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XLIX. First Day

Os gêmeos Black acordaram tão sonolentos para o primeiro dia de aula que quase pensaram seriamente em voltar a dormir. Quando chegaram ao Salão Principal para o café da manhã, arrependeram-se rapidamente por não terem optado por essa decisão.

Os olhares estavam todos voltados para eles, exatamente como no ano anterior. Muitos cochichos e olhares tortos, alguns encarando-os amedrontados. Como imaginaram, não seria fácil ter paz naquele ano, porém, havia como piorar. Daquela vez, Sirius não era a única razão para serem alvo de olhares de julgamento.

Haviam olhares na mesa da Sonserina, claro, mas como nos outros anos, eram em menor número e muito mais discretos. Eles não demoraram a descobrir o motivo para as expressões de todos por onde passavam com a chegada do Correio Coruja com o exemplar do Profeta Diário que assinaram a compra naquele ano.

NOVO TERROR BLACK EM HOGWARTS?
Filhos de Sirius Black iniciam seu ano letivo em Hogwarts após atacar e ferir gravemente um grupo de trouxas

Enquanto Sirius Black permanece
foragido, seus filhos parecem estar
determinados a seguir seus passos.


Skeeter ataca novamente com outra reportagem.

— Nós devíamos ter enviado aqueles fogos para a mesa dela — Therion resmungou.

Eles continuaram a ler a reportagem:

O primeiro dia de aula para nosso jovens bruxos se iniciar e ao que tudo indica
existem dois grandes perigos entre eles,
os garotos Black. Mesmo após provas de
que estariam sendo doutrinados para as trevas pelo pai, lhes foi concedida a
chance de continuar a estudar próximos
de centenas de crianças.

Felizmente, isso pode ser por pouco tempo.

Os gêmeos Black foram recentemente notificados pelo Ministério da Magia não
só por praticar magia fora da escola,
como também utilizaram-na cruelmente
para atacar três jovens trouxas inocentes
no vilarejo de Rowen's Valley. Uma audiência está marcada para o fim deste
mês, e se condenados, os Black serão
expulsos da Escola de Magia e Bruxaria
de Hogwarts e possivelmente terão suas varinhas destruídas.

Nós ainda podemos ir além e imaginar
que, talvez, os garotos Black passem a
ser conhecidos como os bruxos mais
jovens a irem para Azkaban.

Os Black ainda se recusam a admitir
saber o paradeiro do pai. Será que isso
poderá mudar até a audiência?

A pergunta que não quer calar: nossos
jovens de Hogwarts estão seguros até que
a justiça seja feita?

Canopus respirou fundo e apertou a carta de Remus que estava em sua mão, ainda fechada, os olhos presos na imagem de Sirius com sua roupa de Azkaban e a placa com seu número da lista de prisioneiros no dia que foi condenado que estampava a matéria do jornal que o irmão segurava.

Ele sentiu um grande nó em sua garganta ao que se lembrava do que Sirius havia lhe dito na última noite em casa. Não viu quando os garfos da mesa começaram a tremer.

CAÇA A BLACK CONTINUA

As buscas dos aurores por Sirius Black continuam enquanto o Ministério da Magia se prepara para julgar seus filhos pelo ataque aos trouxas em Rowen's Valley.

Embora batida em sua antiga casa no vilarejo onde residem atualmente os gêmeos Black sob a tutela de um antigo amigo não tenha obtido resultados favoráveis, Fudge diz: “Nós temos planos
sendo colocados em prática e, muito em breve, garantimos estamos mais próximos do que nunca de capturar Black. Tanto ele quanto os filhos sofrerão as devidas consequências.”

Therion amassou o jornal e rasgou-o em vários pedaços sem ler o resto da reportagem, sentindo sua cabeça explodindo de dor ainda mais forte que no Três Vassouras na noite anterior enquanto respirava fundo.

Canopus desintegrou todos os restos de jornal que o irmão rasgou com sua varinha e arrancou o exemplar que estava nas mãos de Merliah, fazendo o mesmo.

— Ei! Eu estava lendo as outras notícias! — ela resmungou.

— É verdade? Vocês atacaram três trouxas? — Blaise perguntou surpreso.

— Sim. E daí? — Canopus respondeu impaciente.

— Isso me surpreendeu. Logo vocês que tanto defendem os trouxas e sangues-ruins — Nott falou.

— Cala a boca, Nott — Liah exclamou e voltou-se para os amigos. — Não liguem pra isso. Essa jornalista amadora medíocre não sabe de nada do que fala.

— Eu sabia que nada ia melhorar esse maldito ano nessa escola, eu sabia.

— Se as pessoas já estavam acreditando que ajudamos no ataque à Copa, agora tem ainda mais motivos para nos atacar — Therion suspirou e massageou as têmporas.

Calma e foco. Calma e foco.

— Mas vocês tinham razão mais que justificada — Liah falou. Ela já sabia do ocorrido, pois uma noite Canopus havia lhe ligado e contado tudo depois de não conseguir dormir pensando naquilo pela segunda noite seguida. Quis muito ir para a casa dos amigos imediatamente, mas ele insistiu que não precisaria. — Vocês vão provar isso. Se precisar, eu mesma pago para todos os advogados bruxos do país defenderem vocês.

— Conhecendo o Ministério, a chance de a decisão deles já estar tomada é praticamente certa — Canis disse.

Eles já sabiam disso. Não iriam descansar até atingi-los, iriam usar de todos os artifícios. Fariam disso um grande espetáculo e uma grande tentativa de armadilha para Sirius, era óbvio.

Canopus tornou a respirar fundo mais uma vez, depois mais outra, a boca seca e o nó na garganta cada vez maior e mais dolorido. Sua mente vagava caoticamente por tudo que aconteceu e poderia acontecer. Suas mãos estavam trêmulas sobre a mesa, faíscas saíram delas enquanto o copo de suco de abóbora intocado tremia como os garfos anteriormente, o olhar dele perdido em nenhum ponto específico.

Então, de repente, ele sentiu um chute em sua perna que o trouxe de volta a realidade. Ele piscou confuso e olhou para quem estava a sua frente. Seu olhar encontrou o de Draco por alguns instantes antes de Malfoy continuar a comer em silêncio os doces que havia recebido de sua mãe como todas as manhãs.

Os gêmeos não comeram muito, ambos frustrados e irritados com a situação. Therion respirava fundo e tentava ignorar tudo ao redor, mas para cada canto que olhava parecia ter alguém comentando ou pensando sobre a notícia. Seus olhos buscaram Harry do outro lado do salão e encontraram o garoto olhando na direção da mesa da Sonserina preocupado.

Os sons pareciam ficar cada vez mais altos à medida que todos tinham ciência daquilo, até ficar insuportável para eles.

Os alunos estavam com medo, com raiva deles. Não os queriam ali em sua extensa maioria.

Canopus percebeu que isso não estava fazendo bem ao seu irmão, muito menos a ele próprio. Foi uma sensação semelhante à Copa, quando sabia que Therion estava muito mal mesmo longe. Isso apenas o fez sentir-se mais irritado.

— Eu não estou mais com fome — ambos disseram ao mesmo tempo e se levantaram bruscamente.

Eles saíram do salão apressados, Therion apertando as mãos na cabeça com força e Canis segurando seu braço delicadamente.

Merliah também se levantou e foi atrás deles, mas Canopus parou para detê-la enquanto Therion seguia.

— Ei, eu...

— Precisamos ficar sozinhos agora, Liah.

— Eu sei que está sendo difícil. Estou do lado de vocês, não vou deixá-los sozinhos.

— Não precisamos de ninguém, muito menos de você. Nós queremos ficar sozinhos!

— Eu só queria ajudar...

— Vai ajudar nos deixando em paz agora! — Canopus esbravejou rude, e o que quer que Merliah fosse dizer, ela preferiu fechar a boca e ficar calada. — Vai embora! O que menos precisamos agora é de você se intrometendo.

Os ombros dela murcharam, e ela deu alguns passos para trás. Canopus virou-se e foi embora sem dizer mais nada, correndo para alcançar o irmão e enlaçando o braço ao dele ao encontrá-lo.

Os gêmeos seguiram para o corredor mais afastado que conseguiram até escorarem-se em uma parede e jogar-se no chão, em grande sincronia, e ficarem abraçados um ao outro.

— Era muito mais fácil quando eu pensava ser apenas paranóias em minha cabeça e não o que todos realmente pensavam sobre nós... — Therion murmurou.

— Todos grandes imbecis.

— Imbecis com muita raiva. Não estão só com medo… Eles estão com ainda mais raiva que ano passado. Eu não quero mais sentir eles na minha cabeça!

Therion enterrou o rosto no ombro do irmão, a cabeça ainda latejando. Sabia que Canis retribuía a raiva alheia, mas ele também não suportava a ideia de passar mais um ano daquele jeito. Ele próprio sentia-se igual, com aquele misto de fúria e mágoa, porque Hogwarts deveria ser um porto-seguro para eles e se mostrava o contrário.

— Papai não está aqui, então podemos xingar eles a vontade.

— São grandes filhos da puta que não entendem porra nenhuma da nossa vida — Therion resmungou e Canis concordou com a cabeça.

Eles continuaram juntos, sem soltar um ao outro, até ouvirem passos de alguém correndo apressado até eles.

— Therry, Canis — Potter chamou e suspirou aliviado, ajoelhando-se a frente deles e segurando suas mãos. — Eu estou aqui.

Therion voltou o rosto lentamente para Harry e sorriu fraco, apertando a mão dele de volta.

— Procurei vocês em todos os corredores.

— Acho que precisamos ficar sozinhos agora — Canis falou.

— Não! Nem comece, Canis — Harry negou. — Eu estou aqui, não vou te deixar sozinho nem o Therry! Você não precisa estar.

— Lembrou que também existo, Prongs?

— Eu disse que estaria sempre com você quando precisasse também, Padfoot — Harry respondeu e apertou a mão dele também. — Marotos sempre se ajudam, não é?

Canis forçou um fraco sorriso para o amigo, e Harry sentou-se entre os dois, abraçando ambos.

— Vai ser muito mais complicado seguir um ano tranquilo se essa maldita Skeeter continuar escrevendo essas matérias —
Therion disse.

— Nós vamos parar essa mulher de algum jeito — Harry disse. — Ninguém acaba com a reputação dos meus amigos e sai impune.

— Nunca tivemos uma boa reputação — Canopus lembrou.

— Ela está piorando tudo. Não pode ficar assim, vamos dar um jeito nem que seja ao estilo trouxa.

