Capítulo 40 - Nada a perder!
Segundo capítulo saindo, como prometido. Comentem bastante.
OBS: Gente, vou fazer essa observação aqui em cima para facilitar a compreensão do texto durante a leitura. Quando eu coloco um diálogo SUBLINHADO e ITÁLICO significa que alguém está falando em um grupo de pessoas onde o Rafael está presente, portanto o interlocutor "fala" e "sinaliza" ao mesmo tempo. Porém se o texto está somente SUBLINHADO significa que a pessoa está apenas gesticulando, ou seja, em silêncio ou o próprio Rafael está "falando" já que a Libras é sua primeira língua.
Boa leitura!!!
ȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹ
"Sentimentos são fáceis de mudar, mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par".
Sentimentos – A Bela e a Fera
Nicholas
Quando menos esperei estava no casamento da minha prima, mais uma vez contra a minha vontade. E a manhã seguia entediante.
A recepção do casamento acontecia em um amplo espaço anexo a uma pousada, o jardim pra ser mais exato. Era grande o suficiente para caber toda a população de amigos da Alessa. Eu havia sido um dos padrinhos por livre e espontânea pressão mesmo que minha roupa não combinasse com as demais , o Francis era o outro.
Eu sempre fui muito próximo da minha prima, inclusive fui seu "príncipe" no baile debutante apesar de ser dois anos mais novo que ela – sempre fui meio grande assim como os meus irmãos, então ninguém percebeu que eu era só um adolescente –, e também o neto caçula. Ela sempre foi cheinha e lamentava que não conseguisse namorar pela constante rejeição dos pretendentes, um fato que não compreendi, pois é uma mulher bonita e inteligente. Ela jurou que quando casasse eu seria seu padrinho, pois eu sempre a incentivava com palavras positivas.
Além de chamar mais atenção que a noiva nesse casamento a outra parte ruim foi a moça que a minha prima designou como madrinha. Francis escolheu a melhor companhia, é claro, que eu apenas me limitei a aceitar o que me "sobrara". A moça que eu sequer perguntei o nome era um verdadeiro pé no saco.
A todo momento ficava perguntando se eu estava bem e até mesmo fazendo perguntas indiscretas e desnecessárias, me bateu um enorme arrependimento por não ter feito o que minha mãe sugeriu: chamado a Lívia, agora era tarde demais.
Quando vimos nossos lugares em frente ao pequeno palco onde uma banda tocaria; eu, o Rafael, o meu pai e até mesmo a Giulia protestamos. Minha mãe foi fazer sua mágica e convencer sua cunhada, a mãe da Alessa, para que ela nos trocasse para um lugar mais reservado.
E aqui estamos nós, debaixo dessa árvore com a indesejada garota tirando cada flor ou folha que cai em meu colo; só Deus sabe o quanto ela acariciou minhas coxas. Estávamos todos entediados enquanto a mamãe e o Gabriel faziam o papel de anfitriões e cumprimentavam todos na festa.
A Anna corria com algumas outras crianças e a barra do seu vestido branco de daminha já estava com várias folhas secas agarradas. Em dado momento a Giulia fala quando a moça ao meu lado pausa o falatório:
– Como eles conseguem ser tão sociáveis? – Para ela era natural fazer os sinais de Libras quando Rafael estava por perto.
– Cuidado para o Gabriel não sair distribuindo charme por aí, cunhada. – Rafael fala debochado, Giulia estreita os olhos para ele.
− Contenha seu filho ou não respondo por mim! – Ela fala brincando para o meu pai. Giulia era do tipo que cuida dos "seus meninos", os problemas deles também eram dela, e por "seus meninos" eu quero dizer: Gabriel, Rafael e eu. Ela se metia em tudo. – Ô, minha querida, menos! Desliga um pouco esse auto falante que você tem na garganta, até o Rafael não está mais suportando seu falatório.
