XLVIII. Tomorrow can wait
O possível retorno de um tio que estava supostamente morto era uma ótima forma de se iniciar o ano.
Canopus e Therion se encaravam completamente surpresos, enquanto alguns burburinhos se espalhavam pelo salão pela menção ao nome Black, inclusive na mesa da Sonserina. Não apenas pelo nome, claro, pois a aparência também chama a atenção graças a grande semelhança.
A distância que estavam do homem, poderiam facilmente confundi-lo com Sirius. Não poderia ser outro que não o irmão dele.
Os gêmeos ignoraram qualquer um que ousasse perguntar se o conheciam e resolveram voltar a focar no discurso do diretor.
— Infelizmente, este ano, não realizaremos o campeonato de quadribol.
— O QUÊ?! — tanto os gêmeos quanto os outros colegas de time, exceto Draco, e outros sonserinos gritaram.
— Porra! Esse ano já começou ainda pior do que eu esperava — Canopus resmungou e enterrou o rosto entre as mãos, com os cotovelos apoiados na mesa.
Na mesa da Grifinória, Harry e seus colegas de time também reclamavam, assim como os times da Lufa-lufa e da Corvinal.
— Isto não significará o fim do quadribol de fato ao longo do ano letivo — Dumbledore tranquilizou-os. — Tenho o grande prazer de anunciar que, neste ano, Hogwarts terá a honra de sediar o Torneio Internacional Heptamágico.
Canis reconheceu esse nome e ergueu levemente o rosto.
— Não tinham um nome melhor, não? — Merliah murmurou baixo com uma careta.
— Talvez muitos de vocês não conheçam este evento, mas aos que conhecem, permitam-me explicar aos outros — prosseguiu o diretor. — O Torneio Internacional Heptamágico surgiu há alguns séculos, inicialmente conhecido como Torneio Tribruxo. Durante muito tempo consistiu numa competição amistosa entre as três maiores escolas de magia da Europa: Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Porém, após muitos séculos, passou por uma reformulação para abranger outros continentes em pró de maior união com os bruxos dessas regiões e assim passaram a competir as sete mais reconhecidas escolas de todo o mundo, que além das citadas, inclui Mahoutokoro, localizada no Japão, no continente asiático; Uagadou, a maior e mais prestigiada escola do continente africano, sem localização exata publicamente conhecida, assim como Durmstrang; e, por fim, mas não menos importante, as duas maiores do continente americano, Ilvermorny, dos Estados Unidos, e Castelobruxo, a escola do Brasil e de maior prestígio de toda a América.
Alguns alunos pareceram entusiasmados com a ideia.
— Um campeão de cada uma das escolas era eleito para representá-la em diferentes tarefas mágicas. As escolas se revezavam a cada cinco anos para sediar o Torneio, e todos concordavam que era uma ótima maneira de estabelecer laços entre jovens bruxos de diferentes nacionalidades. Contudo, a alta taxa de periculosidade e mortalidade tornou inviável que o evento persistisse.
— Taxa de mortalidade?! — Hermione exclamou.
— Shh! — Rony resmungou.
Harry ouvia o diretor atento, interessado em ouvir mais sobre esse tal torneio, ignorando a implicância dos amigos.
— Houve muitas tentativas de retomar o torneio, todas falhas, até agora. Os nossos Departamentos de Cooperação Internacional em Magia e de Jogos e Esportes Mágicos decidiram que já era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalharam muito durante o verão para garantir que, desta vez, nenhum campeão seja exposto a um perigo fatal — disse Dumbledore. — Além da competição, o torneio também possui a tradição de utilizar do evento como a oportunidade de intercâmbio para os alunos estrangeiros. Portanto, os estudantes que vierem participarão das aulas com vocês para maior integração. Os diretores das escolas chegarão com um professor auxiliar e um representante do Ministério de seus países junto aos alunos em Outubro, e a seleção dos campeões ocorrerá no banquete de Halloween. Um julgamento imparcial decidirá quais alunos terão mérito para disputar a Taça do Torneio, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões.
O anúncio do prêmio elevou ainda mais os ânimos do salão. A ideia de ganhar tanto dinheiro era extremamente tentadora para muitos. Os gêmeos Weasley animaram-se na mesa da Grifinória, assim como Rony, visualizando o que poderiam fazer com tanto.
Em outra época, os Black também ficariam deslumbrados com o prêmio. Porém, no momento, além de estarem muito atordoados, possuíam acesso a um cofre com muito mais que aquilo — embora a ideia de aumentar sua fortuna não parecesse ruim, de qualquer forma.
— Os diretores das escolas e o Ministério concordaram em estipular uma restrição de idade aos competidores. Apenas os alunos maiores de idade terão permissão para apresentar seus nomes. — Os alunos de menor, obviamente, não ficaram contentes com a notícia. — Esta é uma medida necessária, pois as tarefas ainda serão de um alto nível de dificuldade e perigo, apesar das precauções, e os alunos dos últimos anos estarão certamente mais aptos a passar por elas. Eu pessoalmente tomarei medidas para que ninguém menor de idade engane nosso juiz imparcial e seja escolhido como campeão. Entretanto, tal restrição não será aplicada aos alunos das outras escolas que desejarem vir apenas como intercambistas.
Muitos alunos bufaram frustrados.
— Receberemos nossos visitantes com simpatia e bons modos enquanto estiverem conosco durante o ano letivo e sei que apoiarão o campeão de Hogwarts — concluiu Dumbledore. — Vocês já devem estar famintos após este longo monólogo, então, apenas digo: bom apetite.
O salão irrompeu em conversas frenéticas entre os alunos, todos comentando sobre o torneio e os novos professores.
Os gêmeos adorariam poder discutir com a melhor amiga durante o jantar sobre o torneio, pois ela parecia muito empolgada com a ideia da visita de alunos brasileiros, mas não estavam com cabeça para isso agora. Eles comeram em silêncio a maior parte do tempo, não deixando de transitar os olhos entre Arcturus e Stella.
A garota permaneceu com o gato em seu colo enquanto comia a refeição, conversando animadamente com Luna Lovegood. Enquanto isso, Arcturus jantou em silêncio, os olhos voltando-se para a mesa da Corvinal algumas vezes e outras para a da Sonserina.
