XXIV. Rescue Mission
Therion acordou na ala hospitalar sentindo o corpo dolorido; a mente confusa e sem ter ideia de onde estava. Abriu os olhos devagar, encarando o teto alto e tentando organizar seus pensamentos.
Se lembrava de chegar ao lago e desmaiar enquanto tentava conjurar um patrono, mas não fazia ideia de como havia chegado ali. Ouvia vozes distantes que lhe eram familiares, mas não conseguia reconhecer de imediato.
Fez esforço para se sentar na cama, mas logo se arrependeu ao sentir tudo girar ao seu redor. Gemeu dolorido, levando as mãos à cabeça. Percebeu que seu braços estavam enfaixados por ataduras e havia mais curativos por seu corpo.
Viu Madame Pomfrey aproximar-se depressa de si com uma enorme barra de chocolate e uma expressão preocupada.
— Não faça esforço, querido. Está bastante machucado — disse a mulher, arrumando os travesseiros para que se escorasse a eles e entregando a barra de chocolate.
— Harry…
— Estou aqui — Potter disse ao lado, caminhando até ele.
— Potter, volte já para a cama!
— Mas, Madame Pomfrey…
— Sem "mas"!
A medibruxa o arrastou de volta para a cama ao lado, o deixando sentado com outra barra de chocolate. Ele bufou, comendo um pedaço generoso do doce.
— Você está bem? — perguntou preocupado, olhando para Black cheio de curativos, enquanto ele tinha apenas um curativo na bochecha.
— Acho que sim… — Therion respondeu. — Sirius…
— Não se preocupe, está tudo bem. Ele foi capturado — disse a medibruxa.
— O quê?! Onde ele está?
— Está lá em cima, muito bem preso. Já foi dada a ordem para que ele receba o beijo do dementador em breve.
— O QUÊ?! NÃO! — Black e Potter gritaram juntos, descendo das camas.
Therion precisou se apoiar no móvel ao lado, pois a tontura lhe abateu com força no mesmo instante e quase levou-o ao chão. O desespero começou a crescer em seu peito, e sua respiração tornou-se mais rápida e dificultosa.
Madame Pomfrey o colocou de volta na cama, e ele olhou ao redor, nervoso. Na cama ao seu lado esquerdo estava Draco, e ao lado de Harry, Hermione, também acordada. Do outro lado da enfermaria estavam Rony, desacordado e com a perna engessada, e Merliah, já desperta e devorando uma barra de chocolate.
Ele precisava falar com Dumbledore. Não podia deixar que Sirius fosse condenado.
— Você não está em condições de sair dessa cama, Black. E não há com o quê se preocupar quanto a isso. Ainda estão procurando seu irmão, mas...
— Sirius não pode receber o beijo do dementador! Ele é inocente!
— É um erro! Não podem fazer isso! — berrou Harry.
Naquele momento, o ministro adentrou a ala hospitalar junto de Snape, com quem conversava do lado de fora.
— Harry, vejo que já acordou. O que houve? Deveria estar na cama! — disse Fudge, agitado.
— Ministro, por favor, precisa me ouvir… Sirius Black é inocente! O vimos hoje!
— Acalme-se, Harry. Você está muito confuso agora. Está tudo sob controle. É melhor se deitar e tomar uma poção…
— NÃO! NÃO PRECISO! O SENHOR PEGOU A PESSOA ERRADA!
— Black muito provavelmente utilizou um feitiço de confusão poderoso neles, Ministro — disse Snape.
— Sim, sim…
— NÃO! Ele não lançou feitiço nenhum! — retrucou Therion.
— Vocês estão confusos e precisam descansar. Prof. Snape já me deixou a par de toda a situação — disse o ministro. — Graças a ele, vocês estão aqui vivos e Black foi capturado. Embora, eu prefira acreditar que ele esteja errado sobre o senhor estar ajudando o seu pai e que tenha sido fortemente confundido por ele esta noite.
— Quando encontrarmos o outro, poderá ver com seus próprios olhos, Ministro.
— Mas eles não estavam ajudando! Eu vi...
— Draco, por favor, fique onde está e descanse — Snape interrompeu o garoto, que havia acabado de se pronunciar. — Você também deve estar bastante confuso.
— Não estou confuso!
— Já notifiquei seus pais, seu pai virá pela manhã. Estão bastante preocupados, e com razão, após este terrível ataque.
Malfoy arregalou os olhos surpreso, pois não esperava receber seu pai na escola pelo segundo ano seguido.
— Ministro, nos ouça, por favor. Eu também vi! Foi o Pettigrew, ele é um animago e… — Harry tentou explicar.
— Está vendo, ministro… Black fez um bom trabalho.
— NÃO ESTAMOS CONFUSOS! — todos os jovens bruxos despertos gritaram ao mesmo tempo.
— Nós vimos! — Merliah disse.
— Eu preciso falar com o diretor!
— Professor, Ministro, peço que, por favor, saiam. Essas crianças precisam de cuidados e é melhor que não se exaltem — disse Madame Pomfrey.
— Estão cometendo um erro! Sirius não merece isso… — Therion exclamou desesperado. — Ele é inocente, eu vi!
A porta se abriu novamente e o diretor adentrou o local. Harry suspirou aliviado.
— Prof. Dumbledore!
— Peço desculpas por chegar assim, Papoula, mas preciso dar uma palavrinha com esses jovens. Acabo de falar com Sirius Black…
— Suponho que tenha inventado uma grande história como a que implantou na mente desses garotos — disse Snape desdenhoso. — Pettigrew, rato… Uma bobagem.
— Sim, esse foi o relato dele, de fato.
— Eu estava lá e não vi sinal de Peter Pettigrew. Ele está morto!
— Porque o senhor foi nocauteado — disse Draco.
— Draco... — Severus direcionou um olhar sério de repreensão para o garoto.
— O garoto está perturbado, Snape. Tenhamos paciência… — disse o ministro.
— Eu gostaria de falar com eles a sós.
— Diretor, eles precisam de cuidados!
— Isto não pode esperar, Papoula.
— Está bem… — Madame Pomfrey concordou a contragosto e seguiu para sua sala, passando pela porta ao fundo da ala hospitalar.
— Diretor, não está pensando em acreditar nessa bobagem, está?
— Snape, por favor, peço que me deixe a sós com eles. Fudge, garanto que não irei demorar.
— Está certo. — Fudge olhou as horas em seu grande relógio de bolso. — Já está quase na hora. Irei falar com os dementadores.
O ministro deixou o local. Snape o seguiu, direcionando um último olhar desgostoso para o diretor antes de sair e fechar a porta.
Therion pulou da cama no mesmo instante, cambaleante. Harry o segurou para que não caísse quase que imediatamente, passando um braço ao redor de sua cintura ao que ele apoiava o braço em seus ombros.
Black encarou os olhos verdes preocupados, suas bochechas corando violentamente. Apenas sorriu de leve em agradecimento ao Potter. Desviou sua atenção para o diretor com um olhar suplicante.
— Por favor, diretor, acredite em nós. Sirius é inocente.
— Aquele rato velho do Rony era realmente um animago — Merliah disse, saindo de sua cama e se aproximando deles rapidamente.
— Ele era Peter Pettigrew! Fugiu quando o Prof. Lupin se transformou em lobisomem e… — completou Hermione.
— Sirius tentou ir atrás dele, mas os dementadores chegaram e ele estava muito machucado. Por favor, não deixe ele receber o beijo do dementador — disse Harry, falando rápido e num tom alvoroçado.
— Foi Peter quem atacou o Rony e… — continuou Therion.
Dumbledore ergueu a mão, e todos ficaram em silêncio no mesmo instante.
— Peço que me ouçam e não interrompam, não temos muito tempo — disse ele. — Não existe uma evidência concreta e forte o suficiente para sustentar a história de Black, exceto a palavra de vocês... E a palavra de bruxos de treze anos não irá convencer ninguém, ainda mais um deles possuindo uma forte ligação com ele. — Direcionou o olhar para Therion, que suspirou frustrado. — Dezenas de trouxas foram testemunhas e disseram ter visto Sirius matar Pettigrew, o que deu muito trabalho para o Ministério na época, inclusive. Eu mesmo prestei depoimento dizendo que Sirius Black era o Fiel do Segredo dos Potter.
— Mas eles trocaram de última hora! — interrompeu Black.
— Lupin pode contar tudo! — disse Harry.
— Harry, Lupin nesse momento está na floresta sem o mínimo de consciência humana. Quando voltar a si de manhã, já será tarde demais para Sirius — explicou o diretor. — E acho que o senhor Therion deve ter plena ciência de que nem todos iriam acreditar em um lobisomem. A maioria dos bruxos desconfia tanto que sua palavra seria o mesmo que nada.
Therion grunhiu em tristeza e frustração. Conhecia muito bem o preconceito da sociedade bruxa para com os lobisomens. Já teve o desprazer de presenciar o pai ser bastante desrespeitado e tratado com desprezo por causa de sua condição.
Sua maior motivação para estudar tudo que podia sobre licantropia e poções era poder um dia fazer com que Remus nunca mais precisasse passar por tanta humilhação e desprezo.
— Eu sei… — murmurou, suspirando.
— Mas… — Harry tentou falar.
— Já é tarde demais, Harry. Precisa admitir que a versão de Snape é muito mais convincente — interrompeu Dumbledore. — Acho que o senhor Malfoy concorda, mesmo tendo presenciado tudo.
Draco, que permanecia sentado na cama com as pernas balançando há uma certa distância do chão, apenas balançou a cabeça e suspirou. Ele realmente estava confuso com tudo, mas viu com os próprios olhos o rato se transformar em Peter Pettigrew e admitir que era responsável pela morte dos pais de Potter.
Ao que tudo indicava… Sirius Black era inocente, mas a história de Snape certamente seria mais convincente. E ele conhecia o poder de persuasão e insistência dele, afinal, ele esteve presente em toda a sua vida.
— Todos vão acreditar nele, isso é óbvio — falou. — Melhor aceitar que seu pai já está condenado, Black. Não tem como ele escapar disso.
— Quero ver se falaria com tanta tranquilidade se fosse alguém da sua família que estivesse sendo condenado — retrucou Harry.
— Teoricamente isso aconteceu. Para sua informação, eu tenho parentes em Azkaban e que tiveram muita sorte de não serem condenados à morte, mas já devem estar quase lá com os dementadores.
