XLVI. Denouement
Sirius foi o primeiro a acordar naquele domingo, para sua própria surpresa.
Harry ainda dormia tranquilamente com os cabelos caóticos espalhados no travesseiro e cobrindo seu rosto, totalmente relaxado. Sirius levantou-se com total cuidado para não acordá-lo e voltou a forma humana, alongando os braços para cima.
Black deixou o quarto e seguiu para o de Remus com cuidado, esperando encontrá-lo já acordado. Porém, Lupin ainda estava completamente apagado na cama ao lado de Therion, também em estado de mais profundo sono. A imagem arrancou um sorriso bobo e sincero de Sirius, que ficou um bom tempo apenas admirando os dois.
Com um cuidado ainda maior, ele decidiu verificar Canopus. Abriu uma pequena fresta da porta para ver se estava tudo bem. Colocando a cabeça para dentro do cômodo cautelosamente, ele viu Canis dormindo abraçado ao namorado no beliche inferior, ambos sem qualquer sinal de que acordaram nos próximos minutos. Ele sorriu fraco e rapidamente foi embora, fechando a porta outra vez.
Retornou ao seu quarto apenas para pegar a varinha de Remus sobre a mesa de cabeceira e logo seguiu para a cozinha. Ele respirou fundo e então começou a trabalhar, preparando um grande café da manhã para todos.
Lupin foi o próximo a acordar. Ele deixou Therion adormecido e saiu do quarto, podendo sentir o cheiro da comida antes mesmo de descer totalmente. Adentrou a cozinha bocejando após passar pela mesa quase totalmente pronta e encontrou Sirius despejando a última panqueca sobre um prato.
— Bom dia, Moony! — Sirius sorriu ao vê-lo.
— Bom dia, Pads — Remus sorriu de volta, um pouco sonolento. — Preparou tudo sozinho hoje?
— Você merece um bom descanso. — Beijou o rosto de Lupin quando ele se aproximou. — Aproveitei que estavam todos dormindo.
— Fui dormir um pouco tarde ontem. Conversei bastante com Therion. Você pareceu ter se divertido com o Harry também.
— Nós também conversamos bastante — disse. — Questões pessoais amorosas e tudo mais.
Remus riu.
— Idem — falou. — Você vai precisar me ajudar com oclumência.
— Eu te disse por anos que algum dia isso seria útil.
— Eu deveria ter ouvido a partir do momento que você decidiu chamar o Therion de Regulus.
— Oh, ele está evoluindo de forma brilhante, não é? — Sirius disse orgulhoso.
— Até demais.
Sirius riu e continuou com uma expressão orgulhosa e satisfeita no rosto enquanto agitava a varinha e fazia o prato de panquecas flutuar até a mesa.
Remus gostava de ver o sorriso cada vez mais frequente no rosto de Sirius desde que se aproximou mais de Therion com as aulas de legilimência. Ele rodeou a cintura do Black com um braço e pegou a varinha de sua mão, acenando para a colher que mexia o suco de abóbora parar de se mover.
— Vamos fazer as coisas sem muita magia enquanto estivermos recebendo nosso genro trouxa em casa — disse e guardou a varinha no bolso da calça.
— Não posso fazer muito sem minha varinha, de qualquer forma.
— Nós vamos comprar uma nova no Beco Diagonal quando você for inocentado — garantiu.
— E vamos nos trombar na Madame Malkin de novo depois? — Sirius provocou com um pequeno sorriso de canto, referindo-se ao dia que se conheceram.
— Espero que não. Você me derrubou no chão e amassou alguns dos meus livros naquele dia.
— É… Não causei uma boa primeira impressão.
— Com certeza não — Remus riu.
— Mas você estava tão lindo, Moony… — Sirius suspirou.
Remus sorriu tímido e corou.
— Eu tinha acabado de ganhar uma nova cicatriz no rosto na lua cheia.
— As cicatrizes são o seu charme — Sirius disse e segurou o rosto de Lupin entre as mãos. — Ainda estava perfeito e continua assim. Adoro todas elas. — Beijou a ponta do nariz de Lupin.
— Parece que acordou mais animado hoje.
— Estou me sentindo muito bem essa manhã — Sirius admitiu. — Foi realmente muito bom conversar com Harry ontem, senti que me aproximei muito mais dele e o ajudei da melhor forma que pude.
— Gosto de te ver assim. Tenho certeza que Harry também vai estar se sentindo ótimo.
— Em uma semana já não terei mais eles por perto… — lamentou. — Gostaria de ter aproveitado mais.
— Ainda teremos muito tempo com eles. E eles precisam estudar — Remus o consolou. — Eles estarão bem e seguros.
— E você trabalhando o dia inteiro…
Remus suspirou. Entendia o quanto devia ser difícil para Sirius estar preso na própria casa e se ver sozinho após tantos anos em Azkaban.
— Therion disse que fará mais Polissuco em Hogwarts e vai enviar pelo correio coruja. Ainda restou um pouco, então, poderemos sair um tempinho em alguma das minhas folgas em setembro, o que acha? — sugeriu.
Os olhos de Sirius brilharam, e ele sorriu, assentindo freneticamente com a cabeça.
— Vai ser algo rápido enquanto não tivermos mais, mas…
— Sim, sim! Tudo bem! — Sirius concordou e abraçou os ombros de Remus, que riu e apertou ambos os braços em torno de sua cintura. — Só de poder sair com você já está bom. Que tal a sorveteria?
— Certo. — Remus sorriu fraco, uniu sua testa a de Sirius. — No seu aniversário podemos sair para algum lugar um pouco mais longe por mais tempo, hm?
— Meu aniversário?
Sirius franziu o cenho e afastou o rosto do de Remus. Ele não pensava em seu aniversário há muito tempo. Perdeu boa parte da noção do tempo em Azkaban para se importar com os anos se passando e sua idade. Sua prisão ocorreu pouco antes que completasse 23 anos.
Ele sequer percebeu seu primeiro aniversário fora de Azkaban passar, escondido na Casa dos Gritos e planejando capturar Pettigrew. Na realidade, sua única marca de tempo eram os jogos de quadribol e o esvaziamento da escola nos feriados, que sempre ocorriam, obviamente, na mesma época todos os anos. Foi como percebeu a chegada do Natal e programou a entrega do presente dos filhos e do afilhado, inclusive.
Não estava pensando em seu aniversário. Sequer esperava fazer algo de muito diferente nesse dia. Não parecia mais ter a mesma emoção de antes.
— Faltam pouco mais de dois meses. Já teremos mais poção e poderemos comemorar.
— Não precisa, Remmy. Depois de tanto tempo… Nem me importo em comemorar.
— Pensei que gostaria.
— Adoraria, mas também não faço tanta questão disso. Não precisa planejar nada demais. Só estar com você é o suficiente.
Remus suspirou. Ele não insistiu. Era compreensível que depois de tantos anos preso Sirius não visse mais a mesma grandiosidade em seu aniversário como antes.
Mas depois de conversar com Therion, sabia que ele estava certo em algo. Deveria continuar tentando e seguindo em frente, sem medo. Queria aproveitar mais momentos com Sirius, o máximo que fosse possível.
— Nós veremos quando estivermos mais perto — disse. — Mas você não vai impedir que eu compre um presente. — Depositou um beijo rápido sobre a testa do Black e se afastou.
Sirius balançou a cabeça em concordância.
— Padfoot — Remus disse olhando para a entrada da cozinha e sinalizando com a mão.
Black rapidamente assumiu a forma de cachorro. Alguns instantes depois, Harry e Elliot adentraram a cozinha sonolentos.
— Bom dia — disseram.
— Bom dia! — Remus cumprimentou com um sorriso doce. — Dormiram bem?
— Sim — Harry disse.
Elliot apenas forçou um sorriso e maneou a cabeça.
— Dormi um pouco mais que o costume. Meu pai sempre me faz acordar cedo nos fins de semana.
— É domingo, tudo bem dormir um pouco mais. Vamos ver esses curativos.
Remus foi até o garoto e o guiou até a sala, deixando Harry e Padfoot na cozinha. Buscou seus materiais de curativos e começou pelos do rosto.
— Obrigado de novo por tudo, Sr. Black — Elliot disse.
— Pode me chamar de Remus. E não precisa agradecer — Remus falou. — Conte com minha ajuda sempre que precisar.
— Sempre foi difícil... Mas nunca pensei que teria que fugir por uma semana da minha própria casa... — lamentou.
— Eu sei muito bem como é. Conheço pessoas que passaram por situações semelhantes...
— E como estão?
— Só tenho contato com um, e o que posso dizer é que sair de casa foi a melhor opção para ele.
— Serão dois longos anos até eu ficar de maior e poder ir embora de verdade, então.
— Você não está sozinho, okay? Ajudarei a encontrar um jeito de você ficar bem.
Elliot sorriu fraco. Era bom para ele ouvir aquilo.
Canopus e Therion acordaram um tempo depois. O gêmeo mais velho rapidamente foi até o namorado, abraçando sua cintura com cuidado e o cumprimentando com um selinho rápido. O mais novo procurou por Harry após cumprimentar o pai e o cunhado, então abraçando-o pelos ombros ao encontrá-lo na cozinha, ainda um tanto sonolento.
Potter sorriu para ele e beijou seu rosto.
— Bom dia, lobinho — disse.
— Bom dia — Therion murmurou com a voz baixa e rouca de sono, afundando o rosto nos cabelos de Harry. Ouviu um latido em seguida. — Bom dia para você também, Padfoot.
— Você parece que ainda está dormindo.
— Talvez um pouquinho. — Sinalizou com os dedos indicador e polegar, sem soltar outro braço dos ombros de Potter.
— Vamos comer tomar café da manhã.
Harry segurou levemente a cintura do outro e o guiou até a mesa, onde sentaram-se lado a lado. Canis sentou-se a frente junto de Elliot e Remus, enquanto Padfoot permaneceu sentado no chão abanando o rabo como um bom cachorro.
— Fez bastante coisa hoje, pai — Canopus comentou.
— Acho que Padfoot fez a maior parte do trabalho, na verdade — Remus disse e olhou para o cachorro. — Não foi, Pads?
Ele latiu em resposta.
Todos saborearam o café da manhã, o sono indo embora aos poucos. Quando os garotos subiram para trocar de roupa, Sirius voltou a sua forma para comer, não demorando a voltar a forma de cachorro em seguida.
Canopus rapidamente alimentou Bicuço enquanto Elliot tomava um banho e retornou ao quarto. Emprestou roupas suas a ele, que ficaram um pouco justas por ser mais alto, mas não reclamou.
Therion resolveu ficar assistindo Harry pintar sua tela para evitar o casal, embora Potter não permitisse de forma alguma que ele visse o que estava pintando. Admirava-o sentado na cama com um de seus livros aberto no colo, seus pensamentos vagando entre a história da obra e o quão lindo Potter estava concentrado na tela com uma mancha de tinta verde no rosto.
Quando Potter jogou o pincel no pote com água e cobriu a tela novamente, Black rapidamente fechou seu livro.
— Está ficando satisfeito com a pintura?
— Um pouco... Ainda faltam muitos detalhes. Acho que só vou terminar em Hogwarts.
— Vou poder ver? — perguntou ansioso, arrastando-se mais para a beirada da cama.
Harry assentiu com a cabeça e sentou-se ao lado dele, com as bochechas coradas.
— Você verá — confirmou.
— O que conversou com Sirius ontem? Quando eu voltei para o quarto, os dois já estavam dormindo e tinha um monte de embalagens de chocolate.
— Algumas coisas... — disse e sentiu o rosto corar. — Ele estava me ajudando. Dormi me sentindo bem mais... Leve.
— Papai também me ajudou bastante e descobri algumas coisa bem intrigantes.
— Eu descobri que meu pai namorou o seu tio.
Therion encarou-o surpreso e franziu o cenho.
— Tio Killian?!
— Não, o Regulus. Ele namorou o irmão do Sirius.
— Wow... Por essa eu não esperava — Therion disse, pensativo. — Isso explica porque você acha a maioria dos desenhos do seu pai parecidos comigo.
— Eles namoraram por dois anos, até Regulus se tornar Comensal da Morte.
— A decisão que arruinou a vida dele, pelo que vemos. O que você está sentindo sobre isso?
— Fiquei surpreso, obviamente — Harry disse. — Mas também fiquei feliz por... Por ver que de alguma forma meu pai me entendia.
— Oh, por que você está perdidamente apaixonado pelo irmão do seu melhor amigo? — provocou o Black, sorrindo de canto.
Harry empurrou-o levemente com o rosto vermelho, ouvindo Therion rir ao cair deitado de costas sobre o colchão.
— Você não está? — Therion ergueu o tronco apoiando-se nos cotovelos.
— Por um acaso, eu tenho um amigo que tem um irmão gêmeo que gosto muito que também é meu amigo — Potter falou.
— Muito quanto?
— Me refiro a sobre gostar de garotos em geral também. É confortante saber que meus pais eram como eu.
Therion sorriu levemente.
— Eu entendo. Me senti igual na primeira vez que conversei com papai sobre isso.
— Eu nunca tive com quem conversar antes de vocês. Conversar com Sirius foi... Incrível. Como foi com Remus?
— Ontem com certeza tive uma das conversas mais divertidas com meu pai — Therion riu. — Papai já sabia que eu estava falando de você em menos de dois minutos de conversa. Não somos nem um pouco discretos.
— Estava falando sobre mim com o Remus?
— Estava — admitiu, corando levemente. — E você falou sobre tal irmão gêmeo lindo do seu amigo que você gosta tanto que também é seu amigo?
— Não me lembro de falar "lindo".
— Nós dois sabemos que ele é.
— O mais lindo de todos — Harry disse com um pequeno sorriso ladino. — E sim, eu falei. Foi bastante constrangedor quando percebi que Sirius sabia o tempo todo quem era.
Therion riu, conseguindo imaginar perfeitamente a cena.
— Mas ainda me ajudou muito a entender um pouco mais sobre o que sinto e quero com ele.
— E o que você quer, hm? — indagou arqueando a sobrancelha, mantendo o sorriso de canto por entre os lábios.
— Nesse momento? Adoraria que ele me beijasse — Potter respondeu apoiando-se em uma das mãos sobre o colchão.
Oh, ele estava morrendo por dentro. Mas a sensação de liberdade com o Black era indescritível. Ainda estava refletindo bastante tudo o que conversou com o padrinho, porém algo que ele tinha certeza era de que estava tudo bem querer tanto estar daquela forma com um amigo e que isso não significava o fim de tudo. Estava tudo bem aproveitar o momento.
E ver aquele sorriso e o brilho naqueles olhos enquanto Therion estendia uma mão até seu rosto, afastando os fios de sua face e acariciando sua bochecha... Aquilo valia a pena. Valia muito a pena tentar.
Harry sorriu bobo após o Black juntar seus lábios em um selar breve. Ele não demorou a selá-los novamente, segurando a mão que estava em seu rosto e entrelaçando seus dedos.
— Quando quiserem ficar de amassos, lembrem de fechar a porta, por Merlin!
— Canis! — os dois resmungaram ao mesmo tempo.
Harry afastou-se de Therion, que rapidamente sacou a varinha e fez dois travesseiros voarem na direção do irmão gêmeo.
— Ei! Sem magia enquanto Elliot está aqui.
— Por que não vai ficar aos amassos com seu namorado, então?
— Eu estava, mas a irmã dele acabou de chegar para trazer algumas coisas pra ele, e eles estão conversando lá embaixo. Elliot quis um pouco de privacidade — respondeu. — Vejo que estão ocupados, então vou ficar com o Antares.
— Pode ficar, Canis. Já está aqui. — Harry suspirou.
— Ah, não, podem continuar.
— Entra logo, Canis!
Therion jogou-se deitado na cama novamente, suspirando. Canis ficou ao seu lado.
— Então, o que estavam fazendo antes de eu presenciar tais cenas de amor?
Harry chutou o amigo de leve, que apenas riu. Therion deitou a cabeça em seu colo, então começou a acariciar os cabelos dele com uma mão, enquanto se apoiava no colchão com outra.
— Conversando sobre uma nova descoberta.
— Qual?
— Tio James namorou o irmão mais novo do Sirius.
— O quê?!
— Fiquei tão surpreso quanto você — Harry disse.
— E como essa conversa terminou em vocês dois se beijando?
— Não te interessa — os dois responderam ao mesmo tempo.
— Eu conversei com Sirius ontem, e ele me contou algumas coisas, como isso — Harry contou. — E soube também que minha mãe namorou uma garota antes do meu pai. Acho que se chamava Mary.
— Mary Macdonald? Oh, papai recebeu o convite do casamento dela — Canis comentou.
— Sério?
— Sim, mas nós não fomos. Foi quando pegamos febre de dragão, mas não acho que iríamos de qualquer forma.
— Nós nunca conhecemos nenhum amigo do papai da época de escola.
— Porque todos morreram, caso tenha esquecido — Canis lembrou.
— Alguns ainda sobreviveram, não seja tão mórbido.
— E a maioria não está em condições muito favoráveis.
Therion suspirou, não tendo mais como discutir.
— O que Elliot está conversando com a irmã? — Harry mudou de assunto.
— Espero que sobre como acabar com os pais deles — Canis respondeu.
Um tempo depois, Padfoot surgiu na porta latindo, chamando-os. Os três levantaram-se e o seguiram para ver o que seria.
Na sala de estar, Elliot estava abraçado a irmã mais velha no sofá, chorando, ela também com lágrimas nos olhos, enquanto Remus distraía o bebê dela não muito longe com uma bola vermelha.
— Oh, ele realmente chamou — ela riu observando o cachorro ir até Remus.
— Eu disse — Remus falou, vigiando o bebê engatinhar para Padfoot.
— Qual de vocês dois é o Canopus? — perguntou apontando para os gêmeos.
Therion, Harry e Elliot apontaram para Canis, que também ergueu a mão. Ele se aproximou devagar.
Ester se afastou do irmão e ficou de pé, então abraçando Canopus e pegando-o de surpresa. Ele não soube como reagir, arregalando os olhos na direção do namorado, que apenas riu baixo enquanto tentava secar suas lágrimas. Acabou por retribuir o gesto, sem jeito.
— Obrigada por ser tão bom para meu irmão — ela falou.
— Não precisa agradecer.
— Eu precisava — disse se afastando. — Elliot me contou que em alguns dias você voltará para o internato na Escócia. Precisava dizer.
Canis sorriu fraco.
— Elliot também me fez bem. Muito mais do que imaginam — falou. Ele sempre foi seu refúgio fora de casa, assim como soube que também era o dele.
— Ele sorri tanto quando fala de você que eu sempre desconfiei.
— Ester! — Elliot exclamou.
— Enfim... Nem sei como agradecer por ajudarem o Ellie. Obrigada mesmo por estar aqui por ele.
— Só estou sendo um bom namorado.
Ester riu baixo e secou suas lágrimas.
— Eu tenho tentado proteger Elliot, mas nossos pais estão realmente complicados ultimamente. Nosso pai sempre... Sempre foi muito duro com ele por não ser exatamente como esperava que fosse. E ontem... — Ela fez uma pausa e respirou fundo. — Ele não está seguro lá e agradeço de coração que ele esteja em segurança aqui, por enquanto.
— O que vão fazer depois que eu for embora? — Canopus perguntou preocupado.
— Eu estou contatando nosso tio em Gales — respondeu. — Faz anos que não falamos com ele, nunca se deu muito bem com nosso pai, mas ele gosta de nós e disse que as portas estão sempre abertas. Acho que é o melhor lugar para Elliot agora, eu irei com ele como sua responsável por um tempo. Não posso mais deixar ele aqui.
— Elliot disse que estava tentando juntar a mesada para ir pra Gales quando fizesse 18 anos.
— É, e esse idiota não me disse nada. Se eu não tivesse voltado pra casa depois que meu marido foi pro exército... Ah, Elliot, você é realmente um idiota.
— Você que é.
— Bom... Talvez. Eu ainda vou voltar para ficar de olho no Ethan, mas Elliot ficará em Gales.
Canopus olhou na direção do namorado e sorriu de leve. Sabia que aquilo era realmente o melhor, e ficava muito mais tranquilo de saber que ele estaria seguro.
— Realmente nenhum de nós estará aqui ano que vem — Elliot murmurou.
— Eu prefiro que você esteja seguro do outro lado do mundo e nunca mais ter notícias do que saber que está naquela casa — Canis disse.
Elliot ficou de pé e o abraçou, sem conseguir conter as lágrimas. Ester sorriu observando os dois.
