XXII. Ending this
Após toda a confusão com a fuga da famigerada segunda geração dos Marotos, Remus conversou com o filho depois da primeira detenção. O garoto ainda estava um tanto irritado com o pai, mas conversaram civilizadamente.
Ou quase isso. Canis nunca foi o gêmeo mais fácil de conversar quando estava irritado com algo. Ele sabe guardar rancor e fazer birra como ninguém. Mas Remus já havia aprendido a lidar com seu pequeno sonserino.
No fim, Canopus estava abraçado ao pai da mesma forma que ficava quando criança. Lupin adorava quando ele fazia isso.
Depois de alguns dias, passou-se o aniversário de Remus, em que os gêmeos e Harry pediram um bolo na cozinha para comemorar.
Nesse período, Minerva devolveu as Firebolts para os meninos — para a grande felicidade deles — e ocorreu o julgamento de Bicuço, o hipogrifo, pela Comissão de Eliminação de Criaturas Perigosas. Foi após um treino de quadribol da Sonserina que Harry, Rony e Hermione correram até o campo para contar que, infelizmente, o resultado não foi bom.
Bicuço foi condenado à morte.
— O QUÊ?!
— O Conselho já parecia bem decidido — disse Hermione, irritada. — Deveria ser imparcial!
— Malfoy manipulou tudo. Hagrid disse que ele fez parecer que Bicuço era descontrolado e perigoso por ter inutilizado o braço do seu precioso filhinho por mais de três meses, supostamente prejudicando seu desempenho — Harry disse irritado.
— Ele tem muita influência, infelizmente — Rony completou. — Aquele desgraçado... Papai diz que ele sempre manipula tudo com o dinheiro dele.
Canopus não pensou nos seus atos. Ele caminhou a passos duros em direção ao garoto de cabelos platinados que ria ao lado dos amigos seguindo para o vestiário.
Não deixou-o seguir o caminho e empurrou-o com força para trás, fazendo-o cambalear e quase cair.
— QUAL É O SEU PROBLEMA?!
— Qual é o SEU problema, Black? O que deu em você? — esbravejou Draco irritado.
— É culpa sua, seu verme infeliz! — vociferou Canopus furioso, agarrando a gola do uniforme de quadribol do garoto. — Por culpa sua o Bicuço vai morrer!
— Quem? Do que você tá falando? — Malfoy soltou-se do Black e empurrou-o para longe de si. — Eu não fiz nada!
— Fez! Você foi O GAROTINHO INSUPORTÁVEL, MIMADO E EGOÍSTA DE SEMPRE QUE NÃO SE IMPORTA COM NADA ALÉM DE SI MESMO! — gritou. — Porque o coitadinho foi chorar para o papai por causa de um mísero arranhão e fez um dramalhão do caralho, uma criatura inocente foi condenada à morte.
— Está falando daquela coisa que me atacou? Aquele monstrengo com asas?
— O nome dele é Bicuço, ele é um hipogrifo. E o monstro aqui é você e o seu pai!
— Ele me atacou! Fiquei meses sem nem conseguir mexer o meu braço e poderia ter morrido!
— Todo mundo sabe que você só tava fazendo drama e fingindo para prejudicar o Hagrid, Malfoy! Não deve ter nem ficado cicatriz!
— Você está fazendo um escândalo por nada, Black! — resmungou Draco impaciente.
— Por nada? POR NADA?!
Canopus avançou mais sobre Malfoy, que não recuou e manteve a expressão séria e prepotente no rosto.
Therion tentou ir até o irmão antes que ele se metesse em encrenca — pois o capitão já não estava tão paciente com ele —, mas Liah e Harry o detiveram no meio do caminho. Os três ficaram parados observando, junto de Rony e Hermione. Crabbe e Goyle também observavam a cena, prontos para defenderem o amigo se fosse preciso, mesmo que Draco já tivesse dito que não precisavam interferir em suas discussões com Black.
— O que foi? Vai me bater por causa de uma simples criatura ridícula? — o loiro provocou, cruzando os braços.
— Uma simples criatura ridícula? — repetiu Black entredentes, cerrando os punhos.
— É o que ele é, não? É só um animal selvagem que nem sabe pensar e atacou um aluno, no caso, EU.
— E por isso a sua vida vale mais que a dele? — questionou despejando toda a sua raiva e indignação na voz.
Malfoy deu de ombros, sorrindo desdenhoso.
— Eu sou um bruxo importante, ele é apenas um animal insignificante.
— VOCÊ é o animal insignificante aqui!
— Você se importa demais com esses monstros, Estrelinha.
— Sim, me importo — admitiu sem medo. Ele deu mais um passo em direção ao Malfoy, ficando bastante próximo dele e apontando o indicador em seu rosto enquanto encarava os olhos azuis com uma fúria imensurável. Então sussurrou: — E eu deveria ter deixado aquele lobo acabar com você no primeiro ano.
Ele o empurrou, e Draco piscou algumas vezes e cambaleou para trás ao ouvir aquilo, descruzando os braços devagar, a expressão de irritação e prepotência deixando o seu rosto. Desviou o olhar dos olhos furiosos do Black para o gramado aos seus pés enquanto comprimia os lábios.
Therion franziu o cenho enquanto observava os dois, focando o olhar por alguns instantes em Malfoy. Sentiu uma grande chateação e angústia, junto a fúria do irmão. Não ouviu o que ele disse exatamente, mas sabia que havia afetado o outro de alguma maneira.
Canopus nem imaginava o quanto aquelas palavras haviam realmente surtido efeito em Draco.
— Será que não posso deixar vocês sozinhos por cinco minutos?! — Adrien surgiu irritado.
— Não se preocupe, Adrien. Eu já falei tudo o que precisava — cuspiu Canis secamente, olhando enojado para o loiro.
Malfoy voltou a encará-lo, cerrando os punhos e parecendo querer muito dizer algo, porém nenhuma palavra deixou sua boca. Ele avançou um passo, e o outro permaneceu parado com um olhar irritado. Então apenas empurrou Canis da sua frente e saiu andando, esbarrando em Therion.
Canopus bufou irritado.
— Perdeu a chance de dar outro soco.
— STUART! — repreendeu o capitão do time.
— Que foi? — Ela se fez de desentendida.
— Ei, Black-Dois! Tá no mundo da lua?
Therion estava paralisando olhando na direção por onde Malfoy saiu, com o cenho franzido e expressão pensativa. Ele piscou e levou a mão à cabeça ao ouvir a voz do capitão.
— Hã? Eu… Tô bem, só… Pensei ter ouvido alguma coisa…
— Ouviu o quê? — perguntou Harry ao seu lado.
— Esquece… Não é nada.
Ele respirou fundo, balançando a cabeça.
Dois dias depois ocorreu o jogo da Sonserina contra a Lufa-Lufa. Os gêmeos enfim puderam usar suas novas vassouras, que deixaram os artilheiros adversários boquiabertos e confusos, mal conseguiam acompanhar os movimentos.
Merliah conseguiu fazer 7 gols para o time, enquanto cada gêmeo fez 5. A parte mais complicada foi a captura do pomo. Malfoy e Diggory lutavam para ver quem conseguiria capturar a bolinha dourada, que escapava como areia de suas mãos.
No fim, quem capturou o pomo foi Cedric Diggory, o apanhador lufano. Mas, graças ao ótimo desempenho dos artilheiros, Sonserina ainda ficou na frente por 10 pontos, ganhando a partida.
Toda a torcida da Sonserina — que incluíam Harry e Remus — comemorou a vitória, enquanto os lufanos parabenizaram Diggory por pegar o pomo, apesar da derrota.
No vestiário, enquanto os gêmeos e Liah gritavam de alegria pela vitória, Adrien gritava de raiva por quase ter perdido.
— COMO VOCÊ PERDEU O POMO, MALFOY?! — gritou, e Draco apenas suspirou, jogado no banco.
— Perdendo? Diggory passou na minha frente na hora que eu ia pegar!
— Então derrubasse ele daquela vassoura, mas não perdia o pomo! — esbravejou. — Se tivesse pego, a Taça do Torneio das Casas já estaria nas nossas mãos! O que deu em você?! Cadê sua agressividade no campo?!
— Nós ganhamos, não?
— Não graças a você, Malfoy — disse Canopus num tom presunçoso.
— Ninguém te perguntou nada, Black!
— Eu falei que ele era um péssimo apanhador, Adrien. Melhor escolher outro para a Final se ainda quiser a taça.
— Cala a boca, idiota!
— NÃO COMECEM!
Canis cruzou os braços, com um sorriso provocativo nos lábios, enquanto Draco lançava-lhe um olhar mortal.
— Nós ganhamos essa e vamos vencer contra a Grifinória, Adrien — Merliah disse confiante, dando tapinhas nas costas do capitão. — Mesmo que Malfoy faça burrada de novo, conseguimos uma boa vantagem de pontos dos grifinórios graças aos seus excelentes artilheiros.
— E não duvido que ele perca o pomo de novo — completou Canis.
— Ótimo espírito de equipe, Black — Draco retrucou num tom irônico e irritadiço, levantando-se irritado e seguindo para os chuveiros.
— Sempre tenho um ótimo espírito de equipe. Me desculpe se a verdade dói, Dragãozinho — rebateu alto o suficiente para ele ouvir.
— Acho que ele realmente se irritou contigo agora — comentou Therion.
— E quem disse que eu me importo?
— Acho que aquele balaço ainda está me dando dor de cabeça.
Therion levou a mão à cabeça e também partiu para os chuveiros do vestiário. Todos acabaram tomando um banho para se livrar do suor do jogo e depois se dispersaram pelo castelo.
Alguns dias depois, começou o recesso de Páscoa. Os gêmeos Black ficaram sozinhos em seu dormitório da Sonserina, pois todos, incluindo Draco, voltaram para casa para ficar com suas famílias. Até mesmo Liah foi passar o feriado com os pais, então eles ficaram apenas com o pai e Harry.
Potter ficou feliz em passar a Páscoa junto deles, não se sentindo mais tão sozinho já que seus amigos sempre voltavam para casa, menos ele.
