01
SOLUÇO HORRENDO HADDOCK III (que de horrendo não tinha nada) sabia que uma história poderia ter vários inícios, como por exemplo a criação do mundo, o seu nascimento, seu desenvolvimento para se tornar a decepção de seu pai, um pobre viking franzino e nanico que nunca teve coragem de se livrar das feras que assolaram sua vila, ou poderia começar apenas contando como sua amizade com Lenora Bjornsen tomou um rumo totalmente diferente do esperado (e não foi um bom caminho que se seguiu), mas isso é história para outra hora... Mas então seria mais fácil contar essa história começando a apresentar seu lar.
BERK.
Fica a doze dias ao Norte de Desânimo e alguns graus ao sul de Morrendo de Frio. Mas com certeza é enraizada no Meridiano da Tristeza. É uma ilha formada por penhascos e montanhas com rochas pontiagudas emergindo da água. Ela existe a sete gerações, mas todas as casas são novinhas em folha, eles tinham pesca, caça e um pôr do sol encantador (o mínimo que toda vila deveria ter, certo?).
Berk era conhecida por ser uma ilha próspera e por ter um chefe infame, Stoico, o Imenso, que também era o pai de Soluço, não tão Horrendo. Mas também era conhecida por suas incontáveis histórias (que muitos acreditavam que um dia poderiam se tornar lendas), por exemplo, todos conheciam o ferreiro Bocão e a história de como ele havia perdido a mão para um Pesadelo Monstruoso, ou como Astrid havia dado uma chave de braço em Leo Bjornsen depois dele ter pego o escudo preferido dela (foi só uma provocação, todos sabiam como o garoto adorava irritar a menina), ou ainda mais a história de quando Lenora, a Valente, escalou o Monte Thor para beber da Cachoeira do Trovão, Soluço sabia que não era atoa que ela era conhecida como a Valente.
Berk parecia ser perfeita para seus habitantes, conviviam em paz entre si e tinham uma boa sinergia (até porque todo mundo praticamente se conhecia desde o berço). Mas essa ilha só não era um paraíso por causa das pragas (bom, você poderia pensar nos trigêmeos Bjornsen, mas estou falando de outras pragas), a maioria dos lugares costumam ter ratos, mosquitos, mas eles tinham...
DRAGÕES.
Nem todos atacavam, mas eles sim ━ eram vikings ━ eles sofriam de teimosia crônica.
Nossa madrugada começa quando Soluço, o viking magrelo (sim, era tradição todo nanico se chamar Soluço), resolveu se esgueirar em plena batalha. Era quase costumeiro a visão de Berk naquele horário, em chamas, com gritos de pânico e rugidos de dragões (bestas feras que importunavam a vida das pessoas roubando peixes e ovelhas).
Soluço se esquivou dos vikings que passavam empunhando seus machados e clavas, ele teve que se abaixar para não ser acertado com um tronco de árvore, mas felizmente conseguiu escapar de uma rajada de fogo de um Pesadelo Monstruoso. O garoto continuou seu caminho ignorando as repreensões dos demais guerreiros, mas parou assim que uma grande mão agarrou seu casaco de lã e o ergueu no ar.
Ele levou alguns segundos para ver que era seu pai, Stoico, o Imenso e não um dragão pronto para lhe usar de palito de dentes. Seu pai era um homem rechonchudo, com braços grossos que possuíam a força de dez homens, tinha uma barba espessa e ruiva presa em tranças e era mais alto que a maioria dos homens, o que só aumentava sua imponência. Dizem que quando o chefe era bebê, arrancou a cabeça de um dragão, brincando. Dá para acreditar?
Stoico soltou Soluço e pegou uma carroça, arremessando-a em um Nadder Mortal, que perdeu o controle e caiu.
━ O que temos agora? ━ o chefe perguntou a um de seus companheiros.
━ Gronckles, Nadders, Zíper Arrepiantes e Pesadelos Monstruosos.
Enquanto a maioria dos vikings se encolheu e se protegeu da explosão com seus escudos, o grande chefe Stoico permaneceu intacto, limpando uma fagulha flamejante em seu ombro como se fosse poeira.
━ Algum Fúria da Noite?
━ Até agora não ━ respondeu Starkard.
━ Ótimo.
Soluço aproveitou a deixa e começou sua corrida novamente, ele passou em meio aos vikings erguendo grande bandejas em chamas para afastar os dragões (como se dragões tivessem medo de fogo.)
Mas Soluço finalmente conseguiu chegar ao seu destino sem perder nenhum membro de seu corpo. Ele entrou nas forjas com um suspiro de alívio e correu para vestir seu avental de couro marrom.
