joelhos quase cedendo sob a intensidade da situação.

Melequento e Perna-de-peixe observaram a loira correr em direção a Eret, derrotados, enquanto Cabeça Dura ria deles com sarcasmo: ━ Oh, patético. Pulem no mar.

Eret passou por todos eles, habilmente arrancando as amarras de Lenora. Astrid, ao lado, massageou os pulsos, arqueando uma sobrancelha em admiração.

━Obrigado, cara,━ disse Leo, embora secretamente sentisse um leve ciúme pela habilidade demonstrada por Eret. Ele sabia que não teria sido capaz de fazer o mesmo.

Enquanto se recuperava do susto, Leo olhou para Astrid ao seu lado, imaginando se ela teria sido capturada se ele tivesse agido como Eret, enfrentando todos aqueles homens. Ele se perguntou se isso teria impressionado Astrid da mesma forma que a coragem de Eret impressionava agora. Apesar da situação tensa, um sentimento amargo se apoderou dele enquanto ele esfregava os pulsos, perdido em seus pensamentos.

Eret voltou-se para Lenora, ainda notando a expressão chocada em seu rosto.

━Então,━ ele a interrompeu, ━vamos salvar seus dragões e sair daqui ou não?

Lenora estreitou os olhos, cantarolando com sarcasmo: ━Hmm, mudança de opinião, hein?━ enquanto ele passava.

━Verifique todas as selas,━ disse Eret, filho de Eret, com um olhar determinado. ━Eles devem estar por aqui em algum lugar.

Lenora propôs ━Vamos nos separar,━ mas Eret balançou a cabeça em desaprovação. No entanto, ao se aproximar dele, Lenora sentiu-se mais confiante. Apesar de ter sido ela quem os colocou nessa confusão, estava determinada a tirá-los dela.

Agora reunidos em um senso renovado de propósito, Lenora e Eret lideraram o grupo enquanto exploravam o local em busca de pistas sobre o paradeiro dos dragões.  Eret manobrava com habilidade, sempre alerta para possíveis perigos, enquanto Lenora mantinha sua determinação, comprometida em enfrentar qualquer desafio que surgisse em seu caminho.

Enquanto avançavam, Lenora sentiu uma mistura de emoções conflitantes. Ela queria redimir-se aos olhos de seus amigos, especialmente diante de Eret, que agora se revelava um aliado inesperado em meio ao caos.

━ Quente, Durão, vocês verifiquem as selas do lado leste ━ Lenora comandou, vendo-os assentirem (Quente choramingou sobre querer estar com Eret e seu irmão fingiu ser um miserável do lado oposto).

━Perna-de-Peixe, você e Melequento vão para o lado norte, deem uma volta e verifiquem as selas por lá. Astrid, você vem comigo; vamos pelo lado sul, recuperar nossas armas. Acho que vi os homens pegando-as naquele caminho. Leo, arraste Eret com você para o oeste. Encontramos nossos dragões e ficaremos escondidos até que cheguem ao ninho dos dragões. Tenho a sensação de que Soluço estará lá━ ela concluiu, e todos aplaudiram discretamente. Lenora ergueu o dedo, enfatizando: ━E quero dizer apenas quando eles chegarem lá, não antes, entendido?

Cabeça Quente revirou os olhos. ━Entendi.

━Espera,━ Durão se virou para ela. ━ Foi antes ou depois?

Lenora olhou para ele, exasperada.

━Ugh━ Quente revirou os olhos, ━como sou sua parente?

Lenora beliscou a ponta do nariz, interrompendo qualquer discussão em potencial entre os gêmeos.

━Façam o que eu disse, ok?! Todos,━ ela gesticulou descontroladamente para os outros com o braço, ━vamos!

E assim, eles partiram em suas missões designadas, determinados a recuperar seus dragões e se reunir para um ataque coordenado.

Lenora e Astrid avançavam sorrateiramente pelo convés, seus movimentos tão silenciosos quanto possível para evitar fazer barulho com as botas arranhando a madeira. O barco estava repleto de selas, e os dragões poderiam estar aprisionados em qualquer uma delas. Lenora ansiava por libertar todos os dragões, mas sabia que precisava começar com os seus próprios e, para isso, precisava de sua arma.

Ela estendeu a mão, parando Astrid quando avistaram as armas empilhadas na beira do barco, prontas para serem usadas exatamente como estavam. Um sentimento de determinação cresceu em Lenora ao ver a espada que seu pai havia mandado fazer para ela. Esta era sua oportunidade para moldar seu próprio futuro, e ela não iria perdê-la.

As duas garotas se arrastaram pela lateral da entrada abaixo do convés, mantendo-se próximas à parede de madeira voltada para a popa. Lenora contou dois caçadores e rapidamente elaborou um plano para neutralizá-los. Ela virou-se para Astrid e gesticulou o plano que haviam praticado tantas vezes que se entendiam apenas com alguns sinais. Astrid assentiu e elas respiraram fundo, prontas para agir.

Com movimentos precisos, elas se aproximaram silenciosamente por trás dos caçadores; nenhum som escapava delas e os caçadores não tinham ideia de sua presença.

Lenora verificou se Astrid estava pronta. Astrid sorriu em resposta, e então Lenora estendeu a mão e deu um tapa no ombro do caçador mais próximo.

━Huh?━ Ele franziu a testa, virando-se para trás apenas para receber um golpe do punho dela. Ao mesmo tempo, Astrid fez exatamente o mesmo com o outro caçador, e os dois homens caíram no chão, inconscientes. As duas amigas compartilharam um sorriso travesso e um cumprimento silencioso, satisfeitas com a eficácia de sua abordagem furtiva.

Elas pegaram suas armas e correram em direção às selas onde os dragões estavam aprisionados. Com a espada firmemente em mãos, Lenora sentia-se preparada para enfrentar qualquer obstáculo. Correndo em silêncio, as garotas alcançaram as jaulas cobertas de lona. Assim que encontraram uma, passaram rapidamente por baixo antes que qualquer caçador ou soldado pudesse notar, deslizando habilmente em direção aos mecanismos.

Com um esforço conjunto, puxaram a alavanca para baixo e abriram a jaula apenas o suficiente para passarem.

Astrid alcançou o topo e espiou para dentro da escuridão. Um sorriso iluminou seu rosto. ━Tempestade?

Ao ouvir seu nome, o Nadder animou os olhos, e o rosto de Astrid se iluminou de alegria. Ela pulou silenciosamente e envolveu os braços em torno do dragão. Tempestade se agitou em resposta, tão feliz quanto possível dentro de suas amarras. ━Oh, sim, sim, eu sei, garota, estou aqui, estou aqui, também senti sua falta ━ Lenora sorriu ao testemunhar o reencontro emocionante, mas também sentiu uma pontada de preocupação em relação a Randi.. Ela se perguntou se ele também estava preso e se algum dos outros havia o encontrado.

━Você precisa ficar quieto, ok, Tempestade,espere...━ Lenora juntou-se a Astrid, pulando e pegando a faca de Perna-de-Peixe. Com um movimento habilidoso, agarrou o cabo e começou a ajudar Astrid a libertar seu dragão.

Juntas, Lenora e Astrid trabalharam rapidamente para desfazer as amarras que mantinham Tempestade prisioneira. Cada movimento era calculado, cada gesto feito com determinação e cuidado para não chamar a atenção dos inimigos que patrulhavam o convés. O tempo era crucial, e elas estavam determinadas a reunir todos os dragões e escapar antes que fossem descobertas.

LENORA SABIA QUE HAVIAM CHEGADO QUANDO O NAVIO estremeceu ao atingir a costa. Ela acenou com a cabeça para Astrid e subiu na sela de Tempestade ao lado dela. O Nadder agachou-se, pronto para ouvir qualquer comando sussurrado de sua cavaleira. Mantendo-se o mais silenciosas possível, sentiram a armadilha ao seu redor sacudir e começar a se mover. Lenora envolveu um braço ao redor da amiga, ocultando seu suspiro de surpresa.

Ela ouviu os rosnados dos dragões do lado de fora, lutando enquanto puxavam as jaulas em direção à superfície da ilha. Tudo o que precisavam fazer agora era esperar... Lenora orou fervorosamente aos deuses para que os gêmeos tivessem sucesso em seus esforços.

Erguendo sua espada, Lenora olhou para a abertura que haviam criado. As lonas balançavam com o tremor da terra, e gritos ecoavam do lado de fora – e então, um estrondo! As catapultas foram lançadas. Lenora e Astrid tentaram contar quantos disparos ocorriam simultaneamente, mas era frustrantemente difícil discernir. Tinham uma ideia, mas só saberiam com certeza quando saíssem da jaula.