Minha acompanhante arregala os olhos quando percebeu que minha adorável cunhada dirigia-lhe a palavra, seu falatório era continuo e antes da Giulia falar a voz da moça ao meu lado era a única na mesa a falar constantemente.
Ela iniciou a conversa falando sobre as roupas dos convidados, sua amizade e por último sobre como achava incrível a capacidade dos surdos em serem ativos na sociedade. Eu não vi nada melhor pra fazer a não ser prestar atenção nela.
A gota d'água do seu discurso – pois era disso que se tratava já que eu não interagia – enfadonho que mais parecia um sermão foi quando ela se achou no direito de me fazer aderir a vontade dela: após oferecer-me inúmeras vezes os quitutes que o garçom deixara na mesa ela resolveu fazer uma "brincadeira" colocando um deles em minha boca quando eu iria dizer algo e ficou rindo da traquinagem como se fosse algo realmente engraçado.
− EU JÁ TINHA DITO QUE NÃO QUERIA NADA DISSO! – Esbravejo após cuspir a gororoba que continha molho de tomate em seu vestido de madrinha em um tom bem claro com detalhes brancos.
Ela levantou num rompante derrubando a cadeira e disse:
− EU SÓ QUERIA SER LEGAL, SEU IDIOTA, E VOCÊ SUJA MEU VESTIDO? – Ela devolve no mesmo tom. Apenas a olhei indiferente e percebi que meu pai me olhava e tentou disfarçar quando eu percebi, era engraçado saber que ele nunca se metia nos relacionamento dos filhos mesmo que precisasse.
A garota que continuei sem saber o nome saiu em disparada e não se deu ao trabalho de erguer a cadeira do chão, eu tampouco o faria ainda que pudesse.
− Ei, tem um pouco de molho aqui. – Quebro o contato do meu pai para dar atenção à esposa do meu irmão. Ela fala sorrindo e trazendo um guardanapo a minha boca. - Pronto já limpei.
− Graças a Deus ela já foi. – Sorrio também ao declarar meu alívio. Alessa aparece com o noivo que acabei conhecendo somente hoje.
− Nick! – Ela laça meu pescoço com seu braço forte e beija minha bochecha. – Estou tão feliz que tenha decidido vir, sabia que poderia contar com você. Não tinha tido tempo de fazer as apresentações formais ainda, esse é o Renato. Esses anos foram tão turbulentos que não tive tempo de leva-lo lá na sua casa.
A Alessa e eu costumávamos ser próximos, porém depois do meu acidente muitas pessoas se afastaram e com minha família não foi diferente. Ninguém mais tem tempo para perder com uma visita a mim. Todos têm afazeres e continuaram suas vidas.
Eu ainda falava com a minha prima ao telefone, porém os demais – com exceção dos meus avós que iam pelo menos duas a três vezes por mês a minha casa – eu mal via, a não ser nesses eventos de família patético que minha mãe insistia em levar todos os seus garotos.
− Não se preocupe com isso prima, apenas mantenha o Francis longe de mim e tudo dará certo. – Direciono a próxima fala para o noivo sorrido com simpatia usando da educação que minha mãe me deu. – É um prazer conhece-lo, só não dá pra apertar a sua mão. Cuide bem da minha prima, ela é um tesouro.
− O prazer é meu cara, e pode deixar que farei de tudo para fazê-la feliz. – Ele sorri também esbanjando simpatia e beija a testa dela. Ela sorri de orelha a orelha, parece estar muito feliz. Ele fica sem jeito de repente e continua a falar comigo. – Aproveita a festa ou a comida, não sei. Bom nós precisamos falar com outras pessoas. Até mais!
Entendo seu desconforto. De que maneira eu poderia aproveitar essa festa? As pessoas nunca sabem o que me dizer ou o que fazer e ele não era diferente; fugir é sempre mais fácil.
