XXIX. A real family
Nos primeiros dias, Canopus e Therion ignoraram a presença de Sirius na casa, tentando seguir a vida normalmente.
Remus tentou conversar com eles. Aceitaram a ideia de manter Black escondido, mas não significa que tudo com ele se resolveria num passe de mágica, mesmo que fossem bruxos. Ao menos, Therion o cumprimentava quando o via, o que já era um bom começo.
Sirius não demorou a perceber com qual gêmeo teria mais dificuldade de se relacionar e que, por mais que Therion estivesse mais adepto a ideia de tê-lo ali e entendesse seu lado, também não era fácil para ele. Entendia o lado dos filhos, mesmo que doesse a distância que ainda havia entre eles apesar de agora estarem convivendo juntos na mesma casa.
Ele ao menos fazia o seu melhor para tornar tudo agradável e se aproximar com cautela, com ajuda de Remus.
Eles começaram a arrumar a casa no dia seguinte que Remus e os garotos se mudaram, limpando a sujeira e arrumando os móveis velhos e empoeirados. Alguns eles levavam para o porão, outros, apenas davam uma limpada ou restaurada.
Certo dia, os gêmeos estavam pintando a parede de seu quarto com uma tinta verde e Remus estava tentando reorganizando a sala de estar, quando uma coruja chegou.
Após certo tempo, os garotos ouviram ouviram Remus gritar:
— SIRIUS ORION BLACK!
Therry e Canis se entreolharam rapidamente.
— Ele usou o nome completo — disse Therion.
— Isso significa que Sirius está muito ferrado — completou Canopus e sorriu de canto. — Vou adorar ver isso.
Os dois correram para fora do quarto e deixaram os pincéis enfeitiçados pintando a parede sozinhos. Eles pararam no meio das escadas e se apoiaram no corrimão, olhando para baixo e vendo Remus segurando uma carta com uma expressão de raiva.
Sirius saiu do porão, onde estava arrumando as coisas que não deixariam na casa. Ele olhou para Remus apreensivamente. Todas as vezes em que já o chamou pelo nome completo naquele tom, ele recebeu um longo sermão. Conhecia bem Lupin e sabia que ele estava irritado consigo por alguma razão.
Não sabia o que havia feito, mas, o que quer que fosse, Remus não tinha gostado nada.
— Oi, Moony… O que houve? — perguntou cuidadosamente.
Remus encarou Sirius seriamente, expondo para ele a carta, um documento e uma chave. Uma chave de um cofre de Gringots. Sirius logo percebeu o que era.
— Eu juro que ia te falar.
— Quando é que pretendia me contar?
— Quando estivesse terminado… Parece que deu tudo certo — disse e forçou um sorriso, aproximando-se devagar de Remus.
Eles ainda não notaram os garotos observando sentados nos degraus e segurando as grades do corrimão enquanto olhavam tudo.
— Quando fez isso?
— Pedi ao Dumbledore quando ele veio falar comigo… Depois da Casa dos Gritos.
— Você pediu ao Dumbledore para conseguir que eu e os meninos tivéssemos acesso ao seu cofre sem me falar nada?!
— É... Ele tem contatos entre os duendes, conseguiria passar pela burocracia bem mais rápido.
— Você só pode estar brincando comigo...
Therion e Canopus arregalaram os olhos, boquiabertos.
Remus ainda encarava Sirius com seriedade, enquanto Black coçava a nuca e desviava o olhar. Ele não tinha o direito de fazer aquilo sem lhe dizer nada.
Quando a carta chegou, com Dumbledore dizendo o que Sirius tinha pedido, e ele havia feito, sentiu-se extremamente irritado. Ele nunca aceitaria aquilo. Durante todos aqueles anos ele trabalhou e se esforçou para dar o melhor que podia aos filhos, sozinho. Não era agora que ele iria querer o dinheiro de Sirius para alguma coisa.
Sirius sabia que Remus não iria aceitar, por isso não disse nada. Mas, ele certamente não iria acessar seu cofre tão cedo, e tudo que havia ali era de Therion e Canopus também por direito e queria ajudar de alguma forma.
— Eu não preciso que você me sustente, Sirius!
— Não, Moony, não me entenda errado…
— Entender errado? — Remus riu com descrença. — Sirius, não há muitas interpretações possíveis para isso. Posso não ter um emprego agora, nem uma grande fortuna no cofre, mas não com certeza não estou precisando de caridade!
— Esse dinheiro também é deles. Tudo que é meu também pertence a eles, a nós. Só queria ajudar!
— Eu posso muito bem sustentar os meus filhos com o meu dinheiro, do meu trabalho! — esbravejou.
— Eles são meus filhos também! — Sirius exclamou.
— Não somos, não — os gêmeos retrucaram.
Sirius e Remus olharam para a escada, somente então notando a presença dos garotos. Lupin respirou fundo, massageando as têmporas, enquanto Black olhava para eles.
— Desculpa aí, Sirius, mas você não vai recuperar esse título tão rápido — Therion disse encarando o pai biológico.
— De todo jeito, agradecemos pelo cofre — Canis disse e olhou para Remus. — Vamos poder fazer compras? Estamos precisando de roupas novas.
— Um beliche novo também. Não quero que o Canis despenque em cima de mim no meio da noite.
— Não! — rebateu Remus. — Voltem para o quarto, meninos, e me deixem falar com Sirius.
— Ah, papai… — eles bufaram.
— É o mínimo que merecemos — disse Canis, dando de ombros. — Compensação pelos 12 anos de abandono. Não quero nada dele, mas com isso eu mesmo posso me presentear.
— E tecnicamente, ele tá certo sobre ser direito nosso. — Therion também deu de ombros, e Sirius o encarou.
— Subam, agora! — Remus ordenou outra vez, sério e autoritário.
Os garotos tornaram a bufar, mas obedeceram e subiram de volta para o quarto. Lupin voltou a encarar Sirius, com a raiva e o orgulho dominando seu peito naquele momento.
— Eles parecem concordar com a ideia — Sirius tentou argumentar, sorrindo de canto.
— Isso não muda o fato de que você fez tudo sem falar comigo e pensa que não posso nos manter sozinho!
— Não deixe o seu orgulho distorcer toda a situação, Moony. Eu nunca disse isso.
— Está me chamando de orgulhoso?
— Moony!
— Eu não preciso de acesso ao seu cofre, nem do seu dinheiro!
Therion e Canopus pararam no meio do caminho para o quarto e voltaram, parando dessa vez escondidos no topo da escada para não serem vistos. Estavam curiosos demais para perderem toda a discussão.
Viram Remus e Sirius continuarem a discutir aquele assunto por longos minutos, Lupin Intransigente e certo de que não queria aquilo, enquanto Black tentava convencê-lo do contrário.
— Tem chocolate? — Canis perguntou sussurrando.
— Accio — Therion convocou uma barra do quarto e dividiu com o irmão. — Isso vai demorar.
E realmente demorou.
Seguiu-se longos minutos de discussão até acabar.
Remus bufou e virou-se de costas para Sirius, grunhindo irritado. Ele detestava que pensassem que ele sempre precisaria de ajuda para algo e não conseguiria se manter sozinho.
Sirius queria tentar fazê-lo entender que sua intenção nunca foi dizer que ele não conseguiria mantê-los, por mais que soubesse que havia dificuldades. Sabia o quanto Remus era esforçado. Porém, ele também queria ajudar e que os filhos pudessem ter de tudo que não pôde dar nos últimos anos.
— Moony, eu nunca quis deixar a entender que você não conseguiria manter tudo somente com o seu trabalho — tentou mais uma vez, com calma, aproximando-se de Remus.
— Não foi o que me pareceu.
— Desculpa por não falar com você, mas eu sabia que não aceitaria.
— Então por que fez?
Lupin virou-se de frente para Black mais uma vez, com os braços cruzados. Sirius parou bem a sua frente e segurou seus braços delicadamente, fixando os olhos nos seus.
— Porque eu senti que deveria e que precisava ajudá-los — respondeu calmamente. — Olhe… Você não precisa parar de trabalhar, se não quiser.
— Eu não vou, com certeza.
— Ainda vai ter o seu trabalho, o seu dinheiro, eu só quero ajudar. Isso é por nós e por eles. É para eles também, acima de tudo. Eu sei que você consegue, mas… Também pode aceitar, sim? Pelos meninos.
— Usar eles pra me convencer é jogo sujo e um golpe muito baixo até mesmo para você — Remus resmungou, e Sirius riu.
— Só estou dizendo a verdade.
Remus ponderou por um tempo e suspirou, levando as mãos ao rosto. Encarou Sirius, que o observava aguardando que dissesse algo. Aqueles olhos azuis-acinzentados lhe encarando ansiosos mexiam profundamente com suas estruturas.
Black deixava-o nervoso e ansioso como um adolescente com os hormônios à flor da pele, mesmo depois de tanto tempo.
Não sabia por quanto tempo mais aguentaria isso sem explodir de vez.
— Tudo bem, os meninos podem continuar com o acesso ao cofre e usar o dinheiro se quiserem e acharem necessário… — respondeu, e Sirius sorriu. — Mas eu não vou encostar em um único galeão; no máximo, ajudá-los a administrar até serem maiores de idade.
— Moony...
— Sem discussão, Sirius. Esse dinheiro é seu e deles, não meu. Eu vou trabalhar e conseguir o meu próprio dinheiro, para manter a mim, minha casa e os meus filhos.
— Tudo bem, mas não é só meu.
— É o dinheiro que o seu tio Alphard deixou de herança para você e, por direito, também é herança do Therry e do Canis. O meu dinheiro eu consigo com o meu trabalho, e vou arranjar outro, de algum jeito.
Sirius suspirou, balançando a cabeça.
— Tudo bem, como você quiser. Não vou te impedir disso — concordou. — Merlin, você e Karina são muito teimosos com isso.
— Não exagere, Pads. Ela estava muito bem quando voltou a trabalhar. Se tem algo que eu e ela sempre concordamos é que podemos nos sustentar sozinhos, sem você.
— Vocês são muito orgulhosos e teimosos, isso sim. Me tiravam do sério.
Remus riu baixo.
— Você não pode falar muito disso, Sirius. Therry e Canis tiveram a quem puxar.
— E nesse quesito, não foi a mim. Eu fiquei com o dever de passar as melhores partes, por isso são tão lindos.
Lupin revirou os olhos e riu outra vez, negando com a cabeça.
— Podem descer. Sei que estão aí — falou e olhou para as escadas. — Não falei para irem pro quarto?
— O senhor nos conhece, papai. Não sei do que está reclamando — Canopus falou, sendo o primeiro a descer, escorregando sentado pelo corrimão. — Afasta aí, Sirius.
O garoto empurrou Black para longe do pai, abraçando Lupin de lado em seguida. Remus conteve uma risada, enquanto pegava um pedaço do chocolate na mão do filho e comia.
— Então, podemos fazer compras? — perguntou com um sorriso que transmitia uma inocência que Remus sabia que ele não tinha.
— Tudo bem, podem — ele cedeu, respirando fundo. — Mas eu vou com vocês.
— Isso! — Therion comemorou enquanto descia as escadas, pulando o último degrau direto para o térreo. — Podemos comprar um presente pro Harry? O aniversário dele tá chegando.
— E algumas coisas novas pro quarto? Roupas também!
— Sim. Vocês já devem estar cansados de usar minha roupas.
— Não são ruins, mas algumas são grandes demais — disse Therion.
— Viu? Eles gostaram — Sirius disse.
— Isso não significa que eu ainda não esteja bravo com você. Estou pensando neles.
Os garotos sorriram e abraçaram Lupin juntos. Sirius suspirou, mas não conteve um pequeno sorriso por ver os gêmeos com Remus, tão apegados a ele.
— Você tinha mesmo um tio chamado Alphard? — Canopus perguntou de repente, olhando para o outro Black.
— Sim.
— Por isso o meu nome?
— É — respondeu, sorrindo para o garoto. — Ele me ajudou bastante, achei justo a homenagem.
— Achei brega.
— Agora sabe o porquê do seu nome, Alphard — Therion disse, provocando o irmão.
— Fica quieto, Regulus.
— De onde veio Regulus, aliás?
Sirius comprimiu os lábios com a pergunta, desviando o olhar tristemente com a lembrança que veio a sua mente. Remus rapidamente percebeu como ele ficou, e o interrompeu quando abriu a boca para responder.
— Estrela mais brilhante da constelação de Leão. É o animal da Grifinória.
— Sério? Por isso? — Therion franziu o cenho em uma careta de descrença.
— Combina com você, Regulus. Você é o empata-chapéu com a Grifinória.
— Cala a boca, Alphard.
— Já terminaram de pintar o quarto? — Remus perguntou, mudando de assunto.
Os garotos arregalaram os olhos e xingaram baixo enquanto corriam de volta para o quarto, pois haviam se esquecido completamente dos pincéis encantados que deixaram sozinhos ali. Remus riu, balançando a cabeça, e olhou para Sirius.
— Não precisava mentir.
— Eu sei que ainda é um assunto doloroso, Sirius. Um dia você pode dizer.
— Obrigado — agradeceu.
Remus sorriu fraco, enquanto Sirius segurava sua mão. Ele fez um carinho leve nas costas da mão de Black com o polegar e deixou um beijo rápido em sua testa instintivamente, e então subiu atrás dos gêmeos.
Sirius deixou-se sorrir fraco com o ato enquanto via Lupin começar a falar com os garotos ao subir. Apesar dos pequenos problemas, ele estava adorando estar perto deles de novo.
***
— Número 4… É ali mesmo? — Therion perguntou, enquanto observavam de longe a casa.
— Parece que sim — disse Canopus, segurando um mapa da cidade em sua mão. — Devíamos ter insistido pra Liah vir conosco. Ela entende bem mais de locomoção no mundo trouxa.
— O avô dela estava precisando de ajuda no trabalho, sabe como ela se preocupa com ele e não deixaria de ajudá-lo. Ela pelo menos nos deu instruções para chegar a joalheria mais tarde.
— Harry pode nos ajudar nisso também.
Lá estavam os gêmeos Black em sua missão de ajudar a Harry Potter na Rua dos Alfeneiros em um dia ensolarado. A residência dos Dursley estava há poucos metros a frente deles na rua monótona e pouco movimentada.
Haviam saído de casa logo cedo para chegar o mais rápido possível e terem bastante tempo com o amigo, muito bem preparados para um dia no mundo trouxa.
Enquanto Remus estava à procura de um novo emprego, os garotos decidiram aproveitar que boa parte da casa já estava arrumada para sair e ficar com Harry. Lupin deu permissão para usarem magia se julgassem necessário, mas apenas para proteção, caso algo acontecesse, e os fez jurar que enviariam um patrono em caso de emergência. Por precaução, Sirius também entregou a eles um pedaço do espelho de dois sentidos que usava para falar com James, que Therion guardou em seu bolso com muito gosto pelo significado que tinha.
Além de tudo, eles haviam passado por Gringots dias antes, quando visitaram o cofre para comprar algumas coisas, e trocaram alguns galeões por dinheiro trouxa. Estavam mais que preparados.
Sirius permaneceu em casa sozinho, já que não poderia sair. Ele costumava ficar deitado no tapete da sala de estar na forma animaga quando Remus e os gêmeos saíam, apenas aguardando a volta deles e mantendo a casa muito bem guardada e segura.
Canopus o apelidou de "cão de guarda".
Naquele momento, Harry estava em seu quarto, como ficava durante a maior parte do dia. Estava sentado próximo a janela, aproveitando-se da luz para desenhar em seu caderno, que havia comprado quando esteve hospedado no Caldeirão Furado no verão anterior.
Ele pegou o minúsculo lápis de cor verde, pequeno demais depois de apontá-lo várias vezes, e começou a pintar a roupa do uniforme de quadribol do garoto que havia desenhado junto de uma vassoura. Fazia tudo distraidamente, sem dar atenção a sua arte. Muitas vezes ele se deixava levar pelo instinto e se perdia em meio ao desenho, cada traço saindo como se tivesse vida própria.
Então, ele ouviu vozes, e pensou que estava ficando maluco e começando a alucinar. Até que ouviu a campainha e as vozes ainda lá.
Ele aproximou-se da janela e olhou para baixo. Seu coração quase saltou pela boca com o susto ao ver os gêmeos ali e quase derrubou seu caderno na calçada. Até mesmo tirou os óculos e limpou as lentes para ter certeza que estava vendo bem.
— O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI?! — perguntou, apoiando-se no parapeito e olhando para baixo.
Os garotos ouviram a voz de Harry e olharam para cima, acenando ao vê-lo.
— OI, HARRY! — Canopus cumprimentou.
— VIEMOS TE VISITAR! — Therion gritou para ele.
Naquele instante, a porta se abriu, revelando o tio de Harry, Valter Dursley. Os Black se aproximaram rapidamente.
— Olá, senhor Dursley — eles disseram em uníssono.
Valter não demorou a reconhecê-los da estação King's Cross.
— Vocês são daquela escola de aberrações, me lembro bem — disse grosseiramente, e os gêmeos fecharam a cara imediatamente. — O que estão fazendo na minha casa?!
— Viemos ver o Harry — Therion respondeu secamente.
— Vão embora!
Ele tentou expulsá-los e fechar a porta, mas Canopus colocou a mão sobre madeira com força e colocou o pé no batente, impedindo de fechar. Harry naquele momento desceu as escadas correndo e ajudou a abrir a porta.
Dursley encarou-o com raiva, direcionando um olhar furioso para o garoto.
— Você chamou seus amiguinhos estranhos pra cá?! — vociferou ele.
— Não — respondeu Harry e olhou para os Black.
— Então podem ir embora!
Os gêmeos iam responder com palavras nada gentis, mas Harry foi mais rápido.
— Eles são filhos do meu padrinho — disse, e o rosto do homem ficou branco instantaneamente. — Acho que vieram me visitar e ver como estou, só esqueceram de avisar. — Ele direcionou um olhar para Therion e Canopus, que logo captaram a mensagem, lembrando-se da carta que receberam ainda na casa do avô.
— S-seu padrinho?
— É, nosso… — Therion fez uma leve pausa, tendo dificuldade em processar aquelas palavras. — Nosso… pai... É padrinho do Harry. Ele está bastante preocupado, sabe?
— Só viemos garantir que nosso primo de consideração está bem — Canopus falou e direcionou um olhar sério para Dursley, que tremeu no mesmo instante.
Valter engoliu em seco, as mãos suando de nervosismo.
— Não vai nos impedir de falar com Harry, vai? — O garoto arqueou a sobrancelha, cruzando os braços com um olhar de desafio em seu rosto.
— Tenho certeza que não — Therion disse, com o mesmo olhar, levando as mãos aos bolsos da calça jeans clara que usava.
— Ah… S-Sim, certo… — Valter olhou para Harry e depois para os gêmeos. — Podem… Podem entrar.