— Ainda faltam algumas semanas para receber o dinheiro do auxílio para família de militares, mas juntando o que ainda tenho e o que Elliot economizou, podemos comprar as passagens de trem para Gales.
— Eu compro as passagens — Canis disse rapidamente.
— Hã? Não! Não, eu... — Elliot se afastou e tentou recusar.
— Sem modéstia agora. Guarde o seu dinheiro para você começar sua vida lá e garanto que aquela coisinha ali deve gastar muito — disse apontando para o bebê que ria brincando com Padfoot. — Eu pago as passagens para Gales.
— É... Muita gentileza — Ester falou.
— Nós queremos ajudar — Remus disse e sorriu orgulhoso para o filho. — Eu sei como cada moeda pode contar. Poupem esse dinheiro.
— Garanto que o valor das passagens não vai fazer falta na herança que recebemos — Canopus disse.
— Muito obrigada. Sério... Vocês são mesmo incríveis.
— Você não precisa, Canis...
Canis segurou o rosto de Elliot entre as mãos e o beijou.
— Mas eu quero — disse, abraçando o pescoço do namorado. — E ninguém pode impedir Canopus Black de fazer o que quer.
***
Apesar da previsão de ida, Ester insistiu que Elliot ainda fosse a escola para não perder tanto conteúdo até conseguir entrar em uma nova escola após a mudança. Então, pela última semana juntos, Canopus se comprometeu a acompanhá-lo até a escola e buscá-lo todos os dias.
Na segunda-feira, todos os alunos parados em frente aos portões e que adentravam o pátio voltaram os olhares e começaram a cochichar ao verem os dois chegarem juntos ainda com as marcas da briga.
— Oh, isso vai ser uma tortura — Elliot choramingou.
— Se alguém te fizer alguma coisa, me fala — Canis pediu.
— Eu consigo me defender.
— Mas ainda quero que me diga.
— Tudo bem — concordou e suspirou. — Até mais tarde.
— Até.
Canopus observou Elliot entrar e então lançou um olhar mortal para as pessoas que encaravam antes de seguir o caminho de volta para casa.
Mais tarde, como prometido, Canis retornou para buscar Elliot. Ficou parado na entrada com as mãos enterradas nos bolsos da calça, as cicatrizes nos braços expostas pelas mangas curtas de sua camiseta. Quando os alunos começaram a sair, e recebeu muitos olhares, mas manteve a expressão dura no rosto.
Cruzou os braços e suspirou, aguardando. Após alguns minutos, avisto os dois garotos que acompanhavam Jake naquele dia. Rapidamente sentiu o corpo ferver de raiva, encarando-os furiosamente. Eles olharam em sua direção e começaram a cochichar, parados afastados junto a outros garotos.
Quando viu Elliot se aproximar, imediatamente a carranca em seu rosto foi substituída por um sorriso.
— Você realmente cumpre com o que diz.
— Sempre, meu bem. — Sorriu de canto. — Nunca duvide da palavra de um Black. Aliás, como foi seu dia?
— A maioria me deixou em paz hoje. E acho que não adianta mais eu tentar esconder — respondeu. — Estou conhecido como o garoto gay que namora um cara barra pesada filho de um mafioso. Acho que a surra no Jake e essas cicatrizes ajudaram na história.
— Johnny com certeza contribuiu... A maioria? O que a minoria fez?
— Os comentários de sempre... E meu ex resolveu lembrar que eu existo. — Deu de ombros.
Canis fechou a cara imediatamente.
— O que ele fez?
— Fingir que se importa. — Revirou os olhos. — Não importa agora. Vamos para sua casa.
— Ele estuda aqui? Quem é?
— Você não vai bater nele.
— Apenas se for estritamente necessário.
— Canis!
— Apenas gostaria de marcar bem o rosto dele.
Elliot arqueou a sobrancelha desconfiado.
— Com o seu punho?
— Você sabe que eu adoraria, mas posso me controlar.
— O nome dele é Aaron, e ele está olhando pra cá conversando com os amigos do Jake nesse exato momento. O com a bicicleta — disse. — Todo mundo está olhando na verdade.
Canopus olhou naquela direção, percebendo o garoto descrito realmente olhando na direção deles. Ele assumiu sua melhor expressão fria e prepotente enquanto sorria de lado e acenava.
— O que você tá fazendo? — Elliot perguntou abaixando a mão dele.
— Mostrando que o conheço — disse e enlaçou seus dedos segurando a mão do garoto. Elliot arregalou os olhos. — Já que aparentemente todos sabem, não vai fazer mal segurar sua mão. Vamos pra casa.
Os dois caminharam juntos de volta. Pelo resto do dia, eles ficaram na sala de estar abraçados com Padfoof, Therion e Harry até Remus voltar do trabalho.
Quando estava próximo do horário de Remus voltar, Canis chamou o namorado até o quarto para que não visse o pai saindo pela lareira, como fora combinado de fazer para esconderem o fato de serem bruxos.
— Só quero ficar sozinho com você, hm? — Canis disse abraçando o pescoço dele. Não era uma mentira total. — Aproveitar a última semana para guardar boas lembranças, lembra?
Elliot riu, acreditando.
— Lembro.
— E eu garanti que cuidaria bem de você para sua irmã. Isso inclui te mimar. — Beijou o rosto do garoto e então sua boca.
— Não é justo que só você faça isso.
— Não precisa cuidar de mim. Eu estou muito bem.
— Você teve muitos pesadelos essa noite.
— Já estou acostumado com eles. Estou bem.
— Pode me contar, se quiser.
Canis forçou um fraco sorriso, afundado os dedos nos cabelos do outro.
— Sua vida já é complicada o bastante sem os meu próprios problemas — murmurou. — Você está melhor sem saber. Não vou te envolver nisso.
— Aspectos complicados da sua vida?
— Aspectos complicados da minha vida — riu baixo. — E você tem me ajudado mais do que imagina a lidar com eles.
Elliot abraçou sua cintura e lhe deu um selinho rápido, sorrindo fraco em seguida.
No dia seguinte, Canopus mais uma vez acompanhou o namorado na ida até a escola. Novamente receberam olhares, e ele tratou de devolver todos. Não se importava que tivessem medo dele se isso fizesse deixarem Elliot em paz.
Na hora de buscar, Harry e Therion decidiram ir junto e Padfoot os acompanhou.
— Eles provavelmente vão pensar que somos uma gangue de valentões agora — Harry disse.
— Uma gangue e seu cão de guarda — Therion riu.
Padfoot latiu, abanando o rabo.
Então Elliot saiu pelos portões caminhando apressado. Canis franziu o cenho pela pressa dele.
— O que aconteceu, Elliot? — perguntou rapidamente.
— Agora que Aaron pareceu lembrar da minha existência, não me deixou em paz o dia inteiro. — Suspirou. — Primeiro, finge que não existo um ano inteiro, agora paga de ciumento e protetor. E eu ainda chorei por aquele infeliz por quase um mês.
— Oh, nós podemos resolver isso — Therion falou. — Já estamos encrencados mesmo.
Padfoot latiu.
— Só quero ir embora.
Eles foram embora, mas os garotos não deixaram o assunto quieto. Enquanto Elliot tomava banho antes de dormir, eles se reuniram no quarto do Potter.
— Se vocês usarem magia de novo contra alguém, apenas vai piorar a situação — Harry disse.
— Uma pegadinha com um trouxa pra quem já está na merda, não vai fazer muita diferença — Canis disse. — Só quero fazer algo com aquele babaca.
— Posso preparar alguma poção pra ele.
— Isso tecnicamente se enquadra em magia, lobinho.
— Tecnicamente, não. É uma poção, não feitiço.
— Que tal algo leve ao nível trouxa? — Harry sugeriu. — Quem desconfiaria de um bruxo com simples pegadinhas trouxas?
Os gêmeos ponderaram, enquanto Harry exibia um sorriso travesso.
— Adoro quando sua mente de Maroto entra em ação, Mini Prongs — Therion disse e abraçou os ombros de Harry.
— Sem beijos na minha frente, obrigado.
Na manhã de quarta-feira, último dia deles antes de irem para Hogwarts, os três garotos acompanharam Elliot até a escola daquela vez, podem Harry sob sua capa de Invisibilidade sem que ele soubesse. Avistaram Aaron novamente conversando com os amigos de Jake que também atacaram Elliot e Canopus.
Elliot agarrou o braço de Canis e lançou-lhe um olhar, dizendo que estava tudo bem. Black não deixou que fosse ainda, temendo que o garoto fosse atrás ao vê-lo encará-los.
— Hoje é nosso último dia. Posso querer aproveitar cada minuto, hm? — Canis disse.
— Meu irmão tem estado carente demais — Therion riu.
Escondido sob a capa, Harry abriu discretamente a mochila de Aaron, onde colocou alguns dos ratos que serviriam de comida para Bicuço e Antares.
— Que barulho é esse?
Harry afastou assim que eles se viraram por ouvir algo. Aproveitou a distração para também esconder algo no bolso lateral.
Depois que todos os alunos entraram, os gêmeos apenas aguardaram enquanto, escondido sob a capa, Harry furava os pneus da bicicleta do garoto. Ele então saiu de debaixo da capa quando não viu mais movimento na rua.
Os três começaram a gargalhar e voltaram para casa. Mais tarde, eles foram novamente junto de Padfoot buscar Elliot.
— Acreditam que Aaron foi suspenso? — comentou rindo.
— Sério? — os três exclamação surpresa.
— Parece que ele tava planejando alguma brincadeira idiota com ratos na mochila. Quando revistaram as coisas dele, acharam também um canivete.
— Que idiota — Canis disse.
— Bom que isso o fez me deixar em paz. Só saiu da diretoria agora.
Ele olhou para trás. Viram o garoto pegar sua bicicleta parecendo bastante estressado, mas mal subiu nela antes de perder o controle e cair. Todos os alunos em volta na saída riram.
— Os pneus estão murchos. — Elliot franziu o cenho e então encarou os três. — Vocês têm algo a ver com isso, não têm?
Eles apenas deram de ombros. Elliot riu. Infelizmente, ele não foi o único a ter essa dedução.
— Foram vocês!
— Nós o quê, Aaron? Esquecemos de encher os pneus da sua bicicleta? — Elliot rebateu.
— Estão furados! Não estavam hoje de manhã.
