XLI - A LIBERTAÇÃO
Samy colocou os pés descalços na areia após sair de um carro esportivo. Ela vislumbrava o horizonte azul e a paisagem intocada de Luanda após a maré tranquila cintilar com a luz do sol de meio-dia. Ela esticava os braços para o alto, espreguiçando-se depois de uma viagem árdua. Como era difícil uma viagem até Laucana! Navegar em alto-mar sempre a deixava com náuseas.
A ex-sereia usava um vestido azul de tecido leve e longo, de modo que a barra se arrastava no chão. No alto da sua cabeça estava um chapéu de palha adornado com uma fita azulada escura, abaixo dele ela exibia o seu novo corte de cabelo. Um chanel com pontas — a parte de trás ficava acima da nuca e à medida que se aproximava da face ia ficando mais comprido. Ela usava uma franja e estava com seus olhos azuis escondidos atrás dos óculos de sol.
Alex a abraçou por trás, envolvendo os braços na cintura dela e entrelaçando os seus dedos no abdômen. Ele pousou a face no ombro dela e juntos admiravam a paisagem. Aquele rapaz agora era um homem de vinte e oito anos e comandava a filial da empresa de Laucana a pedido de seu pai. Ele casou-se com Samy há alguns anos e a ex-sereia se adaptou facilmente a sua nova vida. O único problema daquela mulher era que nunca queria deixar o arquipélago e o empresário sabia o motivo. A sua missão. Porém em suas viagens de negócios não podia deixá-la sozinha em uma casa de praia isolada da cidade e era aí então que aconteciam os desentendimentos.
Samy sorria, estava feliz, e Alex beijava a sua face.
— Eu não quero mais sair daqui — ela disse, nostálgica. — Sabe que tenho que proteger o rubi.
Alex suspirou e a soltou brevemente, penteando com os dedos o seu curto cabelo louro, jogando-o para trás. Ele ficou frente a frente com ela, tocando-lhe a face.
— Meu amor, já faz dez anos e... nunca aconteceu nada. Esquece isso. Eu quero que você viva um pouco.
Samy o fulminou com os olhos azuis. Não queria discutir novamente sobre aquilo. O que havia acontecido? Ele tinha esquecido da verdadeira origem dela? O jovem homem estava começando a ficar como o pai e isso a irritava. Ela o ignorou e caminhou em direção ao cais de madeira, atirando o seu chapéu e óculos no chão. Assim que colocou os pés no piso de tábuas, ela desamarrou as alças do vestido em seu pescoço e sem seguida deixou-o cair levemente por seu corpo. Olhou maliciosa para Alex, exibindo o seu corpo despido, que apenas usava a roupa íntima. Ela sorriu e voltou a sua atenção para as águas calmas do mar e se atirou contra ela. Alex estava boquiaberto. Quando ela era sereia, ele não a desejava tanto como agora, era como se ao se tornar humana toda aquela pureza tivesse desaparecido.
A aparência física daquele homem não havia mudado tanto no decorrer do tempo, ainda possuía as expressões de um jovem de dezoito anos, embora seus olhos aparentassem mais cansaço por passar noites e noites acordado envolvido com o trabalho. Ele desabotoou a camisa e tirou os sapatos pretos com os próprios pés, ao terminar de se despir, correu em direção ao cais e se jogou em um profundo mergulho.
Há quanto tempo ele não fazia aquilo? Sentia-se adolescente novamente. Ele emergiu à superfície ao encontro da ex-sereia, e sem perder tempo ele a beijou. Samy colou o seu corpo ao dele, envolvendo seus braços no pescoço do jovem homem, e correspondeu ao seu beijo com um desejo faminto, mordiscando seus lábios. Alex sorriu, ainda com sua face colada à dela.
— Me desculpe — ele murmurou. — Eu me esqueci o quanto esse lugar é mágico.
Samy apenas sorriu e o abraçou. Ela se sentia péssima por isso, na verdade, estava feliz por estar perto de Lú, mesmo que ele fisicamente não existisse, mas, de qualquer forma, ele estava em algum lugar daquele oceano, enterrado nas ruínas de um navio velho e naufragado, porém vivo.
...