No domingo do feriado caiu uma forte chuva. Therion e Canopus ficaram olhando esperançosos pela janela da sala do pai, mas infelizmente não havia raios no céu.
Com a volta às aulas, também voltou o treinamento para a Final do Campeonato de Quadribol entre Casas. Nos dias que se seguiram, o treino ficou muito mais intenso; cinco vezes por semana, faça chuva ou faça sol. Brigaram bastante algumas vezes pelo tempo no campo com os grifinórios, que também treinavam nos mesmos dias.
Em uma dessas discussões, Adrien e Oliver estavam a um passo de partir para a agressão depois que os grifinórios chegaram para treinar e os sonserinos já estavam utilizando o campo.
— Acham que vão demorar quanto tempo ainda? — Merliah perguntou impaciente, escorada no cabo de sua vassoura com uma expressão tediosa enquanto permanecia sentada na grama.
— Aposto que Oliver ainda vai partir pra cima do Pucey — disse Fred.
— 10 galeões que Adrien dá um soco nele primeiro.
— Fechado! — os gêmeos Weasley disseram juntos.
Os Black estavam sentados ao lado da amiga, tão entediados e impacientes pela espera quanto ela. Harry acabou se sentando entre eles, apoiando as mãos na grama atrás de si.
— Daqui a pouco chega o dia da Final e eles ainda estão brigando.
— Espero que agilizem isso. Depois do treino, tenho que terminar minha tarefa de Transfiguração — disse Therion.
— Pensei que já tinha terminado ontem — falou Canis confuso. — Eu até te emprestei meu livro porque no seu as letras daquela página estavam meio apagadas.
— Falta pouco. Consegui terminar as de Poções e Aritmancia primeiro — explicou. — Daqui a pouco vamos começar a estudar para as provas, e eu já estou exausto.
O garoto deixou-se cair sobre as pernas de Potter, que riu.
Canis acabou começando a mexer no cabelo de Liah, que o deixou arrumar os fios acastanhados pois era relaxante. Ficaram ali, apenas observando os capitães continuarem a brigar por longos minutos.
A garota estava quase dormindo com o amigo mexendo em seu cabelo. Quando ele estava terminando uma trança — que ela mesma havia ensinado uma vez para pedir que fizesse —, ela xingou alto ao ver Oliver partir para cima do capitão da Sonserina.
Os gêmeos Weasley comemoraram.
— 10 galeões para cada um — disse Fred rindo.
— Não abuse, Weasley — retrucou ela. — 5 pra cada. Somando são 10 galeões.
— Não, não, meu bem — negou George, com um sorriso de canto. — Não é assim que funcionam as apostas. Serão 20 galeões, 10 para mim, 10 para Fred.
— Que tal 20 vassouradas nas costas? — rebateu apontando o cabo da vassoura para o ruivo.
— Estamos sendo justos. Você quem apostou conosco — disse Fred.
— Aprenda a perder, querida Liah. Sei que é difícil para sonserinos, mas... Ei! — George dizia e pulou para trás antes que fosse acertado pela vassoura. — Não tenho culpa se vocês sonserinos não aceitam a derrota, meu bem.
— E vocês grifinórios adoram se vangloriar e se achar os maiorais.
— EI! — exclamou Harry.
— Você é uma exceção, Potter... Às vezes.
— Se essa foi sua tentativa de conforto, não funcionou.
Ela deu de ombros.
Canis se levantou do chão, vendo que a briga dos capitães já estava chegando ao fim.
— HEY, VAMOS DEIXAR OS LEOZINHOS IMBECIS TREINAREM AGORA! — gritou Adrien para seu time, olhando friamente para o capitão da Grifinória. — ELES NÃO TERÃO CHANCE MESMO.
— Até parece — riram Fred e George.
— Agora são vocês que precisarão aceitar a derrota, meus caros — disse Merliah. Ela largou a vassoura ao lado e estendeu os braços. — Uma ajudinha aqui, amigos?
Cani, que já estava de pé, segurou os braços da amiga e puxou-a pra cima. Ela pegou sua vassoura do chão e abraçou os ombros do amigo.
— Hora de termos nosso descanso de beleza. Tenham um ótimo treino, leõezinhos — disse.
— E nossos galeões?
— Pago no jantar.
— 10 galeões para cada.
— Prometo pensar com carinho em sua sugestão, George. E pensar não significa que vou fazer.
— Vamos indo, estou precisando muito de um bom banho e um chocolate quente — Canis disse abraçando a amiga de lado e seguindo caminhando com ela.
— Torre de Astronomia depois do jantar? — Therion perguntou a Harry. Potter abaixou a cabeça para olhar para ele, que ainda estava com a cabeça em seu colo.
— Peguem mais comida na cozinha dessa vez — respondeu.
— Pode deixar, Hazz. — Sorriu e se sentou, beijando o rosto de Potter instintivamente. — Bom treino.
Black sorriu e se levantou, seguindo o irmão e a amiga. Harry levou a mão ao rosto, observando os três se distanciarem em direção ao vestiram e Therion pular nas costas do irmão gêmeo.
Os dias continuaram a se passar até chegar a Final da Copa de Quadribol. Os ânimos durante o café da manhã estavam nas alturas, principalmente nas mesas da Sonserina e da Grifinória. Os jogadores de ambos os times já estavam uniformizados, recebendo desejos de boa sorte e ovações de seus colegas de Casa.
Remus foi abraçar os filhos e também desejar-lhes boa sorte antes que fossem para o campo.
— Vamos ganhar, papai — garantiu Canopus.
— E o senhor vai poder tirar uma foto nossa segurando a taça! — completou Therion.
Lupin riu e beijou a testa dos dois.
Eles seguiram em direção ao campo de quadribol. Pelo caminho, encontraram Harry.
— Boa sorte, Hazz. Vai precisar — disse Therion.
— Vocês quem vão precisar de sorte, Therry — Potter disse, sorrindo de canto. — Boa sorte!
Eles então se separaram e partiram para os vestiários. Os gêmeos e o resto do time receberam instruções explícitas para pegarem pesado e não terem o mínimo de dó e pena dos grifinórios.
— Malfoy, não deixe Potter pegar a porcaria do pomo!
— Não vou — garantiu Draco.
— Se nós perdermos a taça... — Adrien apenas passou o indicador pelo pescoço. Um gesto bastante autoexplicativo.
Entraram todos em campo. Ao som do apto de Madame Hooke, quando a goles foi jogada para cima, Canopus foi quem a pegou e disparou até os aros agilmente.
Foi um jogo realmente duro e difícil. Vários empurrões, balaços na cara, falta atrás de falta. Nenhum dos dois lados tinha pena ao jogar.
Grifinória e Sonserina estavam empatados com 50 pontos cada, quando Liah tomou a Goles de Angelina Johnson e partiu para o outro lado do campo. Ela desviou de um balaço, que acabou acertando outro artilheiro grifinório, mas outro veio em sua direção logo depois.
O balaço só não a acertou porque foi rebatido, e então ela marcou outro gol logo em seguida.
— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, GEORGE?! — Oliver esbravejou. — DEIXA DE CAVALHEIRISMO E DEFENDA OS NOSSOS ARTILHEIROS!
— Foi mal, Oliver... Reflexo de batedor! — respondeu ele, com um sorriso torto.
Os três artilheiros sonserinos riram. O jogo prosseguiu bastante acirrado. Sempre que algum time ganhava vantagem, o outro partia para sua cola, e os apanhadores estejam com certa dificuldade de apanhar o pomo.
Quando Potter quase agarrou o pomo, Malfoy agarrou as cerdas da Firebolt para atrasá-lo, o que fez todo o time da Sonserina rir, enquanto os grifinórios xingavam aos montes.
Embora os artilheiros da Sonserina fossem muito bons e dessem tudo de si, era inegável que o apanhador da Grifinória ainda era, de certo modo, melhor. E quando Harry enfim agarrou o pomo, todo o campo — exceto a torcida Sonserina — foi ao delírio.
Por míseros 10 pontos a frente, a Grifinória levou a Taça da Copa de Quadribol entre Casas.
— Jogou bem, Hazz — disse Therion quando já estavam no chão.
— Eu falei que precisariam de muita sorte para ganhar hoje — Potter retrucou com um sorriso ladino.
— Comemore, porque ano que vem a gente leva a taça, Prongs — Canis disse abraçando Harry de lado e bagunçando seus cabelos.
Harry riu e então Therion o abraçou, e ele retribuiu de imediato.
— HARRY, VEM! — Oliver chamou.
— JÁ VOU! — gritou de volta, sem soltar o Black.
— Vai comemorar com seu time antes que Oliver venha e te arraste para longe dos "inimigos" — disse Therion em tom de brincadeira fazendo aspas com os dedos.
— Vejo vocês depois, então?
— Muito provavelmente vão fazer uma festa. Não vai ficar?
— Prefiro ficar com vocês — admitiu e sorriu. — Até depois!
Ele se afastou e foi até os grifinórios. Os gêmeos suspiraram, e Canis abraçou o irmão pelos ombros, seguindo para o vestiário, onde ouviam o capitão surtar por causa da derrota. Ainda havia um longo caminho pela frente até o fim do ano letivo.
***
As semanas voltaram a se passar após o fim da temporada de quadribol, agora se iniciando o período de preparação para os exames finais.
Numa noite no fim de maio, Canopus se remexia na cama durante o sono, inquieto, imerso em mais um sonho. Desde o ataque dos dementadores vinha tendo sonhos estranhos, os quais na verdade pareciam lembranças.
Ele se sentia novamente com um ano e meio de idade, chorando junto ao irmão gêmeo enquanto via o homem caminhar inquietamente de um lado para o outro. Até que mais uma pessoa chegou e começaram os gritos.
"POR MERLIN, SIRIUS! ESTÁ MALUCO? Onde está indo? Os meninos estão chorando!" ouviu a voz de Remus dizer exasperada. "SIRIUS, VOLTE AQUI!"
"CUIDE DELES!"
E então o som de uma porta se fechando com força. Depois ele viu o rosto jovem de Lupin, sem muita nitidez, enquanto era acolhido por seus braços.
"Papa…" Tanto ele quanto Therion chamavam.
"Calma, Canis. Eu estou aqui" dizia Remus, aninhando-o em seu peito. "Papai já vai voltar."
Mas ele nunca voltou.
Canopus acordou num sobressalto, com o coração acelerado e o rosto molhado. Sua respiração estava ofegante e sentia um grande bolo em sua garganta.
Secou as lágrimas que molhavam seu rosto rapidamente, correndo os olhos pelo cômodo escuro. Nott e Zabini dormiam feito pedra do outro lado, estirados sobre os cobertores. Ao seu lado esquerdo, Malfoy também dormia, serenamente, virado na sua direção, encolhido sob os lençóis verdes e abraçado a um dos travesseiros.
Olhou para seu lado direito e viu a sombra do irmão, também acordado, sentado na cama encolhido, com as mãos na cabeça enterrada entre os joelhos.
Ele inspirou profundamente, observando o reflexo esverdeado do fundo do lago que saía da janela e refletia no chão. Passou a mão por seus cabelos e escorou-se na cabeceira.
Não demorou nem dois segundos para Therion deixar sua cama e ir para a do irmão, ficando ao seu lado. Ele havia percebido rapidamente o gêmeo acordando.
— Sonhou com eles de novo, não foi? — perguntou num sussurro.
— E você com ela, não é? — respondeu Canis, rindo baixo. — Queria ter essa sorte. Você pelo menos sabe como é a voz dela.
— É torturante.
Desde o ataque do dementador Therion vinha sonhando com várias coisas, principalmente a voz de sua mãe se despedindo, e isso sempre lhe trazia uma grande dor e angústia no peito. E ao mesmo tempo, ao acordar, ele sentia a inquietação do irmão gêmeo sonhando com a última vez que viram Sirius antes de ele ser preso, ou com Remus gritando de desespero ao descobrir o que o melhor amigo havia feito.
Era uma tortura para ambos. Como se aqueles dementadores tivessem desenterrado e fixado em suas mentes suas memórias mais tristes, para que vivenciassem tudo de novo, de novo e de novo.
Essa era a natureza da espécie, claro. Mas, ainda assim, sonhar com aquilo desde então parecia um efeito permanente, sugando toda sua felicidade e revivendo aquela tortura em seu sono.
O que havia de mais profundo neles estava vindo à tona. A amargura e tristeza que Canis sempre empurrava no fundo de sua alma com o sentimento de abandono e a raiva do pai biológico. A falta da mãe e a frustração por ninguém ter conseguido salvá-la dos Comensais que Therion sentia.
Eles saíram do dormitório com seus cobertores e travesseiros para a Torre de Astronomia, para tentar relaxar e esquecer aqueles sonhos. Havia se tornado bastante comum fazer isso nas últimas semanas.
Não haviam contado a Remus sobre seus sonhos. Queriam evitar preocupar o pai ainda mais. Ele já estava com coisas demais na cabeça, e eles viam isso.
Eles voltaram a dormir na Torre e acordaram pouco antes do amanhecer para seu ritual diário.
— Amato Animo Amatus Animagus — recitaram com as pontas das varinhas no peito.
A cada dia que faziam isso, eles começavam a sentir um segundo batimento cardíaco dentro de si. Eram os batimentos do animago dentro deles, que logo poderia enfim sair.
Estavam mais que ansiosos para concluir logo o processo.
As provas finais estavam chegando, e os meninos tentaram desviar as mentes de seus sonhos e da preocupação com previsões de tempestades para os estudos. Passavam dia e noite estudando com Merliah na biblioteca e na comunal, preparando-se para se saírem bem em todos os exames.
Therion ajudou Harry a estudar para a prova de Poções, revisando todos os passos para a criação das poções que aprenderam durante aquele ano letivo que Snape poderia cobrar no exame. Até mesmo deu dicas para realizar certos pontos com maior eficiência.
Potter ouvia tudo atentamente cada vez que se juntavam os dois para estudar, apreciando como Black ficava bastante concentrado e entretido quando falava de poções. Algumas vezes ele se empolgou demais e prolongou-se em explicações e curiosidades sobre alguns ingredientes e aplicações das poções, mas Harry não se importou nem um pouco.
— Harry? Harry!
— Ah? O que foi? — perguntou o garoto, desconcertado.
— Você não ouviu o que eu acabei de perguntar, ouviu? — indagou Therion, já desconfiando da resposta.
Ele percebeu as bochechas de Harry ficarem coradas e seu olhar desviar-se para o outro lado da biblioteca, envergonhado. Riu baixo ao notar que estava certo.
— Não ouvi uma única palavra — confessou.
— Melhor prestar atenção se não quiser que Snape te dê um zero — falou Black, passando a sua pena sobre o rosto de Potter, que riu, pois fazia cócegas.
— Desculpa — disse com um riso leve.
Therion sorriu compreensivo.
— Tudo bem. Estou te dando sono falando tanto, não é?
— O quê? Não! Não é isso! — Harry apressou-se em dizer, não querendo passar a impressão errada. — Eu só… Me distraí.
— Com o quê?
Black encarou-o curioso, aguardando uma resposta. Viu Harry comprimir os lábios e apertar um pedaço de pergaminho, ao que seus olhares se encontraram. Os olhos verdes encaravam os seus fixamente.
Harry sentiu o rosto queimar mais uma vez. Acabara se distraindo observando o outro explicar-lhe tão concentrado o preparo de uma das poções que o professor passou durante o ano, admirando-o enquanto tinha a cabeça apoiada em sua mão. Notar isso deixou-o completamente sem jeito e envergonhado.
Therion franziu o cenho por alguns instantes ao perceber como Potter estava. Então seu rosto enrubesceu e ficou vermelho como um tomate quando, sem saber como, pensou que ele próprio fosse a razão da distração. Desviou o olhar e balançou a cabeça, pensando que deveria estar maluco e imaginando coisas.
— Acho que ouvir tantas coisas deve estar sendo entediante, então... — disse sem encarar os olhos de Potter.
— N-Não! Não, Therry… Eu gosto de como você explica. Pode acreditar que aprendi muita coisa! — Harry disse depressa. Merlin! Por que ele estava tão nervoso?
— Ah é?
— Pode acreditar que sim! Você tem me ajudado muito. Entendi mais estudando com você do que em todas as aulas do Snape durante o ano.
Therion riu e passou a mão na nuca, um tanto encabulado. Ele sorriu levemente e mirou os olhos de Harry timidamente.
— Bom… Faço o melhor que posso — disse. — E graças a você, consegui melhorar no feitiço de repelir bichos-papões.
— Estamos quites. — Harry sorriu.
Black comprimiu os lábios, focando seu olhar no livro sobre a mesa, embora olhasse de soslaio para Potter. Suas mãos começaram a suar, e ele queria muito se esconder atrás de uma prateleira por estar parecendo muito bobo naquele momento.
Harry afastou uma parte do cabelo de Therion de seu rosto, fazendo-o erguer a cabeça enquanto tentava inútilmente controlar o rubor nas bochechas. Fazia bastante tempo desde a última vez que Black pediu para o pai aparar os fios escuros, então eles ficavam com muito mais frequência sobre os olhos.
— É uma marca de nascença?
— Hã? — Therion estava tão absorto olhando para Potter que não entendeu a pergunta repentina.
— Essa mancha aqui. — Tocou de leve a marca próxima ao olho esquerdo do garoto, que instintivamente levou a mão ao local, fazendo-a esbarrar na sua.
— Ah… Sim. Papai disse que tenho desde bebê — explicou Black. — Canis não tem. Mas não é tão visível, então a maioria das pessoas não percebem e ainda acabam confundindo nós dois.
— Seu nariz é mais fino.
— Sério?
— E Canis normalmente joga a franja pro lado direito. Você deixa cair mais no rosto ou joga para o lado esquerdo.
— Você ficou bem melhor em nos diferenciar — notou feliz.
— Estou aprendendo. — Harry sorriu.
Therion uniu suas mãos em seu colo timidamente e viu o irmão se aproximar com uma montanha de livros em seus braços. Endireitou-se na cadeira, enquanto Canis jogava tudo sobre a mesa sob o olhar atento dos dois ali presentes.
Seus cabelos estavam tão bagunçados quanto os de Harry e seu uniforme todo desajeitado. A gravata estava folgada ao redor do pescoço, um botão a mais da blusa estava aberto e outro colocado na casa errada, e a manga apertada estava arregaçada até os cotovelos.
— E eu pensando que os exames estavam me destruindo — comentou Harry observando o estado do amigo. — Você tá bem?
— Não! Primeiro, esse maldito uniforme nem serve mais em mim direito — começou Canopus, pegando um dos livros e jogando com força na mesa. — Segundo, estou há meses sem uma noite de sono decente por causa daqueles dementadores e daquele crápula miserável que ainda não voltou pra Azkaban. E terceiro, além de estudar pra caralho para me sair bem nos exames finais, estou tentando reverter toda a merda que o Malfoy causou e salvar o Bicuço.
— Não tá fácil pra ninguém, Canis — Therion disse, tentando acalentar o irmão gêmeo. — Fica calmo.
— Eu vou me acalmar quando souber que Bicuço não vai morrer por causa daquele idiota.
— Ele já foi condenado, Canis… — falou Harry tristemente.
— Sempre cabe um recurso e estou ajudando Hagrid nisso. Temos só três semanas! Então, me desculpe por acabar com o momento dos pombinhos, mas vocês vão me ajudar.
— Canopus! — Therion exclamou, voltando a ficar vermelho.
— E papai me pediu para devolver sua varinha. — Canis entregou a varinha do irmão que estava em seu bolso e sentou-se de frente para ele e Harry. — Vamos! Agilize aí!
Harry e Therion suspiraram, abandonando o estudo de Poções para ajudarem Canopus. Logo Hermione, Rony e Liah se juntaram a eles para também trabalharem no recurso do hipogrifo.
O mais velho dos gêmeos Black e Granger pareciam bastante empenhados em conseguir salvar o animal.
Acabaram apenas a noite, na hora do jantar. Therion e Canopus estavam comendo na mesa da Sonserina com a melhor amiga, cansados, enquanto conversavam sobre as provas e como ajudar Hagrid a salvar o hipogrifo.
Eles estavam na sobremesa quando olhando para o teto, enfeitiçado para simular o céu do lado de fora, Canopus viu nuvens pesadas. Havia acabado de começar a chover.
— Hoje teremos uma tempestade daquelas — comentou Liah olhando para cima. — Quando fui acampar com meu pai e meus tios, Tio Joseph disse que nuvens assim geralmente indicam tempestade com muitos raios. Tivemos que ficar numa pousada.
— Tempestade? — a atenção de Therion saiu do doce que comia para a amiga.
— Raios? — indagou Canis.
— É… Olha ali, está vendo? — Ela apontou para cima na hora que um clarão se formou entre as nuvens. — Tempestade de boas vindas para o verão.
Os gêmeos se apressaram para terminar de comer e se levantaram da mesa. A garota franziu o cenho, encarando-os desconfiada.
— Para onde estão indo? — perguntou.
— Temos uma coisa importante para fazer — Canis disse, mirando a mesa dos professores, onde o pai conversava calmamente com outros colegas professores.
— Se não voltarmos para a comunal, não se preocupe. Amanhã cedo nos vemos na aula — Therion disse em seguida, e os dois saíram do Salão Principal.
Remus os viu sair, mas não desconfiou de nada, apesar de ficar intrigado em ver que estavam sozinhos e apressados. Da mesa da Grifinória, Harry viu eles se levantarem e seguiu com o olhar.
Eles correram em direção ao pátio para verificar. Certificaram-se que havia mesmo raios no céu e a tempestade ficava cada vez mais forte. Entreolharam-se decididos, dando suas mãos um ao outro e então correndo até às masmorras.
Foram até o dormitório, e Therion pegou a caixa escondida no fundo falso da gaveta de sua mesa de cabeceira. Respirou fundo e encarou o irmão antes de abrir e olhar para os dois frascos.
A mistura que fizeram meses antes para a Poção de Animagia estava ali, agora um líquido vermelho-sangue brilhante. Não haviam olhado para os frascos sequer uma única vez, como mandava em todos os livros que viram sobre o processo para se tornarem animagos.
Havia chegado a hora.
Cada um pegou seu respectivo frasco e correu para fora do castelo. Assim que saíram, foram pegos pela chuva forte, que encharcou-os em poucos segundos. Correram o mais rápido que puderam, passando pela cabana Hagrid e se afastando cada vez mais da escola, seus corações a mil no peito e a adrenalina correndo por suas veias.
Pararam distantes do castelo, à beira da floresta. Conseguiam avistar o Salgueiro Lutador ao longe, e foi olhando para ele que abriram os frascos.
Os dois se entreolharam outra vez, engolindo em seco. Estavam exaustos pelo dia que tiveram, mas nada os impediria de seguirem seus planos para ajudar o pai.
— Depois disso, não tem mais volta — alertou Canopus.
— Eu sei — Um raio cortou o céu. — Pelo papai.
— Pelo papai.
Eles respiraram fundo e olharam para o céu, os olhos semicerrados enquanto sentiam as gostas finas baterem em seus rostos. Quando outro raio iluminou o céu, eles pegaram suas varinhas.
Ambos estavam com expressões determinadas em seus rostos. Eles viraram as poções de uma vez em suas bocas, o gosto amargando descendo queimando por suas gargantas. Com as vozes unidas, eles recitaram com as varinhas apontadas para o peito:
— AMATO ANIMO AMATUS ANIMAGUS!
Naquele instante, uma dor flamejante tomou conta de seus corpos. Eles sentiam o batimento cardíaco duplo no peito, junto a dor alucinante.
Mais uma vez seus olhos se encontraram e os dois gritaram, o imenso desconforto aumentando a cada segundo. Pela distância, ninguém poderia ouvi-los gritar. Mas, mesmo que ouvissem, não havia como impedir. O processo final já havia se iniciado.
A dor era muito maior do que imaginavam. A pele queimava, suas entranhas pareciam se retorcer dentro de si, cada osso de seus corpos doía como se estivesse sendo partido ao meio. Foi impossível que lágrimas não começassem a surgir em seus olhos e eles se mantivessem de pé.
Caíram na grama, sentindo o desconforto da transformação enquanto se contorciam doloridos.
Suas roupas começaram a se fundir ao corpo, fazendo os jovens garotos gritarem ainda mais. E então, os pelos começaram a cobri-los por completo ao que seus corpos dobraram de tamanho.
Depois de tanto tempo, de um processo longo e árduo, eles conseguiram. Começaram a tomar suas formas animagas pela primeira vez. Por mais desconfortável que fosse, era uma grande conquista.
Canopus e Therion Black estavam fazendo história no mundo bruxo, ainda mais que os Marotos. Eles haviam conseguido um feito inimaginável para alguém tão novo.
Eles eram os bruxos mais jovens de todo o mundo a se transformarem em animagos.
***
Era de manhã quando os irmãos Black desabaram ao pé de suas camas, depois que todos já haviam saído para o café da manhã. Suas roupas estavam encharcadas, enlameadas e um pouco rasgadas; seus rostos esbanjavam exaustão.
Chegaram à comunal por uma das passagens que haviam conhecido no Mapa do Maroto para não serem vistos. Levou boa parte da noite até eles se acostumarem com a forma animal e conseguirem voltar para seu corpo original.
Eles lutaram para chegar ao banheiro e retirar as roupas sujas. Não se preocuparam com as aulas do dia e apenas se jogaram em suas camas, entrando debaixo dos cobertores.
— Conseguimos — disseram juntos, sorrindo fraco e exaustos.
Os dois acabaram dormindo. Seus amigos deram falta deles durante toda a manhã. Remus também acabou perguntando por eles, e Liah respondeu que não havia visto desde o jantar no dia anterior.
Lupin procurou por eles desesperado pelo castelo, enquanto Harry usou a capa de invisibilidade para poder entrar na comunal da Sonserina com Liah e ir verificar se estavam no quarto.
Eles os encontraram dormindo no dormitório.
— VOCÊS QUASE NOS MATARAM DE PREOCUPAÇÃO! — gritou a garota batendo nos dois com travesseiros que pegou da cama de Draco.
Eles gemeram doloridos e resmungaram. Até mesmo Harry deu um pequeno sermão.
— Achei que tinha acontecido alguma coisa! — exclamou. — Vocês estão bem? Não apareceram o dia todo!
— Estamos — respondeu Therion com a voz cansada.
— Só um pouco indispostos — completou Canis, tirando um dos travesseiros da mão da amiga antes que ela batesse em si com ele de novo e o abraçando, voltando a fechar os olhos em seguida. — Me acordem na hora do jantar.
— Seu preguiçoso! — Liah disse batendo nele com o travesseiro que restou. Ele tirou esse dela também.
Harry se aproximou de Therion e tocou sua testa com as costas de sua mão.
— O que está fazendo?
— Verificando se não estão doentes. E você está fervendo!
— Estou bem… ATCHIM! — Therion espirrou.
— Não está. Vou avisar ao Lupin. É melhor irem até a Madame Pomfrey.
— Não precisa.
— Precisa sim! Seu pai está procurando por vocês dois e é melhor contar que estão doentes.
— Deixa a gente dormir só mais um pouquinho — Canis pediu sonolento, abraçando o travesseiro com mais força e enterrando o rosto nele, sentindo o perfume impregnado ali. Tinha um cheiro bom.
Merliah revirou os olhos. Ela estava pronta para xingar os amigos de todos os palavrões em português que conhecia, quando olhou para a porta e viu Draco no corredor.
— Mas esse idiota não sabe a hora certa de aparecer… Se esconde, Harry! É o Malfoy!
Potter escondeu-se embaixo da capa, ficando invisível. Poucos instantes depois, o loiro entrou no quarto e encarou a garota com um olhar de irritação e desprezo misturado com confusão.
— O que está fazendo no meu quarto, Stuart? — indagou ríspido.
— Também é o quarto dos meus amigos, Malfoy. Estava procurando eles, e as belas adormecidas resolveram aparecer. Estavam tirando um soninho da beleza — ela respondeu num tom sarcástico, mirando os dois amigos.
Draco olhou rapidamente para as camas dos gêmeos e viu os dois deitados, parecendo dormir; Therion todo encolhido e enrolado no cobertor, Canis rodeado de travesseiros e agarrado a um. Ele tinha notado que eles não haviam dormido ali naquela noite.
Canopus já estava praticamente dormindo de novo, os olhos fechados e o rosto enterrado no travesseiro, gostando de sentir o perfume amadeirado que lembrava hortelã, maçã verde e livros novinhos que vinha dele.
— Por Merlin! Ouvi todos os professores perguntando por vocês a manhã toda! — reclamou Malfoy. — As saídas noturnas de vocês dois ainda vão nos arranjar problemas.
— Cala a boca, Draco. Eu quero dormir… — Canis resmungou com a voz carregada de sono, sem se mexer ou abrir os olhos.
O loiro piscou desconcertado ao perceber que foi chamado pelo nome.
— Eu estava tentando fazer eles levantarem.
— Estava tentando nos assassinar com travesseiros — corrigiu Therion, bocejando e se aconchegando mais sob os cobertores.
— Se me derem mais uma hora de sono, agradecerei.
O sono era tanto que em segundos Canopus havia dormido outra vez. Ele continuou a dormir, até que o travesseiro que abraçava foi arrancado de seus braços. Acabou acordando, mantendo os olhos semicerrados e observando com a visão embaçada o garoto loiro a sua frente.
— Não se pode nem dormir mais? — resmungou, puxando o outro travesseiro e voltando a enterrar o rosto ali.
— Não com os meus travesseiros. E você está fedendo a cachorro molhado.
— Só para de encher o saco e me deixa dormir, Draco. Vai infernizar a vida de outra pessoa hoje.
— … Idiota — disse Malfoy depois de alguns instantes.
— Você que é — retrucou baixo.
Malfoy bufou e revirou os olhos, sentando-se em sua cama, de frente para Black. Observou ele abraçar o travesseiro com força e voltar a dormir, com uma expressão serena no rosto, e, por estar sem camisa, foi possível ver as enormes cicatrizes de garras em seu braço direito, ganhas no primeiro ano.
O olhar do garoto se focou nas marcas, enquanto a memória da detenção na floresta vinha à sua mente. Ainda se lembrava muito bem que Canopus havia salvado sua vida naquela noite, mesmo que o odiasse e pudesse fugir.
E Black havia dito com todas as letras que se arrependia de tê-lo deixado sair vivo dali.
— Bom… Eu vou indo falar para o Tio Remus que encontrei seus bebês sãos e salvos — Merliah disse, chutando Harry discretamente para que ele também saísse. — Fique de olho neles aí.
— Eu não sou babá! — retrucou Malfoy secamente. — Só vim pegar os livros que esqueci.
— Não vai demorar nada.
A garota chutou Harry outra vez e seguiu para fora do quarto. Potter conteve um xingamento, que deixou para soltar quando saíssem dali.
Quando deixaram a comunal da Sonserina, os gêmeos Black já estavam ambos mergulhados no sono outra vez. Lupin foi avisado onde eles estavam e era visível o alívio em seu rosto, misturado a preocupação quando Harry disse que talvez estivessem doentes.
Remus primeiramente deu um sermão por terem sumido a manhã toda, para depois deixar a preocupação tomar conta de vez e puxá-los a contragosto dos dois até a ala hospitalar.
Madame Pomfrey disse que eles estavam apenas excessivamente exaustos e levemente resfriados — por causa da tempestade, que não sabiam que eles haviam pegado a noite inteira. A medibruxa supôs que fosse a chegada dos exames e a friagem da noite anterior, e logo deu a eles uma poção e deixou-os descansar pelo resto do dia.
Lupin cuidou deles durante o fim de semana, até garantir que estavam bem, sem febre e nada de espirros.
No domingo, os garotos estavam dormindo no quarto de Remus após almoçarem com ele, enquanto o homem estava sentado em uma poltrona no cômodo com o Mapa do Maroto. Ele ainda estava tentando entender porque Peter Pettigrew era mostrado ali.
Nos últimos meses, ele tentou ir atrás, mas não encontrou sinal do amigo ou razão para aparecer ali. Sabia que havia algo errado e já pensou nas mais infinitas possibilidades.
Uma semana antes ele havia visto Sirius no mapa outra vez, mas logo desapareceu antes que pudesse ir atrás ou avisar a alguém. Isso certamente ajudou a deixá-lo bastante avoado. Quando não estava em aula, ou estava pensando em como os filhos estavam, ou em Black, ou em todo o mistério envolvendo Peter.
Depois de olhar para os gêmeos e ver que ainda estavam capotados na cama, sem sinal de acordar até ao menos a hora do jantar, ele desceu para preparar um chocolate quente para si. Enquanto bebia a bebida quente, ele olhou para o relógio.
Quatro horas.
Mais uma vez se pegou pensando naquela frase. Ele acabou pegando o seu exemplar de O Pequeno Príncipe e se sentou, observando a capa fixamente.
Ao abrir e olhar a contra-capa, viu a mensagem escrita:
Para o meu mui nobre Príncipe Lupin.
A lua também pode ter histórias bonitas, Moony.
— Sirius.
Não abria aquele livro há meses. Mas desde que viu Black no mapa na última vez, sempre se pegava olhando para a prateleira, a frase ecoando em sua mente.
Folheou até a página onde estava o dito trecho recitado. Comprimiu os lábios ao lê-la, mas também franziu o cenho ao ver um pedaço de pergaminho dentro daquela parte do livro. Pegou-o confuso. Estava dobrado e rasgado, não era muito grande.
Ao abrir, reconheceu a caligrafia, apesar de estar um tanto desleixada, como se tivesse sido escrito com pressa. A mesma caligrafia da dedicatória na contracapa do livro.
Wormtail era fiel.
Está aqui.
— Mas o que...?
A mente de Lupin tornou-se uma confusão. Começou a pensar em várias coisas ao mesmo tempo, tentando entender o que era aquela mensagem e o que podia significar.
Então se lembrou da primeira invasão, quando encontrou Canopus desesperado no corredor.
"Ele estava aqui! Eu o vi!", o garoto dizia. "Ele estava na sua sala quando fui te procurar. Tenho certeza que era ele!"
Sabia que grande parte do desespero do filho no momento se dava pelo fato de pensar que Sirius teria ido a sua sala procurá-lo para matá-lo, assim como fez com Peter. Quando voltou, encontrou tudo bagunçado em sua mesa e a foto de seus filhos havia desaparecido.
Sirius havia mexido ali e levado a foto consigo.
Mas por que deixar aquela estranha mensagem num livro que ele sabia que pegaria em algum momento, sobretudo após ter recitado aquele trecho? Não faria isso se realmente tivesse a intenção de terminar o que havia feito aos outros amigos.
— Pensa, Remus… Tem alguma coisa acontecendo aqui — murmurou para si mesmo, observando a mensagem e o mapa.
Levantou-se bruscamente da cadeira e saiu de sua sala. Havia alguma coisa muito errada... E ele precisava descobrir.
***
Chegou o último dia de provas em Hogwarts. Foi um dia intenso para os gêmeos Black.
Por um acaso, também foi o dia da prova de Defesa Contra as Artes das Trevas. Os garotos perceberam como o pai parecia muito mais abalado e confuso, sempre pensativo. Isso os preocupava.
Precisaram enfrentar um bicho-papão na última etapa da longa prova que Remus havia preparado, onde precisaram colocar em prática os principais feitiços de defesa que aprenderam.
Therion havia treinado o feitiço para repelir bichos-papões com Harry enquanto o ajudava com Poções. Potter o ajudou a tentar ignorar o medo e se concentrar apenas no que poderia ser engraçado para acabar com aquele ser. Surtiu bastante resultado no fim e ele conseguiu cumprir a tarefa com êxito, apesar de sair bastante assustado.
Como última prova do dia dos gêmeos seria Aritmancia e usariam apenas suas penas, Therion deixou sua varinha com o pai para caso precisasse durante o último exame que aplicaria.
— O seu bicho-papão é tirar zero em todas as provas, Hermione — zombava Rony, rindo alto, enquanto seguiam de volta para o castelo para as últimas provas. — Eu sabia! Sabia! Isso é muito a sua cara!
— Cala a boca, Rony! — resmungou Granger irritada.
Os outros também riram. Na entrada do castelo, os seis deram de cara com um homem usando um chapéu coco e trajes bruxos elegantes.
— Ministro! — Harry o cumprimentou.
— Olá, Harry! Como vai?
— Bem, e o senhor?
Therion e Canopus encararam Harry ao ver como ele conversava tranquilamente com o Ministro da Magia. O homem lhes disse que estava ali para conversar com Dumbledore sobre os dementadores e os ocorridos na escola, e também aproveitaria para estar ali como representante do Ministério para a execução de Bicuço.
O Ministro cumprimentou os outros alunos juntos de Potter, e seu olhar parou por um tempo nos gêmeos. Eles logo soube o que ele estava pensando.
Todos que conheceram Sirius Black pessoalmente pensavam a mesma coisa ao vê-los.
— Vocês devem ser os filhos de Sirius Black, não é?
Eles não responderam, apenas fecharam a cara.
— Eu o vi em Azkaban um tempo antes de fugir. São muito parecidos com ele.
— Com todo o respeito, Ministro, prefiro não ser lembrado disso — Canopus disse seco.
— Já sabemos muito bem sobre nossas semelhanças com aquele homem.
— Ah, entendo. Desculpe-me — disse Fudge, educadamente. — Imagino como não deve ter sido fácil os últimos meses.
— O senhor não faz ideia — falou Therion.
— Fico feliz que não sigam os passos de seu pai — continuou o Ministro, e os garotos cruzaram os braços, bufando. — Eu conheci a mãe de vocês, sabe? Uma grande garota. Excelente bruxa, apesar de nascida-trouxa.
Hermione e Merliah também fecharam a cara, não gostando muito do jeito que aquele "apesar de nascida-trouxa" soou.
— Conhecia? — os gêmeos perguntaram juntos, surpresos.
— Claro que sim, ela ingressou no Ministério durante a Guerra. Muito inteligente, tinha uma grande carreira pela frente.
— Ela trabalhava no Departamento de Execução das Leis da Magia, não é? — perguntou Therion, lembrando do que o pai já havia contado sobre a mãe.
— Sim, com ótimas recomendações de Dumbledore e conhecidos inclusive. Uma jovem de futuro promissor. Uma pena que tenha se envolvido com Black e esse tenha sido o seu fim… Tão trágico. Infelizmente, não pudemos provar nada.
— Provar o quê? — perguntou Harry, confuso.
— Uma tragédia realmente. Recebam meus sinceros pêsames, meninos, apesar de já ter se passado algum tempo.
— 14 anos, para ser exato — especificou Canis.
— Sinto que não tenho muito mais tempo para conversar. Tenham um ótimo dia e bons estudos.
O homem já estava partindo em direção a sala do diretor e deixando todos para trás. Os outros olharam para os gêmeos.
Therion parecia pensativo, enquanto Canis possuía um ar sombrio em seu rosto.
Eles seguiram para a sala de Aritmancia sem falar muito. Ao fim do exame, seguiram para suas comunais. Não conversaram muito, mas nem precisavam. Estavam pensando na mesma coisa.
Mais tarde, eles e os amigos foram até Hagrid para falar sobre o pobre hipogrifo condenado.
Quando chegaram lá, Canopus ficou do lado de fora da cabana abraçado ao pescoço largo de Bicuço, acariciando suas penas enquanto os outros conversavam com o guarda-caça. Ele queria fazer um pouco de companhia a criatura enquanto ainda estivesse ali.
Therion ficou observando o irmão pela janela, ouvindo Hagrid dizer com pesar que o recurso foi negado e que o hipogrifo seria executado em breve. Ele sabia como o irmão estava mal e não parava de pensar, triste, naquele assunto.
Tentou distrair o gêmeo disso quando estavam treinando para melhorar suas transformações antes de revelar ao pai o que haviam feito. Funcionava um pouco, mas logo ele estava lamentando triste e irritado outra vez.
Hermione começou a servir um chá para todos quando o mais velho dos gêmeos Black decidiu entrar, com a cara de quem com certeza queria chorar.
— Dumbledore vai descer quando… Quando estiver na hora. Me escreveu hoje de manhã. Disse que quer ficar… Ficar comigo. Grande homem, o Dumbledore… — choramingava Hagrid.
— Nós fizemos um bom recurso! Como puderam negar? — Canis reclamou, com a voz irritada e triste.
— Dumbledore tentou ajudar, mas não tem poder para revogar uma decisão da Comissão. Ele disse aos juízes que Bicuço era normal, mas a Comissão está com medo... — respondeu Hagrid. — Vocês sabem como é o Lucius Malfoy. Imagino que deve ter ameaçado todos eles. E o carrasco, Macnair, é um velho conhecido dos Malfoy.
— Se eu ver o Malfoy na minha frente agora, eu acabo com ele!
— Nem parece que outro dia estava dormindo agarrado ao travesseiro dele — caçoou Merliah, tentando aliviar o clima.
— Shh! Nem mais uma palavra, Liah!
— Eu vou ficar com Bicuço. Será rápido…
— Eu vou ficar também.
— Não! Não quero que vejam. Nem deveriam estar aqui.
— Mas eu quero ficar! — insistiu Canis.
— Não posso permitir que fiquem.
O Black bufou, cruzando os braços emburrado.
— Rony! Rony! — Hermione exclamou. — Não acredito!
— O que foi? — o ruivo perguntou.
— Perebas!
Os gêmeos Black arregalaram os olhos e voltaram sua atenção para a garota. Rony se aproximou dela e tirou o rato de dentro de um pote com um grande sorriso no rosto.
— Perebas! Você está vivo!
— Me deixe ver! — Therion aproximou-se rapidamente.
— Olha ele aqui! Está muito bem.
— Posso pegá-lo só um instante?
— Por que? — indagou Rony desconfiado, apertando o rato em seu peito. — Me deixe recuperar o tempo que passei em luto. Ah, Perebas! Você fez muita falta.
Canis olhou para as patinhas minúsculas do rato, enquanto o irmão continuava a tentar pegá-lo do Weasley. Ele percebeu que realmente faltava um dedinho em uma das patas dianteiras.
— Rony… — tentou falar, mas foi interrompido.
— Estão vindo! Vocês precisam sair, agora! — Hagrid alertou.
— Mas, Hagrid…
— Vocês vão ficar muito encrencados se continuarem aqui.
— AI! — Harry resmungou de dor, levando a mão à nuca e olhando para a janela. Havia uma pedra aos seus pés. — O que foi isso?
— Vamos, saiam! Saiam! Pelos fundos!
Hagrid os expulsou dali, empurrando-os em direção à porta dos fundos. Os seis saíram apressados e se esconderam atrás do canteiro de abóboras, observando o diretor chegar junto do Ministro e do carrasco.
Eles esperaram entrarem na cabana de Hagrid para saírem. Quando estavam seguindo de volta para o castelo, Canis olhou para trás, vendo Bicuço uma última vez. Ele sentiu um grande nó em sua garganta, enquanto observava a inocente criatura.
Therion segurou a mão do irmão, tentando transmitir conforto. Harry segurou seu ombro logo ao lado e Merliah o abraçou. Todos sabiam como aquilo estava afetando Canopus. Seu grande amor por todas as criaturas já era de conhecimento de todos.
Puxaram-no para seguirem em frente e evitaram olhar para trás. Foi difícil não olhar, principalmente quando ouviram o lamento de Hagrid. Nesse momento, Canis abraçou o irmão e deixou as lágrimas saírem de seus olhos.
Quando estavam próximos do castelo, eles avistaram Draco parado de braços cruzados.
— A essa altura, acho que já devem ter executado aquela coisa — disse ele presunçosamente. — Como foi?
— Sua barata nojenta e asquerosa! — esbravejou Hermione, avançando sobre Malfoy com Canis logo atrás.
— Hermione! — Rony exclamou.
Ninguém conseguiu segurar a garota antes que desse um soco em Malfoy.
O loiro encarou-a surpreso, com a mão no nariz.
— Ai! Sua fedelha de sangue…
— CALA A PORRA DA BOCA, MALFOY! — gritou Canopus, agarrando a gola da roupa de Draco e jogando-o contra a parede.
— CANIS! — Harry exclamou.
Black encarava Malfoy furioso. Seus olhos estavam vermelhos e banhados de lágrimas, as quais escorriam lentamente por seu rosto.
— Por sua culpa Bicuço está morto! Ele era uma criatura boa, dócil! Você que é um imbecil e o fez se sentir ameaçado! — bradou com a voz carregada de raiva. — Eu te falei no primeiro ano… Se você faz uma criatura se sentir ameaçada, ELA ATACA PARA SE DEFENDER! ELE SÓ ESTAVA SE DEFENDENDO DE VOCÊ!
Draco apenas encarou aqueles olhos acinzentados cheios de ódio, sentindo a dor nas costas pelo impacto contra a parede.
— VOCÊ É UM IDIOTA, SEM CORAÇÃO, DESGRAÇADO… EU…
— O que vai fazer, Estrelinha? Eu não posso mudar o que o Ministério já decidiu — Malfoy retrucou.
— ELES SÓ DECIDIRAM MATÁ-LO POR SUA CAUSA!
— E o que queria que eu fizesse? Quer que eu peça desculpas?!
— Canis, deixa ele. Não vale a pena! — disse Harry.
Canopus comprimiu os lábios, encarando as orbes azuis de Malfoy fixamente. Ele estava com tanta raiva, mas tanta... Bicuço não merecia aquilo.
Então ele o soltou, afastando-se, enquanto Draco respirava fundo. Continuou a se afastar, mas ainda havia uma raiva crescente dentro de si. Estava triste e furioso, e essa era uma combinação perigosa.
Ele se virou e socou o peito de Malfoy, fazendo-o cair no chão se queixando de dor e sem ar.
— Ah… Black, seu… — Draco resmungou, respirando com dificuldade. Ele olhou para o Black com fogo nos olhos, com a mão onde havia recebido o soco.
Canopus apenas se virou outra vez para ir embora.
— Fica quieto, Perebas! — Rony exclamou, tentando segurar o rato inquieto. Então o animal o mordeu e ele largou-o no chão. — Ai! Ele me mordeu! Perebas!
— Ele está fugindo! — disse Therion.
Weasley correu atrás do rato. Os outros correram atrás do ruivo. Canopus ficou parado alguns instantes, raciocinando o que estava acontecendo, e olhou para Malfoy se levantando antes de começar a correr também. Eles correram o mais rápido que puderam, seguindo para cada vez mais perto do Salgueiro Lutador.
A luz do dia começava a ficar mais alaranjada, iluminando o gramado de um tom levemente dourado. Àquela hora, os gêmeos deveriam estar indo falar com o pai, mas, com toda a confusão, sequer se lembravam de em que dia estavam.
Rony pulou no chão e agarrou o rato, que continuou a se mexer inquieto em sua mão. Com muita dificuldade ele guardou-o em seu bolso, ainda tentando impedi-lo de fugir.
Todos respiravam ofegantes, com as mãos apoiadas nos joelhos para recuperar o fôlego. Eram muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
Mas ainda não havia acabado.
— CANOPUS — Canis ouviu seu nome ser chamado e arregalou os olhos ao notar que era a voz de Draco.
— O QUE VOCÊ QUER?!
— ATRÁS DE VOCÊ!
Foi então que ele viu o enorme cão negro correndo em sua direção e dos amigos. Todos ofegaram surpresos, sacando suas varinhas — exceto Therion, que não estava com a sua.
Mas o cão pulou por cima deles, fazendo-os cair pelo susto.
— RONY! — Therion gritou ao mesmo tempo que via o enorme cão morder o tornozelo do garoto e arrastá-lo em direção ao Salgueiro Lutador.
Rony começou a gritar, enquanto Therion se levantava e corria em sua direção. Ele tentou desviar dos galhos da árvore que faziam de tudo para acertá-lo.
Canis ficou de pé e correu até eles para tentar ajudar.
A perna de Weasley acabou presa a uma das raízes, mas o cão não teve dó alguma ao puxá-lo para a entrada que havia ali. Com um som agoniante de ossos se quebrando, Rony foi arrastado para dentro do Salgueiro.
Canopus pulou no chão e tentou segurá-lo, mas não conseguiu. Sem pensar, ele entrou no Salgueiro Lutador, enquanto seu irmão era acertado por um dos ramos da árvore e jogado para longe.
Harry foi até Therion e o ajudou a se levantar. Os outros também se aproximaram, mas logo todos estavam fugindo dos galhos da árvore, que não parava de atacá-los.
— Precisamos ajudar o Rony! — exclamou Harry.
— Tem que parar o Salgueiro Lutador — disse Therion.
— COMO?! — questionaram Merliah e Hermione juntas.
— MALFOY! — Black gritou ao ver o loiro parado não muito longe, parecendo não saber o que fazer. — AJUDE!
— EU NÃO SEI O QUE FAZER!
Therion rolou na grama, fugindo de um galho. Outro quase acertou Harry, mas ele jogou-se sobre Potter e puxou-o para o lado, levando ambos ao chão.
— SEGUNDO NÓ, TRÊS RAÍZES À FRENTE! — gritou. — Você está bem, Harry?
— Meus óculos. Eu não tô enxergando nada!
— Merlin… APERTA A PORRA DO NÓ, MALFOY! TÁ BEM NA SUA FRENTE!
Draco tremia de nervosismo. Ele olhou para as raízes e se aproximou hesitante, procurando o nó indicado. Apertou um e não aconteceu nada.
— É O OUTRO! O SEGUNDO!
— CALMA! ESTOU TENTANDO! — ele gritou de volta e apertou o outro nó.
O Salgueiro Lutador então paralisou, como uma árvore comum. Nem parecia mais a árvore que segundos antes movia-se loucamente e tentava acertá-los com os galhos a todos custo.
Todos respiravam com dificuldade, a adrenalina ainda correndo por suas veias.
Therion se levantou e pegou os óculos redondos que avistou no meio da grama. Aproximou-se de Harry outra vez, que estava sentado no chão. Ajoelhou-se ao seu lado e colocou os óculos em seu rosto.
Potter sorriu levemente para Black quando sua visão se focou no rosto dele.
— Obrigado. Você está bem? — perguntou ao ver alguns arranhões no rosto do outro.
— Estou — respondeu, também vendo alguns arranhões no rosto de Potter.
— Como você sabia como parar o Salgueiro Lutador?
Therion desviou o olhar, encolhendo os ombros.
— Meu pai me ensinou.
— E como ele sabia?
— Perguntas demais que eu não posso responder agora, Mini Prongs.
Ele ajudou Harry a ficar de pé, e eles foram até as garotas e Malfoy na entrada secreta que havia ali.
— Seu irmão é maluco de pular aí dentro? — indagou Draco.
— Depois ele diz que eu sou impulsivo demais — Therion riu. — Canis às vezes também não pensa muito.
— Hã? — Malfoy franziu o cenho e encarou Black. Percebeu então que estava falando com o gêmeo errado. — Ah, você é o outro.
— Pensei que já tinha aprendido a nos diferenciar melhor, Malfoy.
— É mais difícil de longe — bufou, e então olhou para a entrada. — Espere... Então foi o Canopus que pulou aí dentro?!
— É. E é melhor irmos porque eu não vou deixar meu irmão sozinho com Sirius.
— Sirius?!
Therion pulou na entrada do Salgueiro Lutador sem dizer mais nada.
— Therry, espera! — exclamou Harry e pulou logo atrás.
— Hogwarts tem sempre uma nova aventura — disse Liah suspirando e seguiu os outros dois, com Hermione e Draco logo atrás.
Black foi na frente pelo túnel estreito. Harry e Draco conjuraram lumus com suas varinhas para iluminar o caminho, enquanto as garotas ficaram com as varinhas em punho, prontas para o caso de algo acontecer.
Eles seguiram por um longo e demorado caminho. Therion caminhava sem medo, apressadamente.
— Onde esse túnel vai dar? — perguntou Malfoy.
— Na Casa dos Gritos.
— O quê?!
— Não precisa ficar com medinho, Malfoy. Todos os boatos sobre ser assombrada são falsos. Aliás... Por que você tá aqui?!
— Eu não estou com medo! — rebateu, mas não respondeu a pergunta.
— Como sabe que os boatos são falsos? — perguntou Harry.
— De novo, perguntas que eu não posso responder, por mais que eu queira.
— Pensei que não fôssemos esconder nada um do outro!
— Isso é algo que não é meu direito dizer, Harry. Desculpa.
— Therry!
— Ei, pombinhos, vamos deixar a discussão de relacionamento para depois? — interveio Merliah. — Acho que agora não é hora para isso.
— Liah! — os dois garotos à frente exclamaram juntos, com os rostos corados.
— Não é nada disso! — disse Harry.
— Vai acreditando nisso, Potter. Uma hora consegue me convencer.
Eles continuaram até o túnel começar a ficar mais claro e mais largo. Chegaram a Casa dos Gritos depois de uma longa caminhada e apagaram as luzes das varinhas, olhando ao redor.
Era uma casa velha, caindo aos pedaços, sem janelas. Estava repleta de poeira e teias de aranha.
Merliah começou a espirrar uma vez atrás da outra por conta da poeira.
— Eles vão nos ouvir! — exclamou Harry num tom baixo.
— Eu sou alérgica a poeira, tá legal?! ATCHIM! Esse lugar é um paraíso para minha rinite… A-ATCHIM!
— ME SOLTE! — os gritos raivosos de Canopus ecoaram pela casa.
Therion seguiu pelo corredor até às escadas, com os outros logo atrás. Os outros estranharam como ele parecia conhecer exatamente o caminho.
Eles entraram no quarto empoeirado. Rony estava na cama esfarrapada agarrado a Perebas e com a perna banhada em sangue e virada num ângulo estranho, enquanto Canis estava ao seu lado ajoelhado no chão com as mãos presas para trás no corpo, se remexendo para tentar se soltar.
O Black xingava furiosamente, os olhos brilhando de raiva.
— Rony! Você está bem? — Harry perguntou. — Onde ele está?!
— Cuidado! É ele! É ele! — Rony alertou, apontando sobre o ombro de Harry. — Ele é um animago!
Todos se viraram para olhar o homem que estava parado com uma varinha na mão num canto do cômodo e fechava a porta com força.
Os cabelos escuros estavam emaranhados e sujos e caíam até a altura dos cotovelos. Tão magro que poderia se assemelhar a um esqueleto e vestia roupas rasgadas e imundas de prisioneiro, e era possível ver algumas tatuagens em sua pele. Por trás das olheiras fundas, os olhos azuis-acinzentados brilhavam com uma aura de loucura.
Therion e Harry o reconheceram das fotos que já haviam visto do homem junto de seus pais. Draco o reconheceu como a mesma pessoa em quem o bicho-papão se transformou para Canopus.
Canis tremia, as lágrimas ainda molhando seu rosto. Ele estava em um misto de medo e raiva. A fúria certamente estava ultrapassando qualquer outro sentimento naquele instante.
— Expelliarmus! — bradou com a voz rouca.
As varinhas de todos voaram de suas mãos, e Sirius as recolheu. Ele então se aproximou, os olhos fixos em Harry e Therion.
Potter instintivamente segurou nos ombros de Therion e deu um passo para trás com ele, protetoramente. Os olhos verdes brilhavam com a mesma fúria de Canis.
— Imaginei que viessem ajudar seu amigo e seu irmão — disse Sirius com a voz bastante rouca e falha, como se não a usasse há muito tempo. Seus olhos focaram em Harry. — Seu pai teria feito o mesmo por mim, Harry. Foi muita coragem não correr à procura de um professor. Fico agradecido... Vai tornar as coisas muito mais fáceis...
— Mais fáceis para me matar e levar eles embora? — rebateu Potter. — Pois saiba que as coisas não serão nada fáceis pra você.
— Solte o meu irmão AGORA — ordenou Therion, com a voz trêmula.
— Certo, certo. Apenas… Estava o mantendo mais calmo.
Com um aceno da varinha, as mãos de Canopus se soltaram e ele ficou de pé rapidamente.
— Afastem-se! Garanto que o matarei rápido.
Harry, Canis e Therry estavam avançando, mas foram segurados pelos outros junto deles.
— Ficou maluco?! — indagou Malfoy, segurando o braço de Canopus.
— Melhor me soltar se quiser continuar com essa mão — ele retrucou.
— Se quiser matar o Harry, vai ter que nos matar também! — disse Rony para Sirius, ficando de pé com muito esforço. Ele ficou tão pálido quanto um cadáver no mesmo instante.
— Deite-se! Vai piorar a fratura na sua perna assim — bradou Sirius.
— Você vai ter que matar nós seis! — exclamou ele, e então avistou os fios platinados ao lado de Canopus. — Nós sete, na verdade. Um pelo menos você estará fazendo um bem para a humanidade. Eu até reduziria sua pena se fosse o juíz.
— Calado, Weasley! — resmungou Draco.
— Eu, particularmente, prefiro viver — disse Liah, voltando a espirrar logo em seguida.
— Que ótima amiga você é.
— Obrigado, Rony.
Weasley revirou os olhos.
— Só uma pessoa irá morrer hoje! — Um sorriso maluco brincou nos lábios do Black
— Você não se importou com isso quando matou todos aqueles trouxas para acabar com Pettigrew, não é mesmo? — retrucou Harry audaciosamente. — Azkaban amoleceu seu coração, foi? Ou não consegue mais nem matar outros seis adolescentes desarmados?
— Harry, fica quieto! — exclamou Hermione.
— ELE MATOU MEUS PAIS!
Ninguém mais conseguiu segurar Harry. Ele avançou sobre Sirius Black, desferindo um soco em seu rosto. Segurou o pulso dele antes que usasse as varinhas, fazendo-o derrubar todas elas.
Black estava tão surpreso que nem teve reação, enquanto Potter o derrubava no chão e começava a socar cada parte do corpo do homem que conseguia, a raiva dominando-o por completo.
Então, uma das mãos de Sirius alcançou o pescoço de Harry, que começou a resmungar com falta de ar.
— Eu esperei tempo demais...
— SOLTE ELE! — gritou Therion.
Ao ver o outro sufocar Harry, ele não conseguiu se conter e avançou. Canopus soltou-se do aperto em seu braço e seguiu o irmão. O rosto de Potter estava vermelho e começava a ficar roxo quando o gêmeo mais novo chutou o homem e o fez soltá-lo.
O garoto voltou a chutar Sirius, então dando soco em seu rosto e outro no estômago. O homem não reagiu enquanto apanhava dos dois garotos.
— Eu… Não quero… Machucar vocês…
— Mais do que já machucou? — rebateu Canis friamente.
Harry recuperava o fôlego, com a mão em sua garganta. Ele viu então um gato alaranjado pular sobre os gêmeos e Sirius ao que a mão do homem tentava alcançar as varinhas.
— Bichento! — exclamou Hermione.
— NÃO VAI NÃO! — gritou Harry com a voz rouca, jogando o gato para longe, recebendo vários arranhões no processo, e pisando na mão que quase alcançou as varinhas. — SAIAM!
Harry pegou sua varinha do chão e pulou sobre Sirius, colocando a ponta da varinha em seu pescoço. Os gêmeos observavam um de cada lado, com os rostos e os braços arranhados e cabelos bagunçados por causa do gato.
Os três encaravam o homem com puro ódio.
— Vai me matar, Harry?
A varinha do garoto agora apontava para o peito de Black. Era só dizer uma maldição, que tudo acabaria.
O homem estava acabado, repleto de machucados. Um olho estava roxo e inchado, e a boca e o nariz sangravam.
— Você matou meus pais — Potter falou entredentes.
— Não nego isso — disse calmo. — Mas se você soubesse da história completa...
— Que você era amigo deles? Que você os traiu e se aliou ao Voldemort? Eu conheço bem essa história… Padrinho.
Ele disse a última palavra com escárnio e desprezo na voz.
— Vocês precisam me ouvir! Não entendem…
— ENTENDER O QUÊ?! — esbravejou Therion. — VOCÊ TRAIU E ABANDONOU A TODOS NÓS!
— ENTENDEMOS MELHOR DO QUE VOCÊ PENSA! — gritou Canis. — POR SUA CULPA, ESTAMOS VIVENDO UM INFERNO!
— Você não a ouviu, não é? — disse Harry com a voz carregada de dor. — Minha mãe implorando para Voldemort não nos matar… Ele a matando sem pena… EU OUVI! E FOI TUDO CULPA SUA! VOCÊ FEZ ISSO!
Ele apertou a varinha no peito do homem, enquanto a voz de sua mãe ecoava em sua mente. Tudo que ele ouviu várias e várias vezes cada vez que se aproximava de um dementador.
Therion estava ao lado imerso na própria dor e lembranças dolorosas remoídas em sua mente. A memória que não o deixava dormir a noite.
— Você sabe o que é ouvir a voz da sua se despedindo antes de morrer? — ele disse com pesar, as lágrimas surgindo em seus olhos. — Porque eu tenho ouvido isso toda noite, e ela só não está aqui comigo por causa das pessoas a quem você se aliou!
Os três garotos estavam ali sobre ele, descontando todo o sofrimento que passaram por causa de Black. Todos os seus pesadelos, toda a dor, toda a raiva que sentiam por ele.
E Sirius apenas observava parado, sem resistir mais.
— Por sua culpa, perdemos nossas mães, o meu pai… Nossa família… — Harry murmurou.
Ele comprimiu os lábios, pronto para seguir em frente. Mas não conseguiu.
Queria. Ele queria muito matá-lo de uma vez, mas não teve coragem para fazer isso. Falhou em acabar com o homem que destruiu sua vida.
Harry acabou se afastando, balançando a cabeça negativamente. Therion olhou para ele e ficou ao seu lado, conseguindo sentir como estava abalado e que não conseguiria fazer aquilo. Ele próprio talvez não conseguisse, por mais que sentisse vontade.
Não eram assassinos.
Canis conseguiu pegar sua varinha no chão e ficou de pé sobre o pai biológico. Ele olhou para o irmão e o amigo, e então voltou a encarar o homem, apontando sua varinha para ele.
Seus olhos queimavam com as lágrimas que escorriam, enquanto uma expressão sombria e raivosa dominava seu rosto. Seu olhar era o olhar de alguém que estava furioso e cansado. Cansado de sofrer e ver quem ele ama sofrer também, por causa da pessoa logo a sua frente. Cansado de ser comparado ao homem que ele nunca teria o prazer de chamar de pai.
Ele queria acabar com tudo.
— Você não tem a MENOR IDEIA do que nos causou, Sirius — falou num tom frio.
— Canis, filho…
— EU NÃO SOU SEU FILHO! — gritou. — EU NÃO SOU NADA SEU! NÃO QUERO TER NENHUMA LIGAÇÃO COM VOCÊ!
Sua garganta doía. Seu peito doía. Ele só queria acabar com aquilo. Com toda a dor.
— Você matou o meu padrinho, a minha madrinha… VOCÊ MATOU A MINHA MÃE! — prosseguiu. — Eu ouvi o MEU PAI, meu pai de verdade, gritar e sofrer com a dor de saber que o melhor amigo dele o traiu. Ouço toda noite quando vou dormir você nos abandonando e ele dizendo que logo voltaria… MAS VOCÊ NÃO VOLTOU!
— Eu…
— NÃO VOLTOU PORQUE HAVIA DESTRUÍDO TUDO! — esbravejou e não deixou o homem falar.
Ele não iria segurar mais tudo aquilo que guardava a tanto tempo dentro de si.
— O nosso maior sonho era estudar em Hogwarts. Viver toda a magia e beleza desse lugar que fez tão bem ao meu pai… Mas esse sonho tem se tornado um pesadelo POR SUA CULPA — disse. — PORQUE TODOS INSISTEM EM ME COMPARAR A VOCÊ! PORQUE EU NASCI COM A MALDIÇÃO DE ME PARECER COM VOCÊ!
Sua visão começava a embaçar pelas lágrimas, mas eles não se importou em deixá-las cair.
— VOCÊ ME FEZ ODIAR ESTAR AQUI!
Therion se encolheu, começando a chorar assim como o irmão, levando as mãos aos ouvidos. Ele sabia muito bem o que era aquela sensação, porque estava passando por isso também. Mas ele não conseguia calcular a imensa dor do irmão.
Fechou os olhos com força, sentindo a cabeça começar a doer, enquanto o irmão continuava gritar. A mente de Canis estava um caos...
— Por sua causa… O ano inteiro eu só quis ir embora do lugar que mais desejei estar... — Therion disse ao mesmo tempo que Canopus, sentindo as braços de Harry ao seu redor.
— Desde que chegamos, somos lembrados todo santo dia que temos o azar de ter o seu sangue.
Canis engoliu o bolo que se formava em sua garganta, apertando sua varinha com mais força.
— Os filhos do terrível Sirius Black! Ora, eles são tão loucos e desprezíveis quanto o pai! Eles com certeza estão o ajudando a entrar em Hogwarts! Ah, eles certamente são iguaizinhos ao pai! — repetiu tudo que vinha ouvindo desde que entrou naquela escola. — É isso que dizem sobre nós. E eu estou cansado disso…
— Canis, acho melhor se acalmar antes que faça uma besteira — Liah tentou alertar o amigo ao ver seu estado.
— Não se preocupe. Eu sei bem o que estou fazendo — disse sem desviar os olhos do homem. — Então, papai… Espero que esteja feliz de saber o quão mal você fez a nossa vida.
— Sinto muito…
— SENTE MUITO?! VOCÊ SENTE MUITO?! — riu e gritou descontrolado, com um brilho louco em seu olhar. — REALMENTE DEVERIA SENTIR! MAS JÁ É TARDE PARA DESCULPAS! EU TE ODEIO, SIRIUS! ODEIO QUE TODOS ME DIGAM QUE SOU SEU FILHO!
Naquele momento a porta se abriu.
— CANIS, NÃO!
— CRUCI…
— EXPELLIARMUS!
A varinha de Canopus voou de sua mão antes que ele terminasse de dizer a maldição. Todos o encaravam de olhos arregalados, e quem sabia o que ele lançaria contra Sirius Black possuía um olhar aterrorizado, como Remus.
O garoto olhou para Lupin, que agora segurava a sua varinha e a de Therion, parado na porta. Ele respirava rápido, com os olhos vidrados em sua direção.
Canopus quase havia lançado uma Maldição Imperdoável.
O garoto caiu de joelhos no chão, sem força, chorando e levando ambas as mãos à cabeça.
— Papai… — ele choramingou.
— Canis, você...
Remus adentrou o quarto, abraçando o filho com força, não terminando de falar. Ele o apertou com força em resposta, chorando em seu ombro. Respirou fundo, tentando acalmar o filho.
Seus olhos correram pelos outros alunos no cômodo, todos abalados e com algum machucado. Olhou para o homem no chão ao lado, sentindo o coração se apertar.
Afastou o filho de si com cuidado.
— Fique calmo, está bem? Eu resolvo isso — disse e se levantou.
Canis ficou sentado no chão, observando o pai se afastar ainda com lágrimas escorrendo de seus olhos. A adrenalina havia desabado de repente.
Lupin se aproximou de Sirius, apontando a varinha do filho mais novo para o homem.
Estava muito diferente do que estava na última vez que o viu. Aqueles doze anos em Azkaban não haviam lhe feito nada bem, mas ainda conseguia ver ali o Sirius que conheceu. A pessoa que dominava seus pensamentos desde que tinha 15 anos, quando percebeu que estava se apaixonando.
E nos últimos dias principalmente, ele tem pensado demais nele. Reviveu o último dia em que se viram antes de tudo acontecer, quando o homem parecia descontrolado e dizia que precisava urgentemente ir atrás dos amigos. A mensagem que havia deixado, ver Pettigrew no mapa, pensar em tudo que ele fizera nos últimos meses e em tudo o que passaram.
Lupin percebeu que tinha alguma coisa errada e que provavelmente um grande engano havia acontecido. Ele, talvez, tivesse entendido a mensagem.
— Você veio atrás dele, não foi? — perguntou.
Sirius apenas concordou com a cabeça, olhando-o fixamente.
— Por Merlin… Se não era você… Por que não me disse nada?
— Professor…? — Hermione tentou chamar, confusa.
— O que está dizendo, Lupin? — indagou Harry, que havia abraçado a Therion, ambos sentados no chão próximo a Canopus.
Remus não disse nada. Ele guardou as duas varinhas no bolso e estendeu a mão, a qual logo foi segurada por Black. Ajudou-o a se erguer e o encarou.
Estava completamente sujo e acabado, esfarrapado, mas ainda era Sirius.
Os olhos castanhos-esverdeados de Lupin se fixaram nas orbes azuis-acinzentadas à sua frente, os mesmo olhos que viu nos últimos doze anos em seus filhos. Os olhos brilhantes que refletiam as estrelas no céu que sempre o encantaram.
E então, sem pensar em mais nada, ele o abraçou com força, sob o olhar surpreso e assustado dos filhos e dos outros ali presentes.
——————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
E um dos momentos mais aguardados enfim chegou. Os gêmeos viraram animagos e chegou a cena da Casa dos Gritos.
Doeu demais escrever, viu? Principalmente o Canis dizendo tudo o que estava sentindo. Nosso gêmeo estressadinho tem muita coisa guardada no coração 🥺🥺
E aí? Gostaram?
O próximo também é um dos que mais estou ansiosa. Esse e também os próximos dessa fase final serão caps bem grandes.
Faltam cerca de três capítulos para entrarmos na próxima fase na história. Ansiosos?
Não esqueçam de votar e comentar bastante! Amo ver os comentários de vocês!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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