Capítulo 118 - Recomeçar
Olá, Xuxus!!!
NÃO REVISADO!
Boa leitura!!!
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"De tudo ao meu amor serei atento...
[...]Que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure."
Soneto da fidelidade – Vinícius de Moraes
Lívia
− Porque eu não estava sabendo dessa sua decisão de voltar para o Nick antes? – Lúcia pergunta meio chateada enquanto olho a cidade iluminada da larga varanda da cobertura. Eu estava sozinha e ela aproveitou para cobrar minha falta de comunicação com ela.
− Se eu dissesse que estou me apaixonando por ele você acreditaria? – Desconverso.
− Não mesmo, Lívia! – Ela fala fazendo uma careta. Como eu amo essa minha amiga!
− Você me conhece muito bem. – Falo sorrindo.
− Ufa! Ainda bem que certas coisas não mudam. Então é exatamente o que eu suspeito que seja, não é? Sua mente meticulosa está avaliando os prós e contras de ficar com o Nicholas e chegou a conclusão, sem me contar, é claro, que deve ficar com ele. – Ela fala com o dedo em riste no meu rosto, Lúcia e eu éramos como irmãs gêmeas e tínhamos aquela sensação sentida pelos gêmeos.
− Você está certa, minha amiga. Eu estou dando a chance, o resto é com ele. Mas eu sei muito bem que você quer que eu te agradeça por ter me jogado pra cima dele com aquela história de "encontro as cegas". – Rimos feito duas idiotas porque essa era a verdade. – Baseado no seu conhecimento sobre meu relacionamento com ele no passado, você aprova esse retorno?
Ela ficou encarando minha filha brincar com as demais crianças sentada no tapete felpudo da sala chique da minha ex-atual sogra. Seu olhar estava distante, eu sabia que ela estava puxando uma memória do passado.
− Lívia! – Ela se volta para mim e olha em meus olhos, iria dizer algo realmente sério. – Nem tudo você me contava e está tudo bem porque há coisas que devemos guardar para nós mesmos, mas ele te fez sofrer muito, a ponto de eu querer matá-lo por te fazer chorar tanto.
Eu estava surpresa com a revelação.
− Nossa! Eu nem se o que dizer...
− Lív, ele não sofreu menos que você; do meu ponto de vista o Nick continua sendo o mesmo idiota de sempre e algo me diz que continuará sendo, só espero estar errada porque ele está tendo uma oportunidade de ouro, sei o quanto você é determinada quando quer algo. Ele te ama, só não é um príncipe para demonstrar isso, entende? Estou na torcida por você! – Ela levanta os dedos indicadores cruzados. Em seguida me abraça falando: – Não importa o que aconteça, eu estarei aqui! Ah, a Vick também é muito amiga, pode contar com ela!
Desfizemos o abraço quando vimos o Nick e seu amigo entrarem na varanda. Eu tinha passado dias pensando sobre minha decisão desta noite, mas o que eu realmente estava pensando já que não o conhecia?
Minha decisão foi tomada com base em vários pontos, sendo o primeiro deles em como ele me fazia se sentir. Era inegável que ele exercia certo domínio sobre mim e que eu estava desesperadamente querendo tomar o controle novamente, mas não era possível; ver o Nick e seu sorriso fez minha pele arrepiar da nuca até o pé, isso poderia ser facilmente uma memória guardada pelo ID do meu inconsciente. Meus pés moveram-se obedientes em sua direção.
− Oi, princesa Disney, não vai comer nada? – Ele me encara com seus olhos azuis profundos, faço um esforço para não demonstrar que ele me desestabiliza.
− Tem razão, preciso comer! – Abro meu melhor sorriso para ele. Ao olhar de lado vejo o amigo do Nick com a mão na pequena protuberância que era a barriga da minha amiga, depois volto a olhá-lo. – E você, já comeu?
− Sim! – Ele responde sem deixar de sorrir.
− Por sua causa, minha amiga, conheci o amor da minha vida! – Lú fala abraçando o marido. Fiquei muito feliz quando soube que ela tinha casado, era tão seletiva quanto eu, mas o pior de tudo era ela encontrar alguém que suportasse sua maluquice.
− "Que seja infinito enquanto dure". – Citei a frase do Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes, percebendo que essas palavras foram mais para eu mesma que para a Lúcia.
− Ei! – Nicholas chama minha atenção. – Seus pensamentos estão longe, hein?
− Estou um pouco distraída! – Disse sem graça, pois pensava no quão insegura ainda estava.
− Tenho algo para você, acabei de pegar no meu quarto, era seu antes então achei melhor devolvê-la. Comprei quando fomos passear juntos, um dia. – Pego a caixa de seu colo abro revelando um colar simples com um pingente diferente. – Esse pingente é o sinal de "I love you" em Libras. Você tinha muito interesse em aprender a língua de sinais quando conheceu meu irmão, então te dei algo que lembrasse seu desejo.
− Eu adorei! Ainda tenho interesse em aprender Libras. – Dei-lhe um selinho que ele correspondeu com intensidade. Coloquei o colar imediatamente em meu pescoço sem esperar qualquer ajuda. – Obrigada pelo presente!
Organizamo-nos para encaixar nossa rotina uma na outra, percebi que minha pequena estava mais feliz com a aproximação dos pais. Nicholas não questionava meus hábitos nem as roupas simples que eu usava; tecia muitos elogios a meu respeito principalmente sobre meu cabelo ou minha voz.
Ele tinha um costume um tanto difícil de aceitar, mas que eu tentava sempre levar numa boa: tomar as decisões por mim.
Eu aprendi a lidar com as pessoas nos encarando, com suas necessidades, com seu jeito de ser, com os locais requintados que por vezes frequentávamos, mas ainda estava aprendendo a lidar com o "nós".
Nicholas me guiava como se eu não enxergasse tentando encontrar o caminho na escuridão e eu me deixava ser levada. Falava sobre o mundo que eu havia esquecido e sobre um ou outro episódio que tinha ocorrido em nosso relacionamento antes do meu acidente. Além disso, mostrava-me as fotos e vídeos de quando estávamos juntos antes.
Um dia qualquer da semana resolvi passar com a Estela no escritório dos meninos para fazer uma surpresa ao meu namorado, foi uma ótima oportunidade para testar meus sentimentos por ele.
Quando cheguei à recepção me perguntaram se eu tinha hora marcada e avisaram que eu não poderia vê-lo sem estar na agenda, pois qualquer uma poderia dizer que era sua namorada. Quando estava para sair totalmente frustrada, pois o Nick não atendia ao telefone, uma moça chamada Daniela interveio na conversa afirmando à outra que me conhecia e que eu poderia subir com ela.
Estela ficou aprontando todas na ampla recepção da sala de reuniões e eu não me incomodei já que o escritório pertencia ao pai da garota e até encarei como certa vingança – mesmo que não combinasse comigo – por não ser reconhecia como sua namorada. Contanto que minha filha não se machucasse poderia redecorar o lugar como quisesse.
Daniela era muito simpática, se dividiu entre brincar com a Estela e fazer suas tarefas. Ao contrário da outra recepcionista ela fez de tudo para que eu ficasse o mais confortável possível na espera pelo Nick.
− Ele está fechando uma parceria importante, mas a reunião deve acabar em breve. – Afirmou enquanto desenhava algo para minha filha em um bloco de papel.
− Tudo bem, eu vou aguardar. Obrigada por sua gentileza! – Agradeço a moça.
− Na verdade nos conhecemos, mas você não se lembra de mim. – Ela falou gentil. – Foi uma sugestão sua que eu viesse trabalhar aqui. Trouxe o meu currículo para o Dr. Nicholas e ele acatou sua sugestão.
− Foi mesmo? – Surpreendi-me ao ouvir o relato.
− Sim. – Ela falou sorrindo. – Nos conhecemos na faculdade de Serviço social e ficamos amigas, nunca pensei em me tornar uma secretária jurídica, mas agradeço o que fez por mim. Eu realmente precisava do emprego. E acabei trocando de curso na faculdade, pois me identifiquei com essa profissão.
− Nossa, fico feliz que tenha dado certo! – Mais uma peça que o destino me prega. Senti-me péssima por não se lembrar da menina.
− Eu era secretária dos três sócios-administradores, mas o Dr. Rodrigo faleceu de câncer, como deve saber, então continuei trabalhando para os outros dois. Ainda continuamos amigas por algum tempo, mas quando tomou o tiro, naturalmente, nos afastamos. Não se preocupe, sei que não lembra.
− Obrigada, Daniela, sei que está nesse cargo por mérito seu, mesmo que eu tenho dado a dica para o Nick! – Nossa conversa foi interrompida pelo toque do telefone. Ela atendeu e ao receber as instruções do outro lado da linha desligou.
– Eu volto num minuto, pode ficar a vontade. – Vejo-a arrumar algumas garras de água e se dirigir a porta da sala de conferências, não sem antes chamar a Estela para impedi-la de seguir a moça e atrapalhar o pai.
Espiei para dentro da sala e vi a cena que fez meu coração bater mais rápido: uma loira bem vestida com terninho e cabelo platinado afagava a perna do Nicholas com seu salto agulha por baixo da mesa escura. Ela olhava o palestrante tão concentrada quanto o Nick, mas o pensamento da mulher estava distante da sala. O meu namorado, é óbvio não se deu conta por não ter sensibilidade nas pernas, pelo menos é o que quero acreditar.
Daniela voltou nesse exato momento e seguiu discretamente o meu olhar fechando a porta atrás de si após ter executado sua tarefa, ela tinha sido tão ágil em entrar e sair da sala sem ser notada que nem eu havia percebido.
− Olha, não se incomode com o que está vendo! – Ela já tinha se livrado da bandeja e estava sentada ao meu lado no sofá de espera. – Sei que não é da minha conta, mas o Dr. Nicholas é muito reservado, como deve saber. Não é a primeira vez que vejo essa advogada e tantas outras dar em cima dele sutilmente e ele lhe corta, se tivesse percebido que ela estava a fazer isso não teria permitido. Quase ninguém sabe sobre você, mas sabem que ele tem uma filha. Ele detesta ter sua intimidade exposta.
− Eu não estou incomodada! – Dou o meu melhor sorriso tentando disfarçar que estava mordida de ciúmes.
− Eu já vi também muitas clientes darem em cima dele, mas assim como essa advogada elas querem o que ele pode oferecer e não necessariamente um relacionamento amoroso. Não quero te julgar, mas você sempre foi uma pessoa simples, Lívia; qualquer um pode ver os olhos dele brilharem quando te olha porque ele te ama e o amor não está relacionado à aparência, mas a algo mais profundo. Ele é um homem poderoso e é natural que as pessoas achem que ele tem alguém semelhante ou que as pessoas queiram o status de poder que ele aparenta oferecer, principalmente às advogadas associadas. A verdade é totalmente diferente, só você conhecia o Nicholas verdadeiro.
Ela tinha razão e isso me deixou um pouco mais tranquila e ao mesmo tempo surpresa com a revelação, olhei para as minhas mãos que descansavam em meu colo sobre a calça jeans combinado com uma camiseta branca; eu não era elegante e nem me vestia formalmente, não éramos parecidos nem quando eu estava arrumada. Fiquei meditando um pouco sobre isso e novamente tentando trazer a memória uma situação semelhante do passado.
Ouvi o som de saltos em staccato* contra o porcelanato no piso do escritório. O burburinho dos engravatados denunciava que a reunião tinha terminado. Ao olhar ao redor vi o quão eficiente a Daniela era, não havia nada fora do lugar, nenhum um mínimo resquício de que uma criança pequena estava brincando livremente no local.
As pessoas passavam em direção ao elevador outras em direção a outras portas então coloquei minha pequena ruiva nos braços para esperar o Nick. A advogada platinada dizia algo alegremente ao lado do meu namorado que ele não parecia nenhum um pouco interessado. Estava com o semblante fechado olhando para frente, e ao mesmo tempo em que estava sério transmitia segurança e poder.
Seu terno azul escuro reluzia evidenciando a nobreza de quem o vestia, quem olhasse de fora poderia ver o quão parecidos eles eram: ela também se vestia formalmente e era muito bonita. Ela me olhou dos pés a cabeça quando percebeu minha presença, isso era até aceitável visto que a gravata do Nick parecia ser mais cara do que o meu tênis de marca.
− Lívia?! – Ele falou com sua voz grave evidenciando a surpresa.
− Olá! – Falei ainda com a Estela no colo.
− Dr. Nicholas, tenho o projeto para apresentá-lo, lembra que conversamos sobre isso antes da reunião? – A advogada insiste.
− Dra. o que tiver de me apresentar pode marcar uma reunião com minha secretária, ou mesmo falar com o Dr. Samuel que também é frente nessa empresa...
− Estou ocupado! Olá, Lívia! – O Samuel passa por mim e pega a menina de meu colo e seguindo para o elevador me dando tempo apenas de responder com um sorriso e aceno.
− De toda forma poderemos ver isso depois. – Ele sentencia, mas ela parece não entender.
− Mas Dr. nós tínhamos combinado...
− Vou tentar ser mais claro: não vou deixar minha mulher esperando para discutir um projeto com a senhorita que não sei do que se trata, pois a empresa está bem, isso não é uma prioridade para mim.
− Eu não sabia que era sua mulher, achei que era a babá da menina. – Ela persiste.
− Não haveria problema algum se eu fosse apaixonado pela babá. Agora se me der licença? Daniela, remarque todos os meus compromissos de amanhã e depois, retorno apenas na segunda-feira.
− Certo senhor. Bom final de semana! – Ela responde. Antes de seguirmos para o elevador, vou dar-lhe um abraço. Ela fala em meu ouvido discretamente: – Olhos brilhando!
Sorri de volta e fui até o Nick pegando sua mão que ele estendeu desajeitadamente. Daniela tinha razão, os olhos dele brilhavam e era apenas para mim.
Segurei a mão do meu amado e seguimos rumo ao recomeço da minha vida!
NOTA DA AUTORA: * Tipo de articulação que resulta em notas muitocurtas.
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Se gostar do capítulo deixa sua estrelinha.
Abraços!!!
Até breve!
#gratidãosempre
Capítulo publicado dia: 25/09/2022
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