XV. Your stars
Os alunos da Grifinória encontravam-se alvoroçados e assustados. O retrato da Mulher Gorda, que guardava a entrada da torre onde ficava a sala comunal e os dormitórios, havia sido estilhaçado por Sirius Black, depois que ela não permitiu que ele entrasse sem senha.
O Salão Principal havia sido limpo rapidamente da bagunça do jantar e agora abrigava os alunos. Harry olhava apreensivo para a entrada, temendo mais pela segurança de Therion e Canopus do que o perigo que diziam que ele estava correndo estando na mira do assassino. Ele e os outros grifinórios se perguntavam como ele havia conseguido passar pelos dementadores e entrar no castelo.
Os alunos de outras casas começaram a adentrar o salão, e Potter rapidamente correu os olhos entre eles à procura dos gêmeos Black.
— Therry, Canis! — chamou ao avistá-los, e os três correram de encontro um ao outro. Os Black estavam de mãos dadas e não soltaram em nenhum momento, parando em frente a Harry. — Vocês estão bem?
— Estamos. O que aconteceu? — perguntou Canopus.
— Snape mandou todos da Sonserina virem para cá. Disseram que Sirius estava aqui! — Therion disse, claramente assustado.
Os olhos dos irmãos transbordavam desespero. Esperavam que estivessem seguros em Hogwarts e que Sirius não chegaria até eles, mas aparentemente foram muito ingênuos em pensar que alguém que escapou de Azkaban não pudesse encontrá-los ali.
Tudo o que queriam entender era o que realmente estava acontecendo e ver Remus, saber se ele estava bem. O que mais temiam era que Sirius acabasse dando a ele o mesmo fim que deu a seus outros dois amigos. Já havia matado dois marotos, mais um não seria nada para ele.
— Ele tentou invadir a Torre da Grifinória. Mas a Mulher Gorda não o deixou entrar sem senha, então ele… — dizia Harry.
— Ele fez picadinho do quadro! — Rony aproximou-se deles junto de Hermione e Merliah.
— Eu não acredito que ele conseguiu entrar! — disse Therion.
— Precisamos ver o papai! Sirius pode fazer alguma coisa com ele! — Canis falou exasperado.
Dois professores fecharam as portas do salão, ganhando a atenção dos alunos atordoados. Dumbledore olhou para todos eles.
— Os professores e eu faremos uma busca por todo o castelo — anunciou o diretor — Para sua segurança, todos passarão a noite aqui. Quero que os monitores montem guarda em todas as saídas e os monitor e monitora-chefe se encarreguem disso. Qualquer perturbação devem me informar imediatamente.
Com um gesto de varinha de Dumbledore, todas as mesas se arrastaram sozinhas para o canto mais afastado do salão e centenas de sacos de dormir surgiram no chão.
— Tenham uma boa noite. — Desejou e deixou o salão junto dos professores.
Os monitores começaram a mandar todos para os sacos de dormir, mas alguns preferiram despejar suas frustrações pelo ocorridos nos únicos alvos possíveis ali: os filhos do invasor.
Vários olhares enraivecidos e acusadores voltaram-se para os gêmeos de alunos de todas as casas. Alguns aproximaram-se deles, e eles os encararam de volta prontos para mais uma chuva de ataques. Não era mais novidade para eles.
— Vocês deixaram ele entrar! — urrou um garoto da Corvinal.
— A entrada do nosso dormitório foi destruída por culpa de vocês dois! — bradou outro, da Grifinória.
— Não fomos nós que deixamos ele entrar — retrucou Therion.
— Como mais ele poderia estar aqui?
— Vocês tentaram nos distrair no salão enquanto seu pai invadia a escola!
— NÃO FIZEMOS NADA! — eles gritaram juntos.
— Eu estive com eles o tempo todo. Eles não fizeram nada! — Harry entrou em defesa deles.
— Vai mesmo defender eles, Harry? — perguntou Katie Bell, uma menina de sua casa.
— Eles não fizeram nada!
— Acredita mesmo nisso? — perguntou Ernest MacMillan, um menino da Lufa-lufa.
Um novo alvoroço se iniciou, agora com diversos ataques e acusações sobre Therion e Canopus. Seus amigos tentaram defendê-los, mas muitos parecem estar decididos de que eles haviam permitido que Sirius entrasse no castelo.
Os gêmeos levaram as mãos aos ouvidos, cansados de todos os gritos acusando-lhes de algo que não fizeram.
