XXI. Deception
— É muito conveniente você perder sua varinha justamente naquele momento — disse Snape desconfiado.
Remus suspirou, revirando os olhos. Três dias haviam se passado e Snape parecia convencido de que Lupin deixara Sirius fugir de propósito e ainda dera sua varinha de muito boa vontade, sendo que havia deixado ela cair quando escorregou e não a encontrou mais. Não duvidava que Sirius a tivesse pego.
Terminou de beber sua poção e pousou o cálice sobre a mesa. Encarou seu colega professor e velho conhecido de escola, levantando-se da cadeira em que estava sentado, devagar, ajeitando sua roupa com uma única mão. Seu braço esquerdo estava enfaixado com um tipóia com uma contusão por causa da queda durante a perseguição.
— Sinto muito se não acredita, Severus, mas é a verdade.
— Eu não esperaria algo diferente de você e daqueles pirralhos insolentes — falou Snape em tom de desprezo. — Eles não são tão diferentes do Black.
— Você deveria superar essa velha rixa, Snape, ao invés de descontar nos garotos. Aliás, caso goste de saber, apesar de tudo, Poções ainda é a matéria preferida do Therion — retrucou Remus. — Muito obrigado pela poção. Agora, se não se incomoda, eu tenho uma aula em 15 minutos. — Ele deixou sua sala, sendo seguido por Snape.
— Dumbledore disse que…
— Um braço machucado não irá me impedir de dar uma aula, principalmente se você for me substituir. Sei bem o que tentou na última vez, embora eu agradeça por me livrar de uma aula bastante desconfortável — interrompeu a Snape e olhou-o uma última vez. — Pode dizer a Madame Pomfrey que ela poderá me dar uma bronca depois. Tenha um bom dia!
Dito isso, ele tomou caminho até a sala de aula. Um suspiro deixou seus lábios enquanto mais uma vez sua mente era inundada por pensamentos de três dias antes. Não parava de pensar nas palavras ditas por Sirius, e ter que repetir tudo o que aconteceu várias vezes não ajudava, mesmo que não mencionasse o que ele dissera.
Depois que ele desfez o feitiço petrificante lançado em Therion, ficaram ali no gramado até Dumbledore chegar com Canopus e Harry — que seguiu-os depois que passaram pela comunal da Grifinória. O garoto se jogou sobre o pai e o irmão, preocupado e assustado. Foi difícil mantê-lo calmo e convencê-lo de que sua lesão não foi obra direta de Sirius e que ir atrás dele era loucura.
Harry relatou tudo o que aconteceu no dormitório. Quando ele voltou e chegou ao seu quarto, ouviu barulhos. Escondeu-se embaixo de sua capa de invisibilidade e viu Sirius entrar no cômodo armado com uma faca e seguir para a cama de Rony.
Naquele momento, tomado pelo impulso e a raiva, enquanto o amigo gritava assustado, ele atacou Sirius com um feitiço que o acertou, mas Black conseguiu correr e escapar no momento em que Remus chegava.
O garoto estava ainda mais irado e furioso com o assassino, decidido a encontrá-lo e matá-lo quando tivesse a chance, principalmente ao ver que seu professor favorito se machucou ao ir atrás dele e descobrir que ele havia petrificado Therion.
— Que tipo de homem ataca o próprio filho?! — indagou naquele momento, irritado. — Desculpa, Therry, sei que não gosta de ser referido assim.
Remus ficou na ala hospitalar por um dia inteiro sob os cuidados de Madame Pomfrey, enquanto toda vez que pregava os olhos revivia aquele momento. Não parou de pensar em Sirius durante os dias que se seguiram.
Quando voltou para seu quarto, ele se viu desabando na cama e chorando enquanto olhava para uma foto dos quatro Marotos reunidos no 5° ano, o mesmo ano em que Sirius disse aquela mesma frase pela primeira vez.
E as coisas também não foram fáceis para Therion e Canopus. Uma segunda invasão de Black rendeu muitos ataques a eles. Era óbvio que todos pensariam, mais uma vez, que eles haviam deixado Sirius entrar.
O fato de estarem fora do dormitório no horário não ajudou muito a fazer acreditarem que não estavam envolvidos nisso. Tanto os gêmeos quanto Harry receberam detenções por estarem fora da comunal após o toque de recolher, e nem eles nem Remus mencionaram o Mapa do Maroto ou Sirius ser um animago.
Quando Canis e Therion estavam seguindo para a aula do pai após buscarem seus materiais que haviam deixado na comunal da Sonserina, foram abordados no corredor por um grupo de grifinórios, entre eles dois colegas de quarto de Harry. Apenas bufaram, enquanto ouviam a mesma coisa que na última vez.
Therion choramingou, levando as mãos aos ouvidos. Sua cabeça parecia que iria explodir, ouvindo todos gritarem consigo e sentindo toda a raiva naquelas vozes.
Alguns sonserinos e outros grifinórios pararam para ver a cena.
— O SEU PAI ENTROU NO MEU QUARTO COM UMA FACA! UMA FACA! POR QUE DEIXARAM ELE ENTRAR OUTRA VEZ?
— Não deixamos ele entrar, Finnigan! — esbravejou Canopus irritado. — Quer que eu desenhe para você entender? Ou seu cérebro não é capaz de compreender nem isso?!
— Ah, ele entrou sozinho então? Com todos aqueles dementadores lá fora?
— Se quer saber como ele conseguiu, VAI ATRÁS DELE E PERGUNTA! — berrou Therion.
— Ele poderia ter matado todos nós!
— Uma pena que você ainda está aqui, não é mesmo? — Canis disse, com fogo nos olhos. Ele sacou sua varinha e encostou a ponta no pescoço de Simas. — Mas se quiser, eu te mando daqui até a Floresta Proibida para os lobos terminarem o trabalho.
— E ainda diz que não é igual ao seu pai.
— Palatus arenus — falou rapidamente antes que o outro pudesse dizer mais alguma coisa e viu ele se afastar bruscamente.
Enquanto Finnigan tossia e levava a mão à garganta, sentindo a boca cada vez mais seca, alguns sonserinos que observavam a cena riam, incluindo Draco e seus amigos. Canopus e Therion mantinham expressões sérias no rosto, o gêmeo mais novo ainda com as mãos nos ouvidos.
Quando Harry avistou-os junto de Rony e Hermione, aproximou-se confuso.
— O que aconteceu? — perguntou. — Está tudo bem, Therry?
— Está, é só o Finnigan sendo insuportável — respondeu Therion, retirando as mãos de onde estavam.
— Ele lançou uma azaração no Simas! — exclamou Dean Thomas exasperado.
— Azaração da Boca Seca para ser mais exato. Agradeça por não ser uma pior — Canis disse, sem remorso algum. — Quer uma água, Simas?
— Ah, seu… — o garoto tentou falar, mas sua voz saiu rouca.
— É melhor nos deixarem em paz se não quiserem ser os próximos — ameaçou Therion. — Nós não ajudamos o Sirius a invadir a comunal de vocês.
— Não temos culpa se algum idiota deixou a senha jogada de bandeja pelo castelo.
— Mas ele não entraria no castelo sozinho sem ajuda! — disse um grifinório atrás de Finnigan.
— Vocês não estavam na comunal da Sonserina naquela noite, nós sabemos.
— Eu também não estava na comunal. Estive com eles o tempo todo. Vão dizer que eu ajudei o homem que quer me matar a entrar no castelo também? — Harry entrou em defesa dos amigos.
— Por que defende tanto eles, Harry?
— Porque são meus amigos!
— Deveria escolher amigos melhores.
Uma expressão sombria e irritadiça surgiu no rosto de Potter, cansado de ouvir aquilo desde que se aproximou ainda mais dos gêmeos Black.
— Com certeza, vocês não estariam na minha lista de escolhas — retrucou friamente. — Eu sou amigo de quem bem entender, e se mexerem com meus amigos, mexeram comigo. Os defenderei sem medo, e não vão gostar do resultado disso. — Ele sorriu maldoso, pegando sua varinha. — Querem testar?
Harry se posicionou entre Therion e Canopus, encarando seus colegas de Casa. Ouvia alguns murmúrios e cochichos, enquanto a grande maioria possuía os olhos colados nele.
Remus chegou instantes depois, encontrando a aglomeração de alunos no corredor que levava a sala de aula.
— O que está acontecendo aqui?
— Prof. Lupin, o Therion azarou o Simas! Ele mal consegue falar — acusou um grifinório.
— Na verdade, fui eu, papai — admitiu Canis. — Nunca conseguem diferenciar nós dois. Deveríamos começar a usar crachás.
— Minha garganta está doendo… Muita sede — Simas conseguiu dizer com dificuldade.
— Azaração da Boca Seca, Canis?
— Ele ficou enchendo o saco por causa da invasão do Sirius!
— Vocês ajudaram ele!
— Já não dissemos mil vezes que NÃO AJUDAMOS?! — Therion rebateu irritado.
— Como se fôssemos acreditar.
— Já chega! — vociferou Remus. — Dean, leve Simas para beber água. Isso vai ajudar a passar o efeito da azaração. Conversarei com todos depois da aula. Agora, vamos! Entrando na sala.
Todos entraram entre vários murmúrios e cochichos, encarando Harry e os gêmeos. Potter puxou Rony para se sentarem mais próximos dos Black, sentando-se logo à frente deles.
Remus posicionou-se na frente da sala, pedindo educadamente que todos fizessem silêncio. Ele respirou fundo, com os olhares de toda a turma voltados para si. Intuitivamente ele levou a mão ao bolso para pegar sua varinha, até lembrar que ela não estava mais consigo.
Passou a mão por sua nuca, olhando para toda a turma.
— Desculpem, estou sem minha varinha hoje. Então… Therion e Canis, podem me ajudar a devolver as tarefas?
— Claro, papa...— eles iam dizer, mas pararam ao receber um olhar de alerta de Remus pela forma como estavam o chamando. Rapidamente se corrigiram: —… Professor!
Ainda acabavam caindo no costume de chamá-lo de pai durante as aulas. Lupin queria manter o profissionalismo, então pedia para tentarem evitar enquanto estivessem em sala, mesmo que àquela altura toda a turma atualmente já soubesse que ele era o pai adotivo dos gêmeos Black.
Os garotos prontamente se levantaram e pegaram os bolos de pergaminhos, entregando para seus respectivos donos com a ajuda de suas varinhas, enquanto Remus pegava um giz e escrevia a mão no quadro o tema daquela aula.
— Até que você foi bem, Rony — comentou Canis enquanto devolvia a tarefa dele da última aula com uma nota 7,0.
— Graças às anotações da Mione — confessou.
— Ano que vem, vou deixar você se virar sozinho — disse a garota, sentada na mesa ao lado com Merliah.
— Parabéns pelo trabalho, Hazz! — disse Therion fazendo o pergaminho flutuar até Potter.
Harry sorriu largo, os olhos brilhando ao ver que tirou um 10. Nunca havia tirado nota máxima em nenhuma tarefa.
Canis pegou a tarefa de Draco, observando a nota.
— Como você conseguiu tirar um nove nisso aqui?
— Por que está tão surpreso, Estrelinha? — disse Malfoy com um sorriso presunçoso no rosto enquanto pegava o pergaminho. — Pensei que já fosse óbvio que eu sou ótimo em tudo o que faço. Deveria ter recebido nota máxima.
— Você não sabe nem a diferença entre hinkypunk e um barrete vermelho!
— Imagino que o barrete vermelho seja… Vermelho? — caçoou, fazendo Crabbe e Goyle rirem. — Sou ótimo quando o assunto é Artes das Trevas. Sinto muito se não chega ao meu nível.
— Na verdade, eles são meio cinzentos. E eu tirei nota máxima nessa tarefa.
— Porque seu pai adotivo é o nosso professor — retrucou Malfoy.
— Therion recebeu um oito. E papai ainda foi bonzinho, merecia um seis... Ai! — Canopus acariciou o topo da cabeça, onde Therion fez vários pergaminhos caírem com força. — Não tenho culpa se você estava mais preocupado com a tarefa do Snape e fez aquele resumo horrendo sobre hinkypunks… AI! Para de me bater com os pergaminhos!
— Espero não precisar eu mesmo ir aí e parar essa bagunça, meninos — Remus disse, de costas ainda escrevendo no quadro.
— Desculpa, pai — eles disseram em uníssono.
— Mas foi o Therion quem me bateu com os pergaminhos.
Lupin riu, balançando a cabeça. Terminou de escrever, enquanto os garotos terminaram de entregar as tarefas e voltaram para sua mesa na frente da sala. Dean e Simas chegaram poucos instantes depois, sentando-se na mesa vaga; Finnigan encarou os gêmeos seriamente.
Remus passou o olhar por entre os alunos, levando sua mão boa ao bolso da calça.
— Como podem ver, não estou nas melhores condições atualmente. Madame Pomfrey certamente irá me prender na enfermaria quando souber que estou dando aula ao invés de repousar — disse ele, referindo-se ao braço na tipóia, arrancando algumas risadas dos alunos. Muitos ali conheciam o extremo cuidado da medibruxa da escola. — Hoje teremos uma aula um pouco mais teórica, mas garanto que não menos interessante. Vamos falar um pouco sobre nossos conhecidos guardas ao redor do castelo, os dementadores.
Os gêmeos apoiaram a cabeça em suas mãos sobre a mesa. Já sabiam até demais sobre aquele assunto.
— ... é um espírito das trevas que se alimenta de emoções humanas, em geral as melhores que possuirmos. Eles sugam tudo de bom que podemos sentir e nos fazem reviver nossas piores lembranças, deixam apenas os piores sentimentos e pensamentos — prosseguiu Lupin. — Eles não conseguem identificar emoções de animais tão facilmente quanto as nossas, costumam ficar bastante confusos, e por isso não os afetam. É extremamente difícil, senão impossível, um dementador atacar um animal.
Canis franziu o cenho, começando a digerir e raciocinar aquela informação. Ele então passou as mãos pelo rosto, sentindo-se burro por nunca perceber e pensar naquela possibilidade.
Agora entendia como Sirius burlava os dementadores tão facilmente. Ele era um animago, então em sua forma animal não seria alvo de um dementador, do mesmo modo que não seria atacado por um lobisomem na lua cheia.
Ele olhou para o irmão, esperando que ele também tivesse percebido o mesmo.
Quando Therion encarou seu gêmeo, não precisou de muito para entender o que ele pensava. Não só pelo olhar, ou por ele próprio ter começado a pensar nisso, mas conseguia perceber isso. Somente… Sabia. Não era tão difícil ler seu irmão.
Talvez fosse coisa de gêmeos.
***
— Tá brincando, né? — Canis questionou, arqueando a sobrancelha enquanto encarava o pai.
— Não. Sem visitas a Hogsmeade até segunda ordem.
— Mas papai…
— O senhor não pode…
— Na verdade, posso sim. Visitas permitidas apenas sob autorização dos pais ou responsáveis, e eu não autorizo — Remus disse firme.
— Mas o senhor já assinou a autorização! — rebateu Therion.
— E como pai de vocês, posso desautorizar a vontade.
— Só por eu jogar uma azaração no Finnigan? Acabamos de cumprir uma detenção com ele por causa daquilo.
— Não é seguro que vocês e Harry saiam. Então, por favor, entendam. Podem fazer o que quiserem, mas não saiam de dentro do castelo.
Os gêmeos bateram o pé emburrados e frustrados, tentando fazer o pai mudar de ideia, mas Remus estava irresoluto quanto a isso. Ele não queria arriscar a segurança dos filhos após a invasão de Sirius.
Choramingaram, resmungaram, se esperniaram, mas nada adiantou. Eles deixaram a sala do pai pisando duro direto para a comunal e, nos dias que se seguiram, o ignoraram, fazendo birra de um jeito que apenas eles sabiam.
Therion até se prestou a emprestar sua varinha para o pai durante as aulas, mas nem por isso deixou de fazer birra junto do irmão.
Até mesmo quando chegou o jogo da Grifinória contra a Corvinal — em que Therion emprestou sua vassoura para Harry jogar — continuaram quando foram parabenizar Potter por ter capturado o pomo e ganhado a partida.
É claro que, com a lua cheia, na manhã seguinte a ela, eles esqueceram tudo para verificar como Remus estava. Ele ficou na ala hospitalar, pois Madame Pomfrey queria cuidar para que a transformação não tivesse prejudicado a recuperação da lesão em seu braço. Quando Lupin estava melhor, voltaram pra birra.
— Vão voltar a me ignorar? — perguntou ao ver os garotos seguindo para a porta de seu quarto de braços cruzados e com as caras emburradas de volta a seus rostos.
Os dois marcharam juntos para fora sem dizer nada, como se não estivessem enchendo o pai de cuidados e mimos minutos antes.
Remus revirou os olhos, pegando a foto dos Marotos que sempre deixava na mesa de cabeceira ao lado da cama.
— A quem será que eles me lembram? — murmurou sozinho, encarando fixamente na fotografia o garoto de cabelos grandes presos no alto e franja sobre o rosto com a gravata vermelha e dourada folgada no pescoço que abraçava a ele e a James pelos ombros.
Os olhos claros acinzentados brilhavam na imagem em movimento, e um grande sorriso iluminava o rosto do garoto; ele exalava a mesma energia alegre e contagiante dos gêmeos. Remus sorria fraco ao lado, o rosto marcado por cicatrizes recentes. E do seu outro lado estava Peter, sorrindo timidamente.
Com toda a agitação com a invasão e outra fuga de Sirius, tanto Remus quanto os garotos se esqueceram completamente de terem visto Pettigrew no Mapa do Maroto. Os garotos até chegaram a perguntar a Harry se havia visto algo na comunal dele, mas logo acabaram realmente deixando de lado e focando no pai.
Lupin tornou a pensar naquilo, enquanto lembrava da voz de Sirius falando próximo a ele, em francês.
Era um trecho de um de seus livros favoritos.
Enquanto Remus ficava pensativo em seu quarto, Canopus e Therion estavam em seu dormitório, ambos na cama do gêmeo mais velho, com o mapa, ainda emburrados. Resmungavam sobre o quanto o pai estava sendo severo demais e injusto em não deixá-los ir a Hogsmeade.
Eles voltaram a atenção para a estranha aparição de Peter Pettigrew no mapa depois, deixando Hogsmeade de lado, por enquanto.
— Ele está perto do Rony — notou Therion.
— Não pode ser nenhum outro Peter Pettigrew da Grifinória. Não tem como haver tanta coincidência — disse Canis. — Harry disse que não viu nada e nem ninguém parecido com ele pela foto que mostramos.
— Não é como se ele pudesse estar lá. Ele morreu!
— Eu sei. Precisamos entender isso.
Eles ficaram analisando o mapa com atenção, intrigados.
— Aqui parecem ser os dormitórios. Rony e Harry dividem com Simas, Dean e Neville.
— Se contar animais, o Perebas também — ressaltou Canopus.
— É, o Perebas — Therion concordou rindo.
Então o garoto cessou a risada arregalando os olhos. Xingou alto e puxou o mapa todo para si. Olhou para o nome Ronald Weasley bem ao lado de Peter Pettigrew.
— Não pode ser...
— O que foi? Sirius invadiu de novo? — perguntou Canis, entrando em estado de alerta e olhando para o mapa.
— Não! O Perebas tem um dedo faltando, não tem?
— Sim. Eu vi quando peguei ele ontem para ajudar Rony a dar a poção porque estava muito agitado e não conseguia dar sozinho.
— E tudo que sobrou do Peter foi um dedo.
Canopus começou a entender a linha de raciocínio do irmão.
— E a forma animaga do Wormtail era um rato.
— E Perebas viveu muito mais que um rato comum. Então…
— Porra! — o mais velho xingou, levando as mãos à boca, surpreso. — Isso seria loucura. — Riu alto, tentando raciocinar as chances de aquilo acontecer. Não chegou a ligar os pontos porque parecia impossível.
— Eu sei! Mas é uma possibilidade. E se ele sobreviveu e se transformou para Sirius não matá-lo de vez?
— Por que Tio Peter continuaria a viver como rato por 12 anos mesmo depois de Sirius ser preso?
— Medo?
— Medo de quê? Ele foi para Azkaban.
— E fugiu.
— Depois de anos, quando ninguém pensava ser capaz.
Therion suspirou e pulou na cama, sentando-se sobre os calcanhares e ficando de frente para o irmão gêmeo. Largou o mapa e juntou as mãos, organizando as ideias em sua mente.
— Pensa comigo… — disse calmamente. — E se, quando Sirius usou aquele feitiço que explodiu a rua e matou todos os trouxas por perto, Peter não morreu, apenas perdeu o dedo e ficou bastante ferido, e então se transformou em rato e fugiu com medo? Papai disse que ele sempre teve dificuldade em algumas magias e nunca tinha enfrentado Sirius antes, e agora sabendo que ele era aliado do Lorde das Trevas...
— Ele teria fugido porque sabia que não teria chances ferido e Sirius o mataria… Então seria melhor pensar que estivesse morto até que fosse pego.
— Exato!
— Mas por que continuar como um rato? Ele recebeu uma Ordem de Merlin, estaria protegido entre amigos e o Ministério…
— Só perguntando para ele pra saber.
— É uma teoria maluca. Possível, mas maluca — ponderou Canis — Vamos verificar isso de manhã bem cedo e depois contar para o papai.
— Vamos contar agora! — Therion disse entusiasmado. — Se for verdade, ele vai ficar feliz! Ele não é o único Maroto que restou.
— E dar falsas esperanças a ele? Pode tudo ser apenas coincidência e estarmos viajando demais e ter algo errado com o Mapa do Maroto. Se dissermos que Peter pode estar vivo e no fim ele não estar…
— Ele vai ficar mal… — O mais novo desanimou, mas então sorriu fraco. — Vamos ser confiantes. Se for isso, vamos tentar entender exatamente o que aconteceu.
— Você é otimista demais, irmãozinho.
— E você é muito pessimista.
— Sou realista, é diferente. Não sou tão impulsivo quanto você.
Therion bufou.
— Vamos resolver amanhã então.
— Enquanto isso, vou terminar minha tarefa de Aritmancia e o resumo que Binns pediu — disse Canis e tocou o mapa com a varinha — Malfeito feito.
Guardou o mapa embaixo do travesseiro e se levantou, pegando seus materiais. Saiu para a comunal, sendo seguido pelo irmão. Ao chegarem no salão, foi até a mesa próximo a janela, enquanto Therion ia até Merliah, que estava sentada no sofá com seu gato, desenhando.
Canis afastou um conjunto de livros e pergaminhos em frente a cadeira, colocando seus materiais no lugar e se sentando.
— Ei! São minhas coisas!
— Suas coisas iriam me atrapalhar, Dragãozinho. Volta pra sua tarefa, que eu ficarei aqui em paz com a minha — falou, abrindo o tinteiro. — Droga, acabou a tinta.
— Nem venha me pedir, que eu não irei dar — Draco disse impaciente, sentado na cadeira logo à frente, ajeitando seus materiais e voltando para sua própria tarefa.
— Eu não ia pedir, mas já que você está sendo tão gentil… — Black pegou sua pena e molhou a ponta no tinteiro de Malfoy.
— Compre a própria tinta!
— O seu tinteiro está cheio, para de reclamar.
Cada um se concentrou no próprio dever, até Adrien se aproximar para falar sobre os treinos de quadribol.
— Segunda-feira, às 4 horas, sem atrasos. E se ficarem mais preocupados em brigar do que treinar, os dois estarão fora do jogo com a Lufa-Lufa e eu vou arranjar outro apanhador e outro artilheiro.
— Vai mesmo dispensar seu melhor artilheiro, Adrien?
— Não vou perder para aqueles idiotas por causa de vocês dois.
— A culpa não é minha. Canopus que é um imbecil exibido que se acha a estrela do time — defendeu-se Malfoy.
— Porque eu sou, Dragãozinho — retrucou Canis com um sorriso convencido. — Já você… Até um cachorro consegue ser um apanhador melhor.
Draco fechou a cara e chutou Black por baixo da mesa.
— Ai! — resmungou e devolveu o chute. — Se você não sabe ouvir a verdade, não tenho culpa.
— Eu apanhei o pomo e ganhei o nosso último jogo, caso não se lembre.
— Nem teria visto o pomo se não fosse por mim!
— É sobre isso que estou falando. No campo, deixem essa raiva toda para os adversários — falou Adrien num tom severo. — Entendido?
— Sim — eles concordaram em uníssono, encarando-se com raiva expressa nos olhos.
***
Os gêmeos Black encararam paralisados Harry e Rony no pátio após o café da manhã no dia seguinte.
— O Bichento… O QUÊ?! — indagaram em uníssono.
— Ele devorou o Perebas! — choramingou Rony. — Pobre Perebas, teve um fim terrível.
— Rony, aquele rato já estava praticamente morto — disse Merliah.
— Tenha mais consideração pelo meu luto.
— Ela está certa, Ron — disse George, que estava junto de Fred tentando consolar o irmão mais novo. — Ele já estava velho e doente.
— Você mesmo dizia que ele não fazia mais nada além de dormir — disse Fred.
— Mas ele era uma ótima companhia.
— E precisava gritar com a Hermione por isso? Ela não tem culpa.
— Eu falei para ela deixar aquele gato maluco longe do meu quarto! Agora ele comeu o Perebas.
— Você tem certeza? — perguntou Therion. — Ele pode só estar passeando por aí.
— Meu lençol estava sujo de sangue e tinha pelos daquele gato! É óbvio que ele devorou o pobre Perebas, que devia estar dormindo — disse Rony exasperado. — Eu nem pude me despedir. Sobrou apenas alguns pelos dele.
Os irmãos Black se entreolharam, ainda surpresos e chocados com a trágica notícia. Agora não havia como conferir se Perebas realmente era Peter Pettigrew, e começaram a rezar para que não fosse.
Ser devorado por um gato não parecia um fim muito digno para alguém que sobreviveu tantos anos.
— Anime-se, maninho. Pense que ele está num lugar melhor agora — Fred tentou animar Rony.
— No estômago do Bichento.
— Por Merlin, Liah! — exclamou Harry, horrorizado com a fala da garota.
— Sua sensibilidade é comovente, Merliah — disse George, irônico.
— Faço o meu melhor.
— Está vendo? Ela é uma maluca insensível! — Rony disse olhando para o irmão mais velho, apontando para a sonserina.
— Eu sei! — George sorriu.
Mais tarde, ao pôr do sol, Therion e Canopus se reuniram na Torre de Astronomia. Eles recitaram o encantamento da animagia com as varinhas apontadas para o peito e se sentaram no chão.
Não falaram muito sobre suas suspeitas passadas de Peter Pettigrew ser o Perebas durante o dia, mas sabiam o que o outro pensava sobre isso.
— Por um momento, pensei que poderíamos trazê-lo de volta — confessou Therion. — Queria ver papai feliz por recuperar um de seus amigos.
— É melhor estarmos terrivelmente errados e que Perebas não tenha sido realmente o Wormtail, porque ter o fim que ele teve…
— É… é melhor que não seja ele. Mas nunca poderemos saber, não é? — Olhou para o céu, que possuía algumas nuvens e estava em tons mesclados de laranja, rosa e púrpura. — Não acha que deveríamos contar ao Harry sobre estarmos virando animagos e os Marotos terem sido também? Não gosto de esconder coisas dele. Ele só sabe sobre o Sirius.
— Se contarmos, vamos precisar dizer porque eles viraram animagos. Papai não gostaria que disséssemos que ele tem licantropia sem sua permissão.
— Eu sei… — O garoto abaixou o olhar, abraçando suas pernas junto ao corpo. — Mas não acho que Harry vá tratar ele diferente por isso.
— Também não acho, mas temos que respeitar o desejo do papai.
— Qual você acha que será sua forma animaga?
Canis deu de ombros, escorando-se a uma pilastra. Nunca havia parado para pensar exatamente naquilo, estava ocupado demais se preocupando em realizar todo o processo de animagia para focar em que animal ele seria.
Já Therion, pensou nas mais variadas possibilidades, todos os animais possíveis. Não poderiam escolher em que animal se transformar. Ele sabia que a forma animaga refletia o interior do bruxo, como um patrono. Sempre está ligado a personalidade e o que há de mais profundo, cada um com seu significado.
Pensou que, como o irmão sempre foi mais ligado a animais e criaturas mágicas, ele já teria pensado nisso também.
— Não me importo no que vai ser, mas espero que não seja um cachorro.
— Ser o mesmo animago que Sirius seria muito azar — concordou Therion rindo.
— E você?
— Já pensei em muitas coisas. Acho que sendo gêmeos, seremos iguais, não é?
— Talvez. Mas não acho que sejamos tão iguais por dentro quanto por fora — confessou Canis.
— Acho que o Chapéu Seletor concorda com isso. Ele te mandou para Sonserina bem mais rápido que eu.
— Você pode ser um empata-chapéu, mas se ele te mandasse pra Grifinória, eu faria picadinho daquele chapéu mofado.
— Eu pedi para ficar com você. Não sei se isso influenciou na decisão.
— Eu sei que você não vive sem mim, irmãozinho. — Canopus sorriu cínico, e Therion riu.
— Somos gêmeos. Sempre juntos para tudo. Até o fim, não é?
— Juntos até o fim. Não aguentaria ficar longe de você, minha cópia quase grifinória.
Therion chutou levemente o irmão gêmeo, os dois rindo logo em seguida.
— Também te amo, Regulus.
— Não me chame pelo meu nome do meio! — resmungou, mas não demorou a sorrir. — Também amo você, Alphard.
— Queria entender porque recebemos os nomes dessas estrelas especificamente. O meu nome significa estrela-guia solitária. É deprimente!
— Quando pegarem o Sirius, podemos perguntar antes de mandarem ele de volta para Azkaban.
— Dispenso. Quero distância dele. Quanto antes ele for pra Azkaban, ou beijado por um dementador, melhor. Assim, todo mundo nos deixa em paz.
Therion entendia o que o irmão queria dizer. Todos os odiavam por causa de Sirius. Sofriam constantes ataques, principalmente de outras Casas, por causa dele. Ninguém queria ficar perto dos filhos de um assassino.
Os dois voltaram sua atenção para as escadas ao ouvirem passos. Viram Harry chegar carregando a capa de invisibilidade, três travesseiros e cobertores. Um sorriso surgiu por entre os lábios do gêmeo mais novo quase instantaneamente.
— Sabia que estariam aqui — disse Potter, caminhando até eles.
— Oi, Harry — os gêmeos cumprimentaram juntos.
Ele largou tudo no chão e se jogou em cima, cansado.
— Sobre o quê conversavam?
— Nada importante — mentiu Canis tranquilamente. — Trouxe as coisas para passar a noite?
— Achei que seria uma boa ideia. Não vamos a Hogsmeade amanhã, então vamos pelo menos ter uma noite agradável.
— E quem disse que não vamos?
— Lupin disse claramente que nós três estamos terminantemente proibidos de sequer deixar o castelo.
— E desde quando seguimos ordens, Mini Prongs? — Therion sorriu travesso, jogando-se ao lado de Potter sobre os travesseiros e cobertores no chão.
Harry virou a cabeça para encará-lo e retribuiu o sorriso. Canis apenas observou o irmão e o amigo se olhando, revirando os olhos.
— E lá vou eu virar uma varinha conjurando Lumus — murmurou baixinho.
— Disse algo, Canis? — perguntou Harry.
— Falei que vamos a Hogsmeade amanhã — disse rapidamente, juntando-se a eles em seguida.
— Vamos fugir?
— É claro! Não seríamos Marotos se ficássemos aqui sem fazer nada e perdêssemos a chance de nos divertir.