Entre os ruídos de batalha, houve uma erupção de rugidos, gritos e sons de dragões – como um exército inteiro. A última vez que Lenora ouvira tantos dragões juntos fora na Ilha do Dragão, quando ela e Soluço encontraram o Ninho pela primeira vez.

━O que está acontecendo lá fora?━ murmurou Astrid, franzindo a testa.

Como se respondendo à pergunta de Astrid, um grito ressoou: ━PREPAREM AS ARMADILHAS!━ Era a voz de Drago, ecoando de algum lugar atrás delas.

E assim, as lonas foram removidas e as armadilhas se abriram. Apenas alguns segundos depois, uma explosão seguiu-se, provocada por um gás verde nocivo.

Lenora e Astrid trocaram olhares preocupados, prontas para enfrentar o caos que aguardava do lado de fora da armadilha. A batalha havia começado, e agora elas estavam no centro dela, determinadas a lutar pelo que acreditavam.

━Tempestade, para cima!━ Astrid ordenou, sentindo a energia pulsante de Tempestade sob ela.

━Surpresa!━ gritou Durão por cima do vento.

Os Cavaleiros de Dragão emergiram das armadilhas, entrando no campo de batalha. Astrid virou seu Nadder para a esquerda, disparando espinhos na direção dos guerreiros confusos que os observavam boquiabertos. Os adversários mergulharam para fora do caminho, atordoados pela súbita investida.

Lenora aproveitou a oportunidade para avaliar o que estavam enfrentando. Ela estava certa – um exército inteiro de dragões voava acima, representando diversas espécies. Ela avistou quase todas as criaturas do Livro dos Dragões. As que conseguiu identificar de relance incluíam Gronckles, Ziper Arrepiantes, Nadders, Pesadelos Mostruosos... mas também Roncadores, Corta Chuva, Dente Afiados, Estridente, um bando de Terríveis Terrores - uma variedade impressionante de formas e tamanhos, todos convergindo em direção ao exército de Drago na costa.

Uma frota de navios se estendia ao longo da costa, com catapultas alinhadas e armadilhas espalhadas pelo solo nevado. E todos os dragões se dirigiam para uma explosão de gelo que se estendia do centro da ilha.

Os olhos de Lenora se arregalaram com espanto. Era uma cena semelhante à que ela e Soluço encontraram no forte de Eret. Uma explosão congelada se espalhando em todas as direções. No entanto, desta vez, era muito maior – uma montanha escavada, como se uma erupção vulcânica de gelo tivesse devastado o interior e formado um castelo de cristal em explosão.

Todos eles montaram em seus dragões, prontos para entrar na batalha, enquanto gritavam o grito de guerra dos Vinkings. Do lado esquerdo, Leo resmungou enquanto puxava Dente de Anzol ao lado de Melequento em Framboesa.

━ Com licença, Melequento, posso pegar meu dragão de volta?━ Leo perguntou, tentando ser educado.

Melequento pensou por um momento, depois decidiu provocar. ━Você realmente quer sua garota de volta?

━ E se eu mandar Dente de Anzol assar você?━ Leo rebateu, tentando manter a confiança, mas seu olhar furtivo para o dragão denunciava um certo nervosismo.

━Ele nunca faria isso!━ Melequento respondeu, não muito convencido. ━Tanto faz...━ os dois trocaram de dragões, saltando de uma sela para outra.

Lá embaixo, Drago observou o caos se desenrolar com fúria. Ao avistar os Cavaleiros de Dragão, ele gritou enfurecido: ━O QUÊ?

Astrid conduziu tempestade habilmente entre os outros dragões enquanto Lenora distribuía armas aos seus companheiros. Enquanto fazia isso, avistou Eret agarrado desesperadamente às costas de Randi. Ela soltou uma risada de espanto perplexo. ━Astrid, ali!━ ela chamou, incitando Tempestade a subir em direção aos dois. Ao ver sua cavaleira,Randi bateu as asas com um grito alegre que fez Lenora sorrir.

Eret se atrapalhou com a sela, levantando-se e indo para a frente. Lenora balançou a cabeça para ele, incrédula. ━ Deuses, você está cheio de surpresas!━ Ela se acomodou nas costas de Randi, pulando atrás de Eret com graciosidade. Ao se posicionar, lançou um beijo alegre para Randi.