— CALEM A BOCA! — gritaram com todas as suas forças.
Os olhares acusadores, os comentários. Não se falava em outra coisa que não fosse a invasão de Sirius Black, a forma que ele destruiu a entrada da Torre da Grifinória e como ele poderia ter entrado.
Os grifinórios estavam tão assustados quanto irritados. A irritação, na verdade, vinha do medo pelo perigo iminente, o qual podiam descontar nos gêmeos. E eles estavam exaustos disso, o que apenas os faziam responder da forma mais rude possível.
Não suportavam mais.
— Ele não pode ter entrado sem ajuda — declarou Simas — Só vocês podem ter ajudado.
— Cala a boca, Finnigan! Você não sabe de nada — urrou Therion.
— Quem mais ajudaria Sirius Black a entrar senão seus filhos sonserinos? — acusou outra pessoa.
— Ah ótimo, agora apelou para a casa. Sabe de qual ele era quando estudou aqui? Vocês vão adorar descobrir! — disse Canopus com escárnio e provocação na voz.
— Confessem logo que ajudaram seu pai a entrar.
— Seu pai podia ter nos matado se não estivéssemos no Salão Principal quando tentou invadir a nossa comunal!
Mais comentários e acusações como aquela, cada vez mais alto. Percy tentou fazer todos se calarem, mas não deu muito certo.
Therion fechou os olhos com força, apertando as mãos contra os ouvidos e grunhindo de frustração enquanto ouvia tudo. Sua cabeça parecia que iria explodir. Ele só queria sair dali e ir para longe de todos. Não queria ser acusado de coisas que não fez.
Canopus estava quase explodindo de pura raiva. Todas aquelas acusações apenas por terem o sangue daquele homem o deixavam cada vez mais irritado. Ele não era como Sirius. Não queria ser como ele.
Por que insistem em compará-los e dizer que era tão mau quanto ele? Que cometeria um crime sem pensar, assim como ele? Que o ajudaria sem pensar duas vezes?
— Parem com isso! Só parem! — vociferou ele em voz alta.
— Parar de dizer a verdade?
— Não fizemos nada! — ambos os garotos exclamaram.
— Eu não duvido nada que estejam apenas se fazendo de inocentes. Devem estar ajudando ele escondido — acusou Pansy, sentada sobre seu saco de dormir com os braços cruzados.
— Não foram eles, Pansy! — bradou Draco, surpreendentemente em defesa dos Black.
— Acredita mesmo neles, Draco?
— Logo você? — outro sonserino disse.
— Eles não ajudaram Black a entrar no castelo. Deixem eles em paz com isso.
Os Black olharam surpresos na direção de Malfoy, que estava de pé não muito longe deles.
— Como tem tanta certeza? — questionou Parkinson.
— Eles não fariam isso.
— Ah, Draco! Só pode estar brincando. Óbvio que fariam.
Malfoy não voltou atrás no que disse, direcionando seu olhar na direção do gêmeo mais velho. Todos podiam estar surpresos com sua opinião, mas ele sabia que os Black não ajudariam o pai. Sabia que Canopus não ajudaria.
Mas outras pessoas pensavam o contrário.
— É o pai deles!
— São filhos dele, são as únicas pessoas que poderiam ter ajudado.
Vários comentários como esse. Sempre ressaltando o fato de que Sirius era pai deles.
"Seu pai invadiu a escola"
"Seu pai podia ter nos matado"
"Vocês estão ajudando seu pai a entrar"
Odiavam isso. Odiavam ser lembrados disso.
— PAREM COM ISSO!— Therion gritou, ainda apertando as mãos contra os ouvidos. — ELE NÃO É MEU PAI! NÃO É!
— Claro que é! Todos sabem disso.
— Têm o sangue dele!
— CALEM A BOCA, AGORA! — gritaram juntos.
Várias pessoas se calaram de repente. Essas pessoas levavam a mão à boca ou à garganta. Pareciam tentar falar alguma coisa, mas não conseguiam. Outras foram jogadas no chão como se algo as empurrasse.
— O que vocês fizeram?
— SÓ PAREM DE FALAR. PAREM! — Therion gritou, respirando fundo e sentindo os olhos arderem. — MEU PAI É REMUS LUPIN, E NÃO SIRIUS BLACK! ELE QUEM NOS CRIOU, NÃO SIRIUS! NÓS NÃO O AJUDAMOS!
— Therion… — murmurou Harry, tocando o ombro do amigo.