Samy se cobria com um cobertor grosso. A noite estava bastante fria e pelo vidro da imensa janela do seu quarto ela via uma tremenda ventania lá fora. Durante o dia, a vista para o mar era linda, mas a noite era um tanto sombria. Alex a abraçava por trás, ele estava um tanto carente e isso a incomodava naquele instante. As noites sempre a deixavam melancólica e pensativa, mesmo depois de ter passado tanto tempo, ainda era difícil esquecer quem ela havia sido. No fundo, ela era uma ninfa, um espírito místico que protegia as águas de Mengie, filha de Isth, a sua adorada deusa.
— Samy — Alex sussurrou em seu ouvido. — Eu acho que já está na hora de tentarmos novamente.
Samy franziu o cenho com seus olhos fixos na paisagem lá fora. O céu estava negro, era de se esperar do clima de Laucana. Mesmo em dias ensolarados, a noite sempre chovia. Alex deslizava a mão boba por sua cintura, desenhando o contorno das suas curvas.
— Não sei do que está falando — Samy disse, se fazendo de desentendida, mesmo compreendo o que ele queria dizer com aquilo.
Alex retirou a mão, pelo visto havia se chateado. Ele levantou um pouco a cabeça e tentou fitar a face dela.
— Eu quero um filho, Samy! Eu quero ser pai!
Samy suspirou e piscou seus olhos pausadamente. Novamente aquele assunto? Toda vez eles se desentendiam. Ela tentou se conter para não o magoar novamente.
— Alex, eu não quero passar por aquilo de novo — ela falou, tentando ser o mais delicada possível.
O homem sentou-se na cama e esfregou seus olhos.
— Já faz dois anos! — Ele deixou transparecer a sua irritação.
Há dois anos, Samy sofreu um aborto espontâneo. Ela não queria passar por aquilo novamente e muito menos desejava ser mãe. Já era duro aturar a sua crise existencial e gerar outra vida, então? Por que Alex não conseguia entender isso? Se queria tanto um filho, por que não adotar? Laucana era repleta de órfãos! Ela preferiu não responder, não queria chorar aquela noite, pelo menos naquela noite, porém, já era tarde.
Alex levantou-se de cara amarrada e saiu do quarto após escutar os gemidos do choro da sua esposa. Ele estava com o coração dolorido, nos últimos dez anos a desejou intensamente a ponto de ficar obcecado e agora estava ferindo os seus sentimentos. O seu pai lhe disse para sempre tratar bem uma mulher e ele estava certo, afinal, a sua mãe sempre foi muito feliz e mesmo nos piores momentos ela os reconfortava.
Às vezes, dormir era a melhor solução para aliviar aquela carga emocional, bons sonhos faziam o seu humor melhorar no dia seguinte. Samy esperava que Alex estivesse um pouquinho mais agradável e esquecesse de vez aqueles pensamentos atormentadores.
...
Samy via imagens com pouca nitidez. Ela não sabia dizer onde estava. O céu estava vermelho como sangue e, de algumas nuvens, raios iluminavam com assombrosos clarões perturbadores. O resto do ambiente estava cinza, desértico, era um campo que jorrava poeira pelo vento forte e não apresentava nenhum tipo de vegetação. A ex-sereia estava assustada, deu um passo com seus pés descalços no chão rachado e cambaleou. Era como se não tivesse forças para andar ou o chão estivesse balançando. Se aquilo fosse um sonho, ela desejava despertar logo. Era real demais e surreal ao mesmo tempo. Ela começou a sentir uma dor em seu abdômen, então repousou a mão no local, porém, sentiu uma certa umidade estranha. Ela abaixou a cabeça mecanicamente e se deparou com sangue.
Samy usava um vestido branco, totalmente manchado de sangue. Sentia a dor latejante em seu ventre e por suas pernas a seiva vital escorria, chegando até os seus pés, que se encontravam em uma poça vermelha. Samy não sabia se aquilo era um sonho ou uma alucinação, mas já bastava, queria sair daquilo o mais depressa possível. Aquele seu estado já estava deixando-a em desespero. Ela arriscou mais um passo, mas era como se a cada tentativa de movimento uma enxurrada de sangue encharcasse o terreno sob seus pés.
Samy caiu de joelhos e foi o mesmo que levar um tiro em seu ponto de dor. Sentiu um enjoo crescente e não resistiu à ânsia de vômito. Colocou tudo para fora, entretanto, mais uma vez ela se deparou com sangue. O mesmo líquido escorria dos seus lábios até o queixo, gotejando em suas mãos. O que estava acontecendo? Ela estava morrendo? Ela olhou para o céu em uma tentativa de clamar para a sua deusa, que, na verdade, nunca a ouviria.
Ela abriu os lábios, porém, a sua voz não saía. Tentou se pôr de pé, mas havia perdido as forças. A ventania prosseguia trazendo um eco que vinha de longe. Ela escutou alguém chamar seu nome.
"Samy". A voz era como um chiado agonizante, como se sentisse dor. O chamado persistia e se aproximava, tornando-se cada vez mais nítido. Um denso nevoeiro invadia o seu campo de visão, fazendo com que aquele deserto desaparecesse por completo. Um vulto se destacava em toda aquela névoa, o seu tronco estava curvado e as pernas bambas. A sua voz soou falha.
— Samy... Me ajude.
Samy estremeceu. Aquela voz era de Lú. Como seria possível? Ele se aproximava lentamente e aos poucos ia se revelando à medida que ficava mais distante da penumbra. Aquela imagem era muito forte para a jovem. O torso do garoto estava perfurado com punhais e espadas. As lâminas maiores tinham atravessado o seu corpo. Como ela, ele estava ensanguentado. Apenas um dos olhos estava aberto, o outro apresentava a sua órbita vazia e dilatada. Escoriações se espalhavam pelos seus membros e em algumas partes havia queimaduras que o deixara em carne viva!
— Sam... my — ele balbuciava o seu nome com tamanha dificuldade, mal conseguindo ficar de pé.
Samy não conseguia fazer nada, ela queria gritar o seu nome, correr para ajudá-lo e curar os seus ferimentos, mas estava impotente. Atrás do garoto, mais três sombras surgiam e foram tomando forma à medida que se aproximavam. As três figuras estavam vestidas com mantos brancos e escondiam suas faces com máscaras. Dois deles portavam espadas e o ser do meio estendia as duas mãos incendiadas por uma chama crepitante.
Samy engoliu em seco e abriu sua boca, gemendo, tentando forçar a sua voz a sair, mas ela estava muda, tudo que fazia era chiar um grito. Quanto mais esforço ela tentava fazer, mais dor sentia, porém, não se importava, então começou a rastejar em sua poça de sangue. Ela chorava e sentia mais ânsia de vômito. Não resistiu e vomitou mais uma vez e mais sangue escorria da sua boca e nariz. Aquilo já estava irreal demais!
A ex-sereia fitou o seu amado garoto à sua frente. Ele caiu de joelhos no chão e as duas figuras que portavam armas se aproximavam dele. Ergueram as espadas empunhadas e desceram as lâminas, decepando os dois braços do garoto.
Samy estava abismada. O seu corpo se enrijeceu e dessa vez ela conseguiu escutar a sua voz, que gritou o nome do garoto bem alto enquanto o assistia tombar no chão. O sujeito que portava chamas em suas mãos aproximava-se dela, deixando pegadas com fogo. A jovem não o temia, ela apenas gritava pelo nome de Lú com sua voz falha, o gosto de sangue na boca se perpetuava, e à medida que abria a boca, ela engasgava com o próprio fluido.
O sujeito abriu os braços como se desse as "boas-vindas" à jovem, porém, ao efetuar aquele gesto, chamas ardentes saltaram de suas mãos e rodearam o corpo de Samy em intensas labaredas. Ela estava impotente, não conseguia se mover. As chamas começavam a se estreitar ao seu redor, ela seria queimada viva! Através do fogo, ela via as três figuras assistindo ao espetáculo e as escutava gargalharem da forma mais sádica possível.
De repente, as labaredas se intensificaram, deixando tudo ainda mais vermelho e intenso. Samy gritava, agonizando, enquanto a sua pele incendiava, enchendo-se de bolhas, e as poças de sangue no chão ferviam. Um último grito seu ecoou e dessa vez a fez despertar.
Samy abriu os olhos, mas antes que pudesse recobrar a consciência, sentiu alguém a puxando pelo braço e a abraçando. Os dois saíram rolando pela cama até caírem no chão com ela por cima dele. Ela fitou a face de Alex, porém, ele a jogou no chão e deitou por cima dela. Antes que ela pudesse compreender o que estava acontecendo, escutou o vidro da janela trincar em uma explosão, fazendo os cacos voarem por todo o quarto e em seguida um barulho ensurdecedor emergiu, como se fosse um trovão. Samy tapou os ouvidos. Ainda estava atordoada com o sonho estranho e naquela situação achava que ainda nem havia acordado.
Os cacos de vidro se espalharam pelo chão e após o barulho estridente dissipar, Alex levantou-se um pouco, olhando assustado para a sua esposa.
— Alex — Samy disse, ainda sem conseguir entender o que estava acontecendo.
Alex não respondeu. Ele se pôs de pé e olhou para o que sobrou da janela, ficando boquiaberto com o que via. Ainda deitada no chão, Samy notara o reflexo de uma luz que vinha de fora, iluminando a pele do homem em vermelho. Vermelho como o céu em seu sonho. Ela ainda estava apavorada, temia que algo estranho estivesse acontecendo naquele instante. Mesmo tremendo, ela se arriscou a se levantar e deu de cara com o impossível.
Não tinha certeza do que aquilo significava. Ela via um feixe de luz vermelha emergir de dentro do mar entre Luanda e o cais da praia. A luz subia até o alto do céu e fazia uma curva, em direção a uma serra ao longe. O casal estava estupefato, nem se moviam diante daquilo.
— Não pode ser... — Samy murmurou, trêmula, enquanto a luz dissipava no ar.
Será que Lauren havia conseguido? Samy queria crer naquilo. Aquela luz só poderia significar a libertação de Lú. Por um momento, ela esqueceu daquele sonho alucinante e abriu um sorriso. Alex havia percebido a reação de sua esposa.
— Por que está sorrindo? Sabe explicar o que foi isso? — ele perguntou.
— Eu preciso ir até lá — Samy disse, decidida, indo em direção ao guarda-roupa do casal, pisando no chão com cuidado para não se cortar com os cacos de vidro.
— Como assim ir até lá? Está maluca? — ele retrucou, seguindo os passos dela.
Samy escolhia algumas mudas de roupa e nem se importava com os protestos de Alex.
— Você não vai a lugar algum!
— Você sabe da minha missão. — Ela o fitou com os olhos brilhantes. — O garoto foi libertado, preciso encontrá-lo. — Samy dobrava uma camiseta e guardava em uma mochila de couro.
— Como pode ter tanta certeza?
— Você não viu? — Ela apontou o dedo para a direção de onde vinha a luz. — Isso só pode significar que Lauren conseguiu. Eu preciso encontrá-lo, não posso deixá-lo sozinho. Eu sou a sua protetora.
Alex não conseguia ser compreensível, mesmo sabendo desde o início que ela protegia um tal rubi que possuía o corpo e a alma de um feiticeiro. Mas aquilo estaria mesmo acontecendo? Não podia deixá-la partir sem mais e nem menos para uma mata naquela hora da noite! Não queria imaginar aquilo.
— Ok! — ele disse após pensar, caminhando de um lado e de outro. — Irei contigo!
Samy fechou o zíper da sua mochila. Havia separado algumas mudas de roupas para si e algumas de Alex para caso de Lú precisar, agora só lhe restava passar na cozinha e acrescentar algum alimento. Ela também levava uma lanterna, analgésicos e um canivete. Ela retirou a camisola que usava e vestiu a roupa que deixara em cima da cama.
— Não é necessário, Alex — ela disse enquanto vestia uma blusa preta de alças.
— Como assim, não é necessário? Você acha que irei deixá-la sair sozinha?
Samy suspirou impaciente, revirando os olhos.
— Olha, eu só irei buscar um garoto. Ele é uma criança, ele me conhece. É bom evitar pessoas estranhas, ele pode se assustar.
Samy colocou uma jaqueta de couro por cima da blusa e sentou-se na cama para calçar as botas. Alex cruzava os braços, estava sendo difícil para ele admitir aquilo. Ela estava certa, mas o seu coração egoísta e protetor não queria lhe permitir isso.
A jovem, ao terminar, colocou a mochila nas costas e caminhou até a cozinha sem se importar com os receios de seu marido. Ele a seguiu, ainda tentando decidir se permitiria isso ou não.
— Eu irei com você e não se fala mais nisso! — ele disse, enquanto caminhavam pelo corredor.
Samy parou e virou-se para ele, então olhou em seus olhos.
— Alex, mesmo se me proibir sabe que irei, então não adianta me contrariar, certo? — ela disse e com isso girou nos calcanhares e continuou o seu caminho.
O homem suspirou. Não podia fazer nada, então só lhe restava uma coisa. Ele seguiu para outra ala da casa em busca de um certo objeto e também precisava se aprontar.
Samy, ao preparar o restante das coisas em sua mochila, se direcionava até a porta da sala, passando entre os sofás vermelhos e uma estante contendo pequenas esculturas de argila, e antes que a mão tocasse na maçaneta da porta, Alex surgiu da escuridão de um corredor. Ele estava bem vestido com uma calça jeans e uma camiseta branca, em suas mãos ele portava uma capa de chuva preta.
— Alex, por favor. Eu preciso que me compreenda! Preciso fazer isso sozinha! — ela reclamou.
— Tudo bem. — Ele sorriu. — Mas preciso levá-la até a metade do caminho. É muito distante. Pegue essa capa de chuva, o tempo está fechado e pode chover. — Ele entregou o material a ela e em seguida retirou um objeto do bolso. — Fique com isso, pode ser perigoso.
Em suas mãos, estava um pequeno revólver. Samy pegou a arma de fogo com receio.
— Você recebeu aulas de tiro, vai se sair bem, se precisar — ele continuou. — Está carregado, tome cuidado.
Samy estranhou o comportamento de Alex, mas estava feliz. Pelo menos agora ele a havia compreendido. Ela olhou para a porta, muito ansiosa para reencontrar o feiticeiro. A última vez que o viu, ela ainda era um ser místico e ele um garoto confuso e tristonho. Ela se lamentava.
Agora, sem a habilidade de traduzir as emoções, ela não passava de uma humana deplorável, não tinha como aconselhá-lo.
— Vamos! Irei levá-la — Alex disse, despertando-a de seus devaneios. — Mas lembre-se de me ligar, por favor. Não só quando tiver problemas, mas a todo instante. Irei ligar também, espero que esteja levando uma segunda bateria para o seu celular.
Samy assentiu, já havia planejado isso. Pelo o que conhecia de Alex, ele não daria sossego a ela enquanto não falasse que estivesse bem. Ela abriu a porta e os dois saíram.
Uma chuva fina caía, como previsto. Alex passou por uma estrada estreita e enlameada, com buracos e poças d'água que faziam Samy balançar de um lado para o outro no banco do passageiro do carro esportivo. Ela olhava pela janela e via o início da serra. Havia um capinzal, mas estava bastante escuro. Ela não tinha medo, porém, depois daquele sonho, temia que algo ruim acontecesse.
O carro parou na metade da estrada. Era o ponto final. Alex a fitou com ar de tristeza.
— Tem certeza que quer fazer isso? Não quer que eu vá contigo?
Samy segurava a mochila em seu colo e olhava para fora. Estava tudo sombrio e quieto, ela não estava com medo, mas, no seu sonho, aquelas criaturas eram as que lhe perturbavam. Ela suspirou. Esperava que tudo desse certo, precisava ser otimista.
— Vai ficar tudo bem, não se preocupe — ela falou, abrindo a porta do carro.
— Samy! Não se esqueça do que eu falei.
Ela assentiu. O homem aproximou o corpo para se despedir com um beijo. Ela correspondeu e colou os seus lábios aos dele, em seguida saiu do veículo e fechou a porta. Vestiu a capa de chuva e cobriu a cabeça com o capuz. Com a lanterna ligada, atravessou a estrada e caminhou até uma cerca de arame farpado. Olhou para trás, Alex ainda estava lá com o farol aceso do carro. Ele ficaria ali até estar seguro de que ela estaria bem. Até compreendia o lado dele, afinal. Estava preocupado.
Samy passou por debaixo do arame farpado com cuidado e fitou uma trilha coberta pelo capim molhado. Ela teria uma longa subida. Sabe-se lá onde Lú estaria. Ela só esperava que ele estivesse bem. Começando a sua caminhada, Samy sabia que só teria a sua resposta quando chegasse lá em cima.
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