— Lupin vai nos matar.
— Não vai ser a primeira vez que desobedecemos ao papai — Therry disse dando de ombros.
— Pelo menos vai ser divertido. Um pouquinho de adrenalina depois de dias cansativos e intensos.
— Okay, então — concordou Harry, sem pensar duas vezes. — Estão com o mapa?
Canopus assentiu, pegando o mapa no bolso. Harry o pegou e disse a frase de ativação, abrindo-o.
— Lupin é esperto, pode ser que vigie a passagem da bruxa de um olho só, para garantir que não vamos usá-la para fugir — ponderou ele, analisando as passagens secretas de Hogwarts. — Essa aqui perto das masmorras também leva a Hogsmeade. É a mais longa, mas também a menos provável de usarmos. Podemos ir por ela e usar a da bruxa de um olho só para voltarmos — sugeriu apontando no pergaminho.
— Está pensando cada vez mais como um Maroto — disse Therion.
— Sou filho do Prongs, não sou? — disse ele sorrindo orgulhoso.
— E nós os filhos do Moony, o melhor em arquitetar os planos e sair da encrenca. Então, se algo der errado, nós cuidamos de escapar — falou Canis.
— Ele arquitetava alguma travessura dos Marotos?
Os gêmeos gargalharam. Eles sabiam muito bem que o pai participava dos planos e tinha grandes ideias tanto quanto James Potter nas travessuras dos Marotos.
— Hazz, você nem imagina!
— Wormtail ainda está aparecendo no mapa — notou Canis, olhando para o pergaminho. — Agora está… na plantação de abóboras do Hagrid?
— Querem verificar antes do jantar? — sugeriu Harry. — Depois nós voltamos.
— E é hora dos Novos Marotos resolverem o mistério de Peter Pettigrew — disse Therion, levantando-se animado.
***
Eles não resolveram o mistério.
Não avistaram nada na plantação de abóboras de Hagrid, nem mesmo um possível rato, que os gêmeos ficaram um pouco esperançosos de ver ali. Acabaram decidindo continuar depois.
No dia seguinte, pela manhã, eles viram Remus enquanto jogavam uma partida de snap explosivo no pátio, fingindo que já haviam se conformado em ficar ali no castelo.
— Se quiserem, podem vir a minha sala mais tarde.
— Tudo bem. Mas acho que vou fazer as tarefas pendentes pela tarde — mentiu Canopus, sem nenhum peso na consciência.
— Se precisar de ajuda, é só me procurar.
— Therry vai me ajudar com Poções mais tarde — falou Harry, olhando para as cartas em sua mão.
Remus encarou-os um tanto desconfiado, mas logo suspirou e os deixou jogando.
Depois do almoço, os três trocaram de roupa, pegaram a capa de invisibilidade e o Mapa do Maroto e partiram para Hogsmeade pela passagem sugerida por Harry.
Quando chegaram ao vilarejo bruxo depois de uma demorada caminhada pelo túnel, eles sorriram e se entreolharam, antes de correr para a Dedos de Mel. Potter havia levado uma bolsa com uma quantidade generosa de galeões e comprou doces para todos eles.
Saíram da loja lotados de guloseimas, que comeram enquanto caminhavam por entre as ruas.
— Corrida até a Zonko's? — disse Canis com um sorriso desafiador.
Os outros dois aceitaram sem pestanejar, e logo estavam os três garotos correndo pelo vilarejo.
Enquanto isso, em Hogwarts, Remus estava em sua sala bebendo uma grande xícara de chocolate quente enquanto lia um livro, sem sequer imaginar onde os filhos estavam.
As horas passaram voando. Em dado momento, Remus se pegou pensando mais uma vez em Sirius e na frase que ele disse.
— Si vous venez, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, à partir de trois heures, je commencerai à être heureux… — recitou baixo, olhando para o seu relógio.
Sirius sabia que sua família possuía ascendência francesa, e que seus pais haviam lhe ensinado a falar francês durante todos os anos que passou trancado dentro de casa. Fora Black quem lhe deu uma edição original em francês do livro de onde viera a frase de presente de aniversário.
Gostava daquele trecho, mas não tanto quanto Sirius, que já lhe recitou aquilo antes, principalmente em seus momentos mais tristes por causa da lua cheia, quando se pegava pensando que não merecia o carinho dos amigos.
Enquanto Lupin ia até a prateleira guardar o livro que lia, repetiu aquele trecho em sua mente. Ao depositá-lo ali, pegou o livro em questão e observou o título na capa: Le Petit Prince.
— Se vier me encontrar, por exemplo, às quatro horas da tarde, então, desde às três estarei feliz — disse para si mesmo a tradução.
Sirius havia dito aquilo pela primeira vez no dia que combinaram de, naquele exato horário descrito, se encontrarem no campo de quadribol depois que ele saísse da detenção. Remus estava bastante cabisbaixo naquele dia e aquilo realmente o animou.
Sentiu uma grande dor subir desde seu peito até sua garganta e guardou o livro novamente com rapidez. Respirou fundo, tentando afastar de sua cabeça todos os pensamentos nostálgicos sobre Sirius.
Não podia pensar nele. Não podia deixar todo aquele sentimento que ainda guardava dentro de si transparecer.
Fechou os olhos com força, levando as mãos aos cabelos enquanto seguia para seu quarto e se jogava em sua cama, enterrando o rosto no travesseiro.
Esperava que seus filhos ao menos estivessem melhor que ele no momento. Nos últimos meses tudo o que ele tentou fazer foi que a situação os afetasse o menos possível. Não teve tanta sorte quanto gostaria, mas o importante é que estavam seguros.
Suas estrelas estavam bem e seguras.
***
Therion, Canopus e Harry corriam atrás de Rony e Liah cuspindo fogo após comerem diabinhos de pimenta. Os cinco riam, divertindo-se naquele pega-pega.
— Três contra dois é muito injusto! — disse Rony ofegante, quando enfim pararam.
— O mundo não é justo — disse Liah.
— Está ficando tarde. Daqui a pouco os dementadores vão começar a fazer uma revista no vilarejo — disse Therion, olhando a hora no relógio no pulso de Harry.
— Eu não quero dar de cara com aquelas coisas. Melhor irmos, Rony.
— Muito menos eu. Vocês vão conseguir chegar sem serem pegos?
— É claro que vamos. Nos vemos no castelo — disse Canopus.
— Até lá, então.
— Vamos depressa antes que aquelas coisas cheguem — Liah disse empurrando Rony para apressá-lo.
— Já estou indo!
Os dois seguiram pela rua discutindo, enquanto os três que restaram se entreolharam. Sorriram e permaneceram onde estavam para se recuperar do cansaço antes de partirem de volta para Hogwarts.
Havia sido uma tarde bastante divertida, principalmente depois que encontraram seus amigos na Zonko's. Passearam por todo o vilarejo, foram a todas as lojas e brincaram bastante pelas ruas com o que compraram. Não encontraram nenhum professor pelo caminho, para a sorte deles.
Estavam prontos para repetir a dose quando possível, sem nem um pingo de arrependimento por terem fugido. Eles mereciam um pouco de diversão.
— Vamos indo? — chamou Canis, olhando ao redor. Tinha a estranha sensação de estar sendo observado e decidiu sair logo dali.
— Espero que Lupin não tenha descoberto sobre nossa pequena aventura — disse Harry, limpando o suor do rosto com a manga de sua blusa.
— Se ele acreditar que ficamos na comunal estudando, está tudo certo. Ele não pode entrar na Sonserina, então não pode saber que não estamos lá — tranquilizou Therion. — Vamos esperar apenas que ele não nos pegue voltando cheios de doces da Dedos de Mel e brinquedos da Zonko's.
— Se pegar, dissemos que Liah trouxe tudo pra gente e estávamos apenas levando para nossas comunais — Canis falou.
— Você mente para o seu pai com uma facilidade impressionante.
— Ainda bem que ele não é legilimente — riu o garoto. — Não mentimos tanto, só quando não queremos nos meter em encrenca.
— Geralmente ele descobre tudo do mesmo jeito.
— O que é um legilimente? — perguntou Harry confuso, enquanto os três se cobriam com a capa e começavam a caminhar.
— Uma pessoa que lê mentes — respondeu Therion. — Geralmente é hereditário, mas a legilimencia não se manifesta em todos da família, não é comum já nascer com essa habilidade ou uma grande aptidão para desenvolvê-la.
— Parece legal.
— Depende do ponto de vista… Eu não gostaria de ouvir um monte de gente falando na minha cabeça.
— Está esfriando de repente — Canopus disse repentinamente. Ele conhecia a sensação. — Tem dementadores por perto.
— Tivemos um ótimo treinamento para nos defender deles.
— Me desculpe, Harry, mas não estou afim de experimentar com um dementador de verdade sem conseguir conjurar um patrono decente. Precisamos nos apressar.
Eles apressaram o passo, mas já era tarde demais. E para a infelicidade deles, os dementadores não se deixavam enganar por capas de invisibilidade.
Quando o frio aumentou e viram a figura escura se aproximar, Therion instintivamente segurou-se em Harry, agarrando seu braço. Os três começaram a caminhar para trás devagar, fugindo do dementador que se aproximava, mas vinha outro por trás.
Eles pegaram suas varinhas e saíram de debaixo da capa.
— Expecto Patronum! — disseram juntos, mas nada aconteceu.
— Expecto Patronum! Expecto Patronum! — Canis tentou insistentemente, mas apenas faíscas prateadas deixaram sua varinha.
Ele tentou resgatar a memória mais feliz que tivesse. Todas que conseguia pensar eram obviamente com o pai e o irmão, mas nada parecia ser suficiente.
Eles tentaram fugir numa ação de desespero, mas outro dementador se juntou aqueles dois. Harry conseguiu conjurar apenas um escudo fraco, um resquício de patrono não-corpóreo que afastou um dos dementadores apenas.
— E-expecto… Patronum… — Therion disse com a voz falha, sentindo-se fraco. Toda sua felicidade parecia estar sendo sugada de si, deixando apenas o pior que havia em sua cabeça.
— Therry! — exclamou Harry. Apertando a varinha, preocupado e frustrado, tentou mais uma vez: — Expecto Patronum!
Infelizmente, os três logo estavam tendo sua energia sugada pelos dementadores. Diferente da vez no trem, os gêmeos ouviram coisas distintas em sua cabeça.
Canopus ouvia a voz do pai. Ouvia ele chorar e gritar, com seu irmão também berrando mais distante. Uma lembrança tão antiga e triste da mente de um bebê de pouco mais de um ano e meio de idade.
“M-ME DIZ QUE É MENTIRA, POR FAVOR! UM ENGANO!” o grito de Remus ecoava na mente do garoto, a voz claramente falha junto a soluços. “Ele… Ele não faria isso... NÃO É VERDADE!”
Ouvir a voz tão dolorida do pai era como uma facada para ele. Um grito alto e extremamente doloroso e angustiante ecoou por sua cabeça, deixando-o cada vez mais triste e abalado.
Therion não conseguia distinguir nada do que ouvia. Em sua mente ecoavam várias vozes diferentes, e ele não conseguia identificar nenhuma. Sua cabeça começou a doer. Uma enorme angústia e tristeza assolou seu peito, e ele não resistiu muito tempo consciente.
Tudo que ele conseguiu identificar dentre a confusão de vozes em sua cabeça foi uma desconhecida voz feminina dizendo:
"Mamãe ama vocês, está bem? Se algo acontecer… Papai e Tio Moony vão cuidar bem de vocês"
— EXPECTO PATRONUM! — alguém gritou.
Então Harry, Therion e Canopus desmaiaram, ouvindo o som de latidos.
Potter foi o primeiro a acordar, completamente confuso e desnorteado. Ele piscou algumas vezes, enquanto se sentava com dificuldade e ajeitava os óculos em seu rosto.
Ao se lembrar do que havia acontecido, olhou para a direita e viu o garoto desacordado. Aproximou-se preocupado, ainda um pouco tonto.
— ... Acorda… Hey! — tentou despertá-lo.
Partiu para o outro gêmeo, à sua esquerda. Ao analisá-lo, não demorou muito para identificar que era Therion.
— Therry, acorda! Therry, por favor… — chamou num tom extremamente preocupado.
Levantou-se com certa dificuldade, olhando ao seu redor. Não havia mais dementadores por perto.
Ainda estava um pouco desnorteado por causa do ataque dos dementadores, não conseguia raciocinar muito bem. Foi quando ele ouviu latidos e ao ver o enorme cão negro correndo em sua direção, caiu para trás.
Reconheceu-o imediatamente. Agarrou sua varinha no chão, uma raiva sem precedentes começando a crescer dentro de si, mas então ele ouviu algo a mais.
— Ele foi por ali. Tenho quase certeza que foi de onde vimos o patrono. — Era a Profª. McGonagall.
Harry engoliu em seco. Quando percebeu, o cão já havia sumido. Sem pensar muito, ele se cobriu com a capa de invisibilidade, no mesmo instante em que sua professora entrou no campo de visão junto de Hagrid e Madame Rosmerta, a dona do Três Vassouras.
— Oh, Merlin! São os irmãos Black — disse Hagrid.
— Lupin havia me dito que não permitiria que viessem. Ah, esses meninos… — Minerva falou, aproximando-se dos gêmeos.
— Com certeza foram aqueles malditos dementadores, pobrezinhos — lamentou Rosmerta.
— Vamos levá-los imediatamente. Hagrid, por favor, ajude-me.
Harry mordeu seu lábio com força para não dizer nada, direcionando seu olhar preocupado aos amigos
***
Lupin corria em direção a ala hospitalar a toda velocidade após conversar com Minerva e ela contar todo o ocorrido.
Não sabia se ficava mais preocupado por terem visto um cão preto perto dos filhos ou por terem sido atacados por dementadores, ou então se ficava furioso por eles terem desobedecido suas ordens e ido a Hogsmeade.
Talvez sentisse tudo de uma vez.
Enquanto seguia o caminho, entretanto, precisou parar ao avistar Harry e Snape no corredor. O professor de Poções segurava um certo pergaminho que Lupin conhecia muito bem.
— Está tudo bem por aqui? — perguntou.
— Ah, Lupin! Estava mesmo pensando em chamá-lo.
Harry desviou o olhar ao ter os olhos de Remus sobre si, tão sérios como estavam naquele momento.
— E então?
— Eu encontrei Potter com esse estranho artefato.
Remus pegou o Mapa do Maroto. Não estava ativado mostrando Hogwarts, e sim seu pequeno mecanismo de defesa contra quem tentasse lê-lo. Quase riu ao ver o que havia escrito.
O Sr. Moony apresenta seus cumprimentos ao Prof. Snape e pede que ele não meta seu nariz anormalmente grande no que não é de sua conta.
O Sr. Prongs concorda com o Sr. Moony e gostaria de acrescentar que o Prof. Snape é um safado mal acabado.
O Sr. Padfoot gostaria de deixar registrado o seu espanto de que um idiota desse calibre tenha chegado a professor.
O Sr. Wormtail deseja ao Prof. Snape um bom dia e aconselha a esse seboso que lave os cabelos.
Por Merlin! Aquele mapa ainda funcionava perfeitamente bem.
Ver aquelas mensagens trouxe uma certa nostalgia a Lupin, mas não era o momento para isso. Havia coisas mais importantes para se concentrar no momento.
— Este pergaminho obviamente está repleto de magia das trevas. Pelo visto essa é a sua especialidade, Lupin. Onde você acha que Potter arranjou uma coisa dessas?
Lupin ergueu a cabeça e olhou para Harry, sabendo perfeitamente que seus filhos devem ter deixado com ele. Pediu através de um simples olhar severo para que o garoto ficasse de boca fechada, e ele não precisou pensar muito para entender.
— Magia das trevas? — riu ele. — Parece apenas um mero pedaço de pergaminho que insulta quem o lê. Infantil, mas com certeza nada perigoso. Imagino que Harry o tenha comprado numa loja de logros e brincadeiras…
— O que diria que Potter deixou esse castelo para comprá-lo, coisa que ele está terminantemente proibido — Snape declarou, parecendo bastante satisfeito por isso significar que Harry ainda assim estaria encrencado.
— Não se preocupe que eu cuidarei disso, e Harry receberá a devida punição caso tenha realmente deixado o castelo.
— Eu não duvidaria, Lupin. Ele despreza as regras e é tão arrogante quanto o pai — disse olhando para Harry com desprezo, e então de volta para Remus. —, assim como aqueles seus "filhos", que eu soube que acabaram de chegar à ala hospitalar. Tão insolentes e irresponsáveis quanto o pai verdadeiro.
— O pai "verdadeiro" sou eu, Severus, porque EU os criei — Remus retrucou rispidamente. Não gostava quando diminuíam seu valor como pai daqueles garotos. — Não nego que sejam irresponsáveis, mas sobre o comportamento deles, eu cuidarei disso, como você já me pediu pacientemente para fazer tantas vezes.
Lupin guardou o mapa em seu bolso e tocou o ombro de Harry.
— Agora, como você bem disse, meus filhos estão na ala hospitalar precisando de mim. E ainda cuidarei do caso de Harry. Então, tenha uma boa noite, Severus — falou. — Venha, Harry.
Remus saiu caminhando, trazendo Potter consigo. Apressou o passo, uma expressão severa posta em seu rosto, enquanto Harry olhava-o receoso.
— Você fugiu com eles? Usou sua capa de invisibilidade para voltar sem ser visto?
— Sim.
— E também foi atacado pelo dementador?
— Eu acordei primeiro e me escondi com a capa quando McGonagall chegou. Snape me pegou quando voltei.
— Imaginei que tivesse sido isso.
— Desculpa, Prof. Lupin, nós…
— Sem desculpas agora, Harry. Depois conversaremos sobre essa atitude extremamente irresponsável e arriscada de vocês três — Lupin interrompeu-o severamente. — Espero que esse ocorrido tenha deixado bastante claro para você o quanto isso foi imprudente e poderia ter acabado muito pior.
Harry abaixou o olhar e encolheu os ombros, sentindo-se terrivelmente culpado por tudo que aconteceu. Deveria ter pensado melhor antes de deixarem seguir com a ideia, ou ter se esforçado mais para conjurar um patrono para defendê-los.
Nunca havia visto Remus tão sério como naquele momento, e isso dizia que eles estavam realmente MUITO encrencados e que ele não estava blefando para Snape quando disse que seria punido por sair do castelo. Já estava à espera de mais uma nova detenção na sua ficha.
— Eles vão ficar bem? — perguntou.
— Depende bastante do ponto de vista. De saúde? Sim. Mas não pegarei leve com vocês por isso, assim que eles estiverem recuperados.
Remus encontrou na ala hospitalar como um furacão, abrindo a porta brutalmente. Ao ver os filhos deitados nas camas, seu rosto suavizou e assumiu uma expressão mais preocupada.
Canis estava desperto, comendo uma enorme barra de chocolate. Ao lado, Therion ainda se encontrava tonto e confuso, com ambas as mãos na cabeça e as pernas flexionadas.
— Coma, querido. Vai fazer você se sentir melhor — Madame Pomfrey disse calmamente, entregando um chocolate para o menino.
Ele olhou de repente para o pai e Harry. Sentiu como Potter parecia estar chateado e Remus parecia tanto bravo quanto preocupado. Os efeitos dos dementadores ainda não haviam passado completamente, e tudo fez sua cabeça voltar a doer. Parecia que ainda podia ouvir as milhares de vozes falando na sua mente junto ao que talvez fosse a última memória que possuía de sua mãe.
Enfim aceitou o chocolate e as coisas se acalmaram em sua cabeça, à medida que o efeito do ataque passava.
— Vocês querem me matar de preocupação?! — Remus questionou exasperado, aproximando-se de Canis para verificar como ele estava. — Por Merlin!
— Estou vivo, não estou? — respondeu Canopus, comendo seu chocolate tranquilamente.
— Por muito pouco!
Apesar de estar furioso, era impossível não deixar a preocupação tomar conta. Lupin abraçou o garoto, fazendo um leve carinho nos cabelos escuros enquanto analisava seus estado.
— Já é a hora de pedir desculpas e o senhor fingir que isso nunca aconteceu? — disse o garoto, abraçando o pai de volta.
Remus lançou-lhe um olhar severo.
— Você está bem? — Harry perguntou olhando para Therion e se aproximando mais dele.
— Obrigado pela preocupação com minha pessoa, Prongs Falsificado. Você é um ótimo amigo! — Canis disse sarcasticamente, olhando para o irmão e o amigo.
— A pergunta vale para os dois! — Harry apressou-se em dizer.
— Vamos fingir que acreditamos, não é papai?
— Vejo que você parece estar muito bem, Canis — Remus disse afastando-se do garoto e seguindo até o outro, passando o braço por seus ombros, abraçando-o de lado, enquanto levava a outra mão, já recuperada, até os fios negros. — E você, Therry?
— Estou bem, papai — respondeu num tom mais desanimado, devorando o chocolate dado pela medibruxa.
— O mocinho acabou de acordar e se queixar de dor de cabeça, então é melhor deixá-lo descansar — disse Pomfrey.
— Por favor, não me dêem outro susto desses!
— Desculpa — os gêmeos disseram juntos.
— Madame Pomfrey, acho que Harry também vai precisar de chocolate.
— Ele fugiu também?!
— Eu já comi os que compramos na Dedos de…
Madame Pomfrey puxou Harry até outra cama sem deixar ele terminar de falar, resmungando sobre como eles gostavam de se colocar em perigo.
Os gêmeos riram. Therion voltou a se deitar, enquanto o irmão permanecia sentado na cama ao lado.
— Papai… — Canis chamou um tanto manhoso, esticando os braços. Lupin foi até ele, sendo abraçado e recebendo o olhar fixo daqueles olhos brilhantes. — Não fizemos por mal.
— Vamos conversar sobre isso depois. Descanse — respondeu, deslizando sua mão pelas costas do garoto e beijando o topo de sua cabeça.
— Estamos muito encrencados?
— Ah, vocês estão...
Lupin não estava exagerando.
Ele deixou os garotos descansarem e se recuperarem do ataque dos dementadores, pois a saúde deles ainda era mais importante, não importa o quão aquilo tivesse o deixado bravo. A preocupação ainda superava a irritação ao vê-los ali na ala hospitalar.
Porém, no dia seguinte, os três estavam em sua sala, prontos para receber uma bronca daquelas. Os garotos estavam parados de pé, vestidos com seus uniformes, os gêmeos com as capas penduradas nos braços.
Remus estava à frente deles, com os braços cruzados, o Mapa do Maroto em sua mão e uma expressão séria no rosto.
— O que eu disse a vocês três sobre ir a Hogsmeade?
— Não era seguro e eu nem autorização tinha — Harry quem respondeu, com o olhar caído aos seus pés.
— Agora era perigoso demais eu e Canis sairmos do castelo por causa de Sirius — disse Therion.
— E vocês saíram mesmo assim. Os dementadores não distinguem se você é quem eles estão caçando ou não, vão apenas atacar, e sabem muito bem disso. Poderia ter acabado muito pior.
— Não queria ficar preso aqui! — exclamou Canopus. — Só fomos nos divertir um pouco.
— Vocês foram muito irresponsáveis!
— Estava tudo bem até os dementadores chegarem!
— Não estava! Sirius estava lá, Canopus! — vociferou Remus, elevando o tom de voz. — Ninguém sabe porque ele estava na forma animaga, mas o viram indo até vocês. Têm ideia do risco que correram?
Os garotos se calaram.
— Isso aqui, podia ter caído nas mãos dele ontem — continuou Lupin, erguendo o mapa. — Sabem que isso é um caminho direto até vocês, não sabem? Vocês poderiam estar mortos!
— Mas está tudo bem, pai — Canis disse.
— Eu falei que era perigoso saírem e até mesmo confiei em deixar vocês com o mapa e olhem o que aconteceu! Se Sirius tivesse pego vocês ou o mapa ontem…
Remus trincou o maxilar, tomado pela raiva crescente. Não conseguia acreditar no quanto aqueles garotos se arriscaram.
Therion comprimiu os lábios, sentindo-se mal ao perceber como o pai estava chateado e irritado. Nunca o havia visto com um olhar tão severo.
— Seus pais deram a vida deles para que vocês continuassem vivos, e se arriscar dessa maneira não é uma boa forma de agradecer! — esbravejou Lupin. Ele focou seu olhar nos gêmeos. — Eu prometi à mãe de vocês que os manteria seguros e faço o melhor para isso, mas gostaria muito que também me ajudassem nisso e não fossem tão imprudentes!
Os três se abalaram com a fala de Remus. Harry havia mais uma vez ouvido seus pais antes de morrer quando foi atacado pelo dementador. Therion desviou o olhar, lembrando do que ele próprio ouviu no dia anterior, o que dominou seus sonhos a noite inteira.
— Vocês realmente não pensam nas consequências do que fazem! Por Merlin, parecem até… — Lupin se deteve antes que terminasse de falar.
Mas eles sabiam o que diria. Enquanto Harry evitava encarar o professor, os gêmeos fecharam a cara, irritados.
Remus havia acabado de tocar num ponto sensível.
— James e Sirius? É isso que ia dizer? — indagou Therion, rispidamente.
— Therion…
— Pode falar o que quiser de nós, papai — Canis elevou a voz para o pai, sendo consumido pela raiva. — Que fomos irresponsáveis, imprudentes, que nos arriscamos demais, MAS NÃO ME COMPARE AO SIRIUS!
— ENTÃO NÃO AJA COMO ELE E PENSE MELHOR NAS CONSEQUÊNCIAS DO QUE FAZ! — Remus gritou de volta, sem pensar. Ele raramente levantava tanto a voz para os filhos.
— Diferente dele, nós nunca usaríamos da fraqueza de um amigo para atacar outra pessoa e colocar seu maior segredo em risco — rebateu Therion, também elevando a voz. — nem trairia nossos amigos. NÓS NÃO SOMOS COMO ELE, E O SENHOR JÁ DEVERIA SABER MUITO BEM DISSO E COMO NÃO GOSTAMOS QUANDO NOS COMPARAM A ELE!
— EU NÃO QUIS DIZER…
— QUIS SIM! — o garoto interrompeu o pai antes que ele falasse. Ele sabia. Remus tinha plena intenção de dizer aquilo. — EU SEI!
— MUITO BOM SABER O QUE O SENHOR PENSA DE NÓS, PAI. ACHA QUE NÓS QUEREMOS LEVAR O HARRY DE BANDEJA PRO SIRIUS, TAMBÉM?
— CLARO QUE NÃO, CANIS!
— NUNCA SE SABE, É O QUE TODOS PENSAM, NÃO É MESMO? — berrou furioso.
— OS FILHOS DE SIRIUS BLACK! SOMOS IGUAIS A ELE E QUEREMOS AJUDÁ-LO A MATAR NOSSO MELHOR AMIGO.
— EU NÃO ESTAVA DIZENDO ISSO!
— Ah, papai! Não estava dizendo agora mesmo, QUE SOMOS IGUAIS A ELE?
— Não fale nesse tom comigo, Canopus.
— EU FALO COMO BEM ENTENDER!
O garoto se virou e saiu batendo o pé.
— Canopus, volte já aqui!
Ele não lhe deu ouvidos e foi embora pisando duro.
Remus respirou fundo, passando as mãos por seu rosto, tentando acalmar os nervos. Ele nunca havia brigado daquela maneira com os filhos.
Olhou na direção de Therion, observando Harry se aproximar dele. O Black havia levado as mãos à cabeça como fazia no dia anterior quando ele chegou a ala hospitalar para vê-lo.
Toda a tensão na sala, a irritação dentro de si, a raiva que emanava do próprio pai e do irmão, somado à péssima noite que teve, estava fazendo sua cabeça explodir.
— Therion — Remus chamou num tom mais calmo.
— Já pode dizer logo qual será nosso castigo.
— Vem aqui.
— Só fala logo.
— Therion Regulus Black, eu estou chamando.
Ele suspirou e se aproximou do pai. Remus tirou suas mãos da cabeça, segurando-a entre as próprias e o encarando.
— Eu não queria gritar com vocês, okay? — disse. — Mas precisam entender que o que fizeram não foi certo. Eu mandei ficarem aqui para o bem de vocês.
Therion encarou os olhos castanhos-esverdeados do pai, sentindo toda a confusão e dor em sua cabeça se dissipando aos poucos. Ele estava dizendo a verdade.
— Não é justo não podermos nem nos divertir por culpa dele!
— Eu sei que não. Mas isso é para a segurança de vocês — assegurou e olhou para Harry. — De vocês três.
— Desculpa mesmo, Lupin. Nós só queríamos sair também, não imaginamos que os dementadores viriam e nem que Sirius poderia nos seguir até lá.
— E eu realmente entendo, Harry. Mais do que você imagina. Mas também precisam entender que agora não é o melhor momento para agir assim. É para o bem de vocês. — Voltou a olhar para o rosto do filho. — Entende, Therry?
— Sim…
Remus sorriu fraco e beijou a testa do garoto, abraçando-o em seguida. Esperava conseguir conversar melhor com Canis e que ele também entendesse.
Depois que se afastou do filho, apontou para o Mapa do Maroto.
— Eu vou ficar com o mapa de agora em diante.
— Mas…
— Sem "mas", Therion. Sem Mapa do Maroto, e os três irão ficar de detenção até a páscoa.
— ATÉ A PÁSCOA?! — Harry e Therion gritaram juntos, surpresos.
— Indicações da nossa querida Vice-diretora. Agradeçam que será comigo e com ela, e não com Snape.
— É, seria bem pior — Harry concordou, fazendo uma careta.
— Podem ir. Depois conversarei com Canis, vou esperar ele se acalmar.
— Espere sentado, papai. Ele não vai se acalmar tão cedo — disse Therion. — E se nos comparar com o Sirius de novo, não vamos mais falar com o senhor até o fim das férias de verão.
— Não farei isso.
Então Therion e Harry deixaram a sala juntos, deixando Lupin sozinho.
— Você está bem? — Potter perguntou.
— Estou. Me sinto melhor agora. — Black sorriu fraco.
Na sala de Remus, ele recostou-se em uma cadeira, suspirando pesadamente. Foram muitas emoções naquela manhã.
Ele olhou para o mapa em suas mãos.
— Eu juro solenemente não fazer nada de bom — disse, e o mapa começou a desenhar toda Hogwarts e aparecer as pessoas pelo castelo.
Procurou por Canis e o viu a caminho das masmorras, de volta para a comunal da Sonserina. Correu os olhos pelo resto do mapa e parou na área da cabana de Hagrid.
Via ali o nome do falecido amigo, Peter Pettigrew.
— Por que você está aqui, Wormtail? — indagou-se.
Ele não poderia estar realmente ali, vivo. E se estivesse: por que não teria buscado sua ajuda 12 anos antes?
Remus tornou a suspirar, largando o mapa sobre a mesa e enterrando o rosto em suas mãos. Eram muitas coisas para se pensar ao mesmo tempo.
Ele com certeza acabaria ficando maluco até o fim do ano letivo.
————————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
As coisas estão esquentando bastante por aqui hihi
Preparados para o que está por vir?
Me doeu escrever o Remus brigando com os nenéns dele 🥺
Mas foi preciso. Remmy também não é um poço de paciência rsrsrs
Era para acontecer mais coisas aqui, mas decidi deixar para o próximo porque já tava ficando grande demais.
Estamos oficialmente prestes a entrar na reta final do terceiro ano em Hogwarts. Ansiosos?
Espero que tenham gostado do capítulo! Não esqueçam de comentar bastante e deixar seu voto!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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