— Problema seu. O que você quer? Não lembrou de mim por um ano, pode me esquecer de vez e me deixar em paz.
— Jake teve uma concussão por causa dele! — exclamou apontando para Therion. — E está no hospital com uma alergia horrível.
Padfoot imediatamente começou a rosnar ao ver o garoto se aproximar dos filhos. Ele deu passos para trás, com medo,mas não foi embora.
— Gêmeo errado, meu caro — Harry disse.
— Tanto faz!
— Jake estaria muito bem se não tivesse atacado primeiro — Canopus revidou. — Ele e aqueles filhos da puta com quem você estava conversando bateram no Elliot e ainda os defende?!
— Eles...
— Eles me atacaram o ano inteiro! — Elliot exclamou. — O ano inteiro, e você não fez porra nenhuma. Mas ele... — Apontou para Canis. — Por dois meses, ele fez muito mais por mim que você em todo o tempo que fomos amigos e estivemos juntos. E muito bem feito para o Jake. Quer continuar com medo? Continue! Por que diabos só resolver falar comigo agora?
O garoto olhou mortalmente para Canopus, que rapidamente revidou.
— Vai ficar calado? Okay, vamos embora.
— Ei! Espera! — ele agarrou o braço de Elliot.
Os gêmeos e Harry deram um passo para reagir, mas assim como na briga, Elliot foi mais rápido. Ele deu uma cotovelada forte no estômago do outro e se soltou.
Padfoot continuou a rosnar raivoso e começou a latir. Aaron cambaleou assustado com a mão sobre o estômago sob os olhares de outros.
— Que merda de cachorro gigante é esse?!
— Esse é o Padfoot, e ele está avisando que é melhor se afastar se quiser manter suas mãos no corpo — Therion falou. — Sua sorte é que nós e Elliot já iremos embora amanhã, então essa é sua última chance de ser burro e continuar nos incomodando.
— Ele já quebrou o pé de um amigo meu. Você não vai gostar de ver o que mais ele pode fazer — Harry disse tranquilamente.
— Você vai embora?
— Graças a Deus! E você já pode ir aproveitar sua suspensão. — Elliot acenou e enlaçou o braço ao de Canopus enquanto se viravam para ir embora.
Padfoot deu um último latido antes de seguí-los.
— Acho que falarão de nós até o Natal.
— Deixar a cidade em grande estilo. Isso é ser um Black! — Canopus sorriu.
— Você fez um ótimo trabalho, Padfoot! — Elliot acariciou a cabeça dele.
— Deu pro gasto.
— Não conte nada ao nosso pai — Therion pediu. — Ele já vai receber cartas o bastante sobre nossas encrencas na escola.
Elliot riu e fez um sinal como se fechasse a boca com um zíper.
— Por que não me disse que comprou minha passagem para amanhã? — perguntou a Canopus.
— Era seu presente de aniversário. Estava até planejando fazer um bolo com Therion e Harry para hoje a noite.
— Sério?!
Canopus assentiu. Elliot riu e pulou feliz, abraçando-o.
Mais tarde, eles realmente fizeram um bolo. Harry e Elliot fizeram a maior parte do trabalho, mas os gêmeos também ajudaram, e Padfoot ficou o tempo todo se apoiando na bancada para roubar algum ingrediente e passeando alegremente pela cozinha.
Depois de limparem a cozinha, eles se reuniram na sala de estar, assistindo a um filme, quando Canis acabou adormecendo deitado sobre o peito do namorado no sofá por pouco mais de uma hora. Novamente, quando chegou próximo o horário de chegada de Remus, ele o tirou da sala de estar.
Sirius também aproveitou o momento para beber uma dose de Polissuco para simular uma recém chegada de Anthony a residência pelas próximas quatro horas e passar aquele último jantar em forma humana com todos reunidos.
Convidaram os irmãos de Elliot também para o jantar, mas apenas Ester compareceu com o filho. Enquanto a comida não estava pronta, os irmãos Black enfrentavam os irmãos Baker em uma fervorosa batalha com um baralho trouxa jogando em dupla.
Remus deixou a cozinha por um momento e sentiu o coração aquecido com a cena, vendo a alegria rara que contaminava a sala de estar. Porém, enquanto Harry assistia e ria a batalha entre as duplas de irmãos, o que mais chamou sua atenção foi a visão que teve de Sirius segurando de pé o bebê de pouco menos de um ano de Ester, ajudando-o a caminhar por toda a sala exatamente como fazia com os gêmeos.
Mesmo com outra aparência, ele conseguia ver o brilho de Sirius naquela cena. Inexplicável, mas ele via isso.
Após o jantar, chegou a hora do bolo. Canis acendeu as dezesseis velas na cozinha com sua varinha longe das vistas de todos antes de levá-la até a mesa e sentar-se novamente ao lado de Elliot. E depois que apagou todas elas, ele o abraçou e beijou seu rosto.
— Obrigado — Elliot sussurrou para ele.
***
Canopus queria poder dizer que sua noite se encerrou de forma maravilhosa após aquele dia, mas seria uma enorme mentira. E ele realmente queria muito ter uma.
Infelizmente, aquele dia incrível e estar dormindo ao lado de Elliot não o impediu de ter pesadelos outra vez. Novamente sonhando com sua mãe e com Sirius, mas dessa vez muito mais confuso.
Ele acordou num pulo sentindo um aperto forte em seu peito e respirando fundo, como se tivesse acabado de levar uma facada na coração.
— Canis...
— Pode continuar dormindo — sussurrou.
Elliot voltou a dormir logo, mas Canopus não. Ele sabia que não conseguiria mais de forma alguma.
Ele se levantou com cuidado e pegou outro cobertor, enrolando-se nele antes de sair do quarto, pronto para sua rotina da madrugada.
Permaneceu encolhido no sofá envolto em seu cobertor enquanto lia o diário de sua mãe, ponta da varinha acesa iluminando o caderno e usando os óculos dela. Ele nunca seguia uma linha contínua na leitura, apenas buscava momentos avulsos e começava a ler tentando imaginar ela em diferentes momentos da vida em meio aos acontecimentos relatados.
Era um conforto ler depois de sonhar com ela, o que tem acontecido com cada vez mais frequência.
Lendo descobriu que Karina era uma das melhores alunas de Adivinhação e suas matérias favoritas eram Poções, Trato das Criaturas Mágicas e Feitiços. Ela obteve 11 NOM's e 9 NIEM's com as notas entre as melhores da turma. O time de quadribol da Corvinal ganhou a Taça do Campeonato entre Casas em seu primeiro ano como capitã, no quinto ano letivo, por um placar memorável de 360 contra 340 da Sonserina, mesmo tendo perdido o pomo, capturado por seu tio Regulus após uma manhã inteira e início de tarde de jogo.
Algumas das ideias e táticas de quadribol dela foram anotadas, todas magníficas. Canopus com certeza as levaria para o campo quando se tornasse capitão.
Soube que Karina deu um tapa em Sirius após descobrir a pegadinha com Snape, o que foi bastante satisfatório. Ela havia ficado furiosa. Páginas depois, na época de seu último ano, ela disse como estava surpresa que Sirius realmente parecia ter amadurecido e podia ser divertido e engraçado, embora ainda o descrevesse como "um grande eejit metido". Eles tiveram um encontro em Hogsmeade naquele ano e conversaram muito enquanto enchiam a cara de água de riso e whisky de fogo, e aquele foi um dos dias mais divertidos do seu ano.
Estava agora lendo a página sobre o dia em que ele e Therion nasceram. Buscou muito curioso essa parte e encontrou uma foto de Sirius e Karina juntos na cama com os dois nos braços.
“Nunca vi os olhos de Sirius brilharem tanto quanto no momento em que viu os garotos. Era uma imagem rara que deveria ser guardada para sempre. Ele estava feliz. Imensamente feliz por começar a família que sonhava em construir e fazer completamente diferente de seus pais.
Quando ele os segurou pela primeira vez com aquele sorriso, eu já sabia: Sirius seria um ótimo pai.”
Ler aquilo deixou Canopus refletindo por vários minutos enquanto encarava a imagem se movimentar. Sirius sorria completamente feliz e realizado e transitava o olhar entre os dois. Ele não saberia dizer se era ele mesmo ou o irmão nos braços de Sirius, mas isso não importava agora.
— Acho que, pela primeira vez, você estava errada, mamãe — sussurrou, admirando o sorriso da mãe na fotografia e desejando muito que fosse ele quem ela estava segurando.
Tanto Remus quanto Sirius já disseram que ela sempre estava certa. Talvez ela errasse as vezes, não julgaria.
Mas ele adoraria que ela estivesse certa.
Sirius não foi um bom pai. Ele não teve chance de ser seu pai.
Tudo o que teve a chance de fazer foi construir uma imagem terrível para ele e seu irmão antes que qualquer um os conhecesse; tornar momentos que deveriam ser um sonho em pesadelos.
— Está sem sono? — A voz de Sirius se fez presente.
Canopus apontou a varinha na direção dele, iluminando-o na escuridão e podendo vê-lo se aproximar. Ele rapidamente secou as lágrimas que estavam rolando por seu rosto até então.
— Eu estaria acordado se não estivesse? — retrucou seco.
— Muito provavelmente. Sei sobre seus hábitos noturnos de leitura e imagino que o sono ou seu namorado estar por perto não costume te impedir.
— Com certeza não, nisso você está certo.
Sirius sorriu fraco. Ele estava vestindo um dos suéteres mais velhos de Remus que mais ficavam largos em seu corpo ainda bastante magro do tempo em Azkaban, embora estivesse recuperando seu peso habitual de antes aos poucos. A gola escorregava um pouco por seu ombro direito, as mangas quase cobrindo suas mãos por completo, assim como as barras da calça de flanela quase engoliam seus pés.
Canopus não estava muito diferente vestindo o suéter de gestante de sua mãe e a calça de pijama. Os cabelos de ambos estavam uma bagunça, porém os do garoto estavam maiores graças ao corte recente de Sirius.
— Também não estou conseguindo dormir.
— Percebe-se. A menos que você seja sonâmbulo.
— Quer um chá? Irei preparar um pra mim — Sirius perguntou, ignorando o sarcasmo.
Canopus respirou fundo e ficou em silêncio alguns instantes, desviando o olhar.
Lua por lua. Lua por lua. Lua por lua.
Sirius suspirou e abaixou a cabeça, seguindo em direção a cozinha e respeitando o espaço dele.
