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XXXIX. The return of darkness

A Copa havia terminado em um caos completo.

O fogo se espalhava por entre as barracas, várias pessoas corriam e gritavam em todas as direções possíveis. Ao longe, um grupo de bruxos encapuzados e mascarados em longas vestes escuras cruzavam o acampamento, derrubando barracas, incendiando outras e fazendo de refém flutuando e girando no ar a família trouxa que comandava os terrenos.

Estampidos de feitiços e risadas ecoavam ao redor junto aos gritos desesperados. Uma multidão de milhares de bruxos correndo e se empurrando, preocupados apenas com as próprias vidas.

— Eu vou ajudar os funcionários do Ministério — Lyall anunciou. — Tenham cuidado!

— Tenha cuidado o senhor também, pai! — Remus exclamou preocupado, mas Lyall já partia e sumia em meio a multidão.

— Fiquem juntos! — Sirius alertou. — Vamos sair daqui e encontrar um lugar seguro.

Infelizmente, isso era quase impossível.

Enquanto fugiam, assustados e confusos, passavam por uma avalanche de pessoas tão grande e alvoroçada que era difícil manterem-se unidos, por mais forte que agarrassem as mãos uns dos outros. Serem engolidos e separados pela multidão foi inevitável.

Remus entrou em desespero no segundo em que sentiu a mão de Therion escorregar da sua e perdeu os filhos de vista, junto de Harry e Merliah. Começou a gritar por eles, o medo transbordando em sua voz. Sirius ainda agarrava sua mão com toda a força.

— Eu perdi eles! E-eles… — disse, com a voz falha. — CANIS! THERRY! HARRY! LIAH!

Cada um tentava falhamente se reencontrar com os outros, mas a multidão dificultava e apenas os afastava.

Therion tossiu em meio a fumaça, completamente sozinho, sendo jogado de um lado a outro por bruxos o empurrando para fugir. Ao não avistar ninguém e perceber que havia se perdido da família, começou a olhar ao redor, nervoso e assustado. Não conseguia pensar direito, o barulho confundindo sua mente.

A cada segundo ele ficava mais nervoso e apavorado, chamando por seu pai, por Harry, pelo irmão, pela amiga, até mesmo Sirius.

As lágrimas surgiram em seus olhos antes que percebesse, ficando cada vez mais confuso com todos gritando a sua volta. Ele levou as mãos aos ouvidos, procurando ao redor em vão.

— HARRY! — chamou. — PAPAI! CANIS!

Sua cabeça começou a doer e latejar com força, o que apenas o fez chorar. Uma pontada em seu peito lhe dizia que seu irmão não estava bem. Ele precisava encontrá-los.

Mas estava extremamente difícil raciocinar. O pavor tomando conta. Pensamentos e vozes gritando em sua mente.

— THERION! — Harry chamou, sendo jogado cada vez mais para longe pela multidão.

Potter tentou atravessar o mar de pessoas, procurando pelos outros após perdê-los de vista, mas parecia impossível. Caminhou perdido enquanto olhava ao redor e chamava por todos, principalmente por Therion.

Ainda não entendia bem o que estava acontecendo. Já haviam lhe contado sobre os Comensais da Morte, nome dos seguidores de Voldemort. Um deles havia matado sua madrinha. Peter Pettigrew era um deles. Muitos foram presos, outros escaparam… Mas por que atacar agora? De repente?

Não devia ser eles. Devia ser um engano.

Não conseguia e nem podia pensar nisso agora. Ele precisava encontrar os outros. Precisava encontrar sua família. Precisava encontrar Therion.

Será que ele tentaria usar sua forma animaga para passar por todos mais rápido? Ou Sirius e Canis?

Ele adoraria poder se transformar em um cervo como seu pai naquele momento e atropelar todos a sua frente com galhadas enormes para abrir caminho. Seria muito útil.

Começou a ficar bastante frustrado ao não conseguir avistar ninguém e apenas ver a fumaça e o fogo aumentando.

Ele tropeçou e caiu, sendo jogado sobre os destroços de uma barraca queimada e batendo a cabeça no chão. Gritou quando por instinto segurou em uma haste de madeira ainda em brasa, recolhendo a mão rapidamente.

Seus óculos haviam caído do rosto. Ele já estava um tanto confuso e grogue pela batida na cabeça e toda a fumaça ao redor, sem os óculos não ajudou muito para que sequer conseguisse enxergar o céu e a situação ao redor nitidamente.

Tateou ao redor com dificuldade, tossindo. Então, de repente, surgiu alguém. Sacou sua varinha rapidamente e apontou para a pessoa de capuz que vinha em sua direção, deduzindo ser um Comensal. A pessoa parecia segurar uma varinha.

Não tinha certeza, mas também não esperaria que o matasse para descobrir.

Protego!

ESTUPEFAÇA!

Harry lançou o feitiço ao mesmo tempo que o Comensal conjurou a proteção, que criou um escudo mágico que repeliu seu ataque. Grunhiu frustrado e pensou em outro feitiço.

Expelli…

Expelliarmus! — O outro bruxo foi mais rápido e a varinha de Harry voou de sua mão.

Potter começou a se arrastar para longe para recuperar sua varinha e gemeu de dor por sua mão queimada.

— Eu não vou machucar você!

— Você é um Comensal!

— E-eu… — o bruxo gaguejou. — Eu não sou! Quero ajudar!

Harry recuou quando ele se aproximou, mas o viu erguer as mãos em rendição e ir até sua varinha, pegando-a do chão e então se aproximando e se abaixando ao seu lado. Ele devolveu a varinha.

Certo, então não era mesmo um Comensal. Um auror provavelmente.

— Você está bem?

Sem seus óculos, com toda a fumaça e o capuz do bruxo, ficava difícil vê-lo nitidamente, mas percebeu que não usava máscara como os bruxos que viu atacando. Ainda assim, era difícil ver seu rosto, embora parecesse familiar.

O bruxo o ajudou a ficar de pé.

— Meu óculos… Preciso…

— Os peguei! Não pode ficar aqui, precisa de um lugar seguro.

Harry não estava conseguindo pensar muito bem, apenas tossia. Então, não disse mais nada enquanto o bruxo a ajudava a caminhar, pois mancava levemente. Sua cabeça doía, e ele tinha quase certeza de que escorria sangue dela.

Foi levado em direção a floresta, e o bruxo o deixou sentado sobre uma pedra. Não estava muito longe da confusão, mas parecia seguro.

— Minha família… — murmurou após um tempo.

— Irá encontrá-los — disse o bruxo. — Está machucado. Posso ver?

Apenas assentiu, ainda atento.

Sua mão queimada foi segurada com cautela, e o bruxo murmurou um feitiço que diminuiu a dor e curou as queimaduras mais leves. Os óculos foram colocados em seu rosto com cuidado, e Harry piscou enquanto observava o homem a sua frente, franzindo o cenho e sentindo uma baita dor de cabeça.

— Acho que você também bateu a cabeça… Posso?

Harry concordou enquanto via o bruxo afastas parte de seu cabelo, revelando a cicatriz. Esperou alguma exclamação ou comentário surpreso como da maioria dos bruxos, mas ele não veio.

Episkey… — disse ele, apontando a varinha para sua cabeça. A dor sumiu.

Potter tocou sua cabeça. Ainda havia sangue, mas a ferida havia se curado.

— Obrigado — agradeceu.

O bruxo sorriu fraco.

— Bela cicatriz. Parece um raio.

Pela falta de exclamações e bajulações, Harry imaginou que fosse algum estrangeiro. Um estrangeiro com um inglês perfeito e único sotaque aparente era o RP da elite sulista inglesa, como o de Sirius e alguns alunos de famílias ricas em Hogwarts, os sons aerados e marcados.

Agradeceu mentalmente que sua fama não havia transgredindo as fronteiras inglesas. Sair da Inglaterra depois de se formar começou a parecer uma ótima ideia com tal constatação.

O bruxo arqueou a sobrancelha e riu.

Harry ainda não conseguia ver o rosto do bruxo completamente por conta do capuz e a pouca luz, mas percebeu alguns detalhes. Alguns fios levemente encaracolados escapando e caindo pela testa e os olhos acinzentados brilhando na escuridão da noite.

Os olhos dele brilhavam exatamente como os de Therion.

O bruxo riu novamente, e ele não entendeu o porquê, logo se afastando, de pé.

Certe cose non cambiano mai — disse.

— Desculpa, mas eu só sei falar inglês e meia dúzia de palavras em irlandês.

— Tudo bem. Esqueça.

— Quem é você? É um auror?

— Estou bem longe de ser um auror — respondeu. Havia um certo pesar naquela frase.

Harry pensou em Therion de novo. Não podia continuar parado ali, precisava encontrá-lo, ver que ele está bem e seguro. Levou imediatamente a mão ao pescoço, suspirando aliviado ao ainda encontrar ali o colar que ganhou de aniversário.

— Posso te ajudar a encontrá-lo.

— O quê? — Harry franziu o cenho, confuso.

— Ajudar a encontrar sua família — disse o bruxo. — Sabe onde podem estar?

— Não sei…

Mais gritos ecoaram. O bruxo fechou os olhos com força, comprimindo os lábios, o rosto numa leve expressão dolorida ao levar as mãos às têmporas.

— Você está ferido? — Harry perguntou.

— Não, só… Estou muito nervoso e essa confusão não me ajuda — disse o outro, respirando fundo antes de voltar a encarar os olhos verdes com os seus. — Consegue caminhar?

— Acho que sim.

