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XL - A NOVA HUMANA


Lauren pisava seus pés descalços na areia molhada deixando pegadas profundas. Ela cruzou os braços, observando os dois corpos caídos diante dela. Ela balançava a cabeça com tremendo desgosto. A leve brisa fria açoitava o seu longo cabelo louro contra a face, ela não se importava com isso. Aquela praia era rodeada de árvores que davam início a uma colina. Estavam distantes o suficiente de Vânis e da dupla de atiradores.

A semideusa se agachou, observando o cabelo dourado de Alex entre seus dedos. O rapaz estava desmaiado ao lado de Samy, com seu corpo deitado de bruços contra o chão e a cabeça tombada para o lado. A garota loura sorriu.

— Você é muito corajoso — ela disse a ele, mesmo sabendo que ele não escutaria.

Lauren olhou para Samy ao lado e fechou a cara enquanto mordia um de seus dedos levemente.

— Samy... — ela disse, observando as pernas da sereia e sua pele um pouco mais dourada. — Você não me serve mais de nada. Foi como eu previ. — Ela suspirou, decepcionada.

Lauren paralisou subitamente, e com seus ouvidos aguçados ela escutou passos lentos. Não se moveu e mal respirou, mesmo sabendo que era invisível a olhos mortais, mas a presença que sentia não era de uma humana comum.

— Parada! — disse uma voz feminina que lhe apontava uma arma de fogo.

Lauren sorriu diabolicamente, levantando-se em seguida. Ela não se virou para a mulher armada, já sabia quem era. Vânis Salles.

— Essa não é a sua arma — Lauren disse, observando que a mulher portava uma pistola e não um punhal ou espada que era usado pelos seguidores de Karen.

— Cale a sua boca! — a mulher respondeu de forma áspera. — Você não é desse mundo, não é? Percebo que está no plano espiritual.

Lauren virou-se lentamente e viu que a mulher ainda apontava a arma para ela. Que inconveniente. Ela estava trêmula, pelo visto era novata e inexperiente.

— Percebo que não me conhece — Lauren afirmou. — Você deve servir há pouco tempo. Se eu fosse você, não mirava essa "arma" em mim.

— Me entregue a sereia! — Vânis gritou, não se importando com o que Lauren dizia. — Não pense que terei compaixão só por ser uma garotinha. E a propósito, minas balas atravessa o plano.

— Samy não é mais uma sereia, mas, se insiste, pode atirar em mim. — Lauren sorriu cinicamente ao revirar os olhos.

Vânis não se intimidou com aquele sorriso, pelo contrário, ela estava impaciente. Ela precisava entregar a sereia ao Salomon, sua vida estava por um fio. Inesperadamente, ela apertou o gatilho sem imaginar as consequências daquela ação. O tiro seguiu firme na direção da semideusa, porém, ela nem se moveu. Lauren continuou a sorrir, enquanto a bala mortal se aproximava do seu coração.

A garota loura estendeu um braço e abriu os dedos. A bala, que deveria atingi-la em cheio, parou no ar subitamente, a cerca de alguns centímetros da palma da sua mão. Vânis estremeceu e recuou um passo, estava abismada com aquela artimanha. Pelo visto, aquela garotinha não era somente uma criança, era bem mais que isso.

— Que péssima escolha de arma! — Lauren pegou a bala em suas mãos e segurou com a ponta dos seus dedos, sorrindo de maneira maliciosa.

Vânis abaixou o punho, imobilizada com o medo crescente.

— Q-Quem é v-você? — ela perguntou balbuciando.

— Me chame de Lauren, mas meu nome não é importante para você agora. — Ela caminhou na direção da guardiã.

Vânis ergueu o punho novamente e começou a atirar com sua pistola loucamente. As balas desviavam de Lauren como se ela usasse um escudo invisível, indo para a mata em ambos os lados. Percebendo então que era inútil atacar, a guardiã se arriscou a fugir, porém, os seus pés estavam colados na areia. Foi então que o desespero a dominou. O que estava acontecendo? Uma energia macabra tomou conta do ambiente, era como se estivesse diante de um tipo de demônio em forma de criança.