━Tudo bem...━ ela estreitou os olhos na direção da batalha, sentando-se atrás do ex-caçador, ━...vamos!

O grupo de Cavaleiros do Dragão voou com destemor em direção ao exército de Drago. Durão riu, gritando: ━ Cavaleiros de Dragões na área!

━Eret, lá embaixo!━ Lenora guiava Randi habilmente através das fileiras inimigas, batendo padrões no pescoço do dragão para desencadear explosões e manobras evasivas. Randi soltou rajadas de areia flamejante, cortando algumas cordas que capturavam Gronckles indefesos, libertando-os.

━Ah, sim!━ Lenora sorriu enquanto voavam para a liberdade. ━Vamos, Randi! Voa, Eret, sobe!━

Eles subiram rapidamente, desviando por pouco de uma saraivada de flechas disparadas das bestas inimigas. Leo, montado de costas de Framboesa, mergulhou em direção a eles com um grito estrondoso de ━ rajada de cristal!━ O Espectro Doce disparou espinhos de açúcar ao mesmo tempo em que as pontas envenenadas eram acesas em chamas, derretendo o metal das catapultas inimigas e forçando os soldados de Drago a fugir para salvar suas vidas.

━Isso é o que vocês ganham!━ gritou Leo enquanto fazia uma curva à esquerda, passando pelos soldados atordoados. Perna e Batatão voaram em direção às catapultas; o Gronckle engoliu uma pedra e a cuspiu de volta com força, destruindo a engenhoca em pedaços enquanto Leo ria em sua sela.

Melequento, voou sobre as catapultas com um jato de fogo. Dente de Anzol soltou chamas que incendiaram o solo, enquanto Melequento gritava entusiasmado: ━ Dente de Anzol, Dente de Anzol, oi, oi, oi!

━ Quente, Durão!━ Lenora chamou enquanto Eret passava por eles. ━ Cuidem dessas armadilhas com Astrid , libertem esses dragões!

Quente engasgou. ━Ela acabou de nos pedir para explodir alguma coisa?

Durão acenou com a cabeça, um pouco choroso. ━Sim, ela acabou de fazer isso, irmã. Isso é duas vezes no mesmo dia! Oh, estamos em Valhalla!

━HAHA!━ gritou Durão de alegria enquanto ele e sua irmã manobravam Bafo e Arroto próximo às armadilhas abertas e fechadas. Astrid mergulhou do lado oposto, pronta para fazer Tempestade disparar contra o gás verde de Bafo, acendendo-o e libertando os dragões de suas jaulas.

Drago rosnou: ━ Acabem com eles!

Bolas de metal foram lançadas de mais catapultas em direção aos Cavaleiros de Dragão, que voavam em meio ao perigo, mal conseguindo se esquivar. Lenora suspirou, frustrada.

━Ah, vamos lá! Quantas catapultas eles têm?!

━Um arsenal inteiro bem cheio.

━Isso foi uma pergunta retórica, Eret! Uau, cuidado! Incline-se para a esquerda! ESQUERDA, ERET, ESQUERDA!

Eret conseguiu desviar a tempo, mas Cabeça Quente não teve tanta sorte. Tentando escapar, ela e seu irmão foram forçados a se separar, e com o impacto do movimento repentino de Arroto,Quente caiu da sela de Bafo. Ela agitou os braços, a voz embargada enquanto gritava: ━ERET, FILHO DE ERET!

O ex-caçador não pôde ir em socorro de Cabeça Quente, ocupado demais desviando Randi das flechas que cortavam o ar em sua direção. Em vez disso, duas mãos fortes agarraram seus braços, puxando-a para longe da rocha onde ela estava prestes a cair. Cabeça Quente respirou fundo, chocada ao descobrir quem havia sido tão heróico e incrível para salvar sua vida.

Ela olhou para cima.

E ficou hipnotizada.

Melequento e Perna-de-peixe a levaram para a segurança entre seus dragões. Seu coração batia forte no peito enquanto os observava, encantada com a beleza daqueles dois, com seus músculos definidos e barbas crescendo... Cabeça Quente fechou os olhos, sorrindo.

━Quem é mesmo Eret, filho de Eret?━ pensou Cabeça Quente, perdida em seus próprios pensamentos.