— Obrigado — eles disseram juntos e entraram rapidamente.
Os dois olharam tudo ao redor, analisando a casa. Era repleta de fotos do primo de Harry e da família, mas em nenhum dos retratos havia Potter. Nenhum mesmo.
Os olhos de Therion pararam na escada e na porta que levava ao armário abaixo dela. Ele apertou o cabo de sua varinha no bolso, sentindo-se irritado ao imaginar Harry sendo obrigado a ficar naquele espaço minúsculo por anos. Precisaria se segurar muito para não jogar uma azaração nos Dursley.
Harry rapidamente puxou os gêmeos até o seu quarto, sem dizer mais nada ao tio, e fechou a porta. Enquanto eles paravam para analisar tudo, ele olhou-os atentamente.
Estavam ainda mais altos que ele, visivelmente melhores do que na última vez que os viu na estação. Os cabelos bem mais compridos que o costume soltos, e não estavam vestindo as velhas roupas do pai como fizeram ao longo daquele ano. Ambos usavam uma calça jeans clara e uma blusa preta de mangas curtas, deixando expostas suas cicatrizes; porém, Canopus também vestia um colete jeans e um boné. O som das botas pretas contra o assoalho encoaram pelo quarto.
Pareciam realmente dois adolescentes trouxas. Ninguém diria que eram bruxos animagos capazes de fazer alguém sangrar pelo nariz ou cuspir sapos apenas com um único feitiço — eles fizeram as duas coisas com dois grifinórios na última semana de aula.
— Quarto legal, Hazz — Therion disse com um sorriso de canto, arrancando Harry dos próprios pensamentos.
Potter percebeu que passou tempo demais observando o Black nas roupas novas.
— Hm? Ah… É. Não pude fazer muita coisa, mas deixei do melhor jeito que pude já que passo a maior parte do tempo aqui — falou, dando de ombros.
Therion se jogou na cama, enquanto Canis dava a volta no cômodo.
— Vocês estão bem? — perguntou.
— Ótimos — o gêmeo mais novo respondeu.
— Tirando a parte de ter que aturar Sirius em casa 24 horas por dia… — murmurou Canis, revirando os olhos. — Estamos bem. E graças a Merlin, me livrei daqueles curativos e minhas costas estão ótimas.
— Sirius está com vocês?! — Harry arregalou os olhos e logo um grande sorriso se iluminou em seu rosto. — Como ele está?
— Ele não te contou que estava escondido com a gente? — Therion perguntou.
— Ele ainda não respondeu minha última carta, então, não.
— Ele está bem — Canis disse, dando de ombros, mexendo nas folhas espelhadas pela escrivaninha de Harry. Ele olhou para Potter e exibiu um sorriso divertido. — Mas a mordida que dei nele na luta no Salgueiro Lutador deixou uma baita cicatriz.
Canopus parecia bastante orgulhoso de seu feito, e realmente estava.
— Papai disse que se ele mordesse Sirius de novo, ia ficar de castigo.
— Eu estava protegendo ele daquele cachorro sarnento e nem recebi um "obrigado" — bufou.
— Você tentou morder ele semana passada.
— Eu estava treinando minha transformação sem a varinha e ele veio me atrapalhar.
— Ele é um animago há muito mais tempo e queria ajudar.
Canopus bufou outra vez, impaciente. Começou a analisar os desenhos que havia nas folhas que mexia e olhou para Harry, resolvendo mudar de assunto.
— Estava desenhando?
— É.
— Por que fez aquele drama todo no último dia de aula? Você é muito bom nisso.
— Não importa. Para de mexer nas minhas coisas!
Canis pegou o caderno de desenho de Harry caído no chão, que ele largou quando correu até a porta para recebê-los e olhou o último.
— Que legal! Um jogador de quadribol.
— Me dê isso aqui! — Harry correu até ele.
— Parece comigo… Espere… — Ele ergueu o caderno no alto antes que Potter o pegasse. — Ah, é o número do Therry no jogo?
— Devolve, Canis!
Harry pulou para alcançar o caderno, que Canopus ergueu mais alto. Ele bufou irritado, amaldiçoando os gêmeos por terem crescido tanto no último ano enquanto ele permanecia com apenas míseros um centímetro e meio a mais que antes.
Therion riu, apenas observando a cena. Potter subiu na cadeira da escrivaninha e pulou nas costas de Canis, pegando o caderno de volta e quase levando os dois ao chão no processo. Canopus xingou Harry, mas logo começou a rir e a girar pelo quarto.
O garoto se segurou para não cair e também começou a rir, gargalhando alto.
— Eu vou cair, Canis… Par-AH!
Canopus jogou-se na cama e caiu sobre o irmão junto do irmão, que resmungou em reclamação e xingou os dois.
Os três riram juntos. Harry nunca riu tanto naquela casa como naqueles poucos minutos com os gêmeos ali junto dele. Ele realmente gostava e ficava feliz de estar com eles.
— Feliz com nossa visita, Harry? — Canis perguntou.
— Sim — ele admitiu, rindo.
Potter virou o rosto, e pela forma que estava ficou quase colado ao de Therion, perigosamente. Black sentiu o coração bater tão forte que quase saiu de seu peito naquele instante ao encarar os olhos verdes de Harry tão de perto.
Harry tornou a virar a cabeça, com as bochechas coradas, e logo os três estavam sentados na cama de forma organizada.
— Posso ver seu desenho também, Hazz?
— Quando ficar pronto, eu prometo que mostro — prometeu ele, guardando o caderno na gaveta da escrivaninha, enquanto Therion fazia um biquinho emburrado. — E vocês ainda tem muito o que contar.
— Já que quer saber: estamos ricos! — Canopus disse e ergueu os braços para o alto.
— O quê?
— Que tal deixarmos para contar tudo em nosso passeio? — Therion sugeriu e olhou para Potter.
— Passeio?
— Você não pensou mesmo que só viríamos ficar aqui trancados nos seu quarto, não é? Vamos para o centro de Londres!
— Acho que vou precisar falar com os Dursley...
— Eles não vão se incomodar — Canis sorriu travesso. — Ou dizemos que Sirius vai fazer uma visitinha para saber porque estão interferindo na liberdade de seu querido afilhado.
Therion riu e compartilhou do sorriso do irmão, aprovando a ideia. Não seria ruim se aproveitar do medo que aqueles trouxas adquiriram de Sirius para obter vantagem.
— Não tem muitas vantagens ter alguma coisa com o Sirius, então vamos aproveitar o que temos. Algo bom ele precisava trazer com a reputação de criminoso.
— Querem mesmo… Sair? — Harry perguntou, apontando para fora pela janela. Ele raramente saía de casa no verão, exceto quando ele próprio decidia tomar um ar no parque ali próximo.
— Sim. Vamos passar o dia pela Londres trouxa e ver a Liah.
— Vamos, escolha uma roupa e se troque para ir — disse Therion. — Eu falei que ia te tirar daqui e iríamos passear pelo mundo trouxa, não falei? E você me prometeu que iria mostrar mais do seu mundo. Eu cumpri minha parte, vai descumprir a sua?
Harry sorriu largo e negou com a cabeça, vendo o mesmo sorriso surgir no rosto de Black. O sorriso alegre e brilhante que ele adorava.
Levantou-se rapidamente e correu até o guarda-roupa, procurando suas melhores roupas para sair. Seguiu para o banheiro para tomar o banho mais rápido da sua vida e se vestir, bastante empolgado.
Os gêmeos viram Potter retornar prendendo o cinto na última casa, que ele mesmo havia furado, e ajeitar a camiseta vermelha dentro da calça jeans. Os cabelos estavam na mesma bagunça de sempre, mas que ainda combinava com seu estilo, também mais comprido, embora ainda menor que os dos Black.
— Até fora de Hogwarts você parece um grifinório — Canis comentou.
— Cala a boca, Canis — Harry retrucou, empurrando o garoto da sua cama com o pé.
Canopus riu, enquanto Potter pegava o sapato e calçava depressa.
— Está pronto? — Therion perguntou quando ele terminou.
— Estou!
Os três saíram do quarto e desceram as escadas. Eles encontraram os Dursley na sala de estar. Os tios de Harry cochichavam alguma coisa, mas logo pararam quando eles desceram.
Potter reuniu sua bela coragem grifinória e sorriu divertido para os tios. Ele havia esperado muito por isso.
— Vou sair.
— Onde pensa que vai? — Valter perguntou.
— Sair com meus amigos — disse calmamente. — Não vou demorar.
— Imagino que não será um problema que Harry saia com os amigos num sábado tão bonito e ensolarado, não é? — Therion disse passando o braço sobre os ombros de Harry e forçando um sorriso para os Dursley. Ele encarou a mulher e o garoto ao lado dela, que os encarava paralisado. — A senhora deve ser a Petúnia, tia do Harry. Devo dizer que não se parece nem um pouco com a Tia Lily... Para a sorte dela.
Petúnia não respondeu, mas olhou com desgosto na direção do garoto.
— Que falta de educação a nossa, nem nos apresentamos, não é? — Canopus disse com um sorriso irônico.
— Eu sou Therion Black, esse é meu irmão, Canis. Nossos pais e os pais do Harry eram bastante próximos e nós também nos tornamos grandes amigos — Therion falou e mandou um sorriso de canto para Harry, que retribuiu, abraçando sua cintura de lado.
— Exatamente — concordou Potter.
— Os pais dele eram meus padrinhos, na verdade, o que nos faz quase parentes — Canis completou, continuando com o tom irônico. Ele olhou para o primo de Harry. — Você deve ser o Duda. Ouvi muitas coisas nada boas sobre você.
— S-sou… — o garoto gaguejou, tremendo.
— Um pequeno aviso… — Deu passos a frente e se curvou como se fosse falar com uma criança. — Melhor não mexer com meu amigo, os Black não são tão misericordiosos quanto Hagrid. Fica a dica. — Ele piscou e então se afastou.
Eles se viraram para sair, mas foram impedidos pela fala de Valter.
— Para onde estão indo?
— Sinto muito, Sr. Dursley, não poderia dizer. O Estatuto Internacional de Sigilo em Magia não permite — Therion respondeu com falso pesar, a mão livre em seu peito. Valter ficou vermelho de raiva, mas não disse nada. — E acredito que o senhor não vai impedir Harry de exercer seu direito de ir e vir, não é? Meu pai não ia gostar nada de saber disso.
Os Dursley não disseram nada, e os Black apenas sorriram travessos junto de Potter.
— Vejo que não, certo? — disse Canopus, arqueando a sobrancelha e olhando-os em desafio. — Traremos Harry de volta antes do jantar... Ou não. Não precisam se preocupar em esperar.
Canis também passou o braço pelos ombros de Harry e assim saíram da casa sem dizer mais nada ou deixar os Dursley falarem algo. Eles caíram na risada assim que colocaram os pés para fora.
Harry abraçou o ombro de Canopus com o braço livre e apertou mais o outro ao redor de Therion, abraçando os dois amigos com um grande sorriso. Era visível a alegria em seu rosto, muito diferente de como ele estava antes dos gêmeos chegarem. Eles salvaram seu dia.
— Obrigado por me tirarem um tempo de lá — agradeceu. — Isso foi divertido. Você falando do Sirius agora foi engraçado, Therry.
— Depois de tantos anos dividindo o dormitório com o Malfoy, aprendemos a usar nossos parentes como ameaça — Therion falou. — Única vez que ousarei chamar o Sirius de "meu pai".
— Nunca foi tão bom ser parente de um criminoso condenado de quem todos têm medo — Canopus comentou, rindo. — Compreensível porque o Dragãozinho gosta tanto de fazer isso.
— Hoje, Harry, você vai ter um dia inteiro livre com a gente.
— Obrigado mesmo. Vocês… Estão salvando meu verão hoje.
— Somos Marotos, Harry — Canis riu e bagunçou os cabelos de Potter, que riu e o empurrou com o ombro de brincadeira. — Estamos sempre prontos para ajudar um Maroto quando precisa, seja virando animagos para acompanhar na lua cheia, ou salvando de uma família terrível por um tempo.
Os três sorriram e seguiram juntos para a estação de metrô mais próxima. Harry ajudou Therion a comprar três passagens para eles, e os gêmeos observaram tudo bastante fascinados. Quase ficaram presos na catraca, sem saber como passar.
Potter apenas ria de como eles ainda estavam aprendendo a lidar com os meios de locomoção trouxas. Tentou explicar da forma mais prática como tudo funcionava, enquanto os gêmeos falavam sobre a praticidade dos meios bruxos.
— Mal vejo a hora de aprender a aparatar — Canis disse enquanto abria o mapa da cidade mais uma vez, sentado no banco já dentro do metrô.
— Como funciona a aparatação, exatamente?
— Você pensa para onde quer ir… E vai. Aparece lá em pouco tempo.
— Mas tem alguns limites. Você não pode simplesmente aparatar daqui até a França, por exemplo — Therion explicou. — Para isso, usamos as chaves de portal.
— Onde é que vamos sair disso aqui? Esse mapa é bastante confuso.
— Hmm… Aqui — Harry apontou no mapa. — Foi onde desembarquei com Hagrid na última vez. Não fica muito longe do Caldeirão Furado.
— Liah disse que a joalheria da família dela fica… Cadê a rua que ela falou?
— Aqui.
— Como sabe, Harry?
— Tio Valter disse que ia comprar brincos novos para Tia Petúnia de presente de aniversário de casamento lá. Recomendação de um sócio que visitou a casa semana passada.
— Sabe chegar até lá?
— Mais ou menos — Harry coçou a nuca, olhando para o mapa. — Acho que consigo nos levar até lá. O Caldeirão Furado fica aqui… Não é tão longe.
— Ótimo. Você será nosso guia.
Potter riu, concordando com a cabeça. Eles aguardaram chegar ao seu ponto de desembarque. Ao chegar, saíram do metrô e começaram a caminhar pela cidade.
— Agora é uma boa hora para me explicarem essa história de agora estarem ricos? Como conseguiram dinheiro trouxa para o metrô? — Harry perguntou. — Lupin ganhou algum prêmio de uma loteria bruxa?
— Bem que eu gostaria, mas não. Foi o Sirius — Canopus respondeu.
— Ele nos deu acesso ao cofre dele, porque o dinheiro é nosso também. Nunca acessamos antes porque a burocracia antes por ele ainda estar vivo era muito grande e papai estava com raiva demais para querer alguma coisa vinda dele.
— Dumbledore conseguiu agilizar o processo com seus contatos. Agora temos todo o dinheiro só pra gente. Compramos roupas novas e coisas para nosso quarto.
— Legal!
— Papai ficou uma fera — Therion disse.
— Por quê?
— Porque ele também recebeu acesso ao cofre, mas ele quer ter o próprio dinheiro, sem ajuda do Sirius.
— Ele conseguiu outro emprego?
— Ainda não... — Canis quem respondeu, suspirando. — Ainda tem um pouco no cofre dele do que recebia em Hogwarts e a parte que ele sempre deixa reservado para nossos materiais escolares, mas não vai durar pra sempre.
— Lupin é incrível, ele logo vai arranjar um trabalho.
— Não se depender do Ministério — Therion resmungou.
— Uns desgraçados no Ministério aprovam cada vez mais leis que tornam muito mais difícil um lobisomem conseguir um emprego decente. E ele nem sempre pode esconder isso.
Harry suspirou desanimado. Ele não conseguia entender como os bruxos podiam ter tanto preconceito. Não eram muito diferentes dos trouxas, afinal.
— Eu sei que ele vai conseguir — tentou ser otimista e sorriu de leve para os amigos.
— Papai sempre dá um jeito — Therion falou. — Agora, é hora de esquecermos os problemas e focarmos em termos um bom dia.
Os três sorriram e continuaram a caminhar pela cidade.
Os gêmeos observavam tudo, olhando para todos os trouxas ao redor e principalmente para os carros nas ruas. Harry precisou salvá-los de quase serem atropelados pelo menos três vezes e alertá-los sobre olhar com atenção antes de atravessar a rua até a outra calçada.
O sol iluminava toda a região e refletia nas vitrines das lojas pelo caminho. Fazia certo calor, o que tornou a caminhada um pouco mais cansativa do que seria.
Após um tempo, eles pararam em frente a uma joalheria. Possuía uma bonita fachada pintada de branco com uma pequena escada de mármore e a placa em dourado acima da porta com o logo e o nome do estabelecimento. As enormes janelas e a porta de vidro davam visão para o interior do local, por onde circulavam poucas pessoas vestidas iguais.
— É maior e mais bonita do que imaginei — comentou Canopus.
— Devia ter vestido algo melhor…
— Você está ótimo, Hazz — Therion disse. — Vamos entrar.
Enquanto Canis já ia entrando sem cerimônias, Therion segurou a mão de Harry e o puxou para dentro do local. Os três observaram as belas jóias expostas nas vitrines, impressionados.
Nem em seus sonhos Potter imaginou que entraria em um lugar como aquele.
— Posso ajudá-los em algo? — um funcionário vestido em uma blusa social preta com um crachá dourado escrito "Louis Farrell" perguntou gentilmente atrás do balcão.
— Estamos procurando a… — Canopus começou a dizer, mas se deteve ao ver a amiga saindo por uma porta nos fundos da loja.
— Louis, vovô disse que… Ah, finalmente chegaram! Pensei que nunca viriam.
A garota contornou o balcão, pulando sobre Canis para abraçá-lo. Depois ela partiu para Therion, quase derrubando o garoto quando jogou-se sobre ele, que riu e retribuiu o abraço com força.
— Harry, você realmente veio! — Ela sorriu e também o abraçou.
Potter surpreendeu-se levemente com o gesto, pois não estava esperando por isso, mas ainda retribuiu, um pouco desajeitado.
Quando ela se afastou, os três puderam observá-la melhor. A primeira coisa que notaram foram as pontas dos cabelos tingidos de roxo, a mesma cor da faixa em sua cabeça; até mesmo alguns fios da franja estavam pintados. O colar com um pingente de letra M brilhava em seu pescoço caído sobre a blusa preta; os gêmeos nunca a viram sem ele.
— Não tiveram dificuldade de chegar aqui, não é?
— Não muita — Therion disse.
— Esse aqui é o maior tesouro dos Stuart. Gostaram? — ela falou abrindo os braços, indicando toda a joalheria. — Estava ajudando meu avô lá atrás.
— É bem legal — Canopus disse.
— Vou mostrar o estoque e onde o vovô repara e monta algumas jóias para vocês — disse e virou-se para o homem que recebeu os garotos. — Ah, Louis, antes que eu me esqueça: vovô mandou dizer que quer falar com você na hora do almoço para ajudá-lo com a contagem de estoque e das jóias para restauração.
— Certo, Liah — ele disse. — Avise ao Richard que o Sr. Hawkins já buscou o relógio.
— Tudo bem — concordou. — Meninos, esse é o Louis, um dos nossos funcionários de maior confiança. Louis, esses são meus amigos da escola.
— Muito prazer — o homem disse gentilmente.
— Tem cliente chegando. — Ela apontou para o casal bem vestido que acaba de entrar.
— Melhor ir. Seu avô já disse que não te quer bagunçando por aqui.
— Não estou bagunçando, só recebendo meu amigos. Venham comigo.
Merliah guiou os amigos até a porta que levava para a parte de trás da loja, que dava para os estoques e a sala de descanso dos funcionários.
Eles chegaram a sala de descanso dos funcionários, onde a garota ofereceu algo para beberem e todos aceitaram um copo d'água.
— E essa mudança no visual? — Canis perguntou.
— Pintei com meus primos — ela respondeu, pegando copo de suco para si. — Resolvi mudar um pouquinho. Minha prima que pintou.
— Seus primos do Brasil ainda estão na Inglaterra? — Therion quem perguntou.
— Eles voltaram para as férias. Mamãe saiu com eles e meu tio hoje, e eu fiquei aqui ajudando o vovô. Algum dia, vocês podem ir na minha casa e eu apresento todos eles.
— Você tem parentes brasileiros? — Harry questionou intrigado.
— Tenho, nunca falei pra você? Minha mãe nasceu no Brasil. Toda minha família materna é de lá.
— A escola de magia de lá é incrível — Canis comentou. — Soube que são muito bons em magizoologia. O Brasil é um dos grandes líderes em proteção de criaturas mágicas no mundo bruxo.
— Nunca parei para pensar em outras escolas de magia.
— Ora, Hazz, não achou que Hogwarts fosse a única, não é? — Therion riu. — Hogwarts é a escola britânica. Recebemos bruxos de todo o Reino Unido, e de alguns outros países que se interessem.
— França, Portugal e Espanha geralmente ficam com a Beauxbatons. Lá tem mais franceses, mas muitos europeus vão para lá.
— Tem também a Durmstrang, que ninguém sabe exatamente onde fica, mas se sabe que é por ali próximo da Rússia, algum lugar bem frio. Dizem que lá eles estudam Artes das Trevas.
— Gellert Grindewald é de lá, então não duvido muito disso.
— Quem é esse? — Merliah perguntou.
— Um dos maiores bruxos das trevas desse século! Ele quem tocava o terror pela Europa antes de Voldemort. Dumbledore derrotou ele no maior duelo que o mundo bruxo já viu!
— Ouvi dizer que eles já foram amigos. Ele agora está preso no próprio castelo onde deixava seus prisioneiros — disse Therion.
— Voltando às escolas bruxas, no Japão tem a Mahotokoro. A Ilvermorny nos Estados Unidos, a fundadora quase estudou em Hogwarts, inclusive. Tem também a Ugadou, que fica na África; ela é incrível, todos usam magia sem varinha.
— E magia sem varinha requer muito poder e concentração.
— Algum dia, eu vou visitar aquela escola. O nível de experiência dos bruxos de lá é magnífico, tenho livros de alguns famosos que estudaram nessa escola. Merece muito mais reconhecimento.
— No Brasil, é a Castelobruxo, que também recebe boa parte da América do Sul. Tem algumas outras escolas, mas essas são as mais conhecidas.
— Uau! — Liah e Harry murmuram juntos, impressionados. Eles ainda se impressionavam com a imensidão do mundo bruxo.
Era um universo extremamente amplo. Os trouxas não faziam a menor ideia de tudo que existia bem ao lados deles.
— Vou comprar muitos livros sobre o mundo bruxo na próxima vez que formos ao Beco Diagonal — disse Merliah.
— Vou te dar um livro sobre a Castelobruxo de aniversário — Canis falou, e a garota sorriu animada.
— Bom, eu não fui a única a ter uma mudança de visual. Vocês realmente se livraram daquelas roupas velhas né?
— Te falamos pelo telefone, Liah — falou Therion.
— Você também está precisando, Harry. As roupas do seu primo não caem tão bem em você.
— Eu não posso comprar roupas.
— Por que não?
— Mas meus tios não fazem questão de gastar dinheiro comigo, e eu não quero que descubram que tenho um cofre lotado de ouro chegando em casa com coisas novas.
— Então, hoje vamos visitar algumas lojas e você fala para eles que foi um presente do seu querido padrinho — Canopus disse. — Vamos passar em Gringots para você pegar dinheiro.
— Um dia de compras! Perfeito! — Merliah comemorou empolgada, batendo palmas. — Vou ver se o vovô precisa de mais alguma ajuda.
— O quê? Mas...
— Hoje é um dia reservado para você, Hazz. Vai ser divertido.
Harry pensou em intervir, mas logo ponderou melhor. Ele nunca tinha a chance de se divertir com os amigos no verão daquele jeito. Não queria perder a oportunidade.
Não deixaria sua pseudo-família estragar aquele dia.
— Tudo bem. Mas não vamos comprar muita coisa, não quero voltar cheio de sacolas.
— Tudo bem — os gêmeos concordaram.
— Venham comigo. Vou falar com meu avô e podemos ir.
Harry e os Black seguiram Liah pelas escadas até o segundo andar, onde ficava o escritório de seu avô e onde ele consertava e restaurava algumas jóias. Eles foram até onde um senhor de cabelos grisalhos usava um aparelho para ampliar a visão para consertar um colar, o qual ele manipulava as peças com todo o cuidado usando uma pinça.
Merliah aproximou-se dele e pegou uma pequena pedra de safira sobre a mesa, estendendo para o homem.
— Oh, querida, obrigado — ele disse e pegou a pedra, colocando de volta no colar.
— É o colar da vovó?
— Sim. Você sabe como ela o adora e ficou triste por ter quebrado.
— Precisa de ajuda com mais alguma coisa? — Ela perguntou, atenciosa.
— Não, meu bem. Seus amigos já chegaram?
— Sim.
O homem ergueu a cabeça e notou a presença dos garotos, logo exibindo um sorriso gentil para eles. Ele afastou-se da mesa devagar, olhando para os três. Seus olhos eram verdes como os de Liah e transmitiam uma grande calma e serenidade.
— É um prazer enfim conhecê-los — disse.
— Olá, Sr. Stuart — os três garotos cumprimentaram juntos.
— Vovô, esses são o Canis e o Therion — Liah os apresentou. — e aquele é o Harry.
— Ah, sim. Vocês dois devem ser os irmãos para quem Liah sempre pede para eu fazer presentes.
— Sim — Therion riu sem jeito. — Gostamos muito do colar que o senhor fez. Eu estou usando! — Ele puxou a corrente e o pingente de dentro da blusa, exibindo a estrela com uma pedrinha azul e seu nome atrás que ganhou de aniversário no primeiro ano.
— Também tenho o meu — Canis disse, mostrando o seu. — E adorei os braceletes do último aniversário. Obrigado.
— Não precisam agradecer a mim. Liah é quem pediu e ajudou a criar os modelos, eu apenas criei seus trabalhos.
— Vovô é muito modesto. O senhor faz um trabalho incrível — Merliah disse. — Esse ano, você também vai ganhar um presente vindo do melhor joalheiro e ourives do Reino Unido, Harry.
— Vou?
— Vai! — Ela sorriu. — Vovô, nós vamos dar uma volta. Não precisa mesmo de mais nada?
— Não, querida. Pode ir com seus amigos.
— Até logo. Te ligo se precisar de algo. — Ela beijou a bochecha do avô e deixou um selar carinhoso em sua testa.
— Divirtam-se!
— Tchau, vovô!
— Até mais, Sr. Stuart!
Então os quatro saíram pelos fundos da loja após Liah pegar sua bolsa e começaram a caminhar pelas ruas de Londres.
— Seu avô parece legal — Therion comentou.
— Ele é incrível! O melhor avô do mundo — a garota disse com um grande sorriso. Era perceptível como ela adorava o avô. — Vovô me trazia a joalheria desde pequena e ficava comigo enquanto mamãe e papai trabalhavam.
— No que seus pais trabalha?
— Ele cuida das finanças de algumas empresas, incluindo da joalheria. Mamãe é designer de jóias, aprendi a desenhar com ela — respondeu. — As coisas estão indo muito bem, mas vovô tem trabalhado demais. Mamãe já se ofereceu para ajudar, mas ele não quer dar não trabalho do que ela já tem desenhando a maioria dos nossos modelos das coleções.
— Por isso você estava ajudando ele? — Canis perguntou.
— É. Aliás, falar em trabalho, Tio Remus já conseguiu um emprego?
— Não — respondeu, suspirando. — Ele saiu hoje para tentar encontrar um.
— Espero que ele consiga logo — falou com sinceridade. — Vamos nos apressar até Gringots. Já tenho em mente uma loja para irmos.
Os quatro foram até o Caldeirão Furado e usaram a passagem de lá para chegar até o Beco Diagonal e ir para Gringots. Harry foi até o seu cofre e pegou alguns galeões e trocou por dinheiro trouxa, guardando em seu bolso. Eles aproveitaram o caminho para comprar sorvetes na Sorveteria Fortescue e sair de volta para a Londres trouxa saboreando-os.
Eles seguiram até uma loja de roupas e Merliah foi a primeira a pegar várias dos cabides e empurrar Harry direto para o provador. O garoto deixou seu sorvete com Therion enquanto se trocava, enquanto Liah deixava o seu com Canis e ia provar roupas para si mesma.
— Hmm… Não — Canopus disse com uma careta depois que Potter saiu do provador.
— Tenta outra — disse Therion.
Harry voltou para o provador, saindo um tempo depois, ao mesmo tempo que Liah saía do feminino.
— Uh! Tá gato, hein, Potter! — ela disse com as mãos na cintura, e ele corou imediatamente.
— V-você também tá bonita.
— Gostei mais dessa, Hazz — Therion disse, observando Harry.
Potter passou a mão pelos cabelos, um pouco encabulado, e olhou-se no espelho. Havia realmente gostado de como lhe caía uma calça jeans do seu número e aquela blusa listrada de preto e branco.
Era bom usar roupas que serviam bem em seu corpo e que ele havia gostado, e não roupas velhas do seu primo de números maiores.
— Combina bem mais com você — Canopus disse e olhou para a amiga, que usava um vestido preto rendado. — E você está incrível, Liah.
— Eu sei, meu amor — ela disse num tom convencido. — Vou levar!
Eles saíram da loja com as novas roupas e logo partiram para outra, conversando e rindo juntos. Os gêmeos também se interessaram por algumas roupas e pegaram para provar, e Harry sentiu-se mais livre para também pegar o que gostasse.
Canis passava as mãos pelos cabelos, olhando-se no espelho e sorrindo de lado com a visão que tinha de si com aquelas roupas. Couro lhe caía muito bem.
Therion parou ao seu lado, vestido numa roupa parecida, porém com um casaco de um tecido fino e leve no lugar de uma jaqueta de couro. Também sorriu, gostando das roupas. O sorriso deu lugar a uma expressão admirada ao ver pelo reflexo Harry saindo do provador, e logo virou-se para vê-lo.
Potter vestia uma calça preta justa e uma blusa vermelha por dentro, com uma jaqueta também preta. Os cabelos bagunçados e os óculos combinaram perfeitamente com a roupa, deixando-o bastante charmoso.
Canopus assoviou e riu, enquanto Therion continuava encarando de boca aberta.
O gêmeo mais novo sentia o coração a mil, admirando cada detalhe. Não conseguiu pensar em mais nada naquele momento.
Harry percebeu o olhar do garoto fixo em si e isso ladino, desviando o olhar com as bochechas coradas, envergonhado. Mordeu o lábio inferior e reuniu sua coragem, então voltando os olhos para o Black. Ele também o admirou, sentindo-se estranhamente com muito mais calor e o coração quase saindo pela boca.
— A baba tá escorrendo, gente. Disfarcem um pouco — Canis comentou, tirando os dois do pequeno transe em que estavam. Eles ficaram tão vermelhos quanto a blusa de Potter. — Ficou ótimo, Prongs! Está a cara do Tio James.
— Você está bem também, Canis. E você, Therry, está… — Harry suspirou, sem conseguir expressar em palavras seus mil pensamentos.
— Obrigado — Therion agradeceu, sorrindo de canto. — Você também está muito bonito, Hazz.
— Tá de parabéns, Harry! — Liah se aproximou deles, aplaudindo Potter, que cobriu o rosto com as mãos.
— Uau, Liah! Arrasou! — Canopus elogiou a amiga.
A garota girou, sorrindo radiante, e a saia branca que vestia rodou junto. Ela passou o braço pelos ombros de Potter e puxou-o até o espelho.
— Olha só, Harry. Estamos lindos demais, não estamos? Pode falar!
— Sim — Harry concordou, rindo feliz e sorrindo para o reflexo. Ele não negaria que a garota estava realmente muito bonita, quase tanto quanto Therion.
— Vocês também estão lindos — disse ela para os gêmeos. — Eu trouxe minha câmera, espera um minuto.
— Uma câmera trouxa? — Canis perguntou.
— Sim. Instantânea!
A garota pegou uma câmera na bolsa e apontou para os garotos.
— Façam pose!
Os três se juntaram e Merliah tirou três fotos com poses diferentes. Depois ela colocou a câmera à sua frente e se juntou a eles para fotos se todos juntos.
As fotografias saíam em poucos segundos da câmera, e a garota guardava todas para dividirem entre si depois. Eles provaram mais roupas e muitas outras fotos foram tiradas em meio a muitas risadas deles.
Canopus começou a cantarolar e puxou Harry pela mão, girando-o depois de ver a outra roupa que vestiram, dançando de brincadeira. Os dois riram, e Potter cantarolou junto com ele.
O sorriso não saía mais do rosto do grifinório, que sentia-se imensamente feliz naquele dia. Estava muito mais livre para agir como ele mesmo, coisa que geralmente acontecia mais em Hogwarts. Com eles ali, ele sabia que não precisava ter medo de ser quem realmente é.
— Sorriam! — Liah disse, depois de já terem saído da loja, apontando a câmera para Harry e Therion enquanto caminhavam próximo a um parque.
Potter sorriu largo, abraçando a cintura do Black, enquanto ele abraçava seus ombros, ambos usando óculos escuros que acabaram de comprar. Therion pediu a fotografia para a amiga, que a entregou e foi tirar uma sua própria com Canopus.
Os dois observaram a foto, sem soltar um ao outro. Therion ergueu os óculos até a cabeça, enquanto Harry trocava os seus pelos habituais de grau.
— Ficou legal — disse Potter.
— Quer ficar com essa?
— Eu posso?
— Temos muitas outras que eu posso guardar pra mim — Therion falou, sorrindo de canto e encarando os olhos verdes, que brilhavam ainda mais intensos sob a luz do sol.
Harry pegou a fotografia e sorriu, encarando os olhos azuis-acinzentados de volta.
— Então vou deixar essa muito bem guardada comigo — falou. — Vai reclamar se eu te agradecer de novo por hoje?
— Não, mas não precisa ficar me agradecendo o tempo todo.
— Só estou sendo sincero. Esse está sendo o melhor dia de todos os meus verões.
— Também estou adorando o dia de hoje.
Potter comprimiu os lábios, pensativo, admirando o rosto do Black tão próximo ao seu. Ele então beijou a bochecha do garoto, que ficou corado e sorriu levemente para si.
— Obrigado mesmo — sussurrou.
— Não tem de quê — Therion sussurrou de volta.
Ele levou sua mão que estava ao redor dos ombros de Harry até os cabelos escuros, bagunçando devagar em um carinho singelo e atencioso, sem desviar os olhos dos dele.
— Será que só eles não percebem? Já tá na cara! — Merliah disse num sussurro para Canis, observando os outros dois.
— Eu diria que ainda vão enrolar mais um pouco… Talvez até o Natal. Therry ainda não quer admitir que gosta do Harry.
— Tipo você não querendo admitir que gostou de beijar o Malfoy.
— Foi um acidente! — resmungou. — Não vai acontecer de novo.
— Aham. E eu sou hétero.
— Você não é?
Ela arqueou a sobrancelha, rindo.
— Claro que não. O que vier, eu estou aceitando, meu bem, não importa o que seja. E eu acho que você também não é.
— Não, não sou — admitiu. — Mas se eu beijar o dragãozinho metido de novo, pode me jogar no Lago Negro para a lula gigante.
— Vou deixar anotado. Melhor aprender a nadar.
— O que estão cochichando aí? — Harry perguntou quando se aproximou com Therion.
— Só dizendo que as fotos ficaram ótimas! Vamos almoçar? Estou faminta. Uma amiga da minha mãe tem um restaurante aqui perto.
Os quatro seguiram até o dito restaurante e sentaram-se numa mesa especial, vantagens de se conhecer a Grand Chef.
Durante a refeição, eles voltaram a conversar sobre aquele dia e as férias. Os gêmeos contaram mais sobre a casa nova e como estava indo a arrumação que faziam junto do pai e de Sirius. Harry ouvia tudo atento, querendo saber mais do padrinho.
Therion e Canis não deixaram de notar como Harry devorava o seu prato com afinco, parecendo o mais faminto entre eles, e até mesmo pediu por mais. Eles se entreolharam por alguns momentos, e Liah franziu o cenho.
— Harry, você parece que não come há uma semana — a garota falou, rindo baixo.
Harry parou o garfo com a última fatia de carne no meio do caminho, engolindo em seco. Seus olhos passearam por entre os amigos, e ele então abaixou a cabeça, voltando a comer, sem dizer nada.
Canopus e Therion cerraram os punhos, com os olhos vidrados em Potter. Merliah encarou-os confusa, sem entender o clima tenso repentino.
— O que houve? Falei alguma coisa?
— Harry, o que você comeu no café da manhã? — Therion perguntou.
— … Não tomei café da manhã hoje.
— E ontem?
O silêncio de Potter respondeu muito bem aquela pergunta.
— Você pelo menos almoçou essa semana?
— Sim — Harry respondeu.
— De verdade? — Canis perguntou.
— Bom, ninguém está comendo de verdade desde que o nutricionista recomendou aquela dieta pro Duda, e meus tios estão levando a sério demais.
— Porra, Harry! — os gêmeos exclamaram juntos.
— Eu tô bem. Só… — Ele respirou fundo. Sabia que não podia mentir por muito tempo. — Eles já não deixam muito para mim, agora está ainda mais difícil.
— Você não vai voltar pra lá — Therion disse firme.
— Bem que eu gostaria de nunca mais morar lá, mas não tenho muita escolha.
— Eles estão te deixando passar fome? Qualquer escolha é melhor! — Liah disse. — Eu sabia que a situação com seus tios não era fácil, mas…
— Bom, na última vez que fugi, me obrigaram a voltar esse ano.
— Foge de novo — Canis disse. — Não vamos deixar você ficar lá e morrer de fome sendo maltratado todo dia.
Therion abandonou seu prato, cruzando os braços e respirando fundo. Não gostava nem um pouco de ver pelo que Harry estava passando.
Estavam conseguindo ter um dia bom e tranquilo, divertido, mas logo ele voltaria para aquela casa. Não poderia permitir aquilo. Não queria que ele continuasse passando por tudo apenas por ser um bruxo. Ninguém merecia isso.
Ele não pensou muito nas possibilidades, apenas sabia que precisava ajudar.
— Foge e vem morar com a gente — disse.
— O quê?
— Vem morar conosco. Eu, Canis, papai, o Sirius… — falou. — Você vai estar muito melhor lá.
— Bom, pensando tecnicamente, você vai estar morando com o seu padrinho, que é o seu tutor legal em caso de morte dos pais no mundo bruxo... Mesmo ele sendo um foragido escondido na casa.
— Resolvemos com o papai depois, mas tenho certeza que ele adoraria ter você lá. Podemos te buscar numa noite.
— E te levamos para nossa casa.
— Vocês estão mesmo planejando um sequestro? — Liah indagou, arqueando a sobrancelha.
— Não é sequestro se o Harry for por livre e espontânea vontade — Therion disse, olhando para Potter.
— Vocês estão falando sério?
— Onde está seu espírito grifinório, Harry? — Canis disse. — Nós dissemos que sempre estaríamos dispostos a ajudar um Maroto.
— E nós não vamos deixar você sozinho naquela casa.
***
— Boa noite, minhas estrelas — Remus disse, beijando a testa dos garotos, que estavam em suas respectivas camas, cada um lendo um livro.
— Boa noite, papai — disseram juntos, sorrindo fraco e olhando para o pai.
— Não durmam muito tarde.
— Okay, pai — Therion disse.
— Boa noite! — Sirius colocou a cabeça para dentro do quarto e falou para os garotos, enquanto Remus saía e ficava ao seu lado.
Canopus não disse nada e voltou os olhos de seu livro, apenas passando a página, aproximando-o mais de seu rosto.
— Boa noite, Sirius — Therion falou, voltando logo os olhos para o livro.
Remus fechou a porta, suspirando e olhando para o Black.
Therion e Canopus permaneceram lendo até pouco depois da meia noite. Eles olharam no relógio na parede e depois o mais olhou para a cama debaixo, encarando o irmão.
Sem dizer nada, os dois saíram de suas camas e pegaram os sapatos, calçando-os rapidamente, e pegaram casacos, sem trocar os pijamas. Canis abriu o armário onde estavam as vassouras e tirou-as dali, entregando a de Therion para ele.
Os dois saíram de seu quarto com as vassouras em mãos, caminhando devagar, com o máximo de cuidado para não fazer barulho. Canopus espiou dentro do quarto de Remus e viu o pai dormindo tranquilamente, agarrado a um travesseiro. Therion olhou o quarto de Sirius e o encontrou dormindo na cama em sua forma animaga.
Eles se entreolharam e ergueram o polegar um para o outro, confirmando que Sirius e Remus dormiam e a barra estava limpa. Desceram as escadas, e Canis destrancou a porta com sua varinha.
Saíram da casa para a rua completamente deserta. Verificaram se realmente não havia ninguém por perto antes de montarem em suas vassouras e levantar vôo, partindo em direção à Rua dos Alfeneiros para salvar o amigo.
Haviam decidido assim que deixaram Harry na casa dos Dursley. Não perderiam tempo em seu plano de fuga para ajudar Potter. Apenas aguardaram Remus e Sirius dormirem para colocar em prática.
Foi uma longa viagem, mas eles a fizeram com um grande empenho e bastante motivados. Estavam decididos a tirar Harry daquela casa, custe o que custe o que custar. Depois resolveriam o assunto com o pai, ajudar Potter era sua prioridade.
Eles chegaram ao destino após algumas horas. Tomaram a precaução de verificar primeiro a área antes de pararem planando ao lado da janela de Harry.
O garoto estava dormindo, mas logo acordou ao ouvir batidas no vidro da janela. Ele não acreditou no que viu e apressou-se para pegar seus óculos e colocar no rosto.
Harry levantou-se cambaleante e sonolento até a janela, abrindo para deixar que os gêmeos entrassem. Ele bocejou, coçando os olhos para espantar o sono.
— O que estão fazendo aqui?
— Viemos te resgatar — Therion disse.
— Me resgatar?
— Não podemos deixar você aqui mais tempo. Você vem com a gente agora.
— Ir?
— Porra, Harry! Viemos te levar embora! Tá parecendo um disco arranhado — resmungou Canis.
— Vocês acabaram de me acordar...— Harry disse, sonolento. Depois de processar o que estava ocorrendo, ele arregalou os olhos. — Vocês… Querem que eu vá? Agora?
— Sim, para nossa casa, como falamos no restaurante! — Therion disse. — Você pode morar conosco, o papai e o Sirius.
— O Sirius é temporário.
— Não é hora para detalhes técnicos, Canis.
— Eu até concordei com a ideia, mas pensei que esperaríamos mais alguma dias.
Therion se aproximou de Potter e segurou suas mãos com ansiedade. Havia um brilho diferente e esperançoso em seu olhar, do qual também transbordava o sentimento de súplica. Harry piscou, desconcertado.
— E deixar você aqui sozinho? Nós dissemos que não faríamos isso. Você pode ficar escondido no nosso quarto até falarmos com o papai.
— Ele ainda não sabe que estão aqui?
— Acha mesmo que ele deixaria nós dois virmos sozinhos, voando? — Canopus indagou retoricamente. — Nós viemos te ajudar a fugir no meio da madrugada, é claro que ele não sabe. Sabemos que quer ir embora e os Dursley só te mantém aqui por obrigação. Vai estar bem melhor conosco. Explicamos depois.
— Ele vai nos matar.
— Você quer continuar mais um dia aqui passando fome e sendo maltratado pelos seus tios?
— Não pode ficar nem mais um minuto aqui, Hazz — Therion insistiu.
Harry olhou para os dois, não sabendo o que pensar direito. Ele queria muito ir embora, esse era o seu maior desejo há anos. A ideia de morar com Remus, os gêmeos e seu padrinho lhe pareceu bastante tentadora desde que saíram do restaurante naquela tarde.
Ele decidiu não pensar demais. Apertou as mãos de Therion que seguravam as suas fortemente, com uma expressão determinada. Não perderia a oportunidade de deixar aquela casa e fugir para bem longe.
— Vou pegar minhas coisas.
— Não precisa pegar roupas, podemos te emprestar e vamos fazer mais umas boas compras. Pega só o que compramos ontem — Canis falou e ajudou-o a abrir o malão.
Harry sorriu e assentiu com a cabeça. Correu para pegar todas as suas coisas e jogar no malão de forma desajeitada, com ajuda dos gêmeos. Esvaziou tudo, exceto o armário com as roupas, e subiu na enorme mala para fechar.
Pegou sua Firebolt, onde Canopus prendeu seu malão depois de usar um feitiço para deixá-lo mais leve.
— Vou receber uma notificação por esse feitiço.
— É só um feitiço de redução de peso. Você não vai ser expulso por isso.
— Por desencargo de consciência, um pequeno aviso — Therion disse tirando do bolso um pedaço de pergaminho e uma pena.
Ele escreveu um bilhete e deixou na cama de Harry:
Caros Sr. e Sra. Dursley,
Nós levamos Harry conosco para nossa casa. Ele estará bem lá.
Ass: Therion e Canopus Black
— Não precisamos ser muito explicativos — disse enquanto Harry lia o bilhete. — Vamos.
Os três saíram e foram embora voando em suas vassouras.
Potter não olhou para trás, nem uma única vez. Ao subir em sua Firebolt e voar atrás dos amigos em direção ao vilarejo onde eles viviam, tudo o que pôde sentir apenas foi a grande sensação de liberdade.
Os Black iam a frente, e Harry estava no meio, um pouco atrás. O vento gelado da noite batia em seus rostos e bagunçava seus cabelos. Eles voaram por vários quilômetros, seguindo de volta o mesmo caminho que Therion e Canopus pegaram para ir.
Após um tempo, eles sobrevoaram Godric's Hollow, e Potter observou o lugar com certa familiaridade. Uma sensação estranha em seu ser que ele não sabia identificar.
Não demoraram a chegar ao vilarejo vizinho, o seu destino final. Pousaram em frente a casa dos Black, e Harry pôde sentir uma grande magia saindo dela.
— São os feitiços de proteção que Sirius e papai colocaram. Dá pra sentir, não é? — Therion disse, recebendo a atenção de Harry.
— Devem ser feitiços poderosos.
— E são. Os mais poderosos que puderam usar para os aurores não chegarem até Sirius.
— Eles estão dormindo agora, então não faça muito barulho, principalmente no corredor. Sirius tem um sono leve pra caralho — alertou Canis, pegando sua varinha para abrir a porta.
Harry assentiu e soltou o malão da vassoura.
— Vocês não têm chave? — perguntou ao ver a porta ser aberta com magia.
— Magia é bem mais simples e seguro. — Canopus olhos para os lados e depois colocou apenas a cabeça dentro da casa. — A barra tá limpa. — Ele abaixou o tom de voz para um sussurro.
Os três entraram na residência devagar. Harry não pôde parar muito tempo para admirar a decoração ou a divisão de cômodos, pois precisaram seguir o mais rápido possível até o quarto. Os gêmeos ajudaram a levar o malão com cuidado, atentos a qualquer ruído.
Eles subiram as escadas lentamente e caminharam até o quarto.
— Você jantou hoje? — Therion perguntou sussurrando enquanto adentravam o quarto.
— Se chama aquelas migalhas de jantar... — Harry foi sincero.
Os três retiraram os sapatos e deixaram o malão e as vassouras no chão. Therion agarrou a mão de Harry e o puxou até a cozinha, cautelosamente, sendo seguido por Canis.
— O que vão fazer? — Potter perguntou.
— Seu jantar.
— Sobrou frango do jantar... Que tal um sanduíche? — murmurou Canis após abrir o forno.
— Aceito qualquer coisa.
Os gêmeos pegaram suas varinhas e começaram a pegar ingredientes sem fazer barulho, enquanto Harry usava a sua própria para conjurar o lumus e observar o cômodo.
A cozinha era bastante espaçosa. Os Black preparavam tudo na ilha disposta no centro, retirando os ingredientes dos armários de madeira ao redor. Tudo estava bastante limpo e organizado, o que Potter imaginou ser obra de Lupin, pois seu professor sempre foi bastante meticuloso e organizado com seus pertences em sua sala.
Therion pegou um copo de suco de abóbora enquanto o irmão terminava de preparar dois sanduíches bem recheados.
— Amanhã você pode admirar a casa, Harry. Vamos — chamou Canopus, enquanto o irmão pegava o prato.
Harry assentiu e eles deixaram a cozinha, caminhando devagar de volta para o quarto dos gêmeos. Passaram pelo quarto de Remus e os de Sirius, seguindo até o último, com cuidado a cada passo. Quando estavam adentrando o cômodo, ouviram uma porta se abrir e arregalaram os olhos.
Therion empurrou Harry para atrás da porta rapidamente e levou o indicador aos lábios, pedindo silêncio. Ele balançou a cabeça em concordância, ficando quieto e escondido ali.
— Theo? Canis? — a voz de Sirius soou no corredor, e o gêmeo mais velho xingou extremamente baixo.
Eles não disseram nada, mas logo o Black mais velho apareceu próximo à porta, vestido em seu pijama vermelho e com os cabelos compridos bagunçados. Potter sentiu-se tentado a sair de seu esconderijo ao ouvir a voz do padrinho, mas se conteve.
Sirius encarou os dois garotos, intrigado.
— Ainda acordados? — perguntou.
— Não, somos sonâmbulos — retrucou Canopus sarcasticamente.
— O que estão fazendo? Está tarde.
— Eu sei que está tarde, aprendi a ver as horas aos 5 anos.
Sirius deu uma leve risada nasal com a resposta e respirou fundo. Encarou o gêmeo mais velho, que possuía uma expressão séria de quem realmente não queria vê-lo na sua frente naquela noite.
Ele lembrou muito a mãe naquele momento.
— Deviam estar dormindo.
— E quem disse que não dormimos? — Canis arqueou a sobrancelha, cruzando os braços e sorrindo ladino.
— Só fomos beber água — Therion falou. Sirius lançou-lhes um olhar desconfiado.
— Remus deixa água ao lado da cama de vocês toda noite. O que estão aprontando?
— Nada. A água acabou. Também sentimos fome e fizemos um lanchinho noturno — Canopus mentiu, dando de ombros e apontando para o prato na mão do irmão. — Também está tarde para você trabalhar vigiando tudo, cão de guarda. Melhor voltar a dormir.
— E quem disse que eu estava dormindo? — rebateu Sirius, arqueando a sobrancelha e cruzando os braços, sorrindo de lado.
Os garotos ficaram em silêncio. Canis fechou a cara mais uma vez para o Black e bufou. Sirius riu da expressão deles e continuou com o olhar desconfiado, imaginando que havia algo errado ali.
— Seja lá o que estejam aprontando, só não acordem o Remus. Ele precisa dormir.
— Não estamos fazendo nada — insistiu Canis.
— Você parece cansados, Sirius. Seria bom ir dormir, não? — Therion disse.
Sirius riu.
— Boa tentativa, Theo. Mas achou mesmo que eu ia cair nessa?
— Não sei do que está falando.
— Por que estão de casaco?
— Está frio...
— É verão.
— E quem disse que não pode fazer um pouco de frio no verão? — disse Canopus.
— Essa travessura envolve vocês saindo no meio da noite?
— Não vamos colocar um pé para fora de casa — Therion falou.
Sirius encarou os filhos, ainda desconfiado. Olhou pela fresta da porta para dentro do quarto, mas Canopus logo colocou-se a frente para tapar a vista.
— Melhor irem pra cama, está bem?
— Iremos, sim — garantiu o mais novo.
— Agora, como você disse, está tarde e precisamos dormir. Tchau!
Eles fecharam a porta antes que Sirius pudesse perguntar mais alguma coisa.
— Boa noite, então... De novo — Sirius disse e riu, balançando a cabeça.
Ele permaneceu ali por mais alguns instantes e não ouviu mais nada vindo do quarto dos garotos. Então deu de ombros e seguiu para a cozinha. Ele próprio iria fazer um lanchinho noturno agora.
Dentro do quarto, os três ficaram parados em silêncio por um tempo até suspirarem aliviados. Eles se entreolharam e, após alguns instantes, sorriram uns para os outros.
Harry levou as mãos à boca para abafar sua risada, desacreditado e feliz, sentindo a adrenalina ainda correndo por suas veias. Therion estendeu para ele o prato com os sanduíches e o copo de suco de abóbora, que aceitou de muito bom grado e sentou-se em uma das escrivaninhas para comer.
— Essa foi por pouco — disse Therion.
— Ele está mesmo aqui… — Harry disse, com um leve sorriso ainda no rosto.
— De manhã você pode falar com ele. Come.
Potter assentiu e deu uma grande mordida no sanduíche. Ele devorou o lanche com gula, demonstrando o quanto estava realmente faminto. Olhou ao redor, analisando o quarto dos gêmeos depois que Canopus ligou a luminária na mesa de cabeceira.
Era um quarto bastante espaçoso. As paredes eram verdes, no mesmo tom do uniforme da Sonserina, exceto por uma, que era cinza, onde estava encostado um beliche em L. Haviam algumas bandeiras da Sonserina na parede e pôsteres de bandas bruxas e trouxas.
Também havia prateleiras lotadas de livros, e alguns estavam sobre as duas escrivaninhas. Na de Therion, estava pousado seu caldeirão e vários frascos de poções, enquanto na de Canis tinha mais pergaminhos e penas.
Era um quarto muito bonito. Combinava com os gêmeos.
Therion caminhou até uma cômoda no espaço abaixo da cama superior do beliche e tirou de lá dois cobertores, que ele colocou sobre o chão junto com todos os travesseiros das duas camas.
— O que está fazendo?
— Nossa cama. Amanhã resolvemos onde você vai dormir, mas hoje, vamos ficar todos no chão.
— Não precisam ficar comigo. Posso ficar sozinho no chão.
— Não começa, Prongs. Vamos dormir os três aqui — disse Canis, puxando o cobertor da sua cama e se deitando sobre os que estavam no chão. Ele usou a varinha para empurrar o malão de Harry para debaixo da cama de Therion, e então guardou-a embaixo do travesseiro. — Espero que o sanduíche esteja bom.
— Está ótimo — Harry disse, levando o último pedaço à boca. Ele bebeu o suco e limpou a boca com a manga da blusa do pijama e levantou-se da cadeira. — Quarto legal.
— Nós que arrumamos — Therion disse, deitando-se sobre os cobertores e puxando o que estava em sua cama para se cobrir. — Acho que podemos comprar uma cama pra você, conseguimos arranjar espaço.
— Ou Sirius pode dormir no sofá e Harry fica com o quarto dele.
— Não vou expulsar o Sirius do próprio quarto — Harry interveio.
— Aposto que ele não se incomodaria em ceder o quarto para seu querido afilhado.
— Acho que podemos resolver isso de manhã.
— Temos tempo pra isso. Você vai ficar conosco agora — Therion disse e sorriu para Potter.
Harry sorriu fraco e juntou-se a eles no chão, ficando no meio.
— Obrigado por me tirarem de lá.
— Já dissemos, Hazz. Os Marotos sempre estão prontos para ajudar um amigo — Canopus disse com um sorriso gentil.
— Sempre estaremos aqui para te ajudar — Therion falou, segurando a mão de Potter.
— Obrigado mesmo — Harry tornou a agradecer.
— Agora não precisa mais se preocupar. Está seguro.
— E com certeza vai ser bem mais feliz aqui. Você faz parte da família.
O sorriso de Potter apenas aumentou, e ele puxou os gêmeos para um abraço. Nunca se cansaria de agradecê-los por estarem ao seu lado, apoiando-o em tudo.
Eles eram sua verdadeira família.
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Olá, meus amores!
Tudo bem?
Sim, temos Harry morando com os gêmeos, o Remus e o Sirius 🥳🥳
Gostaram?
Veremos como Sirius e Remus irão reagir ao pequeno sequestro do Harry da casa dos Dursley rsrsrs Como acham que será?
Harry teve um diazinho feliz 🥺 muitos outros virão pela frente aaa
Espero que tenham gostado!
Os próximos capítulos serão bem levinhos assim, com momentos mais alegres e bem família. Uma pequena fase de paz e todos felizes 🥰🥰 aproveitem!
De vez em quando posto vídeos sobre a fic no TikTok ou falo alguma coisa no twitter, então quem quiser ver ou falar comigo é só vir! User: Jeon4Grace
Em breve retorno com mais um capítulo!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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