Harry apertou o colar no pescoço com força e olhou desconfiado para o bruxo. Por que estava o ajudando?

— Também estou procurando uma pessoa importante pra mim — ele disse de repente. — Por isso estou te ajudando. O melhor que podemos fazer agora é ficar com nossas famílias e amigos em um lugar seguro.

— Quem está procurando?

— Minha família — respondeu. — Sei que a sua deve estar muito preocupada, porque eu estou. Mas não julgo por desconfiar.

— E-eu… — Harry olhou ao redor e suspirou. Teoricamente, ele salvou sua vida. Daria o benefício da dúvida. — Tudo bem. Eu preciso encontrar eles logo.

— Okay. Então vamos.

O bruxo o ajudou a ficar de pé.

— Aliás… Meu nome é Harry — disse.

— É um prazer te ajudar, Harry. — falou o outro e sorriu leve. — Pode me chamar de Archie.

***

— THERION! PAPAI! — Canopus gritava e chamava, correndo por entre as pessoas com a varinha em sua mão. — LIAH! HARRY!

Empurrou todos à sua frente, procurando pelos outros no meio daquela multidão, do fogo e da fumaça. Um dos homens encapuzados passou por ele e instintivamente ergueu sua varinha, usando um feitiço paralisante antes de voltar a correr.

Tropeçou em hastes perdidas das barracas destruídas, mas não parou, mesmo sujo de fuligem e com os sapatos queimados. Gritou novamente pelos outros, atravessando o mar de bruxos.

Acabou sendo derrubado no chão pela multidão e soltou um grito extremamente alto ao mesmo tempo que se encolhia para se proteger de ser pisoteado e via seu pé virado em um ângulo nada saudável. Arrastou-se para longe das pessoas, até conseguir ficar de pé com muita dificuldade e mancar.

A dor latejava e subia por uma das pernas a cada passo, mas a adrenalina em seu sangue o impedia de dar importância. O desespero começou a tomar conta a cada minuto que não via ninguém conhecido.

Viu alguns dos homens encapuzados perto demais e tentou fugir. Ele não morreria para comensais. Não.

Ele viu um Comensal imobilizar e desacordar um auror antes de voltar-se em sua direção.

Protego! — disse, protegendo-se do feitiço lançado contra ele. Então apontou a varinha para o Comensal. — ALARTE ASCENDARE!

O Comensal foi lançado para o ar e voou para longe. Infelizmente, havia outros por perto para ver.

Canopus então voltou a correr o máximo que uma fratura conseguia lhe permitir, sufocando todos os gritos de dor que queriam escapar de sua garganta. Lançou feitiços atrás de si, todos que conseguia pensar que pudesse afastar os Comensais, que com certeza não gostaram de ver um adolescente mandando um dos seus pelos ares.

Ouviu um estouro vindo atrás de si, mas não olhou para verificar. Continuou a mancar. Porém, um feitiço atingiu a barraca ao lado por onde passava, a fazendo explodir e o derrubando junto com o impacto sob estacas de madeira queimando.

Tossiu pela fumaça. Tentou alcançar sua varinha que caiu de sua mão, mas estava distante demais e o movimento o fez gritar de dor.

Viu dois Comensais se aproximarem naquela direção, as varinhas estendidas. Esticou sua mão na direção da varinha outra vez.

Ele estava assustado, com dor, mas também com muita raiva. Algumas lágrimas doloridas escorreram por seu rosto.

Se eram mesmo Comensais, eram as mesmas pessoas que ajudaram a destruir metade da sua família. As mesmas pessoas que mataram sua mãe.

Ele não ia deixar fazerem consigo o mesmo que fizeram com ela.

A energia emergiu por seu corpo, a magia fluindo dentro de si como cargas elétricas, as mãos formigando. Ele não sabia bem como. Apenas pensou em um feitiço que usaria com a varinha em mãos caso a tivesse.

ESTUPEFAÇA! — gritou.

O feitiço atingiu os dois Comensais, que voaram desacordados após serem atingidos pela rajada azulada que saiu da mão esticada do garoto. Ele não teve tempo de pensar como conseguiu conjurar o feitiço sem a varinha, fora puro instinto.

Mais Comensais se aproximaram.

Petrificus Totalus! — disse uma voz atrás dele que o fez virar o rosto para trás.

Ele viu um comensal cair no chão, paralisado. Atrás dele, estava o garoto de cabelos platinados que Canis não sabia se ficava aliviado ou com ainda mais raiva por ver.

— Draco?! — disse, mas sua voz soou mais fraca do que gostaria.

Impedimenta!

Outro Comensal foi jogado para trás.

Draco usou mais um feitiço para tirar os destroços de cima do Black, sem dizer nada. Ajoelhou-se ao lado dele, ajudando-o a se levantar enquanto resmungava e gritava de dor.

— Você sabia! — Canopus exclamou.

— Eu te falei para ir embora!

— É melhor você ir antes que eu te jogue tantos feitiços que você vai voar até a Escócia! Você está com eles, você sabia! Saia de perto de mim! — exclamou, empurrando-o.

— Estou tentando te ajudar!

— Eu não quero sua ajuda, Malfoy! — resmungou irritado.

— Quer morrer aqui?

Draco tentou ajudá-lo a fugir, mas cada passo Canopus resmungava de dor. Foi quando notou o pé machucado, obviamente quebrado. Ele não deu chances do outro reclamar. Passou um braço ao redor de sua cintura e outro por baixo das pernas, erguendo-o do chão com mais resmungos e reclamações.

— O que pensa que está fazendo?

— Salvando a sua vida! Eles vão atacar qualquer um que tenha sangue trouxa.

— Eles são detectores de sangue por acaso?

— Primeiro, você atacou eles, então obviamente vão revidar — disse. — E você é filho de Sirius Black, um traidor de sangue, e todos sabem que sua mãe era trouxa. E goste ou não, sua aparência já entrega isso, você é a cara dele.

— Ela era uma bruxa que tinha pais trouxas! E o Sirius não é… AI!

— Só cala a boca, Estrelinha — ordenou.

Canis não queria obedecer, mas estava com muita dor para continuar reclamando. A contragosto, segurou-se em Draco com os braços ao redor de seus ombros e deixou-se ser carregado ao longo do acampamento e do incêndio até a floresta.

Os gritos foram ficando cada vez mais distantes, embora ainda se pudesse ouvi-los. Malfoy não sabia exatamente para onde estava indo, apenas se afastava de toda a confusão o máximo que conseguia. Seus braços estavam cansados, mas não ousou parar até achar seguro.

Caminhou por entre as árvores até chegar a uma clareira. Estavam muito longe de todos, perfeito para se esconder até tudo se acalmar.

Colocou Canopus no chão com cuidado, recostado em uma árvore. Respirou fundo e jogou-se sentado ao lado dele.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, respirando fundo. Ambos estavam suados e sujos, com as roupas um pouco chamuscadas.

Canis mordeu o lábio inferior com força, sufocando mais um grito de dor ao se mexer e retirar sua jaqueta. Mal havia se recuperado da lua cheia de junho e agora vinha isso.

E ainda tinha Draco nas duas ocasiões.

— Está sentindo muita dor? — Draco perguntou.

— Eu quebrei o meu pé e estou cheio de queimaduras. O que você acha, Dragãozinho? — resmungou irônico.

— Acho que você poderia ser mais gentil com quem acabou de salvar a sua vida — rebateu e aproximou-se do Black, segurando sua varinha.

— O que pensa que está fazendo?

— Impedindo que você fique pior.

— Não preciso da sua ajuda.

Draco ignorou completamente a fala do outro, retirando os sapatos queimados sob reclamações de dor. Havia algumas queimaduras nos tornozelos, mas o pior era o pé esquerdo.

Assim que as mãos do Malfoy pousaram em seu pé, ele mordeu o couro de sua jaqueta, o que sufocou mais um grito. Com um estralo terrível, Draco colocou o pé do outro de volta no lugar.

Malfoy usou um feitiço para curar algumas queimaduras e conjurar ataduras que enrolaram-se em torno do pé de Canopus, o imobilizando. Black mordeu o lábio inferior com muita força para não gritar de dor, deixando apenas um grunhido dolorido escapar. Ele tentou recolher o pé em sua direção por reflexo, mas isso apenas piorou sua dor. Já sentia o terrível gosto de sangue em sua boca.

Malfoy segurou seu tornozelo com cuidado e manteve a perna esticada e parada no chão, voltando os olhos azuis para Canis. A expressão de dor estava nítida em seu rosto, por mais que tentasse controlar.

— Não se mexa, vai doer ainda mais.

— Quando se formou em medibruxaria, Dragãozinho? — Black resmungou.

— Cala a boca um instante, Estrelinha — bufou e sentou-se ao lado do outro novamente, também recortando-se na árvore. — Estamos quites agora.

— Estaremos quites quando eu disser que estamos

— Você disse que estaríamos quites quando eu salvasse sua vida. Acabei de fazer isso. E ainda estou ajudando a te curar!

— Você está em dívida comigo, então eu decido isso. Não estamos quites.

Draco revirou os olhos.

— Você é um mal agradecido.

— Olha só quem fala.

— Nem mesmo morrendo de dor para e tenta ser um pouco mais civilizado e gentil?

— Com você? Meio difícil.

— É tão difícil quanto para mim, Estrelinha. Você consegue ser terrivelmente insuportável quando quer e torna quase impossível te aturar por um mísero segundo.

— Então por que continua aqui? Pode ir embora, não estou te obrigando a nada.

— Não vou te deixar morrendo aqui.