Lenora se inclinou para o lado de Eret para ver para onde estavam indo, pois ele era muito alto. ━Levante-se, garoto!━ ela disse a Randi, ajudando Eret a controlar o dragão e afastá-lo do perigo abaixo. Eles subiram em direção à montanha, mas estavam ficando muito próximos dos picos de gelo para o gosto de Lenora. Um projétil de uma catapulta atingiu o gelo acima deles, e ela engasgou.

━Incline-se para a esquerda, Eret!━ ela gritou, desesperada para evitar o perigo iminente.

Eret reagiu rapidamente, puxando-os para longe do gelo que desabava. Lenora soltou um suspiro aliviado. ━Sim! É isso!━ ela exclamou, mas sua alegria foi interrompida quando o gelo se partiu logo acima deles, desabando em grandes picos afiados em direção a eles.

━Oh, deuses, cuidado!━ Lenora gritou, se preparando para o impacto iminente.

Então, num flash azul e roxo brilhante, ela foi arremessada para longe, o som ensurdecedor do Fúria da Noite ecoando em seus ouvidos. Lenora se protegeu dos estilhaços, mas quando olhou para cima, seu rosto se iluminou com um sorriso brilhante ao ver a cauda vermelha de Banguela. Ele passou voando por ela, com Soluço firme na sela, liderando contra o exército inimigo.

O coração de Lenora disparou ao ver Soluço em ação. Ela observou com admiração enquanto ele, seu pai e Bocão avançavam contra o exército, destruindo as engenhocas de guerra com determinação.

━Haha!━ Lenora ergueu o punho em comemoração. ━Isso aí! Vai, Soluço, pega eles!

━Derrube-os!━ gritou um general inimigo, mas Bocão respondeu com um rugido de confiança.

━Atenção!━ gritou Bocão, antes que Resmungo abaixasse a cauda, nocauteando todos os arqueiros na fila com um rosnado sonolento.

Lenora guiou Eret de volta à batalha, eliminando com calor as catapultas restantes que se derreteram sob o intenso calor em segundos. Eles dispararam de volta para a batalha e Banguela surgiu ao lado deles, seu irreverente cavaleiro erguendo o capacete para cumprimentar Eret.

━Bem vindo a bordo, Cavaleiro de Dragão!━ disse o cavaleiro com um sorriso.

Ajoelhada, Lenora olhou para o noivo, que se acomodou na sela, exibindo-se um pouco enquanto murmurava: ━Obrigado! Eu acho...

━Onde você esteve?━ perguntou Lenora, incapaz de conter a felicidade por vê-lo vivo e bem. ━Estávamos procurando você por toda parte!

━O quê?━ Soluço respondeu com um sorriso brincalhão. ━Nenhuma saudação? Nenhum “senti sua falta?” Minha querida, você me magoou.

Lenora riu, sentindo o calor preencher seu coração. ━Então, o que você tem feito?━ ela perguntou, balançando a cabeça diante de suas brincadeiras.

━Oh, você sabe...━ Soluço deu de ombros, os olhos verdes brilhando com diversão diante da expressão dela. ━Tava de papo com a minha mãe...━ Ele apontou para o céu.

Lenora franziu o cenho. A mãe dele não era...? Ela seguiu o olhar dele e ela e Eret engasgaram. Pairando acima da explosão congelada estava a silhueta de uma mulher com um gancho em forma de bastão, envolta em uma armadura de couro pintada de verde, montada nas costas de um feroz Cortatempestade. Atrás dela erguia-se um dragão do tamanho de um forte de gelo, branco com um halo de espinhos gigantes ao redor de sua cabeça e presas tão altas quanto pilhas de navios em Berk colocadas verticalmente. Seu rugido poderoso sacudia a terra, o mar e o céu.

Lenora não precisava que lhe dissessem que aquele dragão causara a explosão, assim como o que estava no forte de Eret - era o infame Cuspidor de Gelo, um tipo de terror glorioso que fazia seus joelhos tremerem, mas também era extraordinariamente belo.

Mas foi a mulher no topo do Cortatempestade que a deixou boquiaberta. ━Essa é sua mãe?!━ Lenora trocou olhares com Eret e ele deu de ombros mais uma vez.

━Bem, querida, agora você sabe de onde eu herdei minhas extravagâncias━, ele disse, dramático como sempre, antes de colocar de volta o capacete e sair voando.