− Espera um momento Renato. – Ela fala desentrelaçando as mãos deles e interrompendo o momento tenso. – Hey, o Renato chamou uma amiga de infância para tocar música clássica no piano, pois eu disse a ele que meu primo favorito era apaixonado por música clássica e como ela só chegou agora vou pedir pra que a banda a deixe tocar agora.
− Obrigado Alessa! – Agradeço, mas não dou a mínima só queria ir embora, porém não vou desagradar a minha prima dessa maneira. Ela abaixa e novamente me beija na bochecha. Sai puxando o noivo que parece mais aliviado.
Alguns minutos se passam e ficam apenas observando a família reunida na mesa conversando alegremente, mas não presto atenção ao que dizem. Até que uma melodia suave começa a ser tocada no piano.
Eu estava próximo a mesa com um espaço o suficiente para manter a posição que eu sempre gostava de ficar em locais públicos: a perna dobrada com um tornozelo em cima da outra perna e uma das mãos em cima da perna dobrada. Irresistível, só que não.
Apenas olhei de lado, pois a posição não era incômoda, para comprovar o que cada célula do meu corpo já sabia: Lívia iria cantar. Eu desenvolvi esse sinal de bom presságio; uma espécie de pressentimento de que ela possa estar por perto. Não queria admitir, mas sua presença me era muito agradável, não conseguia mais vê-la como um incômodo ou como algo desagradável, ela já era parte do meu dia a dia.
Fechei um pouco os meus olhos deixando sua voz, que me era como um bálsamo, preencher minha alma. Surpreendentemente ou não todo o alvoroço e falatório cessou e sua voz era a única ouvida no ambiente. Até mesmo a Anna assistia atenta sentada no colo da mãe a apresentação da Liv.
Lívia já deixou claro seu interesse em mim − acredito que já pensei tanto nisso que não é mais nenhuma novidade −, e confesso que gostaria de retribuir, mas eu não começaria algo que não posso terminar. A letra da música é bem sugestiva, eu sempre suspeitei que ela pudesse saber de algo sobre minha ida para Dignitas.
*Eu cantarei
Pela última vez para você
Depois nós precisamos mesmo ir embora
Você foi a única coisa
Que foi certa
De tudo que eu já fiz
E mal posso te encarar
Mas toda vez que eu faço
Eu sei que alcançaremos qualquer lugar
Bem longe daqui
Acenda a luz, acenda a luz
Como se tu tivesses escolha
Mesmo que não consigas ouvir a minha voz
Eu estarei sempre ao teu lado, querido
Mais alto, mais alto
E nós correremos pelas nossas vidas
Eu não consigo falar, mas compreendo
Porquê é que tu
Não consegues levantar a voz para falar?
Pensar que
Posso não ver esses olhos
Me dá uma enorme vontade de chorar
E como nós dissemos
Nosso longo adeus
Está próximo
[...]
Já chega de evitar esse assunto, preciso ser honesto com ela. Sei que não há uma maneira fácil de falar, entretanto preciso tentar. Quando ela termina a canção a multidão de convidados se levanta e a aplaude inclusive o Rafael, não esperava menos. Pensava numa maneira de iniciar o assunto quando o meu primo me aborda:
− Olá primo, como anda a vida? Opa! Ela não anda, não é mesmo? – Ele fala com um sorriso cínico e toda a vontade de ver Lívia e passar um tempo com ela deu lugar à frustração.
− Estou muito bem, na medida do possível. Sinceramente, Francis, eu perdi tudo, portanto não tenho nada a perder. É isso que queria saber? Se já terminou de me infernizar pode dar meia volta.
− Gosto de olhar pra você! – O imbecil que tem o meu sangue dá umas batidinhas no meu ombro. Ele adorou saber que eu estava fisicamente incapacitado para sempre.
− Queria saber se ainda estou vivo? Já tem sua resposta!
− Quem é vivo sempre aparece, meu caro Nicholas. Conta-me: vai mesmo se formar em direito? Deveria deixar o cargo para alguém mais... – Ele põe a mão no queixo como se estivesse pensando. – ... capacitado.