Os gêmeos riram baixo, ainda sem muito ânimo, e abraçaram Harry com força. Eles não sabiam o que seria deles sem Harry sempre ao seu lado nos piores momentos.

— Obrigado mesmo — Therion disse.

— Você está bem? — Potter perguntou. — Eu sei que é uma pergunta boba agora, mas...

— Com certeza não. Minha cabeça parece que vai explodir quando estão todos agitados.

— E é ruim quando você não está bem também, não é?

Therion encolheu os ombros e apertou a mão dele novamente, apenas confirmando silenciosamente o que Harry acabara de dizer. Agora que ele entendia isso, era muito mais simples notar algumas coisas que já ocorriam há um certo tempo e que aquilo sempre esteve consigo e somente agora estava aprendendo a controlar.

Não controlar perfeitamente, é óbvio.

Um dos chás de Sirius faria muito bem agora.

— Corredores nem sempre são os melhores esconderijos — ouviram dizer próximo a eles.

A atenção dos quatro foi para o homem que se aproximava em roupas escuras. Ele parou não muito distante deles, com a mesma postura perfeita do dia anterior e uma expressão neutra no rosto, encarando-os fixamente.

— Enfim resolveu aparecer para responder nossas perguntas? — Canis indagou.

— Não — respondeu, simples e direto. — Harry ainda tem tempo para terminar o café da manhã, pode voltar ao Salão Principal. Vocês dois, me sigam.

— Eu vou com vocês — Harry disse rapidamente.

— Apenas os Black.

— Para onde vai levá-los? Não vou deixar eles sozinhos agora como estão.

— Harry…

— Onde eles forem, eu irei também.

— Volte ao Salão Principal, Potter. É uma ordem expressa de seu professor.

— Me deixe de detenção, então! — Potter exclamou petulante, não saindo de perto dos gêmeos.

Arcturus suspirou e fechou os olhos por alguns instantes, balançando a cabeça.

— Quer mesmo iniciar seu ano em detenção, Senhor Potter?

— Se quer continuar me impedindo de ir com meus amigos, fique à vontade. Não sairei de perto deles.

Harry encarou-o com um fogo nos olhos. Ele queria muito saber mais sobre o homem, claro, estava curioso. Porém, acima de tudo, ele queria estar ao lado de Therion e Canopus e ninguém iria impedi-lo. Seus amigos precisavam dele.

Potter então tossiu um pouco. Therion imediatamente olhou-o preocupado, percebendo como o nariz dele estava um pouco avermelhado, provavelmente por causa de toda a chuva que tomaram no dia anterior. O seu próprio também estava, mas ele estava bem comparado a como ficou após a tempestade do dia que se transformou em animago.

— Melhor ir para a ala hospitalar.

— Ele já disse que não vai sair daqui, Regulus — Canis rebateu.

— Arcturus — corrigiu.

— Eu estou bem. Não preciso da Madame Pomfrey, preciso estar com eles e você não vai me impedir — Harry falou firme.

Ele abraçou a cintura de Therion ao vê-lo fechar os olhos com força, e o Black entrelaçou seus dedos e deixou a testa recair sobre seu ombro com uma expressão dolorida. Preocupou-se imediatamente que talvez seus próprios pensamentos estivessem sendo demais para o Therion e olhou-o com cuidado.

— Não seja tão egocêntrico — Therion sussurrou. — Canis tem uma mente mais caótica que a sua as vezes.

— Eu ouvi isso — Canis retrucou, mas ainda olhou preocupado para o irmão e afastou-se de Potter para ficar ao lado dele, tocando seu ombro delicadamente.

— Sou o centro das preocupações agora, maravilha...

— Fazendo meu trabalho de irmão mais velho — Canis sussurrou de volta afagando as costas do irmão.

Harry riu baixo e apoiou o queixo sobre a cabeça de Therion. Era tolice ele não querer que se preocupassem.

Potter então voltou os olhos para Arcturus.

Ele olhava-os com uma expressão indecifrável no rosto, como se milhares de pensamentos passassem por sua cabeça, e realmente estavam. Os olhos iguais aos dos sobrinhos se focaram no mais novo e em Potter por longos segundos, depois no outro gêmeo, antes que suspirasse mais uma vez.

Sem dizer uma palavra, ele agitou sua varinha e convocou um pergaminho e uma pena. Escreveu alguma coisa rapidamente e começou a dobrá-lo de uma forma que Potter reconheceu.

— Você está fazendo um aviãozinho de papel com o pergaminho?

— Estou. É bom para mensagens rápidas sem corujas.

Ele lançou um feitiço sobre a dobradura concluída e lançou o avião, que voou pelo corredor e virou em outro em grande altitude, sem menção de cair.

— Certo, Canopus e Regulus venham comigo. Harry pode vir também já que insiste tanto.

E então, simplesmente, ele começou a caminhar. Os gêmeos se encararam confusos, mas ficaram de pé junto de Harry e seguiram-no. Foram guiados até a sala dele no quarto andar, que não era tão diferente da de Remus no dois andares abaixo no ano anterior, espaçosa e com um mesanino que levava ao quarto, maa, se possível, com ainda mais livros lotando prateleiras, além de pequenos globos que projetavam constelações no ar.

Havia uma mesa de café da manhã montada ali, com vários pães, queijos e frutas, uma cafeteira italiana e um bule de chá chiando alto. Stella estava ali comendo um sanduíche enquanto tinha um livro aberto flutuando à sua frente e o mesmo gato da noite anterior em seu colo.

Arcturus fechou a porta. Ele rapidamente tirou o jornal que estava sobre a mesa e o fez desaparecer com sua varinha.

— Oi — Stella falou e acenou.

— Olá, priminha — Canopus sorriu irônico. — Você já sabia que somos parentes, não é?

— Sabia. Vocês se parecem com as fotos do Tio Sirius que o papai tem.

— Por que não disse?

Ela apenas deu de ombros.

— Essa é a Vênus. — Ela apresentou a gata em seu colo, que logo pulou para o chão e foi até eles desconfiada.

Canopus rapidamente abaixou-se e tentou chamar a atenção do animal.

— Ela é um pouco desconfiada de estranhos, cuidado — Arcturus alertou. — Sentem-se.

— Por que estamos aqui? — Therion perguntou.

— Muito melhor que um corredor para acalmar a mente — respondeu Arcturus servindo duas xícaras de chá, ficando com uma para si e entregando outra a Therion. — Beba. Vai ajudar. Passei pelo Salão Principal, você com certeza precisa disso.

Therion franziu o cenho e olhou desconfiado para o homem, mas deu de ombros em seguida e sentou-se para beber o chá. Canopus olhou-o com a sobrancelha arqueada, e ele nem precisou ler sua mente para saber o que queria dizer.

— O que foi? Os chás de Sirius sempre me ajudaram. Fique com a gata.

Canis revirou os olhos, e então sentou-se à mesa, enquanto Harry ficava entre ele e o irmão, espirrando alto.

— Então, irá responder nossas perguntas agora?

— Não.

— Então, por que estamos aqui?

— Eu li o Profeta Diário e sabia o caos que ficaria no Salão Principal. Uma multidão de mentes agitadas, assustadas e com raiva é difícil para qualquer um que já seja naturalmente legilimente, não importa o quão habilidoso seja.

— Você… Ficou preocupado comigo? — Therion indagou surpreso.

— Eu entendo como é. — Arcturus sorriu fraco e bebeu seu chá.

— Como você ainda está vivo? — Harry perguntou.

— Eu apenas não morri. — Deu de ombros e bebeu mais um gole de chá, sentando-se ao lado da filha e pegando um croissant após deixar a xícara sobre a mesa. — Podem comer, se quiserem. Meu marido quem fez e enviou pelo Correio Coruja.

— Perdi o apetite — Canopus respondeu cruzando os braços.

— Ninguém perde o apetite com a comida do papà — Stella falou.

— Tem café. Isso pelo menos tenho certeza que você precisa.

Sem dizer nada, o garoto se serviu de uma xícara de café. Apesar de tudo, não queria estar com sono na aula de Trato das Criaturas Mágicas mais tarde, pois a única luz que via naquele dia certamente seria Hagrid trazer alguma criatura interessante para a aula, como fez no ano anterior.

Harry espirrou mais uma vez.

Salute — Stella disse e bebeu um gole do seu copo com achocolatado.

— O que isso quer dizer?

— "Saúde" em italiano. É a forma de desejar bem estar quando alguém espirra — Arcturus respondeu. — Ensino inglês a ela desde pequena, mas ainda mantém alguns costumes italianos.

— Quando vocês chegaram da Itália mesmo? — Canopus perguntou.

— Boa tentativa de tentar conduzir a conversa e arrancar alguma informação, mas não irá conseguir.

— É uma informação bem simples, Regulus. Pelo que entendi, você forjou sua morte e fugiu pra Itália. Quando voltou? Por quê?

— Papai não gosta do nome Regulus — Stella falou para ele.

— Oh, é mesmo. Desculpe — Ele olhou para a garota. — Seu outro pai se chama Mattias, certo, Stella?

— Certo.

— Está em Londres?

— Está. Por quê?

— Eu sei como mudanças são cansativas até mesmo para nós bruxos, imagine trouxas. Como foi a de vocês?

— Normal. Eu era muito pequena na última vez que nos mudamos, não tem o que comparar — Ela deu de ombros.

Arcturus encarou Canopus fixamente em silêncio por alguns instantes e então voltou os olhos para a filha, suavizando sua expressão.

Stellina, não quer ir buscar os materiais que esqueceu no dormitório e levar a Vênus?

— Por que agora?

— Logo começa sua aula, e Minerva não gosta de atrasos. Quando voltar você pode terminar de comer, e eu te ajudo com a gravata. Vou conversar um pouco com seus primos enquanto isso.

— Tá bom.

Ela pegou o livro flutuante e deixou-o sobre a mesa, então pegando sua gata no colo e deixando a sala. Assim que ela saiu, Arcturus voltou os olhos para o sobrinho mais velho.

— Espero que esteja tão entusiasmado com perguntas em minha aula quanto agora, Canopus — falou calmamente. — E como já pedi e minha filha deixou claro, me chame de Arcturus, não de Regulus.

— Escolheu um belo nome novo depois que fugiu, tio, se quer ser elogiado por isso.

— Tecnicamente, meus pais escolheram — ele rebateu. — Regulus Arcturus Black.

— Então só está usando o segundo nome. Que criativo — retrucou Canis com um sorriso irônico.