— Eu não vou morrer.

— Estamos cercados de Comensais, seu idiota!

— E você está incluso.

— Eu não sou Comensal.

— Mas seu pai é.

Draco ficou calado. Desviou o olhar e cruzou os braços, respirando fundo. Canopus apenas riu, o que doeu bastante, mas ele ignorou. Já estava se acostumando com a dor nos últimos dois meses.

— Onde estamos?

— Não sei.

— Você nem sabe para onde me trouxe? Mas que porra, Malfoy! — reclamou.

— Desculpa se não planejei uma fuga incrível para um grande esconderijo, Estrelinha — Draco retrucou sarcástico. — Pelo menos estamos longe o bastante de tudo. Com sorte, logo os seus pais chegam.

Meu pai — corrigiu. — Eu estava procurando ele e meu irmão até você me sequestrar.

— Eu te salvei!

— Eu sei me virar sozinho muito bem.

Malfoy mais uma vez bufou e revirou os olhos. Seria necessária toda a sua paciência nas próximas horas, mas não poderia mais voltar atrás. Já estava feito. Seus pais devem estar o procurando naquele exato momento.

Pensou na frase do Black e lembrou do que viu instantes antes.

— Como você fez aquilo?

— Aquilo o quê?

— Você lançou um estuporante sem varinha. Eu vi! Somente bruxos muito habilidosos e poderosos conseguem fazer magia sem varinha para canalizar, principalmente feitiços de ataque como esse.

Canopus não sabia responder. Agiu por impulso num momento de raiva e desespero, não sabia se funcionaria. Ele tinha ciência de que a magia corria por suas veias e que certas vezes, quando estava extremamente irritado ou nervoso poderia acontecer algum pequeno surto, geralmente coisas simples como objetos flutuando ou explodindo, mas não tinha certeza se conseguiria usar um feitiço propriamente dito.

Ele não pensou. Só fez.

— Está com inveja porque sou mais poderoso e habilidoso que você?

— Estou falando sério, Canopus.

— Eu não sei. Só estava com raiva e não queria morrer — confessou, ocultando a parte do medo. Não admitiria isso para Malfoy. — Sempre canalizei magia sem varinha quando estou irritado, só não… Um feitiço propriamente dito e intencional.

— Como nas várias vezes que você fez outros alunos ficarem sem voz esse ano?

— Sim. Adoraria fazer isso com você agora, inclusive. Fica muito mais tolerável de boca fechada.

— Você arranjaria bem menos problemas se fechasse a sua e pensasse antes de falar — Draco rebateu.

Eu tenho que pensar antes de falar?! Você é a porra de um hipócrita! — Canis retrucou logo em seguida e grunhiu de dor em sequência. — Eu preciso encontrar o meu pai.

— Você não vai a lugar algum.

— Quem vai me impedir? Você?

Canopus segurou-se na árvore atrás de si e ficou de pé, mas se arrependeu no mesmo instante quando sua visão falhou e suas pernas fraquejaram, vários pontinhos pretos surgindo diante de seus olhos e uma dor se alastrando por seu corpo. Draco levantou-se rapidamente e segurou-o circundando sua cintura com os braços antes que caísse e se ferisse ainda mais.

— Não, essa sua fratura vai — disse Malfoy. — Pode parar de ser tão teimoso e ter amor a sua vida pelo menos uma vez?

— Minha família está naquela confusão! O Sirius está lá sem a poção e se alguém ver ele perto do meu pai, ele vai ser preso como cúmplice.

— Ele é um animago, deve ficar na forma de cão até tudo passar se for esperto.

— Ele não é.

— Vamos ficar aqui até tudo se acalmar. Você não vai dar dois passos desse jeito.

— Eu estou bem!

Não, ele não estava.

Dois segundos depois, perdeu ainda mais forças e Malfoy necessitou de mais esforço para segurá-lo. A cabeça do Black pendeu para baixo, fraco.

— Não, não está. E nem pense em desmaiar agora!

Colocou-o de volta sentado e ficou ao seu lado. Ergueu o rosto dele entre suas mãos e viu os olhos acinzentados lutando para permanecer abertos, a pele queimando de tão quente. Poderia tanto ser pelo incêndio por qual passaram quanto febre pelo ferimento.

Draco, infelizmente, achou melhor considerar a pior das hipóteses. O que significava que precisaria fazer de tudo para manter o Black acordado. Se ele desmaiasse… Não sabia o que fazer para que voltasse a acordar em algum momento.

— Fique acordado, está bem? Em algum momento seu pai e seu irmão vão te procurar e te encontrar.

— Eu preciso encontrar eles… Agora.

— Você está com febre e um tornozelo quebrado!

— Uma febre não vai me matar. Eu consigo… Meu pai… Meu irmão…

— Com sorte, conseguiram fugir e se esconder. Que tal usar aquele seu ego inflado e se preocupar consigo mesmo agora?!

Canis riu fraco.

— Você não é ninguém para falar de ego, Dragãozinho.

— Eu sei — admitiu. — Continue acordado e vivo, okay, Estrelinha? Vai ser péssimo se você morrer agora.

— Vai precisar de muito mais para se livrar de mim. — Sorriu de canto.

Ver aquele sorriso que tanto o irritava foi um bom sinal. Draco sorriu fraco e secou o rosto suado com a manga do terno, afastando as mãos em seguida.

— Continue falando para ficar acordado.

— Tipo o quanto é terrível estar sozinho em um ataque logo com você?

— Poderia ser um pouco mais grato. Estou te ajudando e te salvando.

— Eu não pedi isso.

— Mas precisava — retrucou encarando os olhos brilhantes como estrelas. — Fale das suas férias.

Canopus suspirou.

— Estariam melhores se não tivesse um intruso na minha casa, nem sendo atacado pelas mesmas pessoas que mataram a minha mãe.

— Você está escondendo o Sirius na sua casa?

— Depois de hoje, duvido que ele continue. Logo vai embora… De novo. — Deu de ombros. — As suas férias devem estar muito entediantes para querer saber sobre as minha.

— Só quero te manter acordado.

— Estou acordado. Morrendo de sono, quase desmaiando de dor na perna e nas costas, mas acordado e bem.

— Suas costas estão machucadas? Se queimou ou quebrou algo?

— Depois do drama da lua cheia, ainda me pergunta se a dor é por queimadura recente?!

Draco franziu o cenho por alguns instantes, até entender. Lembrou de Canis indo atrás do lobisomem. De quando ele chegou a ala hospitalar destruído, repleto de cortes e arranhões por todo o corpo que não paravam de sangrar. Odiava lembrar disso.

Ainda tinha pesadelos.

— Os arranhões do seu pai. Ainda não se curaram completamente.

— Ponto para o Dr. Malfoy. Já cicatrizaram, mas ainda incomoda.

— E você continua a defendê-lo.

— O seu é um maldito Comensal que matou centenas de trouxas e nascidos-trouxas na Guerra Bruxa e você não diz nada. O meu é uma pessoa com licantropia!

— Manere nas acusações, Estrelinha.

— É a verdade. — Deu de ombros. — Você me disse para ir embora porque sabia que seu pai e os amiguinhos malditos fariam isso.

Malfoy ficou em silêncio por alguns instantes. Canis riu, revirando os olhos.

— Eu não sabia que exatamente isso aconteceria. Só que alguma coisa perigosa viria — Draco se justificou.

— Espero que os aurores peguem seu pai e o levem para Azkaban.

— O seu papai fugitivo com certeza vai ser pego se não tiver cuidado. Veremos os jornais amanhã — rebateu. — Fale do jogo.

— Meu lado irlandês está muito feliz! — Canopus sorriu, fechando os olhos.

— Continue acordado!

Draco deu tapinhas fracos no rosto dele e segurou seu maxilar. Black abriu os olhos e piscou, fechando a cara.

— Me bata de novo, e eu vou estraçalhar você.

— Se isso te fizer ficar acordado — Draco riu, ainda segurando o rosto do outro mais perto do que achava recomendado.

Canopus riu baixo, um riso misturado com um resmungo de dor. Piscou lentamente, sentindo a mente um pouco mais avoada pela dor. Observou atento os olhos azuis de Draco a sua frente, os cabelos platinados bagunçados e grudados em sua face, um pouco suja.

Pensou no jogo como foi pedido.

— Eu te ouvi falando irlandês. Você é metade irlandês, certo? — Draco falou.

Sea! Minha mãe era irlandesa… Toda minha família materna era. Acho que papai é norte-irlandês… — Deu de ombros. — A briga das veelas com os leprechauns foi divertida… Menos os gritos das veelas.

— Os gritos não foram tão ruins.

— Eu não sou afetado por elas e me incomodei — disse.

Draco franziu o cenho. Ele não entendia muito de canto de veelas. Nunca se interessou em estudar outros seres mágicos.

— Você parece uma veela.

— O quê? — Malfoy piscou desconcertado.

— Você — Canis repetiu. — se parece com uma veela.

— Acho que você já está começando a delirar por causa da dor.

— Talvez… Mas não deixa de ser verdade.

Canopus estava mesmo um pouco mais sem filtro que o normal. Só falava o que vinha a cabeça para se manter acordado.

Encarou fixamente os olhos confusos de Draco.

— O cabelo platinado natural, os olhos claros… E você é tão pálido que é quase transparente — continuou. — É fácil ver quando você fica corado por isso, aliás. É engraçado.

O rosto de Draco rapidamente ficou vermelho.

— Exatamente assim — riu.

— Pare com isso!

— Você nunca suporta ouvir a verdade.

— Você está louco.

— Tem certeza que não tem uma parente veela?

— Minha família é dos Sagrados 28, estamos entre os bruxos de sangue mais puro. É claro que não tenho parentes que não sejam bruxos!

— Sabia que características físicas de veelas perduram por várias gerações de descendentes de relacionamentos com bruxos? Até mesmo nos homens.

— Não é só porque toda a minha família é loira que somos descendentes de veelas.

— Vale a pena verificar.

— Fale de outra coisa. — Draco suspirou, enquanto Canis bufava, fechando os olhos mais uma vez. — Olhe pra mim, Canopus! Desperto, vamos!

— Estou ficando enjoado da sua cara. Já vi demais para minhas férias.

— Não comece, Estrelinha… Olhe pra mim.

— Estou com sono.

— Vai poder dormir até setembro se quiser, mas só depois que sair daqui. Olhe. Pra. Mim!

Canopus abriu os olhos e tornou a encarar Malfoy. Ele parecia nervoso e assustado, embora tentasse disfarçar… E preocupado.

Devia estar maluco. Draco com certeza não estava preocupado consigo.

— Você me fez perder minha varinha — disse de repente.

— O quê?

— Minha varinha ficou lá. Você está devendo uma nova pra mim e pro Therry.

— E só está falando isso agora?

— Você me disse para falar de outra coisa.

Malfoy suspirou, mas Canis percebeu um pequeno sorriso querendo surgir ali.

— E o que seu irmão tem a ver? Perdeu a sua varinha.

— Nossas varinhas são gêmeas — explicou. — Igual a nós dois.  Varinhas gêmeas para bruxos gêmeos…

— Isso é uma coincidência e tanto.

— As varinhas nos escolhem, então… Talvez não seja exatamente coincidência. E eu não quero uma varinha que não seja gêmea da varinha do Therry.

— Vocês são realmente muito unidos.

— Ele é meu gêmeo. É uma parte de mim… Irritante às vezes, mas é meu irmão… — Suspirou.

— Você vai ter sua varinha de volta — garantiu Draco.

Ele iria dar um jeito de encontrar aquela maldita varinha. Não sabia bem como, mas iria.

— Espero que Therry esteja bem… Mas…

— Mas o quê?

— Existem algumas histórias sobre conexão entre gêmeos. Bom… Eu digo que é tudo verdade. Sempre sei quando Therion não está bem, e ele sabe quando não estou. Nós… Sentimos.

— E o que você sente agora?

Ele não está bem.

***

Therion cambaleava atordoado pelo acampamento em chamas. Não conseguia encontrar forças para se concentrar sequer para assumir sua forma animaga, e ele tentou bastante, mas isso apenas lhe causou mais dor.

Sua perna esquerda estava com uma queimadura, mas a dor na pele ardente não chegava nem perto da dor em sua cabeça. Era como se todas aquelas pessoas assustadas gritassem em sua mente. Crianças bruxas chamando pelos pais. Bruxos apavorados. Pessoas tentando se juntar a amigos e familiares para fugir.

Não conseguia ouvir os próprios pensamentos. Não conseguia se concentrar.

Estava confuso. Atordoado. Perdido.

Poderia ter fugido para a floresta, mas não faria isso sem sua família. Não sentindo que o irmão não estava bem.

Mas doía tanto, tanto…

Therion apertou as mãos contra os ouvidos e gritou. Por que todos não paravam de gritar em sua cabeça?

Ele queria encontrar Canis. Queria encontrar Harry. Sirius. Liah. Seu pai.

Ele precisava muito do pai agora.

Ao longe, viu um Comensal lançar um feitiço contra um homem em um sobretudo. Tropeçou e caiu no chão, arrastando-se para tentar se esconder atrás de uma barraca. Infelizmente, não foi o bastante.

Aquela barraca voou para longe.

Therion encarou o homem mascarado de pé e o outro caído tentando alcançar a própria varinha, sem forças. O Comensal voltou-se para o Black.

Ele não teria pena deles, ele sabia. Não podia deixá-lo acordado.

Atacar trouxas. Evitar qualquer testemunha que reconheça.

Therion pegou sua varinha. O Comensal apontou a própria para ele, já com o feitiço em mente. O garoto foi mais rápido.

Obliviate! — exclamou.

O Comensal caiu no chão, atordoado. Já não sabia mais porque estava ali.

Therion não fazia ideia de porque usou aquele feitiço.

O homem atacado conseguiu se reerguer e olhou confuso para o Comensal no chão, depois para o Black e aproximou-se dele.

— Hey, garoto! Você está bem? — Ele se abaixou ao seu lado.

Therion estava confuso. Apertou as mãos nas têmporas e encarou o homem. Ele o lembrava muito alguém. Talvez Louise, ou… Ou… Ele devia saber, mas estava muito atordoado para lembrar.

O homem o encarou de cenho franzido com os olhos claros. Ele estava nervoso e alvoroçado. Preocupado. Estava procurando alguém.

— Vá a Floresta, agora! Procura sua família lá e fiquem seguros! Mais aurores e medibruxos estão a vir aqui — disse. Therion reconheceu um sotaque irlandês.

Ele não permaneceu muito tempo pensando. Ainda atordoado, correu para longe. Mas não para a floresta. Não poderia ficar lá parado sem saber onde os outros estavam.

— Papai! Canis! HARRY! — chamou, correndo cambaleante.

Sua visão estava turva. Ao redor ainda era um caos completo. Ele precisava achar sua família. Ele precisava achar o irmão e o pai. Precisava achar Harry.

Grunhiu frustrado ao não encontrar nada. Sentia-se ficando fraco. Tossiu por causa da fumaça das barracas incendiadas. Isso não ajudava sua cabeça a parar de latejar.

Foi então que seu corpo cedeu. Não conseguia mais dar um passo, a dor aumentando ainda mais ao se aproximar de onde algumas pessoas ainda se amontoaram correndo em direção a floresta. Era muito pavor. Nervosismo. Preocupação. Angústia.

Gritos assustados. Pensamentos desconexos.

Olhou ao redor, buscando qualquer sinal.

— Pai… PAPAI! — chamou por Remus.

Encolheu-se no chão, com a cabeça entre os joelhos e as mãos na cabeça. A dor agora estava insuportável.

Nunca havia doído tanto antes.

— Theo! — Ele ouviu e ergueu a cabeça.

Sirius caiu de joelhos a sua frente e segurou seu rosto, aliviado. Ainda estava com sua aparência normal, sem a poção polissuco. Therion nunca pensou que ficaria tão aliviado em ver o rosto mais velho tão parecido com seu.

— Cadê o papai? — perguntou.

— Remus está procurando vocês. Espero que encontre Canis e Harry…

— Está doendo…

— Ah, Theo…

— Minha cabeça — choramingou. — Alto demais. Quero o meu pai.

— BLACK!

Sirius xingou baixo, olhando ao redor.

— Quero o papai… Preciso achar o meu pai.

— Eu estou aqui! — Ele abraçou Therion, apertando-o em seus braços. — Eu estou aqui, Theo… Estou aqui, filho.

Therion agarrou-se a ele, chorando. Sirius o apertou com ainda mais força, acariciando seus cabelos. Ouviram aurores se aproximando.

Sirius pegou o filho no colo e começou a correr em direção a floresta, fugindo e despistando os aurores. Tentou se misturar entre a multidão de bruxos fugindo, sem olhar para trás. Ouviu várias vezes seu nome sendo dito e gritado por aurores ou pessoas assustadas, mas não deu importância.

Nada daquilo importava. A segurança de seus filhos sim.

Adentrou a floresta e parou abaixo de uma árvore, cansado. Tossiu um pouco e grunhiu baixo, sentindo um incômodo e pequena dor em seu corpo, mas não soltou Therion. Deixou-se cair de joelhos e continuou apertando o garoto contra si.

— Está tudo bem, Theo. Está tudo bem — repetia. Segurou o rosto dele e para que o encarasse. — Olhe pra mim. Foque em mim, okay? Respire fundo e foque em mim. Ignore tudo mais. Vamos!

As lágrimas continuavam a escorrer pelo rosto do garoto, que estava com os olhos vermelhos. Tentou focar em Sirius, mas toda a confusão em sua mente não deixava. Virou o rosto na direção da confusão, mas Sirius o chamou novamente.

— Foque apenas em mim, Theo! — disse. — Como… Se estivesse na minha mente.

Therion encarou-o e respirou fundo, tentando ignorar tudo ao seu redor. Pela primeira vez em muito tempo, Sirius usou os ensinamentos de seu pai e seu tio para proteger a mente.

O garoto permaneceu concentrado apenas nele, em suas incríveis semelhanças. Enquanto os minutos se passavam, o silêncio se instaurou em sua cabeça.

— Continue respirando fundo e concentrado em mim, Reggie — Sirius falou e secou o rosto molhado pelas lágrimas. — Certo… Agora apenas relaxe. Está tudo bem. Não pense nas outras pessoas.

A dor latejante amenizou, e Therion suspirou, encolhendo os ombros e desabando exausto nos braços do pai. Sirius tornou a acolhê-lo em seu abraço, beijando sua testa.

— Isso… Está tudo bem, Regulus. Está tudo bem…

E pela primeira vez em muito tempo, Therion sentiu-se verdadeiramente seguro e confortável nos braços de Sirius e acolhido por seu calor. Nunca admitiu para si mesmo o quanto sentia falta disso.

Remus ainda buscava pelos filhos, Harry e Liah após separar-se de Sirius para tentarem encontrá-los mais rápido. Mantinha sua varinha em punho, desviando de todos os aurores e dos bruxos fugindo.

Seu peito estava apertado de angústia ao não ver sinal deles. Se eles se machucassem gravemente ou algo pior acontecesse no meio daquele caos… Não queria nem pensar. Ele precisava encontrar aquelas crianças! Encontrar seus meninos!

Estava preocupado demais. Pensava em como poderiam estar assustados.

Não, Therion e Canis não sentiam medo fácil. Ao menos, não se deixavam abater por isso. Esperava que eles não encontrassem os Comensais, seria terrível… Seria difícil dizer para quem exatamente, a depender da situação.

Naquele momento, Lupin somente conseguia pensar no pior que poderia acontecer.

Tentou até mesmo perguntar a algumas pessoas que via pelo caminho se tinham visto eles, os descrevendo o mais rápido possível, mas todos estavam preocupados demais em salvar as próprias vidas.

Suspirou, exausto e frustrado, olhando ao redor. Tentou pensar para onde poderiam ter ido. Infelizmente, tinha quase certeza de que estariam o procurando também, o que poderia causar muitos desencontros. A última coisa que seus filhos fariam seria correr para a floresta sem ele.

Imprudente? Com certeza. Mas ele os conhecia bem o suficiente.

Imerso em seus pensamentos e preocupações, Remus trombou com outro bruxo.

— Desculpa, desculpa! — disse ele, a voz tremendo. — Por favor, você viu…

Lupin se deteve em sua fala ao encarar o bruxo, que possuía uma cara de espanto tão visível quanto a sua misturada à grande preocupação.

— Remus?

Remus piscou para ter certeza de que estava enxergando bem. Franziu o cenho, confuso.

— Killian…

O bruxo à sua frente estava visivelmente muito mais velho e mais maduro do que 15 anos atrás. Talvez sequer o tivesse reconhecido se não parasse para pensar por alguns instantes. Havia mudado muito, mas ainda conseguia perceber as semelhanças com a versão mais jovem e a irmã gêmea.

Ainda tinha o mesmo cabelo escuro, jogado para o lado e completamente bagunçado, e olhos claros facilmente perceptíveis mesmo na fraca luz noturna e com os incêndios ao redor. O maxilar marcado estava coberto por uma rala barba.

Mesmo mudado, era difícil olhar para ele e não se lembrar de sua irmã.

O longo sobretudo que ele vestia exibia um símbolo que Remus já vira uma vez em livros de história bruxa. O emblema do Ministério da Magia Francês.

— V-você… Está vivo…

— Sinto muito decepcioná-lo caso queria que eu esteja a sete palmos do chão — disse, ainda com o mesmo sotaque irlandês carregado que jurou nunca abandonar.

— N-não… E-eu… Você sumiu e… Merlin… Não é possível.

Remus não sabia o que pensar. Havia perdido os filhos de vista. Agora encontrava o tio deles que pensava que nunca mais veria.

Não sabia se ficava feliz ou mais preocupado.

— Acho que Karina deixou bem claro que preferia ficar ao lado do Black e não me ver mais se não concordasse… Sempre soubemos respeitar o desejo um do outro — Killian disse.

— Killian…

— Ela também está aqui?

— O-o quê?

— A Karina também veio? — perguntou.

— Você não… A Karina…

Remus sequer conseguiu formular alguma frase. Ainda estava em choque, atordoado por rever Killian depois de tanto tempo. E agora ele perguntava pela irmã.

Pensou que Killian não apareceu no funeral porque estava magoado com ela, com raiva.

Mas ele não sabia. Ainda não sabe.

— Nunca mais nos falamos, mas… Merlin! Espero que ela esteja segura agora.

Lupin não disse nada.

— Não esperava você aqui… E-eu… — Killian respirou fundo. — Acharia melhor deixar todas as questões para depois. Melhor você ir para um lugar seguro.

— Não posso! E-eu… M-meus filhos… E-eu… — Remus engoliu em seco. — E-eu perdi meus filhos.

— Você tem filhos?

Remus apenas assentiu com a cabeça. Não era hora para entrar em detalhes técnicos de sangue e adoção.

— Eles e os amigos se perderam quando estávamos fugindo. Eu preciso encontrar eles.

— Eu também estou procurando minha filha… Ela estava com os Lovegood, mas se perdeu no meio dessa maldita confusão. Você não a viu? Mais ou menos 1,68 de altura, cabelo castanho… Ela se parece um pouco com a Karina, na verdade. O nome dela é Louise.

— Ela estava no camarote…

— Sim! Você viu?

— Não depois do jogo…

— Como são seus filhos? Eu te ajudo a procurar.

Remus olhou ao redor, nervoso. Céus! Não acreditava no que estava acontecendo, mas precisava encontrar seus filhos.

— Eles são gêmeos… Altos, cabelo preto, olhos meio acinzentados... Com certeza devem estar com suas varinhas e muito nervosos. Um deles tem uma marca de nascença perto do olho...

— Acho que posso ter visto um deles… Um garoto assim obliviou um Comensal que estava me atacando.

— Atacou um Comensal?

— É… Bem corajoso.

Remus suspirou aliviado.

— Isso é a cara deles.

— Eu o mandei ir para a floresta e ficar seguro com a família.

— Só um deles? Sozinho?

— Sim...

— Ah Merlin… Eles se perderam um do outro também.

Remus levou as mãos ao rosto. Ao menos ainda tinha esperança de que eles ainda estivessem juntos. Não conseguia imaginar os dois separados no meio desse caos.

— Calma! Eu te ajudo a encontrar eles.

— Também preciso achar os amigos deles. Um é… Filho do James e da Lily. Você não teria dúvidas se o encontrar.

— Parece que todos continuaram juntos até hoje.

— Acho que você não sabe de muita coisa…

— Vamos procurar nossos filhos e o papo fica para outra hora.

— Claro! Sim, eu… Vamos.

Eles voltaram a cruzar o acampamento em busca dos filhos, sem dizer mais nada. Nada sobre a grande briga na última vez que se viram. Nada sobre Karina ou Sirius. Nada sobre eles. Apenas uniram forças para encontrar as pessoas mais importantes de suas vidas.

Não seria fácil falar naquele caos também, é claro. Haviam muitas coisas. Toda a história entre eles…

Um dos maiores arrependimentos de Remus foi ter magoado tanto Killian. E ele sumiu antes que Lupin sentisse que se desculpou o bastante.

— Er… Ministério Francês? — Remus disse de repente.

— Eu tive um bom professor da língua francesa — Killian respondeu. Remus ficou vermelho imediatamente. — Achei que seria um bom lugar para me esconder daquela maldita guerra e recomeçar. Não quero entrar nessa questão de novo agora, Remmy.

— Mas você nem deu notícias. Todos pensavam que os Comensais podiam ter te matado.

— Eu não ia morrer como todos os outros homens da minha família. Meu pai, meu avô, meu bisavô… Todos morreram em guerras. Eu literalmente nasci no meio de uma guerra na Irlanda. Não, obrigado. Dessa vez, eu quis me proteger. E vocês deixaram bem claro suas posições, não iam desistir de lutar contra um sádico que, olha só, ainda está com seus seguidores firmes por aí caçando pessoas como eu!

— Claro que não! Não podíamos ficar parados.

— Maldito heroísmo grifinório… Até minha irmã entrou nisso. Me diga, ela ainda está com aquele cachorro por quem você babava ou caiu na real?

Remus não disse nada sobre ela. Não conseguia criar coragem para falar o que havia acontecido com Karina.

— É bom saber que não tivemos notícias dos Comensais nos últimos 13 anos até hoje.

— E logo hoje foram voltar, que maravilha! Deveria ter mandado outro no meu lugar e ficar na França… E ainda queriam me mandar à Escócia em outubro. Depois de hoje, nem pensar.

— O que houve com você, Killian?

— Por que pergunta?

— Você literalmente desapareceu e volta como se nada tivesse acontecido completamente diferente…

— Como saberia se estaria diferente se nos reencontramos há cinco minutos?

Killian voltou os olhos para Remus, as íris refletindo o fogo. Lupin teve certeza absoluta naquele instante que ele não era mais o mesmo.

Remus também não era, mas ainda assim…

— Ouvi alguns rumores entre os aurores britânicos sobre Black estar envolvido nisso… Eu estava certo, então? — Ele voltou a caminhar.

— Sirius não é como a família dele.

— Dissemos o mesmo sobre Regulus — falou. — E ele pelo menos mudou de ideia depois de ver o que aquele monstro seria capaz de fazer… Foi inteligente de fugir. Duvidaria que Sirius faria o mesmo.

— Sirius não é um Comensal! Ele é inocente.

— Você realmente mudou nada… E não só fisicamente…

— Você sumiu sem dizer nada quando sua irmã mais precisou de você, não pode me julgar por defender quem é importante pra mim!

Killian parou de andar e voltou-se para Remus outra vez, os olhos queimando.

— A Karina que me afastou! Você me afastou, Remus! — exclamou, lágrimas brilhando em seus olhos, mas nenhuma rolou por seu rosto. — Não fui eu que escolhi isso sozinho.

Remus engoliu em seco, abaixando o olhar. Seu coração se apertou, enquanto aquela culpa antiga o remoeu por dentro.

— Eu estou aqui a trabalho. Vamos procurar a minha filha e os seus... — disse Killian, suspirando pesado.

— Killian…

— Louise!

Killian correu de repente. Remus o seguiu, confuso, até vê-lo abraçar uma garota que desabou ao em seus braços, ambos ficando de joelhos no chão. A reconheceu do camarote e abaixou-se ao lado dela imediatamente.

Ela tossia, com pedaços da roupa chamuscados e o rosto sujo, a varinha firme em sua mão.

— Você está bem? — Killian perguntou a ela, em irlandês.

— Eu tentei me esconder e te encontrar — respondeu, também em irlandês.

— Precisa sair daqui — Remus disse, falando no mesmo idioma que eles. — Louise, eu estava no camarote também. Você viu meus filhos, os gêmeos que estavam perto de você? Ou Harry, Liah…?

— Liah… Aquela família ruiva na frente com a gente. Vi ela com eles — respondeu. — Não vi mais ninguém.

— Ninguém?

Ela negou com a cabeça.

— Você está bem, isso é bom — Killian disse, abraçando a filha e beijando sua testa.

Remus respirou fundo, observando ao redor e então voltando os olhos para os dois à sua frente. Ele ainda estava muito confuso e sem acreditar que Killian estava mesmo ali, depois de tanto tempo. Mas estava. Não era loucura da sua cabeça.

Somente então ele percebeu que Killian tinha razão. A filha realmente lembrava a tia em alguns traços, principalmente os olhos. Talvez por isso ele tivesse escolhido para ela o nome do meio de sua irmã. Do mesmo jeito que Sirius também deu o nome de Regulus para Therion.

Remus só havia visto aquela preocupação e carinho no olhar de Killian para a filha em seus braços sendo direcionados para duas pessoas na vida. A irmã… E ele próprio.

E ele entendia muito bem o que deveria estar sentindo agora. O desespero por perder uma das pessoas mais importantes para si naquela confusão.

— Nós vamos encontrar seus filhos também — Killian disse a Remus.

— Eu vou encontrá-los. Leve sua filha para um lugar seguro — disse.

— Ainda podemos te ajudar, Remus.

— Ela precisa mais agora.

— Tem dezenas de Comensais aqui!

— Eu sei me virar. Não precisa mais se preocupar comigo — falou, forçando um fraco sorriso e ficando de pé. — Só… Fique bem.

Remus se virou e começou a seguir em frente.

— Remmy!

Lupin não olhou para trás. Apenas andou mais rápido e foi atrás dos seus filhos. Precisava encontrá-los o quanto antes.

Ele passou por aurores e ouviu comentários. Ouviu o nome de Sirius entre eles, entre as pessoas fugindo.

"Sirius Black aqui"

"Fugiu com um garoto"

Com um nó na garganta, Remus correu em direção a floresta. Se viram Sirius e ele encontrou os meninos, esperava que tivesse ido para lá. Analisou atento cada canto diante de seus olhos, concentrando-se em cada mínimo detalhe percebido por seus sentidos naturalmente um pouco mais apurados que o normal.

Quando ele enfim avistou Sirius no chão abaixo de uma árvore com o filho parecendo tão frágil em seus braços, Lupin não se conteve. Desabou ao lado deles e puxou o garoto para si, que o abraçou no mesmo instante.

— Você está bem? — perguntou, não contendo nenhuma lágrima e deixando-se chorar. Ele raramente se permitia chorar na frente dos filhos.

Therion apenas balançou a cabeça negativamente. Não, ele não estava bem. Queria ir embora pra casa.

Sirius abraçou os dois, aliviado que estejam bem, mas ainda estava preocupado. Não estavam todos reunidos.

— Onde está Canis? — Remus perguntou. — E Harry?

— Eu não os encontrei… — Sirius respondeu baixo.

— Precisamos achar o Harry, o Canis, a Liah... — Therion murmurou. — E-eles… Eles não estão poupando ninguém! Vão machucar eles…

— Se acalme — Sirius pediu, abraçando o garoto junto a Remus. — Respire fundo… Vamos encontrar eles. Eles são fortes e poderosos, ninguém vai machucá-los.

— Eu ouvi! Eu ouvi…

— Respire e se concentre de novo. Não pense nisso, eles vão ficar bem — Sirius continuou a falar, baixo e calmo, acariciando os cabelos de Therion. — Esvazie a mente e fique calmo, Reggie.

Remus encarou o Black, com os olhos levemente arregalados ainda derramando lágrimas como chuva. Os olhos acinzentados encontraram os seus por alguns momentos, numa conversa silenciosa.

— Isso… Acalme-se, tudo vai ficar bem — Sirius continuou falando com o filho.

— Harry…

— Vamos encontrá-lo — Remus disse, tentando tranquilizar ao filho e a si mesmo.

— Não… Harry…

Therion ergueu a cabeça e tentou se levantar, mas não tinha forças. No mesmo instante eles ouviram passos se aproximando. Remus pegou sua varinha e se afastou, enquanto Sirius continuou abraçando o garoto e segurando-o em seus braços.

Lupin analisou os arredores atento, com a varinha pronta para o ataque caso fosse preciso. Ele suspirou aliviado ao ver Harry correr aos tropeços na direção deles.

Potter abraçou Remus fortemente, e ele retribuiu o ato na mesma intensidade, beijando o topo de sua cabeça.

— Harry, você está bem? Se machucou? — Remus perguntou preocupado, segurando o rosto dele entre suas mãos.

— Estou bem! Eu… — Harry respondeu e olhou para trás, franzindo o cenho. — Para onde ele foi?

— Quem?

— O bruxo que estava me ajudando a procurar vocês. Ele estava bem atrás de mim! Estava procurando a família dele também.

— Provavelmente deve ter ido atrás da própria família então. O importante é que você está bem.

Harry continuou confuso. Não percebeu o momento que Archie havia sumido. Foi quando avistou eles? Ou antes disso?

Ele voltou os olhos para Sirius e Therion. Deixou tudo aquilo de lado e jogou-se sobre eles. Therion agarrou-se a ele, apertando os braços em torno de seus ombros e enterrando o rosto em seu pescoço, desabando em lágrimas.

— Você se feriu? — Harry perguntou, abraçando forte a cintura de Therion.

— Fiquei com tanto medo… — sussurrou.

Harry também teve medo, mas não admitiu isso. De todo jeito, Therion sabia que sim.

— Eu estou bem — disse para não preocupá-lo e segurou seu rosto entre as mãos, secando suas lágrimas. — Viu? Estou bem.

Therion apenas balançou a cabeça, e Harry beijou seu rosto, aconchegando sua cabeça no ombro e voltando a abraçar sua cintura.

Sirius não se afastou deles, aliviado por tê-los ali juntos consigo. Agora apenas faltava encontrar Canopus. E essa era a maior preocupação de Remus agora que Harry estava ali com eles em segurança.

Lupin passou os últimos dois meses se preocupando ao extremo com o bem estar de Canis desde que o machucou na lua cheia. Não havia um único mínimo suspiro de incômodo que não chamasse sua atenção. Agora, não saber onde ele está, que dores pode estar sentindo, o quão ferido pode estar… Está minando sua sanidade.

Therion já estava quase à beira de um colapso, mesmo que não soubesse até ali exatamente todos os motivos. Imaginar Canopus tão mal ou pior…

Precisava se firmar ao pensamento de que ele era o Canopus. Por mais que o fizesse ficar de cabelos em pé, ele sabia atacar e se defender, sabia usar mais feitiços do que deveria saber em seu nível de estudo em Hogwarts.

Seus meninos eram os melhores. Therion e Canopus são os jovens bruxos mais poderosos e habilidosos de sua turma, entre os mais daquela geração de alunos.

Pela primeira vez, Remus esperava que Canis não se controlasse. Esperava que usasse todo aquele fogo dentro dele para se proteger e ficar bem e seguro até encontrá-lo. Ele precisava estar bem.

Ele não está — Therion sussurrou.

— O que disse? — Harry perguntou.

— Canis… Ele não está bem — murmurou, sem soltar Harry.

— Você sente? — Sirius perguntou. Therion assentiu. — Não acredito que sua mãe estava certa de novo… Vamos encontrar Canis. Vou precisar da sua ajuda, Theo.

***

Quando Canopus fechou os olhos e demorou a abri-los, Draco entrou em desespero.

— Você nem ouse morrer agora, entendeu?! — disse após ver os olhos acinzentados se abrindo e permanecerem semicerrados.

— Eu te disse… Não vai se livrar de mim tão fácil — Canopus retrucou com um sorriso de canto. — Só estou com sono. Eu acordei às três da madrugada para estar aqui.

— Não dormiu depois do almoço?

— Só por uma meia hora… Fui com a Liah na área de acampamento dos brasileiros. Era bem animado!

— Não pode dormir agora.

— Eu estava dormindo antes do seu pai e os amigos Comensais fazerem isso, então não pode me julgar por estar com sono — resmungou. — Não vou morrer se tirar um cochilo. Muito menos por causa de um pé quebrado.

— Melhor não arriscar.

— Se eu não posso sair daqui e ir atrás do meu irmão e do meu pai, pelo menos me deixe dormir.

— Por que insiste em ser tão teimoso?!

Canopus fechou os olhos mais uma vez e comprimiu os lábios. A dor era forte, quase tanto quanto os arranhões quando eram recentes. Ao mesmo tempo que a dor o mantinha acordado, o fazia quase desmaiar.

Infelizmente, ele não conhecia os feitiços medibruxos para consertar ossos quebrados. Muito menos teria acesso às poções.

E estava com muitA febre, sabia disso. Havia vestido sua jaqueta de volta ao sentir calafrios, mas seu corpo ainda tremia levemente. Queria muito levantar e correr atrás de todos, mas sabia que não conseguiria.

Odiava ter que admitir que Draco estava certo. Ele não iria longe com aquela fratura. Seu pé estava bastante inchado agora, com manchas roxas.

Tinha certeza que Remus o arrastaria até o St. Mungus assim que o encontrasse.

— Canopus!

— Eu estou acordado — disse, com a voz mais fraca e rouca. Sua boca estava seca.

Draco chacoalhou-o segurando seu ombro até que abrisse os olhos outra vez. Black suspirou, encarando-o exausto e entediado.

Malfoy retirou o paletó de seu terno e cobriu Canopus ao ver o quanto estava tremendo, com frio. Canis não recusou, estava mesmo com muito frio.

— Eu não tenho mais o que falar, Malfoy. Então nem venha insistir.

— Fala qualquer coisa! Só fique acordado — pediu. — Sei lá… O que mais aconteceu nas suas férias?

— Por que não fala das suas? Ficou planejando esse ataque com seu pai?

— Eu fiquei na biblioteca da minha casa lendo e cuidando dos pavões. Não tive nada a ver com isso aqui.

— Você lê? Novidade.

— Eu leio quase tanto quanto você… Só não sequestro todos os livros da biblioteca como você e seu irmão — retrucou.

— Você fala tanta besteira que é difícil acreditar.

— Leio o que acho interessante. Você que devora todos os livros que vê pela frente. Só você fica feliz por ganhar um livro de presente.

— Porque eu amo ler. Quanto mais melhor. Meu pai sempre comprou livros pra mim e pro Therry… Já sabe o que me dar de aniversário.

— Eu não vou te dar um presente de aniversário.

— Só estou nessa situação por culpa da sua família. Um livro de aniversário é o mínimo que mereço.

Canopus se encolheu como pôde, com uma careta de dor.

— Está delirando ainda mais de febre.

— Talvez um pouquinho. — Ele riu fraco, grunhindo de dor em seguida. — Eu queria ter uma biblioteca em casa… Acho que vou transformar o escritório da minha mãe em biblioteca.

— Que escritório?

— O que ela usava para trabalhar em casa. Estou morando em Rowen's Valley… Na casa onde eu nasci.

— Um sonserino nascendo no vilarejo que é uma homenagem a Rowena Ravenclaw. Que ironia.

— Não mais que Harry ter nascido em Godric's Hollow.

Draco riu baixo. Ele tocou a testa de Canopus e afastou a mão rapidamente ao perceber o quão quente estava, encarando-o preocupado.

— Está pior.

— Sua preocupação está quase me convencendo, Dragãozinho. Deveria ser ator.

— Eu realmente estou preocupado! — exclamou. — Está queimando tanto que parece febre de dragão.

— Seria uma droga pegar febre de dragão agora. Eu já tive… Não foi legal.

— Imagino, também tive quando era pequeno.

— Um dragão com febre de dragão — Canopus riu. — Hilário.

— Não começa.

— Vamos apostar. Quanto tempo acha que demora para eu começar a soltar fumaça ou convulsionar?

— Isso não é engraçado, Canopus.

— É melhor que ficar me lamentando até alguém nos encontrar. Estou bem, não devo estar ruim a esse ponto.

— Porra, Black! Será que você não consegue ver que não está bem?! Vai te matar admitir isso?! _ Draco elevou a voz. Canopus riu. — Do que está rindo agora?

— Para você estar xingando, está mesmo irritado.

Ele estava. Irritado e preocupado. Irritado porque Canopus não parecia nem um pouco preocupado consigo mesmo, o que seria esperado de qualquer sonserino que se preze.

— Seja sincero. Até mesmo depois que o Lupin te arranhou, você nem conseguia ANDAR normalmente e saía por aí como se estivesse tudo bem! — falou.

— Eu estava me curando muito bem.

— No dia de ir embora você ainda sentia dor. Eu vi, Canopus. Se duvidar, ainda sente. — Canis ficou calado. — Por que não aceita que não está bem?

— O que eu ganho fazendo isso?

— Ninguém vai poder te ajudar se não falar quando não está bem.

— E quem disse que quero ajuda? Eu sei me cuidar sozinho.

— Okay. Então devolve meu paletó, eu vou embora e te deixo aqui para se cuidar muito bem sozinho.

— Nem fodendo — xingou Black, puxando a peça para cobrir mais seu corpo.

— Deveria lavar sua boca com sabão.

— Está frio pra caralho.

— É verão, e você está com febre.

— Não enche, Malfoy.

Draco suspirou e puxou a manga do paletó sobre o corpo do Black para secar o rosto ensopado de suor. Canopus não reclamou nenhuma das vezes que fez isso.

— Você ainda não respondeu.

— O quê?

— Por que nunca admite quando não está bem?

— Um traço compartilhado por todos os sonserinos? — riu. — Somos orgulhosos.

— Você extrapola os níveis saudáveis.

— Você não é diferente, admita.

— Não.

— Então também não admito nada. E eu estou bem… Na medida do possível. Quando meu pai me encontrar… Ele vai ver que estou bem.

Malfoy desistiu. Continuou ali, apenas observando preocupado e atento.

Canopus lutou para continuar de olhos abertos, a mente ainda um tanto nublada pela febre e o sono. Estava muito difícil. Usava todas as suas forças.

Draco também estava começando a precisar lutar contra o sono e cansaço, mas permaneceu firme. Estava prestes a tentar fazer o Black voltar a falar qualquer coisa para permanecerem acordados, quando ouviu passos próximos.

Agarrou sua varinha e aproximou ainda mais o corpo de Canopus, olhando ao redor.

— Quem está aí? — perguntou, já com o feitiço em mente pronto para se defender.

Houve alguns instantes de silêncio e então mais passos. Malfoy viu uma silhueta se aproximar pela direita e apontou sua varinha.

Então a silhueta tomou forma e entrou em seu campo de visão, também apontando uma varinha para ele. Suspirou aliviado ao ver que era só mais um bruxo jovem e não um Comensal.

— Ah, não! Você? — Canopus resmungou.

— O que estão fazendo aqui?

— Escondidos. O que esperava? — Draco respondeu. — Você estava no camarote, não estava?

— Estava. Você é o que tava com o russo, e você… Olá! Ainda estamos em trégua, certo?

Canopus bufou, os olhos voltados para o bruxo de cabelos verdes.

— Me diga pelo menos que o ataque acabou.

— Ainda não. Estou procurando o meu pai. Ele não estava na barraca quando acordei… Minha irmã foi com os Lovegood.

— Somos dois. Estava procurando o meu até parar aqui.

— Você está um caco, cara… — o garoto comentou e fez uma leve careta, se aproximando deles.

— Obrigado pelo elogio sincero… Karrie, certo?

— É… Às vezes também me chamam de Six — afirmou. — Seu pé está quebrado.

— Não me diga!

— E fervendo de febre — completou Draco. — Espero que seu pai chegue logo. Você não vai aguentar muito.

— Cala a boca, Dragãozinho.

— Ele está certo — Karrie disse após tocar a testa de Canopus.

Draco sorriu satisfeito e encarou Canopus.

— Não se gabe por alguém ser burro de concordar com você.

— Um dos meus pais é médico, idiota! — Karrie resmungou. — E você precisa de um.

— Obrigado pelo conselho, rei da obviedade.

— Me surpreende que ainda esteja acordado.

— Sou mais forte do que pareço.

Karrie tocou a cabeça de Canopus com a ponta da varinha e murmurou um feitiço.

— O que você fez? — Draco perguntou.

— Feitiço de temperatura. Para manter como está.

— Enlouqueceu?! Ele não pode ficar com febre!

— Se a temperatura aumentar, vai ser pior. Resfriamento agora, ele teria um choque térmico. Melhor manter assim até ele ser tratado por um médico — argumentou. — Considere como minha retribuição pela água.

— Eu ainda não vou esquecer aquilo — Canopus murmurou. — Vai ter volta.

— Resolvemos isso na próxima. Preciso encontrar meu pai e entender o que está acontecendo.

— Imagino que a França não tenha aulas sobre Voldemort, seus seguidores e Guerra Bruxa, ao que parece.

O rosto de Karrie imediatamente ficou pálido, esboçando espanto.

— Voldemort? Voldemort tem a ver com isso?

— Voldemort, a maldita ideologia puro sangue de pessoas como esse idiota aqui…

— Canopus, não começa, pelo amor de Merlin…

— CANOPUS!

Canopus ergueu os olhos para a floresta ao ouvir seu nome, e Karrie ficou de pé com a varinha em punho.

— É o Sirius… — disse.

— Hã? — Karrie olhou para ele de cenho franzido, confuso.

Então Sirius adentrou a clareira, carregando Therion em suas costas. Remus e Harry vinham logo atrás.

Lupin correu até o filho e jogou-se ao seu lado, puxando-o para seus braços tão rápido quanto o fez com Therion, apertando-o com força. Canopus não conseguiu conter um grito de dor ao ser puxado de forma tão repentina, e uma lágrima escorreu por seu rosto.

— Desculpa! Desculpa! — Remus pediu, desabando em lágrimas outra vez. — Te machuquei?

— Não, só… — respirou fundo. — Quebrei meu pé fugindo daqueles filhos da puta.

Remus segurou seu rosto e começou a analisá-lo com cuidado. Sirius abaixou-se e deixou Therion ao lado dele, e o garoto rapidamente segurou a mão do irmão e o abraçou.

Os gêmeos se abraçaram, aliviados de estarem juntos de novo.

— Como você tá? — Canis perguntou.

— Mal… — Therion respondeu, sincero. — E você?