— Você não tem nada de interessante a me oferecer — Lauren disse, olhando Vânis da cabeça aos pés. — É só uma humana sem talento algum.

Vânis tentava levantar os pés que ainda estavam grudados no chão. Segurava uma das pernas e a puxava, porém, sem resultados. Lauren estava mais próxima e a cada passo dado o terror a consumia.

— Vá embora! — a bióloga gritou.

Lauren ria de uma forma demoníaca, perturbando ainda mais a mente da guardiã.

— Onde está todo aquele vigor de antes? Você é desprezível! — Lauren mudou o seu semblante subitamente, deixando-o sério. Ela parou diante da guardiã, que estava com suas pernas bambas com tanto terror. — Morra!

Antes que Lauren usasse a mão como se fosse uma espada, ela se conteve ao perceber mais uma presença se aproximando. Estreitando os olhos como se tentasse ver através do corpo da bióloga, ela abaixou o braço.

— Você não... — ela sussurrou a si mesma.

Vânis não sabia o que estava acontecendo, mas sentia-se um pouco mais aliviada, mesmo com a adrenalina percorrendo em suas veias.

— Alguém vai continuar o serviço — Lauren disse. — Eu prefiro não sujar as minhas mãos.

Ao terminar, a semideusa fez o seu corpo desaparecer como se o vento frio que soprava no momento o carregasse para além do mar. Vânis, após isso, pôde finalmente levantar seus pés, um por um. Ela arquejou e caiu de joelhos no chão. Enquanto se recuperava daquela pressão ameaçadora exercida pela semideusa, a bióloga fitava os dois jovens desmaiados a poucos metros à sua frente. Ela sorriu, vitoriosa. Havia conseguido. A sereia era sua!

Ela estava pronta para se levantar e se apossar do corpo despido que se encontrava no chão, porém, sentiu a ponta de um punhal em suas costas. Mais uma vez estava sob ameaça e pressentia de quem.

— Você falhou. — A voz de Salomon soou estridente.

— Não, senhor, ela está ali! — Vânis engoliu em seco.

O homem apertou a ponta da sua lâmina nas costas da bióloga, segurou em seu cabelo e o puxou violentamente contra o seu corpo, fazendo com que ela erguesse a cabeça contra a vontade.

— Eu vejo dois humanos — ele disse entredentes. — Lirah! Veja se eles estão vivos.

A maga infernal, que estava ao lado dele, caminhou à frente. O seu curto cabelo ruivo se agitava com o vento frio. A jovem levou os olhos vermelhos ao casal adormecido diante de seus pés. Eles estavam respirando, já era o bastante para confirmar a vida de ambos. Ela olhou para o seu mestre e acenou a cabeça positivamente.

— Eles estão bem, senhor — ela respondeu.

— Como eu deveria puni-la? — Salomon voltou os olhos para a Vânis, rangendo os dentes.

— Por favor... — Vânis clamava por sua vida, deixando lágrimas derramarem de seus olhos.

Salomon continuava a imobilizá-la, rangendo os dentes com tamanha raiva que sentia naquele momento pelo apelo dela. Aquele tipo de fraqueza era inadmissível, principalmente para um seguidor de Karen. A sua vontade era de exterminá-la ali mesmo, mas precisava conter o ódio. Algumas mechas do cabelo claro do ancião caíam sobre a face, a sua barba densa e escura, e as tatuagens em símbolos sidelênicos abaixo de seus olhos deixavam o seu semblante ainda mais obscuro.

— Piedade? — ele perguntou ironicamente. — Você tentou matar duas pessoas inocentes! Quer piedade? — A sua voz soou estridente no final.

Algumas gotas finas de chuva começaram a cair. Os pingos gelados atingiam os olhos vermelhos da maga infernal. Ela fitava o céu escuro, temendo por uma chuva mais forte, pois não poderia projetar suas chamas caso seu mestre lhe ordenasse. Ela olhou para o ancião na esperança que ele pudesse compreender o semblante preocupado que ela exibia.

Salomon sorriu, ainda atento a Vânis. Achava graça daquela situação.

— Eu devia matá-la aqui mesmo, mas, pensando bem, eu tive uma ideia bem melhor. Ainda preciso dos seus serviços como guardiã.