— Eu não desgosto do meu nome — explicou. — Eu não forjei minha morte. Voldemort e os Comensais queriam minha cabeça, as pessoas acreditarem que eles conseguiram não foi trabalho meu. Eu apenas fui embora e deixei tudo para trás. Comecei a usar meu segundo nome como foi uma forma de seguir em frente e pretendo continuar assim.

— Salvando a própria pele como um covarde. Não muito diferente de Pettigrew — Therion resmungou.

— Você me comparar a um rato é extremamente irônico, mas entendo como devem se sentir. E também espero que entendam que não devo nenhuma satisfação do porquê fui embora ou da minha vida, por enquanto — rebateu e bebeu mais um gole de seu chá. — De forma até poética, podem considerar que Regulus Black está realmente morto. Eu não sou mais como era naquela época e nem quero ser.

— Um Comensal da Morte? — Canopus arqueou a sobrancelha.

— Não apenas isso, mas também. — Arcturus suspirou e baixou o olhar para seu braço esquerdo, então tocando-o desconfortavelmente após devolver a xícara para a mesa.

Os olhos dos três garotos seguiram para lá, já sabendo que havia ali sob as mangas a Marca de Voldemort marcada sobre a pele dele. Therion, pela primeira vez, sentiu algo vindo do tio. Arrependimento, medo, nervosismo. Isso o trouxe um sentimento novo em relação a ele.

Therion seguiu com os olhos a mão de Arcturus que tocava a região da Marca ir até a aliança de ouro em seu dedo, bonita e elegante, com uma faixa dourada brilhante no centro que trazia um charme a ela. Ele sentiu como rapidamente aqueles sentimentos negativos se aliviaram para o outro ao encarar a jóia, uma lembrança que trazia um sentimento reconfortante. Um imenso carinho e melancolia.

Tão rápido quanto tudo aquilo passou pelo garoto, logo parou de sentir. Encarou Arcturus, que voltou o olhar para si novamente.

— Bonita aliança, Archie — comentou.

Arcturus sorriu fraco para ele, os olhos com um brilho de agradecimento.

— Obrigado — agradeceu. — Meu marido quem escolheu quando nos casamos. Ele ficou bastante empolgado com a ideia de podermos nos casar pelas leis e cultura bruxa e quis pedir a mais perfeita para nós. — Ele sorria bobo admirando sua aliança de casamento, como se trouxesse boas lembranças, e com certeza trazia.

— É ouro encantado com o encantamento de união?

— Sim.

— Que encantamento é esse? — Harry perguntou.

— Um encantamento para as alianças de casamento. O ouro do qual é feito é encantado para torná-las conectadas, ligadas às vidas dos noivos. Assim eles sempre poderão se encontrar quando perdidos ou sentir se o outro está bem… Ou ainda vivo — Canis quem explicou. — Alguns bruxos muito tradicionais usam seu sangue para se misturar ao ouro, mas hoje em dia geralmente preferem um fio de cabelo de cada um.

— Faz parte da tradição bruxa para casamentos, mesmo com trouxas, caso queiram. As alianças são feitas por artesãos bruxos — Therion completou. — Uma forma de representar a união do casal, um elo mágico entre eles.

— Mattias achou isso bastante romântico e poético — Arcturus riu baixo. — Antes que perguntem, não usamos nosso sangue. Isso é… Mais uma lembrança de como não sou mais o mesmo.

— Pelo que sei, nossa avó não ficaria muito feliz que divida essa união com um trouxa — Canopus falou.

— Com certeza, não — confirmou, ainda tocando a aliança. — Sou Arcturus Black-Lucchesi agora… Ou apenas Lucchesi. Eu me casei com um homem trouxa, meus filhos carregam o nome dele e formamos nossa própria família e temos uma boa vida juntos. Cometi erros dos quais me arrependo e nunca vou esquecer, mas eu deixei isso para trás. Foi muito difícil pra mim estar aqui, então, por favor, não insistam demais no meu passado agora.

— Nós só queremos entender… — Harry começou a falar.

— Eu sei. Um dia, talvez, irão. Porém, agora, apenas… Me deixem fazer o meu trabalho — interrompeu. — Vocês enviaram alguma carta ao Sirius sobre mim essa manhã?

— Eu os impedi de fazer tamanha burrice — Canopus falou orgulhoso e encarou o irmão e o amigo.

— Obrigado. Não é o momento agora.

— Não agradeça, não foi por você.

— Eu não vou esconder isso do Sirius pra sempre — Harry disse. — Temos que contar. Sabe o quanto ele sente sua falta?

— Agora não, por favor. Ele já tem muito com o que se preocupar.

— Ele é o seu irmão! — Therion exclamou. — É sua família.

— Minha família é o meu marido e os meus filhos — Arcturus rebateu imediatamente com a voz firme. — Minha família está se esforçando para se adaptar a um novo país e aprender um idioma por mim. Está longe de dois dos nossos filhos por mim. Está a quilômetros daqui cuidando sozinho da nossa filha caçula que ainda é apenas um bebê por mim… E eu estou aqui por eles, por minha família.

Ele encarou firmemente os garotos, unindo as mãos sobre o colo, inquieto.

— Eu conheço o Sirius. Contar para ele agora seria uma péssima ideia para todos nós.

— Nisso eu concordo plenamente.

— O que quer que façamos mais o quê daqui pra frente? Agir como se você fosse apenas um professor? — Therion questionou.

— Eu sou seu professor. Farei o meu trabalho e ensinarei toda a história do mundo bruxo de ponta a ponta, porque essa é a minha disciplina. Vocês irão ouvir, questionar suas dúvidas e entregar atividades como qualquer aluno. Nada além disso.

— Você só está com medo de encarar o Sirius — Harry resmungou impaciente. — e de contar tudo o que aconteceu. Nós sabemos o que você fez. Temos o direito de querer explicações. Eles têm direito a isso! — Indicou os dois amigos.

— Eu estou protegendo a minha família — retrucou. — Sei o que estou fazendo. Tudo o que peço é que entendam isso e não insistam, muito menos tentem usar minha filha para conseguir as informações que desejam. — Arcturus voltou os olhos especialmente para Canopus. — Eu nunca escondi da minha família que errei, mas não envolva a Stella nisso. Ela não será o seu caminho para o que quer, e se eu souber que estão tentando usá-la para isso e enchendo sua cabeça com esse assunto, não terei medo de tomar as devidas providências.

— Está nos ameaçando, tio?

— É um aviso. Acredite ou não, isso está protegendo vocês também — respondeu. — Deixe minha filha em paz com esse assunto.

Canopus não revidou de imediato, apenas encarou o tio de volta e abaixou um pouco a guarda. Ainda estava frustrado e curioso, levemente irritado. Queria entender, queria saber. Aquele questionamento que fez a Sirius ainda estava fixo em sua mente. Não queria permanecer com aquela dúvida por muito mais tempo.

Porém, algo via muito bem. Ele não estava blefando sobre revidar caso usassem Stella. E ele era legilimente, óbvio que saberia que iriam tentar questioná-la de algo.

— Okay, Professor Arcturus — respondeu, curto e firme.

Arcturus suspirou e voltou a sua refeição. Instantes depois, Madame Pomfrey adentrou a sala.

— Recebi sua mensagem, Archie. Dores de cabeça? — perguntou Madame Pomfrey.

— Estou bem. Meu sobrinho e Harry que precisam  de seus cuidados.

Dito isso, Potter espirrou mais uma vez.

— Eu só peguei muita chuva ontem. Nem estou com febre.

— Com aquela tempestade quando chegaram, você não é o único. Os primeiranistas, pobrezinhos… Muitos acabaram de sair da ala hospitalar por isso. Já falei a Dumbledore para não usar os barcos em tempestades — divagou Pomfrey e cuidou primeiro de Potter.

Harry comprimiu os lábios, não ousando dizer que não foi apenas a chuva da chegada que o deixou assim. Temia que se dissesse fosse levado para a ala hospitalar imediatamente, e Therion certamente teria que ir também provavelmente.

Os gêmeos não questionaram mais nada a Arcturus, nem Harry. Pomfrey deu a Harry uma poção revigorante que deixou-o melhor rapidamente e outra para Therion. Ela não parou neles e rapidamente começou a avaliar Canopus, que resmungou descontente.

— Eu estou bem! Não sou legilimente e sei muito bem usar um Feitiço Guarda-Chuva.

— Você está exalando exaustão, Black. Como tem sido suas noites de sono?

— Maravilhosas. E as dores das cicatrizes estão enfim acabando. Estou muito bem.

— Vocês três precisam descansar. Ao final das aulas, quero os três em seus dormitórios. — Ela fez Canopus engolir de uma vez outra poção revigorante. — Vocês Black não têm o mínimo amor à própria saúde.

— Para seu consolo, Madame, eu me casei com um médico — Arcturus falou.

— Espero que ele tenha colocado mais juízo em sua cabeça em relação a isso.

— Ele tenta.

Arcturus bebeu de seu chá e apenas continuou a observar de onde estava, atento, analisando tudo. Quando a medibruxa estava terminando, Stella retornou correndo com todos os seus livros e a mochila, e ele logo sorriu para ela.

Therion e Harry observaram ele entregar a ela uma gravata da Corvinal e pegar uma própria da Sonserina para si. Ele começou a fazer o nó em si próprio devagar, passo por passo, e Stella seguiu os mesmos passos com a sua gravata em sincronia, como se fosse um espelho.

— Muito bem, Stellina — disse e sorriu orgulhoso, enquanto ela ajustava o nó no pescoço. — Andou treinando com seu pai, não foi?

— Sim.

— Quer que eu arrume seu cabelo enquanto termina de comer? 

Ela assentiu e logo se sentou. Arcturus removeu a gravata de seu pescoço e convocou uma escova. Ele ficou atrás da filha e começou a pentear os cabelos dela com cuidado enquanto ela comia.

— Que cor hoje?

— Azul. — Ela apontou para a gravata.

E então, seu cabelo foi arrumado em um penteado simples e elegante com um laço da mesma cor de sua Casa. Ela foi até um espelho observar como ficou. Colocou o restante inteiro do pão na boca e apertou o laço antes de voltar.

— Voltarei para a ala hospitalar agora. Se qualquer um de vocês sentir qualquer coisa, direto para lá.

— Obrigado por vir, Madame Pomfrey — Arcturus agradeceu.

A medibruxa saiu da sala, e ele suspirou, voltando a sentar-se.

— Bom, não temos mais o que conversar. Como está se sentindo, Regulus?

— Vou ficar bem… Chás sempre ajudam.

— É melhor se apressarem, então. Eu tenho uma aula com a Lufa-Lufa em quinze minutos e não gostaria de me atrasar logo no meu primeiro dia.

Os gêmeos se entreolharam, encararam Harry e então voltaram a olhar para o tio. Respiraram fundo e ficaram de pé.

— Obrigado pelo chá.

— Estará aqui sempre que a cabeça estiver muito cheia. — Arcturus sorriu fraco.

***

Ao final da primeira aula, os gêmeos ainda estavam intrigados com o tio. A atenção deles ficou dividida entre as explicações de Flitwick e pensar em Arcturus.

Tinham plena consciência agora que não seria fácil conseguir respostas dele, mas isso não significava que desistiriam. Eles não desistiam com tanta facilidade, apenas precisariam adaptar sua abordagem já que um ataque direto não funcionou.

— Você até cedeu rápido ao fim da conversa — Therion comentou.

— Porque eu sei que não daria em nada. Ele está preocupado com a família dele e consigo mesmo — explicou Canis. — Ele não vai responder simplesmente perguntando. Para sabermos se ele é confiável, vamos precisar que ele confie em nós para conseguir alguma coisa ou tentar descobrir por conta própria.

— Como tem tanta certeza?

— Porque é exatamente o que eu faria.

— Está se compadecendo pelo nosso temido tio Comensal, Canis? — Therion provocou.

— Eu não vou confiar nele até ter certeza que ele realmente mudou e que não foi ele quem matou nossa mãe, mas ele está cauteloso, e nós precisamos ser também. Por isso, daremos um jeito de ir por nós mesmos enquanto isso.

Os dois suspiraram.

— Por que a Liah não falou com a gente na aula? Ela foi a primeira a ir embora.

— Não sei, talvez só tivesse algo para fazer — Canis disse.

Eles seguiram para a aula de Trato das Criaturas Mágicas. No caminho, encontraram Merliah junto de Harry, Rony e Hermione, e então juntaram-se a eles. Os gêmeos ficaram próximos aos garotos, enquanto as garotas conversavam entre si mais a frente.

— Então aquele professor novo é seu tio mesmo? — Rony indagou.

— Sim — os gêmeos responderam em uníssono.

— Espero que pelo menos ele seja melhor que o Binns. Alguns grifinórios por um momento até pensaram que ele fosse o próprio Sirius de tão parecido. Aliás… A fama de vocês por lá não está das melhores.

— Não esperava que estivesse — Therion retrucou e suspirou. — Já vou me preparar para uma nova dor de cabeça.

Realmente precisou se preparar. Enquanto se aproximavam da cabana de Hagrid, vários grifinórios passavam por eles olhando-os assustados ou de cara fechada, cochichando entre si. Therion respirou fundo e focou na proximidade do irmão e de Harry, tentando deixar a mente relaxada exatamente como Sirius ensinou.

Hagrid estava parado em frente a sua cabana com vários caixotes aos seus pés de onde podiam-se ouvir um som de chocalho ao se aproximar junto ao que pareciam pequenas explosões. Isso imediatamente desviou a atenção de Canopus das pessoas ao redor para aula, e Therion tentou acompanhá-lo nisso.

— Bom dia! — Hagrid cumprimentou alegre. — Vocês com certeza vão adorar isso… Explosivins!

Os explosivins pareciam lagostas sem casca, cada um com uns quinze centímetros de comprimento. Pálidos e pegajosos, arrastavam-se uns sobre os outro nos caixotes com pequenas pernas saindo dos lugares mais estranhos. De vez em quando soltavam faíscas pela cauda, como pequenos explosivos.

O nome era bastante apropriado.

— Nunca li nada sobre eles — Canopus comentou. Entre o sexteto reunido, ele era certamente o mais interessado.

— Tem cheiro de peixe podre — Merliah comentou com uma careta como se fosse vomitar.

— Acabaram de sair da casca — Hagrid falou. — Vocês poderão aprender a cuidar deles pessoalmente. Pensei que nós fazermos uma pesquisa sobre eles seria interessante.

— Por que iríamos querer criar essas coisas? — a voz de Nott se fez presente, e ele parecia tão enojado quanto Merliah.

— Com esse cheiro, com certeza não serviriam de comida nem para um pássaro trovão faminto — Blaise disse.

— Para que servem essas coisas? — Pansy indagou com a mesma expressão.

— Er… Hoje irão apenas alimentá-los — respondeu Hagrid. — Nunca os criei antes, então não sei do que gostam. Vamos experimentar de tudo um pouco. Tenho ovos de formiga, fígados de sapo e um pedaço de cobra, experimentem um pedacinho de cada.

— Uma pesquisa de campo? Hagrid, você é o melhor! — Canis sorriu largo, e isso alegrou Hagrid, que sorriu de volta, empolgado. — Exatamente o que eu precisava para melhorar minha manhã.

— Só você para ficar feliz em cuidar dessas coisas — Draco comentou.

— Eu, sinceramente, sinto pena dos seus pavões, Dragãozinho.

— Cuido muito bem deles, não precisam da sua pena, Black.

Canopus franziu o cenho por alguns instantes na direção de Malfoy, observando-o permanecer próximo do grupo de amigos e olhar com receio para as caixas. Então, voltou sua atenção para a aula.

Os gêmeos meteram as mãos sem medo nas porções de fígados de sapo e tentaram dá-las aos explosivins. Os três grifinórios fizeram o mesmo apenas por muita consideração a Hagrid. Merliah preferiu tentar o pedaço de cobra, o que aparentou ser menos nojento para ela.

Neville se queimou com um dos bichinhos quando a cauda explodiu quase ao mesmo tempo que Nott espetou os dedos nos espinhos recém descobertos de alguns deles.

— Alguns deles tem espinhos… Acho que os machos.

— Não me diga, valeu por avisar. — Nott revirou os olhos. — Criaturinhas adoráveis! Te queimam e te espetam, perfeitas para ter em casa.

— Podem não ser bonitos, mas podem ser úteis — Hermione falou. — Sangue de dragão é incrivelmente mágico, mas acho que não iríamos querer um dragão de estimação, não é?

— Você não conta, Canis — Harry apressou-se em dizer antes que o amigo falasse. Ele fechou a cara.

— Dragões podem ser extraordinariamente dóceis com seus cuidadores se bem tratados, Newt Scamander já comprovou isso nos seus últimos livros — rebateu. — Eu teria um se pudesse.

— Você teria até uma acromântula se tivesse espaço.

— O veneno delas é ótimo para algumas poções — Therion interviu.

— Não falem de acromântulas, por favor — Rony implorou e estremeceu ao lembrar-se de seu segundo ano.

— Vocês são mesmo malucos — Seamus falou.

— Finnigan, continue calado ou irá experimentar um dos efeitos do veneno de acromântula em poções com seu suco de abóbora no jantar — Therion ameaçou.

— Isso não vale apenas para ele — Canis ressaltou direcionando seu melhor olhar ameaçador para os outros grifinórios, que rapidamente desviaram os olhos deles. — Melhor assim. Hagrid, posso ficar com um desses depois que tiver minha maleta para criaturas?

Na hora do almoço, os gêmeos a todo momento olhavam na direção da mesa dos professores à procura de Arcturus, mas ele não apareceu, assim como no café da manhã, nem Stella. Foi um pouco mais fácil que aquela manhã, mas eles ainda comeram o mais rápido possível para fugir dos olhares e comentários.

— Vamos ficar no pátio. Você vem, Liah? — Therion perguntou.

— Podem ir, vou ficar aqui — respondeu sem olhar para eles e continuou a comer.

Therion franziu o cenho, mas seguiu com o irmão até o pátio. Mais tarde, Harry juntou-se a eles com Rony. Therion rapidamente deitou a cabeça sobre o colo de Potter, que também deixou Canis apoiar a cabeça em seu ombro.

— Hermione não quis vir, está na biblioteca com a Merliah — Rony falou e revirou os olhos. — Primeiro dia e ela já se enfurnou na biblioteca!

— É a Hermione, não deveria ser surpresa. Surpreendente é a Liah também ir — Canis falou.

— Nós temos aula com o Archie daqui a pouco — Therion suspirou. — O que vamos fazer?

— Nós só teremos aula com o Archie na segunda — Harry disse. — Mas não vamos ficar parados.

— Vamos jogá-lo contra a parede e forçá-lo a falar tudo que aconteceu na última década? — Rony questionou.

— Eu não sei, mas não concordo em esconder do Sirius. É o irmão dele!

— Se eu te ver chegando perto do corujal com uma carta para o Sirius, eu te jogo no lago — Canis ameaçou.

— Eles vão querer notícias nossas!

— Eu vou escrever uma carta ao papai dizendo que está tudo bem, por enquanto.

— Mas não está!

— Arcturus está certo sobre Sirius já ter muito com o quê se preocupar. Nós temos. Vamos esperar a audiência — Therion falou e olhou para o irmão. — O que acha, Canis? Temos um mês inteiro pela frente.

— Um bom tempo, mas não acho que o bastante para ele falar alguma coisa.

— Terá que ser. Ele abrindo a boca até lá ou não, na audiência contamos ao papai.

— Therry…

— Você mesmo disse que falar para ele é melhor que diretamente para o Sirius. Goste ou não, eu vou falar pra ele. Ele vai estar lá conosco no Ministério.

— Acho que eu quem vou ficar com dor de cabeça com tudo isso — resmungou.

— Concordo com o Therry. Da audiência não passamos, e eu vou com vocês — Harry falou.

— Se os aurores deixarem — Rony comentou.

— Eles não vão me impedir. Eu sou uma testemunha de tudo!

— Vai ser lindo a manchete. O grande Harry Potter defende os terríveis gêmeos Black no tribunal.

— Espero que até lá Skeeter não faça mais nenhuma matéria — Therion falou.

— Duvido. Ela praticamente humilhou meu pai na matéria de ontem.

— Ainda faremos algo em relação a ela quando tivermos tempo — Canis garantiu.

Mais tarde, os gêmeos seguiram para a tão aguardada aula de História da Magia. Sentaram-se lado a lado, como sempre faziam, e não demorou para todos os alunos chegarem. Eles acenaram para Merliah quando ela chegou, porém ela os ignorou daquela vez sentou-se próximo a suas colegas de quarto.

— O que deu nela? — Canis indagou ao irmão.

— Não sei... Vamos tentar falar com ela na comunal depois.

Pontualmente, Arcturus passou pela porta e seguiu até a frente da sala com sua perfeita postura nos mesmos trajes escuros daquela manhã e com sua varinha em mãos. Ele agitou a varinha para puxar o quadro para mais perto e então voltou-se para os alunos segurando um rolo de pergaminho.

— Bom dia a todos — cumprimentou. — O Prof. Binns me informou que foi passado para vocês uma tarefa para as férias. Não quero que tenham perdido seu precioso tempo do verão, então irei considerar essa atividade e corrigi-la. — Ele desenrolou o pergaminho. — Já fui aluno dele, então sei o quanto devem achar terrivelmente chato precisar fazer uma longa redação sobre a formação do Ministério da Magia quando poderia estar aproveitando as férias com algo mais empolgante, que no meu caso era ler outros livros mais interessantes, mas sei que não é o lazer de todos. Se um professor novo chegasse no ano seguinte dizendo que não aceitaria a atividade até mesmo eu iria querer usar um feitiço estuporante, e eu ainda tenho muito o que viver, então podem guardar suas varinhas.

Ouviram-se algumas risadinhas mais ao fundo da sala. Ele começou a chamar nome por nome seguindo a lista em sua mão. Cada vez que alguém respondia "presente" com a atividade em mãos, ele convocava o pergaminho até a mesa. Ao concluir, ele uniu as mãos atrás das costas.

— Tenho plena ciência de que o ensino de História da Magia até então talvez tenha sido… Entediante. Respeito o Prof. Binns, porém, já fui aluno e sei o quanto a forma dele de ensinar é difícil de se manter a atenção. Espero conseguir ganhar a atenção de vocês e mostrar o quanto estudar a história do Mundo Bruxo pode ser fascinante. Também não irei obrigá-los a estarem atentos, claro, mas peço que não atrapalhem com conversas e brincadeiras.

Ele falava com grande firmeza e convicção em sua voz, sem vacilar, mas estava longe de parecer duro e arrogante como o professor anterior daquela disciplina. 

—  Então, agora daremos início a nossa primeira aula — disse e sorriu fraco para a turma. — Abram o livro Mistérios das Revoltas Mágicas na seção das Revoltas dos Duendes.

Todos os alunos pegaram seus livros e pergaminhos para anotações, incluindo os gêmeos, enquanto Arcturus agitava a varinha e no quadro surgia um mapa mental perfeitamente organizado do tema da aula.

— Como devem saber, muitos grupos de seres mágicos organizaram revoltas na sociedade mágica ao longo da história, mas os duendes são protagonistas de muitas delas — começou a explicar enquanto caminhava pela sala. — Vocês já devem estar cansados de ouvir sobre todas as revoltas dos duendes, porém vamos falar sobre a última delas ocorrida ao final do século passado, a qual chegou ao fim graças a um aluno do quinto ano de Hogwarts.

Os gêmeos seguiram o tio com os olhos, interessados no assunto.

— Esse aluno era um caso raro de demonstração mágica tardia. Sua primeira magia foi feita apenas pouco antes de completar 15 anos de idade, diferentemente da maioria aqui que presumo ter ocorrido ainda na infância.

— Eu tinha quatro anos! — Blaise comentou com orgulho.

— Eu tinha três — Pansy rebateu com um sorriso presunçoso.

— Eu também! — Nott disse. — Bem, meu pai sempre diz que um legítimo puro sangue demonstra magia até os três anos.

— Já ouvi isso também — Arcturus comentou com um olhar um tanto distante. — É uma crença um tanto quanto exagerada.

— É uma bobagem — Therion disse.

— Meu pai disse que já fazíamos magias involuntárias com apenas um ano de idade — Canis falou.

— E nós somos mestiços.

— Como eu disse, uma crença exagerada — Arcturus riu baixo. — Esse aluno, por sua idade, entrou diretamente no quinto ano, mas recebeu um reforço de um professor de Hogwarts antes de iniciar as aulas para que não estivesse tão atrasado em relação aos outros. Nessa época, o diretor era o menos popular dentre todos… Phineas Nigellus Black.

Os olhares de todos imediatamente foram para os gêmeos, que suspiraram.

— Do outro lado dessa luta, o grande centro desse tema será o duende Ranrok, principal motivador dessa revolta, e sua união com um bruxo das trevas, Victor Rookwood. Alguém saberia dizer o por quê dessa aliança justamente numa revolta contra bruxos?  — o professor questionou aos alunos, sendo seguido por um silêncio. — O que levaria dois lados totalmente opostos de uma questão a se unirem?

— Bruxos das trevas não são exatamente pessoas confiáveis — Canopus respondeu, focando os olhos no tio. — Eles poderiam ter um caminho para os objetivos um do outro, mas isso não significa que era uma aliança de verdade e estável.

— Precisamente, Canopus. Cinco pontos para a Sonserina.

Canis arqueou a sobrancelha, momentaneamente surpreso por Arcturus tê-lo reconhecido tão facilmente, pois muitos professores ainda confundiam-no com Therion mesmo após três anos de convivência. Até que então ele se recordou do poder do homem sobre a mente das pessoas. Isso certamente era uma vantagem.

O que também significava que ele sabia o que pensava sobre seu retorno e que não o considerava confiável. Seria um ano bastante intrigante.

— Rookwood integrava um grupo de bruxos das trevas conhecidos como Cinzais, que eram…

— Os antecessores dos Comensais da Morte? — Canopus interrompeu. Arcturus comprimiu os lábios.

— Não exatamente, mas alguns de seus atos eram semelhantes. Os Comensais estavam focados na questão da supremacia de sangue e em seguir o Lorde das Trevas — explicou. — Alguns Cinzais eram supremacistas, porém em suma eram caçadores, contrabandistas, saqueadores... Estavam mais empenhados em poder para si próprio, tanto político quanto mágico, e tanto Rookwood quanto Ranrok estavam interessados em ambos. Após passarmos pela Guerra Global entraremos na Guerra Bruxa e poderemos retornar aos Comensais e seus interesses.

— Estou ansioso para essa aula. — O garoto sorriu cínico para o professor.

Arcturus respirou fundo, repensando muito num curto espaço de tempo as escolhas que o levaram a estar ali.

— Continuando — falou. — Vamos para os primeiros grandes ataques dessa revolta. — Ele agitou a varinha fazer surgir uma lona onde fez aparecer a imagem de uma matéria muito antiga do Profeta Diário.

— Como o senhor está fazendo isso? — um aluno perguntou.

— Aqui tem projetor? — Liah franziu o cenho e começou a olhar ao redor da sala.

— Infelizmente, Senhorita Stuart, as tecnologias trouxas não funcionam em Hogwarts, porém seu pensamento não está errado. Eu criei um feitiço de projeção inspirado nos projetores trouxas usando algumas outras magias semelhantes. Acredito que torne a aula um pouco menos massante — Arcturus explicou. — Aqui temos uma notícia do Profeta Diário sobre o primeiro ataque conhecido de Ranrok a bruxos. Sua principal motivação era mostrar o quanto os duendes são superiores e mereciam estar no comando do mundo mágico.

Muitos alunos riram.

— Seus métodos eram questionáveis, mas veremos que alguns duendes tinham razão para não possuírem tanta simpatia com os bruxos. Querendo ou não, eles não são inferiores a nós como muitos pensam, assim como os elfos, sereianos, nascidos-trouxas…

— Pelo visto esse pensamento é de família — Draco murmurou logo a frente dos gêmeos.

— Muito melhor que os pensamentos da sua família — Canis murmurou de volta.

Draco agarrou o tampo da mesa e respirou fundo. Therion olhou-o intrigado, percebendo o quanto ele estava agitado internamente, como um conflito. Sentimento de contenção, algo reprimido.

O gêmeo mais novo logo também respirou fundo e tentou não pensar em nada, não expandir sua mente.

Arcturus continuou a explicar apresentando algumas imagens da época que disse ter conseguido em outros livros e reportagens da época. Escreveu alguns tópicos no quadro, fez linhas do tempo de acontecimentos, tudo bastante visual e chamativo. Era a primeira vez em muito tempo que uma turma inteira permanecia consciente e atenta em uma aula de História da Magia.

Claro, houve muitos comentários vindo sobretudo daqueles de família supremacista, mas o professor usou disso para iniciar breves debates e discussões, não mantendo o foco apenas em ditar todos os eventos num grande monólogo como fazia Binns. Na verdade, muitas vezes era notável o quanto ele deixava-se levar ao falar e se empolgava um pouco.

Como quando começou a falar sobre a magia ancestral que os duendes conseguiram acesso naquela revolta, explicando com um grande brilho no olhar.

— Magias ancestrais são extremamente complexas e é quase impossível dizer com certeza toda sua fama de possibilidades e vertentes, pouquíssimos bruxos no último século conseguiram chegar perto de manipular poder semelhante — falou com grande empolgação. — Eu, particularmente, já pesquisei muito sobre, é um assunto fascinante que faz parte da história da nossa magia. Uma amiga minha chegou extremamente perto de… — Ele se deteve. Por um momento, olhou para os gêmeos, porém logo desviou o olhar. — Desculpe, estou me alongando demais e vou acabar fugindo do assunto. Mas caso tenham interesse em saber mais, seria interessante procurar, pode ser útil algum dia.

Ele exibiu uma nova imagem, a de um imenso dragão. Isso obviamente chamou a atenção de Canopus.

— Este dragão, por exemplo, foi enfeitiçado com a magia ancestral de Ranrok para atacar nosso jovem herói de Hogwarts em sua carruagem a caminho do castelo. Dragões são seres de grande magia em seu sangue e não é fácil domá-los ou controlá-los com magicamente, nem mesmo a Maldição Imperius seria o bastante — disse. — Eu conheço uma magizoologista especialista em dragões, uma das poucas que consegue lidar com eles sem o uso de feitiços atordoantes e sedativos. Ela tem feito uma grande pesquisa sobre a magia deles.

— Dumbledore possui uma pesquisa conhecida sobre os benefícios do sangue de dragão — Canis disse, os olhos brilhando. — Ajudou muito na medibruxaria para tratar de maldições até então ditas incuráveis. Tem o poder até de neutralizar algumas magias! Já salvou muitas vidas.

— De fato. — Arcturus voltou os olhos para a mesa a frente dos gêmeos.

Draco comprimiu os lábios e encolheu-se no assento, desviando o olhar. Therion franziu o cenho, intrigado.

A aula seguiu muito bem. Ao final dela, Arcturus designou uma atividade, para a alegria de muitos, sem tamanho mínimo para o pergaminho. Os gêmeos não tinham o que reclamar, pois haviam realmente gostado da aula, muito melhor que qualquer uma do Binns.

Eles amavam ler, mas o antigo professor conseguia tornar tudo extremamente monótono e entediante e escolhia sempre os livros mais antigos com as piores linguagens possíveis.

— Você realmente guardou todas as suas perguntas e comentários para a aula, Canopus — Arcturus comentou ao ver que os gêmeos foram os últimos a se levantar.

— Sou um ótimo aluno. — O garoto deu de ombros.

— Vão se atrasar para a próxima aula se não forem logo. A sala de Adivinhação é no sétimo andar, serão muitas escadas pelo caminho — avisou. — Ainda tenho mais uma aula para ministrar. É bom irem logo.

— Até mais, então, Archie — Therion disse e agarrou o braço do irmão. — Vamos procurar Harry e Rony.

Os garotos seguiram para fora da sala, mas não sem antes olhar para trás por um momento e observar o professor organizar os pergaminhos que pegara no início da aula. Não tinha muito o que pudessem fazer além de seguir, por enquanto.

Therion pegou o Mapa do Maroto e buscou por Potter, avistando o nome dele em um corredor próximo junto a Rony e Merliah, que já havia ido até eles como sempre fazia para irem juntos para a aula de Trelawney.

— Me digam que seu tio é um professor melhor que o Binns, temos aula com ele segunda-feira — Weasley questionou.

— Sim, ele é. Passou duas atividades sem tamanho mínimo para pergaminho — Therion respondeu.

— Vocês não tem outros parentes para serem professores, têm?

— Infelizmente, não — Canopus disse.

— Se não fossem as circunstâncias, Sirius não seria um professor ruim — Therion comentou.

— Seria bom ter ele e Remus ensinando — Harry falou e suspirou.

— Trewlaney é realmente tão maluca quanto imaginamos? — Canis perguntou.

— Principalmente quando está prevendo nossas terríveis mortes iminentes — Rony falou.

— Especialmente a minha morte ou alguma tragédia. — Harry revirou os olhos.

Eles seguiram para a sala de Adivinhação, subindo um longo lance de escadas até lá, até para os padrões de Hogwarts e seu tamanho.

Therion respirou fundo antes de entrar, já tendo passado novamente por alguns dos colegas de classe da Grifinória. Canopus tocou seu braço para confortá-lo, notando o nervosismo, e eles entraram juntos na sala, logo atrás de Harry.

O perfume que inundava a sala era tão doce que chegava a ser enjoativo. Todas as cortinas estavam fechadas, a fraca luz vinda de poucas lâmpadas cobertas por xales avermelhados. O cômodo circular como um anfiteatro possuía várias almofadas e pufes para os alunos se acomodarem em pequenas mesas redondas, trazendo uma maior sensação de conforto.

— Essa sala foi feita para nos fazer dormir durante a aula? Porque é o que vou fazer se encostar em alguma dessas almofadas — Canis comentou e riu baixo enquanto seguiam para uma das mesas.

Draco se encontrava em uma das mesas junto de Pansy, Blaise e Theodore. Ele olhou surpreso para os gêmeos ao vê-los ali e suspirou, enterrando o rosto em suas mãos.

— Acho que vocês estão pouco atrasados para essa aula. Um ano, talvez — provocou, arrancando algumas risadas dos amigos ao lado.

— Não há nada no regulamento de Hogwarts sobre não poder adicionar uma eletiva depois do terceiro ano — Therion retrucou.

— Me surpreende que você faça essa disciplina, Dragãozinho — Canis disse. — Apenas Harry para me convencer a te aturar por mais uma aula.

— Oh, muito obrigado por isso, Potter — Malfoy falou com a voz transbordando sarcasmo.

— De nada — Harry respondeu e sorriu cínico. — É ótimo ter meus amigos comigo.

Eles sentaram-se na mesa logo abaixo deles. Therion olhou de soslaio para a mesa onde estava seus colegas de quarto, conseguindo sentir a mesma coisa que na aula anterior com um adicional de frustração. Algo estava muito difícil para Malfoy.

Draco olhou na direção de Therion e fechou a cara, suspirando. E então, o Black não conseguiu sentir mais nada.

— Bom dia!

Os gêmeos e Harry deram um salto de susto no lugar ao ouvir a voz da professora próxima repentinamente. A mulher de enormes óculos redondos e longos cabelos loiros bagunçados olhou-os com curiosidade, e Potter logo choramingou já aguardando mais uma previsão ou constatação sobre si, como sempre.

— Parece que temos duas novas companhias hoje — ela disse.

— Nos matriculamos esse ano — Therion respondeu e sentiu todos na sala olhando na direção dele e do irmão.

— Então estão um ano atrasados.

— Nunca é tarde para aprender, não é? — Canis falou e exibiu um fraco sorriso para a professora. — Ouvimos falar muito bem de sua aula e começamos a nos interessar bastante por adivinhação. Já fazemos Aritmancia, por que não incluir novas formas de prever nosso futuro tão incerto?

— Gosto dessa sede de conhecimento, meu querido! — Trelawney sorriu de volta. — Vejo uma grande aura mística em vocês. Tenho certeza que há um grande dom para a clarividência em vocês…

— Eu tenho muitos sonhos com o passado, então acho que já é um passo.

— Já vejo pensamentos. O que é mais o futuro, não é? — Therion forçou um sorriso, entrando no jogo de bajulação do irmão.

— Isso é magnífico! Vocês certamente serão capazes de acompanhar a turma apesar do atraso. Aliás, gêmeos possuem uma conexão mística inigualável!

— Nós temos mesmo uma grande conexão. — Therion passou o braço sobre os ombros do irmão.

— Conexão com as trevas? — alguém murmurou ao fundo.

Os gêmeos fecharam a cara instantaneamente e viraram-se para trás em busca de quem falou, mas não conseguiram identificar. Voltaram-se para a professora novamente, em grande sincronia, e Canopus rapidamente exibiu um falso sorriso.

— Tenho ótimos pressentimentos sobre as aulas.

— Minha Visão Interior me diz que vocês terão um ano agitado pela frente.

— A minha me diz a mesma coisa.

Trelawney afastou-se e Canis imediatamente desfez seu sorriso, lançando um olhar ameaçador para os alunos atrás dele. Therion levou as mãos às têmporas e grunhiu baixo, também olhando para as pessoas.

— Meus queridos, está na hora de estudarmos as estrelas! — disse a professora após sentar-se em sua grande cadeira próximo a lareira.

— Irônico, não? — Nott murmurou para os gêmeos e riu.

— Os movimentos dos planetas e os misteriosos portentos que eles revelam somente àqueles que compreendem os passos da coreografia celestial. O destino humano pode ser decifrado pelos raios planetários que se fundem…

— Harry, é melhor isso realmente valer a pena — Therion sussurrou para ele entredentes.

Potter discretamente puxou uma das mãos do Black para que pudesse segurá-la sob a mesa e sorriu fraco, com suas bochechas coradas.

Therion sorriu de volta.

Aquilo já era uma ótima vantagem.

Durante a aula, Therion buscou tentar se concentrar na professora e não em todos a sua volta, mas estava particularmente complicado naquele dia e cada pensamento ruim o deixava mais nervoso. Então restou a ele focar essa habilidade na única mente realmente protegida daquela sala.

Draco era o único de quem parecia não conseguir ver nada, nem mesmo se quisesse. Um ótimo bloqueio mental. Isso realmente trouxe um pouco de paz para ele para focar no que Trelawney dizia, um ponto de partida para conseguir se concentrar em manter-se controlado.

Não acreditava que teria que agradecer a Malfoy por alguma coisa.

Harry realmente não estava prestando muita atenção na aula. A aura perfumada e o monólogo da professora deixava-o sonolento. Estava muito mais focado em continuar segurando a mão de Therion e como isso fazia seu coração acelerar, na vontade que sentia de se render ao sono deitando no ombro dele até o fim da aula.

Mas também sabia que o Black jamais o deixaria dormir numa aula que ele implorou tanto para que se matriculasse também. Quando seus olhos estavam pesando e sua mente vagando demais, ele despertou repentinamente num leve salto ao sentir Therion apertar sua mão com força e dar-lhe um leve choque com a ponta da varinha discretamente debaixo da mesa.

Therion não disse nada, mas seus olhos já expressavam bem a mensagem. E para a sorte de Harry, ele o fez justamente quando a professora falou sobre si.

— Você, sem dúvida, nasceu sob a influência nefasta de Saturno, meu querido — Trelawney falou.

— Saturno? — franziu o cenho.

— O planeta Saturno certamente estava numa posição dominante no momento em que você nasceu.

— Ah… Brilhante.

— O cabelo escuro, a baixa estatura — Os gêmeos e Rony sufocaram um riso nessa parte, e Harry lançou-lhes um olhar mortal ao mesmo tempo que soltava a mão de Therion e cruzava os braços. —, suas perdas trágicas na infância… Acho que estou certa ao afirmar que você nasceu em pleno inverno?

— Eu nasci no verão — retrucou com uma expressão emburrada.

Rony e Canopus não conseguiram conter a risada dessa vez, mas foram sábios em logo disfarçar com uma tosse exagerada.

— Tirando a baixa estatura, todas essas características se aplicam a mim e meu irmão e nós nascemos no Solstício de Inverno — Canis falou.

— Durante a pior nevasca da década, segundo o que meu pai disse — Therion completou.

— O Solstício de Inverno é um dia importantíssimo para a magia! Quando todo o universo está alinhado para reorganizar as ordens mágicas e as maiores magias nascem. Não me admira que sinta algo tão forte vindo de vocês!

Therion e Canis se entreolharam e riram baixo.

Algum tempo depois, todos receberam um mapa circular para desenhar as posições dos planetas no exato momento em que nasceu. Merliah foi a primeira a terminar em pouquíssimo tempo, ganhando um olhar surpreso dos amigos.

— Eu já fiz mapa astral várias vezes. Minha mãe sempre acreditou em astrologia.

— Eu tenho dois netunos aqui... Acho que errei alguma coisa — Harry falou olhando para seu mapa.

— Com certeza — Canis comentou.

— Ah, Harry! Não sabe? Quando dois netunos estão no céu — Rony falou com um ar místico imitando a professora. — significa que um anão de óculos está nascendo...

Harry chutou o amigo por debaixo da mesa e o empurrou, enquanto os outros riam.

— Não ria — falou para Therion.

— Desculpa — Therion riu baixo. — Você tomou suas vitaminas hoje?

— Sim — respondeu emburrado.

Therion sorriu e então puxou sua mão para segurá-la debaixo da mesa mais uma vez enquanto voltava a fazer seu mapa. Ainda com uma expressão emburrada no rosto, Potter continuou sua atividade, mas não soltou a mão do Black.

A aula terminou assim que concluíram seus mapas.

— Vamos para os dormitórios descansar um pouco — Canis falou.

— Vou também ou Madame Pomfrey vai nos arrastar pelas orelhas até a ala hospitalar — Harry falou. — Nos vemos antes do jantar?

— Está bem — Therion concordou.

Harry seguiu com Rony por um lado e Merliah foi com eles, conversando com Weasley. Therion pegou o Mapa do Maroto e procurou rapidamente por Arcturus.

— Quem está procurando?

— Archie. Já que não estou mais treinando com Sirius, posso tentar arranjar um legilimente para me ajudar a não sentir que minha cabeça vai explodir e ainda me aproximar dele.

— É uma ótima ideia! Onde ele está?

— Acabou de sair da sala de aula. Parece estar indo para a sala dele.

— Tente encontrá-lo antes que chegue a sala dele e tente contê-lo com isso o quanto puder.

— Por quê?

— Também tive uma ideia.

Therion olhou desconfiado para o irmão.

— O que vai fazer?

— Se ele não vai falar, vamos tentar por nós mesmos. Vá até ele, agora! Nos encontramos no dormitório.

Canopus desceu as escadas correndo o mais rápido que pôde. Therion também começou a correr, já sabendo os planos do irmão.

Enquanto Canis ficou pelo quarto andar, o mais novo continuou a correr e descer ainda mais, observando o tio e o irmão pelo mapa. Quando chegou ao térreo, seguiu na direção de Arcturus.

— Black!

Therion olhou confuso para trás e franziu o cenho.

— Não estou com tempo, Malfoy.

— Não me interessa o que vai aprontar agora, só pare — Draco respondeu correndo até ele e agarrando seu braço.

— Malfoy, eu realmente... O que pensa que está fazendo?

Draco puxou-o na direção de um corredor vazio e soltou-o bruscamente. Therion tropeçou com a força com a qual foi solto e bateu contra a parede, onde também se apoiou.

Therion grunhiu de dor e encarou Malfoy com uma expressão irritada.

— Porra, Malfoy! O que você quer?

— Apenas um aviso — Draco aproximou-se. — Pare de invadir a minha mente.

— Eu... O quê? — Franziu o cenho.

— Eu aprendo oclumencia desde que tinha cinco anos, sei reconhecer quando alguém está tentando entrar na minha mente. Você fez isso na aula de História da Magia...

— Eu não queria, não sei controlar ainda.

— Depois em adivinhação você fez de novo e tentou a aula inteira. O que você e seu irmão querem afinal? Usar sua habilidade recém descoberta para entrar na minha cabeça e descobrir um novo jeito de me atormentar?

— Primeiramente, eu nunca te falei que acabei de descobrir que sou legilimente.

— Eu ouvi ontem. Estava lá no dormitório, esqueceu? — Therion bufou ao lembrar-se. Deveria ter tido mais cuidado. — E hoje lá foi você usar isso.

— Em adivinhação eu confesso que fiz de propósito...

— Pois não faça.

— Era o único jeito de acalmar minha cabeça! — Therion exclamou. — Nem tudo é sobre você, Malfoy.

Draco revirou os olhos.

— Estou falando sério! Quando você bloqueia sua mente é como se não estivesse pensando absolutamente nada. Não seria surpresa você ser um cabeça de vento, mas... Focar em uma mente só que não tem nada é melhor que ter várias pensando coisas horríveis sobre você. Eu não conseguiria me concentrar para fechar a minha mente com todo mundo querendo que saia dessa escola!

— Desculpa muito criativa.

— Acredite no que quiser. Eu tenho mais o que fazer, Malfoy.

Therion bufou e tentou passar por ele, mas Draco agarrou seu braço novamente com força.

— Canis não é o único cheio de cicatrizes doloridas no corpo. Pare e me solte! — resmungou.

— Não tente invadir minha mente de novo.

— Seus pensamentos não me interessam, Malfoy — retrucou. — Pouco me importa o que quer que esteja fazendo você lutar contra si mesmo como um dragão enjaulado.

— Do que está falando?

— Você está reprimindo pensamentos. Eu vi isso com Sirius e não me importa o que é. Agradeço a sua oclumencia por ter me ajudado na aula de adivinhação, mas não se preocupe, não deve ter nada de interessante nessa sua cabeça para eu tentar ver alguma coisa propositalmente por qualquer outro motivo.

— E o que supostamente já viu não propositalmente?

— Um pouco difícil saber o que era realmente você ou apenas suposição minha, como sabe, descobri que posso ver recentemente. Sei lá! Você ter sido curado de o que quer que seja com sangue de dragão, estar todo reprimido, tenho quase certeza que você só perdeu aquele pomo pro Diggory ano passado porque estava magoado com o Canis...

— Eu não estava!

— Agora tenho certeza que estava. Realmente não me importo com nada que vi. Eu não vou ver nada que queira esconder, pode continuar com seus segredinhos o quanto quiser, Malfoy.

Therion soltou-se do aperto de Draco com dificuldade e afagou o local, que estava dolorido.

— Está avisado.

— Não precisava avisar. Agora eu vou embora e se você agarrar meu braço de novo, será a última coisa que terá feito com suas mãos — ralhou ameaçadoramente e saiu do corredor pisando duro no chão.

Respirou fundo e xingou Malfoy de todos os nomes possíveis em sua mente enquanto olhava para o mapa e corria para as escadas ao ver que Arcturus já estava no primeiro andar.

Caminhou o mais rápido que pôde e o alcançou quando já estava subindo para o segundo andar. Subiu as escadas logo atrás dele.

— Arcturus! — chamou, mas ele continuou andando. — Ei!

Correu até ele e tocou seu braço.

— Archie!

Arcturus afastou bruscamente e virou-se para ele, recolhendo as mãos para junto se seu corpo e olhando-o irritadiço.

— Se não for alguma dúvida acadêmica, pode retornar a sua comunal, Regulus.

— Não é, mas... — Arcturus virou-se, mas Therion correu e colocou-se a sua frente. — Eu preciso da sua ajuda.

— O que quer?

— Eu...

— Esse é o Mapa do Maroto? — Archie indagou de repente ao ver o mapa nas mãos dele.

— Hã? Ah... O mapa... — Therion suspirou e olhou para o mapa, então de volta para o tio. — Sim, é.

— Vocês recuperaram da sala do Filch? Ele confiscou quando eu estava no sexto ano.

— Os gêmeos Weasley, na verdade. E Canis e eu recuperamos deles. Papai e Sirius deixaram que ficássemos com ele.

— Por que não chama Sirius de pai e só Lupin? — Franziu o cenho.

— Complicado, Sirius ficou longe por doze anos, papai quem nos criou... Como sabe a quem estava me referindo quando falei "pai"?

— Eu sei que Remus ficou com a tutela de vocês quando Sirius foi para Azkaban.  Adotei meu filho mais velho na mesma época, ele chama Mattias de pai desde antes mesmo de ficarmos noivos.

— Enfim... Canis e eu ainda estamos construindo nossa relação com Sirius, nós só começamos a conviver com ele de verdade durante as férias. Canis está tornando as coisas mais difíceis...

— Consigo imaginar.

— Mas não mude de assunto! Eu preciso da sua ajuda.

Arcturus suspirou.

— Com o quê?

— Eu só descobri que sou legilimente depois da Copa Mundial. Naquele dia, todo aqueles deixou minha cabeça...

— Explodindo.

— É... Antes disso eu pensava que tudo era só coisa da minha cabeça. Legilimencia não é exatamente como eu pensava, sempre vi mais sentimentos.

— Você é um legilimente empático. Minha mãe também era. Tem mais facilidade em ler emoções e os pensamentos que elas trazem.

— Oh... Isso explica muita coisa. Bom, é assim que você pode me ajudar.

— Desculpe? O que quer dizer?

— Você pode me ensinar mais sobre legilimencia — Therion explicou. — Sirius estava me ensinando a controlar, mas agora ele obviamente não pode. Você poderia continuar o trabalho. Seria até melhor já que você também é um legilimente.

— Não.

Therion piscou confuso.

— Não?

— Desculpe, não posso ajudá-lo. Se era apenas isso, com licença.

Arcturus desviou do sobrinho e seguiu seu caminho pelo corredor em direção as  próximas escadas. Therion segurou sua mão.

— Por favor!

— Pare! — Arcturus exclamou e afastou-se, recolhendo as mãos até a cabeça e passou-as pelos cabelos, então unindo-as uma a outra enquanto afastava-se mais do garoto. — Por favor, não. Volte para sua Comunal.

— Ano passado já era insuportável. Eu não conseguia ficar nos lugares com todos falando e pensando sobre mim, com raiva, pensando que ajudei Sirius a fugir. Esse ano está pior, e eu não sei controlar! Por favor... — implorou.

— Não, Regulus.

— Por favor... Você sabe como é. Eu já vi memórias de Sirius de quando você era mais novo e como também sofria com as dores de cabeça nas reuniões que tinha em sua casa. Por favor, me ajuda, Archie. Por favor...

Arcturus respirou fundo e ficou em silêncio.

— Por favor... Você era amigo da minha mãe! Não pode fazer isso por ela?

— Está apelando para um jogo sujo.

— Eu só não aguento mais. Preciso aprender a controlar. Por favor, Archie... — continuou a implorar. — Você é a única pessoa que pode me ajudar.

***

C

anopus não demorou para chegar a sala de Arcturus após ver o irmão continuar a descer as escadas atrás do tio.

Alohomora — disse o feitiço e abriu a porta da sala, entrando rapidamente.

Suspirou ao observar a sala, agora já sem a mesa de café da manhã montada. Seguiu para a escrivaninha e começou a vasculhar em busca de qualquer pista sobre a vida de Arcturus nos últimos anos.

A primeira coisa que viu foram os porta-retratos. Ótimo. A família dele.

O primeiro a chamar sua atenção foi um com uma fotografia trouxa, pois estava paralisada, diferente das bruxas que se moviam. Arcturus não estava nela, apenas Mattias numa praia com uma roupa de mergulho — ou seria de surf? — ajoelhado na areia abraçado a duas crianças, a maior num traje parecido e a menor em um maiô lilás. A criança pequena não parecia ter mais que quatro anos, e Canis logo reconheceu a garotinha de cabelos escuros, olhos de um azul acinzentado e sardas, Stella. A outra criança era um pouco maior, talvez uns seis ou sete anos, com cabelos loiros curtos como os de Mattias, mas um pouco maiores que os do homem, abraçando seu pescoço por trás e sorrindo enquanto ele estava abraçava a outra. Parecia extremamente familiar.

Aquele sorriso travesso causou-lhe uma sensação de déjà-vu.

— Então esse é o irmão que a Stella falou no trem... — murmurou consigo mesmo.

Conseguia ver uma pequena semelhança principalmente nos olhos, mas não tanta quanto esperava.

O outro retrato era uma fotografia bruxa, nessa Arcturus estava. Era a foto do dia se seu casamento, soube imediatamente. Tanto ele quanto Mattias vestiam trajes brancos com capas de cor verde, o lenço dourado tradicional dos casamentos bruxos envolvendo seus ombros. Arcturus estava com um sorriso radiante no rosto, assim como o marido, que abraçava sua cintura e beijava seu rosto depois de sorrir para a câmera, fazendo-o fechar os olhos e rir no mesmo instante antes de abraçá-lo de volta e roçar seus narizes, então encarando-o como se fosse o centro de todo o universo.

Talvez para ele fosse.

O último retrato também era trouxa. Novamente Arcturus e o marido, mas essa parecia mais recente, Mattias sorria com uma bebê de pouquíssimos meses nos braços com Archie abraçando-o e apoiando o queixo em seu ombro.

A caçula que continuava com Mattias em Londres.

Era uma bela família, de fato. Não admirava que Arcturus parecesse tão empenhado em querer protegê-los.

Canis voltou a analisar a escrivaninha e encontrou uma carta que Arcturus aparentemente estava escrevendo e ao começar a ler, ele pegou.

Cara Hadria,

Hoje foi meu primeiro dia ensinando em Hogwarts e não está sendo fácil. Meus sobrinhos vieram falar comigo ontem a noite e hoje pela manhã. Estou tentando me manter distante, mas sei que não será fácil.

Eles são tão teimosos quanto Sirius e Karina, e espertos como ela. Acho que você gostaria de conhecê-los.

Dumbledore contratou Alastor Moody como professor de DCAT. Não fui avisado sobre isso quando aceitei esse emprego e sei que Moody certamente estará de olho em mim, ele deve ter me reconhecido ou ao menos ficou desconfiado. Ele com certeza adoraria me prender.

Dizem que ele está louco, mas duvido que tenha esquecido da luta que nós, Lucius e Evan tivemos contra ele quando...

Merda! — Canopus xingou depois de derrubar o pote de tinta sobre o pergaminho sem querer com a surpresa enquanto lia.

Ele rapidamente colocou o pote e a pena de volta no lugar. Pegou o pergaminho e rapidamente limpou a sujeira na mesa com a varinha, mas infelizmente não podia fazer os mesmo com a carta. Não sabia como simplesmente tirar uma mancha de tinta sem remover tudo que já estava escrito.

Não era algo quebrado pra usar reparo.

Ele xingou tanto que Remus literalmente lavaria sua boca com sabão se ouvisse. Evaporou o pergaminho exatamente como fez com o jornal mais cedo e esperou que Arcturus apenas pensasse que sonhou que escreveu a carta ou algo do tipo.

Mais agitado, ele começou a abrir gavetas. Pegou outro pergaminho e deixou exatamente onde o outro estava e continuou a vasculhar a procura de mais coisas, mas não encontrou nada relevante.

Então subiu o mezanino até o quarto. Estava extremamente organizado e limpo, com mais livros ainda nas prateleiras. Abriu as gavetas das cômodas em busca de mais pistas, qualquer coisa.

Encontrou uma carta.

Caro Archie,

Você já deve estar em Hogwarts agora, então, boa sorte!

Sei que você será um ótimo professor. Você leu quase todos os livros existentes sobre a história do mundo bruxo e magias antigas. Ninguém melhor que você para ensinar História da Magia.

Espero que resolva tudo com Dumbledore sobre aquilo. Estou torcendo para que seja apenas um alarme falso, mas não podemos bobear caso ele esteja realmente voltando.

Poderá contar com minha ajuda se precisar. Estarei aí em breve. E não se preocupe, sei que tudo será resolvido com seus sobrinhos quanto a perseguição do Ministério e a audiência. Nós poderemos ajudar Sirius também.

Você sabe, minha mulher é com certeza a melhor advogada de todo o mundo bruxo. Se depender dela, nenhum outro Black irá pisar em Azkaban.

Ela ainda não foi falar com Remus. Quer fazer uma surpresa e ter toda a solução pronta para chegar como uma grande heroína (como uma boa Grifinória faz). Não largou os livros de Direito em Magia a semana inteira!

E saiba que estou muito bem, apesar do enjôos matinais. Acho que estou me sentindo tão leve e aliviada quanto você quando Walburga morreu.

Não tanto quanto meu irmão por finalmente ser oficialmente o único dono de tudo, claro. Até eu poderia parecer mais triste que ele naquele funeral e estava esperando muito meu pai enfim partir.

Tenho certeza que não será fácil encarar seus sobrinhos, mas tente pensar positivo. Eles devem entender. Karina entenderia.

Você vai conseguir reparar tudo o que fez, por ela e por Sirius.

Me conte para que Casa Stella foi selecionada quando responder! Espero que seja não seja Grifinória ou perderei 30 galeões.

Aguardarei sua carta sobre o primeiro dia de trabalho. Espero que seja bom!

Da sua grande amiga,
Hadria.

Canis leu e releu aquela carta para ter certeza de que havia compreendido bem. Ele dobrou aquele pergaminho e guardou em seu bolso.

Arcturus já sabia sobre a audiência, sobre tudo. Há quanto tempo ele estava ali planejando aquele retorno? O que teria que resolver com Dumbledore?

Continuou a procurar por mais. Uma das gavetas estava trancada com um feitiço um pouco mais complicado, mas ele conseguiu abrir e encontrou uma caixa também trancada com algo que apenas Alohomora não resolveria, conseguia sentir.

Mas era como o diário de sua mãe. Magia familiar.

Graças a sua ligação de tio e sobrinho, ele conseguiu abrir a caixa. Franziu o cenho ao ver o conteúdo.

Um medalhão. Era levemente semelhante ao dos Malfoy, mas esverdeado e com um S formado por uma cobra.

Era o símbolo de Salazar Slytherin, ele reconhecia do salão Comunal.

Pegou o medalhão, curioso. Apenas de tocar era possível sentir que estava repleto de algum tipo de magia poderosa. Era pesado.

Por que Arcturus teria uma relíquia de um fundador de Hogwarts? Os Black não eram herdeiros de Slytherin.

Bom, até onde sabia não era. Passou um ano inteiro tentando convencer aquela escola de que não era durante o segundo ano.

Oh, aquele foi um ano terrível. Canis sentia-se furioso apenas por lembrar.

Ele guardou o medalhão de volta e continuou a investigar. Na mesma gaveta, encontrou cartas. Cartas assinadas por sua mãe. Isso fez seu coração parar por alguns instantes.

As datas nos envelopes eram de pouco antes da morte dela. E enquanto lia, ouviu passos atrás de si.

— Pelo visto, você realmente quer começar o ano em detenção, Canopus.

Canis virou-se para Arcturus e seu irmão.

— Muito bem, Therry. É ótimo poder contar com você.

— Acho que subestimamos ele — Therion encolheu os ombros.


Arcturus arrancou as cartas da mão dele e guardou-as de volta.

— Eu quero ler.

— Essas cartas são minhas.

— São da minha mãe.

— Endereçadas a mim — retrucou Archie. — Saiam agora e agradeçam por eu não mandá-los para a detenção.

— Ela te enviou antes de morrer. Você atraiu ela até eles?

— Não vou responder suas perguntas agora, Canopus.

— ME RESPONDE!

— Não. Eu sou professor de vocês, e vocês estão invadindo minha privacidade. Não devo nenhuma satisfação sobre minha vida. Saiam.

— Se você continuar fugindo dessa pergunta, eu vou entender que está confirmando.

— Entenda o que quiser.

— Então você matou minha mãe, Regulus? — perguntou com a voz dolorida.

Arcturus comprimiu os lábios e cerrou os punhos.

— Duas semanas de detenção para você— disse firme.

— Obrigado por responder.

Canopus virou-se sem dizer mais nada e saiu do quarto. Therion ficou ali estático, perdido, encarando Arcturus.

— Eu não posso ajudar você — ele disse.

Therion não respondeu e virou-se e foi embora atrás do irmão. Arcturus fechou a porta, e enquanto os garotos corriam na direção do dormitório, ele desabou no chão e começou a chorar.

Os gêmeos correram e ao chegarem num corredor do segundo andar, deram de cara com o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

— Por que a pressa, pequenos Black?

— Só queremos chegar a comunal logo, Senhor Moody — Canopus respondeu, tentando manter a voz firme.

— Vocês não parecem bem. São as notícias ou... Seu novo professor de História da Magia?

Os garotos engoliram em seco.

— Acho que a segunda opção.

— E-está enganado, senhor... Vamos indo.— Therion disse.

— O senhor sabe quem ele é? — Canopus perguntou.

— Claro que sei. Vigilância constante!
Nunca esqueço um rosto. Sabe, na minha época de auror, eu conheci sua mãe no Ministério e acompanhei de perto o caso dela.Venham, entrem. Acho que vocês estão precisando de um chá.

— Canis... — Therion agarrou o braço do irmão.

Canopus cerrou os punhos e soltou-se do irmão, seguindo o professor para a sala.

———————————

Olá, meus amores!
Tudo bem?

Um longo capítulo com altos e baixos. Acho que nosso Moody está ansioso para sanar algumas dúvidas do Canis rsrsrsrs

Será que foi realmente o Archie que matou a Karina? 🥺

Quero ver todas as suas teorias para os próximos capítulos e tudo mais.

A primeira aula do Archie eu me baseei na história do jogo Hogwarts Legacy porque estava sem ideia nenhuma de conteúdo e acho meio cedo pra falar da Guerra Bruxa rsrsrs

Ainda conheceremos mais dele e da sua vida e sua família.

Espero que tenham gostado do capítulo! Não esqueçam de comentar bastante.

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 👋😘

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