— Eu tô bem, Therry… Estamos bem.

— Não estamos, seu cabeça-dura idiota! — choramingou, sem soltar o irmão. — Você não consegue me enganar.

Canis riu baixo, mas não soltou a mão de Therion.

— Você também está ardendo em febre! — Remus constatou preocupado. — Vamos até os medibruxos assim que tudo acabar, está bem?

— E a Liah? — Canopus perguntou.

— Com os Weasley. Vamos encontrá-los também.

Remus abraçou os dois filhos com cuidado.

Sirius estava aliviado por terem encontrado Canopus, mas não confiou que seria uma boa ideia se aproximar. Conteve toda a sua vontade de abraçar o garoto como Lupin fazia, por mais que isso destruísse seu coração.

— O que você tá fazendo aqui? — Harry indagou, encarando Draco seriamente. Malfoy agora estava de pé a alguns passos de distância dos Black e Lupin.

— Só estou ajudando…

— Espero muito que peguem o seu pai no meio disso tudo e ele apodreça em Azkaban! — esbravejou, avançando na direção dele.

— Calma aí, Potter! — Karrie se colocou na frente. — O que está acontecendo aqui?

— Você aqui também?

— Eu só estava procurando meu pai e encontrei esses dois. Não faço a menor ideia do que está acontecendo aqui!

— Está acontecendo que a família desse imbecil está envolvida em tudo isso! — berrou, erguendo sua varinha. — Eu deveria te amaldiçoar até não restar um fio desse cabelo engordurado!

— Quer outro duelo, Potter? Não temos professores para te defender aqui! — Draco rebateu. — Eu só estava ajudando Canopus, acredite ou não.

— Você não se importa com ninguém além de você mesmo, Malfoy! Pode ir se juntar aos seus amiguinhos supremacistas que estão atacando trouxas!

— Silêncio, garotos! — Remus ordenou.

— Mas ele…

— Estou ouvindo algo! Silêncio.

— Quem será agora? — Canopus suspirou.

Todos ergueram suas varinhas, exceto Sirius e os gêmeos — Sirius e Canis por sequer terem as suas consigo.

Remus ouviu atento. Eram passos distantes que conseguira ouvir por sua audição mais apurada, se aproximando. Os outros ouviram quando chegou mais perto, e os passos pararam de repente.

Então, uma voz quebrou o silêncio:

MORSMORDRE!

— Ah, não… — Karrie murmurou. — Não, não, não, não…

— Tem algum Comensal por perto — Draco disse.

Uma imagem verde e brilhante surgiu no céu. De início, poderiam se parecer mais alguma formação de leprechauns, mas certamente não era.

Era a forma de um enorme crânio com um cobra saindo pela cavidade da boca e se contorcendo por baixo, envolto em névoa verde. A imagem subiu aos céus cada vez mais alto.

E então, o caos retornou, pois foi possível ouvir vários gritos distantes pela floresta.

— O que pensa que tá fazendo? — Canopus perguntou ao ver Draco seguir para onde ouviram a voz.

— Nenhum deles vai me machucar. — Draco adentrou mais a floresta, com a varinha ainda em punho.

— O que é isso? — Harry perguntou.

— É a… — Sirius começou.

Marca das Trevas… A Marca do Voldemort — Karrie completou, aterrorizado. Seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas.

— Se havia alguma dúvida de que eram os Comensais de volta… Não temos mais — Remus murmurou.

— Preciso ir atrás do meu pai. Preciso encontrar ele agora.

— Você já viu isso? — Harry perguntou a Karrie.

— Eu tenho que ir!

— Ei! Não é seguro ir agora. Eles conjuraram a marca, o verdadeiro caos acabou de começar — Sirius disse.

— Eles vão matar ele!

— Nós podemos te ajudar a encontrá-lo — Harry falou.

— Preciso achar ele AGORA! — o garoto começou a chorar e tremer. — Ils vont tuer mon père! Papa… È in pericolo!

Ele virou-se para correr, mas Sirius colocou-se a sua frente. Não conhecia o garoto, mas não deixaria uma criança correr perigo no meio de todos aqueles Comensais. Virou-o para sua frente, mas ele não parava de olhar para os lados.

— Acalme-se! Nós vamos te ajudar. Não pode correr no meio dos Comensais!

Papa est en danger!

On va retrouver ton père, oui? — Sirius começou a falar ao reconhecer seu francês. — Mais c'est dangereux de sortir seul maintenant! Calmer!

Lo uccideranno… Uccideranno papa!

Andrà bene!

A troca de idiomas foi tão rápida e natural que Sirius mal se deu conta, apenas adaptou sua fala. Isso ocorria muito quando estava morando com os Potter, principalmente quando Euphemia ficava nervosa ou estava dando um sermão. Uma hora estava falando em inglês e de repente havia começado a brigar em italiano.

O garoto parou de tentar fugir e olhou para Sirius. Ficou paralisado. Black não pensou que estava sem a poção, e talvez ele pudesse ter visto seu rosto estampando jornais. Pousou as mãos delicadamente sobre os ombros dele, tentando tranquilizá-lo.

Os fios verdes começaram a escurecer, a cor abandonando-os gradativamente até ficarem tão escuros quanto os de Sirius, gêmeos e Harry.

— Você é um metamorfomago, então? — Sirius exibiu um fraco sorriso confortável. — Isso é legal! Meu tio Alphard também era um. — O garoto continuou parado, encarando-o fixamente. — Qual é o seu nome?

— Meu pai me chama de Six.

— Tudo bem, Six. Nós vamos ficar escondidos dos Comensais, mas quando isso acabar, vamos atrás do seu pai, va bene? — sugeriu. — Alors nous vous aidons.

— V-va bene...

— Não se preocupe. Está seguro aqui.

Sirius sorriu fraco e foi pego de surpresa quando o garoto o abraçou. Ficou alguns instantes sem reação, antes de acolhê-lo e levar sua mão aos cabelos dele, percebendo o quanto estava assustado.

Remus permaneceu abraçado aos filhos, pensativo. Harry ficou ao lado de Therion, segurando a mão dele.

Draco voltou pouco depois, com duas varinhas em mãos.

— Ele já foi... — Seguiu até Canopus. — Achei isso aqui.

— Minha varinha!

— Te falei que a teria de volta.

— Tem certeza de que não viu ninguém, Draco? — Remus perguntou.

— Tenho. Por quê?

— Porque estou ouvindo mais gente chegando.

— Eu não ouço nada — Harry disse.

— Porque você não é um lobisomem — Draco retrucou.

Sirius aproximou-se dos outros, levando o garoto consigo, que ergueu sua varinha, assim como Draco e Harry. Então, os cabelos de Six ficaram roxos quando alguém entrou na clareira, e ele se afastou de Sirius.

— Tonks!

— Six! Graças a Merlin!

O garoto abraçou a mulher em uniforme de auror.

— É uma auror! Sirius... — Remus alertou.

Sirius engoliu em seco, pronto para correr, mas já era tarde. A auror ergueu o rosto e o viu ali, arregalando os olhos.

— Sirius Black... — disse. Sirius ergueu as mãos para o alto com cuidado, dando passos para trás.

A auror olhou para trás, para o garoto junto a si e então de volta para Sirius e os outros.

— Fuja!

— O quê?

— Tem mais aurores chegando! Corre! — ela disse firme.

Sirius olhou para os filhos, Harry e Remus.

— Por que está me deixando fugir?

— Sua família nunca deixou de acreditar em você — ela disse. — Minha mãe não quer ver o primo favorito ser entregue aos dementadores. Agora, corre!

Sirius ofegou, pensando em sua prima. A bela Andrômeda, uma das poucas pessoas que realmente o amavam naquela família.

Ele foi até Remus e os garotos, os olhos cheios de lágrimas.

— Vamos ficar bem — Remus garantiu.

Não queria deixá-los. Nunca quis deixá-los.

Vai embora! — os gêmeos exclamaram, voltando os olhos firmes para ele.

Sirius encarou os olhos dos filhos, que estavam fixos nele. Uma lágrima escorreu por seu rosto enquanto dava passos para trás, observando seus garotos tão frágeis nos braços de Remus, Harry ao lado deles nervoso.

— Obrigado — ele disse e olhou para a auror.

Então Sirius assumiu sua forma animaga e correu floresta adentro. Poucos instantes depois, vários aurores junto de Arthur e Lyall  chegaram a clareira.

Draco guardou a varinha de Canopus rapidamente, escondendo-a da vista dos aurores.

— Graças a Merlin, vocês estão bem! — Lyall disse e correu até eles.

— Sirius Black esteve aqui? — um auror perguntou.

— Não — Tonks respondeu firme, ainda abraçando Six. — Nenhum sinal dele.

Ela olhou na direção onde Remus estava com os garotos. Lupin apenas repetiu sem som o que Sirius disse antes de ir: Obrigado.

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Olá, meus amores!
Tudo bem?

Voltamos com um capítulo enorme e super recheado de emoções.

Nossa querida Tonks apareceu mais cedo! Ela deixou Sirius ir 🥺🥺

TITIO KILLIAN TA VIVÍSSIMO, MEU POVO HEHEHE Vai trazer muita emoção ainda fkdkks

O que acharam da aproximação de stardragon? Um lindo momento em meio ao caos. Muita briga? Sim! Mas ainda muito lindinhos. De pouco em pouco, eles caem de amores!

Therion sofrendo demais coitado. Harry teve uma bela ajuda hehehe

Espero que tenham gostado! Não esqueçam de comentar bastante!

Em breve retorno com mais!

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋

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