Capítulo 9
"Continue aguentando firme
Porque você sabe que conseguiremos
Apenas seja forte
Porque você sabe que estou aqui por você
Não há nada que você possa dizer
Não há nada que você possa fazer
Não há outro jeito quando se trata da verdade...".
Keep Holding On - Avril Lavigne.
Terminamos de comer e logo em seguida guardamos os restos dentro da cesta, o tempo estava se fechando rapidamente e eu não estava a fim de tomar chuva.
-É melhor irmos ou Samira pode acabar arrancando os cabelos. - falou Carter.
Não discordei, Samira devia estar fazendo um buraco no chão da sala num momento desses. Dobrei a toalha e a guardei também já fechando a tampa da cesta.
-Ela ama eles demais para fazer isso. - falei. - Mas pode surgir umas rugas.
Carter riu e quando começamos a andar minha previsão se realizou, começou a chover. Ele soltou um palavrão quando as primeiras gotas da chuva gelada começaram a cair, agarrei bem a cesta e comecei a correr com Carter no meu encalço, por conhecer bem o caminho não tive dificuldade nenhuma em seguir no escuro, ele por outro lado soltava um palavrão cada vez que tropeçava em alguma coisa. Quando chegamos a varanda dos fundos já estávamos completamente encharcados, meus cabelos estavam escorridos e os de Carter grudados em sua testa.
-O tempo não podia esperar só a gente chegar até aqui antes de desabar?
-O clima é imprevisível e não espera ninguém. - falei enquanto abria a porta.
Foi bom sentir o calor da casa de novo, eu já estava começando a congelar com aquelas roupas ensopadas. Coloquei a cesta encima da mesa, ela estava toda molhada e tenho certeza que estava com uns bons litros de água dentro dela.
-Ainda bem que peguei a cesta antiga ou Viviana ia me matar. - falei.
-Kyle Emanuela Moore! - gritou uma voz brava vinda da sala.
-Emanuela? - perguntou Carter arqueando a sobrancelha.
-Era o nome da minha avó, ela morreu antes que eu a conhecesse e meu pai me deu o nome dela em homenagem.
Uma loira possessa entrou na cozinha acompanhada de Viviana.
-Você esta querendo me deixar de cabelos brancos antes do tempo? - perguntou colocando as mãos na cintura.
-Ah... Não, adoro seu cabelo do jeito que é.
-Sabe o quanto fiquei preocupada com você? Por onde diabos você andou e... - ela parou e estreitou os olhos examinando meu rosto. - Que raios de machucados são esses?
Ergui as mãos em rendição e para fazer com que parasse com o questionário.
-Eu precisava sair e respirar um pouco, queria ficar um tempo sozinha.
-E não podia levar o celular junto?
-Eu não queria falar com ninguém, só queria ficar sozinha por algumas horas então dei umas voltas, ai logo pela manhã eu vim para cá.
-E esses machucados no seu rosto?
-Uma briga inconveniente em algum beco por ai, nada demais.
Ela respirou fundo tentando se controlar, quando saia do sério era difícil voltar ao normal novamente.
-Eu sei que você precisa de espaço assim como entendo porque se isola nesse dia, mas não pode sair sem avisar ninguém para onde vai. - falou com mais calma. - Jason surtou quando encontrou Carter vestido com um pijama dele na sala e quase pariu um filho quando soube o que aconteceu, acho que deixou umas cinquenta mensagens no seu celular antes de encontrar ele no seu quarto. - ela suspirou. - Ele quis bater no Carter, sabe como foi difícil segurar aquele homem? Ele tem uma força que não é desse mundo. - segurei o riso e vi que os outros faziam o mesmo. - Ele ligou para Deus e o mundo, até para Hazel, aquela mulher vai te xingar até não querer mais.
Fiz uma careta, eu com certeza iria ouvir poucas e boas mais tarde.
-Pelo visto vou estar bem encrencada quando chegar em casa.
-Pode ter certeza que vai. - falou e suavizou a expressão enquanto se aproximava de mim com os braços abertos. - Feliz aniversário!
Fazendo uma careta pela felicitação eu fui para abraça-la, mas antes que tocasse em mim Samira se afastou olhando para minhas roupas.
-Porque parecem dois pintinhos molhados? - perguntou.
Olhei para mim mesma e minhas roupas ensopadas.
-Começou a chover quando estávamos voltando. - respondeu Carter.
-Então vai se trocar antes que se resfrie. - falou Viviana em uma voz de mãe autoritária. - Posso ver se acho algumas roupas que sirvam para o rapaz.
Tirei meu cabelo do rosto novamente sentindo as roupas pesando em meu corpo e o frio começando a tomar conta.
-Vá até o quarto de Gabriel e pegue algumas roupas, acho que são do tamanho de Carter. - falei.
Viviana me avaliou por um instante e assentindo começou a se encaminhar para levar ele até lá, mas foi parada por Samira.
-Eu vou com eles Vivi, porque não prepara aquele chocolatinho quente para nós enquanto eles se trocam?
Viviana revirou os olhos sorrindo, ela adorava Samira, paparicava ela tanto quanto a mim, toda vez que vinhamos aqui ela tratava de fazer nossas comidas favoritas.
-Okay, vão logo antes que seus corpos esfriem.
Subimos as escadas e não demorou para que chegássemos ao corredor dos quartos.
-Você pode entrar na terceira porta a direita, é um quarto de hospedes. - falei.
Assim que ele assentiu entrei no meu quarto fechando a porta e fui direito para o banheiro, precisava de um banho quente porque já estava começando a tremer de frio. Tirei minhas roupas ensopadas e as estendi no braço da banheira, uma das coisas que eu mais amava naquele quarto. Meu banheiro era todo em azulejo azul e branco, a pia era de mármore negro com um grande espelho em cima, a bancada onde costumava ficar meus produtos de beleza era bem espaçosa, mais para frente tinha a grande banheira branca e um pouco mais próximo o Box com o chuveiro, do lado oposto do banheiro ficava o vaso e o armário de toalhas, nunca tinha reparado o quanto aqui era grande.
Liguei o chuveiro e entrei debaixo da água que já soltava fumaça de tão quente, dessa vez fiz uma careta quando ela atingiu os pontos sensíveis dos meus machucados, mais mesmo assim continuei ali embaixo aproveitando enquanto meu corpo esquentava. Fiquei por um tempo ali sentindo o vapor me envolver, depois que sai me sequei e peguei o roupão branco que tinha deixado ali mais cedo, abri a gaveta encontrando um secador e agradeci aos céus por ter deixado ele ali, odiava sair de cabelo molhado. Depois de deixar meu cabelo apresentável e passar um pouco de creme em meu corpo fui para o quarto, as roupas com as quais cheguei estavam encima da cama, me vesti rapidamente, peguei minhas coisas e com uma rápida conferida em tudo sai do quarto.
Não vi sinal de Samira ou de Carter, mas também não esperei por eles, seguindo pelo corredor desci as escadas rumo a sala. Quando cheguei lá Samira já estava sentada conversando com Viviana e Cristiana com uma grande e deliciosa caneca de chocolate quente nas mãos.
-Custava esperar um pouco? - perguntei.
Samira olhou para mim e deu um sorrisinho.
-Custava já que estou na minha segunda caneca.
Fingi um olhar indignado enquanto me jogava no sofá ao lado de Cristina e pegava uma das canecas decoradas na bandeja encima da mesa. Só depois de um tempo notei que tinha três pares de olhos voltados para mim, levantei meu olhar para elas e franzi a testa.
-O que foi? - perguntei.
-Como você esta? - perguntou Samira.
Olhei em seus olhos e pude ver que a pergunta significava mais do que as outras pessoas podiam entender, beberiquei um pouco do meu chocolate e olhei a chuva pela janela.
-Viva, bem no limite do possível assim como sempre estive. - respondi.
Samira estreitou os olhos para mim não acreditando muito, soltei um suspiro cansado.
