Continuação...

Boa leitura!!!

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"Parece que foi ontem que vi seu rosto, você me disse o quanto estava orgulhoso, mas eu fui embora. Se eu apenas soubesse o que sei hoje eu te seguraria em meus braços, eu afastaria a dor, agradeceria por tudo que você fez, perdoaria todos os seus erros.

Não há nada que eu não faria para ouvir sua voz de novo. Às vezes eu quero te chamar, mas eu sei que você não estará lá.

Ohh! Desculpe-me por culpar você, por tudo que eu não consegui fazer. E eu feri a mim mesma por ferir você. Alguns dias eu me sinto destruída por dentro, mas eu não vou admitir. Às vezes eu apenas quero esconder, porque é de você que sinto falta.

Você me diria que eu estava errada?

Você me ajudaria a compreender?

Você está me observando?

Você está orgulhoso de quem eu sou?

Não há nada que eu não faria para ter apenas mais uma chance de olhar em seus olhos e te ver retribuindo o olhar."

Hurt – Christina Aguilera

Lívia

Quatro anos antes...

     − Diga alguma coisa estou desistindo de você, eu serei seu amor se você quiser. – Balbuciei para as nuvens com as lágrimas rolando livremente!

     Eu estava partindo, mas meu coração ficava no Brasil com minha filha e com o homem que estava disposto a me amar para sempre. Não foi nada fácil encarar a realidade de perdê-lo para sempre e saber que talvez pudesse ter sido diferente se eu tivesse sido totalmente honesta, agora é tarde demais.

     No dia em que tive a conversa final com Nick eu arrumei minhas coisas e saí do Brasil sem olhar para trás. Ele ficou encarregado de falar com Estela sobre minha partida. Mantive contato falando com ela todos os dias por vídeo conferência. Tive alguns namorados, mudei de emprego algumas vezes e nada do que eu fizesse poderia mudar o vazio que eu sentia. 

Quatro anos depois...

     Eu estava com uma pessoa há dois anos, e apesar de ele ser um pouco possessivo e muito ciumento o relacionamento seguia firme. Viajamos para a Itália para ele tocar em um evento importante, o Aaron é violinista, e seguimos para a fazenda, que na verdade era uma vinícola, da família de um amigo seu.

     O nome da vinícola era D'amico o que me surpreendeu, porém quando alguém falou no nome do Nicholas eu tremi. Não permiti que o Aaron percebesse meu incômodo, mas eu fiquei pensativa. A pessoa em questão era um homem chamado Vincenzo e pelo pouco de italiano que pude compreender ele falava sobre a vinda do Nick para cá e com uma senhorinha chama Helena.

     Quando ele mencionou que o sobrinho traria a filha Estela não restaram dúvidas, se tratava da família do Nick, mas não me recordo de ele ter dito que era italiano. Pensar nele e na minha princesinha fez meu coração doer. Foi aí que eu me dei conta que o que eu precisava e queria não estava aqui.

     Quero dizer que não estava nos Estados Unidos e com o Aaron. Eu precisava de uma nova chance e queria ficar com Nick e minha filha como uma família que deveríamos ter sido se não fosse o lapso de memória.

     O medo tomou conta de mim e lembranças da minha última tentativa com Nick vieram como uma avalanche. A verdade era que ele não fazia muita questão de passar tempo comigo. Eu era um desperdício de sua energia e investimento. Sem dúvidas o que eu e Nick sentíamos eram coisas totalmente diferentes.

     Eu era uma princesa Disney, poxa, e o que eu queria era o que todas as princesas querem: um príncipe encantado, uma bagagem de amor cheia de "felizes para sempre". Mas o que eu tinha era: um gato da cobertura, tetraplégico e carrancudo, que o único sentimento disponível para doação era indiferença mais uma garota iludida que não amadureceu, com uma filha pra criar que nem sei como foi feita e sérios problemas de memoria e carência igual a relacionamento desastroso.

     Acrescento ainda a maldade humana que tirou os sonhos de um jovem estudante com um futuro brilhante pela frente; ele ainda conseguiu ser um profissional brilhante, porém seu brilho era ocasionalmente ofuscado pelo preconceito e limitações. Como eu sou muito boa em matemática as minhas contas bateram; a possibilidade de ficar com Nicholas morreu antes que pudesse engatinhar.

     Ele disse que me amava, mas simplesmente não demostrou que queria que eu ficasse, pelo contrário, disse que não me impediria de ir. Com isso minhas suspeitas se comprovaram, ele não se importava. E por que se importaria? Quem iria querer alguém que nem sequer lembrava-se da pessoa quando essa pessoa precisava tanto de ajuda?

     Quando tive que lidar com sondas e fraldas e demais acessórios as coisas só pioraram. Eu não sabia como lidar com essa situação diante desses problemas, não podia simplesmente sentar no seu colo e beijar sua boca perfeita. Havia muito mais nos bastidores do que eu era capaz de lidar.

     A indiferença e insatisfação ao me ver errar um procedimento ou lidar com uma situação difícil como o preconceito era demais para que eu tivesse algum acerto. Eu me perguntava sempre o que fez a Lívia de antes se apaixonar por ele. Onde estaria essa chama interior que supera tudo e todos em nome do amor? Ela ainda estaria dentro de mim ou havia se apagado?

     Decidi que tinha um bom motivo para voltar e por isso eu o faria. O motivo era a minha cópia na versão bem menor, ou maior devido o tempo que eu não a via. Fiz o mesmo percurso de quando saí de perto do amor da minha vida, minha estrela, como Nick gostava de chamá-la.

     Nick, Nick, Nick, será possível que tudo me lembra de Nick? Quando voltamos para a América eu fui cancelar meu contrato com a escola de música na qual trabalharia e me preparar, sem que o Aaron soubesse, para meu retorno ao Brasil. O meu namorado estava cada dia mais possessivo e isso me deixava assustada. Ele não sabia que eu era brasileira devido a minha influência no inglês, também nunca perguntou sobre minha família e origem.

     Liguei para meu pai informando do meu retorno, enquanto meu namorado passaria o dia ensaiando com a orquestra de Nova York. Literalmente joguei minhas roupas na mala e fui guardar os demais objetos entre eles uma caixa comprida e estreita que estava largada na parte de cima do closet.

     Não lembrava mais dela; vendo-a recordei a última vez que falei com minha amiga, a doida da Lúcia, ela ficou magoada com minha partida e então não entramos em contato. Porém lembro claramente que ela disse-me para abrir num dia difícil e este claramente era um. O segundo motivo pelo qual vou embora foi o fato de o Aaron ter me ameaçado achando que eu o estava traindo, ele saiu com raiva e eu fiquei assustada.

     A primeira coisa que vejo ao abrir a caixa é um papel timbrado com um emblema de D'amico arquitetura e uma rosa vermelha desidratada pela ação do tempo e uns garranchos que tentavam a todo custo ser letras legíveis escritos na folha.

Espero que esteja bem, se quiser conversar me procure.

Nick

     Minha curiosidade só aumentou então fui para outros objetos ou bilhetes. Havia algumas coisas que lembro perfeitamente de pôr na caixa: um biscoito de quando a minha mãe o fez pela última vez e ele estava com resina como alguns outros objetos perecíveis. Havia fotos minhas com o Nicholas e em uma delas eu estava com uma barriga redondinha à mostra.

     Não consegui conter as lágrimas e acabei ficando nervosa com a mancha de lágrima na foto, aquela caixa era o baú do tesouro, o meu tesouro. O broche de clave de sol que eu tanto procurei também era parte da coleção na caixa. Tirei outro papel da caixa e passei a desdobrá-lo para ver o conteúdo.

Minha querida princesa Disney,

Sei que a magoei por cogitar a possibilidade de uma traição vinda de você.

Mas que posso eu fazer se minha condição física e meu passado impelem-me para a insegurança?

Perdoe-me por ser o alvo de meus desabafos, você não merece isso.

Quando você se aproximou de mim eu não possuía o menor sinal de esperança, e você trouxe um dia de sol para minhas noites de escuridão.

Você é um porto-seguro quando preciso de descanso, é você quem me guia quando perco o controle.

Não sei o que faria sem você.

Você sabe que não sou muito bom em expressar meus sentimentos, mas te prometo que amarei esse bebê como eu te amo.

Sim, eu amo você!

Não gostaria de passar mais nenhum de seus aniversários longe; por mais que soe machista dizer isso eu o direi: você me pertence, foi feita para mim e tem as medidas certas que me preenche integralmente.

Que mais posso dizer? Você me tem por inteiro, estou completamente rendido.

Sei que não quer me ver, falar ou ter qualquer outro tipo de contato comigo por hora, entendo que o que falei foi inaceitável.

Implorarei seu perdão até o fim de meus dias.

Feliz aniversário de 18 anos!

Do seu, para sempre,

Nicholas!

PS: espero que goste do presente.

     Eu precisava urgentemente parar de danificar essas preciosas recordações com minhas lágrimas. Então quer dizer que o Nick me deu esse bilhete quando fiz dezoito anos? Ele tinha razão em sua promessa à filha, eu não duvidava de seu imenso amor pela nossa ruivinha. Abri o próximo bilhete, não encontrei presente algum, provavelmente era o colar com o símbolo em Libras.

Você me pegou de jeito moça, tanto que acabei por ouvir uma canção de pagode, bem diferente da minha realidade musical. Definitivamente fiz isso por você, e faço da letra dessa canção minhas palavras:

"Descobri que te amo demais,

Descobri em você minha paz,

Descobri sem querer a vida, verdade.

Como negar essa linda emoção,

Que tanto bem faz ao meu coração,

E a minha paixão adormecida."

Tudo que eu faço, faço por você! E reitero que vou amar esse bebê tanto quanto eu te amo, embora esteja com muito medo. (Risos)

Então te faço a pergunta de um milhão de reais, ou seja, lá quanto for o patrimônio dos meus pais:

Quer casar comigo?

PS: se for um sim peço que coloque a aliança no seu dedo anelar direito.

N. D.

     Na caixa havia também várias rosas vermelhas, não acredito que ele conhecia meu gosto para rosas! Tratei de guardar a caixa na mala junto com os outros pertences, eu já tinha comprado as passagens no dia anterior através da internet, chamei um carro pelo aplicativo, deixei meu bilhete de despedida na mesa de forma visível para o Aaron e saí para nunca mais voltar. 

     Enfrentei todas as horas de voo com ansiedade e expectativa, eu queria reencontrar minha família, minha amiga, minha filha, quem sabe meu amor. Quando vi o senhor Theodoro e a Sandra, não contive a emoção. Ali no meio do aeroporto abraçada a eles fiz uma promessa interior de que nunca mais faria isso.

     Eu queria ver minha filha, ela deveria estar enorme então meus pais disseram que ela tinha viajado com o pai. Eles estavam tão emocionados e felizes quanto eu, então decidimos voltar para casa.

     Descendo do carro na garagem do prédio percebi uma pequena movimentação na vaga que costumava ser do Nick. Uma mulher com as pernas mais longas que já vi e que parecia ser uma modelo retira a cadeira de rodas do porta-malas do carro revelando algumas mochilas de viagem.

     A cadeira se divide em duas partes, a parte do motor e o acento; ela monta a cadeira motorizada portátil com muita habilidade e para minha surpresa vejo as costas do Nick mais largas, seus músculos mais definidos e a pele bronzeada, ele se transfere sozinho para a cadeira com uma velocidade tão rápida quanto sua limitação permitia; estava longe de ser aquele advogado ranzinza e mandão que eu conheci.

     Eu estava chocada, afinal ele não estava só! Como eu pude pensar que ele não estivesse com alguém durante todo esse tempo?

     Uma garota ruiva corre em minha direção, me derrubando no chão de cimento literalmente, ao se agarrar em meu pescoço e enlaçar suas pernas compridas em minha cintura franzina.

     − Mamãe!!! – Ela grita. Comecei a sorrir enquanto o casal que trocava carícias se voltou para nós. A Estela estava vermelhinha, provavelmente estavam na praia. Eu abracei e passei a distribuir-lhe beijos por todo seu rostinho, arrancando boas risadas dela. Depois com a minha testa na dela, afirmou: – Eu estava com muitas saudades.

     − Eu também estava minha princesa. Perdão por ficar tanto tempo longe. – Ainda no chão a envolvi em meus braços bem a tempo de ver a expressão do Nicholas.

     Ele estava em choque!

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Abraços!!!

Até breve!

#gratidãosempre

Capítulo publicado e revisado dia: 08/10/2022