O homem a soltou, empurrando-a contra o chão úmido. Vânis caiu de cara na areia, fraturando o nariz. Ela ergueu a face com os lábios ensanguentados pela lesão e se segurando para não demonstrar a dor que sentia, temendo enraivecer ainda mais Salomon e com isso ele mudar de ideia. A maga infernal apenas a olhava, como se sentisse pena dela, mas, no fundo, ela sentia mesmo. Ela odiava como anciões e o ancião mestre tratavam os caçadores e subalternos. Eram como lixos. Uma vez servindo a Karen não poderiam voltar atrás, a pena por traição era a própria morte.

— Irei acionar a polícia — Salomon falou. — Lirah, cuide para que ela não fuja.

Lirah assentiu e ergueu um braço mirando a palma da sua mão para a bióloga que ainda se encontrava no chão. O ancião segurou na pedra que levava no pescoço e subitamente uma luz branca emergiu, fazendo com que engolisse todo o seu corpo, ofuscando a visão da maga infernal. Aquela luz foi tão intensa que foi vista por quilômetros, inclusive na casa de praia de John Cárvios, chamando a atenção de algumas autoridades no local, que se espalhavam à procura do paradeiro de Alex.

...

Alex abriu os olhos e não reconheceu o lugar onde estava. Era um quarto branco não muito claro, havia cortinas azuis, supostamente tinha uma janela por trás. Uma televisão grande estava presa na parede à sua frente. Ele estava deitado em uma cama com lençóis brancos, à sua direita havia uma mesinha, que lembrava um criado-mudo, porém, um pouco maior, à esquerda tinha uma poltrona de rodinhas que parecia muito confortável. Ele olhou para o braço e viu uma agulha enfiada em sua pele com uma mangueirinha que levava até uma bolsa de soro pendurada em um suporte. Estava em um hospital.

Tentou relaxar um pouco a cabeça naquele travesseiro de penas para se lembrar de como havia parado ali. Ele fechou os olhos com força. A sua memória falhava e a única coisa que passava por sua cabeça era a vaga lembrança de estar salvando Samy de um afogamento — por mais incrível que pudesse parecer. Foi então que ele começou a se afligir. Ele havia conseguido retirá-la da água? Se sim, onde ela estaria? Se não, ela havia sobrevivido?

Ele estava enlouquecendo com aquelas perguntas. Já estava à beira de levantar-se da cama, arrancar aquela agulha da sua veia e sair procurando a sereia em todas as alas daquele hospital, quando a porta do seu quarto se abriu. Ele imobilizou-se quando uma mulher trajada com um jaleco adentrou no quarto. Era uma enfermeira. Ela o fitou, sorridente, enquanto segurava a maçaneta da porta.

— Vejo que acordou — ela disse, animada. — Já era hora! Vou avisar a sua família.

— Não, espere! — Alex a interceptou de imediato. — Eu preciso de uma informação.

A mulher olhou para ele com seriedade, mas sorriu por final, como se tivesse interpretado a feição apreensiva dele.

— É sobre a moça que veio junto com você?

Alex se animou, só podia ser Samy.

— Sim! Só pode ser ela.

— Ela está bem, mas... foi necessário sedá-la. Ela estava muito alterada e se recusava a permanecer deitada.

Alex assentiu, mas a enfermeira logo notou as feições tristes do rapaz, então tentou reconfortá-lo.

— Quando ela acordar você poderá ir vê-la — ela disse, expressando o mesmo sorriso caloroso de sempre.

— Obrigado! — Alex sorriu de volta.

A enfermeira girou a maçaneta redonda da porta branca, pronta para sair, mas logo se interrompeu e olhou novamente para o rapaz deitado na cama.

— Vou avisar a sua família que já despertou. Eles ficaram muito preocupados.

Com isso, ela saiu do quarto, deixando o rapaz mais uma vez sozinho. Alex afundou a cabeça no travesseiro, pensativo e preocupado. Samy era uma sereia, ela precisava voltar para a água, para o mar que ela cismava em nunca abandonar. E se os médicos desconfiassem da sua verdadeira natureza? Não só Laucana, mas todo o mundo a caçaria como se ela fosse um objeto precioso, apesar que ela era realmente muito preciosa para ele.