— EU SÓ QUERO QUE NOS DEIXEM EM PAZ! NÃO TEMOS CULPA DE NADA! — continuou gritando. Sua cabeça latejava. Ele estava exausto, nervoso e com medo. — Eu só quero sair daqui… — disse mais baixo.
Ele afastou-se de todos e correu até as portas. Percy colocou-se à frente dele, impedindo-o de se afastar.
— Saia da frente, Weasley!
— Ninguém pode sair daqui até segundas ordens do diretor.
— E você quem vai me impedir?
— Eu sou o monitor-chefe. Todos para os sacos de dormir, agora!
— Saia da frente.
— Não.
— SAIA!
O ruivo permaneceu parado e impedindo Black de passar. Therion tentou ultrapassá-lo, mas ele segurou-o pelo braço.
Ele se soltou e pegou sua varinha, apontando na direção do ruivo.
— EU QUERO SAIR.
— Não pode!
— SAIA DA MINHA FRENTE!
— Não. Eu sou o monitor-chefe e você deve me…
— Estupefaça! — disse Black e o raio de luz azulado saiu de sua varinha e atingiu o peito de Weasley, jogando-o para longe.
Vários alunos olharam-no surpresos e horrorizados, mas ele ignorou tudo. Outro monitor fez menção de ir até ele, mas parou ao ter a varinha apontada em sua direção ameaçadoramente por Canopus.
— Não ouse encostar um dedo no meu irmão.
— Alohomora — falou Therion apontando para as portas, que se abriram imediatamente. Ele correu para fora.
— THERRY — Canis o chamou.
— Eu vou atrás dele — disse Harry e correu antes que o outro pudesse protestar.
— Ele acabou de atacar o monitor-chefe! — exclamou alguém.
— Bem merecido! — bradou Canopus, enquanto via os outros Weasley irem verificar o irmão, não que parecessem muito preocupados com ele, na verdade. — Por que vocês simplesmente não nos deixam em paz?
— Por que vocês não vão embora com o pai de vocês?
— Por que vocês não cuidam da porra da vida de vocês? — Merliah interveio, xingando sem medo algum, seguindo até um dos sacos de dormir. — É tão difícil assim? Vão dormir que é melhor!
— É impossível ele ter entrado sozinho com todos aqueles dementadores.
— SE QUEREM TANTO SABER COMO ELE ENTROU, VÃO ATRÁS DELE E PERGUNTEM, PORQUE EU NÃO SEI!
— Seu irmão imobilizou um monitor com um feitiço de ataque que nem aprendemos ainda! Ele está todo atordoado.
— São iguais ao pai de vocês!
— Parem de insistir nisso! — Draco quem exclamou. — Já me cansei de ouvir a mesma coisa. Ele não fez nada. Será que podemos dormir em paz agora?
— Não acredito que vou dizer isso, mas concordo com o Malfoy — disse Merliah.
— Eu vou embora.
Canopus se dirigiu a saída aberta. Os monitores da Grifinória e Sonserina tentaram impedí-lo, mas ele já estava sem paciência alguma para isso.
— Onde pensa que vai?
— Estupefaça! — Lançou o mesmo feitiço que irmão em um deles, sem pensar duas vezes.
— Merlin! Eles ficaram malucos!
O outro monitor deu um passo à frente.
— Quer receber o mesmo que seu amiguinho ali? — ameaçou Black bradando sua varinha.
Ele hesitou, e Canis aproveitou isso para empurrá-lo e correr para fora.
— Canopus! — ouviu alguém chamar, mas não deu atenção.
O garoto apenas correu, o mais rápido que pôde. Passou por entre os corredores, olhando para todos os lados. Não fazia ideia de onde o irmão e Harry ou seu pai estavam.
Moveu-se por todos os lugares à procura deles, mordendo com força seu lábio enquanto sentia seus olhos arderem mas não ousava deixar-se chorar.
— Pai! — chamou alto, olhando para todos os lados.
Ele decidiu tentar ir à sala de Remus. Queria saber se ele estava bem. Seguiu para lá correndo a toda velocidade, tropeçando um pouco pelo caminho. Abriu a porta abruptamente, ouvindo o som de algo cair poucos segundos depois.
Olhou para dentro do cômodo, parado na porta. Estava ofegante por conta da corrida, com o coração acelerado em seu peito.
— Papai? — Não houve resposta.
