XLIV. Keeping secrets
— Eu não vou deixar obliviarem ele!
Canopus encarava Remus seriamente. Elliot estava no sofá junto a Harry, encolhido e abraçando as pernas, devidamente cuidado e com curativos.
Após os dois serem cuidados, Lupin puxou o filho com calma para um canto. O garoto foi bastante relutante, não querendo sair de perto do namorado. Therion e Sirius se juntaram a eles na conversa, que logo deixou Canis alterado.
— Ele te viu usar magia, Canis.
— Não!
— Você conhece a lei bruxa. Além de usar magia fora da escola, você usou na frente de um trouxa e contra trouxas.
— Que é meu namorado, quando estávamos sendo atacados pelos ditos trouxas. Tirando a azaração, eu não fiz por querer… Não exatamente.
— Apenas familiares podem saber. Você precisaria estar casado para que ele pudesse ter ciência do mundo bruxo.
— Na verdade, a lei diz familiares ou relação amorosa, não necessariamente uma relação conjugal legalizada — Sirius murmurou. Remus olhou-o arqueando a sobrancelha. — Tinha livros de Direito em Magia na biblioteca do Largo Grimmauld. Existem muitas brechas na legislação bruxa.
— Mas ainda é provável que o Ministério vá obliviar ele, de qualquer forma.
— Se descobrirem o que aconteceu — Therion falou. — Não somos os únicos bruxos do vilarejo. O rastreador não saberia dizer que foi o Canis quem usou magia, nem que eu usei.
— Se descobrirem que três trouxas foram atacados, eles vão investigar. O Ministério tem muitas falhas, mas eles já estão na cola de vocês, sabem que qualquer coisa que acontecer vão desconfiar de nós primeiro. Quando se trata de seus interesses... Eles costumam agir bem rápido.
Os gêmeos bufaram e cruzaram os braços. Por mais que quisessem negar, sabiam que Remus estava certo.
Lupin aproximou-se de Canopus e segurou seu rosto. O garoto tentou virar a cabeça para não olhá-lo, emburrado, mas Remus o fez encará-lo.
— Se o Ministério vier sabendo o que houve e fazer uma intimação, vai ser melhor se Elliot não se lembrar que te viu usar magia.
— Pai, não.
— O Ministério vai obliviar ele de qualquer jeito, e você sabe que nem sempre eles são cautelosos e gentis.
— Por favor… Não apague a memória dele.
— Eu adoraria fazer ele esquecer tudo o que aconteceu ontem, mas aqueles outros garotos não vão. Alterar demais a memória é perigoso. Então só vou mexer na parte que ele te viu usar magia, está bem?
Os olhos de Canopus ficaram marejados. Não queria ninguém mexendo na cabeça de Elliot, por mais que não quisesse trazê-lo para seus problemas do mundo bruxo.
Ele era uma ligação com seu lado trouxa. Um lado diferente de sua vida que o ajudava a esquecer os problemas. Não queria estragar isso, mas também não queria usar uma magia tão invasiva.
— Você sabe que é o melhor, Canis.
— E se revirarem a memória daqueles idiotas?
— Vamos encontrar uma boa defesa. Você teve motivos e sua magia não estava sob controle — Remus disse calmamente. — Vamos cuidar disso. Eu juro que não vou deixar fazerem qualquer coisa com vocês, está bem? Você estava se defendendo, apenas, e vou mostrar isso ao Ministério como for preciso.
Canopus ficou em silêncio por alguns segundos, e então balançou a cabeça. Remus beijou sua testa e voltou para Elliot, que olhou-o atentamente.
— Eu preciso fazer uma coisa, Elliot. Prometo que não vai te machucar, está bem?
Elliot olhou para Canopus, que estava de pé ao lado do sofá. Estava um pouco confuso e abalado. Ele voltou os olhos para Remus e assentiu com a cabeça.
— Eu faço isso — Sirius disse.
— Eu posso fazer.
— Fique com Canis. Eu entendo melhor como funciona uma memória… Já tive que alterar algumas na Ordem. E vou fazer ele se esquecer de mim também.
Remus sequer pensou nesse detalhe. Estava tão focado na preocupação com os filhos e com Elliot que esqueceu que Sirius estava ali em sua plena forma.
Sirius pegou a varinha de Remus e olhou para Canopus.
— Ele não precisa estar envolvido em nossas complicações — disse.
Canis não disse nada. Remus segurou a mão do filho e o puxou até a sala de jantar, trazendo Harry junto. Therion preferiu ficar com Sirius.
Potter abraçou o amigo, que retribuiu forte.
— Não vou deixar o Ministério te culpar por isso — disse. — Eles que tentem mexer com o amigo de Harry Potter.
Canis riu baixo e apertou os braços ao redor de Harry com ainda mais força.
Na sala, Elliot olhava curioso para a varinha e para Sirius. Percebeu imediatamente a semelhança com os gêmeos e ficou intrigado.
— Quem é você?
— Eu sou amigo — Sirius disse calmamente. — Isso não vai te machucar. Vai ficar tudo bem e vamos cuidar de você, okay?
— O-okay.
Sirius tocou a ponta da varinha na cabeça do garoto e afastou em seguida, puxando um fio luminoso prateado com aspecto semelhante a fumaça.
Não demorou muito, de fato. Sirius fez um trabalho extremamente cuidadoso. Elliot ficou com o olhar difuso, vidrado na direção da lareira por alguns minutos, e Therion permaneceu ali com ele até que voltasse a plena consciência, enquanto Sirius saía de vista. Percebeu a mente confusa clarear aos poucos. Então ele piscou e o encarou.
Ele franziu o cenho por alguns segundos.
— Você não é o Canis, é?
— Aprendeu rápido — Therion riu.
Elliot olhou em volta, então de volta para Therion.
— Se fosse ele, já estaria em cima de mim perguntando se estou bem.
— Você está bem?
— Não tente me confundir.
Therion riu.
— Não sou o Canis. Mas a pergunta foi sincera. Você está bem?
— Depende da sua definição de "bem"... Onde Canis está? Ele estava aqui há um minuto, mas… Eu dormi?
— É, você cochilou um pouco enquanto meu pai cuidava dos seus machucados. Compreensível, tudo isso deve ter acabado com você. O que se lembra do que aconteceu quando estavam voltando do encontro?
— Jake veio até nós com aqueles capangas idiotas e o primo dele. Canis nocauteou os outros dois com um soco, não foi? Minha mente parece… Confusa.
— É. Deve ser o susto por tudo.
— Isso já não me assusta mais — murmurou.
Therion comprimiu os lábios. Ele soube que Elliot não estava com medo deles ou do que fizeram, estava exausto e com muito mais medo do que poderia acontecer ao seu irmão.
— Onde está Canis?
— Na sala de jantar. Estávamos esperando que acordasse. Vem, vamos comer alguma coisa.
Therion ajudou-o a se levantar e o guiou até a mesa, pois estava um tanto desorientado. O jantar estava posto. Elliot sentou-se ao lado de Canis, que rapidamente arrastou a cadeira para mais perto, segurou sua mão e acariciou seu rosto.
— Você está bem?
— O melhor que posso estar — respondeu, curvando os lábios num fraco sorriso. Ele olhou para Remus. — Obrigado por cuidar dos machucados, Sr. Black.
— Não precisa agradecer — Remus disse, não se preocupando em corrigi-lo agora. Já devia estar confuso demais. — Quer ligar para sua casa? Posso falar com seus pais e dizer que está jantando aqui.
— Não precisa. Explico a eles quando voltar.
— Você pode dormir aqui se quiser — Canis disse.
— Não quero incomodar.
— Não vai incomodar.
Elliot abaixou o olhar para a própria mão caída no colo.
— Você quer voltar pra casa agora?
— Não — respondeu sincero. Franziu o cenho depois, balançando a cabeça. — E-eu…
— Você pode passar a noite aqui — Remus disse, calmamente. — Precisa descansar. Amanhã cedo te levamos para casa.
— Obrigado… — murmurou baixo.
— Boa noite — Sirius adentrou o cômodo.
Mas ele não estava como Sirius. Ele havia bebido Polissuco e estava com seu disfarce de Anthony. Caminhou até a mesa e sentou-se ao lado de Remus, exibindo um fraco sorriso.
— Está se sentindo melhor, Elliot?
— Estou, obrigado — respondeu confuso.
— Não pude me apresentar quando vocês chegaram, estávamos muito preocupados — disse Sirius. — Sou Anthony.
— Ele é amigo de infância do meu pai — Canopus falou. — Veio passar as férias conosco.
— Pode se servir, Elliot.
— A comida do Remus é maravilhosa. Melhor que qualquer remédio — Harry falou.
Todos se serviram do jantar. Foi calmo e bastante silencioso, mas não desconfortável. Elliot ligou para sua casa depois, suspirando de alívio quando quem atendeu foi sua irmã mais velha em vez dos pais e ela disse que iria resolver tudo e poderia ficar tranquilo ali. Ele logo voltou para o lado de Canis no sofá, e ali ficaram.
Sirius havia bebido pouca poção, então logo retirou-se para o quarto dizendo que iria dormir mais cedo pois estava muito cansado, mas logo retornou como Padfoot. Elliot fez um carinho em sua cabeça.
Mais tarde, Canis emprestou uma roupa ao namorado, que tomou um banho e se vestiu. Ele banhou-se em seguida, voltando para o quarto, onde Elliot estava sentado na escrivaninha de seu irmão com os pés sobre a cadeira.
Therion havia guardado todos os seus materiais de poções, e todas as coisas mágicas foram escondidas. Não se preocuparam com os livros, pois não viram necessidade. Haviam muitos livros trouxas que ganharam de Remus em meio aos exemplares bruxos.
— Você realmente tem uma coruja — Foi a primeira coisa que Elliot disse ao vê-lo.
— Sim. O nome dele é Hermes.
— E você realmente comprou uma doninha.
Antares passeava pelo quarto no momento. Elliot encolheu-se mais quando ele se aproximou da cadeira onde estava e ficou de pé, farejando o ar.
— Ele se assustou com o Antares — Therion comentou.
— Desculpa por isso. Ele ainda está conhecendo a casa. — Canis pegou a doninha nas mãos com cuidado. — Não se preocupe, ele não morde.
— Não foi o que a dona da loja disse — Harry murmurou.
— Fica quieto, Harry — resmungou.
— Vamos deixar vocês em paz. Elliot vai ficar com a minha cama, e eu vou para o quarto do Harry.
— Tudo bem. — Canis deu de ombros.
Therion pegou seu pijama e saiu do quarto com Harry. Canopus suspirou e colocou Antares na cama que comprou para ele junto aos nichos para que pudesse subir e andar pelo quarto, logo abrindo a janela para deixar Hermes sair para caçar.
— Como está se sentindo? — perguntou apoiando-se na escrivaninha.
— Vou ficar bem. Só estou… Exausto. E você?
— Estou bem.
Canis pegou a mão dele e o puxou levemente para ficar de pé a sua frente. Segurou o rosto do outro e deu-lhe um selinho, então o abraçando.
Elliot começou a chorar, e ele deixou que o fizesse, sem soltá-lo.
***
Ninguém conseguiu dormir bem naquela noite.
Canopus passou quase toda a madrugada acariciando os cabelos de Elliot deitado em seu colo, que permanecia também acordado. Harry não conseguiu sequer fechar os olhos e revirou-se na cama pensativo. Therion também não conseguiu e apenas observou Potter inquieto.
Sirius teve um pesadelo com o Largo Grimmauld, a Casa Black, e acordou ofegante. Não conseguiu dormir outra vez. Remus estava imerso na preocupação com o dia seguinte, e quando Sirius acordou, logo o acolheu em um abraço.
Harry novamente virou-se na cama, ficando de frente para Therion e encontrando os olhos azulados abertos.
— Se você continuar assim vai acabar me chutando da cama.
— Desculpa… Eu só…
— Tudo bem. Também não estou conseguindo dormir — Therion disse num tom baixo, mesmo que estivessem sozinhos. Estendeu a mão até o rosto de Harry, acariciando sua bochecha.
Potter aproximou-se mais dele. Sem os óculos, precisava estar muito mais perto para conseguir ver Therion minimamente bem em meio ao escuro. Só de apenas conseguir ver seus olhos, já sentia-se um pouco melhor.
Mas ainda estava um caos em sua mente.
— O que está pensando, hm?
— Você é legilimente, não precisa me perguntar. Pode apenas ler minha mente.
— A mente não é um livro para se ler com tanta facilidade — disse. — Também não quero ficar invadindo sua mente propositalmente... E o pensamento mais coeso que consegui absorver foi sobre meus olhos.
— Eles me acalmam. — Harry sorriu tímido, com o rosto corado. — As estrelas neles me acalmam.
— Você está nervoso, confuso e com medo.
— Uma boa definição.
— Emoções sempre foi mais fácil que pensamentos completos. — Deu de ombros. — Imagino que seja por como o dia terminou.
— É…
— Você deu um belo soco naquele babaca.
— Não consegui me conter. Quando vi, já tinha feito…
Harry abaixou o olhar, enterrando o rosto levemente contra o travesseiro e suspirando. Naquele momento, seus impulsos falaram mais alto que seus pensamentos.
— Trouxe lembranças que gostaria muito que Sirius apagasse da minha cabeça — confessou. — Duda sempre andou com os maiores babacas possíveis para me infernizar fora de casa.
— Ainda quero muito azarar ele.
— Espero não precisar mais olhar na cara dos Dursley. Estou muito bem aqui — falou e voltou a encarar o Black. — Muito bem mesmo.
— Mas agora não está tão bem assim, está?
— Estávamos tão bem. Eu estava realmente feliz de podermos… Ficar juntos… Poder deixar o receio de lado e fazer o que eu queria, enfrentar o risco. Nós ficamos bem, mas… Canis não teve a mesma sorte.
Therion comprimiu os lábios. Sentia-se um pouco daquela maneira também e estava preocupado com o irmão.
— Existem babacas em todo lugar. Tivemos sorte que não encontramos um.
— Sim, existem — concordou Therion. — Mas você fez bem consolando o Elliot. Ajudou ele.
— É horrível não ter quem te ajude. Faz você se sentir… Culpado.
— Os únicos culpados são aqueles filhos da puta intrometidos. — Segurou o rosto de Potter com ambas as mãos. — Eu estou aqui com você, hm?
— Eu sei. — Harry sorriu fraco e abraçou a cintura do Black. — E estou aqui para bater de frente com o Ministério se for preciso para que nem Canis nem você saiam prejudicados.
— Eu só dei um chute bem merecido naquele idiota. Ele te ameaçou.
— Não seria a primeira vez que culpam inocentes.
Therion suspirou, logo pensando em Sirius. Harry tinha razão, e Remus também ao dizer que tudo ali cairia sobre eles.
E ele enfrentaria o mundo com seu irmão de cabeça erguida sem pensar duas vezes. Canis era seu gêmeo, lutariam contra tudo juntos.
— Você disse que eu era seu namorado.
— Hã?
— Para aquele idiota. Quando o afastou de mim e o ameaçou. Você disse que quebraria as mãos dele se ousasse encostar no "seu namorado".
O rosto do Black rapidamente ficou tão vermelho quanto a parede onde estava a cama. Harry o encarava fixamente, e ele não soube interpretar sua expressão ou seus pensamentos.
— Desculpa… Foi no impulso.
— Estamos namorando?
— Nós estamos?
Os dois ficaram em silêncio.
— Acho que podemos deixar isso para quando houver um pedido — Therion disse. — e você estiver pronto. Não quero te forçar a nada.
— Eu te adoro mesmo — Harry falou suspirando.
— Também te adoro. Já falei, gosto muito mesmo de você.
Acariciou o rosto de Potter delicadamente, mantendo-o próximo ao seu.
— E você não está me obrigando a nada — Harry sussurrou. — Gosto de estar com você. Gostaria de um dia ser seu namorado.
— Gostaria?
— Sim — respondeu.
— Eu já disse, nós temos tempo. Então… Estou bem sem um nome oficial.
— Também estou bem… Por enquanto.
— Mas já deixo avisado que quando estiver pronto… Eu vou gritar com muito orgulho para o mundo bruxo inteiro poder ouvir que Harry James Potter é meu namorado.
Harry riu e juntou seus lábios sem pensar. Um selar rápido, mas que deixou Therion nas nuvens.
— Nosso próximo encontro pode ser em Hogsmeade?
— Pode ser até do outro lado do Atlântico, se quiser — Therion disse com um enorme sorriso bobo no rosto. — Quer ir na primeira visita?
— A primeira visita provavelmente só será em outubro. Quero ir no dia que formos pra Hogwarts.
— Próxima fuga marcada, então — concordou juntando sua testa a de Potter enquanto abraçava seus ombros para ficarem mais perto. — Hogsmeade.
— Estaremos em Hogwarts, então… Acho mais fácil de a noite acabar bem.
Therion entendeu logo. Hogwarts, sem risco de precisarem voltar às pressas para ajudar Canis de novo. Lá ele ficaria bem.
Harry se preocupava com ele. Estava preocupado. Com medo.
— Vai ficar tudo bem — sussurrou adentrando uma das mãos nos cabelos rebeldes de Harry, que estavam ainda maiores agora que deixava crescer também. — Vamos ter um ano melhor. — Beijou a ponta do nariz dele.
Harry apertou os braços ao redor de Black com mais força e enterrou o rosto em seu pescoço. Ainda não sentia o sono vir, mas estar ali sentindo o calor de Therion ajudava a acalmá-lo e reorganizar seus pensamentos.
Ia sentir falta de passar a noite abraçado a ele em Hogwarts.
Ficaram em silêncio, apenas abraçados. Um tempo mais tarde, ouviram batidas na porta e então uma fresta se abrir.
— Pode entrar, Canis — Harry falou.
Canopus entrou no quarto e fechou a porta. Ele respirou fundo enquanto caminhava até a cama e sentava-se de frente para o irmão e o amigo. Therion e Harry também se sentaram.
Antares também estava ali, agora farejando a cama.
— Imaginei que ainda estivessem acordados.
— Como Elliot está? — Harry perguntou após ligar o abajur e colocar seus óculos.
— Só dormiu agora.
— Mas você não conseguiu também — Therion disse.
— Estou aqui, não estou?
Therion o chutou de leve. Canopus suspirou e trouxe a doninha para seu colo, começando a fazer carinho no animal.
— Trouxe o Antares para não acordar o Elliot e o assustar.
— E como você está agora? — Harry perguntou.
— Arrependido de não ter batido mais e usado uma azaração pior ou uma maldição.
— Compreensível — Therion disse.
— Ainda estou com raiva.
— Igualmente compreensível — Harry falou. — E tudo bem, sabe… Você não estar bem com isso.
Canis não conseguia expressar bem algo que estivesse sentindo além da raiva e preocupação com o namorado. Eles não fizeram nada de errado. Estavam muito bem e felizes juntos, sendo apenas um casal adolescente que saiu em um encontro.
Ninguém tinha o direito de julgá-los por isso, muito menos atacá-los daquela maneira. Quem o fazia, deixava Black extremamente irritado. E pensar que Elliot sofria com pessoas assim há um tempo, inclusive dentro de sua própria casa, onde deveria estar seguro, não ajudava.
Longos instantes de silêncio se seguiram. Canopus ergueu os olhos para Potter.
— Eu estou bem.
— Não está.
— Estou bem — repetiu.
— Não, você não está! — Harry elevou mais a voz, encarando o amigo. — Não preciso da legilimencia do Therion para saber.
— Eu estou... E-eu estou...
Canopus engoliu em seco.
— Eu... Estou... B-bem... — disse pausadamente, gaguejando, enquanto os olhos marejavam. — Eu estou bem... — repetiu, com a voz falhando mais dessa vez. — Não vou me abalar por aqueles filhos da puta infelizes. E-eu... Eu estou... E-eu e-estou...
Ele não conseguiu repetir mais uma vez, sequer precisou. Harry rapidamente afastou-se de Therion e engatinhou na cama até o amigo, puxando-o para um abraço.
— E-eu... E-estou bem... — disse com a voz embargada.
Já sem mais a adrenalina do momento no corpo, ali diante do irmão e do melhor amigo, Canopus desabou. Não de tristeza, mas cansaço por nada em sua vida durar tanto tempo. Nem sua paz com Elliot, consigo mesmo, durou.
Ele estava exausto. Quando teria um pouco de paz? Quando?
— Estou aqui — Harry sussurrou.
Therion juntou-se a eles, também abraçando o irmão. Seu coração se apertava junto ao dele, quase como se compartilhasse os sentimentos dele.
— Estamos juntos nessa — disse baixo.
Canopus sorriu fraco em meio as lágrimas e olhou para os dois, sentindo o conforto de estar ali com eles. Seu irmão e seu melhor amigo. Junto a Remus, eles eram o mais importante para ele em sua vida. Não se via sem eles.
Mesmo Harry sendo o membro mais recente da família, sentia como se tivesse convivido com ele por toda a vida. Seria muito bom se isso realmente tivesse acontecido.
Talvez em outro universo.
— Já fizeram isso com você? — perguntou de repente, encarando Harry, depois que ele se afastou um pouco.
Silêncio.
— O que aconteceu com Elliot e comigo… Já aconteceu com você também, Harry? — perguntou outra vez.
Harry comprimiu os lábios e abaixou o olhar.
— Depende — respondeu.
— Depende do quê?
— Ser atacado no meio da rua por babacas do nada? Não, nunca aconteceu — respondeu baixo. — Ter alguém enchendo o saco me chamando de… — Não completou. Canis não era legilimente, mas sabia o que era. — Já... Principalmente dentro da escola trouxa. Eu nunca fui muito popular... Sempre me acharam... Frágil demais.
— E depois? O que você fez?
— Recebi uma bronca do meu tio para "ser normal". Tentei ser.
— Harry…
— Estão com muito medo de amanhã? — Harry perguntou de repente. Therion apertou o cobertor até os nós dos dedos ficarem brancos.
Os gêmeos se encararam. Não precisavam de palavras para se comunicar, não apenas por Therion ser legilimente. Era algo deles. Eles se entendiam.
— Não — Canis disse.
— Está. Não é hora pra mentir, caralho — Therion resmungou num tom irritadiço. — Somos eu e Harry aqui, não papai... Mesmo que você não devesse continuar escondendo dele o que sente.
— Estou com mais medo de papai se dar mal por minha culpa e por Sirius estar aqui que a batida propriamente. Não quero que algo dê errado.
— Vai dar certo. Apenas precisamos manter o plano. Improvisamos se precisar.
— Em todos os meus problemas dos últimos anos — Harry falou secando o rosto molhado do amigo com as mangas longas de sua blusa, que na verdade era de Therion dos primeiros dias ali que ele nunca devolveu — sempre acabei tendo que improvisar em algum momento... E nos deveres de Adivinhação. Também estou com medo, mas acho que podemos conseguir. Sempre posso usar minha fama para distrair.
— Podemos falar até que Anthony é noivo do papai se precisar para acreditarem.
— Não exagere, Therry.
— Seria uma ótima desculpa para o "Anthony" ficar por aqui na Inglaterra. Ele poderia nos levar e buscar na estação ou até ir nos jogos de quadribol com papai quando quisesse.
— Imaginar Sirius e papai noivos é um pesadelo.
— Eles dormem juntos. Os aurores com certeza acreditariam.
— Não alimente meus pesadelos. Já tenho o bastante — Canis resmungou começando a secar ele mesmo suas lágrimas e fungando.
— Os pesadelos com Sirius ainda continuam? — Harry indagou.
O silêncio de Canopus respondeu a pergunta.
— Espero que tudo melhore em Hogwarts. Um pouco de paz seria bom.
— Também esperamos — Harry murmurou.
— Seria bom ter pelo menos um ano tranquilo — Therion falou baixo.
— É o que realmente quero… Mas vai ser complicado enquanto Sirius continuar estampando jornais. Você talvez tenha, Harry. Todos amam o menino-que-sobreviveu.
— Não amariam se estivessem no meu lugar.
— Eu sei…
— Nada é fácil para nenhum de nós.
— Disso que tenho medo — Canopus admitiu e mais uma lágrima escorreu por seu rosto.
— Eu também — Therion falou, também deixando uma lágrima cair.
***
O café da manhã sequer havia terminado quando a campainha soou pela casa.
Remus havia desfeito parte dos feitiços de proteção da casa ao levantar-se logo após o nascer do sol, deixando apenas o necessário. Feitiços demais os tornariam suspeitos. Sirius bebeu uma boa quantidade de Polissuco assim que saiu do banho, vestindo um dos suéteres de Lupin junto a uma das calças novas que havia ganhado, pois lhe servia muito melhor no novo corpo maior e um pouco mais forte — além de deixá-lo mais confortável e confiante. Os dois trabalharam para deixar tudo pronto para a visita dos aurores.
Todos agiram normalmente. Remus e Sirius fizeram o café da manhã, os garotos acordaram e desceram ainda em seus pijamas, exatamente como de costume.
Canis trocou os curativos de Elliot e não deixou transparecer o seu nervosismo, apenas cuidando dele. Sentaram-se juntos à mesa, e serviram-se como os outros.
Remus quem foi atender a porta, respirando fundo. Como esperava, encontrou quatro autores à sua frente perfeitamente trajados com o símbolo do Ministério da Magia em suas vestes. Porém, uma coisa chamou a atenção: uma auror de cabelos cor de rosa na altura do queixo.
— Bom dia. Remus Lupin? — disse um auror.
— Sim, sou eu.
— Edgar Flint, auror — apresentou-se. — Em nome do Departamento de Execução das Leis da Magia, estou chefiando esta ação, e o senhor foi intimado a uma batida em sua residência e responder algumas perguntas por ligações ao assassino foragido Sirius Black.
Lupin retornou aos seus dias rebeldes aprontando com os Marotos na adolescência e fez sua melhor expressão de surpresa e desentendimento, exatamente como fazia ao ser questionado por McGonagall sobre as empreitadas de seus amigos.
— Uma batida? Agora? Meus filhos mal acordaram…
— Os dois bruxos menores sob sua tutela, filhos de Sirius Black, também estão sendo oficialmente intimados pelo Ministério — disse outro auror, retirando do bolso interno de seu traje duas cartas.
— Sr. Lupin, esta é uma ação oficial do Ministério da Magia. Então, não há escolha a não ser que nos deixe entrar — disse Nymphadora Tonks. Discretamente, ela sorriu fraco e piscou.
Remus comprimiu os lábios para conter um sorriso. Havia a esperança de que sua carta chegou a Andromeda e agora Nymphadora estava ali para ajudá-los de alguma maneira naquela emboscada do Ministério. Ele engoliu em seco propositalmente, olhando para dentro de casa e então de volta para os aurores.
— Tudo bem — disse. — Mas o namorado do meu filho está aqui. Ele é um de nossos vizinhos trouxas, então…
— O namorado de seu filho por um acaso é Elliot Baker? — indagou Flint.
A expressão de susto de Remus foi genuína daquela vez.
— S-sim…
— Não se preocupe. Temos preparo para situações envolvendo trouxas, e este em específico é de nosso interesse. Agora, por favor, deixe-nos entrar.
Lupin respirou fundo, segurando a porta com certa força, alarmado. Olhou para Tonks, que agora mudava a cor de seu cabelo para um tom acastanhado que deixou-a ainda mais parecida com a mãe. Ela olhou-o de volta.
Precisava confiar que ela realmente estava ali para amenizar a situação e ajudar.
Ele abriu mais a porta e deixou os aurores entrarem. Eles seguiram para a mesa onde todos estavam, e Tonks franziu o cenho na direção de Sirius, que encarou-a de volta.
Ele soube no olhar dela, ela havia notado o que estavam fazendo, mas não disse nada.
— Quem são esses, papai? — Therion perguntou, esboçando confusão.
— Somos do Departamento de Polícia de Rowen's Valley — disse Tonks.
— P-polícia? — Elliot gaguejou assustado e apertou o braço de Canopus.
Canis segurou a mão do namorado e o abraçou de lado.
— Elliot Baker? — Flint direcionou-se ao garoto ao vê-lo agarrar-se ao Black e ver os curativos em seus rostos. Elliot assentiu com a cabeça. — O senhor e os garotos Black estavam envolvidos num ataque a outros garotos ontem a noite, não estavam?
— Nós quem fomos atacados! — Canopus retrucou.
— Estávamos nos defendendo!
— Aproxima-se, por favor.
Elliot engoliu em seco. Olhou para Canopus, apavorado, então ficando de pé. Canis levantou-se junto, sem soltá-lo.
— O que vai fazer com ele?
— Senhor Baker, aproxime-se.
— Vai ficar tudo bem — Elliot sussurrou para Canopus, antes de soltá-lo e fazer o que foi pedido.
— Ripley, interrogue-o e depois o apague antes de obliviá-lo.
— Vocês não vão encostar nele! — Canis exclamou avançando contra Flint, mas Nymphadora e outro auror o seguraram.
— Procedimento padrão para interrogatório de trouxas, Black.
— Como assim? — Elliot franziu o cenho.
— Ele é só um menino! Não pode simplesmente apagá-lo! — Remus interviu. — Tenho certeza que esse não é o procedimento padrão.
— Há suspeita de que um dos garotos Black usou magia na frente deste trouxa, Lupin. Ele deve ser interrogado e obliviado, também não deve interferir ou atrapalhar a batida, então o melhor será que fique inconsciente.
— Magia?!
Uma auror agarrou Elliot pelo braço e o arrastou para a cozinha, seguindo as ordens. Canis tentou soltar-se para segui-los, mas foi contido.
— Acalme-se, Black, ou seremos obrigados a prendê-lo por desacato e ataque a um membro oficial do Ministério da Magia.
— Ele não está atacando ninguém! — Sirius exclamou, irritado.
— O senhor é…?
— Anthony LeBlanc — respondeu firme, rapidamente usando o sotaque francês ao falar o sobrenome. — Amigo da família. Sou bruxo.
— Já que está aqui, faremos perguntas também.
— Soltem o meu irmão! — Therion falou.
— Soltem o meu filho. Vocês só o deixaram nervoso levando o namorado dele dessa maneira — Remus disse. — Ele não vai atacar ninguém. Está sem varinha, caso seus amigos que nos encontraram na Copa não tenham informado. Ainda não tivemos tempo para comprar outra.
Os dois aurores soltaram Canopus. Therion e Harry rapidamente ficaram ao lado dele.
— Somos aurores. O Ministério detectou ontem um feitiço de cura numa residência totalmente trouxa e uma forte magia suspeita nas proximidades esta noite. Um trouxa foi descoberto como alvo de uma azaração — disse Flint, sério. — Investigando, descobrimos que três trouxas foram brutalmente agredidos por bruxos menores de idade e um deles foi azarado e está agora sendo tratado no St. Mungus, já que a medicina trouxa não seria o suficiente.
— Canopus Black e Therion Black, vocês estão sendo intimados a uma audiência no Ministério da Magia por suspeita de violarem a Lei Contra Uso de Magia por Menores e ataque brutal a trouxas — outro auror entregou as cartas aos gêmeos com a intimação. — A audiência ocorrerá dia 30 de setembro. Uma delegação de aurores irá buscá-los na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts para acompanhá-los no dia em questão.
— Mas Therion… — Harry começou a falar.
— Não éramos os únicos bruxos ali, nem somos os únicos no vilarejo. Como saberiam que fomos nós quem azaramos o trouxa? — Therion indagou, interrompendo Harry e não assumindo que chegou apenas ao fim da briga. — Harry estava lá. O primo do trouxa é bruxo e também estava.
— E da minha Casa, eu o conheço. — Harry complementou rapidamente. — Garanto que azarar primos trouxas as vezes pode ser bastante tentador.
— Jonathan Carter foi intimado para depor — disse Tonks. — Atualmente, apenas sete dos bruxos residentes em Rowen's Valley estão em idade para educação mágica e apenas vocês três se encontram no vilarejo. Outros quatro estão comprovadamente em férias fora da região.
— E os senhores possuem histórico de uso de magia fora de Hogwarts — disse Flint. — O senhor Therion Black também está sendo intimado por obliviar um bruxo na Copa Mundial de Quadribol.
— Ele era um Comensal da Morte e ia me atacar!
— Deixe suas justificativas para a audiência, Black. Lupin, iniciaremos agora uma revista completa na residência buscando por Sirius Black ou quaisquer indícios de que esteve aqui. O senhor e seus tutelados deverão responder a algumas perguntas enquanto isso.
— Meus filhos. Eles são meus filhos — corrigiu rispidamente.
Os aurores começaram a revista pela casa. Um seguiu pelo corredor e abriu a porta do escritório com um feitiço.
— Ei! Não mexa aí! — Sirius falou sem pensar e foi atrás do auror.
— O que escondem aqui, Sr. LeBlanc? — Flint indagou intrigado e rapidamente adentrou o escritório. O outro auror começou a revistar as prateleiras e a mesa, bagunçando tudo.
Sirius sentiu-se furioso e agoniado. Eles não deveriam estar ali. Aquele era o espaço dela. Ninguém tinha o direito de invadir e bagunçar tudo que Karina construiu e arrumou com empenho, onde trabalhou tão arduamente.
— Esse é o escritório da mi… — Ele se deteve, sentindo as mãos de Remus em seu ombro em seguida. Olhou-o por alguns instantes, respirando fundo. — Era o escritório da mãe de Canis e Theo. Ela trabalhava muito aqui, um lugar particular dela. É especial para eles, não gostam que fiquem mexendo em tudo.
— É nosso dever revistar tudo — disse Flint. — Tonks, reviste cada canto da sala com Dayholt, agora.
Ela assentiu e começou a analisar o local, com muito mais cuidado que seu colega auror ao agitar a varinha.
— Conheceu Karina Radcliffe, LeBlanc? — Flint questionou.
— Non — Sirius disse, mantendo-se firme e entrando no personagem. — Não pessoalmente. Apenas ouvi que ela era uma bruxa admirável e habilidosa, uma das melhores alunas de Hogwarts. Foi essencial na luta contra Voldemort.
— De onde é seu sotaque?
— Hyères — respondeu. — França.
Flint franziu o cenho.
— O que te trás a Inglaterra, LeBlanc? Sua família é de uma antiga linhagem bruxa da França. Há muito não se ouve falar.
— Nossa família foi se reduzindo muito por causa de uma maldição. Sou o último LeBlanc vivo, infelizmente — disse e deu ombros. — Meus pais morreram há alguns anos, mas eram amigos dos Lupin. Conheço Remus desde criança.
— A família Lupin também vem da França — Remus explicou. — Minha mãe também vem de família francesa.
— Alguns dizem que os Black descendem dos LeBlanc.
— Que família não tem ligação com os Black? — Sirius riu e deu de ombros. — Não posso confirmar ou negar isso. Meus antepassados distantes possuem ligações com muitas famílias da Europa, assim como os Black, pelo que eu soube.
Flint encarou-o desconfiado.
— Conheceu Sirius Black?
— Não tive o prazer de conhecer o notório assassino Sirius Black — respondeu com um leve sorriso de lado. — Apenas conheço a fama de seu nome e o que Lupin já me contou. Ouvi dizer por aí que era muito charmoso na juventude.
Canopus revirou os olhos.
— Qual sua ligação com Sirius Black, Lupin?
— Fomos amigos. Éramos colegas de quarto quando estudamos em Hogwarts, junto com James Potter.
— E você adotou os filhos dele depois de tudo que ele fez.
— Therion é meu afilhado. Eu não poderia deixá-los sozinhos depois que Sirius foi preso, por isso os adotei e os criei. Eles são meus filhos também! — A voz de Remus ficou mais séria. — Imagino que conheça as tradições de apadrinhamento. Eu sou o responsável por eles se algo acontece aos pais.
— Então era realmente muito próximo de Black, já que ele o nomeou padrinho de um de seus filhos.
— Sim, mas a mãe deles foi quem mais insistiu até que eu aceitasse, na verdade. — Deu de ombros. — E ela agradeceria muito se vocês parassem de ficar bagunçando as coisas dela. Isso é um grande desrespeito a sua memória. Ela também era do Ministério! Não há nada para vocês aqui a não ser documentos velhos do trabalho dela e recordações de sua vida.
— É o nosso trabalho investigar cada canto da casa, até mesmo os antes ocupados por falecidos colegas de trabalho... Ainda mais colegas tão envolvidas com pessoas duvidosas.
Sirius apertou o braço de Remus com força, enquanto Remus fechava a cara para o auror e cerrava os punhos. Harry precisou segurar os gêmeos, também de cara fechada e com uma expressão nada amigável para o auror.
— Lave sua boca suja antes de falar da minha mãe — Therion ralhou.
— Tenha cuidado com o que fala dela se quiser continuar com sua voz — Canopus falou.
— A existência de vocês já é uma prova do que digo, garotos — Flint retrucou. — Sirius Black é um assassino condenado.
— Condenado? Ele nem teve um julgamento! — Harry rebateu.
— Isso não vem ao caso, Sr. Potter. Limitem-se a responder nossas perguntas e não atrapalhar a investigação.
Tonks suspirou revirando os olhos, então se esbarrando em uma prateleira e batendo a cabeça.
— Ai! Me desculpe.
— Você está bem? — Sirius perguntou.
— Ótima! Só sou um pouco desastrada. Podem continuar.
— Um pouco... — Flint riu com escárnio.
Sirius se conteve para não azarar o auror.
— Quando viu Black pela última vez, Lupin?
— Quando ele invadiu Hogwarts no final do ano letivo. Não estive por perto por muito tempo porque... Tive alguns problemas.
— Era lua cheia. Já temos ciência de toda essa situação — Flint disse e foi possível perceber a leve expressão de desgosto em seu rosto.
— Então por que pergunta? — Sirius não se conteve.
— É o meu trabalho — Flint respondeu calmamente. — Aliás, quando chegou da França, LeBlanc?
— Há três meses. Como falei, vim visitar o Remus — disse enlaçando o braço ao de Lupin. — Combinamos que eu viria para a casa dele nas férias em nossas cartas. Fiquei uns dias com Lyall quando Remmy ainda estava em aula, ele pode confirmar para você.
— Iremos confirmar, sim.
— Tudo limpo por aqui — Tonks exclamou.
Flint voltou-se aos outros aurores.
— Não tem nada aqui.
— Não consigo abrir essa gaveta — disse o outro auror.
— Nem vai conseguir. Karina era ótima em tracafiar coisas. Ela não queria ninguém se metendo em seu trabalho no Ministério, já que ela trabalhava diretamente com o chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia. Vocês com certeza devem entender o sigilo do trabalho — Remus falou. — Está fechada desde que ela morreu. Apenas ela pode abrir.
— Feitiços são desfeitos quando o autor deles morre.
— Nem todos — Therion falou. — Minha mãe era realmente muito habilidosa.
— É um ótimo momento para vocês pararem de bagunçar as coisas da minha madrinha — Harry ralhou impaciente.
— Será que podem sair do escritório da minha mãe, agora?! — Canopus disse no mesmo tom.
— Vamos verificar o resto da casa.
Eles deixaram o escritório e começaram a revistar a sala de estar e de jantar. Foi então que um barulho ecoou da garagem e todos entraram em estado de alerta.
Canopus arregalou os olhos e quis se estapear por ter esquecido algo tão importante. Sentiu-se terrivelmente mal por isso. Sua cabeça estava tão avoada com tudo que esqueceu-se completamente.
Bicuço ainda estava na garagem. Com fome. Esqueceu-se completamente do café da manhã dele.
— O que foi isso? — Dayholt indagou.
— Isso o quê? — Therion fingiu não ter ouvido.
— Esse barulho.
— Não ouvi nada — Harry disse, tentando esconder o quão apreensivo estava.
— O que tem depois daquela porta? — Flint perguntou.
— É a entrada da garagem — Sirius respondeu tranquilamente. — Não tem nada importante.
Um barulho de algo sendo arranhado.
— O que tem lá?
— Nada — Canopus respondeu rapidamente.
— Vamos verificar. Mantenham a varinha a postos.
— É só uma garagem!
— Nem temos carro — Sirius falou. — Não precisam entrar.
— Por que estão tão nervosos? — Flint indagou desconfiado.
— Não estamos — Remus disse. — Só...
— Eu não entraria se fosse você! — Sirius falou.
Os aurores seguiram para a garagem com as varinhas em punho. Dayholt que abriu a porta, e Canopus fechou os olhos com força.
Estava tudo perdido. Acabou. For descobertos.
Como ele pode se esquecer de Bicuço? Ele quem cuidava dele todos os dias!
Então, em vez de ouvir o grasnar de seu querido hipogrifo quando a porta foi aberta, ele ouviu um latido.
— O cachorro é bastante agressivo. É melhor ficarem longe.
Os garotos correram para a garagem empurrando os aurores. No lugar do hipogrifo, ali estava um enorme cachorro de pelos cinzentos com pequenas manchas mais escuras, da mesma cor das penas de Bicuço. Ele rosnou na direção deles.
Canopus virou o rosto na direção de Sirius, que exibiu um fraco sorriso antes de voltar a atenção para os aurores.
— Eu avisei. É melhor não entrar.
— De onde veio esse cão? — Tonks perguntou receosa.
— É o meu cachorro. O encontrei perdido e machucado na minha antiga casa quando estava jogando bexigas com meu irmão na entrada ano passado — Canis respondeu, olhando de soslaio para Sirius. — Cuidei dele e dei água. O adotei depois disso já que ele se apegou demais a nós. É uma raça mágica. Muitos bruxos usam de cães de guarda.
— Canis quer ser magizoologista desde pequeno. Ele gosta de cuidar de animais e criaturas mágicas — Remus falou.
— Esse é o Padfoot. Nosso avô cuidou dele pra nós enquanto estávamos na escola. Trouxemos pra cá depois. Ele trabalha no Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas.
— Não é contra a lei adotar animais.
Flint de um passo para descer o pequeno degrau da garagem, mas retornou quando o cão latiu e rosnou.
— Ele não gosta de estranhos. Até me mordeu quando vim pra cá! — Sirius disse e ergueu a barra da calça, mostrando uma cicatriz com marca de mordida na panturrilha.
Merliah havia dito que o tio ganhou aquela cicatriz durante uma viagem acampando com os irmãos há um ano em seu aniversário. A mordida na verdade foi de uma raposa, mas veio a calhar. Não perceberiam a diferença se não olhassem de perto, e Sirius foi rápido em abaixar a barra da calça de novo.
Ele havia transfigurado Bicuço naquele cão e desintegrou todas as penas soltas enquanto Remus estava no banho, preferindo não o fazer quando já tivesse bebido Polissuco para o hipogrifo não estranhar. Depois de Canis, ele era quem mais interagia com o hipogrifo.
— Precisamos investigar o cômodo.
— Se quiser levar uma mordida. Vocês chegaram antes que pudesse trazer o café da manhã dele — Canis falou.
Canopus adentrou a garagem e encarou o cão nos olhos, curvando-se levemente para frente com ambas as mãos às costas numa reverência mais discreta para não ser notada. Sorriu doce para o animal.
— Já vou trazer seu café da manhã assim que eles forem embora — disse carinhoso e esticou a mão calmamente. O cão ficou mais manso ao receber sua atenção e as carícias.
Flint aproveitou o momento e adentrou o cômodo com a varinha em punho e cenho franzido. Bicuço rosnou e avançou para frente, Canis colocou-se entre ele e o auror.
— Je t'avais prévenu — Sirius falou.
— Ele disse que te avisou — Remus traduziu, sorrindo satisfeito.
— Melhor revistarmos o resto da casa, Edgar. Aqui parece só o quarto do cachorro — Dayholt disse, a voz transbordando medo.
— Exatamente. Aqui é o quarto dele e vocês estão invadindo. — Canis sorriu. — Ele já está de mau humor porque o deixei trancado a noite toda para que não visse Elliot.
— Só Canis consegue lidar bem com ele. Eu não arriscaria — Therion disse em tom de alerta.
— Tudo bem. Mas... Mantenha essa coisa trancada bem aqui... Não queremos nenhum incidente.
— Como quiser — Remus falou. — Venha, Canis. Depois que eles saírem, você trás a comida dele.
Canopus logo obedeceu o pai. Eles saíram e fecharam a porta, trancando com um feitiço.
— Certo, Tonks, Dayholt... Continuem investigando esse andar — Flint ordenou, retomando a postura enquanto suas ordens eram obedecidas. — Er... Há outras criaturas na casa?
— Nossas corujas — Therion respondeu.
— E a minha doninha — Canis completou.
— Uma doninha?
— Canis gosta de todos os animais. — Therion deu de ombros. — É o melhor em Trato das Criaturas Mágicas.
— Eu vi poucos realmente bons nessa matéria e que gostassem na minha época. A maioria só fez por curiosidade— Sirius comentou.
— Sendo francês, imagino que tenha estudado em Beuxbatons, LeBlanc — Flint perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Precisamente. A melhor escola de magia da Europa!
— Ensinam Trato das Criaturas Mágicas?
— Sim. Chamamos a matéria de
Êtres et Créatures Magiques. Aprendemos sobres todos os seres e criaturas — respondeu, lembrando-se do que sua tia comentou dessa aula em Beuxbatons quando soube que ele escolheu Trato das Criaturas Mágicas dentre as eletivas no terceiro ano.
— Onde ela fica mesmo a escola? Península de Giens?
— Sudeste da França, sim, mas não na península, fica mais ao… Oh! Muito esperto, senhor — Sirius forçou uma risada assustadoramente autêntica. — Quase conseguiu me pegar. Não podemos falar a localização exata. Imagina se os idiotas de Durmstrang descobrem e resolvem armar para nós?
Os gêmeos e Harry encararam Sirius, impressionados. Ele estava sendo um ator muito melhor do que esperavam.
— Mas sim, me formei em Beuxbatons com muito orgulho. Agora estou apenas passando um tempo com meu querido Remus aqui na Inglaterra. — Sorriu carinhosamente para Remus, ainda de braços dados.
— Onde está sua varinha?
— Minha varinha? — Sirius franziu o cenho e voltou a encarar o auror.
— Apenas formalidades em interrogatórios com estrangeiros.
Todos já imaginavam isso. Caso desconfiassem de Sirius, pediriam sua varinha, obviamente. A varinha dele havia sido quebrada pelo Ministério após sua prisão.
Sirius deu de ombros e tirou a varinha de Canopus do bolso. Ele já havia a entregue a Remus quando ele foi lhe desejar boa noite, e Lupin repassou-a.
— Onde a comprou?
— Gregorovich. Comprei no dia que completei 11 anos! Magnifique! — disse com alegria. — Porém, caso seja do seu protocolo verificar com o artesão, sinto em dizer que infelizmente Gregorovich não possui a famosa memória de Olivaras. Até planejava vir com minha mãe comprar com ele, mas meu pai insistiu que Gregorovich seria uma opção muito melhor.
— