Capítulo 45 - Olhos de quem ama
Oi, gente! Mais um capítulo de carnaval saindo.
Quero deixar claro que essas postagens são EXCLUSIVAMENTE nessa semana de carnaval, certo? Somente pra vocês aproveitarem essa mini férias e lerem bastante.
Espero que gostem do capítulo.
Boa leitura!!!
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"Os olhos são os intérpretes do coração, mas só os interessados entendem essa linguagem."
Blaise Pascal
Sandra
Eu não consigo acreditar que estou olhando para os grandes olhos azuis do irmão do nosso governador. Calum Dutra não é famoso por ser o mais carismático dos políticos; ele é apenas cheio de si como tantos outros.
− Eu fui a um jantar da OAB no ano retrasado e o seu irmão não foi muito simpático quando quase trombei em cima dele.
− Eu entendo senhorita, ele não gosta muito das pessoas embora sempre esteja com a pose de político acessível, mas são apenas aparências. Por isso estou aqui, cansei das aparências.
− Tudo bem! Explique-me exatamente o que quer fazer.
− O meu irmão é um canalha fanfarrão, não muito diferente do nosso pai. Ambos foram responsáveis pelo agravamento da doença da minha mãe, mas acredito que ela morreu mais de tristeza que de qualquer outra coisa. – Ele fita o chão perdido em pensamentos.
− Continue. – Incentivo-o.
− Eu sou, ou melhor dizendo, era cirurgião cardiologista, para o desgosto da minha família que gostaria que eu me formasse na área administrativa. Eu amo a medicina e quero voltar a ativa. Estou todo engravatado desta forma porque acabei de vir de uma reunião no gabinete do meu "maninho" com ele e os babacas que o cercam. Como a resposta dele não me foi favorável eu resolvi entrar no primeiro escritório de advocacia que encontrei no caminho e processá-lo.
− Entendi. Por que a resposta não foi favorável? – Colho o máximo de informações possíveis. Sabia que aquele caso talvez não pudesse ser levado adiante ou levaria anos para termos uma vitória.
− Por que ele me aposentou a força, ele não quer adaptar o hospital para que eu possa atender no local; disse-me que o governo não pode ter gastos desnecessários. – Suspira parecendo frustrado.
− Tudo bem, então, vou avaliar o caso e te informo de como iremos proceder. – Levanto para cumprimentá-lo e dar nossa conversa por encerrada, minha barriga já roncava sutilmente implorando por comida.
− Eu agradeço doutora. Espero que dê tudo certo! – Ele fala com um sorriso arrebatador.
− Eu também. – Sorri contagiada por sua alegria repentina. Dou a volta na mesa e me dirijo a porta escancarando-a como a Lia fez a pouco. – Tenha um bom dia!
Volto para minha mesa organizo as pastas e alguns pertences. Saio e informo a Lia de que vou almoçar e em seguida para o tribunal. Vou para meu restaurante de sempre a duas quadras dali. Sigo para apreciar a comida disposta nas cubas aquecidas e as mais variadas saladas.
Estava distraída tentando decidir o que iria comer já que era um self-service e eu poderia me servir como quisesse. Escuto uma voz masculina atrás de mim. Eu costumava sair com algumas paqueras sem compromisso algum, esperava pelo dia que eu me apaixonasse de verdade embora minha mãe falasse com frequência que eu estava um pouco velha para estar solteira.
Viro-me com curiosidade para saber quem era o dono da voz e vejo um belo jovem com aparência familiar a minha frente sorrindo com entusiasmo.
− A senhora quer vir sentar comigo e meu pai? Falei pra o coroa vir te chamar, mas ele não teve coragem. – Sigo o olhar para onde ele apontou e vejo meu cliente cadeirante de poucos minutos atrás. Apenas concordo com a cabeça e informo que vou fazer o meu prato.
Eu e Henry estávamos bastante constrangidos, mas seu filho Henrique, não deixou que isso atrapalhasse em nenhum momento, ele era jovial e fazia o pai sorrir constantemente. Imagino como devem ser ligados e o quanto ele deve lutar pelo pai a ponto de ir me chamar para sentar-me à mesa com eles.
− Eu já falei várias vezes pra esse velho ranzinza que ele tem que sair do casulo, se o tio Calum é um filho da puta desalmado isso não tem que ser motivo pra o senhor se dar por vencido. – O jovem fala com propriedade. – Tem que sair e conhecer algumas mulheres pai.
− É sério isso? E por que não faz o mesmo, senhor "conquistador barato"? – Eu olhava de um para o outro e estava até achando engraçada a interação deles, pareciam mais dois amigos com idades bem distantes do que pai e filho. Aliás, se eles não tivessem comentado seu grau de parentesco eu jamais teria desconfiado. – Tudo bem, vou dançar um pouco hoje a noite em uma boate, então.
− É assim que se fala, coroa. – Ele gargalha como se tivesse ouvido a melhor piada do mundo. Eu acabo sorrindo também diante de tanto sarcasmo. – Só não vou te acompanhar porque a Marcela não gosta de boate.
− Engraçadinho você, fica atirando seu velho pai para as garotas quando você mesmo está preso a uma única desde a era dos dinossauros. – Ele desdenha.
− Papai! Ela é a mulher da minha vida, o que posso fazer? – Ele fala já de pé com os braços abertos fazendo questão de chamar a atenção. – Preciso ir, coroa. O Robin está me esperando, vamos enviar do dobro de alimentos esse ano para a Somália. E a Marcela está com um projeto musical para arrecadar mais doações. Estamos fazendo de tudo para dar apoio ao Quênia também, o senhor sabe: é o meu sonho expandir essa ONG por todo o "Chifre da África".
− Tudo bem, filho. – Vejo o Henry concordar com um sorriso fraco. E o rapaz beija o topo da cabeça do mais velho pouco se importando com os olhares alheios. Ele fica pensativo olhando para o prato vazio e eu olho disfarçadamente para meu relógio de pulso; eu precisava partir, mas estava relutante em deixa-lo sozinho naquele restaurante.
− Vão querer sobremesa? – O garçom nos surpreende quebrando o silêncio e o momento desconfortável. Ele me fita com aqueles olhos penetrantes parecendo ver além do que eu estava disposta a mostrar, parecendo ver minha alma.
− Não! – Ele fala.
− Sim! – Falo ao mesmo tempo.
− Achei que estivesse pronta pra ir embora. Não tenha receio de fazer isso porque vou ficar sozinho. – Ele me desafia.
− Eu não disse isso! – Fico na defensiva.
− Doutora Sandra, eu era um médico. Aprendi a ler o corpo das pessoas enquanto meu filho aprendeu a ler os gestos de Libras.
− Eu preciso ir para uma audiência.
− Então vá!
− Eu não quero, mas preciso.
− Está tudo bem, não é como se eu fosse correr atrás de você. – Aponta para o colo. – Não tenho mais disposição e nem idade para isso.
− Posso pelo menos comer uma sobremesa com meu cliente? – Ele sorrir e fico mais relutante ainda em deixá-lo. Ele tinha um brilho próprio e eu estava sendo enfeitiçada. Que idiotice a minha, mal o conheço.
− É claro! – Ele olha para o garçom e faz o pedido. – Pode trazer duas porções de pudim e a conta, por favor?
− Pudim!? – Debocho.
− Não gosta? – Ele questiona sério.
− Não!!! – Faço minha melhor cara de desagrado. – Eu amo pudim.
O vejo abrir um sorriso largo e o acompanho. Comemos em silêncio e faço menção a ir embora mesmo contra minha vontade.
− Já está fugindo? – Ele questiona divertido.Baixo a cabeça comovida pela mágoa que ele tenta disfarçar.
− Tenho que ir, doutor, sinto muito tenho compromisso agora. – O encaro mordendo meu lábio inferior na expectativa de que ele dissesse que gostaria de repetir a dose. Como ele apenas assente eu me adianto: − Vou pagar a conta e sair. Foi um prazer vê-lo novamente.
− Nada disso! EU vou pagar a conta.
− Eu entraria em um debate se não estivesse quase atrasada.
− Pois bem, vá para seu compromisso senhorita advogada e me mantenha informado sobre o meu caso.
− Eu manterei. Até a próxima. – Me despeço
Para minha surpresa, talvez nem tanto assim, ele estava no restaurante no dia seguinte. Desta vez não estava formal, porém não deixava a desejar vestindo uma camisa social branca com as mangas dobradas até metade do antebraço.
Quando me viu entrando no restaurante pegou o menu e fingiu estar interessado em analisa-lo. Sorri de sua infantilidade quando me aproximei da mesa e ele falou despretensiosamente:
− A comida daqui é muito boa, me senti impelido a retornar.
− Sei...vou fingir que acredito. E só mais uma coisa: ainda não dei nenhuma mísera olhada no seu caso. Tem certeza que quer processar o seu irmão, quer dizer, o estado?
− Sim. – Ele olha meio sem jeito para os lados depositando o menu na mesa e olhando fixamente para ele. – Eu não tinha nenhuma segunda intenção quando entrei no seu escritório.
− Do que está falando? – Pergunto com inocência fingida.
− Estava ensandecido quando entrei naquele prédio simples. Eu queria acabar com meu irmão nos tribunais. – Ele me encara com aqueles olhos de quem está interessado, olhos de quem ama. – Só não contava que a advogada era tão bonita e que estava solteira.
− Solteira? Quem te disse isso? – Pergunto sem acreditar que ouvi isso de sua boca.
− Tive a ousadia de perguntar a sua secretária, felizmente ela não te contou. – O descarado fala na maior cara de pau e eu estreito os olhos para ele que abre um sorriso largo mostrando os dentes enfileirados. – Felizmente ela não te contou.
− Acho que com essa revelação tem espaço para perguntar o que houve com a mãe do Henrique, porque não tem como negar que ele é seu filho. É a sua cópia fiel.
− Minha cópia fiel bem mais apaixonado, alegre e andante. – Ele pontua. – Espero que nada tenha acontecido a ela, na verdade nunca convivemos, ela é uma colega de faculdade e de profissão. Um dia saímos para nos divertir e acabamos passando a noite juntos, fizemos o que não devíamos e ainda por cima sem proteção: foi assim que eu me tornei pai aos vinte anos de idade. Meu filho é a única coisa boa que fiz na vida, ele é o melhor de mim.
− Acho melhor irmos pegar a comida. – Falei sem jeito querendo fugir do assunto.
− Concordo!
Depois disso eu encontrei ele quase todos os dias no restaurante, se tornou um hábito, eu já estava acostumada a essa rotina. Até o dia em que ele não foi, nem no seguinte nem no outro. Fiquei preocupada com meu cliente e comecei a montar o caso dele contra o estado, infelizmente encontrando várias falhas que não conseguiria driblar num tribunal.
Eu sentia a sua falta.
~ ~ ~ ~ ~
− Você ainda o ama? – Ela me questiona abraçada a minha cintura com a cabeça em meu colo enquanto eu estava recostada a cabeceira. Eu escorregava meus dedos através dos fios vermelhos desfazendo os cachos no cabelo dela.
Lívia era o mais próximo que eu teria de uma filha e estava disposta a fazer o que fosse preciso por ela, ela estava vivendo a fase do primeiro amor na adolescência e eu só poderia mostrar a ela que o amor não é luta, mas vale a pena lutar por ele.
− Sim minha filha, eu amo e sempre amarei o Henry!
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Não esqueçam de deixar sua estrelinha.
Até o próximo capítulo.
Abraços!!!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 15/02/2021
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