— Sirius — Canis chamou quando ele estava chegando à mesa de jantar.
Sirius rapidamente ergueu a cabeça e voltou-se para o filho. Observou a imagem iluminada apenas pela varinha do garoto apoiando-se nas costas do sofá, os cabelos bagunçados caindo sobre o rosto molhado, os olhos por trás dos óculos ainda brilhando com lágrimas contidas.
Ele sentiu um grande déjà vu.
— Chocolate quente — Canopus disse com a voz um pouco falha.
— O quê?
— Quero chocolate quente.
Sirius sorriu novamente e assentiu.
Canis logo endireitou-se no sofá e voltou a ler o diário, voltando algumas páginas até o quinto ano. Sirius não demorou para retornar com as bebidas, entregando a xícara ao filho e ficando com a sua própria, sentando-se também no sofá, mas afastado na ponta oposta.
Ele observou o filho, que havia afastado-se mais ainda. Não disse nada, apenas ficou ali em sua presença.
Não sabia como agir com Canis. Sentia como se tivesse voltado ao quinto ano, quando retornou para Hogwarts após fugir de casa e sua relação com Regulus havia se tornado um campo minado por um tempo até James ajudar a intermediar uma conversa. Era uma sensação semelhante.
Ambos ficaram magoados e com raiva por terem sido abandonados. Sirius não tinha essa intenção em nenhuma das situações.
Com Canopus era ainda pior, ele sabia. Depois de ver seu bicho-papão, ele teve certeza absoluta disso. Além da raiva e mágoa, seu filho sentia medo.
Ainda se lembrava de como era ter uma das pessoas que te trouxe ao mundo como seu maior medo. Não era bom.
Sirius bebeu um gole de chá, em silêncio. Estava se aproximando de uma bomba daquele campo minado.
— Pesadelos — murmurou.
Canopus olhou-o franzindo o cenho. A única luz era a que vinha da varinha, mas era o bastante para se verem claramente.
— A razão para eu não conseguir dormir. Pesadelos…
Canis comprimiu os lábios.
— Também.
— Pesadelos comigo?
O silêncio é a melhor confirmação que existe.
— Eu entendo.
— Você tem que parar de achar que me entende, Sirius — retrucou o garoto, com os olhos focados no caderno em seu colo.
— Mas eu entendo, Canis — Sirius repetiu. — Eu sinto muito.
Ainda um silêncio.
— Não tivemos a chance de conversar desde… Desde o que aconteceu no porão — continuou. — E-eu sinto muito… Por tudo… E que você sinta medo de mim.
— Sentir muito não vai fazer meu bicho-papão mudar.
— Eu sei que não, mas eu quero que saiba disso. Preciso que você saiba antes de ir.
Canopus não olhou para Sirius. Apertou a xícara em suas mãos e bebeu um longo gole da bebida doce e quente enquanto seus olhos ardiam. Ele não queria chorar na frente dele.
Sirius encolheu-se com as pernas sobre o sofá, com a própria xícara em mãos. Um silêncio ensurdecedor e desconfortável estava instalado no cômodo, uma tensão quase insuportável. A dor da distância era terrível para o coração de Sirius, mas ele estava suportando e indo com calma. Era preciso muita cautela entre eles.
Estaria ali pronto no momento que o garoto quisesse conversar devidamente consigo, e tentaria o seu melhor para fazer dar certo. Respeitaria seu espaço e tempo.
Um pequeno passo de cada vez. Esse era o maior lema da vida deles.
— Também sente muito por arriscar mandar meu pai para Azkaban ainda no quinto ano?
Sirius sentiu um nó na garganta. Ele não precisou pensar para saber sobre o quê ele estava se referindo, porque era uma de suas piores lembranças que constantemente o atormentava em seus pesadelos, principalmente perto da lua cheia.
— Estar aqui conosco é uma constante ameaça para que ele vá junto com você se formos pegos. Você sabe que não há nada que diga que vá impedir o Ministério de culpá-lo.
— Eu sei…
— Mas essa não é a primeira vez que você arrisca mandá-lo para a prisão, não é?
Sirius engoliu em seco.
— Por que você fez aquilo? — Canopus enfim ergueu os olhos para ele. Não conseguiu conter algumas das lágrimas ao pensar naquele momento específico. Qualquer coisa que feria Remus o machucava. — Eu sempre quis saber… Por que você fez aquela pegadinha com Snape? Por que você disse a ele como entrar na Casa dos Gritos?
Sirius não estava esperando por aquela pergunta tão de repente. Sentiu um aperto no peito e seus próprios olhos se inundaram. Ele não viu apenas dor no olhar do garoto, mas aquela raiva fulminante também. A mesma da Casa dos Gritos e do porão.
— Eu não disse a ele como entrar.
— Não precisa tentar se inocentar agora — ralhou o garoto irritado. — Pouco me importa se a vida do Snape estava em perigo, se você tivesse feito de outra forma até aplaudiria. Mas a vida do meu pai também estava. Você era amigo dele, você sabia o quanto ele tinha medo de ferir alguém.
— Sim…
— Se não fosse por Tio James, ele teria atacado Snape e seria preso.
— Eu não deixaria culparem ele.
— Você sabe muito bem como a porra do Ministério da Magia funciona, Sirius — retrucou ríspido. — Nunca iriam inocentar um lobisomem para culpar o primogênito da porra de uma das famílias puro sangue mais ricas e influentes da Inglaterra. Ele seria enjaulado em uma cela de prata pelo resto da vida. Existe um motivo para muitos licantropos preferirem viver em comunidades afastadas dos bruxos. Eu já morei em uma, sei como é.
— Eu sei…
— Então por que você fez isso?
Canopus encarava Sirius. Ele sempre quis saber o porquê disso. Desde o dia que Remus contou sobre uma de suas piores luas cheias, ele sempre quis entender porque Sirius havia feito aquilo se na época se dizia seu amigo. Tão cedo, ele já havia demonstrado que trairia os amigos.
Agora, sabendo que ele nunca traiu os Potter, estava ainda mais curioso para entender. Se ele sempre foi fiel aos amigos, por que arriscou a vida de Remus daquela maneira? Por que continuar arriscando?
Ele sentia que precisava entender algumas coisas antes de ir. Talvez isso amenizasse seus pesadelos constantes.
Sirius respirou fundo e fechou os olhos. Aquele era um dos maiores arrependimentos de sua vida.
Ele não estava pensando direito. Sabia que usar o Salgueiro Lutador foi uma grande tolice, mas ele estava tomado pelo impulso. Nunca teve a intenção de ferir Remus, ele só queria revidar Snape a altura depois que usou um feitiço novo contra James. Na sua cabeça, seria bastante engraçado ver Snape ser pego pelos galhos e balançado de um lado para o outro até ser jogado no Lago Negro, poderia rir com os amigos disso assim como ele tinha gargalhado orgulhoso ao ver que seu feitiço em James dera certo. Um feitiço que ele criou.
— Eu não queria colocar Remus em perigo, muito menos que Snape entrasse na Casa dos Gritos em plena lua cheia — respondeu. — Era uma brincadeira para me vingar por ele ter machucado James numa discussão boba. Ele estava rindo com os amigos por ter conseguido ferir James com um feitiço que criou e eu não consegui pensar direito. Snape sempre foi curioso sobre o Salgueiro Lutador. Então, num momento de impulso, eu disse que tinha como fazer ele paralisar quando mencionou que investigaria os segredos dele.
— Uma ideia brilhante — Canopus falou com ironia.
— Eu não disse a ele como parar.
— Você está sendo um pouco contraditório.
— Eu disse a ele que tinha como, mas não falei que precisava apertar aquele nó nas raízes. Falei que era para puxar um galho, porque sabia que assim o Salgueiro pegaria ele e o jogaria na direção do lago. E ele sabia nadar, já tinha feito ele cair no lago antes — explicou. — Mas ele também já desconfiava que o Salgueiro tinha a ver com os sumiços de Remus das aulas periodicamente, aquele babaca era esperto o bastante para desconfiar que ele tinha licantropia. Então foi ele quem decidiu ir na lua cheia.
— Ele decidiu?
— Ainda faltavam alguns dias quando eu falei, uns dois, acho. Esperava que ele fosse em alguma manhã e eu, James, Remus e Peter poderíamos gargalhar da tentativa falha dele de descobrir o segredo do Salgueiro e ser arremessado para longe. Parecia divertido e uma ótima vingança na hora… Mas ele não foi até o Salgueiro até…
— A lua cheia.
— Eu não sei como ele descobriu o segredo, quando James viu ele ir até lá pelo Mapa do Maroto, já era tarde. E claro que ele fez disso um grande drama para me acusar de tentar matá-lo e disse que eu falei para ele apertar o nó para parar a árvore e entrar na Casa dos Gritos naquela noite.
— Mas que filho da puta…
— É — Sirius concordou. — Demorou para que eu conseguisse explicar o que realmente aconteceu, mas ainda assim, as coisas ficaram complicadas. Nunca mais foi igual com Remus depois disso.
Aquela parte Canis sabia. Remus ficou um bom tempo sem falar normalmente com Sirius, magoado por ter usado do seu segredo para ferir Snape, porque isso também colocou mais pessoas em perigo.
— Snape pode ter alterado a história ao seu favor, mas você ainda foi um grande idiota por usar o Salgueiro Lutador para brincar com Snape.
— Eu sei… Percebi isso depois. Remus e eu já estávamos passando por uma questão complicada… Isso apenas tornou tudo pior.
— O que tinha acontecido?
— Acho que essa parte da história é particular entre mim e ele.
Canopus bufou.
Sirius respirou fundo e bebeu mais um gole de chá. Ele e Remus terem se beijado pouco tempo antes daquela pegadinha ficaria apenas entre eles, por enquanto.
— Mamãe e papai tinham razão para ficar com raiva, principalmente o papai. Você nunca pensa nas consequências antes de fazer algo. Não pensou nesse dia, nem quando nos deixou aqui para ir atrás de Peter.
— Eu sei, mas nós dois concordamos que não posso mudar isso — Sirius lamentou. — Acho que Remus estava mais magoado que com raiva, na verdade, mas não o julgo. Tudo se resolveu depois. E sua mãe… Foi uma consequência a parte, na verdade, porque ela era muito amiga do Remus.
— Você colocou os melhores amigos dela em perigo. Ela estava com toda a razão de estar chateada.
— Diria que chateada é eufemismo. Ela ficou furiosa. Seu tio Killian também. Na verdade, a manhã seguinte foi uma verdadeira confusão, principalmente quando tentei me desculpar com Moony na ala hospitalar — mencionou. — Até Regulus estava lá, James, Lily, Hadria, Pandora... Eu não me lembro de muita coisa ou razão para ter tantas pessoas lá. Só lembro que... Nunca tinha visto Karina com tanta raiva e tão magoada. Isso os dementadores não me deixaram esquecer. Você sabe como eles funcionam...
Canis sabia. Sabia muito bem. Therion, Harry... Os três sabiam como eles adoravam reavivar apenas as piores memórias.
Sirius desceu o olhar para o diário. Remus havia lhe contado que dera para os garotos. Havia visto Karina escrever nele muitas vezes, sempre curioso sobre o que poderia dizer sobre ele.
— Remus que tirou essa foto — murmurou baixo, apontando para a fotografia a vista colada na página aberta. — Ela me pediu para entregar o Theo ao Remus e tirar uma foto deles logo depois. Acho que ele ficou com aquela. Eles sempre foram próximos, mas durante a gravidez... Remus esteve ao lado dela o tempo inteiro.
— Eu já vi essa foto — Canis murmurou de volta, sem encará-lo. — Sou eu aqui no colo dela então?
— Sim, é você. — falou e continuou com os olhos na foto, admirando de longe o sorriso dela. — Ela era linda, não era?
— Ela era — Canopus concordou e sentiu mais uma lágrima escorrer. — Queria ter conhecido ela de verdade.
— Também sinto falta dela… Ela estaria orgulhosa de vocês.
O garoto fechou os olhos e mordeu o lábio com força, falhamente contendo o choro ao ouvir aquilo. Sirius queria chegar mais perto. Queria abraçar ele. Queria aconchegá-lo em seus braços e falar que estava tudo bem. Queria falar que estava ali.
Sirius continuou parado no mesmo lugar com as lágrimas nos olhos.
Canopus ergueu os olhos para ele. A raiva de antes já havia se dissipado. Tudo o que restava agora era a mágoa e a dor.
— Eu adoraria me parecer mais com minha mãe que com você — confessou num sussurro.
— Eu sei, Canis… — Sirius murmurou de volta.
Canis apertou a xícara com mais força e soluçou alto, sentindo o gosto salgado das lágrimas.
— Mas você herdou o que eu mais amava nela — continuou, e exibiu um fraco sorriso dolorido. — Você tem o sorriso e a força da sua mãe.
E assim Canis não se conteve mais e desabou, deixando a xícara de lado para apertar o diário contra o peito e esconder o rosto entre os joelhos.
Sirius sentiu um nó na garganta. Hesitante, deixou seu chá de lado também e aproximou-se devagar, mas ainda mantendo certa distância. Estendeu sua mão até ele lentamente, tocando os cabelos escuros com cuidado. Ele levantou a cabeça e encolheu-se mais, puxando o cobertor. Sirius afastou a mão.
Canopus o viu aproximar novamente apenas para ajeitar os óculos que ficaram tortos em seu rosto, logo afastando-se.
— Eu sei que você e seu irmão passaram por muita coisa por se parecerem comigo — Sirius falou calmamente. — Realmente sinto muito por isso.
Canis soluçou novamente.
— Mas saiba que tenho muito orgulho de você e do Therion, porque, apesar de tudo… Vocês são bruxos incríveis — prosseguiu. — E tenho certeza que sua mãe também estaria. Sabe por que seu nome é Canopus?
— Por causa dela…
— É a segunda estrela mais brilhante depois de Sirius, mas a primeira da constelação Carina. A estrela-guia, como costumavam chamar. Sabe o que ela dizia?
Canopus negou com a cabeça.
— Ela gostava de me provocar que a estrela Canopus brilhava muito mais que Sirius para ela, porque era a estrela dela — revelou. — A sua estrela mais brilhante… Ela te chamava assim. "Mo réalta is gile".
Canis sorriu. Um singelo e doce sorriso em meio a todas as lágrimas. O coração de Sirius aqueceu de maneira que ele sequer poderia descrever.
Sirius amava aquele sorriso. Mesmo já tendo visto em Therion e que fossem idênticos, ver em Canopus trouxe a mesma emoção de quando viu o filho mais novo sorrir para si pela primeira vez.
— É uma estrela que muitos viajantes usavam como guia para se localizarem... Por isso chamam de "estrela-guia" — continuou. — Eu sei que ela estaria muito orgulhosa de ver o que você tem feito... Seguindo realmente seu nome, o quanto tem ajudado aquele garoto...
Canis voltou a olhar para a mãe na fotografia, deslizando o indicador sobre ela.
— Ela chamava o Theo de "mo mac tíere beeg" — disse Sirius, enrolando-se um pouco na pronúncia.
— Mo mhac tíre beag — Canis corrigiu com a voz falha pelas lágrimas ao entender o que ele realmente quis dizer.
— Isso. Irlandês nunca foi meu forte — riu baixo.
— Significa "meu pequeno lobo".
— Sim. Às vezes também chamava de "mo réalta leon"… Acho que agora falei certo. Ela passava a maior parte do tempo conversando com vocês em irlandês.
— Minha estrela de leão?
— É como ela e James costumavam chamar Regulus. Ele odiava quando ela o chamava assim.
— E quando James chamava não?
— A diferença nesse caso é que seu tio estava muito apaixonado. Regulus podia dizer que odiava, mas não era verdade. No fundo, adorava quando James o chamava de "stella leone", a versão italiana do apelido — Sirius riu. — Eles eram…
— Como Therion e Harry.
— É. Como Theo e Harry — concordou. — Sempre juntos e extremamente carinhosos. James era uma das poucas pessoas que conseguia fazer meu irmão feliz fora de casa.
— Meu padrinho quase foi meu tio. Quem diria.
— Seria se não tivesse terminado daquela maneira.
— Ele era seu irmão, tudo bem, amor fraternal e tal… Mas você tinha que dar o nome de um Comensal pro meu irmão? — Canopus choramingou. — É ainda pior que eu ter o nome do seu tio.
— Meu tio foi quase como um pai para mim.
— E daí?
— Você está livre para não homenagear ninguém quando tiver seus filhos.
— Não irei, com certeza. — Ele fungou e tentou inutilmente secar o rosto molhado. — Tenho muitas estrelas e constelações para escolher e não me render a isso. Parece o tipo de coisa que Therion faria. Grifinório demais uma homenagem tão direta.
Sirius riu baixo. Não comentou sobre o fato de Canopus inconscientemente revelar que manteria a tradição da família no futuro com os nomes de estrelas, mas gostou disso. Também era a única tradição da sua família que gostava.
— Mas já que perguntou… Regulus era um Comensal, mas ele já havia sido o meu irmão. Ainda tinha a mínima esperança de que o meu irmão ainda estava lá — explicou. — Sua mãe esperava que o melhor amigo dela estivesse… Perdi essa esperança quando ela morreu. Apenas esperava que Therion não tivesse o mesmo destino que ele.
— Se ele era um Comensal, ele estava lá quando ela morreu e não fez nada. Isso não é um amigo. Ele mesmo pode tê-la matado! Os comensais odeiam pessoas como ela.
— Por isso eu fiquei com raiva dele e disse para nunca mais se aproximar de mim ou de você e seu irmão quando ele apareceu no velório. Não via mais nenhuma esperança para Regulus… E realmente não havia.
— Voldemort matou ele.
— Muito provavelmente. Ou mandou outro Comensal fazer.
— Ele foi o Comensal que matou a minha mãe?
Sirius ficou em silêncio. A pergunta imediatamente o levou de volta ao momento que encontrou o corpo sem vida de Karina e quando expulsou o irmão aos gritos do velório dela. Regulus chorava desesperado, não parava de se desculpar e pedir ajuda, mas ele não ouviu. A raiva não o deixou ouvir.
— Eu não sei — respondeu.
— Não precisa proteger o seu irmão.
— Eu realmente não sei — insistiu. — Não sei se ele a matou ou apenas estava lá quando aconteceu. Tudo o que sei é que logo depois ele abandonou os Comensais e Voldemort o matou.
Sirius não sabia, mas, no fundo, rezava para que não tivesse sido ele. Não saberia o que sentir se aquela fosse a verdade.
— Acho que nunca saberemos, então — Canis lamentou.
— Não ter chegado a tempo para salvá-la sempre será uma dor que irei carregar, assim como não ter salvo James, nem ter voltado para vocês assim que peguei Harry nos braços — Sirius disse. — Mas sei que ela não hesitaria em sair naquele dia mesmo sabendo seu destino, porque ela sacrificaria tudo para que você e Therion tivessem um futuro longe daquela guerra.
— Ninguém caminharia direto para a morte sabendo disso.
— Acho que ela fez exatamente isso…
Canopus comprimiu os lábios com força, tentando não soluçar mais uma vez. Pensou nos sonhos que teve com ela, como gostaria de viver naquelas memórias tão profundas por mais tempo apenas para sentir o calor dela.
— Mas não foi em vão, porque vocês dois estão aqui… São tudo que ela poderia imaginar que seriam e mais — Sirius falou. — E saiba, Canopus, assim como ela, eu não vou hesitar em fazer de tudo por você e por Therion.
— Você estar aqui já nos coloca em risco…
— Eu nunca quis colocar vocês em perigo, nem você, nem seu irmão e muito menos Remus… Mas eu quero estar com vocês, eu estou aqui porque não estive por doze anos… E não vou permitir que minhas escolhas os afetem — garantiu. — Eu vou estar aqui sempre que precisarem.
Canopus abaixou a cabeça, tentando esconder o rosto enquanto chorava.
— Se eu não estivesse aqui, sei que tentariam usar vocês da mesma forma para me pegar. E quero estar para proteger vocês deles, porque alguns daqueles malditos políticos são tão traiçoeiros quanto os Comensais que levaram a sua mãe.
— Eu sei que eles não vão descansar e vão nos usar para te prenderem…
Canis detestava admitir, mas Sirius estava certo. Estando ali com eles ou não, apenas por ele e Therion existirem eram as peças perfeitas para o Ministério usar em seu jogo doentio para capturar Sirius novamente.
Não se importavam com eles, nem com os motivos para fazerem tudo o que fazem.
— Você está com medo da audiência? — Sirius perguntou.
— Se vão me expulsar por defender a mim e ao meu namorado, então serei expulso com muito gosto — respondeu rápido. — Mas… M-mas não quero que esse maldito jogo deles recaia sobre papai ou Ellliot e nem… Eu não quero que me vejam como um criminoso que ataca trouxas sem motivo ou ir para…
— Eu não vou deixar — Sirius falou firme e se aproximou mais.
— Não seja ingênuo, Sirius! Você sabe que…
— Eu prometo, Canopus. — Ele tocou com cuidado o pulso do garoto na mão em que segurava a varinha.
Canis ergueu o rosto para ele. Respirou fundo, usando toda a força dentro de si para continuar a encarar Sirius, mesmo que fosse terrivelmente difícil.
Sirius olhava-o com determinação, convicto de cada uma de suas palavras.
— Acredite em mim — pediu. — Eu prometo por Remus, por tudo o que senti por sua mãe um dia… Não vou permitir que o Ministério faça vocês chegarem sequer perto de passar por toda a injustiça que sofri ou daquele maldito lugar.
— Eles vão tentar…
— Não importa o que vocês façam, se depender de mim, nunca colocarão um único pé em Azkaban. Você pode até mesmo chegar a matar alguém para se defender… Eu nunca vou permitir que você ou Therion vejam aquele lugar. Nunca — prometeu. — Eu sei que você ainda não confia totalmente em mim, mas acredite nessa promessa. Eu estou aqui. Não vou deixar ninguém machucá-los.
Canopus escolheu acreditar.
***
Ainda era muito cedo quando todos se levantaram. Apesar do sono pela noite mal dormida, Canopus fazia questão de ajudar Elliot a preparar-se para a viagem.
Sirius estava novamente na forma de cachorro durante o café da manhã, já tendo se despedido como humano do genro na noite anterior dizendo que talvez não estivesse acordado quando fosse embora por ter que partir tão cedo. Elliot novamente agradecia a todos pela ajuda e dizia o quanto sentiria falta, mesmo tendo convivido pouco tempo com eles e muito mais com Canis.
Quando Ester chegou para buscar o irmão, ele e Canis foram juntos para o quarto pegar as coisas dele e se despedirem devidamente com privacidade.
— Acho que nunca vou conseguir agradecer o bastante por tudo que você fez por mim — Elliot disse com um braço em torno da cintura do Black enquanto acariciava seu rosto, os rostos próximos e braços do outro abraçando seu pescoço.
— Você merece poder ser feliz sendo quem é, Ellie — Canis disse. — Então, aproveite Gales e viva sua vida. Está livre para fazer dela o que você quiser.
— Isso está incluindo relacionamentos, acho…
— Sim, está — Canis riu. — Está livre de mim como namorado, mas não ache que não irei te mandar cartas para ter certeza de que está bem sempre que puder e…
Elliot riu, abraçando a cintura de Canopus com força e unindo seus lábios antes que terminasse sua frase. Canis apenas aceitou de muito bom grado e permitiu que seus pés fossem erguidos alguns centímetros do chão.
— Vou te contar tudo sobre Gales nas cartas.
— Eu já morei lá, então poupe os detalhes sobre belezas naturais que não sejam os garotos que habitam aquele país.
— Vou sentir sua falta — Elliot disse rindo. — Seria difícil encontrar alguém como você.
— Não existe ninguém como eu no mundo, nem mesmo meu irmão gêmeo. Canopus Black é edição única — Canis disse com um sorriso de lado. — Mas você vai encontrar quem te faça feliz. E se alguém te machucar…
— Eu aviso que meu ex aparecerá para lidar com ele.
— Você merece o melhor, hm?
— E você também — Elliot murmurou. — Você é incrível, Canopus Black.
— Eu sei que sou.
Os dois riram. Ambos estavam com lágrimas nos olhos.
— Você fala muito sobre mim... Mas também quero que encontre alguém que te faça bem.
— Não se preocupe, não pretendo namorar ninguém por um bom tempo. Sabe... Vida muito inconstante.
— Se até mesmo nós temos o direito de viver um amor e ser felizes... Então sei que você vai encontrar. Eu desejo de coração — Elliot disse sincero. — Não esperava encontrar alguém que gostasse de mim e mudasse minha vida nesse verão... Você pode encontrar quem mude a sua.
— Isso é uma declaração de amor em pleno término, Elliot?
O garoto tornou a rir e colocou Canis de volta com os pés no chão, segurando firme seu rosto.
— Sei que não conheci muitas coisas sobre você e sua vida, mas o que sei... Me faz pensar que um dia você mudará a vida de algum garoto para melhor como fez comigo — falou. — e desejo que ele faça o mesmo por você. E podemos encontrar essas pessoas quando menos esperamos.
— Um dia, quem sabe... — Canis suspirou. — Fique bem e seja feliz como você mesmo, okay?
— Você também...
Canopus assentiu com a cabeça.
— Acho que acabamos por aqui então.
— Acabamos por aqui…
Canopus agarrou a gola do casaco de Elliot e sorriu fraco, então selando seus lábios em um último beijo de despedida.
Os dois desceram para o andar inferior. Elliot ajoelhou-se para acariciar os pelos de Padfoot e dar-lhe um abraço para se despedir. Logo ficou de pé e deu um forte abraço em Remus, que abraçou-o de volta.
— Fique bem, Elliot.
— Vou ficar, graças a vocês. Obrigado mais uma vez… De verdade — disse. Ele abraçou Harry e Therion em seguida antes de pegar o sobrinho no colo e ficar ao lado da irmã.
— Agradeço muito por tudo que fizeram pelo Elliot. Mandaremos notícias de Gales — disse ela.
— Façam uma boa viagem — Remus falou.
Canopus observou da porta Elliot entrar no táxi que o levaria até a estação de trem e o viu acenar da janela. Acenou de volta enquanto ele partia.
Foi bom enquanto durou… Por mais curto que tenha sido, Canis não iria esquecer do seu primeiro romance de verão.
Remus abraçou os ombros do filho e beijou o topo de sua cabeça, e ele logo o abraçou de volta com força e enterrou o rosto em seu peito.
— Estou muito orgulhoso de você — sussurrou.
Retornaram para dentro e fecharam a porta. Sirius logo retornou para a forma humana e sorriu fraco para o filho, observando-o voltar para o andar de cima sem sequer encará-lo dizendo que iria se arrumar. Harry e Therion fizeram o mesmo.
Quando Therion voltou de seu banho, encontrou o irmão sentado na própria cama aninhando Antares ainda muito sonolento contra o peito. Após vestir-se, ele subiu em sua cama e apoiou-se na do irmão para falar com ele.
— Triste pelo término?
— Mais por não ver Elliot por um bom tempo. Ele foi um ótimo namorado… Mas também um amigo incrível — admitiu. — Eu gosto dele. Espero que ele fique bem e seja feliz em Gales.
— Também espero. Ele merece depois de tudo pelo que passou — Therion concordou. — Você realmente quer terminar com ele? Vocês podem se comunicar por cartas, nós sempre acabamos indo para Gales em algum momento… Ainda poderia dar certo.
— Acabamos por aqui. Não vou prendê-lo a mim. Nós ainda temos muito o que viver… Eu sei que não duraria assim, e ele merece alguém sempre por perto e que o faça feliz. Funcionaremos bem como apenas amigos.
— Então, você está oficialmente solteiro novamente.
— Oficialmente solteiro por um bom tempo — riu baixo. — E você continuará por pouco tempo, imagino. Acho que nem podemos considerar que você está solteiro.
— Existe o status de relacionamento "em andamento"? Acho que se encaixaria bem agora.
Os dois riram juntos.
— Eu estou bem com isso, Therion. De verdade — Canis disse. Therion sabia que ele estava sendo sincero daquela vez. — Você e Harry têm um encontro marcado para hoje a noite, não é?
— Temos.
— Nervoso?
— Quando se trata do Harry… Sempre.
— Você está tão fodidamente apaixonado por ele…
— Eu sei — Therion choramingou e jogou-se em sua cama. Canopus riu e olhou para baixo. — Não ria. Você vai entender no dia que estiver tão apaixonado quanto eu.
— Duvido que aconteça antes da nossa formatura. Você e Harry… É um nível bem superior.
— Vou querer 50 galeões se estiver errado.
— Tudo bem, não vai acontecer mesmo.
— O lado positivo de desenvolver minha legilimência é que saberei disso muito antes de você admitir para poder cobrar. — Therion sorriu travesso. — Oh, isso vai ser divertido! Poderei fazer muitas apostas vantajosas com nossos colegas de Casa e aumentar ainda mais nossa nova fortuna.
— Você é uma cobra traiçoeira, irmãozinho.
— Você consegue ser ainda pior, Canis — rebateu.
— Eu consigo pensar em muitos planos incríveis que sua recém descoberta habilidade seria útil, Therry. — Canis devolveu o sorriso travesso. — Acho que vamos bater o recorde de detenções este ano.
— Está planejando algo para começarmos o ano bem?
— Talvez. Precisamos fazer algo na véspera da audiência. Se seremos expulsos, vamos nos despedir em grande estilo.
Os gêmeos verificaram tudo em seus malões para ter certeza de que arrumaram tudo, assim como Harry em seu quarto. Os trajes a rigor estavam cuidadosamente guardados em um fundo a mais que criaram para caber tudo, junto a caixas de jóias que compraram para guardar todas que já ganharam de Merliah de presente ao longo dos anos e as de sua mãe que encontraram dentre as coisas deixadas na casa. Muitos livros do escritório também foram parar nas malas, tomando boa parte dela além das roupas, uniforme e materiais.
Canopus também guardou os objetos de Antares para que ele ficasse feliz e confortável no dormitório. Não tardou a dar o café da manhã para a doninha para então ir para a garagem alimentar Bicuço junto de Harry e do irmão, os três se despedindo da criatura.
— Vamos voltar nas férias para te ver, está bem? — Canis disse acariciando as penas, ouvindo o grasnar de Bicuço em resposta.
— Therry, que tal tirar uma foto da sua câmera para darmos a Hagrid? Ele vai gostar de ver que o Bicuço está bem! — Harry disse.
— Ótima ideia! Accio Câmera. — Therion convocou a câmera.
Após a foto ser tirada, Harry e Therion deixaram a garagem, enquanto Canopus permaneceu por mais um tempo para se despedir.
Um tempo depois, Sirius bebeu a poção Polissuco, entrando novamente em seu personagem, Anthony Leblanc. Sorriu para o reflexo no espelho ao ver que uma de suas velhas jaquetas de couro da época que jogava quadribol serviu no novo corpo, apesar de estar um tanto justa. Era estranho olhar-se no espelho e não ver a sua própria imagem, mas sabia que era necessário. Ao menos conseguia vestir algumas de suas roupas para sentir-se mais ele mesmo.
Remus segurou seus ombros por trás, encarando-o pelo reflexo.
— Logo você poderá sair com seu próprio rosto.
— Está aprendendo legilimência, Remmy? — Sirius riu baixo.
— Não, mas te conheço e imagino que gostaria de poder sair sendo você.
— Ainda sou eu por dentro de tudo isso, não é? — falou otimista. — Pelo menos esse disfarce é bonito… E não preciso ficar na ponta dos pés para beijar sua testa.
Remus riu com a última frase e quando Sirius beijou-o na testa para provar. Anthony era pelo menos uns 10 centímetros mais alto que Sirius, embora ainda mais baixo que ele.
— Você gosta disso.
— Gosto — riu também. Então suspirou. — Não estou pronto para já me despedir deles.
— Eles sempre voltam para casa durante o Natal e a Páscoa. Vamos vê-los de novo muito em breve. Também não foi fácil para mim no primeiro ano deles.
— Vai ser meu primeiro ano deixando eles em King's Cross…
— E você virá nos próximos três anos.
Sirius esperava que sim.
Todos se reuniram na sala de estar na hora de partir. Os garotos estavam com seus malões, Edwiges e Hermes descansavam empoeirados em suas gaiolas, e Antares estava também devidamente engaiolado — com muita relutância de Canopus, que queria muito levá-lo nos braços.
Harry foi o primeiro a sumir na lareira. Depois os gêmeos. Remus e Sirius entraram em seguida com as mãos cheias de pó de Flu. Black respirou fundo e agarrou a mão de Lupin antes de ditar o local e ser engolido pelas chamas verdes.
Era a primeira vez que Sirius saía de casa desde a Copa Mundial e ver o Caldeirão Furado tão cheio o fez tremer e ser consumido pelo mesmo nervosismo do evento. O estabelecimento estava exatamente igual a como ele se lembrava de sua adolescência, o que trouxe uma sensação nostálgica.
Remus chamou dois táxis para poderem ir juntos para King's Cross com todos os malões e as gaiolas. Sirius foi admirando a vista pela janela boa parte do caminho, lembrando dos passeios que fazia com sua moto pela cidade.
Sentia falta da sua motocicleta. Quem sabe um dia pudesse comprar uma nova.
Lupin admirou como Sirius observava tudo pela janela, mas logo preocupou-se quando viu ele ficar tenso de repente ao virarem em uma esquina logo atrás do táxi onde os garotos estavam. As mãos dele começaram a tremer, os olhos fixos na janela.
— Hey... Está tudo bem?
— Aqui... Aqui é onde fica a minha casa... A casa dos meus pais — disse baixo. Remus entendeu imediatamente e também focou os olhos na rua. — 09... 10... 11...
— Sua casa não era o número 12?
— Nunca houve um número 12 nessa rua, do 11 vai direto para o 13 — o taxista disse. — Parece que houve um erro durante a construção do bairro e nunca consertaram. É um mistério até hoje.
— É... Ele confundiu — Sirius disse com seu sotaque francês. — Minha casa ficava bem... Escondida.
Remus nunca visitou a antiga residência Black, apenas sabia que fica no Largo Grimmauld, número 12.
— Sort de dissimulation? — Remus indagou em francês.
— Oui... quelque chose comme ça. Éloigne les sans-sortilèges.
Ocultar a casa da visão de trouxas... Inteligente. Lupin sabia que a razão era muito mais por segregação e preconceito que segurança em si, mas era uma forma inteligente de manter uma residência bruxa entre as trouxas.
Sirius virou o rosto para trás enquanto se afastavam de onde um dia foi sua casa. Perguntou-se como estaria agora, sabendo que sua mãe e seu tio haviam falecido. Não restara ninguém para cuidar da casa além do elfo doméstico da família.
Ele respirou fundo, tentando afastar os questionamentos de sua mente. Pensar naquela casa lhe traziam lembranças ruins a mente, fazia seu coração apertar e um nó subir pela garganta, quase o impedindo de respirar. Era como se sentia crescendo lá... Sufocado.
Levou uma mão ao pescoço, tornando a respirar profundamente e puxando a gola da camisa para tentar afastar aquela sensação.
— Hey... — Remus apertou levemente seu braço.
— Estou bem, só... — suspirou.
Sirius engoliu em seco e abriu a janela do carro, tentando respirar. Remus continuou segurando seu braço até se afastarem mais daquele bairro, quando ele começou a sentir que poderia respirar de verdade.
— Vamos pegar outro caminho na volta, está bem? — sussurrou.
Black apenas assentiu com a cabeça, suspirando.
Em poucos minutos chegaram a estação. Desceram do carro, e Remus pagou ambos os táxi com o dinheiro trouxa que trazia no bolso. Os garotos se apressaram para pegar os carrinhos para carregar a bagagem.
Sirius olhou ao redor, um pouco desnorteado.
— Sirius, está tudo bem? — Therion perguntou, olhando para ele, percebendo o quanto estava pálido e avoado.
— Estou. É apenas... Nostalgia — respondeu. — Vamos. Sente no carrinho, que eu vou empurrar.
O garotou sentou-se em cima do próprio malão e deixou que Sirius levasse pelo caminho por dentro da estação, não acreditando totalmente nele. King's Cross estava agitada como sempre em dia de retorno para Hogwarts.
Sirius reconheceu alguns rostos de aurores disfarçados que o Ministério sempre disponibilizava no dia. Tentou manter-se tranquilo e aproveitar aquela chance de poder estar ali com os filhos e o afilhado junto de Remus. Therion riu, esticando as pernas e os braços enquanto era levado no carrinho, o que certamente ajudou a deixar o pai bem mais leve.
— Vou querer fazer isso todo ano.
— Sempre que quiser, Theo. — Sorriu. — Quem vai passar para a plataforma primeiro?
— Eu já estou indo!
Canopus sequer os esperou e correu em direção a parede que levava a plataforma 9¾, desaparecendo por ela.
— Vamos lá! — Therion exclamou.
Sirius então começou a correr na mesma direção, sentindo a mesma energia e adrenalina de 20 anos atrás, quando corria com os amigos em direção a mesma parede enquanto ouvia Regulus resmungar em cima do carrinho exatamente como Therion estava, pedindo para não ir tão rápido e sua mãe exclamava às suas costas.
Assim que avistou a plataforma, foi abatido pela nostalgia. O trem continuava exatamente o mesmo.
Olhou para trás e viu Remus passar pela parede também empurrando Harry sobre o carrinho aos risos. Potter então saltou de seu malão, animado.
Eles se aproximaram da locomotiva, junto a todos os pais que se despediram dos filhos. Os gêmeos imediatamente abraçaram Remus com toda sua força, enquanto ele beijava a testa de ambos, e Harry abraçou Sirius.
— Vou sentir tanta falta, minhas estrelas... — Remus murmurou apertando-os forte em seus braços.
Cada um dos gêmeos beijou um lado de seu rosto.
— Você vai ficar bem, não é? — Potter perguntou.
— Irei, Hazz. Nos veremos em breve no Natal — Sirius disse. — Envie cartas. Vou responder todas elas.
— Vou mandar! — garantiu.
Então Harry seguiu para Remus, abraçando-o com a mesma força que o fez com o padrinho. Enquanto Canis continuou próximo do pai e do amigo, Therion tomou a iniciativa de abraçar Sirius.
Sirius sorriu, tomado pela surpresa, não demorando a retribuir o gesto. Apertou os braços em torno do filho fortemente, aproveitando aquele momento.
— Fique seguro em casa — Therion pediu, sem soltá-lo.
— Prometo que terei cuidado, Theo — garantiu. — Mande uma carta caso fique muito difícil de suportar as dores de cabeça, okay? Pode procurar Madame Pomfrey e dizer a ela o motivo, ela cuidava de Regulus, vai saber o que fazer por hora.
Therion assentiu, afastando-se devagar.
— Vou tentar dar um jeito de falar pessoalmente com Andrômeda antes da audiência de vocês... Eu vou fazer tudo que puder.
— Tudo bem, só... Não ouse ceder ao joguinho deles. Eu e Canis sabemos nos cuidar — disse.
— Eu sei que sabem, Reggie — disse segurando o rosto do filho.
Therion afastou-se e Canis ficou ao seu lado junto de Harry. O gêmeo mais velho apenas lançou um olhar breve para Sirius e acenou com a cabeça.
— Comportem-se — Remus pediu.
— Tão bem quanto um Maroto — os gêmeos disseram juntos.
Sirius enlaçou o braço ao de Remus, observando ambos juntos os garotos seguirem seguirem até a entrada do trem e voltarem-se para trás.
— Fiquem bem! — disseram os dois acenando para eles.
— Juramos solenemente não fazer nada de bom!
Sirius e Remus sorriram largo, e Black deitou a cabeça no ombro de Lupin, observando eles partirem para um novo ano.
—————————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Enfim voltamos para Hogwarts!
Gostaram do Sirius levando os Mini Marotos para King's Cross? 🥺
Eu disse que daria um final feliz pro Elliot e cumpri! Ele vai poder ter sua vida sendo ele mesmo em Gales 🥰
(Protejam-no do grupo do wpp que tá querendo empurrar ele pro Oliver!)
Um dia ele retornará :)
Primeira conversa civilizada do Sirius com o Canis!! Eles precisavam disso antes de começar o primeiro ano 🙌
Resolver algumas questões, Sirius dizer com suas próprias palavras que estaria ali quando Canis precisasse.
Aproveitei o momento para explicar como aconteceu a famosa pegadinha nesse universo quando vi a chance. Espero que tenham gostado de saber minha versão sobre os fatos. Ainda acabaremos voltando a esse assunto em algum momento, aguardem 👀
O que vocês esperam para o quarto ano? Digam aí!
Já adianto que muito conteúdo de Deerwolf e Stardragon está a caminho. O baile de inverno então... Já estou sofrendo de ansiedade.
Não esqueçam de comentar bastante!
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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