Lauren estava sentada na areia de uma praia olhando para o pôr do sol no mar. A leve brisa balançava o seu cabelo louro e em seus braços segurava o livro que havia surrupiado do bruxo há dois dias. Ela aguardava alguém naquele lugar. A maré estava calma, as ondas delicadamente cobriam as pequenas rochas e molhavam os pés da semideusa. Ao longe, ela via uma forma feminina emergir das águas. Samy.

A sereia se aproximava, deslocando-se pelas águas como se caminhasse em plena praia. À medida que ia saindo do mar, a sua pele, até então escamosa, ia se tornando alva como as nuvens. O seu cabelo negro caía como uma cascata em suas costas e terminava na altura dos tornozelos. Os olhos azuis eram marcantes e lembravam a cor das águas. Ela pisou na areia molhada e se direcionou até a semideusa.

Samy parou o seu corpo despido e pálido diante da menina loura, então Lauren se levantou e sorriu.

— Bom vê-la novamente, Samy! — Lauren falou, abraçando o livro contra o peito.

— Digo o mesmo, senhora! — a sereia sorriu de volta.

— Creio que esteja ciente da sua missão. — Ela deixou o seu semblante sério repentinamente.

— Sim, minha senhora. Mas isso é realmente necessário? — Samy parecia um tanto pensativa.

— Por que não? — Lauren franziu o cenho. — Eu sei que se importa, afinal, você e ele estão muito ligados.

— De forma alguma, minha senhora — Samy se opôs.

— Você não me engana! E isso é ridículo! Por que um ser místico se importaria tanto com alguém do plano físico?

Samy sabia que a pergunta era retórica, mas desejava saber aquela resposta, porque, afinal, Lauren estava certa.

— Você está perdendo o seu misticismo, Samy. — Lauren revelou. Samy não conseguia entender. O que aquilo queria dizer? — Eu quero dizer que está deixando o plano espiritual — a semideusa continuou, como se adivinhasse os pensamentos da sereia. — Logo irá se incorporar no plano físico e se tornar humana. Isso acontece com os anjos da minha mãe. Eles caem e perdem asas.

— Talvez seja engano, minha senhora. Eu não posso estar me tornando uma humana. — Samy tentava desviar o olhar, ainda incrédula com aquela informação.

— Quando percebi os seus sentimentos pelo feiticeiro, eu tive certeza. — Lauren sorriu de lado de uma forma que transmitia calma. — Seres místicos não se apaixonam, esteja ciente disso. Por isso que eu a escolhi. Vai vigiar o rubi que escondi em Karkariá. Preciso que o guarde para que nenhum humano ou seguidor de Karen o encontre. — Lauren suspirou. — Eu preciso que faça isso, não por mim, mas por Lú.

— Eu compreendo, minha senhora. — Samy assentiu, ainda desconfortável com a ideia de se tornar humana.

— Transportá-la a Karkariá vai consumir muito das minhas energias, por favor, Samy, tome cuidado para não ser vista como sereia. Com a mudança de plano você poderá ser vista mesmo em outras formas. — Lauren olhava para o grosso livro em suas mãos finas. — Eu preciso de tempo para estudar este livro. Não compreendo muito os poemas escritos aqui, mas sei que um deles poderá trazer Lú de volta.

Samy entrelaçou os dedos uns aos outros, enquanto olhava para o céu que ia se tornando escuro. Ela precisava fazer aquilo por Lú, por mais que não quisesse aceitar aqueles sentimentos, principalmente por ele possuir apenas treze anos. Ela respirou fundo, decidida.

— Certamente, minha senhora — ela falou. — Eu aceito a missão imposta e prometo cuidar daquele rubi com a minha vida.

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