— E ficava jogando na nossa cara Sirius estar lá. Você é um hipócrita do caralho, Malfoy — resmungou Therion, e Draco apenas deu de ombros.
Ele sequer conheceu sua tia que estava presa, não havia porque lamentar. E pelo menos se orgulhava de dizer que seus pais não estavam nem perto de sofrer o mesmo destino.
— Esse não é o momento para discussões — disse Dumbledore seriamente e prosseguiu. — Infelizmente, Sirius também não tem agido com inocência. O ataque a Mulher Gorda, a invasão a Torre da Grifinória armado com uma faca, atacar um aluno e um professor…
— Papai disse que Sirius não o atacou naquele dia, ele só escorregou enquanto o perseguia — justificou Therion. — Ser petrificado por ele não foi nada legal, mas observando agora as circunstâncias…
— As circunstâncias ainda não são favoráveis a ele.
— Mas o senhor acredita em nós, não acredita? — perguntou Harry, esperançoso.
— Sim, mas não tenho poder para impedir e fazer todos verem a verdade, nem ultrapassar ordens do Ministro da Magia.
Therion comprimiu os lábios e abaixou a cabeça, sentindo-se completamente impotente. Potter, ainda com o braço sustentando-o por sua cintura, passou o outro braço ao seu redor, enquanto ele apoiava a testa no ombro do garoto.
Harry também abaixou a cabeça, sem forças, sentindo-se mal pelo padrinho.
Queriam poder fazer algo para ajudá-lo, mas tudo parecia impossível. Dumbledore estava certo, as circunstâncias conspiravam contra Sirius. Não havia uma solução para ele.
— O senhor não acha que vamos desistir fácil assim, né? — interveio Liah, cruzando os braços. — Eu não quero ver uma pessoa inocente ser condenada.
— Caso não tenha caído a ficha ainda, não tem como impedir isso — Draco disse impaciente. — Ele já está condenado. Ajudá-lo é simplesmente impossível. Melhor aceitar de uma vez.
— Nada é impossível a menos que você acredite que seja — rebateu a garota num tom sério. — Existe uma solução, apenas precisamos encontrá-la. Há sempre um jeito de conseguir.
— Tem certeza que você é sonserina?
— Pelo que sei, os sonserinos são bastante persistentes e conseguem tudo o que querem, não importa como… Às vezes por meios não muito convencionais, o que, sinceramente, não importa se no fim obtermos sucesso. Eu quero ajudar e vou conseguir.
— Tudo o que precisamos… — disse Dumbledore lentamente, com um sorriso querendo aparecer em seu rosto. — É de mais tempo.
— Mais tempo… — Hermione começou a ponderar e então arregalou os olhos. — É isso!
— Prestem bastante atenção. Sirius está preso na ala oeste do castelo. Se tudo der certo, mais de uma vida poderá ser salva essa noite.
Todos, exceto Hermione, franziram o cenho confusos.
— Mas lembrem-se de uma coisa: — continuou Dumbledore. — não sejam vistos.
Ele virou-se e caminhou para fora da enfermaria. Olhou para eles da porta atentamente.
— Irei trancá-los. Boa sorte.
E então o diretor saiu e fechou a porta.
— O que aquele velho está querendo dizer agora?
— Boa sorte? O que ele espera que façamos trancados aqui? — indagou Harry.
Hermione puxou de dentro da blusa o pingente de um colar que estava em seu pescoço. Ele era de ouro e possuía vários aros móveis e uma pequena ampulheta no meio.
Malfoy arregalou os olhos ao avistar o objeto e pulou da cama, correndo até eles surpreso e sem acreditar.
— Isso é um vira-tempo?! Onde conseguiu?!
— Isso não importa, precisamos ser rápidos. Por mim, te deixaria aqui, mas agora você está tão metido nisso tanto quanto nós e se algo der errado, temos em quem jogar a culpa — Granger falou rispidamente. — Venham aqui, rápido!
— Você por acaso sabe com o que está mexendo? Isso não é brinquedo, Granger!
— Eu sei. Cala essa boca ou eu vou te dar outro soco.
Hermione alongou a corrente do colar o suficiente para poder passar em torno do pescoço de todos, embora de todo jeito os obrigasse a ficarem muito juntos.
— Ai! Você pisou no meu pé, Malfoy! — reclamou Liah.
— Quer o quê? Não tem espaço!
Harry tentou tocar curioso a ampulheta, mas Hermione deu um tapa em sua mão no mesmo instante.
— Au! Eu só queria ver.
— Acho que isso deve bastar… — ela murmurou, ignorando o amigo e girando os aros em torno da ampulheta.
Então tudo ao redor desapareceu e todos sentiram um forte puxão, como se fossem jogados para o ar. Pouco depois, sentiram o chão firme outra vez aos seus pés e o ambiente ao redor entrou em foco.
Ainda estavam na ala hospitalar, mas agora fracos raios de sol entravam pelas janelas.
Therion franziu o cenho ainda mais confuso ao ver a luz adentrar o local e depois olhou para o objeto das mãos de Hermione. Ela recolheu a corrente e voltou a guardá-la escondida por entre as roupas.
— Isso é mesmo uma vira-tempo?! — indagou de olhos arregalados ao perceber o que havia acontecido.
— Sim. Agora vamos!
Hermione correu até a porta. Draco e Merliah a seguiram, e Black foi logo atrás com Potter ao lado, bastante confuso.
Enquanto passavam pelo saguão, um grupo de alunos vinha de um corredor. Granger empurrou todos para dentro do armário de vassouras e fechou a porta. Permaneceram espremidos ali, e Therion grunhiu baixo ao sentir uma leve dor em seus ferimentos.
— O que diabos aconteceu?! Como amanheceu tão rápido? — questionou Harry.
Hermione puxou de volta a ampulheta.
— Isso aqui é um vira-tempo. A Profª. McGonagall me deu no início das aulas.
— Ela O QUÊ?! — Draco exclamou, e Therion e pisou em seu pé propositalmente com força. — AI!
— Não podem nos ouvir! — disse sério e voltou sua atenção para Harry. — Nós voltamos no tempo.
— Como é?! — Harry e Merliah indagaram ao mesmo tempo.
— Vira-tempos são objetos criados usando o feitiço Volta-Hora para que se volte algumas horas no tempo. Minha família tem um — Malfoy quem explicou. — E voltar no tempo é extremamente perigoso. Por que McGonagall daria um para uma aluna qualquer?
— Aluna qualquer bastante inteligente e dedicada interessada em estudar — rebateu Hermione. — Ela me deu para que eu pudesse estudar todas as matérias extras. É assim que tenho conseguidos assistir a todas as aulas.
— Por isso você sempre sumia e aparecia do nada?
— Exatamente, Liah.
— Você esteve voltando no tempo o ano inteiro para estudar?! — Malfoy questionou desacreditado, e Granger apenas assentiu.
— E agora vamos usar para salvar Sirius. Dumbledore disse que duas vidas poderiam ser salvas, mas… Não entendi o que ele queria dizer com isso. Onde estávamos antes do sol se pôr?
— Você estava dando um soco no loiro oxigenado e Canis quase fazendo picadinho dele — disse Liah.
Therion tentou pensar no que o diretor estava querendo dizer. Ainda estava bastante surpreso por voltar no tempo, mas era a única chance que tinha de poder salvar Sirius.
Repassou todo o dia em sua cabeça, recapitulando cada passo.
— Duas vidas. Uma é o Sirius, obviamente, a outra… — Harry murmurou, tentando pensar.
Naquele momento, Malfoy e Black xingaram ao mesmo tempo, percebendo o que aquilo significava.
— Só pode ser brincadeira. Me diz que ele não estava falando no...
— O Bicuço!
— O monstrengo com asas. Sério?
— Nós temos que salvar o Bicuço!
Therion abriu a porta e saiu rapidamente.
— Therry, cuidado! Você ainda está machucado! — Harry correu atrás dele.
— Eu tô bem, Mini Prongs. Alguns arranhões de lobisomem não vão me matar.
— Tecnicamente…
— Calado, Malfoy.
— Isso pode sim te matar. Não se curam como qualquer outra ferida, Black.
— Sei muito bem e tô pouco me lixando pra isso. Salvar Sirius e Bicuço agora é mais importante.
Harry seguiu ao lado do garoto, preocupado, pois, certamente, dentre todos ali, ele era o que estava em piores condições. No entanto, Therion ignorava completamente qualquer dor e o seu estado físico, determinado a conseguir o que queria.
Ele iria salvar Sirius e Bicuço, custe o que custar. Não mereciam morrer, ambos eram inocentes.
Eles saíram do castelo e correram até a cabana de Hagrid. Ao chegarem lá, avistaram Bicuço preso em meio ao canteiro de abóboras, junto de Canis. Aproximaram-se com cuidado e distantes, escondendo-se atrás de um monte de abóboras.
A versão passada de Canopus acariciava as penas do hipogrifo com delicadeza, uma grande tristeza pesando em seu olhar. Ele possuía lágrimas em seus olhos e algumas escorriam devagar por seu rosto, enquanto ele fungava e lamentava.
Falava tristemente com a criatura, a dor transbordando em sua voz. Os outros puderam observar escondidos, aguardando que ele entrasse na cabana.
— … Uma vez, quando era pequeno e li sobre hipogrifos num antigo livro sobre criaturas que meu pai tinha da época de escola… Eu pedi para ter um — ele disse e riu sem ânimo. — Parecia bem legal poder ter um animal com o qual eu pudesse voar por aí. Ele disse que não podíamos, é óbvio.
— Aquele ali é o Canopus? — perguntou Draco num tom bastante baixo, franzindo o cenho enquanto espiava, tentando não ser visto nem ouvido.
— É. Ele estava se despedindo — respondeu Therion no mesmo tom, observando o irmão.
— Ele realmente parece bem mal… Só por causa dessa coisa?
— O que você esperava?! Ele fez de tudo para tentar salvar o Bicuço, mas o seu pai manipulou o Conselho inteiro! — rebateu irritado, com uma expressão furiosa que o deixou ainda mais idêntico ao irmão gêmeo quando fazia o mesmo. — Se ele está assim, é por sua culpa. E agora vamos resolver a burrada que você fez.
Canopus olhou na direção de onde estavam, e eles se encolheram rapidamente para se esconder. Para a sorte deles, o garoto estava tão preocupado com o hipogrifo que ignorou pensar ter ouvido algo. Ele abraçou o pescoço do animal, ainda acariciando as penas cinzentas com cuidado.
— Se eu pudesse, te levaria comigo para bem longe daqui, onde ninguém pudesse te machucar… — ele falou. — Eu tentei… Juro que tentei achar um jeito…
Após alguns minutos, ele secou suas lágrimas e se recompôs, ficando de frente para o animal. Fez o melhor para disfarçar o aspecto de quem estava chorando e forçou um sorriso.
— Foi bom conhecer você, Bicuço…
O hipogrifo grasnou quando o Black acariciou o bico e as penas da cabeça, inclinando-a mais em sua direção, aprovando o gesto. Ele riu fraco e deixou um último abraço nele, ainda sendo observado.
Não era surpresa para Therion ver o irmão tão carinhoso com a criatura, mas foi para os outros quatro. Sabiam que ele estava bastante preocupado e empenhado na causa, mas era a primeira vez que viam como Canis levava realmente jeito com criaturas e seu apreço por elas, e que a situação o afetava mais do que ele queria deixar transparecer. Até mesmo ver o hipogrifo tão calmo e dócil com o garoto os surpreendeu, principalmente a Draco.
Malfoy não esperava ver a feroz criatura que o atacou junto de Canopus aparentando o completo oposto do dia da primeira aula de Trato das Criaturas Mágicas. Black possuía um brilho diferente no olhar, semelhante ao que vira quando ele cuidava de simples casulos de mariposa no dormitório.
Um olhar de carinho e cuidado, misturado a melancolia.
Canis enfim afastou-se do hipogrifo e seguiu para dentro da cabana, terminando de se recompor e secar todo o rosto.
— Ele vai ficar feliz quando contar que o salvamos — disse Liah.
— É melhor nos apressarmos — disse Draco.
— Espere! Nós precisamos sair e ver o Bicuço — Hermione falou em tom de alerta. — Não podemos fazer mudanças muito drásticas.
— E o carrasco precisa vê-lo ou irá pensar que Hagrid o soltou — disse Therion. — Aliás, Malfoy, bastante pertinente o carrasco ser amigo da sua família.
— Eu não tenho nada a ver com isso. Meu pai resolveu tudo sozinho.
— Claro. Seu pai sempre faz tudo por você — resmungou Harry. — Me surpreende que consiga vestir as próprias roupas sozinho.
— Cala a boca, Potter!
— Shh! — Hermione pediu para fazerem silêncio.
Eles observaram de longe pela janela a si próprios dentro da cabana. Harry quase se levantou quando viu o rato, mas Therion o puxou e o manteve abaixado no chão com um olhar repreensivo.
— Sem mudanças drásticas na linha temporal.
— Mas…
— Sejamos pacientes e calmos, agora. Não podemos colocar tudo a perder — Black disse seriamente.
Harry se calou sob o olhar severo do outro.
Após um tempo, avistaram o ministro e o carrasco se aproximando ao longe junto de Dumbledore. Olharam apreensivos em direção à janela, esperando saírem logo. O Harry do passado estava de costas para ela, conversando com os outros.
— Por que vocês não saíram ainda? — indagou Malfoy.
— Vamos dar um jeito nisso — disse Merliah.
Ela pegou uma pedra pequena do chão, menor que uma bola de gude, e jogou em direção a janela. Harry grunhiu e levou a mão à nuca no instante que acertou seu eu passado.
— Essa doeu!
— Ficou maluca?
— Precisavam sair, ué. — Ela deu de ombros.
— E agora estão vindo pra cá. Se escondam! — alertou Therion, e eles correram até às árvores, escondendo-se ali.
As versões passadas se esconderam onde estavam antes no canteiro de abóboras, e eles observaram detrás das árvores. Ficaram ali até o diretor entrar na cabana com o carrasco e o ministro após verem o Bicuço.
Quando viram eles mesmos saindo, voltaram a se abaixar atrás das abóboras e espiaram enquanto se afastavam e Canis olhou uma última vez para Bicuço antes de sair abraçado ao irmão e aos melhores amigos.
— Agora, vamos. Depressa! — ordenou Therion.
— Vai lá, Therion. Você solta ele — disse Hermione.
— Por que só eu?
— Você é o melhor pra isso.
— Canis é quem lida com as criaturas.
— Você e Harry foram muito bem na primeira aula com o Bicuço — Merliah argumentou. — Vão logo! Com sorte, ele pensa que você é o Canis. Vocês são idênticos!
— Animais percebem nossas diferenças com muito mais facilidaaa… Malfoy! — Therion arregalou os olhos e se levantou rapidamente ao ver o loiro se erguer.
— Não temos muito tempo e não quero ver o espaço-tempo ruir, então, se puderem se apressar…
— Se você fizer besteira e for atacado de novo, a culpa será única e exclusivamente sua — vociferou Black o mais baixo que pôde e seguiu até o hipogrifo.
Ele e Harry se aproximaram com cuidado de Bicuço, fazendo reverência, como foi ensinado por Hagrid, e aguardando serem retribuídos antes de enfim chegar até o animal. Malfoy soltou a corda que prendia o animal com um feitiço, consideravelmente afastado da vista do hipogrifo, enquanto os outros dois a pegavam e tentavam puxá-lo.
Para o azar deles, Bicuço parecia bastante confortável deitado ali entre as abóboras e não fazia muita questão de se mexer. Harry e Therion continuaram a tentar puxá-lo e fazê-lo se levantar.
— Vem, Bicuço! — chamou Black.
— Estamos tentando salvar sua vida! — Harry exclamou.
O hipogrifo grasnou, e eles entraram em alerta, paralisados. Ouviram Dumbledore dizer algo, mas nada que indicasse que foram notados. O diretor estava de costas para a janela, tampando boa parte da vida dela tanto para dentro quanto para fora.
Respiraram fundo, aliviados, olhando para a criatura.
— Sem barulho, Bicuço — Therion disse.
O hipogrifo grasnou outra vez em resposta, bicando a terra.
Black bufou impaciente e tentou puxar a corda ligada à coleira do animal com mais força. Bicuço não gostou muito. Se levantou, mas também puxou a cabeça para trás de volta, levando Therion e Harry para o chão.
Draco e as meninas levaram as mãos ao rosto, suspirando pesadamente e negando com a cabeça. Aquela missão de resgate estava quase indo por água abaixo.
— O que essa coisa come? — perguntou Malfoy.
— Hagrid costuma dar doninhas… Ai… — respondeu Therion e gemeu de dor logo em seguida. Olharam para a cabana e, aparentemente, alguma coisa caiu lá dentro e fez um grande barulho que distraiu a atenção do barulho do lado de fora.
— Tem ali! Hagrid mencionou que tentou dar a ele algo de comer antes de chegarmos — Hermione apontou para um cesto fedorento próximo a cabana.
— Não acredito que vou fazer isso… — murmurou Draco.
Estava pensando se foi realmente uma boa ideia seguí-los depois que Canopus lhe deu aquele soco.
Ele pegou, com uma expressão enojada no rosto, uma das doninhas mortas no cesto, prendendo a respiração por causa do cheiro. Caminhou devagar em direção a criatura, enquanto Harry se levantava e puxava Therion para ficar de pé, deixando-o apoiar-se em si.
O loiro engoliu em seco, tremendo de medo.
— Reverência… Tem que fazer reverência… — disse Black.
Draco olhou para ele e depois de volta para o hipogrifo. Suspirou e curvou o corpo levemente para frente, com um olhar apavorado.
Ele estava quase correndo para longe, quando Bicuço reverenciou-o de volta. Com cuidado, pegou a corda no chão, encarando o animal e chegando perto bem devagar, tentando não demonstrar ameaça — como Canopus insistiu mil vezes que ele nunca deveria fazer.
Hesitante, estendeu a doninha na direção do animal.
— Quer comer? — perguntou com a voz trêmula.
O hipogrifo deu um passo em sua direção, e ele rapidamente deu dois para trás. Começou a suar frio, o medo o consumindo por inteiro, mas ainda encontrou forças para afastar a comida quando o animal tentou dar uma bicada.
— Quer isso? Vem aqui.
Começou a caminhar devagar para trás, puxando com o máximo de cuidado o hipogrifo.
Harry voltou a segurar a corda para ajudar, enquanto seguiam em direção às árvores. O hipogrifo os seguia em busca de ganhar seu petisco, e assim foi até adentrar um pouco da floresta.
Pararam quando conseguiram uma distância considerável, e Malfoy jogou a doninha para Bicuço, que agarrou-a com o bico e começou a devorar rapidamente. Ele se afastou logo, respirando um pouco ofegante.
— Conseguimos?
— Acho que sim — disse Harry.
Ouviram então vozes vindo da direção da cabana de Hagrid. Era clara a surpresa por não encontrarem o hipogrifo, e Rubeus chorou de alegria. O som de algo sendo cortado os assustou levemente, mas logo perceberam que o carrasco havia decepado uma abóbora ao meio de frustração.
Eles continuaram seu caminho, puxando Bicuço para longe.
— Você se machucou? — Potter perguntou ao Black, olhando-o preocupado.
— Não, está tudo bem. Já tive tombos piores e mais dolorosos — ele riu baixo em resposta, passando as mãos por suas ataduras e mordendo o lábio com força. Elas estavam com várias manchas de sangue e sujas de terra como suas roupas. — Boa ideia com a comida, Malfoy. Conseguiu resolver a burrada que você mesmo causou.
— É como chamo os pavões que temos no jardim, em minha casa — respondeu Draco, dando de ombros. — Sempre levo comida para eles.
— Você cria pavões e está com medo de um hipogrifo? Não tem muita diferença — retrucou Merliah.
— Eles são bem menores, mais simpáticos e mil vezes mais elegantes.
— Bicuço também é bastante simpático, basta você também ser — resmungou Hermione.
— Os pavões nunca me atacaram enquanto brincava com eles quando era criança — rebateu ele num tom sério.
— Vamos nos apressar e ver onde estão nossos eus passados. Logo Sirius vai aparecer — alertou Therion.
— Agora devemos estar prontos para rever Malfoy levando uma surra. Isso vai ser emocionante — disse Liah e apertou o passo para caminhar mais rápido e sair na frente, segurando a corda para ajudar a levar o hipogrifo.
Ela não estava errada.
Eles chegaram até próximo de onde estavam suas outras versões e tentaram se esconder.
Black empurrou Potter contra uma árvore quando o viu quase seguir reto, para que ele não fosse visto. Ele apenas ofegou surpreso e arregalou os olhos, o rosto queimando num tom avermelhado.
— Precisamos ter cuidado. Se nossas figuras passadas nos virem, vai criar um paradoxo temporal com consequências inimagináveis — disse sussurrando.
— O quê?
— Em De Volta para o Futuro 2 a namorada do Martin desmaiou quando suas duas versões se encontraram e ela ficou bem biruta — comentou Liah. — Seria algo assim?
— Do que diabos você tá falando? — Therion perguntou.
— Vocês nunca foram ao cinema na vida, não? Bruxos podiam investir um pouco mais em entretenimento.
— Fique quieta! Vamos ser ouvidos! — exclamou Draco.
— Fica na sua, Dragãozinho.
— Não me chame assim! — rebateu irritado.
— Olha só, em três… Dois… Belo soco, Mione.
— Obrigada — Granger agradeceu, espiando tudo discretamente.
— E agora vem o Canis… Típica jogada na parede. Clássico! Se chegasse mais perto rolava beijo. Bem cena de filme.
— Liah!
— Não é como se eles nunca tivessem feito isso antes.
Draco arregalou os olhos, e seu rosto ficou corado instantaneamente. Ele encarou a garota espantado.
— Como você…?
— Lá vem o outro soco. É ótimo rever isso! — falou com um grande sorriso iluminando seu rosto, e então encarou Malfoy com um olhar divertido nas orbes esverdeadas. — Na próxima vez que resolver seguir alguém para fora de uma festa, seja mais discreto. E quando voltar, tente não parecer tão envergonhado. Seus amigos são muito bestas para não terem percebido.
Draco desviou o olhar, ajeitando a gola da camisa e a gravata enquanto tentava esconder a vergonha do melhor jeito Malfoy.
— E lá vai o rato.
— O que vamos fazer? — perguntou Harry.
— Esperar anoitecer e sairmos da Casa dos Gritos. Vamos até o lago — respondeu Black.
— Não podemos simplesmente pegar o rato? — perguntou Liah. — Aí ele nunca teria fugido e tudo se resolve.
— Nossa missão é salvar Sirius e Bicuço, apenas — disse Hermione. — Não podemos mudar mais nada. É muito perigoso.
— Isso não mudaria o futuro e estaria tudo certo?
— É complicado.
Eles seguiram andando e pararam afastados em meio a floresta, podendo avistar o Salgueiro Lutador. Bicuço começou a tentar seguir na direção oposta ao ouvir a Hagrid, mas Harry o segurou com força pela corda.
— Não… Bicuço, fique quieto!
Draco pegou o fim da corda e amarrou-a firmemente a uma árvore.
— Pronto. Agora quero ver ele fugir… AH! — Malfoy dizia e gritou assustado quando sentiu o bico do animal em suas costas. O hipogrifo grasnou e ele pulou para trás.
— Não grite!
— P-para com isso! — Draco resmungou assustado quando a criatura voltou a se aproximar e empurrar a cabeça em sua direção. — Não tenho mais comida.
— Ele não vai fazer nada, não precisa ficar com medo, Malfoy — disse Therion e sentou-se em uma pedra. — É só não assustá-lo.
O loiro se afastou e se encolheu contra a árvore, trêmulo, fechando os olhos com força. Os outros riram, também sentando-se ou no chão ou em alguma pedra grande o suficiente. Malfoy sentou-se escorado na árvore, olhando de soslaio para o hipogrifo.
Therion puxou a barra de sua calça para verificar os curativos que haviam em sua perna, fazendo uma leve careta de dor. Estava realmente bastante dolorido e havia vários hematomas e arranhões leves por seu corpo, dignos de alguém que saiu de uma baita briga.
Harry olhava-o preocupado, sentado ao seu lado. Levaria um bom tempo ainda até anoitecer, então achava que seria uma boa hora para conversar.
— Está com muita dor?
— Um pouco. Acho que é o que se espera depois de entrar numa verdadeira luta com dois cães gigantes e um lobisomem — respondeu e verificou os curativos nos braços.
— Quando… Quando vocês viraram animagos?
Therion respirou fundo, juntando as mãos em seu colo. Ele e Harry estavam sentados juntos um pouco afastados dos outros, mas ainda assim, começou a falar num tom mais baixo.
— Faz pouco tempo, mas… Estamos tentando desde o início do ano letivo — confessou, mirando os olhos de Potter. — Pesquisamos por mais de dois anos sobre animagia, pensando na possibilidade. Papai nos contou em agosto que os Marotos eram animagos… Foi aí que tivemos certeza de que o plano poderia dar certo.
— Lupin disse que tinha proibido vocês de fazerem isso, lá na Casa dos Gritos.
— E nós não obedecemos. — Sorriu de lado.
Harry riu, pensando em como aquilo era realmente a cara dos gêmeos Black.
— Ninguém sabia disso… Né?
— Não, ninguém. Se contássemos, precisaríamos explicar o porquê…
— E isso revelaria o segredo do seu pai — completou Potter e sorriu fraco de forma compreensiva. — Olha, por alguns momentos, eu realmente fiquei muito bravo e chateado por você ter escondido tanta coisa…
— Eu sei… — Black desviou o olhar.
— Mas — continuou Harry e levou sua mão delicadamente até às do outro, ganhando sua atenção de volta. — agora entendo melhor. Proteger a sua família era sua prioridade, não é? E não podia revelar o segredo do seu pai desse jeito.
— Sim… Tudo o que fizemos foi pelo nosso pai.
— Ele vai ficar uma fera… Bom, tecnicamente ele está agora, mas… Você me entendeu.
— É, provavelmente — riu baixo. — Você não vai tratá-lo diferente agora que descobriu sobre a licantropia, vai? Ele tinha muito medo da sua reação se descobrisse.
— Não, não vou — garantiu Potter. — Mas… Não é todo dia que você descobre que o pai dos seus amigos é um lobisomem. Só estou bastante surpreso.
— Imagino, mas ele não vai deixar de ser o homem bom que sempre foi por causa disso. Isso é o que a maioria dos bruxos não entende.
— Lobisomens não tem lendas muito legais no mundo trouxa também.
— Um reflexo de todo o preconceito da sociedade bruxa — lamentou Therion, suspirando. — Poucos entendem o que passam. Seu pai foi uma dessas pessoas… Ele sempre foi compreensivo e tentou ajudar.
Harry sorriu com aquela afirmação. Seu pai parecia ter sido uma ótima pessoa.
Queria tê-lo conhecido.
— Posso te confessar uma coisa?
— Você sabe que pode, Harry — disse Black, olhando em seus olhos. Eles instintivamente entrelaçaram os dedos de suas mãos que estavam unidas no colo do garoto.
Harry mordeu o lábio inferior nervosamente, abaixando o olhar. Sentia-se que estava sendo muito bobo pelo que estava pensando.
— Lembra quando estávamos no lago com os dementadores? — disse num tom muito mais baixo, quase sussurrando. Therion assentiu e se inclinou um pouco na direção de Potter para poder ouvir. — Sabe que só uma coisa pode ter afastado eles daquele jeito.
— Um patrono. Eu vi, mas… Não consegui ver a forma nem quem conjurou.
— Eu acho… A-acho que vi.
— Quem?
Potter desviou o olhar, e Black olhou-o intrigado.
— Quem você viu, Hazz? — insistiu.
— Promete que não vai me chamar de maluco?
— Depende muito do sentido e contexto.
— Só promete que vai tentar entender.
— Alguma vez eu não te entendi, Prongs? — Therion sorriu de canto. Harry suspirou e riu, balançando a cabeça. — Eu prometo. Vai, fala logo.
Potter o encarou, ficando em silêncio por alguns instantes antes de responder.
— Acho que vi o meu pai.
— Okay… Definitivamente, você bateu com a cabeça.
— Você prometeu! — exclamou.
Harry fez um biquinho frustrado tão fofo que Black riu e quase não resistiu a vontade de pular sobre ele e beijá-lo naquele momento.
Therion quis se dar um tapa por isso logo em seguida. Não devia pensar esse tipo de coisa com um de seus melhores amigos.
Ele agradeceu mentalmente por Harry não ser um legilimente.
— Estou falando sério. Sei que parece loucura, mas… Eu tenho quase certeza de que o vi.
— Harry, você sabe que seu pai…
— Está morto.
Black comprimiu os lábios ao ver o outro abaixar a cabeça. Apertou sua mão, fazendo-o voltar a encará-lo.
Olhou profundamente nas orbes verdes e viu que ele estava falando sério. Harry acreditava ter visto o pai na hora que surgiu o patrono. Parecia loucura, mas deve haver uma boa explicação. Ele não estava mentindo.
— Harry…
— Você não acredita em mim...
— Acredito.
Potter arregalou levemente os olhos, surpreso. Logo depois, um sorriso leve e sincero surgiu por entre seus lábios.
— Não sei como pode ter acontecido, mas acredito em você — disse Black.
— Eu realmente queria que… Ele estivesse aqui. Sinto falta dele, mesmo que… Quase não me lembre dele.
— Eu sei… Também sinto falta da minha mãe. Quando ela morreu, eu era ainda mais novo do que você quando perdeu seus pais.
— Quantos anos você tinha?
— Poucos meses… Dois ou três, acho — franziu o cenho, tentando lembrar. — Eu e Canis mal tínhamos nascido.
Therion ergueu o olhar para o céu, o qual ficava cada vez mais escuro, pensando em todas as noites que ficou olhando para as estrelas abraçado a uma foto de sua mãe quando tinha um pesadelo.
Harry deslizou o polegar pelas costas da mão de Black, transmitindo conforto. Os dois haviam perdido os pais muitos novos. Entendiam a dor um do outro.
Ele sabia que os amigos eram pequenos quando perderam a mãe, mas não imaginava que fosse tanto. Tiveram ainda menos tempo com ela do que ele teve com seus pais.
— Eu lembro da voz dela. A última coisa que ela disse a mim e Canis.
— O que ela disse?
— Que nos amava muito… E que meu pai e Sirius cuidariam bem de nós se algo acontecesse a ela — disse com uma grande dor em sua voz. — Acho que, de alguma forma, ela sabia que não ia voltar depois que saiu de casa naquele dia.
— Ela estava certa… Lupin cuidou de vocês.
— Sim… E somos extremamente gratos por tudo que ele faz por nós. Nem sei o que seria de nós sem ele… — Seus olhos marejaram, e ele suspirou, secando os olhos antes que alguma lágrima resolvesse cair. — Não tínhamos mais ninguém. Passamos por todo o processo longo da animagia apenas por ele… Para poder ajudá-lo e cuidar dele, como ele tem feito conosco há tanto tempo.
— Agora vocês também tem o Sirius.
— Isso é complicado, Hazz. Acho que é mais importante para você agora ter ele de volta do que nós. Eu e Canis sempre tivemos o papai, e é tudo o que basta para nós… Seus tios são terríveis.
— É, eles são… Mas, sinceramente, também ainda preciso conhecer mais Sirius. Só sei que pior que os Dursley ele não pode ser.
Therion riu fraco.
— Por isso quer tanto morar com ele?
— É a chance de sair daquela casa. E ele é meu padrinho, era amigo dos meus pais… Acho que é o mais próximo que tenho deles. Minha tia odeia a minha mãe, e elas eram irmãs!
— Infelizmente, justamente por elas serem irmãs que você acabou lá.
— Preferia qualquer outro lugar, é quase como não ter nenhum parente. Vocês pelo menos tinham o Remus, que é seu padrinho.
— Eu tinha um tio e a mãe do Sirius, na verdade… Que teoricamente é a minha avó — confessou Black, franzindo o cenho ao pensar nisso. Ele sempre pensou mais em Hope Lupin como sua avó do que Walburga Black, mesmo nunca tendo conhecido nenhuma das duas, até onde se lembrava. — Mas parece que ela não era o melhor exemplo de pessoa também. Acho que se fôssemos criados por ela, seria tão ruim quanto os Dursley.
— Tenho minhas dúvidas. Mas e o seu tio? Era irmão do Sirius?
— Não, o irmão do Sirius já tinha morrido também. Estou falando do irmão gêmeo da minha mãe. Papai já falou dele algumas vezes quando contava sobre ela.
— Sua mãe também tinha um gêmeo? — Harry arregalou os olhos surpreso.
— Tinha. Ele também era bruxo. Mas eles se afastaram um pouco depois da escola. Ele sumiu um tempo depois, antes de mamãe engravidar... Ninguém mais teve notícias.
— Ele simplesmente desapareceu? Do nada?
— Muitas pessoas desaparecem durante uma guerra, Harry. A maioria não volta, e se volta… são apenas lápides num cemitério… — Ele suspirou. — Como ninguém tinha notícias sobre ele, só restavam duas opções… E papai sempre pareceu decidido a nunca permitir que fôssemos para a família Black.
— Vocês tiveram sorte. Lupin sempre pareceu um ótimo pai.
— O melhor pai que poderíamos ter. Ele é a nossa família. — Exibiu um sorriso fraco e sincero para Harry, sem desviar o olhar de seus olhos. — E você é da família também.
Harry sorriu largo. Gostava quando diziam que ele também era parte daquilo. Ele nunca havia se sentido realmente em "família" com os Dursley.
— Bom… Morando com o Sirius, podemos nos ver mais vezes fora de Hogwarts.
— É. Essa seria uma ótima vantagem. Mas, aconteça o que acontecer, nesse verão, eu vou te sequestrar daquela casa para podermos dar um belo passeio por Londres.
Potter riu. Ele adoraria aquilo.
Therion respirou fundo e deixou a cabeça cair sobre o ombro de Harry. Assim permaneceram enquanto aguardavam o momento de voltar a ativa, ambos mirando o céu, que escurecia rapidamente e algumas estrelas começavam a dar sinais em alguns pontos.
O tempo se passou, todos cada vez mais cansados de esperar.
Merliah cochilou pelo menos duas vezes escorada em Hermione, que também estava exausta e lutando para manter os olhos abertos.
Draco acabou realmente pegando no sono, a cabeça pendendo para baixo enquanto continuava sentado, com as costas apoiadas contra o tronco de uma árvore. Bicuço estava também deitado bem rente aos seus pés.
Harry em dado momento apoiou a cabeça contra a de Therion, que permanecia em seu ombro, e fechou os olhos por alguns instantes, enquanto Black fazia o mesmo.
Havia sido uma longa semana de exames finais, e aquele dia por si só estava sendo bastante exaustivo para jovens bruxos de 13 e 14 anos. Naquele momento em que puderam parar para descansar enquanto esperavam, o cansaço estava lutando contra eles junto ao tempo.
— Não lembrava que tínhamos demorado tanto lá dentro — comentou Hermione.
— Foi uma longa história — disse Therion, com os olhos fechados. — Entramos quase no fim da tarde e saímos no ponto alto da lua cheia.
Ele olhou para seu relógio no pulso. As horas haviam voltado no tempo ali também, por ser um artefato mágico. Não faltava muito para a hora da transformação de Remus.
E foi ali olhando para o objeto que Black percebeu que ainda estava de mãos dadas com Potter e conteve um sorriso bobo por isso.
Após dez minutos, Harry abriu os olhos e olhou na direção do Salgueiro Lutador, vendo o momento em que Hermione e Liah saíram pela passagem com Rony entre elas com os braços por seus ombros, mancando com a perna machucada. Ao mesmo tempo, os ponteiros e o número das horas no relógio de Black começou a ganhar um brilho prateado.
— Estamos saindo — disse, alertando aos outros.
— Ei, Bela Adormecida! — Merliah chamou a Draco. Ela pegou uma pedrinha do chão e jogou no garoto, acertando o topo de sua cabeça.
Malfoy acordou no mesmo instante, resmungando e levando a mão ao local acertado.
— Ai! Quem fez isso? — indagou irritado.
— Euzinha, Bela Adormecida — assumiu a garota, colocando-se de pé e alongando os braços para cima. — Não esperava que eu te acordasse com um beijo como um Príncipe Encantado, né? Sei que sou uma princesa, tenho o sobrenome de uma dinastia de reis inclusive, mas prefiro ser a Cinderela a beijar um sapo.
Os outros se levantaram também, aproximando-se para observar a cena. Viram Draco deixar a passagem, seguido do Snape desacordado, depois Sirius, Harry e os gêmeos. Por fim, Remus saiu com Peter.
— É agora que eu e Canis vemos a hora e lembramos que é lua cheia — comentou Therion.
— Seu relógio está brilhando — percebeu Harry, intrigado.
— Meu avô me deu de presente. Canis também tem um. É encantado para mostrar a hora exata em que a lua cheia atinge o ápice e quando a noite termina. Ele e minha avó usavam para se guiar e se preparar para os ciclos quando papai era criança.
— Vocês não tinham dito que foi um feitiço que deu errado? — Draco disse confuso.
— Acha mesmo que iríamos dizer a verdade? Você e os outros nem se ligaram que os relógios só faziam isso na lua cheia.
Voltaram a observar o que acontecia. Remus já estava se transformando, gritando e grunhindo tão alto de dor que eles conseguiam ouvir mesmo distantes.
Black se encolheu ao ver o pai sofrendo daquela maneira mais uma vez. Seu coração se acalmou quando sentiu o aperto de Harry em sua mão e viu seu olhar de conforto.
Eles viram quando ele assumiu a forma animaga no momento em que Sirius avançou contra Lupin para tentar protegê-los. Logo Canis também assumiu sua forma e entrou para a briga, rosnando raivoso e latindo.
Therion sabia que aquilo estava machucando todos eles e se lembrava que, descontrolado, o lobisomem deixou mais arranhões no irmão com as garras. Viu como avançaram para atacar Sirius, e vendo por aquele ângulo, percebeu como a luta estava extremamente violenta.
Ele também viu outra coisa. Remus não ia permanecer parado.
— Papai está sem controle… Vai nos atacar — murmurou.
— Mas estamos aqui, não estamos? Ele não fez isso — disse Harry.
— Ele precisa sair dali.
Soltou a mão de Potter e avançou alguns passos a frente, pegando sua varinha.
— O que está fazendo?
— Só há uma coisa que faria ele se afastar. Não posso deixar que acabe atacando alguém. Ele iria se culpar pelo resto da vida.
— Therry…
Black ignorou Potter e visualizou sua forma animaga, usando de toda a sua concentração. Estava ferido e isso dificultava as coisas, mas era preciso. Grunhindo dolorido, ele assumiu a forma de lobo outra vez.
Malfoy naquele instante pulou assustado e escondeu-se atrás de uma árvore, apenas espiando trêmulo e com medo. Ele não gostava nem um pouco de lobos.
O uivo de Therion reverberou pela floresta e ecoou pela noite.
Os outros viram o lobisomem atentar-se ao chamado e correr de onde onde estava.
— E-ele está chamando aquela coisa?!
— Um lobisomem só responde ao uivo de sua matilha… É claro! Foi esse uivo que ouvimos! — Hermione exclamou ao dar-se conta daquele fato. — Por isso Lupin correu.
— É. E agora está vindo para cá — Merliah disse apontando logo à frente.
— Precisamos sair daqui! — Harry disse alarmado e olhou para o lobo. — Therry…
O lobo indicou a direção do lago com a cabeça e saiu andando na frente. Potter desamarrou o hipogrifo da árvore e correu logo atrás, sendo seguido pelas meninas.
— MALFOY! QUER MORRER?! — Liah gritou.
Quando Draco viu o lobisomem correndo naquela direção, ele berrou assustado e correu atrás dos outros. Eles correram o mais rápido que puderam, fugindo do Remus transformado.
Em meio a correria, ouviram latidos próximos. Conseguiram avistar um enorme cachorro de pelagem escura seguindo o lobisomem e os dois se afastando cada vez mais. Pararam de correr apenas quando chegaram às margens do lago.
Respiravam ofegantes, tentando recuperar o fôlego.
Therion mentalizou sua forma humana da forma mais clara possível. Com certa dificuldade, conseguiu sair da forma animaga, gemendo de dor, e caiu imediatamente no chão. Harry se aproximou dele e se abaixou ao seu lado.
— Eu estou bem — disse Black, antes que Potter pudesse perguntar algo.
— O que você fez foi muito arriscado! E acho que ficar se transformando estando aos pedaços não deve ser uma boa recomendação médica.
— Eu precisei. O instinto de um lobisomem na lua cheia é atacar qualquer ser humano por perto. Ele iria atacar vocês, mesmo que não quisesse… Não está consciente — justificou-se. — Não tinha certeza se funcionaria, mas… Precisei tentar.
— E funcionou. Foi uma ótima ideia — disse Hermione.
— Acho que nada conseguiria sua atenção além do uivo de alguém de sua matilha. Ele é o meu pai… Pareceu a melhor opção. Canis deve estar com ele agora.
— Eu vi… O cão atrás dele… — murmurou Draco.
— Era ele. Pelo menos um de nós vai poder passar a lua cheia com o papai… — Therion sorriu fraco, um tanto triste. Sentou-se no chão devagar e olhou para o céu. — Agora, temos outra coisa com o que nos preocupar.
Os outros também olharam para cima e viram. Centenas de dementadores vinham em direção a margem oposta do lago, cercando Sirius e duas versões passadas. As tentativas falhas de invocar um patrono que tiveram não ajudou muito.
— Nós fomos salvos antes. Só precisamos esperar. Eu vi — Harry disse, olhando ansioso ao redor.
— Nós nunca poderíamos combater tantos dementadores! O Feitiço do Patrono é muito complexo e avançado e precisaria de um bastante poderoso para afastar tantos! — exclamou Malfoy.
— Um só seria difícil com tantos. Dois talvez… — Therion murmurou.
Ele começou a pensar no que Harry disse ter visto naquele momento enquanto observava eles sendo atacados pelas formas obscuras. Lembrou-se de ter visto duas figuras prateadas antes de desmaiar.
Não havia mais ninguém além deles ali. Potter esperava pelo pai, mesmo sabendo que seria quase impossível.
Black encarou o rosto de Harry, e então ele descobriu o que aconteceu.
Harry era realmente quase uma cópia de James Potter.
— Precisamos conjurar o patrono, Harry.
— Mas nós não conseguimos! Mal fizemos um escudo e isso não vai ser suficiente! Eu vi…
— Você! Nós vamos conseguir, precisamos fazer isso.
— Therry… Nada que já pensei foi forte o bastante… — Lamentou Potter.
Black ficou de pé, agarrando sua varinha. Harry levantou-se rapidamente em seguida.
— Vamos conseguir fazer isso… Juntos — disse e segurou a mão esquerda de Harry com a sua direita, com sua varinha na outra mão. Encarou profundamente os olhos verdes, que encarou os seus de volta antes de Potter assumir uma expressão determinada no rosto.
— Juntos.
Harry pegou sua varinha e eles avançaram juntos em direção ao lago, sem soltar suas mãos. Respiraram fundo e se entreolharam antes de voltar sua atenção aos dementadores.
Juntos, eles pensaram em suas memórias mais felizes e disseram:
— EXPECTO PATRONUM!
Um grande brilho prateado deixou suas varinhas, tomando a forma de dois animais: um lobo e um cervo; juntos avançaram sobre o lago e emanaram uma forte e poderosa energia que começou a espantar todos os dementadores.
Mantiveram-se concentrados, cada um pensando em seus momentos mais felizes.
Therion pensou em mais de uma coisa, mas havia algo em comum em cada memória: Harry, seu pai e o irmão. Pensou no Natal, quando estavam todos juntos, quando abraçou Harry com força para agradecer o presente que tanto havia gostado.
Ele também visualizou outro momento: o dia do primeiro jogo de quadribol da Sonserina. Lembrou-se de quando ele e Harry comemoraram juntos na Torre de Astronomia, os dois conversando e bebendo cerveja amanteigada. Era um momento extremamente feliz e vivo em sua memória, no seu coração. Um momento genuíno de euforia e felicidade, quando pela primeira vez pensou o quanto Potter lhe fazia bem.
Um grande e sincero sorriso surgiu em seus rostos enquanto observavam seus patronos fazerem todos os dementadores partirem.
Eles se entreolharam no mesmo instante um para o outro, os olhos voltando a se fixar um no outro como acontecia tantas vezes, em uma conexão quase inexplicável.
Harry viu aquele fantástico brilho nos olhos acinzentados enquanto o garoto possuía um encantador sorriso por entre os lábios, o sorriso que fazia seu coração palpitar de uma forma que ele não compreendia. O mesmo brilho que ele via quando estavam juntos na Torre de Astronomia, apenas os dois, refletindo todas as estrelas do céu noturno.
Foi exatamente nisso que pensou quando conjurou o patrono. Uma de suas memórias mais felizes e poderosas foi a mesma que Therion também pensou: os dois juntos naquela torre, com cerveja amanteigada e conversas divertidas… E o brilho daqueles olhos que tanto admirou naquela e em muitas outras noites. Pensar naqueles olhos e naquele sorriso o faziam feliz.
— Conseguimos! — ele disse.
— Conseguimos. — Repetiu Black.
Harry pulou sobre o outro e o abraçou, levado pela emoção do momento. Therion retribuiu o abraço com o rosto corado, rodeando Potter com seus braços.
— Ah, Merlin! Desculpa… Te machuquei? — Ele o soltou, com os olhos arregalados de preocupação ao perceber o que havia feito.
— Não — Therry respondeu rindo. — Eu não sou feito de porcelana, Hazz.
— Mas ainda está ferido e eu tenho o direito de me preocupar com você.
Black sorriu bobo por ouvir Harry dizer que se preocupava consigo. Riu mais uma vez e deixou um beijo na bochecha de Potter, que rapidamente corou e ficou vermelho, exibindo um leve sorriso tímido.
— Você acabou de produzir um patrono que espantou centenas de dementadores e está mais preocupado que tenho alguns arranhões?
— Você também produziu um patrono. Foi um trabalho em dupla. Fizemos isso juntos.
— Sim… Juntos.
Eles observaram juntos seus patronos retornando após espantar todos os dementadores, parando a frente deles. Therion ainda tinha os braços ao redor da cintura de Harry e retirou um deles para estender a mão até o lobo prateado, enquanto Potter fazia o mesmo com seu patrono. As duas formas logo sumiram, e eles foram deixados novamente na escuridão da noite.
Os dois se entreolharam mais uma vez, ambos os corações batendo forte no peito enquanto o mundo ao redor, por um momento, pareceu não existir.
— Hey, pombinhos! — berrou Liah, chamando a atenção deles, que olharam para trás ao mesmo tempo. Eles avistaram a garota junto aos outros há alguns metros de distância, com uma mão apoiada em uma árvore e outra na cintura. — Vão se beijar agora ou querem mais privacidade? Podemos deixar vocês a sós se preferirem.
— Sem pressa alguma. Não é como se estivéssemos correndo contra o tempo — Hermione disse num tom sarcástico, parada logo ao lado da amiga e dando de ombros.
— Não sei se fico surpreso por vocês dois terem conseguido conjurar um patrono ou vomito por essa cena melodramática de romance bruxo do século XIV — Malfoy falou, distante das garotas com os braços cruzados.
Harry e Therion se afastaram rapidamente, com os rostos vermelhos, completamente envergonhados.
Merliah conteve uma risada, trocando um olhar cúmplice com Hermione. Elas viam que existia alguma coisa ali. Stuart já percebera há bastante tempo como o amigo estava sempre olhando para Potter nas aulas de Poções com a Grifinória ou quando estavam reunidos.
Os dois se aproximaram de onde elas estavam ainda corados, e Black direcionou um olhar sério para a amiga, que apenas sorriu de lado e se desencostou da árvore em que estava apoiada.
— Certo, vamos levar o Sirius agora antes que chegue o velho amargurado para bancar o salvador da pátria ou isso ainda precisa acontecer também?
— Vamos esperar Snape aparecer e levarem Sirius. Dumbledore disse que ele está na ala oeste — Therion disse, olhando de soslaio para Harry ao lado. — Ele pode fugir com o Bicuço.
— A ala oeste não é pequena — disse Potter, coçando a nuca pensativo e olhando timidamente para Black. — Dumbledore não disse exatamente onde ele está.
— Masmorras de castelos não foram feitas justamente para prisioneiros? — comentou Liah.
— Acontece, Stuart — retrucou Malfoy num tom prepotente. — que as masmorras de Hogwarts foram feitas para os sonserinos e fica para o leste do castelo. Trouxas não sabem nem o que é uma coordenada?
— Leste, oeste, tanto faz! É mais fácil de confundir que esquerda e direita. Só acho que seria lógico um castelo prender um prisioneiro dentro de uma masmorra.
— Não existem muitas salas onde poderiam deixar um prisioneiro — ponderou Hermione. — O mapa de vocês pode mostrar onde exatamente vão prendê-lo. Podemos pegar de volta enquanto estiverem levando o Sirius.
— Ótima ideia, Hermione! — disse Therion.
— Então vamos esperar Snape acordar — concordou Harry.
Eles não precisaram esperar muito para Snape dar as caras. Viram ele se aproximar de onde Sirius estava com duas versões passadas e levar todos desacordados flutuando em macas de volta para o castelo.
Aproveitaram o momento para dar a volta pelo lago até onde foram atacados pelos dementadores. Enquanto seguiam o caminho até o Salgueiro Lutador, Black ficou para trás, olhando para um papel que encontrou na grama bem onde Sirius estava caído instantes antes.
Harry parou ao notar que Therion não estava os seguindo e franziu o cenho.
— Está tudo bem, Therry?
— Já estou indo — respondeu e se abaixou para pegar o papel.
Viu que na verdade era uma fotografia, que estava um pouco amassada. Ao ajeitar o papel fotográfico, surpreendeu-se ao ver que era a mesma foto que seu pai deixava sobre sua mesa na sala dele.
Canis havia lhe dito que viu que ele tinha tirado ela do retrato no Halloween quando foi procurá-lo, e dias depois os dois viram que o pai havia substituído por outra das férias de Natal do segundo ano. Agora Therion percebeu que ele não havia simplesmente trocado porque insistiram.
Guardou no bolso de sua calça, decidido a perguntar sobre depois. Correu de volta para os outros e seguiu até o Salgueiro Lutador.
Recuperou a varinha de Remus caída na grama, onde Peter deixou cair quando atacou Rony e assumiu a forma animaga. Também guardou-a no bolso para devolver a ele depois e usou a sua para convocar o Mapa do Maroto com um feitiço convocatório, pois não sabia exatamente onde estava e não podiam perder tempo.
— Juro solenemente não fazer nada de bom — disse tocando o mapa com a ponta da varinha e o abriu.
Toda Hogwarts apareceu ali e os nomes das pessoas caminhando pelos terrenos da escola.
— Isso é um mapa de Hogwarts? — questionou Draco.
— Sim, e de todas as pessoas que estiverem por aqui em tempo real. Se você abrir a boca sobre ele para algum de seus amiguinhos, eu lanço um feitiço silenciador permanente e essa será a última coisa que terá dito na vida — Therion disse sem tirar os olhos do mapa.
— Eu nunca vi esses corredores.
— São passagens secretas. Agora fica quieto.
— Desde quando vocês têm isso? Isso é… Devo dizer, bastante impressionante.
— É uma herança de família.
— Isso não é algo da família Black.
— Como tem tanta certeza? Você não é um Black pra saber.
— Na verdade…
— Olhem! Fudge está com Snape e Sirius — Harry exclamou apontando para o mapa.
— Agora vamos ver para onde vão levar Sirius e esperar Dumbledore conversar com ele. Depois… — disse Hermione.
— Salvamos ele. — Concluiu Therion.
— Para algo que estávamos com pressa para fazer, estamos tendo que esperar demais — comentou Liah.
— Precisamos ter cuidado. Não podemos ser vistos e nem mudar mais nada. Sirius precisa ser levado e Dumbledore precisa falar com ele, ou nunca teria conhecimento do que realmente aconteceu e acreditaria na sua inocência e, consequentemente, nunca daria a sugestão de usar o vira-tempo. Muitas variáveis que podem dar terrivelmente errado.
— Traduza, por favor.
— Algumas coisas que aconteceram ainda precisam acontecer ou vai tudo para os ares. E é melhor irmos antes que o Salgueiro Lutador nos destrua.
Therion começou a caminhar logo a frente, sendo seguidos pelos outros. Aguardaram, observando tudo no mapa.
— Ele está na sala do Flitwick. Sétimo andar — disse Black, levantando os olhos para observar o castelo e apontou para uma das torres. — Ali. Acho que… Um… Dois… Segunda janela a direita.
— Acertou em cheio — disse Hermione.
— Como pretendem subir lá em cima e tirar um prisioneiro sem ser vistos? — perguntou Malfoy.
— Voando — Therion respondeu simplista. — Somos em cinco, então dá para duas vassouras e um vai no Bicuço com Sirius. Nós conseguimos.
— Certeza que é o Canis quem planeja a maioria das travessuras? — Harry perguntou olhando para Black com um sorriso de canto.
— Eu também tenho minhas ideias. E já complementei muitas das dele. Segura o mapa?
Therion entregou o mapa a Harry e preparou sua varinha. Respirou fundo e se concentrou.
— Accio Firebolts.
Passou-se um minuto e nada aconteceu. Todos encararam o garoto confusos, até que duas vassouras chegaram voando até eles e pararam logo à frente de Therion.
O garoto sorriu orgulhoso.
— Liah, essa é a sua.
— Você acabou de invocar a minha vassoura?
— Pensei que preferiria voar nela. — Deu de ombros e agarrou sua vassoura. — Dumbledore já saiu?
— Ainda não.
Eles aguardaram mais alguns minutos, até Harry ver o diretor deixar Sirius sozinho na sala do professor de Feitiços. Therion não demorou a montar em sua Firebolt, e Liah fez o mesmo na sua. Hermione montou na vassoura, logo atrás de Merliah.
Potter não pensou muito. Ele apenas montou na vassoura de Therion atrás dele e guardou o Mapa do Maroto em seu bolso.
— Espera aí! E eu? — indagou Draco.
— Monta no Bicuço — respondeu Therion.
— O QUÊ?! NEM PENSAR!
O hipogrifo grasnou e o garoto pulou para trás.
— Sobe logo, Draco! Não vou deixar você sozinho aqui livre para fazer alguma merda e estragar tudo.
— Eu não vou subir nessa coisa!
— Vai sim!
— Você não me dá ordens, Black.
— Você quem decidiu vir atrás da gente, agora vai até o fim. Anda logo, Malfoy! — vociferou Harry impacientemente.
— Por que você nos seguiu até a Casa dos Gritos para início de conversa?
Houve um longo silêncio em resposta, e Draco permaneceu bastante pensativo, mordendo o lábio inferior fortemente.
— E-eu... Seu irmão me deu um soco. Queria que eu ficasse parado? E isso não importa! — bradou ele.
— E eu vou te dar um também se não calar essa boca e subir no Bicuço — disse Harry.
— Depois você pode voltar a ser o garoto mimado e insuportável de sempre. Agora, se você não subir no Bicuço, eu vou te estuporar até a sala do Flitwick, me ouviu? — esbravejou Therion com um olhar furioso e uma expressão ameaçadora no rosto direcionada ao loiro.
Malfoy encarou-o de volta e comprimiu os lábios ao olhá-lo e lembrar-se imediatamente de Canopus.
Ele bufou e deu-se por vencido. Hesitante, aproximou-se do hipogrifo e montou em suas costas, engolindo em seco.
— Bicuço, segue a gente, está bem? Logo você estará livre — disse Potter calmamente para o hipogrifo.
Therion levantou vôo, e Harry apertou os braços ao redor de sua cintura para não cair. Merliah voava ao lado com Hermione e logo atrás entre eles Draco gritou apavorado quando Bicuço bateu as asas e subiu para o céu.
— Você é um apanhador, Malfoy! Pare de gritar, já voou antes — bradou Liah.
— NÃO É A MESMA COISA!
— Para de gritar, Malfoy! Não podem nos ouvir — Harry berrou para ele.
— Me lembre de mandar ele pro inferno na próxima vez que resolver nos seguir e precisarmos levar ele para algum lugar — Therion disse.
Harry riu, sentindo o vento bagunçar seus cabelos.
— Depois que Sirius estiver seguro… O que você vai fazer? — perguntou.
— Sinceramente? Não sei — respondeu sincero e suspirou. — Agora, tudo o que sei é que não posso deixar ele morrer. Depois de anos preso por um crime que não cometeu… Não merece isso.
— Não deve estar sendo fácil.
— Não, mas… Vamos dar um jeito. Sempre damos.
Therion sorriu fraco e virou a cabeça por alguns instantes para encarar Harry. Seus rostos ficaram mais próximos do que sua sanidade mental poderia aguentar com esse ato, e ele logo voltou a olhar para frente, sentindo os braços alheios ao seu redor.
Eles chegaram até a janela da sala de Flitwick. Hermione usou um feitiço para destrancar e Liah fez o favor de abrir gentilmente chutando força.
Sirius estava sentado em um canto do cômodo, encolhido no chão abraçado as próprias pernas. Ele pulou assustado quando a janela se abriu e arregalou os olhos espantado. Levantou-se com receio, aproximando-se para ver o que estava acontecendo.
— Como...? O que estão fazendo aqui?! — indagou surpreso ao vê-los.
— Viemos salvar você — disse Therion. — Sobe no hipogrifo.
Sirius piscou desconcertado ao ouvir aquilo. Encarou a todos eles, principalmente ao filho.
— Vamos! — chamou Harry. — Temos que ser rápidos.
O homem sorriu para o afilhado. Ele olhou para o hipogrifo e subiu no parapeito da janela.
Logo todos estavam voando para o topo da Torre Oeste de Hogwarts. Pousaram ali sem serem vistos por ninguém, como o planejado, e desmontaram rapidamente.
Sirius encarou os cinco adolescentes que pararam a sua frente com um olhar agradecido.
— Obrigado… Obrigado mesmo.
— Você precisa ir — disse Harry. — Os dementadores logo vão chegar.
— Eu… Eu nem sei o que dizer.
— Precisa fugir para o mais longe que puder. Encontrar um lugar seguro. — disse Therion dando um passo a frente.
Sirius o observou, identificando rapidamente com qual dos gêmeos estava falando.
— Theo… — murmurou encarando o garoto. — ... Onde está Canis?
— Com o papai… Na floresta — respondeu. — Foi para isso que nos tornamos animagos também...
— Mesmo ele tendo proibido — Sirius riu baixo. Não negaria que sentia-se orgulhoso de ver o que conseguiram fazer. — Você… Você não foi também?
— Não podia deixar você morrer, depois de tudo… Você precisa ir agora.
Sirius encarou o filho profundamente, com um brilho diferente em seus olhos, que estavam ficando marejados. Analisou-o por completo, vendo como havia crescido e o quanto estava diferente do que ele guardava em sua memória.
Perdeu tanto tempo… Queria falar tantas coisas…
Ele se aproximou hesitante do garoto, que não desviou os olhos dele.
— E-eu… Eu posso pelo menos… Te dar um abraço? — pediu num tom baixo e sofrido.
Therion supreendeu-se com o pedido e paralisou, em choque.
— Pode… — permitiu, sem se deixar pensar muito.
Sirius não perdeu tempo e o abraçou com toda a força que tinha. O garoto permaneceu paralisado, sem saber o que fazer, apenas sentindo as lágrimas voltarem aos seus olhos ao sentir um calor que não sentia há muito tempo. Receoso, ele retribuiu o abraço no fim, sem muita força.
Ambos fecharam os olhos e deixaram as lágrimas caírem.
Therion mordeu o lábio inferior com força, sentindo o gosto ferroso em sua boca em poucos instantes. A dor em sua cabeça voltou com força, ainda mais insuportável, enquanto aquela onda de emoções voltava a atingí-lo. Ele, de alguma maneira, soube toda a dor que havia em Sirius pelo tempo longe e o quanto ele não queria ter que ir mais uma vez.
Mas era preciso.
O garoto soltou o abraço e levou as mãos a cabeça, sentindo os braços do outro Black afrouxarem o aperto. As mãos de Sirius seguraram seu rosto, e ele abriu os olhos, vendo que ele havia se abaixado um pouco para encará-lo frente a frente.
— Eu só queria poder ter me despedido de vocês naquela noite — lamentou Sirius tristemente, com a voz falha.
Ele secou as lágrimas do filho e segurou as mãos que estavam em sua cabeça, abaixando-as e fazendo um leve carinho nos cabelos escuros como os seus, afastando os fios de seu rosto. Deslizou o polegar pela marca de nascença que o garoto possuía e exibiu um sorriso fraco e nostálgico.
Voltou-se para Harry, observando como ele era tão semelhante a James.
— Você é igual ao seu pai, Harry… E não só na aparência.
Harry sorriu sincero.
Sirius afastou-se e olhou para os dois garotos antes de se virar para ir.
— S-Sirius, espere! — Therion chamou.
Black parou no meio do caminho e se virou, observando o garoto se aproximar. Therion levou a mão ao bolso, retirando dele a fotografia que encontrou no chão.
Ao vê-la, os olhos de Sirius brilharam.
— Você pegou na sala do papai, não foi? — perguntou Therion.
— Peguei... Eu... Eu não resisti. Queria ter algo de vocês — admitiu. — Ficava olhando para ela na Casa dos Gritos... Me ajudava a continuar motivado. Só vi que deixei cair quando procurei depois que me deixaram sozinho na sala...
Therion comprimiu os lábios, olhando para a foto e depois para Sirius. Estendeu a fotografia para ele, que pegou-a relutante.
— Pode ficar com ela — disse.
— Obrigado... De verdade... — agradeceu.
Ele encarou a foto e pequeno sorriso bobo surgiu em seu rosto, um sorriso sincero que não aparecia há muito tempo. Viu a imagem se movimentando, os dois pequenos garotos de 5 anos agasalhados, jogando neve para o alto e soprando um monte de suas mãozinhas.
Olhou de volta para o garoto, apertando a fotografia em sua mão, e o viu se afastar devagar, parando ao lado de Harry. Ele se virou para aproximar-se do hipogrifo com cuidado, fazendo rapidamente uma reverência a ele antes de montar, como ainda se lembrava que deveria fazer.
Seu olhar voltou-se para o filho e o afilhado uma última vez antes de partir.
— Eu prometo que voltarei dessa vez — prometeu e então partiu com Bicuço.
Todos observaram o hipogrifo voar para longe e sumir no horizonte. Therion abraçou a Harry, enterrando o rosto em seu ombro enquanto algumas lágrimas teimosas ainda molhavam seu rosto.
— Vai ficar tudo bem… Nós conseguimos — Potter sussurrou para acalmá-lo.
— Vamos voltar para a ala hospitalar. Depressa! — chamou Hermione.
Eles seguiram juntos para as escadas e desceram rapidamente. Correram o mais depressa que puderam em direção a enfermaria, todos abalados pela longa noite que tiveram.
Quando chegaram ao corredor, viram Dumbledore fechando a porta da ala hospitalar e correram ao seu encontro. Ele virou-se e encarou-os serenamente.
— E então? — perguntou.
— Conseguimos. Sirius está a salvo e Bicuço também, longe daqui — respondeu Harry.
— Ótimo. Creio que em breve darão falta dele, mas, é claro, os senhores não deixaram a ala hospitalar em nenhum momento para acreditarem que tiveram algo a ver, não é mesmo?
Hermione sorriu de leve para o diretor. Todos assentiram com a cabeça.
Dumbledore direcionou seu olhar para Therion, que estava mais uma vez abraçado a Harry, encolhido contra ele com o rosto molhado e os olhos pesados.
Ele só queria dormir e acordar com o irmão e o pai ao seu lado agora.
— Descansem. De manhã, seu irmão e Remus deverão aparecer e tudo ficará bem novamente — tranquilizou o diretor e olhou para a porta. — Acho que já foram. Entrem, vou trancar a porta. E acho melhor eu levar isto.
Dumbledore pegou as duas vassouras, que Hermione e Liah haviam pego e traziam em suas mãos. Todos entraram na ala hospitalar e logo ele fechou a porta e foi ouvido o clique dela sendo trancada. Não havia ninguém além de Rony, ainda desacordado na cama.
Draco, Merliah e Hermione seguiram cada um de volta para sua cama, como se nunca tivessem saído dali. Harry levou Therion de volta para a dele e o deixou sentado ali, ficando ao seu lado.
Os cinco se entreolharam em silêncio. Ninguém sabia o que dizer, então não disseram nada, apenas imergiram em seus próprios pensamentos.
Therion respirou fundo e encolheu-se na cama, pensando no abraço de Sirius. Estava confuso, pensando e sentindo muitas coisas ao mesmo tempo. Sentia que poderia explodir a qualquer momento.
O abraço de Remus faria muito bem para ele agora. Estar junto do pai sempre o acalmou e deixou tudo mais leve.
Sentiu uma mão sobre a sua e olhou para o lado, vendo os brilhantes olhos verdes de Harry o encarando. Apertou a mão de Potter com força, deixando-se chorar, vulnerável, e aceitando o abraço que ele lhe deu naquele momento.
Sem pensar, apenas agindo por puro instinto, Harry subiu na cama e ficou ali junto dele, acolhendo-o em um abraço forte e confortável. Therion apoiou a cabeça em seu peito e assim permaneceram.
Black fechou os olhos e aproveitou o calor dos braços acolhedores, tentando não pensar em mais nada.
Madame Pomfrey deixou sua sala e franziu o cenho ao ver todos parecendo mais abatidos e ainda mais sujos e tentando entender o que Potter fazia na cama de Black.
— Potter é melhor descansar. Vá já para a cama.
Harry não moveu um músculo, e Therion apenas o abraçou com mais força.
— Merlin! Preciso trocar esses curativos. Potter, por favor…
— Eu vou ficar com ele.
— Harry…
— Não vou sair daqui — insistiu teimosamente.
Pomfrey suspirou, balançando a cabeça e observando a cena com certa nostalgia.
— Me deixe apenas cuidar desses curativos, sim?
Therion relutou em soltar Harry, mas o fez. Potter manteve um braço ao seu redor o tempo todo, acolhendo-o naquele abraço quando encolheu-se e gemeu de dor com a retirada dos curativos.
Harry viu as feridas profundas, e perguntou-se como o garoto havia aguentado fazer tudo aquilo estando tão machucado, sem reclamar. E ele conhecia os dons maravilhosos de Madame Pomfrey com medibruxaria e imaginava que poderia curar tudo rapidamente.
A medibruxa passou nas feridas uma pomada prateada e voltou a colocar as ataduras. Quando terminou, logo Therion estava novamente agarrado a Potter, enquanto Pomfrey ia verificar os outros.
***
De manhã cedo, todos acordaram acabados e ainda exaustos na ala hospitalar. Harry não saiu do lado de Therion nem por um instante, e os dois passaram a noite juntos, mesmo depois de insistências de Madame Pomfrey.
A medibruxa estava cuidando de Rony, que também havia acordado, atordoado, logo depois de terminar de cuidar de Black.
Therion tinha a cabeça deitado sobre o ombro de Harry, que apoiava a própria contra a sua, ambos acordados, mas com os olhos fechados. O silêncio reinava ao redor e isso os tranquilizava.
Toda a tranquilidade deixou o local quando a porta se abriu abruptamente e Remus adentrou a enfermaria desesperado, carregando Canopus desacordado. Ele caiu de joelhos no chão, sem forças, ambos feridos e banhados de sangue.
— Por Merlin! Remus… — exclamou Pomfrey.
— Papai!
Therion levantou-se rapidamente, junto de Harry, indo até o pai e o irmão.
Lupin chorava desesperado, segurando o filho por entre os braços, completamente transtornado. Ele encolheu-se e se afastou bruscamente quando Therion tentou abraçá-lo. O garoto o encarou confuso e com dor expressa no olhar.
Remus estava sendo assombrado por um de seus piores medos. E o pior, esse medo havia se tornado real e isso o deixou apavorado e foi tomado pelo desespero.
— E-eu... E-eu… Não s-sei o que estava fazendo — sua voz tremia e ele soluçava, um nó se formando em sua garganta. — E-eu ma… E-eu o m-machuquei…
— Remus, acalme-se… Ah, Merlin! — Madame Pomfrey abaixou-se ao lado deles rapidamente.
Merliah, Hermione e Draco também deixaram suas camas e se aproximaram, surpreendendo-se ao ver o estado de Black e Lupin.
— O que você fez?! — Malfoy exclamou.
— E-eu não queria… Eu não queria… Como eu fiz isso?
— Ele vai ficar bem, Remus — Madame Pomfrey tentou tranquilizá-lo. — Me ajudem a levá-lo!
Harry e Draco foram rápidos, os dois ergueram juntos Canopus e o levaram até uma das camas, enquanto a medibruxa levava Lupin até outra e com sua varinha trazia várias ataduras, gaze, poções e o que mais precisasse, partindo até o garoto.
— Papai… — Canis murmurou dolorido, ainda com os olhos fechados, semiconsciente.
— E-eu n-não mordi ele, não é? P-por favor, me diz que não...
Therion olhava preocupado para o irmão, que possuía mais arranhões e vem mais profundos, que sangravam bastante. Como ele havia aguentado a noite inteira daquele jeito?
Voltou-se para o pai e o abraçou. Remus tentou afastá-lo, mas ele não o soltou, abraçando com força e beijando seu rosto, como fazia em todas as manhãs depois da lua cheia, sem se importar com o sangue.
Remus viu as ataduras e curativos no gêmeo mais novo, e isso apenas o deixou pior.
— Eu... Eu te machuquei também?
— Está tudo bem, papai — disse Therion, ignorando a pergunta e não o soltando do abraço. — Eu te amo, hm?
Lutou a noite inteira para salvar Sirius. Agora era seu pai a quem ele precisava salvar.
— Me desculpa... — Lamentou Remus, sentindo-se extremamente culpado.
Mas tanto Therion quanto Canopus jamais o culpariam, não importa o que acontecesse.
——————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Final tenso, eu sei. Desculpa rsrs
Logo, logo tudo melhora.
Sirius está a salvo 🙏🏻🙌
Em breve será que veremos essa família toda reunida?
Tivemos muitos momentinhos de Therion e Harry nesse cap, gostaram? Esse é o nosso amado Deerwolf (outro nomezinho pro shipp 🥰)
Espero que tenham gostado do capítulo! Não se esqueçam de votar e comentar bastante.
Estou preparando uma playlist pra fic. Quando terminar, vou postar no meu perfil. Se tiverem sugestões de músicas, podem deixar aqui!
Em breve retorno com a att.
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro