Capítulo 27 - Perdendo o controle
Olá, leitores do meu coração! Vou deixar um capítulo quentinho recém saído do forno das ideias para vocês lerem nesse feriadão.
Como perceberam estou sem dia certo para as postagens, esse capítulo deveria ter saído dia 20/10, mas vai dar tudo certo.
Sem mais delongas, espero que gostem.
Boa leitura!!!
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"Geralmente aqueles que sabem pouco falam muito e aqueles que sabem muito falam pouco."
Jean-Jacques Rousseau
Nicholas
Novamente saio do conforto de meu apartamento e rotina para acompanhar minha mãe ao shopping, especificamente a loja que ela possuía e na qual pegaria alguns papéis da parte financeira para levar ao Rafael.
Dessa vez contei com a ajuda de Samuel. Ele foi no carro próprio porém ao chegar no estacionamento tirou-me do veículo da minha mãe e me colocou na cadeira. Após higienizá-la do jeito que ele julgava necessário.
Adentramos ao estabelecimento e fomos direto ao objetivo sem fazer nenhuma parada. A loja da dona Helene fica no centro do shopping de frente a uma enorme fonte que projetava para cima desafiando a gravidade insistentemente.
Samuel me empurrava enquanto esperava que minha mãe abrisse a porta da loja o suficiente para a cadeira passar – seria um martírio para ele tocar nessa porta pública –, vejo os olhares e expressões sem jeito de duas das vendedoras o que me faz decidir esperar do lado de fora.
Meu brother gostou da ideia de não ficar em um lugar fechado e exposto a germes em profusão e sim em um espaço relativamente aberto e com menos risco de contaminação. Eu ainda me sentia como se fosse o centro das atenções de uma forma negativa.
Ele para próximo a um banco para esperarmos a minha mãe e antes de sentar-se dá um banho de álcool no mesmo. Posicionou minha cadeira de modo que eu ficasse de frente para ele. A fonte é cercada de bancos que se encontram a uma distancia segura da água. Eu respeitava esse medo dele mesmo não concordando, afinal éramos amigos.
Levantei os ombros fazendo um enorme esforço para colocar meus braços que descansam sobre as pernas inertes para cima do apoio lateral da cadeira. Um topo de cabeça vermelho e familiar do outro lado da fonte me chama a atenção.
Lívia conversava animadamente com outra pessoa e falava a uma altura que eu compreendia o assunto mesmo estando relativamente distante. Estava vestindo a farda escolar, certamente vinha da aula, pois a hora do almoço estava próxima. Já havia se passado uns dias desde a última vez em que eu a vi no meu apartamento.
O assunto girava em torno da música erudita e uma futura apresentação; eu sabia que ela cantava muito bem, mas não que se apresentava.
– Ei! – Samuel chama-me a atenção passando a mão na frente do meu rosto.
– Oi!
– Estou te chamando a um tempinho. Você parecia está no mundo da lua. – Ele olha para trás já que os bancos ficam de costas para a fonte. Volta-se para mim sorrindo. – Agora entendo o que te fez ficar aéreo.
O que essa garota tem que mexe comigo além de um cabelo bonito?
Eu sabia a resposta: nada. Lívia é tão comum quanto qualquer outra garota não havia nada nela que a fizesse se destacar e meu gosto particular pelo seu tipo de cabelo não a fazia única. Eu sim chamava a atenção e era pela minha frágil aparência de jovem debilitado sentado em uma cadeira de rodas.
Eu gostaria de parecer ou pelo menos de me sentir uma pessoa comum conversando com um amigo no meio do shopping, mas eu nunca mais seria comum. Olho para meu amigo que também não é nada comum, estamos juntos no barco dos peculiares.
Samuel colocou nossa amizade acima de sua doença quando ficou mesmo depois que eu 'trouxe muitos germes comigo do hospital' o que acarretou em uma piora psicológica para ele, pois passou a ficar mais paranoico com a limpeza do que nunca.
Quando sai do hospital ele me disse a coisa mais romântica que um homem poderia ter me dito: 'Nenhum germe no mundo me impedirá de estar com você até o fim, meu amigo'. E assim tem sido. Eu valorizo muito a amizade desse jovem que é tão complicado quanto eu.
– Só me distraí um pouco com aquelas meninas falando alto. – Se tivesse sorte ela não me veria, eu não iria querê-la gritando perto de mim. Já bastava a cadeira de rodas para atrair a atenção. Samuel se senta de lado e divide a atenção entre eu e as garotas.
– Olha, eu não sou especialista em garotas mais sei que aquela ruiva tem o cabelo que te atrai. E a outra também é bonita.
– Que eu saiba quem gosta de azarar as garotas é o Rodrigo e não você. – Não contenho uma discreta risada.
Eu estava um pouco mais animado desde aquelas estranhas palavras de Lívia e o fim turbulento do meu relacionamento com Camile. Eu devo ter caído em outro devaneio, pois escuto a voz melodiosa e potente da Lívia sem perceber que ela se aproximara com um enorme sorriso.
– Nick, tudo bem? Posso te chamar assim?
– Oi. Sim, pode. – Tento ser educado, contudo meu desagrado é visível.
– Não acredito! – A amiga explode me assustando. – Então quer dizer que você é o famoso Nicholas, o gato da cobertura?
– O que? Gato da cobertura?
– Você não ia me apresentar, Liv? – Ela quase me deixa surdo ao falar para a amiga, ignorando completamente a minha pergunta.
Eu olho para ruiva meio confuso e ela começa a enrubescer. Samuel, sentado a minha frente no banco, começou a rir mais que sua timidez permitia; ele estava bastante a vontade ou apenas se divertindo às custas do gato da cobertura, ora essa.
– Você não me deu tempo de fazer as apresentações, Lu. – Ela ralha com a amiga. – Perdão pelo inconveniente, Nick. Essa é a minha amiga Lúcia.
− Muito prazer, senhorita. – Falo com polidez abrindo um sorriso galante que há muito estava enferrujado.
− O prazer é meu, gatinho. – Para a minha surpresa ela tasca um beijo estalado na minha bochecha – por essa eu não esperava. Ela caminha na direção do Samuca e antes que eu pudesse prever o perigo ou alertá-lo ela ataca.
− Prazer em conhecer você também. – A tal Lúcia repete o gesto com o Samuel e ele paralisa antes de surtar. Alguns segundos se passam até que dá um salto do banco e berra para a moça:
− Você está ficando louca? – Pergunta com a mão tremendo incapaz de tocar a bochecha.
Tento inutilmente fazer meus braços obedecerem e empurrarem a cadeira para junto dele, mas os braços parecem pesar toneladas. Eu esperava seguir um metro à frente onde meu amigo agonizava com os germes na bochecha, ele já estava em pânico, mas minha pouca força não era o suficiente para mover a cadeira do lugar.
Lívia e a amiga olhavam para ele com a expressão chocada, porém aflita. Elas pareciam acreditar na que meu amigo estava mesmo surtando e não fingindo como muitos achavam. Talvez pensassem que era exagero dele causar um escândalo por causa de um beijo feminino, mas estavam demonstrando preocupação.
Quem não conhecia o Samuel não poderia saber o que acontecia de fato.
− Ô Lucia, por favor, me ajude com o Samuel. Ele tem lenços umedecidos e álcool no bolso, pegue e passe onde você beijou, mas não toque diretamente nele. – Havia bastante tempo que eu não o via ter um ataque dessa proporção. Viro-me para Lívia e continuo. – Chame minha mãe, ela está nessa loja de roupas em frente.
Meu amigo estava pálido e suando. Ele estava meio curvado e era visível sua dificuldade para respirar, eu precisava fazer alguma coisa ou o perderia.