...

Alex fitava o semblante vazio de seu pai. O homem bem arrumado expressava o feitio preocupado de pai. Apesar de ser bastante ocupado, John Cárvios fazia tudo pelos filhos, às vezes até se arrependia de não dar a atenção necessária. Naquele momento ele se sentia culpado pelo suposto acidente de Alex.

— Eu gostaria de saber o que aconteceu ontem à noite — John falou, demonstrando preocupação. — Você sempre foi um ótimo nadador. O que o levou a se afogar?

— E nadar à meia-noite? Na chuva! — Rachel perguntou, completando o questionamento.

Alex não sabia como responder. Olhava para aqueles dois que aguardavam sua resposta de braços cruzados.

— Bem... — ele se arriscou, sem saber as palavras certas. — eu...

— Quem era aquela mulher? — Rachel antecipou outra pergunta e foi aí que Alex teve uma ideia.

— Aquela mulher? Ela estava... se afogando — ele mentiu, mesmo que essa história tivesse um fundo de verdade. — Eu pulei no mar para salvá-la. Ela estava se debatendo muito e...

— Já imagino o resto da história — John continuou. — Do jeito que aquela jovem é arisca, acabou afogando-o também.

— Isso! — Alex concordou.

Rachel estreitou os olhos, fulminando o irmão com um olhar duvidoso.

— E por que ela estava nua?

Alex trincou os dentes, mas logo a sua resposta estava óbvia. Ele arqueou as sobrancelhas e falou entredentes.

— Talvez, porque ela estivesse tomando banho — ele respondeu, quase ditando as palavras.

— Tudo bem! — John encerrou o assunto, mesmo ainda achando aquela história bastante estranha. Ele sentou-se na poltrona ao lado da cama do rapaz e o fitou tristemente. — Meu filho... me perdoe por não estar presente. Por favor, não faça besteiras. Já perdi a sua mãe e não suportaria perdê-lo também.

Alex assentiu e abaixou a cabeça, fitando as suas pernas cobertas pelo lençol. Se lembrar da sua mãe trazia muita dor. Ele sentiu a sua perda mais que ninguém, até mesmo mais que o seu pai. Ela era uma jovem mulher repleta de vida e alegria, nunca ficava triste, nem mesmo quando a chuva atrapalhava os passeios na praia, sempre buscava um jeito de se divertir dentro de casa. Ele suspirou. A sua mãe tinha um longo cabelo negro e incríveis olhos azuis. Samy e ela eram tão parecidas. Ele corou, se lembrando que havia tentado beijar a sereia.

Alguém abriu a porta, despertando o rapaz de seu devaneio. Era a mesma enfermeira sorridente de sempre, todos a encararam esperando o que ela tinha a dizer.

— Desculpe-me interrompê-los — ela falou. — Aquela moça despertou e...

— Posso ir falar com ela? — Alex a interrompeu.

— Claro. — A enfermeira assentiu e direcionou-se até o suporte que segurava a bolsa de soro do rapaz.

— Você já conhecia aquela moça? — o seu pai perguntou, achando estranho o entusiasmo do rapaz ao se levantar e encarar o filho com o cenho franzido.

Rachel o fitou, também desconfiada, mas ela tinha algo em mente, algo que ela sabia, mas não queria acreditar. Seria aquela mulher a mesma que deixou seu irmão totalmente obcecado a ponto de passar vários minutos embaixo d'água? Ela mordeu o lábio.

— Ela costumava ir à nossa praia — Rachel disse, mentindo. Todos olharam para ela. — Alex e ela, eu acho que... namoram.

Alex enrubesceu. Ele estava tanto incrédulo por sua irmã estar mentindo por sua causa, quanto pela criatividade dela. O seu pai agora parecia realmente convencido e sorriu. A enfermeira retirou a agulha que estava presa ao braço do rapaz. Ele agora se sentia livre daquela "amarra" que formigava a sua pele.

...

A enfermeira abriu a porta do quarto de Samy e Alex adentrou, animado por estar vestindo as próprias roupas que a sua irmã trouxe para ele. A sereia estava deitada com a cabeça apoiada em um travesseiro alto, de modo que ela parecia estar quase sentada. Tinham cortado o seu cabelo, agora estava na altura no ombro e bem penteado. As madeixas lisas e negras não apresentavam nenhum fio fora do lugar. A sua pele estava mais serena, embora a face apresentasse um pouco mais de cansaço e seus olhos... nunca estiveram mais azuis. Ela estava linda, um tanto humana, mas bela.

A enfermeira os deixou a sós e saiu fechando a porta. O rapaz se aproximou da cama e sentou-se na poltrona ao lado. Ele a fitava com um sorriso no rosto e a jovem não demonstrava emoção alguma, apenas o encarava profundamente.

— Olá! — Alex saudou, ainda meio que sem jeito.

Samy nada respondera, continuava a estudá-lo como se não o reconhecesse.

— Eles acham que você perdeu a memória — Alex disse após um certo silêncio, relembrando o que a enfermeira havia dito antes de entrar naquele quarto. — Eles perguntaram sobre a sua família e você disse que é filha de Isth e veio do planeta Mangi ...

— Mengie — ela corrigiu.

— Pois bem. Eles acham que você é literalmente maluca. — O rapaz demonstrava certa inquietude.

— Me desculpe — Samy disse, desviando o olhar. — Eu preciso aprender a me encaixar no seu mundo.

— Não. Eu sei que precisa voltar ao mar para proteger... eu não sei bem o quê.

— O rubi — Samy disse. — O corpo e a alma do feiticeiro.

Alex franziu o cenho, não fazia ideia do que Samy estava falando. "Feiticeiro"? "Rubi"? Se ela não fosse uma sereia, realmente diria que estava maluca.

— Alex. — Ela fitou profundamente os seus olhos. — Preciso da sua ajuda!

Ela parecia um tanto apreensiva e o rapaz não conseguia decifrar aquele mistério por trás da face extasiada. A moça buscou segurar uma das mãos de Alex sobre a cama e a apertou forte, como se para impedi-lo de ir embora, mesmo sabendo que ele não a deixaria ali.

— Me ensina a viver no seu mundo? — ela perguntou, enquanto envolvia os dedos entre os dele.

— Eu faço tudo por você — ele afirmou, quase em um sussurro. — Mas... o seu lugar é no mar.

O rapaz não conseguia entender, apenas correspondeu ao gesto da sereia e segurou forte a sua delicada mão.

— Não mais — ela retrucou, desviando o olhar novamente como se estivesse envergonhada do destino. — Sou humana agora.

Uma lágrima correu por sua face. Foi como Lauren havia dito, ela se tornou humana por culpa daquele sentimento horrível chamado "amor". Como ela pôde gostar de um mortal, e justamente o feiticeiro, que era apenas uma criança? Agora, como humana, ela sentia-se envergonhada.

Alex não conseguia compreender, mas procurou não questioná-la, eles iam dispor de bastante tempo para conversar sobre isso. Apesar de toda aquela melancolia, no fundo, ele estava feliz. Até sorriu enquanto Samy ficava com o olhar perdido.

— Irei conversar com o meu pai — Alex disse, animado. — Irei providenciar algumas roupas, um quarto na minha casa na praia e... tudo o que você precisar. Irei te ensinar sobre tudo.

Samy sorriu e fitou a face alegre do rapaz. Alex era um poço de gentileza e isso a fazia lembrar de Lú. Embora aquele rapaz rico possuísse tudo o que qualquer karkariano queria, ele era simples e humilde. Possuía certos valores que foram herdados da sua mãe e que era algo que nem as pessoas mais poderosas dos três mundos possuíam. Amor, compaixão e generosidade. A sereia, ou melhor, ex-sereia perdeu a capacidade de ler sensações e sentimentos, mas ainda podia observar gestos e traduzir sorrisos e emoções. Talvez ser uma humana, uma mera mortal, não fosse tão ruim assim.

— Preciso sair e providenciar logo tudo. Você vai receber alta daqui a pouco e quero que esteja tudo preparado. — Alex se levantou, mas não soltou a mão daquela jovem pálida.

— Obrigada, Alex — ela agradeceu, dando o mais sincero sorriso.

O rapaz não conseguia soltar aquela mão e nem conter a felicidade. Ele ousou aproximar a sua face da ex-sereia, apoiando a outra mão na cama e dessa vez deixou os seus lábios tocarem os dela no mais doce e suave beijo. Samy não tentou resistir, permitiu que Alex guiasse o seu novo destino, mesmo sabendo que não podia perder o foco de sua missão principal.

Alex movia lentamente a sua boca na dela, mesmo ela não sabendo acompanhar o seu ritmo. As suas mãos, até então entrelaçadas, se soltaram e a ex-sereia as repousou timidamente em volta do pescoço dele. Já ele a tocava na nuca, fazendo carinho com os dedos entre seus fios de cabelo. Samy sabia que aquele tipo de gesto — o beijo — era uma demonstração de amor. Alex a amava, mas ela ainda não havia desenvolvido nenhum tipo de sentimento por ele a não ser a amizade, pois Lú não saía de sua cabeça.

...

Samy ainda repousava naquela cama de hospital. Mantinha-se tranquila, mesmo depois de uma enfermeira insistir que ela comesse uma espécie de sopa de legumes. Ela nunca havia comido nada em sua vida. Nunca mastigou ou sentiu o gosto dos alimentos. Tudo era muito novo para ela, até coisas tão simples. Alex havia saído a cerca de meia hora. Ainda que a cada instante entrasse uma enfermeira e perguntasse como ela estava, Samy se sentia solitária. A televisão presa à parede estava ligada e ela não conseguia entender as imagens de pessoas presas naquela caixa, quis até questionar com uma jovem que aferia a sua pressão, mas preferiu manter o silêncio. Queria evitar qualquer tipo de constrangimento ou problemas que afetasse a sua nova vida.

Ela tentou relaxar um pouco, ainda que aquela angústia dominasse o peito. Ela suspirou e fechou os olhos. Talvez dormir, coisa que era nova para ela também, a fizesse desfadigar um pouco.

— Você é bem mais esperta do que pensei, Samy.

Aquela voz pegou Samy de sobressalto. Ela abriu os olhos de vez e mirou na direção correspondente.

— Lauren? — ela perguntou, incrédula.

Lauren estava sentada na poltrona ao seu lado com o semblante de garotinha inocente de sempre. A túnica esverdeada cobria o seu corpo, a coroa de flores brancas estava no alto da sua cabeça e seu longo cabelo louro despencava sobre os seus ombros.

— Surpresa em me ver? — ela perguntou com cinismo.

— Bem... eu...

— Tudo bem! — Lauren a interrompeu. — Vamos direto ao assunto. Ainda não consegui desvendar aquele livro. Irei precisar de mais tempo. Eu pensei que ao se tornar humana, você não iria ser mais útil para mim, porém, me provou o contrário. Não é tão ingênua.

— É... obrigada — ela agradeceu sem saber se aquilo foi bem um elogio.

— Faça o que está fazendo, mas não se afaste daquela praia. Ainda preciso que vigie o rubi que escondi nos restos do navio antigo que jaz naquelas águas.

Samy assentiu, já ciente de que realmente ia fazer isso, com a semideusa insistindo ou não. Lauren levantou-se e com um dos dedos enrolou uma mecha do próprio cabelo.

— Você ficou mais bonita como humana — ela sorriu. — Bem, preciso ir.

— Senhora! — Samy a chamou, ainda se sentia insegura com aquela missão imposta a ela. — Quando irá voltar?

Lauren pareceu um pouco pensativa. Ela cruzou os braços e pousou um dedo no queixo.

— Como eu disse. Vou precisar de mais tempo. Irei voltar assim que conseguir um jeito de libertar o Lú. Peço paciência.

Samy assentiu. Ela estava certa, afinal. Iria precisar de paciência e dedicar todo esse tempo em aprender os costumes daquele mundo moderno. Só não podia perder a esperança de que um dia Lú seria liberto, mesmo sabendo que a possibilidade de eles ficarem juntos seria nula, mas tudo o que importava era que ele ficasse bem e fosse feliz.

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