O olhar para sua mesa apenas confirmou as suspeitas dos gêmeos.
Quando o jantar acabou e todos foram mandados para seus dormitórios, Therion pediu a Liah para que fosse na frente e prometeu que conversariam no dia seguinte. Eles observaram Stella e Luna correrem até Arcturus, e a mais nova abraçou o pai, que ajoelhou-se e sorriu com orgulho para ela enquanto dizia algo.
Harry também ficou para trás e pediu aos amigos para irem na frente.
Eles caminharam na direção dele rapidamente. O homem olhou para os gêmeos e então de volta para a filha.
— Está tarde e você precisa ouvir as instruções dos monitores. Amanhã bem cedo eu vou te buscar na entrada da Comunal para tomarmos café da manhã juntos, está bem? — ouviram ele dizer. — Suas malas já estão no dormitório. A Luna vai te ajudar se precisar de qualquer coisa.
— Está bem.
— Buona notte, Stellina — falou em italiano e beijou a testa da filha, também acariciando rapidamente as orelhas do gato nos braços dela. — Boa noite para você também, Luna.
— Boa noite, Padrinho! — Luna falou. Ela segurou a mão de Stella e afastou-se. Ela acenou para os gêmeos e para Harry. — Oi! Tchau!
Elas foram embora.
— Archie! É você! — Harry exclamou.
— Olá, Harry — ele cumprimentou, unindo as mãos atrás de si com sua perfeita postura.
— Você…
— Já está tarde. Vocês devem ir para seus dormitórios e descansar para o início das aulas.
— Nós precisamos falar com você — Canis falou.
— Nós... — Therion começou a dizer.
— Vocês precisam ir para suas Comunais. Se quiserem conversar, terão que aguardar minha aula — ele cortou-os. — Também preciso descansar, foi uma longa viagem. Tenham uma boa noite.
Sem dizer mais nada, ele foi embora. Os três garotos seguiram-no para fora do Salão Principal, sendo ignorados por ele, que seguia o caminho para sua sala.
— Nós realmente temos muito o que perguntar — Therion falou e agarrou o pulso dele.
— Eu sei. — Ele soltou-se imediatamente e virou-se para eles.
Encarou-os por alguns instantes em total silêncio. Pareceu analisá-los por completo, quase perdido em seus próprios pensamentos.
Therion cerrou os punhos e analisou-o concentrado, tentando usar o pouco que aprendeu com Sirius nos últimos dias sobre suas habilidades recém-descobertas, porém isso apenas o deu uma grande dor de cabeça, não conseguindo ver nada. Ele queria entender, saber se realmente era Regulus Black e como estava ali.
Canis comprimiu os lábios, aguardando que dissesse mais alguma coisa. Agora mais de perto, era possível notar ainda mais semelhanças com Sirius e as fotos que viu no diário da mãe, mas principalmente um detalhe. Quando ele passou a mão pelos cabelos enquanto suspirava, percebeu que possuía a mesma marca de nascença que Therion.
— Tentar invadir minha mente não vai funcionar, Regulus.
— Como sabe meu nome? — Therion franziu o cenho.
— Uma pessoa me contou. — Arcturus sorriu triste. — E sei que está tentando ler minha mente. É exatamente o que Sirius faria se tivesse nascido com legilimência ou se prestado a aprender. Vão para os dormitórios.
— Se o conhece, então é realmente você… Você é o Regulus.
— Arcturus... Ou Archie, como preferirem — corrigiu.
— Você me salvou! — Harry exclamou. — Na Copa Mundial, você me salvou. Foi você que me ajudou a encontrá-los. Sabia quem eu era?
— Sabia. Você é tão bom em proteger seus pensamentos quanto seu pai era — respondeu. — Não que eu precisasse ver sua mente para saber.
Ele desviou o olhar, e Harry respirou fundo, lembrando-se da conversa que teve com o padrinho. O que houve entre Regulus e seu pai…
— Como você está vivo? — Canopus perguntou enfim. — Sirius disse que Voldemort o matou por desertar.
— Como voltou, Regulus?
— Não me chamem de Regulus, por favor — pediu fechando os olhos por alguns instantes e apertando as mãos uma na outra. Ao abrir os olhos novamente, encarou-os com firmeza, mas era possível ver a dor em seu olhar. — Já não uso há muito tempo. Meu nome é Arcturus, e eu sou professor de vocês e posso fazê-los já iniciar o ano com uma detenção. Vão para seus dormitórios, não é o momento para conversas. Tenham uma boa noite.
Ele virou-se novamente e seguiu seu caminho, não parando ou sequer olhando para trás, deixando os três garotos ali completamente confusos e sem ter a menor ideia do que estava ocorrendo.
— É realmente ele, não é? — Harry perguntou.
— Sim — Canopus confirmou, sem nenhuma dúvida. Sua voz estava firme e carregada de dor. — Ele pode até usar outro nome, mas é o Regulus. Não é tão diferente de Sirius, está fazendo o que os dois melhor sabem fazer… Fugindo.
O garoto também virou-se e começou a caminhar em direção às masmorras, sem dizer mais nada.
***
O clima no dormitório dos gêmeos na Sonserina não estava dos melhores.
Enquanto organizavam seus pertences, os dois não pararam de pensar em tudo o que sabiam sobre Regulus Black nem por um instante. Suas mentes estavam cheias de perguntas, algumas eles temiam as respostas.
Eles ignoraram qualquer tentativa de Blaise ou Theodore de puxar conversa, assim como Draco, que permaneceu calado a todo instante. Malfoy foi o primeiro a vestir o pijama e ir para a cama, deitando sob os lençóis, abatido, ainda sem dizer uma única palavra, apenas apertando forte o medalhão da família em sua mão.
Em seguida, Nott e Zabini saíram juntos para a Comunal, desistindo de tentar conversar com eles.
— Você não conseguiu ver nada mesmo? — Canis perguntou ao irmão num tom baixo após um longo silêncio, sentado na cama de Therion acariciando Antares nos braços.
— Não. Acho que ele deve ser oclumente também, igual o Sirius — respondeu. — Consegui sentir, de algum jeito. Não tinha como entrar.
— Ele sabe que você é legilimente e está se protegendo. O que quer que tenha acontecido, ele não quer que saibamos.
— Como ele saberia?
— Isso está no sangue da família Black há gerações, ele pode ter suspeitado que um de nós talvez fosse. Oclumentes experientes sabem quando alguém está tentando invadir sua mente, apenas confirmamos uma suspeita que ele já teria.
Therion suspirou, pensativo. Era uma possibilidade viável.
— Ele tem uma marca igual a sua, no mesmo lugar — Canis comentou.
— Talvez seja algo de legilimentes Black.
— Talvez. — Ele deu de ombros — Você ainda tem seu encontro com Harry.
— Nem sei se estamos com ânimos para isso.
— Depois de tudo, acho que o melhor que podem fazer é sair para relaxar um pouco. Não vamos ter muita paz e descanso esse ano, pelo visto.
Canopus respirou fundo e seguiu para a própria cama, onde deixou Antares. Começou a trocar de roupa e vestir seu pijama, enquanto o irmão vestia roupas quentes para sair.
Naquele ano, o dossel das camas estava enfeitado com cortinas maiores e mais pesadas que nos anos anteriores. Enquanto se desfazia do uniforme, Canis viu Draco fechar as que tinham ao redor de sua cama. Ainda não havia dito uma única palavra desde o trem, nem mesmo durante o jantar. Se fosse em dias comuns, Malfoy provavelmente os estaria enchendo de perguntas e provocações, mas agora ele apenas se fechou ali.
Dentro da pequena fortaleza de cortinas ao redor da cama, Draco encontrava-se deitado apertando o medalhão com força repetindo em sua mente as principais palavras do avô antes de morrer e tentando pensar que não estava realmente enlouquecendo. Todos os seus amigos disseram que estava louco quando disse ter visto algo puxando as carruagens.
Ele ainda ouvia as movimentações e vozes dos gêmeos pelo dormitório e não conseguia ignorar por mais que quisesse.
Após terminar de se vestir, Canopus pegou a escova de cabelo e puxou o irmão para sentar-se na cama e começou a pentear os cabelos dele, exatamente como último encontro. Deixou-os soltos, mas ainda bem arrumados com o corte que tinham.
Therion ficou de frente para o irmão e ajeitou a jaqueta sobre o suéter em seu corpo, respirando fundo e enterrando as mãos nos bolsos para tentar não mexê-las tão ansiosamente. Estava bastante nervoso com tudo. O torneio, Regulus, Harry… Oh, ele iria surtar!
— Deveríamos escrever para o Sirius.
— Não — Canopus negou.
— Canis, não é hora para ficar de implicância com ele!
— Vamos tentar falar com Regulus primeiro, okay? Bem… O Regulus original, porque você também se chama Regulus.
— Vamos falar e mandar uma carta para o Sirius. Vou escrever agora.
Canis segurou o irmão antes que ficasse de pé.
— Precisamos ser cautelosos, não impulsivos.
— É o irmão dele!
— Que era a porra de um Comensal da Morte.
— Ele desertou, por isso deveria estar morto!
— Therry, se você escrever para o Sirius contando que o irmão dele aparentemente está vivo o que acha que ele vai fazer?
Therion bufou.
— Ele provavelmente correria pra cá.
— Exatamente. Temos que entender como ele está vivo e se realmente é confiável.
— Ele é irmão do Sirius! — Therion exclamou.
— Você sabe que ele pode muito bem ter matado a mamãe, não sabe? — Canopus retrucou num tom sério.
Therion engoliu em seco, não gostando de pensar nessa possibilidade. Não sabia o que faria se realmente tivessem falado com o assassino da sua mãe há não muito tempo.
Lembrou-se da voz dela que tanto ouviu em seus sonhos desde o segundo ataque de dementadores que sofreu, sua única lembrança dela. Ela se despedindo como se soubesse que não voltaria mais para eles. Como ela sabia?
— Vamos tentar falar com ele amanhã. Depois mandamos uma carta para o papai, não para Sirius.
— Papai provavelmente vai mostrar a ele.
— Papai não virá correndo para Hogwarts no mesmo segundo. Ele vai saber como contar.
— Eu não vou adiar isso para sempre, Sirius precisa saber. Uma das coisas que ele mais queria era poder ter ajudado o irmão…
— Eu sei, mas vamos ter cuidado. Isso é pelo bem de todos nós.
Therion suspirou e assentiu com a cabeça. Infelizmente, seu irmão tinha razão.
— Agora, pense apenas em se divertir com o Harry em Hogsmeade. Nosso tio comensal não poderá fugir.
— Tudo bem. — Ele sorriu fraco. — O mapa está com você, não está?
Canis também sorriu e pegou o Mapa do Maroto em seu malão, tocando-o com a varinha.
— Juro solenemente não fazer nada de bom — disse, e o mapa surgiu no pergaminho. — Poderá fugir sem ser visto e nosso querido titio continuará bem aqui no quarto dos professores de História da Magia.
Ele apontou para o nome que já esperava encontrar ali, exatamente onde disse. Regulus Black. Therion respirou fundo e pegou o mapa, observando o nome ali.
Havia visto algumas memórias de Sirius sobre o irmão e não conseguia não pensar nisso. Na maioria delas, eles pareciam muito unidos, Sirius cuidava de Regulus assim como ele e Canis cuidavam um do outro.
Sempre que ele parecia começar a ver a última conversa que tiveram, a imagem de um Regulus abatido, com olheiras, olhos avermelhados e transbordando como uma cachoeira, Sirius erguia suas barreiras mentais imediatamente. Era algo que ele nunca o permitiu ver, mesmo que já tivesse contado o que houve.
Isso apenas o fez perceber que não era daquele jeito que Sirius queria se lembrar do irmão. Queria de lembrar dos bons momentos, não dos piores. E sabia que, infelizmente, os piores momentos eram os mais vívidos.
— Também poderá ver quando Harry estiver chegando. Bom proveito.
— Ele está conversando com algumas pessoas na comunal da Grifinória — Therion falou ao guiar os olhos até a Grifinória a procura de Harry. O nome dele estava rodeado de outros, e observou-o então afastar-se e seguir até o dormitório com Rony.
Seus olhos continuaram a vagar pelo mapa, enquanto Canis vigiava sua doninha, que estava explorando o dormitório correndo de um lado a outro.
— O que Crouch faz aqui?
— O quê? — Canis olhou-o de cenho franzido.
— Crouch está conversando com Dumbledore. — Apontou para o mapa.
— Talvez seja sobre o tal Torneio.
— A essa hora?
— Não é como se Crouch batesse bem da cabeça. Se dependesse dele, teriam nos prendido na Copa Mundial.
— Realmente...
Canopus atravessou o quarto para pegar Antares e levá-lo de volta para a cama.
— Tenha um bom encontro.
— Está bem. E você, durma, sim? Você não dormiu nada noite passada. Vai precisar de energia para enfrentar nosso temido tio comensal.
Canis riu baixo e balançou a cabeça.
— Vou tentar, mas não garanto nada.
— Vá dormir. Vou esperar o Harry na entrada da comunal.
— Aproveite bem todos os beijos dessa noite.
Therion pegou um travesseiro e bateu no irmão, que apenas riu. Então, ficou de pé.
— Boa noite, Canis.
— Boa noite, Therry.
Assim que o irmão saiu, Canopus deixou Antares na caminha confortável que trouxe para ele de casa e em seguida aconchegou-se em sua própria cama com um dos vários livros que vieram na bagagem. Antes de colocar os óculos no rosto, ele olhou para a cama ao lado.
Por trás das cortinas, Draco ainda permanecia desperto. Ele usou da privacidade das novas cortinas para deixar que algumas de suas lágrimas caíssem livremente, como somente podia fazer trancado em seu quarto quando estava em casa, fraco como era.
Sua atenção saiu de seus próprios pensamentos para os sons ao redor ao ouvir Canopus sair da própria cama e os passos apressados até a sua. Sentou-se bruscamente na cama quando parte da cortina foi aberta pelo Black e secou rapidamente o rosto, encarando-o irritado.
— O que pensa que está fazendo, Black? Vai embora! — Empurrou-o e puxou a cortina, mas novamente Canopus agarrou-a para colocar-se para dentro, apoiando um dos joelhos na cama e a mão que não agarrava a cortina no dossel e encará-lo.
— Não.
— O que você quer, Black? — perguntou rispidamente. — Não pode nem me deixar dormir em paz?
— O que você ouviu da conversa com meu irmão?
— Tudo! Vocês não são nem um pouco discretos. Agora saia e me deixe em paz!
— Esse quarto também é meu.
— Mas a cama é minha! — Draco exclamou irritado e ficou de joelhos sobre o colchão, apoiando-se no dossel também e pegando a cortina novamente, que Black não havia soltado.
E para a infelicidade de Draco, isso os deixou perigosamente próximos.
— Estava chorando? — Canis perguntou de repente, franzindo o cenho.
O rosto de Malfoy agora estava muito mais perto, e ele pôde reparar nos rastros molhados e nas lágrimas que inundavam os olhos já avermelhados de tanto chorar, do mesmo jeito que viu os seus próprios após a conversa com Sirius. A pele também estava mais avermelhada, principalmente nas bochechas e nariz, além das olheiras.
Draco desviou o olhar. Ele havia notado as olheiras e aspecto cansado do Black, apesar de o outro claramente tentar disfarçar e agir como se estivesse bem, como sempre. Contudo, ele tentou focar sua mente nas próprias preocupações. Não tinha porque se importar com Canopus.
E uma de suas preocupações era não demonstrar fraquezas. Não podia deixar que ele o visse chorar, nunca.
— Não — mentiu.
— Acha que vou acreditar?
— Acredite no que quiser.
— Acredito que estava. Okay, você era muito apegado ao seu avô, isso é compreensível até para mim.
— Já perguntou o que queria. Se sua preocupação é se direi algo, saiba que não tenho interesse nenhum em me meter ainda mais em seus problemas.
— Para início de conversa, você entrou nessa porque quis.
— Eu não estou com paciência para discutir com você, Black.
— Continue cuidando da sua vida e deixe que eu e meu irmão resolvamos a questão com nosso novo professor de História da Magia e não teremos porque discutir — Canis falou. — E acredite ou não, já disse que entendo seu luto.
— Então apenas me deixe em paz! — pediu mais uma vez, num tom mais sério, voltando a encará-lo, aqueles olhos tão perto outra vez. — Não é o que você tanto quer? Ficar longe de mim? Estou te dando isso com muito prazer.
Os olhos de Draco encheram-se de lágrimas outra vez, mas ele as conteve com toda a força que tinha. Não podia ser fraco na frente dele.
Ele precisava fazer exatamente o que seu avô lhe disse. Ser forte. Ser o herdeiro Malfoy que nasceu para ser.
Sem desvios. Sem desvios. Sem desvios.
Mas Canopus permaneceu parado ali, analisando-o, os olhos fixos nas orbes azuis tão claras de Draco. Os cabelos platinados não estavam perfeitamente arrumados como de costume, mas bagunçados em um perfeito caos, como Malfoy se encontrava no momento.
Nunca havia visto Draco num estado tão caótico, ainda mais que quando foi a sua casa dias atrás.
A feição de Malfoy fechou-se ainda mais, apertando o dossel com mais força.
— Vai… Embora… — disse entredentes.
— Tudo bem — Canopus concordou, para a surpresa de Malfoy. — Mas saiba que eu entendo muito mais agora, e eu sei que não foi fácil ver ele morrer.
— Eu não preciso que sinta pena de mim. Se você não sair agora… — Draco cravou as unhas na madeira do dossel sem perceber, o sentimento de frustração e irritação crescendo. Sabia que era a única razão para Canopus estar falando aquilo.
Ele não precisava da pena de ninguém.
— Apenas aceite um conselho… Essa dor que está sentindo, não irá embora. Ela só fica mais fácil se você não pensar muito nela, porque se pensar…
Canopus não completou sua frase. Ele apenas virou-se para ir embora, mas então rapidamente sentiu um forte aperto em seu pulso e o corpo sendo puxado de volta bruscamente. A força repentina sobre ele quase o fez desequilibrar-se, mas ele tornou a apoiar a mão no dossel ao sentir o corpo bater contra o de Malfoy, que sairá da cama, e a mão dele em seu pulso subiu para seu braço como apoio, com a mesma força, e a sua livre apoiou-se na cintura dele.
Por muito pouco o ocorrido no anterior se repetiu, mas o ato os deixou ainda mais perto.
— Mas que porra você tá fazendo, Malfoy?
— Como você sabe? — Draco perguntou de volta.
A expressão de Draco havia suavizado quase que totalmente, a irritação transformando-se em curiosidade e desespero, quase súplica, porém ainda naquele estado caótico.
— Como sei o quê?
— Como sabe que eu vi o meu avô morrer? — questionou com a voz falha.
— Os testrálios.
— O-os… O quê? — Draco franziu o cenho confuso.
— Os testrálios. As criaturas que você viu puxar a carruagem… São testrálios.
Draco apertou o braço de Canis com ainda mais força, a outra mão ainda no dossel com as unhas cravadas na madeira. Seus olhos pareceram brilhar, levemente arregalados agora.
— Você também viu?! Você acredita?! Todos… Todos disseram que eu estava ficando louco e não tinha nada.
— Não, eu não vi, mas Harry me disse que você comentou. Ele também achou que você estava maluco, mas eu sei que não — respondeu. — Você estava com seu avô quando ele morreu não estava?
Draco comprimiu os lábios e não confiou em sua própria voz para responder, então apenas balançou a cabeça em confirmação. Não estava crendo que, de todas as pessoas, Canopus era o único que acreditava no que ele viu.
Ele precisou usar toda sua força de vontade para conter o nó em sua garganta e as lágrimas que queriam cair.
— Eles só são visíveis para quem já presenciou a morte. Você viu seu avô morrer… Então agora os vê.
— Então… Sempre estiveram aqui? — perguntou Malfoy num fio de voz.
— Sim, sempre. Acho que a maioria não sabe sobre eles porquem não podem ver. — Canopus deu de ombros. — Mas não é porque você não vê que não há nada lá.
— Devia imaginar que você saberia o que são se acreditasse… Eles são estranhos.
— É, criaturas mágicas são a minha especialidade, Dragãozinho.
Um pequeno e quase imperceptível sorriso surgiu no rosto de Draco, um leve curvar de lábios tão sutil que seria quase impossível notar, mas Canis notou. Assim como também notou as pupilas de Draco se dilatando em meio ao mar de lágrimas contidas.
Malfoy mais uma vez se viu perdido naqueles olhos que não transmitiam nada além de sinceridade. Canis sempre fora muito expressivo, principalmente seus olhos. Como alguém que era ensinado desde cedo a reprimir emoções, Draco conseguia reconhecer bem elas nos outros.
Ele sentia a respiração quente batendo em seu rosto, o duplo batimento cardíaco contra seu peito e o aroma que vinha do Black. Era um misto de terra molhada com pergaminhos e um perfume que vinha provavelmente do shampoo e do sabonete que já lhe era conhecido… Eucalipto talvez.
Perto demais. Perto demais. Perto demais.
— E eu não estou demonstrando pena. Apenas sei como é. Eu revivo essa sensação todas noites em meus pesadelos — Black confessou. — Sirius não morreu, mas por doze anos, depois que eu vi ele sair por aquela porta, foi praticamente o mesmo. Não havia possibilidade de volta.
— Ele voltou. Meu avô se foi para sempre.
— Na maior parte do tempo, eu adoraria que ele não tivesse voltado — sussurrou baixo e devolveu o leve sorriso com um ar triste. — Como eu falei, era bem mais fácil lidar com a dor não pensando nela. Se você pensar sempre no seu avô e na morte dele, você vai continuar chorando escondido na sua cama todos os dias pelo resto do ano.
— Você é ótimo em consolar, pelo visto — Draco retrucou.
— Não estou te consolando e estou sendo realista apenas… Experiência própria. Uma dica do seu futuro Capitão quando eu convencer Dumbledore a voltar atrás sobre o cancelamento dos jogos — disse. — Será que pode me soltar? Vai deixar uma marca forte pra caralho com toda essa força… E mais um pouco e você vai partir esse dossel ao meio.
Draco piscou e abaixou o olhar, soltando o braço do Black. Ele logo percebeu também as unhas cravadas na madeira e que, ao segurar-se no dossel, a mão de Canopus ficou sobre a sua. Ambos tiraram as mãos do local rapidamente.
Malfoy afastou-se bruscamente do Black e sentou-se em sua cama, encarando suas mãos.
— Você é um péssimo apanhador, mas com essa força talvez fosse um batedor minimamente decente — comentou Canopus. — Bom, pode voltar a chorar no seu canto, se quiser. Vai mesmo dormir com esse medalhão?
— Sim, eu vou — Draco retrucou mais friamente, apertando o medalhão em sua mão. — Já não temos mais o que falar. Fique acordado a noite inteira como sempre se preferir.
Sem dizer mais nada, Malfoy recolheu as pernas para a cama e fechou a cortina. Quando Canopus tornou a abri-la, Draco bufou.
— Vá embora, Black! O que mais você quer?
— Como sabe que sempre fico acordado?
— Eu tenho olhos e ouvidos. Se você abrir essa porcaria de cortina outra vez, eu vou te jogar no Lago Negro.
— Eu não sei nadar.
— Apenas vantagens. — Draco fechou a cortina outra vez.
Canopus não voltou a abrir, mas continuou acordado com seus livros, e Draco voltou a chorar, mas dessa vez não por sua estúpida fraqueza.
***
Harry apareceu pontualmente em frente à Comunal da Sonserina.
Therion já o aguardava do lado de fora observando o Mapa do Maroto, sentado no chão e escorado na parede. Potter tirou a capa da invisibilidade, e Black sorriu largo ao vê-lo e verificou a hora em seu relógio.
— Pontual.
— Eu cheguei a pensar que você talvez não viesse, mas resolvi arriscar — admitiu. — Parece que fiz bem.
Therion ficou de pé e segurou o rosto de Harry ao mesmo tempo que ele segurava sua cintura. Ambos sorriram um para o outro e não precisaram de palavras para chocarem seus lábios em perfeita sincronia.
Era um sentimento mútuo de alívio por verem um ao outro ali, exatamente como combinaram. Apenas os dois sozinhos naquele corredor das masmorras.
— Eu vou entender se você não estiver se sentindo disposto para sair — Harry disse.
— Não, eu quero.
— Nós podemos ficar na Torre de Astronomia.
— Nós combinamos um encontro em Hogsmeade, então teremos um encontro em Hogsmeade — Therion falou com convicção. — Depois de tudo, acho que só precisamos relaxar. Regulus ainda estará aqui amanhã.
— Então, esse Regulus aqui terá um encontro em Hogsmeade numa romântica noite de chuva.
— Estando com você, pode cair raios.
Harry sorriu largo e segurou a mão do Black, entrelaçando seus dedos. Utilizaram o Mapa do Maroto para desviar do zelador e utilizar a mesma passagem secreta que usaram no último dia de aula no ano anterior.
Ainda estava chovendo quando chegaram a Hogsmeade, e daquela vez Harry quis usar o Feitiço Guarda-Chuva. Therion ensinou-o a invocar a proteção e sorriu orgulhoso quando conseguiu, abraçando sua cintura em seguida para caminharem juntos.
A chuva não estava tão forte quanto pelo caminho no trem. Enquanto caminhavam, avistaram alguns moradores do vilarejo também utilizando o feitiço, outros correndo. Não estava muito movimentado, mas Hogsmeade ainda continuava com sua beleza mágica de sempre.
— Você… Quer falar sobre o Archie… Bom, Regulus? — Harry perguntou.
— Você quer?
— Imagino que seja algo difícil de não se pensar. Ele é seu tio.
— Papai nunca nos contou muito sobre Regulus. Eu sequer sabia que meu nome era uma homenagem a ele até Sirius me contar — Therion suspirou. — Nem sei muito bem o que pensar. Só sei que precisamos entender como ele sobreviveu e onde esteve.
— E falar pro Sirius. Ele precisa saber!
— Concordo, mas Canis pensa diferente.
Harry revirou os olhos.
— Claro que ele pensa, nada que envolva o bem de Sirius passa pela cabeça dele — resmungou. — Ele precisa saber! É o irmão dele, Sirius sente falta dele.
— Eu sei… Toda vez que Sirius fala dele dá pra ver que ele sente falta.
— Ele se arrepende de não ter ajudado quando Regulus pediu. Se Regulus está vivo, provavelmente é por muito pouco. Isso vai deixar ele aliviado!
— E também doido para correr para cá — Therion disse. — Nisso Canis está certo. Sirius não vai pensar duas vezes antes de vir verificar.
— Acha que os aurores encontrariam ele?
Therion apenas deu de ombros, sem saber o que responder.
— Mas talvez não seja bom arriscar. Nós já teremos uma audiência esse mês.
— Será que ele sabe? — Harry questionou. — Será que ele sabe que o Sirius esteve preso todos esses anos?
— Se ele te salvou na Copa Mundial e se mudou para Londres logo depois, ele com certeza sabe. Está em todos os jornais. Talvez Dumbledore tenha dito a ele. Agora, se ele já sabia antes…
— Ele poderia ter ajudado se soubesse, não poderia? Ele poderia provar que Sirius nunca esteve ao lado de Voldemort.
— Acho que nem se o próprio Voldemort dissesse evitaria a prisão de Sirius. O Ministério não estava preocupado em fazer justiça de verdade… E não está agora. Ele provavelmente mudou de nome para não ser reconhecido e preso também... Ou morto pelos Comensais que se safaram. Eles devem gostar de desertores tanto quanto Voldemort.
— Se ele realmente se arrependeu do que fez e mudou sua forma de pensar quando desertou… Ao menos ele conseguiu recomeçar. Espero que Sirius tenha a mesma sorte quando for inocentado.
— Ele irá. Agora que ele e papai estão sozinhos em casa, talvez já dêem um grande passo para isso.
Therion riu baixo ao lembrar da conversa com o pai e o quanto ele ficou terrivelmente envergonhado por ter que admitir que era apaixonado por Sirius desde a adolescência. Isso foi uma grande surpresa para ele, mas ainda esperava que talvez eles tivessem uma chance.
Remus passou muito tempo sozinho, e Sirius também. E se eles já tinham história antes de Azkaban... Talvez ela revivesse em algum momento.
Na verdade, tudo o que queria era que eles pudessem ser felizes, não importa como. Os dois já haviam sofrido demais.
— Imagina como seria se ele e papai se casassem?
— Acho que Canis iria infartar.
— Ele aprende a superar.
— Seria incrivelmente irônico seu pai biológico e seu pai adotivo juntos — Harry disse. — Sirius me contou a história dele com um amigo...
— Me deixe adivinhar... Um amigo que ele beijou numa festa da Grifinória e de aproximou muito mais depois que minha mãe morreu?
— É! Como... Ah, não!
— É, Harry. Quem sabe tenhamos alguma novidade quando formos para casa nas férias.
Harry riu, enfim percebendo que aquilo fazia muito sentido. Ele chegou a considerar a possibilidade de ser sobre o Remus que ele falava, mas não ousou perguntar tão descaradamente como o próprio fez sobre Therion.
— Eles formariam um belo casal.
— Não fale isso perto do Canis ainda, quero poder esfregar na cara dele — Therion disse.
— Mas eles poderiam se casar? — Harry franziu o cenho. — Aquele italiano do beco diagonal então é o marido do Regulus, mas tipo... Marido de verdade? No papel?
— Sim. Por que não poderia ser?
— No mundo trouxa não pode, é contra a lei.
— Nossas leis são diferentes. Nada impede dois homens ou duas mulheres de se casarem. Só precisam ser maiores de idade e querer isso.
Isso deixou Harry um pouco pensativo, pois aquilo nunca tinha passado por sua mente.
— Ei... Se o Mattias que é o pai trouxa da Stella e é casado com o Regulus, e ele é o pai bruxo dela... Puta que pariu! A Stella é minha prima! — Therion exclamou e riu, apenas naquele momento parando para raciocinar de fato.
— Sim, ela é.
— Talvez seja por isso que nos demos bem com ela logo de cara. Vou tentar conversar com ela, ela com certeza deve saber mais sobre como Regulus viveu nos últimos anos.
— Ela parece legal… Muito fofa, na verdade. Você deu sorte com a sua família.
— Que é a sua família também, não esqueça. Muito mais do que aqueles Dursley.
Harry sorriu bobo, abraçando Therion de lado e escondendo o rosto em seu pescoço, ouvindo a risada leve dele. Adorava quando diziam que ele fazia parte daquela família, porque é exatamente como ele se sentia desde que começou a viver com eles. Quase dois meses ali foram melhores que anos com os tios, talvez até melhor que o mês que passou com os Weasley nas férias após o primeiro ano ou o que passou no Caldeirão Furado no ano anterior.
Ele se sentia muito mais vivo e livre, mais confiante, mais seguro. Não se via mais em qualquer outro lugar. Assim como Hogwarts era seu lar, onde quer que os Black e Remus estivessem, também seria.
Graças a eles, estava conhecendo lados seus que ele próprio desconhecia ou preferia não mostrar, tinha liberdade para ser Harry. Não Harry Potter, o Menino-Que-Sobreviveu, apenas Harry.
— Eu cumpri bem minha promessa desse verão, não cumpri?
— Sim, você conseguiu tornar meu verão muito melhor. Todos vocês conseguiram — admitiu Harry, ainda sorrindo bobo. — O melhor verão que tive.
— E terá muitos outros tão bons quanto. Você voltará para casa conosco ano que vem e podemos ir ao cinema de novo e muitos outros lugares. E terá mais uma festa de aniversário também.
— O que você vai querer de aniversário esse ano?
— Me surpreenda. Tenho certeza que vou gostar — Therion disse e sorriu. — Eu nem sei se ainda vou estar em Hogwarts, então você tem tempo para pensar.
— Você vai estar. Não vou deixar que te expulsem.
— Temos um longo caminho até lá.
— Você tornou meu verão melhor — Harry disse. — Eu prometo tentar tornar esse ano bom para você apesar de tudo, está bem?
Therion parou de andar e olhou para Harry, ficando de frente para ele e encarando os olhos verdes.
— O ano já começou bem caótico — disse.
— Eu sei, principalmente para você e Canis. Na Torre da Grifinória… Já ouvi alguns comentários.
— Eu imaginei.
— Sei que será um ano muito difícil, então essa é a minha promessa. Vocês me salvaram esse verão, quero fazer o mesmo por você — Harry disse e levou sua mão livre ao rosto de Therion.
— Sabe… Você fez isso no ano passado. Teria sido muito pior sem você por perto.
— E farei de novo, eu prometo. Farei o possível que puder para melhorar o seu ano, assim como você melhorou meu verão.
— A cada dia você torna muito mais difícil não me apaixonar, Harry James Potter — Therion sussurrou.
Harry admirou aqueles olhos estrelados, sentindo seu coração bater muito mais forte no peito. Sob a fraca luz de alguns postes, cada detalhe do Black parecia perfeito. Perfeito demais para ser verdade.
Também estava cada vez mais difícil para Potter não se apaixonar perdidamente por Therion Regulus Black.
Harry viu um sorriso bobo surgir no rosto de Therion e o rosto dele corar, os olhos brilhando como nunca. Não precisou pensar muito para perceber que ele havia notado aquele último pensamento, mas não se acanhou por isso.
— Vamos não pensar em nenhum desses problemas que enfrentaremos durante o ano essa noite, incluindo seu tio.
— Tudo bem. Apenas nós dois, hm?
— Apenas nós dois — Harry sussurrou de volta.
E então Potter ignorou toda aquela chuva e o feitiço que os protegia para pular sobre Black e beijá-lo, apertando os braços ao redor de seus ombros. Não pensou que os moradores do vilarejo poderiam ver, nem como as gotas de águas que caíam do céu os encharcou, apenas neles.
— Sabe… Tem mais uma promessa que eu preciso cumprir — Therion sussurrou.
— Qual?
Therion sorriu travesso e ficou de costas, mantendo os braços de Potter ao redor de seus ombro e então abaixando-se levemente e segurando-o pelas pernas. Harry gritou surpreso ao ser erguido e gargalhou, apertando as pernas ao redor da cintura do Black e o braços com mais força sobre seus ombros.
— O que está fazendo? — perguntou rindo.
— Você me carregou ano passado no Beco Diagonal. Eu disse que um dia iria retribuir.
Harry sequer lembrava-se disso, mas a memória o fez sorrir. Naquela época, Therion ainda era mais baixo que ele. Parecia que havia se passado uma eternidade desde então.
Therion começou a correr na chuva pelas ruelas do vilarejo com Harry em suas costas, ambos rindo despreocupados e as poucas pessoas ainda pelas ruas observando. Potter guardou sua varinha e não se preocupou em fazer o feitiço novamente, apenas agarrou-se ao Black e deixou-se, mais uma vez, aproveitar da sensação calorosa de liberdade que explodia dentro de si.
Eles poderiam muito bem acordar resfriados no dia seguinte, mas não se importavam. Estavam juntos vivendo o momento, o amanhã poderia esperar.
— Quer cerveja amanteigada? — Therion perguntou ao se aproximarem do Três Vassouras, parando de correr e respirando ofegante.
— Não precisa perguntar duas vezes.
Harry desceu das costas do Black e adentraram rapidamente o bar onde vários bruxos bebiam e riam. A atenção de alguns ao redor foi para eles e começaram a cochichar entre si, exatamente como em Hogwarts.
Eles seguiram até o balcão onde estava Madame Rosmerta, trazendo um rastro de água consigo pelo caminho.
— Não deveria estar em Hogwarts, menino Black?
— Não poderia começar o ano sem sua maravilhosa cerveja amanteigada, Madame Rosmerta — respondeu escorando-se no balcão e com um sorriso de canto.
— Seis garrafas para levar, por favor — Harry pediu.
Rosmerta riu, virando-se para preparar a bebida. Therion olhou em volta, ainda percebendo os olhares sobre si e isso deixou-os nervoso. Apertou as mãos no balcão e abaixou a cabeça, fechando os olhos. Não estavam apenas curiosos sobre o porquê de dois adolescentes bruxos estarem ali.
Não entendia porque Harry Potter estava ali com um Black.
Harry percebeu e aproximou-se mais, tocando o braço dele delicadamente.
— Hey… Está tudo bem? — perguntou preocupado num tom baixo.
— Minha cabeça… — Levou as mãos as têmporas. — Maldita Skeeter… Todos acreditaram naquela maldita reportagem.
Harry olhou ao redor e fechou a cara ao perceber que muitos dos olhares sobre Therion não eram nem um pouco amigáveis.
Os olhares e pensamentos negativos em sua direção deixaram Black nervoso, e isso apenas fazia sua cabeça doer mais. Todos ali haviam visto a maldita reportagem que acusava a ele e ao irmão de cooperar com o ataque à Copa Mundial de quadribol e acreditaram. Alguns estavam com medo e outros irritados com sua suposta ousadia de estar ali.
Therion respirou fundo, pensando em tudo que aprendeu com Sirius para se controlar em situações como aquela. Manter a calma e o foco… Calma e foco…
— Aceita pequenos projetos de Comensais agora, Rosmerta?
— Esse não é filho do Black? Ele não ajudou naquele ataque a Copa Mundial? O que faz aqui?
— É apenas um menino, seus velhos imbecis! — Rosmerta exclamou. — Calem a boca ou vou dobrar a conta de todos vocês!
Therion puxou os galeões do bolso e jogou sobre o balcão, sem muita atenção, com pressa para ir embora. Voltou a apertar as mãos na cabeça.
— Calem a boca! Não posso nem comprar uma bebida em paz?! — resmungou alto.
— Que feitiço ele jogou em Potter para estar aqui?
— Nenhum, mas eu vou jogar um silenciador em vocês se não calarem a boca! — Harry exclamou irritado de volta.
— Seu Whisky de fogo acaba de triplicar de valor! — Rosmerta falou.
Therion sorriu fraco para a mulher, grato, enquanto Harry pegava as cervejas amanteigadas.
— Obrigado, Madame — Harry disse.
— Voltem para a escola logo. Não é seguro ficarem sozinhos nessa chuva.
Harry segurou a mão de Therion e puxou-o dali. Eles foram pegos pela chuva outra vez, e Potter continuou a puxá-lo para longe, começando a correr para o mais distante possível, na direção para onde ficaram na última vez que foram ao vilarejo e parou apenas ao chegar em uma gruta onde estariam protegidos da chuva.
Therion estava parado, respirando fundo e tremendo, lembrando-se de todos os pensamentos terríveis que conseguiu notar naquele lugar, alguns dos quais sequer conseguiria repetir em voz alta. Lembrou-se também de todo o terceiro ano. Tudo aquilo começaria de novo.
Potter largou toda a cerveja amanteigada e segurou seu rosto, forçando-o a encará-lo.
— Ei, olha pra mim! Está tudo bem agora — disse com calma. — Estamos longe, só nós dois.
— E-eu… Não pensei que tantas pessoas fossem nos reconhecer. Todos acreditaram que eu e Canis…
— Mas vocês não fizeram nada, nem Sirius. Estamos só nós dois aqui, não pense muito nisso. — Harry afastou os fios molhados que grudavam no rosto de Therion e uniu suas testas. — Nosso encontro para relaxar, não é?
— É…
— Então vamos esquecer isso.
Therion apenas balançou a cabeça afirmativamente, rodeando a cintura de Harry com seus braços e abraçando-o fortemente. Estava precisando sentir aquele calor de conforto.
Não poderia correr para Remus ou Sirius agora, nem o irmão, mas tinha Harry ali.
— É por isso que mantenho minha promessa — Harry sussurrou. — Eu vou fazer o que puder para acabar com isso e nos dar um bom ano, está bem?
Therion mais uma vez apenas balançou a cabeça, então encarando Harry sem afastar-se dele. Sorriu fraco.
— Não vamos deixar isso estragar nosso encontro.
— Não vamos — Harry concordou e sorriu de volta, deixando um selinho rápido no lábios do Black. — Não podemos ver as estrelas daqui, mas acho que podemos fazer nossas próprias.
Harry afastou-se e puxou Therion até estarem sentado no chão ao lado de uma parede rochosa. Abriu duas cervejas amanteigadas e acendeu uma luz na ponta de sua varinha, então pegando uma pedra pontuda.
Black observou Potter começar a riscar a parede e desenhar várias estrelas, formando as duas constelações de seu nome. Isso fez surgir um grande sorriso bobo em seu rosto, e ele pegou sua varinha, gravando suas iniciais na parede:
TRB + HJP
Harry também sorriu ao ver.
— Não quero voltar para o dormitório agora.
— Não temos pressa alguma para voltar — Harry disse. — Que tal irmos para a chuva?
— E acordarmos resfriados amanhã?
— Não me importo.
Potter puxou Black para fora, ambos ainda com as garrafas de cerveja amanteigada. Eles beberam um gole da bebida e riram, sendo molhados pela chuva.
— Só faltou ter música.
— Eu posso cantar — Therion disse.
Harry riu quando Black começou a cantar I Was Made For Lovin' You, do Kiss, ao mesmo tempo que admirou encantado. Mesmo com ambos rindo e Therion embolando-se nas palavras com a risada, a voz dele era muito bonita e ele cantava bem.
Potter cantarolou junto e o girou segurando sua mão, então abraçando seu pescoço. Apenas os dois ali, imersos em seu próprio mundo.
E antes que percebessem, estavam se beijando mais uma vez.
Foi como no cinema. Seus lábios se afastavam brevemente apenas para logo estarem colados de novo, de novo, de novo e de novo. A chuva tornava tudo mais molhado e novo, a água fria escorrendo pelos cabelos e seus rostos, ensopando suas roupas. Era uma sensação diferente, mas que gostavam.
Eles gostavam de descobrir sensações novas juntos, apenas eles.
— Você já começou a fazer um ótimo trabalho para um bom ano, Hazz — Therion comentou rindo.
— Qualquer coisa por você, Lobinho.
Therion sorriu bobo e apaixonado. Naquele momento, nada mais importava. No dia seguinte se preocuparia com tio revividos e o caos de sua vida com mentiras sobre sua família se espalhando por aí.
Por uma noite, esqueceu disso. O amanhã pode esperar.
—————————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
E mais um capítulo entre nós! Regulus de volta, muito Deerwolf, stardragon... Tudo de bom!
Sei que estão curiosos sobre Regulus, mas, o amanhã teve que esperar nesse capítulo. Tudo se tornará um grande caos agora, e eu precisei dar a vocês esses pequenos mimos antes de tudo virar de cabeça pra baixo.
Eu estou pensando em fazer uma fanfic sobre a vida do Regulus desde a suposta morte até agora, aguardem.
Espero que tenham gostado!
Não esqueçam de comentar bastante!
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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