━ Nossa! ━ gargalhou Bocão, martelando uma espada torta ━ Finalmente chegou! Achei que tinham pego você.
━ Eu? ━ ele perguntou, tentando carregar um enorme martelo para a prateleira ━ Eu sou musculoso demais para o paladar refinado dos dragões. Eles nem saberiam o que fazer com tudo... isso.
━ Ué? ━ Bocão murmurou, trocando sua ferramenta da mão protética ━ eles não usam palito de dentes?
━ Boa piada. ━ Soluço zombou enquanto abria a janela da forja, logo sendo recebido com uma pilha de armas que precisavam de conserto.
Esse bronco folgado de mãos intercambiáveis é o Bocão. Soluço era aprendiz dele desde de que era pequeno (quer dizer, bem menor.)
O garoto jogou as armas sobre a brasa e usou seu peso para baixar o fole, atiçando o fogo. O menino correu para a janela e se inclinou para observar o caos instaurado em sua aldeia. As casas estavam em chamas (isso explica elas serem novinhas em folha), e um grupo de adolescentes vikings estavam carregando baldes com água para apagar os incêndios. Ele literalmente cresceu com todos eles, teve um tempo que tentou fazer amizade, mas foi sendo deixado de lado e excluído de tudo... A única amizade que deu certo no começo foi com uma certa garota ruiva, mas como eu disse, as coisas não foram por um caminho muito bom. Os sete vikings eram um grupo de amigos bem estranho. Era formado por Melequento, primo de Soluço de segundo grau, que não gostava muito dele (na verdade odiava), ele esperava que um dia os dragões precisassem de um palito de dentes e usassem seu primo para isso. Perna de Peixe era grande e rechonchudo e possuía uma mente trabalhando a mil por hora para lembrar de todo o seu conhecimento de dragões. Tinha os gêmeos Cabeça Quente e Cabeça Dura que tinham uma personalidade duvidosa que ansiava por caos (talvez os trigêmeos Erick, Leif e Sten estivessem sendo aprendizes dos Thorston). O grupo também era composto de Astrid Hofferson, a viking adolescente mais durona de toda a ilha e Soluço não poderia discordar depois que ela tentou jogar Leo Bjornsen no poço de Bolor. Leo era um viking boa pinta e carismático, muitas vezes sarcástico (ou burro demais na opinião de Astrid), seu cabelos ruivos, assim como de seus irmãos, eram herdados de seu pai, ele era chamado de "a sósia malfeita" por sua irmã, Lenora, eles eram os gêmeos mais "normais" de toda a ilha (isso se comparado a Cabeça Quente e Cabeça Dura). Lenora Bjornsen, com sua juba ruiva e olhos avelãs, era a viking mais corajosa de toda a ilha e ela e Astrid eram uma dupla implacável. A ruiva deixava as pernas de Soluço fracas só de olhar para ele, i menino só não sabia se era de paixão ou de medo, mesmo... talvez uma mistura dos dois.
Seus cabelos pareciam chama de dragão e o sorriso arrogante era um alerta de que você não deveria ser estúpido o suficiente para pisar em seu calo, pois se não ela iria pegar sua espada e enfiar onde o sol não bate (é melhor você não querer saber). Sua espada tão temida tinha uma lâmina com curvas sinuosas, forjada especialmente para a Bjornsen. Lenora havia ganhado essa espada de seu pai, Ragnar, o Horripilante (um dos melhores matadores de dragões na opinião de Stoico), claro que sua mãe, Sigrid, interferiu e impediu que o marido desse uma espada para uma garotinha de cinco anos, então, relutantemente, a espada foi guardada para quando ela estivesse pronta.
Soluço queria tanto escapar e se juntar a eles, na sua opinião o trabalho deles era muito mais maneiro. Mas quando o garoto se inclinou pela janela, Bocão agarrou seu casaco e o puxou para dentro.
━ Ah, qual é? Por favor, eu preciso deixar a minha marca. ━ Soluço implorou.
━ Você já deixou um monte de marcas, todas nos lugares errados. ━ o homem cutucou o ombro de Soluço com seu gancho.
━ Dois minutinhos ━ ele insistiu ━ Eu mato um dragão e minha vida vai ser infinitamente melhor. Quem sabe eu até arrumo uma namorada, ou melhor, Lenora pode voltar a falar comigo... seria uma grande vitória.
━ Você não levanta um martelo, não aguenta um machado e nem consegue atirar um desses... ━ Bocão ergueu uma corda com bolas de metal na ponta, que logo foi surrupiada por um viking.
━ Tudo bem. ━ Soluço falou ━ Mas isso vai atirar por mim. ━ ele mostrou a Bocão sua nova máquina, que acabou atirando uma bola na cara de um viking que estava esperando na fila.
━ Viu? É exatamente disso que estou falando ━ Bocão apontou.
━ S-só precisa dar uma calibradinha. ━ Soluço gaguejou.
━ Não, não, não... Soluço ━ o viking interrompeu ━ Se você quiser ir lá para fora e matar dragões tem que parar com tudo... isso.
Soluço franziu o cenho ━ Mas você está apontando para eu todo.
━ Isso aí, pare de ser você todo. ━ Bocão o cutucou levemente.
━ O senhor está jogando um jogo muito perigoso, querendo manter toda essa minha vinkindade impetuosa reprima!
Bocão o ignorou e jogou uma espada para Soluço. ━ Afie, agora!
Soluço quase não aguentou o peso da espada, mas grunhiu de aborrecimento e cambaleou até a pedra de afiar. Ele acreditava que um dia ia chegar lá. Uma cabeça de Nadder poderia lhe dar uma moral com os demais habitantes de Berk, estes dragões eram espinhosos, com pontas afiadas da cabeça até a cauda. Os Gronckles eram osso duro, se ele derrubasse um deles, com certeza arranjaria uma namorada. Os Ziper Arrepiantes eram dragões exóticos, duas cabeças, prêmio em dobro... uma soltava um gás extremamente inflamável e a outra contribuía com a faísca. O Pesadelo Monstruoso, só os melhores vikings lutavam contra ele, esse dragão tinha o péssimo hábito de se incendiar. Ragnar, o Horripilante era um dos melhores matadores de Pesadelos Monstruosos, ele havia perdido a perna esquerda para um, mas em compensação exibia com muito orgulho a cabeça empalhada do dragão em sua sala de estar.
Mas o troféu supremo era um dragão que ninguém nunca viu. Era a raça mais rara e poderosa entre os dragões. Nenhum viking jamais conseguiu capturá-lo. Tinha a pele escura como o breu e era mais rápido que um raio e seus tiros de plasma eram certeiros e muito letais. Esse dragão era a cria diabólica do Raio e da própria Morte, não se atreva a enfrentar esse dragão, só a uma chance, esconda-se e reze para que não te encontre.
━ FÚRIA DA NOITE! ━ ecoou lá fora ━ ABAIXEM-SE!
Soluço olhou para o caos de explosões púrpura em completo choque. Ele nunca rouba comida, nunca se revela e nunca erra. Ninguém jamais matou um Fúria da Noite, e é por isso que ele estava determinado a ser o primeiro.
Ele voltou para dentro e viu Bocão plugando um machado em sua mão protética.
━ Fica de guarda Soluço, precisam de mim lá fora.
Com um grito de guerra, Bocão correu para o encontro das feras.
Em segundos, Soluço já estava correndo em meio a batalha empurrando sua nova máquina, ele estava determinado a levar sua vida para um rumo completamente diferente. Ele ignorou os vikings chamando seu nome e continuou a correr o máximo que suas pernas magras conseguiam.
Ele chegou a borda do penhasco e armou sua engenhoca, mirando no céu estrelado em busca de qualquer indício do dragão mais poderoso de todos.
━ Vai! Quero acertar um dragão... quero acertar um dragão...
Ele escutou aquele som de gelar a espinha e engoliu seu medo, mirando o melhor que pôde na escuridão. Prendendo a respiração ele apertou o gatilho e caiu para trás. Ele ouviu o grito do dragão e viu uma silhueta negra despencando do céu.
━ Eu... eu acertei? ━ ele murmurou completamente surpreso. ━ É! Eu acertei! Por acaso alguém aí viu isso!? ━ ele comemorou.
Mas sua alegria foi substituída pelo medo quando um Pesadelo Monstruoso se esgueirou pelo penhasco e rosnou para ele. Seus joelhos viraram gelatina e seus olhos quase saltaram do crânio.
━ É, além de você ━ ele engoliu em seco.
O dragão ergueu o pescoço comprido, se tornando mais imponente e Soluço viu só uma maneira de sobreviver.
━ AAAAAAAHHHHHHHHHHHH!
Soluço desceu as escadas de maneira destrambelhada e desesperada. (Por que tinha que haver tantos degraus!?)
Ele gritou o mais alto que podia e quase caiu enquanto se desviava de uma rajada de fogo. Ele se escondeu atrás de um pilar e se encolheu com o calor.