− Lúcia, empurra a minha cadeira para perto dele. – Peço puxando meu braço para o colo novamente. Ele me guia com facilidade pelo curto trajeto e percebo que uma pequena multidão se aglomera ao nosso redor, ele realmente está chamando a atenção. Falo para algumas pensar que tentam "ajudar": – Por favor, não toquem nele.
− Eu nunca pensei que um beijo na bochecha pudesse ser tão venenoso. – Ignoro o comentário dela que ainda permanece próxima e me volto para ele.
− Hey, Sam. Vai ficar tudo bem. – Falo baixinho. – Tento respirar devagar.
− Lívia, oi. Podemos conversar? – Apesar de estar concentrado no meu amigo eu conheceria essa voz até no inferno: Fábio. Mas o que diabos ele tinha pra fazer aqui num momento desses? – Parece que tem um maluco querendo aparecer. Vamos para um lugar mais tranquilo.
Eles estavam próximos o suficiente para eu ouvir a conversa, na verdade só percebi que ela voltara por causa dele – o cara mais cretino da face da terra. Quando desvio o olhar do Samuca e me volto para eles cruzo meu olhar com Camile, ela parecia me observar a um tempo.
Isso me faz voltar para o Samuel, pois não vou perder meu tempo com quem não merece. Que a Lívia vá para onde e com quem quiser ir.
− Tenta respirar fundo Samuel. – Ele parecia estar em transe e fazia barulhos estranhos.
Minha mãe surge ao meu lado e cuidadosamente pega o antisséptico no bolso da calça dele e higieniza as mãos.
− Oi meu amor. Tia Helene vai tocar em você, certo? Já limpei minhas mãos. – Algumas pessoas solícitas trouxeram água e quase o tocaram inocentemente o que poderia agravar a situação naquele momento. Ela dispensou a água com elegância e agradeceu tocando o Samuel em seu ombro, aos poucos.
Pediu que ele fizesse um exercício respiratório e o acompanhou no mesmo como um incentivo. Dona Helene saiu rebocando o Sam para longe da plateia curiosa esquecendo-se do filho inválido, ou seja, eu.
Olhei ao redor até onde meu pescoço permitia e não vi ninguém conhecido, na certa a Lívia deveria ter saído com o Fábio e a amiga foi embora. Camile não estava mais no lugar de antes ou em qualquer outro que eu pudesse ver.
Lá vamos nós de novo!
Insisto na ideia de mover a cadeira com esses braços flácidos, era péssimo não ter o conforto da cadeira motorizada, mas eu não queria um carro adaptado para esse fim, chamar a atenção estava fora dos meus planos.
Quando tento colocar uma das mãos na roda para impulsioná-la vejo que elas giram e a cadeira se move para frente. Por certo alguém se compadeceu e veio ajudar, mas esqueceu de avisar que iria me mover. Não vamos muito longe e eu tento inutilmente ver de quem se trata quando um arrepio sobe pela minha espinha – mesmo que metaforicamente devido à falta de sensibilidade. Meu ajudante sussurra em meu ouvido:
− Vamos dar uma volta, meu amigo Nicholas? – Fábio fala cada palavra com malícia. – Agora que você não tem nenhum protetor por perto podemos ter a conversa que tenho adiado por muito tempo. Você me deve algumas explicações e eu não estou nada feliz em saber que além da Camile você agora me tirou a ruiva gostosa. Eu não quero sobras, mas parece que é isso que eu recebo toda vez que você entra no caminho, essa vagabunda da Lívia só tem olhos pra você. Mas hoje vamos acertar as contas. Não se preocupe você não vai morrer, não pelas minhas mãos; mas se não puder sair de onde vou te deixar já não é problema meu.
O que será que ele faria? Como eu iria escapar dessa?
Eu estava definitivamente ferrado!
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O que acharam?
Gostaria de um bônus de alguma personagem?
De quem vocês mais gostam?
Me contem nos comentários.
Até o próximo capítulo.
Abraços!!!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 01/11/2020
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