-Estou melhor, okay? É só o meu momento de nostalgia como sempre, não precisa arrancar essas lindas madeixas por isso.
Viviana e Cristiana sorriram, Sam ficou com um pequeno sorrisinho no rosto e ainda encarando meus olhos apenas assentiu, ela era uma das únicas pessoas realmente capazes de me ler sem esforço, então acho que entendeu o que meus olhos tentavam dizer sem palavras.
-E quem é aquele rapaz bonito que foi atrás de você? - perguntou Viviana com um sorriso cheio de segundas intenções que sempre me irritava. - É ele que fez com que se sentisse melhor? Porque voltou com um carinha melhor do que quando saiu.
-Ele... - começou Samira, mas parou assim que notou meu olhar zangado.
-O nome dele é Carter e é apenas um amigo nosso.
Até mesmo Cristina me lançou um olhar desconfiado, vi que ela ia falar alguma coisa, mas parou assim que olhou para a escada, olhei para as outras e vi que elas também olhavam para lá, o que só podia significar que o assunto da conversa já tinha terminado de se trocar. Virei no sofá e encontrei os olhos de Carter enquanto ele descia as escadas, estava vestido com jeans escuro e uma camiseta branca que lhe caiu perfeitamente, algumas linhas pretas de sua tatuagem se destacavam por baixo, estava com uma jaqueta de couro na mão e os cabelos úmidos do banho recente.
-Uau. - escutei Cristina comentar do meu lado.
-Parece que as roupas ficaram boas em você. - falou Viviana.
Sua voz foi o suficiente para que eu desviasse os olhos e voltasse para o meu chocolate.
-Ficaram. - falou Carter se aproximando. - Samira tem um bom olho para escolher roupas.
Sam abriu um pequeno sorriso.
-Tenho dois homens importantes na minha vida e gosto de fazer compras, já fiquei perita em escolher roupas apenas com uma rápida olhada.
-Venha querido, - falou Viviana. - tome um pouco de chocolate quente.
Pelo sorriso em seu rosto sabia que mais do que estar adorando receber visitas, Viviana esta feliz em tirar sarro da minha cara.
-Melhor beber mesmo, do jeito que Sam adora chocolate é capaz de roubar a caneca de você antes que pisque. - falei.
Samira me lançou um falso olhar de quem estava ultrajada e eu apenas sorri enquanto todos entravam em uma conversa agradável, dez minutos depois Rick e Bernardo se juntaram a nós. Carter fez uma careta quando Rick se sentou ao meu lado e vi Cristiana soltar uma risadinha, coisa que ela rapidamente disfarçou com uma tosse, eles não valiam nada. Bernardo como sempre não deixava suas formalidades por mais que eu pedisse, mesmo me tratando com todo carinho jamais me chamava pelo nome sem ter o bendito do senhorita na frente. Assim que chegou me deu um beijo carinhoso na testa.
-Feliz aniversário, Srta. Kyle. - falou. - Fico feliz que tenha vindo nos visitar.
-Quantas vezes vou precisar repetir, Bernardo? - falei. - Me chame apenas de Kyle.
Ele sorriu para mim, Bernardo era um homem alto e magro, os músculos eram bem distribuídos e ele se movia com a graça e destreza de um felino, seu treinador pessoal foi meu pai e sei muito bem do que é capaz. Seus cabelos castanhos sempre em um corte militar e mesmo que sua expressão seja dura dava para notar o quanto era bonito, seus olhos castanhos eram um misto de frieza calculista e doçura. Os filhos se pareciam muito com ele, não só na aparência como também na personalidade forte.
-Desculpa, mas é força do habito.
Revirei os olhos enquanto ele tirava uma caixinha do bolso e me estendia.
-Eu já estava suspeitando que vinha hoje como todos os anos e estava passando na frente de uma joalheria quando Ricardo falou que estava em casa.
Peguei a caixinha de veludo preto com delicadeza, o desenho prateado de um lírio e o nome Foster embaixo indicava a loja onde comprou, a joalheria da família de Caroline. A abri com cuidado para encontrar uma linda e fina pulseira de prata com uma reluzente pedra azul como pingente, era simplesmente perfeito.
-Aceite como um presente de toda a família.
Eu levantei a cabeça para olhar para ele e abri um sorriso realmente sincero.
-Ela é perfeita, muito obrigado mesmo. - peguei a pulseira nas mãos. - Coloca para mim?
Com cuidado e precisão Bernardo passou a corrente envolta do meu pulso e travou o fecho, ergui meu braço avaliando como a pulseira ficava em meio ás outras, ela ia combinar com vários dos relógios que eu tinha.
-Ficou linda. - falei.
-Porque eles podem te dar presente e eu não? - perguntou Sam cruzando os braços.
Olhei sorrindo para ela.
-E quem disse que o meu não te impede de alguma coisa? - perguntei. - Da última vez você e Jason me dera isso de presente.
Ergui meu braço mostrando a lateral onde tinha a tatuagem de três glifos, o primeiro era uma estrela, algo como um asterisco que significava "melhor", a seguinte era como um três em algarismos romanos, com direito a um risco encima e outro em baixo para fechar, que significava "equipe", a terceira era de três risquinhos com um outro os cortando ao meio que significava "amigos". Quis que elas fossem pequenas, algo simbólico, mas que não chamasse tanta atenção. Samira abriu um pequeno sorriso e ajeitou o braço de maneira que desse para ver as mesmas tatuagens que tinha no meu.
-Não sabia que tinha outra tatuagem além da fênix. - falou Carter.
Virei meu pulso esquerdo para cima mostrando a metade do símbolo do Yin Yang, o meu sendo o lado escuro era o Yin.
-Fiz quando tinha catorze anos, eu tenho o Yin e meu irmão tinha o Yang, assim como esse símbolo nós erámos um bom equilíbrio. Ele o calmo e eu a estressada, o dócil e a selvagem.
Todos sorriram parecendo lembrar de algo e ficamos conversando por um tempo até que Samira declarou que já era hora de ir embora, não era a única mandona e autoritária por aqui, eu nem tive o direito de discutir.
-Os rapazes guardaram sua moto na garagem, amanhã logo cedo um deles vai levar ela para seu apartamento. - falou Bernardo.
Sorri dando um abraço nele, Bernardo era uma das pessoas que trabalhavam para minha família a quem eu mais tinha apego, ele era meu segurança pessoal quando era criança e sempre levava meu irmão e eu para tomarmos sorvete quando nos buscava na escola.
-D esta arrancando os cabelos por você ter sumido, acho melhor ligar para ele depois. - falou em meu ouvido.
-Aquele filho da mãe não tem mais nada para fazer não? Esqueceu que tem vida?
Bernardo sorriu enquanto beijava a minha testa.
-Ele faz o trabalho dele querida, e muito bem feito por sinal.
-Sei disso, mas odeio que ele fique no meu pé como se eu fosse uma criança. Sei me cuidar muito bem.
-Nós sabemos que sim. - falou se afastando. - Venha nos visitar mais vezes.
-Pode deixar.
Depois que a chuva deu uma trégua e as despedidas acabaram, entramos no carro de Samira e em poucos minutos já estávamos saindo pelos portões, mais uma vez deixando minha casa para trás. Fiquei olhando para minha pulseira enquanto o carro seguia pelas ruas rumo a nosso apartamento.
-Pelo menos você saiu com alguma arma? - perguntou Sam quando pegamos a avenida.
Puxei a jaqueta de lado mostrando as duas pistolas colocadas em seus coldres.
-Eu não sou criança, Samira, sei muito bem me cuidar e o que fazer. Já falei que só precisava de um tempo sozinha, não sou boba de sair por ai desprotegida.
Ela respirou fundo.
-Sei que não. Eu só estava preocupada com você.
-Da próxima vez deixo um bilhete, mas não prometo colocar o endereço.
-Olha só quem parece ter achado o senso de humor.
Carter não dizia nada, na verdade ele estava muito quieto desde que saímos da clareira, apenas observava nossa conversa e ria de vez em quando, mas resolvi nem perguntar, muitas coisas já aconteceram por hoje. Samira já foi direito para o estacionamento do prédio, tinha que admitir que ela dirigia bem, poucas vezes sai com ela no comando do carro. Quando estávamos indo para o elevador para subir para casa vi Carter parando.
-O que foi? - perguntei. - Não vai subir?
Ele abriu um pequeno sorriso.
-Hoje não, vou para casa. - falou passando a mão no cabelo. - A empregada só vai lá depois de amanhã, então Hork deve estar morrendo de fome.
Franzi a testa junto com Samira.
-Hork? - perguntamos juntas.
-É o meu cachorro, ele é um fominha, como não apareço em casa desde ontem ele já deve ter acabado com toda a comida.
Todos nós rimos.
-Então tudo bem. - falou Samira e deu um soquinho no braço de Carter. - Até mais, acho que vamos nos ver bastante a partir de agora.
Ignorei totalmente a indireta enquanto ela ia para o elevador nos deixando a sós em um momento que não sei por que se tornou constrangedor. Ele colocou as mãos nos bolsos e eu olhei para o teto, não me lembrava da última vez que fiquei sem jeito perto de um cara.
-Então... - falei voltando meus olhos para os seus que estavam particularmente claros hoje por causa da chuva. - Obrigado por... Você sabe, por tudo.
Ele abriu um pequeno sorriso e chacoalhou a cabeça.
-Não foi nada, pode deixar que não vou contar para ninguém.
-Bom mesmo ou eu castro você.
-Parece que voltou ao normal.
-Sempre volto.
Andei até ele e quase ficando nas pontas dos pés dei um beijo em seu rosto.
-Obrigado por guardar meu segredo.
-Sempre que precisar, bonequinha.
Revirei os olhos fazendo uma careta e sorri indo em direção ao elevador, mas antes de chegar lá olhei por cima do ombro.
-Não pense que isso quer dizer que confio em você, porque não confio. - falei. - Não sou alguém fácil de amolecer e não são apelidos que vão me comprar.
Ele apenas chacoalhou a cabeça e ficou olhando enquanto eu entrava no elevador, digitava o código e apertava o botão do meu andar. O caminho todo até chegarmos Samira ficou me lançando seus olhares debochados e sorrisinhos maliciosos.
-O que foi? - perguntei.
-Nada não.
Ela estava mordendo os lábios para conter o sorriso.
-Fala logo, Samira.
-Okay. - falou se rendendo. - Sabe onde essa coisa de vocês dois vai dar não é?
-Era raiva, socos e tiros?
Ela ponderou minha resposta.
-É isso ou na cama de um de vocês dois. Fiquei reparando em vocês hoje e sei que por mais que negue é evidente que existe algo entre os dois, uma forte atração, todo mundo notou isso.
-Uma atração que vou fazer questão de ignorar, não tenho tempo para esse tipo de coisa agora e mesmo se tivesse... Carter é a última pessoa com quem eu me envolveria.
-Por quê? Ta mais que na cara que vocês têm química aos baldes.
-Porque ele tem a palavra problema numa placa em neon acima da cabeça dele, Sam.
-Engraçado, eu não vi nenhuma placa.
Revirei os olhos.
-É sério, Samira. Desde a primeira vez que o vi eu soube que ele seria um problema dos grandes para mim, o tipo de problema que vai ferrar minha vida se eu não tomar muito cuidado. Somos como fogo e gasolina.
-Junte os dois e vai terminar em fogo?
Respirei fundo.
-Resulta em uma explosão das feias que destrói tudo que fica no caminho. Não preciso disso na minha vida.
Ela ficou pensativa por um tempo, o rosto agora sério.
-Sabe que quanto mais tentar afasta-lo mais perto ele vai ficar não é? - perguntou. - Carter não faz o tipo do homem que desiste do que quer e você mesmo que não queira já esta envolvida até o pescoço nessa relação.
-Exatamente por isso que tenho que tomar cuidado em dobro.
Ficamos o resto do caminho em silêncio, saímos no nosso andar que tinha apenas dois apartamentos que eram enormes, sendo um deles onde a gente mora e o outro onde guardo algumas coisas para as quais não tenho espaço em casa. Esse andar era nosso, o código era restrito e sempre era preciso passar por autorização para subir, foi uma grande surpresa para mim quando descobri que meu pai tinha comprado aqueles apartamentos para meu irmão e eu, aproveitei muito bem o espaço que tinha. Entramos em casa e eu já tirei minha jaqueta indo para a cozinha, assim que pisei lá dei um pulo e quase saquei minha arma quando um alto e desafinado coro da música "Parabéns pra você" começou a ser cantado.
De olhos arregalados encarei a mesa da cozinha onde Adam, Sônia e Jason estavam parados com ridículos chapeuzinhos de aniversário de criança atrás de uma mesa bem arrumada, nela tinha vários brigadeiros e beijinhos, alguns salgados, dentre eles as bolinhas de queijo pelas quais eu era louca e ao que parece um delicioso pudim. Samira ao meu lado colocava o seu chapeuzinho que era vermelho com bolinhas brancas e assoprava uma cornetinha, enquanto eu admirava tudo isso a última pessoa que eu imaginava ver por aqui apareceu segurando um lindo e delicioso bolo com raspas de chocolate e pedaços de morango com direito a uma vela com o número vinte encima. Hazel ajeitava o bolo em suas mãos e cantava junto com os outros toda sorridente.
Olhando para aquele bolo tinha certeza que foi Rafa que fez, aquela criatura tinha uma mão e tanto na cozinha. Na verdade, olhando para aquela mesa coberta por uma toalha florida a única coisa que me passava na cabeça era que eles não queriam que mais nenhuma roupa minha servisse, o que era bem possível, ou o mais provável era que eu explodisse de tanto comer.
-Feliz aniversário! - gritaram todos juntos.
-Assopre as velas e faça um pedido. - disse Hazel.
Por algum motivo quando me abaixei para soprar as velas e cena de Carter me estendendo um bolinho com um palito me veio a cabeça e não pude deixar de sorrir. Assoprei a vela e todos bateram palmas.
-O Rafa não pode vir porque o sobrinho dele ficou doente, como a irmã dele estava de plantão hoje ele teve cuidar do menino, mas mandou o bolo. - falou Sônia.
Sabia que tinha sido obra dele.
-O que é tudo isso? - perguntei colocando minhas armas na mezinha da sala.
-Sabemos o porquê de não gostar de comemorar seu aniversário, mas também não queremos que essa seja eternamente uma data triste para você. - falou Jason. - Queremos te dar boas lembranças para guardar, essa nova família que você formou pode não ser tão boa quanto á antiga era, mas é a que a vida deu para você depois de ser tão cruel.
Engoli em seco e quis muito dar um soco em Jason por conseguir me amolecer daquele jeito com poucas palavras. Essa criatura sempre teve jeito com elas e demonstrou isso com louvor agora, abri um sorriso um tanto bobo e fui me juntar a eles.
-Eu não imagino uma família melhor do que essa. - falei o que no fundo do meu coração sabia que era verdade.
A vida foi cruel comigo, me tirou o que eu tinha de mais valioso, mas ela também soube ser generosa ao trazer cada uma dessas pessoas maravilhosas para mim. Eu não estava em busca da perfeição, cada um deles tinham tantos traumas e feridas quanto eu, mais juntos eram tudo que eu precisava para remendar o buraco no meu coração que eu achava que nunca teria concerto.
******
Nota da Autora:
Pessoal, estou postando mais um capítulo hoje porque estou em uma semana de comemorações. Meu livro Meu Último Suspiro chegou ao seu tão esperado 1 K e estou muito feliz por isso. Também soube hoje que consegui passar no vestibular, então obrigado a todas as pessoas que me apoiaram e torceram por mim.
Agradeço a uma adorada leitora por ter finalmente achado a personagem que eu tanto queria, Juh, valeu pela foto, Kyle também te agradece. Bem, era isso, espero que gostem.
Boa Leitura!
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