━ É isso! Esse é o meu fim! Capturei um Fúria da Noite e ninguém nunca vai saber!
O Pesadelo Monstruoso se esgueirou pelo outro lado do poste e mostrou seus dentes afiados como adagas. Mas antes de ser devorado, Stoico pulou em cima do dragão e os dois rolaram pelo chão. O chefe se ergueu em uma posição defensiva, o dragão tentou cuspir fogo, mas seus disparos haviam se esgotado.
━ Acabou seu gás. ━ Stoico coçou o nariz e atacou com socos e chutes (era realmente impressionante), o dragão rugiu e saiu voando.
O pilar cedeu e Soluço foi revelado de seu esconderijo, totalmente envergonhado.
━ Foi mal, pai...
À medida que a noite foi clareando, os dragões se retiraram da vila com um estoque bastante gordo de suprimentos... tudo graças a Soluço Haddock III. Vários vikings se aproximaram para julgar Soluço, e entre eles estava Lenora Bjornsen, ela tinha aquele olhar de quando alguém pisava em seu calo... por Odin, Soluço receberia uma espada naquele lugar.
━ Mas eu acertei um Fúria da Noite ━ ele murmurou envergonhado.
Stoico bufou e pegou Soluço pela gola do casaco.
━ Pai, não foi como das outras vezes... dessa vez eu acertei mesmo. Vocês estavam ocupados e eu estava com ele na mira... ele caiu perto do Penhasco do Corvo, tem que enviar um grupo de busca antes que ele-
━ CHEGA! ━ Soluço se encolheu com o grito ━ Agora chega! Toda vez que você sai por aí acontece um desastre. Você não vê que eu tenho problemas maiores?
Problemas maiores do que ele? Então as coisas realmente estavam sérias.
━ O inverno está chegando e eu tenho que alimentar a aldeia inteira.
━ É, cai entre nós, bem que esse pessoal deveria comer um pouquinho menos, você não acha? ━ Soluço perguntou retoricamente.
━ Eu não estou brincando, Soluço! É tão difícil assim para você obedecer ordens?
━ Mas é que eu não consigo me segurar, quando eu vejo um dragão eu tenho que... matá-lo!
Lenora e Leo trocaram olhares de zombaria, enquanto Cabeça Quente e Cabeça Dura seguravam os risos.
Soluço, o matador de Dragões? Era uma piada muito boa.
━ Ah! ━ Stoico esfregou o capacete com decepção. ━ Você pode ser muitas coisas... mas matador de dragão é que não é.
━ Petisco de dragão, sim. ━ Melequento sussurrou e Leo riu baixinho.
━ Agora volta para casa. ━ Stoico falou e olhou para Bocão ━ Agora leva ele para dentro.
O loiro assentiu e empurrou os ombros caídos de Soluço. O garoto começou sua caminhada da vergonha, passando pelo grupo de adolescentes.
━ Você deu um show, hem? ━ Cabeça Dura zombou e sua gêmea riu.
Melequento gargalhou. ━ Eu nunca vi ninguém fazer tanta burrada!
Leo soltou um bufou irritado. ━ Valeu, espinha de peixe.
━ Ei! ━ Lenora chutou a canela do ruivo, enquanto tirava a sujeira das unhas.
━ Não é como se você não falasse dele pelas costas! ━ Leo retrucou.
━ Como você disse, é pelas costas. ━ ela resmungou e trocou um olhar rápido com o nanico Haddock III. Ela chutou um pouco de areia e tentou desenhar um dragão com a ponta da bota. Soluço talvez fosse o único além de Leo que sabia que Lenora adorava a areia.
Talvez ele fosse observador demais (ou perseguidor demais), ela sempre ia para a praia, tirava as botas e enterrava os pés na areia... era uma espécie de terapia pessoal.
Astrid nem olhou para Soluço, ocupada demais em afiar seu machado de dois gumes.
━ Obrigado, Obrigado... eu tentei. ━ Soluço disse, sarcástico e cambaleou para casa.
A caminhada pareceu longa quando se tinha o olhar de todos os vikings te julgando como a decepção de Berk. O estranho ━ mais estranho que Bolor, que tinha sua casa construída longe da vila.
E Soluço não queria ser o próximo Bolor de Berk.
Bocão tentou convencê-lo de que a aparência do garoto não era o problema, e sim o que estava dentro de Soluço que Stoico não suportava.
A sinceridade foi comovente.
Esse capítulo me encheu de nostalgia.
Amo Soluço e Merida é minha princesa preferida, então resolvi juntar os dois amores da minha vida.
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