Capítulo 106 - Sua própria canção de ninar
Oi xuxus!
Rumo a reta final!
Boa leitura!!!
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"Quando um sonho se desfaz, muitas marcas ficarão, mas a força de sonhar continua em suas mãos."
Em suas mãos − Cristina Mel
Nicholas
Abri meus olhos sentindo a sensação que eu já conhecia quando tomava o bendito anestésico. Minha cabeça parece que vai explodir! Um par de olhos me encara e vejo que está muito a vontade com os pés na minha cama.
Rodrigo está com um soro vermelho na veia e os olhos fundos como se não tivesse dormido a noite inteira. Tento reorganizar meus pensamentos e trazer à memória minha última lembrança antes de apagar.
Lívia, bolo... Lívia!
− Rod, onde está a Lívia? – Pergunto começando a ficar agitado.
− Hey brother! Sossega aí! Vou chamar um médico. – Ele levantou com um pouco de dificuldade se pôs a apertar com fervor o botão ao lado da minha cama. – A primeira coisa que você tem que pensar quando acorda é: o que eu vou comer?
Algo não estava certo, eu só não conseguia lembrar o que era.
− Eu não quero comer. Por que você está assim?
− Assim como? – Ele se faz de desentendido.
− Destruído!
− Só estou cansado...
− Oi, já pode parar de apertar o botão, eu estou aqui e chamei o médico na primeira vez que apertou. – Janice fala irônica.
− Eu... – Ele não conseguiu terminar a frase. Por sorte a Janice entendeu e segurou um cesto de lixo na frente dele bem a tempo. Ele estava praticamente se arrastando enquanto se apoiava na cama.
− O que está acontecendo, Rodrigo? – Eu estava desesperado por não saber o que se passava e também por não poder fazer nada. Sequer lembrei que estava sentindo dores quando foquei nele.
− Eu estou com uma infecção alimentar. Acho que esperamos demais pra comer no teu chá revelação. Que menina dura de ser revelada!
− Menina?
− É isso aí, cara! Cê vai ser pai de uma menina. – Começo a ficar emocionado, mas as coisas mudam quando vejo o Dr. Augusto com o Tio Ronaldo entrando no quarto.
− Olá Nicholas! – Meu médico fala, mas tudo o que faço é encará-lo espantado. Vê-lo me fez recordar que eu já estava aqui no hospital quando apaguei e também o motivo. – Vou te dar um medicamento para dor, seja qual esteja sentindo.
O monitor cardíaco dispara, pois eu estava começando a ficar nervoso.
− Se você não se acalmar eu vou te dopar novamente, e precisamos de você acordado. – Não o tinha visto tão bravo.
− Calma, Nick. – Tio Ronaldo me envolve em um abraço. – Preciso que seja forte e me ajude.
− Até que enfim você chegou! Cadê minha comida? − Rodrigo fala pra o Sam que quase joga o pacote nele.
− Ei, eu não estou certo que você poderá comer alguma coisa agora, vou checar com seu médico antes. – Augusto fala impedindo de fazer o que mais gosta.
Mesmo com os incentivos e apoio não conseguia ficar tranquilo. O que eu faria de agora em diante?
− Preciso que ouçam com atenção o que o Dr. Augusto tem a dizer e depois o que eu vou falar. Nossos testemunhos são de grade valia para a resolução desse caso sem fundamento. Estou num beco sem saída e preciso da colaboração dos três, principalmente sua, Nick. – O pai do Rodrigo fala e sua voz ecoa no quarto. Eu não tinha escolha a não ser chorar em silencio e ouvir o que os dois tinham a dizer.
− Reafirmo que se entrar em pânico serei obrigado a te sedar, Nicholas. – Meu médico alerta e começa se monólogo. – Por volta das sete da noite recebi uma chamada na urgência neurológica. A vítima estava baleada na cabeça e seus sinais caindo gradativamente. Essa paciente era a Lívia, para minha surpresa com uma enorme barriga de gravidez, e seu estado era muito delicado. Fiz o primeiro atendimento, mas não sem antes ligar para o Will. Quando ele confirmou que viria fiz a avaliação e estaquei o sangramento para que seus sinais ficassem o mais próximo possível do normal. Ele chegou e tomou frente da situação tendo em vista que não está diretamente ligado a ela por nenhum grau de parentesco. Ele deixou a Helene ciente e ela já sabia e estava próxima ao hospital, ficou responsável pelo bem-estar do bebê e descobriu se tratar de uma menina. Porém quando analisamos o ferimento da Lívia e constatamos que a bala se alojou próximo ao sistema nervoso central; ela não está sedada e não reage a nenhum tipo de dor, e o pior de tudo: não há qualquer atividade cerebral. A Lívia teve morte cerebral.
Fechei os olhos para tentar afastar esse golpe do destino. Isso não é justo, tínhamos uma vida toda pela frente. Meu corpo sacoleja com os soluços que eu não aguentava mais prender. Sinto o aperto do meu tio abraçando-me.
− Nicholas, nós vamos manter a integridade física da Lívia para que o bebê possa continuar se desenvolvendo, a criança não sofreu dano algum, mas ainda é cedo para nascer. – O médico continua a relatar e sua voz estava mais baixa. – Sua mãe prefere acompanhar a bebê no útero que realizar um parto forçado. Nós já vimos alguns casos ao redor do mundo e vamos fazê-lo aqui. Você terá acesso ao corpo da sua namorada vinte e quatro horas por dia para vê-la quando desejar e acompanhar o último trimestre da gravidez. Sinto muito por sua perda!
− Que?! – Ouço Rodrigo esbravejar. – A tia Helene falou ontem que... que o bebê estava fora de perigo. Caramba, eu não posso acreditar!
Ouvi-lo chorar só aumentou a minha dor. E seu pai me largou para consolá-lo.
− Hey, Nick! Vai dar tudo certo, nós passaremos por essa tempestade juntos. – Samuel mais uma vez enfrenta seus dilemas e se coloca dentro de um hospital para me apoiar. Ele encosta seu rosto banhado pelas lágrimas em minha testa. – Um por todos?...
Eu não respondo, tudo o que consigo externar são as lágrimas de amargura pelas duras lições da vida.
− Precisamos conversar com os policiais e prosseguir com o caso, Nick! – Sinto um aperto no ombro e abro os olhos, novamente meu tio estava ao meu lado. – Quanto mais rápido resolvemos isso mais rápido pegaremos os agressores.
− Os policiais colheram informações valiosas no local do crime, mas precisam da nossa ajuda para resolver esse mistério a começar pelo cartucho do projétil que é de uma pistola simples nos dando a entender que pode ter sido um simples latrocínio* ou se o agressor conhecia a Lívia.
Meu telefone toca e vejo no visor que se trata do meu sogro:
− Alô? – Atendo ao segundo toque e o aparelho automaticamente vai para o viva-voz.
− Nicholas, quero notícias da minha filha!
− Venha para o hospital. – Ele simplesmente desliga sem se despedir. Então peço a meu médico. – Fale o que aconteceu para Gabriel e peça para ele dar a notícia da Lívia para quem tem que saber. E chama o Celso aqui, eu quero sair dessa cama e ver a Lívia.
− Seu irmão já sabe e providenciou tudo, e seu cuidador está na sala de espera aguardando. Quanto a Lívia você vai ter que esperar que ela seja transferida para um apartamento.
Todos saíram com exceção do Samuel. Que ficou observando o Celso me trocar, ele mesmo já havia corrido o risco de fazer minha higiene então não me incomodava que meu amigo ficasse aqui.
~ ~ ~
Alguns dias depois...
Uma semana havia se passado e finalmente eu poderia ver a Lívia. Eu quase não me alimentava, comia apenas o suficiente para ter um pouco de energia, eu estava física e emocionalmente esgotado.
O momento mais difícil de todos foi ver o meu sogro encarar a notícia da perda da única filha; ele se ajoelhou no chão do hospital e chorou inconsolavelmente, não havia nada que eu pudesse fazer pra tornar isso mais fácil.
Ia para casa e voltava para o hospital quase todos os dias. Soube que uma equipe multiprofissional estava a cargo de cuidar do pequeno corpo da Lívia. Eu só conseguia me magoar dia após dia vendo nossas fotos e alguns vídeos inclusive dela cantando para o bebê enquanto interagia com a barriga.
Será que eu sobreviveria a esse duro golpe?
− Não interessa quem seja seu médico, se você não comer eu vou te internar e você não será capaz de visitar a Lívia. – O tio Félix abaixa-se na minha frente e faz sua ameaça quando eu estava prestes a sair do quarto e descobrir onde a Lívia estava.
Eu não o via há uns dias assim como não via meus pais e nem meus irmãos. O Rodrigo e o Samuel eram os únicos que não largavam meu pé.
− Como se come sem fome? – eu não estava nem um pouco a fim de receber lição de moral.
− Faça um esforço! Eu sei que não é nada fácil, Nick. Num momento você está com sua amada e num instante seguinte alguém a toma de você sem nenhuma piedade. Eu achei que não ia superar, mas aqui estou. A dor com um tempo vira saudade e em vez de chorar de tristeza ao ver as fotos você vai sorrir de gratidão por ter alguém tão fantástica ao seu lado por um tempo. – Ele sorri gentil enquanto me encara. – Você agora tem uma filha e ela vai te dar muita força pra superar a dor.
− Eu quero acreditar, tio, mas é difícil. – As lágrimas brotaram novamente, chorar tinha se tornado um hábito.
− Eu sei que sim, mas não é impossível. Você só precisa de tempo e de comer. – Ele sorri novamente, esses sorrisos não chegavam aos seus olhos.
− O senhor viu meus pais e os gêmeos?
− Sim, o Rafa está bem triste e comentou que depois falaria com você. Está sendo difícil pra namorada dele, parece que ela conhecia a Lívia desde criança. O Gabriel contou pra Anna então ele está tentando consolá-la. Seu pai está descansando porque ficou muito abalado. Você sabe que pode contar comigo, não é?
− Sim. Eu quero ver a Lívia pela última vez, chega de enrolação! – Estava aguardando o Celso sair do banheiro quando o Dr. Félix me abordou. Meu cuidador dá as caras e o bom doutor guia o caminho.
− Ela está aqui! – Ele fala e meu coração acelera só de pensar como ela está, passei toda a semana aguardando por esse momento.
− Tem alguém com ela?
− Não que eu saiba! – O médico afirma.
− Quero ficar sozinho com ela por uns instantes.
− Vou informar as enfermeiras que não deixem ninguém entrar por enquanto. – Ele abre a porta me dando passagem e a fecha em seguida. Aproximo a cadeira de rodas até a cama e ouço os bips característicos das máquinas que a mantém "viva".
− Oi Lívia! – Disse incerto e mais uma vez as lágrimas rolam. Suspiro antes de continuar. – Sinto muito sua falta, sinto ter discutido com você. Eu... só queria voltar no tempo e te ouvir me chamando de alteza...
Sorri em meio as lágrimas. É impressionante como a gente dá valor as pequenas coisas depois que perde!
− Eu... não quero perdê-la. – Sem pensar duas vezes e com a voz falha começo a cantar uma canção, algo que ela me pediu tantas vezes e eu neguei:
Tudo o que eu quero é nada além
De ouvir você bater em minha porta
Pois se eu pudesse ver seu rosto, só mais uma vez
Poderia morrer um homem feliz, tenho certeza
Quando você disse seu último adeus
Eu morri um pouco por dentro
Eu deito na cama chorando todas as noites
Sozinho, sem ter você ao meu lado
Mas se você me amava
Por que me deixou?
Tome meu corpo, tome meu corpo
Tudo o que quero e tudo o que preciso
É achar alguém
Eu acharei alguém como você
Pois você trouxe vida ao melhor de mim
Uma parte de mim que nunca tinha visto
Você pegou minha alma e a limpou
Nosso amor parece feito para as telas de cinema
Mas se você me amava
Por que me deixou?
Tome meu corpo, tome meu corpo
Tudo o que quero e tudo o que preciso
É achar alguém
Eu acharei alguém como você
https://youtu.be/IdROcOGwqQ0
− Eu nunca encontrarei alguém como você, você é a única princesa Disney! Aí está a sua canção de ninar, durma bem!
Ela estava com os cachos colocados delicadamente ao lado de seu rosto, a pele estava pálida, os lábios finos fechados me lembraram de seu largo sorriso. De repente tenho uma enorme vontade de acariciar seu rosto. Faço um esforço erguendo o ombro sem saber ao certo se vou conseguir.
Alguém pega minha mão e coloca sobre a barriga da Lívia, apesar de não sentir tomei um susto quando vi, mas assim que minha mão pousou na barriga a pessoa entra em meu campo de visão.
− Não se preocupe, eu não ouvi nada do que disse a ela. – Ele sorri, mas não é genuíno.
− Eu não sei o que fazer... – Apenas pronunciei, pois não saiu som algum da minha boca.
− Veja! Está se mexendo! – Rafael sinaliza e aponta para a barriga que de fato subia e descia sob minha mão, ignorando completamente o que eu disse. – Ela está fria, acho que sua mão quente agradou o bebê.
Não falei nada depois disso, apenas chorei demasiadamente. Ele me deu o abraço mais apertado que recebi depois que eu soube do acontecido. E assim ficamos por longos minutos.
~ ~ ~
− Eu não quero ter problemas! Só vou dar meu depoimento porque a moça estava grávida, foi terrível o que fizeram com ela.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e o Tio Ronaldo pergunta baixinho:
− Quer continuar? – Apenas concordei com a cabeça.
Estávamos na delegacia em uma sala própria para isso, e os policiais finalmente haviam encontrado a testemunha ocular.
− Não se preocupe senhora, sua identidade será mantida em sigilo. – O policial tranquiliza-a e continua: − O que a senhora viu e ouviu naquela noite?
− Eu fui buscar um bolo de aniversário para meu filho, estacionei tranquilamente sem perceber que há dois carros a frente acontecia um assalto, sequestro ou sei lá o que. – Ela mexia nervosamente as mãos. – Eu só percebi que havia algo errado quando escutei os gritos. Eles disseram: "Anda Camile, entra no carro!" Ela repetiu constantemente que não se chamava Camile, ele agitou a arma impaciente e ela disparou. O outro gritou: "Olha o que você fez!!!"
Eu não estava preparado para o que acabei de ouvir.
Notas da autora: *Homicídio com objetivo de roubo, ou roubo seguido de morte ou de graves lesões corporais da vítima.
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Se gostar do capítulo deixa sua estrelinha.
Abraços!!!
Até breve!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 18/05/2022
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