Ele adentrou o cômodo devagar, ainda com sua varinha em punho. Sentia que havia algo de errado. Tinha certeza de ter ouvido alguma coisa ao entrar.
Aproximou-se cautelosamente da mesa de Lupin, que costuma estar perfeitamente organizada, mas naquele momento não estava tão arrumada. O tinteiro estava aberto — e havia manchado a mesa inclusive —, a pena usada jogada sobre um pergaminho, o retrato com a foto dos gêmeos caído deitado, a gaveta onde guarda os rolos de pergaminho aberta.
Canis pegou o porta-retrato que estava caído sobre a mesa e notou que sua foto com o irmão gêmeo não estava mais ali.
Por Merlin, ainda bem que tirou aquela foto daqui, pensou por um instante. Então viu mais uma coisa fora do lugar, um livro no chão. Pegou-o com o cenho franzido e observou a capa amarela onde havia um menino desenhado. Era um livro velho, mas muito bem cuidado.
Le Petit Prince. O Pequeno Príncipe. Era um dos livros favoritos de Remus. Canopus viu o pai ler e reler várias vezes e cuidar daquele livro com todo o carinho do mundo. Já leu para os filhos dormirem também, inúmeras vezes.
O garoto guardou o livro de volta à prateleira. Paralisou enquanto o fazia, sentindo uma movimentação próxima. Olhando de soslaio, avistou uma sombra.
Ele virou-se com a varinha em punho e jogou um feitiço, que acertou apenas uma chaleira. Mas ele viu. Viu alguém correr pela porta. Correu naquela direção, não avistando nada.
De uma coisa ele tinha certeza: era Sirius. E isso o apavorou.
Dirigiu-se ao corredor mais próximo.
— IMPEDIMENTA! — gritou, mas o feitiço apenas acertou uma armadura no corredor.
Olhou ao redor em alerta, respirando de maneira ofegante mais uma vez. Ele ouviu passos correndo atrás de si e virou-se pronto para atacar. Porém, sentiu um grande alívio e baixou a guarda ao ver quem era.
— Canis! Por Merlin, Canis! Onde você estava? — Remus disse correndo até o filho.
— Papai!
O garoto foi ao seu encontro e abraçou-o com força. Sentia extremamente aliviado em vê-lo bem, e Lupin sentia exatamente o mesmo.
— Não deveria estar aqui, é perigoso! Sirius…
— Estava aqui! — interrompeu-o num tom de desespero. — Ele estava aqui, papai! Eu vi!
— Você viu? — Remus arregalou os olhos.
— Ele estava na sua sala quando eu fui te procurar. Tenho certeza que era ele! — exclamou. Respirava de forma rápida e descompassada, com poucas lágrimas teimosas deixando seus olhos sem que percebesse.
— Tem certeza mesmo?
— Tenho! Só podia ser ele! Ele vai te matar também!
— Você está bem? Se machucou? — Remus perguntou preocupado, segurando o rosto do filho. O menino apenas negou com a cabeça.
— Ele veio atrás de você! Ele vai te matar também, papai! Igual Tio James, Tia Lily, Tio Peter… Ele… — Canis embolou-se em meio às palavras, começando a soluçar.
— Calma! Eu estou bem aqui!
Lupin puxou-o para um abraço mais forte e beijou o topo de sua cabeça, apertando-o contra seu peito enquanto seus olhos vagavam ao redor, à procura de algum sinal de presença do Sirius.
Ao não encontrar nada, preocupou-se em acalmar o filho.
— Fique calmo, minha estrela — pediu num tom baixo e tranquilo, acariciando os fios escuros de seu cabelo. Afastou-se levemente apenas para poder encarar seu rosto e secar suas lágrimas.
Sabia que o garoto andava guardando muita coisa dentro de si, escondendo seu medo e sempre evitando deixar-se chorar na sua frente. Ver aquelas lágrimas brilhando nos olhos dele partiu seu coração.
Pensar que Sirius esteve na sala de seu pai, sabendo que ele foi o responsável pela morte de seus outros dois melhores amigos, deixava Canopus desesperado. A primeira coisa que conseguia concluir é que Sirius iria terminar o que começou e dar fim ao último amigo que restou vivo.
Ele não ia deixar. Não ia deixar que destruísse sua família. Ele sentia raiva, mas ao mesmo tempo medo. E essa não era uma boa combinação para um bruxo.
— Onde está Therion?
— N-não sei — respondeu com a voz falha. — Harry foi atrás dele.
***
Harry subiu ofegante as escadas da Torre de Astronomia. Seu coração estava acelerado pela corrida, e sua respiração, descompassada. Um suspirou de alívio deixou seus lábios ao avistar o moreno vestido em seu pijama ali, sentado no chão observando o céu enquanto abraçava as próprias pernas.
Caminhou até ele, sentando-se ao seu lado. Ouviu um soluço e pôde ver o garoto tentar secar as lágrimas que escorriam por seu rosto.
— Ainda bem que te achei. Te perdi perto das masmorras — disse aliviado — Não precisava sair correndo daquele jeito.
— Não aguentava mais ficar ali — falou Black, com a voz baixa e embargada. — Eu não ajudei Sirius a entrar. Por que ninguém acredita?
— Eu acredito.
Therion ergueu o rosto e encarou Harry. Seu rosto estava vermelho e banhado em lágrimas. Não queria estar chorando, tão fraco. Mas ele simplesmente não suportava mais. Três anos com todos desconfiando de si. A fuga de Sirius e o medo constante de que ele faça algo.
Isso cansava. Era demais para a cabeça de um garoto de 13 anos.
Harry aproximou-se mais de Black e levou uma de suas mãos até o rosto dele, devagar, secando suas lágrimas. Observou os olhos azuis-acinzentados brilharem, refletindo a luz do luar, que os deixava muito mais intensos. Aquele olhar transbordava tristeza, frustração e cansaço.
Não gostou nada de vê-lo assim.
Therion segurou a mão de Potter que estava em seu rosto. Fixou seus olhos nas orbes intensamente verdes, exibindo um sorriso mínimo, apenas um leve curvar de lábios; genuíno, mas sem ânimo.
— Obrigado.
— Pode sempre contar comigo, Therry. Eu sei que vocês não fizeram nada e que nunca ajudariam Sirius Black. Ignore os outros, uma hora vão perceber isso também.
— Eu tenho medo — confessou.
— De quê?
— Dele. De que faça algo conosco… Com o meu pai.
Mais uma lágrima desceu por seu rosto, e Harry usou sua mão livre para secá-la rapidamente.
Black mordeu seu lábio inferior nervosamente, abaixando o olhar. Observou sua mão que estava junto da de Potter, a mesma que possuía um curativo na palma, feito pelo irmão no dia anterior. Ele soluçou, enquanto mais lágrimas saíram de seus olhos.
Harry ficou em silêncio, querendo apenas deixar o amigo desabafar, ouvi-lo e mostrar apoio. Às vezes as pessoas precisam apenas disso. Alguém para ouvir e estar ali consigo.
Therion voltou a encará-lo. Sentia um grande conforto em seu peito, ali junto dele. Um conforto que normalmente sentia apenas junto do pai e do irmão, porém com algo a mais. Não sabia o que era, mas apenas agradecia que tinha ele ali. E não poderia permanecer calado. Precisava colocar pra fora tudo que guardava dentro de si nas últimas semanas.
— Lembra da primeira aula do meu pai? — indagou de repente, a voz um tanto baixa, mas pela proximidade, Harry pôde ouvir perfeitamente.
— A do bicho-papão? — Therion assentiu. — Lembro. Até fiquei surpreso, porque ele se transformou no Sinistro para você.
Black riu baixo.
— Sinistro… Quem me dera fosse apenas medo de um mau agouro.
— Nunca te vi tão assustado.
— Aquele bicho-papão conseguiu realmente acertar em cheio — disse, suspirando. — Não era um Sinistro, era… Era ele.
— Ele quem?
Therion fechou os olhos bem apertado, mordendo o lábio mais uma vez pelo nervosismo. Mordeu tão forte que sentiu o gosto ferroso de sangue em sua boca.
— O Sirius.
Harry franziu o cenho, confuso.
— Como assim?
— Quando ele veio atrás de nós — Black começou a explicar, abrindo os olhos outra vez. —, eu e Canis estávamos treinando feitiços do lado de fora da nossa casa. Tínhamos nos mudado para o norte e vivíamos bastante afastados. Nós vimos um cachorro que se aproximou da gente, vindo da floresta ali perto. Ele estava ferido, sujo, com sede. Nós demos água, Canis usou magia para cuidar dos machucados...
— Não podemos fazer magia fora da escola.
— Isso não vem ao caso agora. Estávamos fugindo de um assassino louco. Ficamos treinando magia para nos defendermos! E o Ministério não tinha como saber porque papai é um bruxo também — retrucou, e então prosseguiu: — Quando papai viu, veio correndo desesperado para nos afastar do cão. Não sabíamos porquê, mas depois ele explicou… era o Sirius.
— Como...
— Ele é um animago.
Potter arregalou os olhos, surpreso.
— Um animago?
— Sim.
— Mas existe um registro de animagos. A Profª McGonagall disse na aula sobre animagia — disse — Hermione até pesquisou sobre e não tinha o nome de Sirius Black lá. Isso não seria avisado para termos cuidado?
— Não, porque o Ministério não sabe. Ninguém além de mim, Canis e meu pai sabem. As outras pessoa que sabiam... Estão mortas agora.
O garoto respirou fundo, tentando falhamente conter suas lágrimas. Não obteve sucesso e voltou a desabar em prantos.
— A-aquela é a forma animaga dele — disse com a voz falha e comprimiu os lábios, apertando inconscientemente a mão de Harry. — O homem que todos dizem ser o meu pai é o meu bicho-papão.
— Therry…
— Porque desde aquele dia eu não paro de ter pesadelos com ele — continuou. — Vivo… Com medo de que ele nos encontre outra vez e nos leve para longe. Que naquela forma de cão gigante ataque o meu pai e me tire dele, do mesmo jeito que ele matou os seus amigos.
— Ele não vai fazer nada com vocês. Vão capturá-lo e mandá-lo de volta para Azkaban.
— Ele já fugiu uma vez.
Na tentativa de consolar o amigo, Harry o abraçou. Therion o abraçou de volta, apertando os braços com força ao redor do tronco de Potter, enterrando o rosto em seu ombro. Suas lágrimas começaram a molhar a roupa dele, mas ele não parecia se importar.
O garoto descarregou tudo o que sentia em cada lágrima, chorando copiosamente. Fechou os olhos com força e tentou focar apenas no calor daquele abraço. Agarrou-se a cada bom sentimento em seu peito e tentou esquecer todo o medo.
Sentia uma mão em suas costas, afagando-as com cuidado, enquanto seus dedos agarravam o tecido do pijama de Potter e apertavam-mo com força. Aquilo lhe passava uma grande calma e carinho, o que ele precisava no momento.
— Vai ficar tudo bem — sussurrou Harry.
— Desculpa... — disse Therion. — Desculpa por… Ter que me aturar assim. Eu só…
— Ei! Não se desculpe por estar mal e chorar — ralhou Potter. — Não é culpa sua.
Black apertou-o ainda mais onaquele abraço. Harry continuou a afagar suas costas, tentando transmitir o máximo de conforto que pudesse, mesmo que não fosse muito bom nisso. Não teve muitas pessoas para consolá-lo enquanto chorava ao longo de sua vida.
Permaneceram ali daquela forma, até que Therion se sentisse um pouco melhor. Ele chorou por um longo tempo, e Potter não o soltou nem um segundo.
— Obrigado mesmo… Por estar aqui — agradeceu, já um pouco mais calmo. Sua cabeça estava deitada no ombro de Harry, e falava num tom baixo.
— Eu sempre vou estar.
— E eu posso te dizer o mesmo, quando você precisar.
Harry sorriu e viu Therion erguer o rosto, sorrindo de volta. Usou a manga da blusa de seu pijama para secar o rosto molhado pelas lágrimas, enquanto o outro olhava-o fixamente.
— Não precisa ficar com medo. Ele não vai fazer nada com vocês.
— Não conte para ninguém o que te falei, por favor — pediu Black. — Sobre Sirius ser animago.
— Por quê? Isso pode ajudar a encontrá-lo, não?
— Vão perguntar como sabemos, e não podemos dizer. Ele se tornou um animago ainda na escola, ilegalmente. Meu pai pode acabar mal por isso.
— Por que ele sabia? — indagou Harry.
— Mais ou menos. Só… Não conte a ninguém, por favor.
— Tudo bem — ele concordou, mesmo que tivesse muitas perguntas e quisesse entender o porquê daquilo.
Therion respirou fundo, olhando para o céu repleto de estrelas e voltando a deixar a cabeça cair sobre o ombro de Potter. Ele e Harry ainda possuíam um dos braços ao redor um do outro.
— Você se preocupa muito com o Prof. Lupin, não é? — perguntou Potter, também olhando para as estrelas.
— Ele é meu pai, afinal de contas — respondeu. — Não é fácil para ele criar a mim e Canis sozinho. Sustentar duas crianças sem conseguir um emprego decente é complicado, e também tem… Seu pequeno problema de saúde. — Baixou o olhar para o suéter que estava usando de pijama, que era muito maior que seu corpo. — Eu e Therion estamos crescendo mais rápido do que ele pode encontrar comprar roupas. Esse suéter é dele.
— Todas as minhas roupas são do meu primo. Meus tios não fazem questão de gastar um centavo comigo, mesmo para roupas. Tudo que Duda não quer mais fica pra mim.
— Seus tios são terríveis.
— São.
— Ensinar DCAT é o melhor emprego que ele deve ter tido na vida. E fico feliz que ele realmente gosta.
— São minhas aulas favoritas.
Therion sorriu com aquilo. As aulas do pai também eram suas favoritas.
— Mesmo que não tenhamos muito dinheiro, ele sempre fez o melhor por nós dois. E nós queremos fazer o melhor que pudermos para que ele fique bem também. — Voltou a olhar para o céu. — Somos tudo que ele tem. Ele já disse que nós fomos a melhor coisa que já aconteceu a ele nos últimos anos, por mais dificuldades que tenhamos.
Harry sorriu fraco e olhou para o Black. Ele percebia como o professor adorava os filhos, desde o dia que os encontrou no Beco Diagonal dois meses antes e pelas vezes que os viu juntos nos fins de semana.
Para ele, Lupin muita vezes possuía um aspecto cansado, até doente — o que de certa forma, ele estaria —, mas sempre parecia melhorar na presença dos gêmeos e quando se empolgava em suas aulas. Ele se iluminava mil vezes mais quando estava com eles.
— Ele conhecia Sirius Black, não é? Por isso ele adotou vocês depois que ele foi preso?
Therion assentiu, mordendo o lábio. Ele olhou para Harry.
— Na verdade, ele é meu padrinho.
— Sério?
— É. Ele conhecia tanto Sirius quanto minha mãe. Estudaram aqui na mesma época. Ela quem fez o convite oficial para ele se tornar meu padrinho — revelou. — E como padrinho, ele também ficaria responsável por mim se algo acontecesse.
— E aconteceu…
— Infelizmente. Minha mãe morreu e Sirius foi preso... — Deu de ombros. — Mas eu amo meu pai. Não poderíamos estar melhor com outra pessoa senão ele.
— Ele era muito amigo deles?
— Isso é meio complicado de explicar. Eu sei que ele e minha mãe eram amigos, mas não tão próximos. Já Sirius… Bom, ele não era como meu pai pensava.
— Ele matar todas aquelas pessoas deve ter sido bem inesperado, então?
— Exatamente — Therion suspirou. — Ele matou todos os amigos. Só restou meu pai, e… Não quero que ele seja o próximo.
— Ele não vai. Logo tudo acaba — garantiu Harry, enquanto o apertava num abraço de lado. — Sirius vai ser preso de novo e vocês não vão precisar se preocupar mais.
— E quem sabe assim finalmente temos um pouco de paz.
Ambos mantiveram seus olhos fixos no céu e ficaram imersos em um silêncio confortável. Não disseram mais nada, permaneceram apenas calados admirando o brilho das estrela, abraçados enquanto Black continuava confortavelmente com a cabeça no ombro de Potter.
Até que os olhos de Therion capturaram algumas constelações, e ele ergueu a mão para apontá-la.
— Aquela é a constelação de Escorpião. Canis gosta dela — disse, e Harry apenas ouvia atentamente. — Não estou vendo a estrela dele hoje.
Continuou caçando constelações, nomeando todas elas, enquanto Potter ficava em silêncio ao seu lado, apenas deixando-o falar e se acalmar mais a medida que o tempo passava.
— Aquela é a minha.
— A sua? — perguntou Harry.
— A Lupus, constelação do lobo. Meu nome veio dela — explicou. — Veio do nome original em grego, mais especificamente, como os gregos a chamavam… Therion. Minha mãe deve ter achado mais bonito.
Harry riu.
— Papai disse que nomear os filhos com nomes de estrelas e constelações é uma tradição dos Black.
— É uma tradição bem legal.
— O nosso nome completo segue isso. Canis é Canopus Alphard Black. Até o apelido dele é uma constelação. — Tanto Harry quanto Therion riram ao notar aquilo. Os olhos do Black vagaram por todo o céu, procurando uma estrela em específico. — Ali! Está vendo a constelação de leão?
— Ali? — Potter apontou para a constelação.
Therion assentou e apontou para a estrela alfa da dita constelação. Potter a reconheceu de uma das aulas de Astronomia que tivera. Era uma de suas favoritas, pois representava o animal de sua casa em Hogwarts.
— A estrela mais brilhante dela, Regulus — disse Black — É o meu nome.
— Seu nome do meio?
— Therion Regulus Black. Esse é o meu nome completo.
— É um nome bonito.
— Acha mesmo? — perguntou, voltando seus olhos para Harry. Ele assentiu, olhando-o de volta e sorrindo.
Harry percebeu que ele já não chorava mais, o que realmente deixou-o feliz. Falar das estrelas estava lhe distraindo de todo o ocorrido naquela noite, e quanto mais pudesse mantê-lo assim, melhor.
Os olhos de Black, naquele momento, pareciam possuir tantas estrelas quanto o seu, com seu próprio brilho. Ele encarava de volta os olhos verdes como esmeralda de Potter, e sentiu suas bochechas corarem violentamente por tê-lo olhando-o fixamente com os rostos tão próximos. Desviou o olhar de volta para o céu, levemente envergonhado.
— Eu e Canis gostamos de vir escondido no meio da noite às vezes e ficar olhando para as estrelas — disse.
— E nunca foram pegos?
— Nunquinha — respondeu com orgulho — Nem papai sabe. A gente vem quando queremos só passar o tempo admirando o céu ou… Quando temos pesadelos demais. Admirar o céu e as estrelas sempre nos ajudou a relaxar.
— Por isso você veio para cá?
— É — assentiu, abaixando o olhar — Gosto mesmo daqui.
— É realmente um bom lugar para relaxar.
— Podemos voltar mais vezes então. Posso te mostrar todas as constelações que você ainda não conhece.
— Eu adoraria.
Therion sorriu com a resposta. Um sorriso sincero e radiante, tão encantador e brilhante quanto as estrelas no céu. Harry gostou de ver aquele sorriso.
E assim eles continuaram ali, admirando as estrelas juntos. Depois de um tempo, Black bocejou e aconchegou-se mais em Potter inconscientemente, sentindo o sono chegar.
Mais tarde, Canopus e Remus subiram correndo a Torre de Astronomia e suspiraram aliviados ao encontrá-los. Foram até eles alvoroçados depois de horas de procura. Ao ver como estavam, Canis levou o indicador aos lábios, pedindo que o pai não fizesse barulho.
Harry e Therry estavam ambos dormindo, juntos ali no chão da torre. Potter tirara o próprio moletom que usava para dormir por conta do frio — o qual era bem grande — e dobrara para apoiarem suas cabeças, ficando apenas com sua blusa; os óculos estavam tortos em seu rosto, enquanto ele dormia profundamente. Black estava agarrado a ele, com o rosto enterrado na curvatura de seu pescoço e deitado sobre um de seus braços, o qual passava sob ele e rodeava seu corpo de maneira aconchegante.
Canis conteve um sorriso ao ver a cena, já bem mais calmo também e com a preocupação com o irmão indo embora. Lupin se aproximou sem conter o sorriso em seu rosto.
O homem se ajoelhou ao lado do filho, retirando a franja de seus olhos e observando ele dormir tão calmamente. Olhou para Harry logo ao lado e acabou tirando seus óculos, deixando-os ao seu lado. Nenhum dos dois fez menção de acordar.
O gêmeo acordado bocejou, exausto por conta do horário e toda a correria da noite. Se sentou ao lado do pai e deitou a cabeça em seu ombro, fechando os olhos. Sentiu a mão de Lupin passando por seus cabelos logo depois, o que apenas o deixou com mais sono.
Remus mirou as estrelas no céu e depois olhou para os três garotos; Harry e Therion dormindo, e Canopus quase se juntando a eles. Ele respirou fundo. Foi uma noite cansativa para todos eles.
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Olá, meus amores!
Tudo bem?
O comecinho do cap foi meio tenso Rsrsrs
Sirius deu um baita susto nos filhos
Eu não resisti a vontade de colocar aquele momento super fofo entre Therion e Harry. Gostaram? Eles são tão bonitinhos juntos 🥰🥰
Cadê o Team Tharry? 🙌
Quem aí sentiu uma lágrima ao descobrir o nome completo do nosso amado gêmeo caçula?
Espero que tenham gostado do capítulo! Não esqueçam de votar e comentar bastante!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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