Sei que a indireta é a respeito do escritório do nosso avô que ele tanto quer assumir e o vovô já havia dito que passaria a mim por causa do comportamento irresponsável do meu priminho no passado. Francis jamais concordou com isso, é óbvio. Ele sempre deixou bem claro seu interesse em tal herança.
Esse casamento já deu pra mim. Minha prima está feliz e é isso o que importa, se eu pudesse sairia correndo daqui.
− Não seria nada mal pra você que eu morresse, hein? – Os olhos dele brilham.
− Não é pra tanto, Nick. Eu jamais pensaria nisso. – Fala tão falsamente que nem mesmo ele acredita, tenho certeza. – E então, vai considerar minha proposta?
− Eu preciso mesmo responder isso? – Estou concentrado no meu primo, quanto mais cedo conseguir manda-lo embora mais rápido terei minha paz novamente.
− Ora, ora. Reconsiderou minha proposta e veio me chamar, querida? – Ele havia desviado a atenção para frente, pois me ignorou totalmente. Olhei para frente e me deparei com minha frágil vizinha parada me encarando.
− E-eu...Não...Eu... – Ela gagueja docemente. Ela ficava linda quando estava tímida assim.
− Princesa Disney! O que faz aqui? – Falo assumindo um tom sexy e expansivo. Eu precisava manter as aparências para meu concorrente.
− Eu... vim cantar para o casal. – Ela fala como uma presa diante do caçador, ignorando totalmente do meu primo.
− Não vai me cumprimentar? – Abro um sorriso avassalador e intimidante, como eu fazia nos velhos tempos quando queria uma conquista. Ela fica sem jeito, adoro essa falta de ação dela. Vem até onde estou e deposita um beijo na minha bochecha demorando mais que o necessário para isso.
− Vocês se conhecem? – Francis pergunta curioso e sem acreditar na nossa intimidade, sei que, assim como eu, ele está pensando no passado. Pisco para ela e fazendo um charme.
− Ah! Perdão pela minha falta de educação, priminho. Essa é a Lívia, minha namorada. Ela canta bem pra caramba, não é? – Provoco-o.
− Namorada? – Ele me olha de queixo caído. − Quer dizer que você é o cretino que a namora? Tem que ser sempre você, não é Nicholas? E outra, ninguém da família avisou que você tem um casinho com uma garota menor de idade. Olha a cara dela, parece uma boneca.
− Na verdade ela é uma princesa e não uma boneca. – Falo tentando acalmar os ânimos. – Hey, Francis. Qual é o problema cara? Eu a conheço há quase um ano. É tudo 'legalizado'.
− Sério, garota! O que você vê no meu primo? – Ele pergunta a ela. – Ele é praticamente inútil. Você sente pena dele, é isso? Melhor, o que você espera dele?
Eu já imaginava que ele tentaria usar minha condição para diminuir-me, mas a Lívia não era cega, ela e qualquer pessoa poderia ver minha incapacidade estampada no meu corpo.
Não daria a ele o gosto da vitória e assumi minha melhor cara de indiferença embora eu também quisesse saber a resposta.
− Vamos querida, responda a pergunta do Francis com honestidade. Todos querem saber, inclusive eu. – Resolvi ser sincero.
− Vamos ver o que você tem a dizer. – O imbecil acha que ela tem pena de mim. Então volto a perguntar.
− O que você espera de mim?
Talvez eu estivesse equivocado e temia pela resposta dela. Provavelmente teria muito a perder, se eu perdê-la.
Nota da autora: *Tradução da Música: Run – Banda: Snow Patrol. Música do vídeo.
ȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹ
O que será a Lívia falou?
Deixem suas teorias, vou adorar ler cada um deles.
Não esqueçam de deixar sua estrelinha.
Até o próximo capítulo.
Abraços!!!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 31/01/2021
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro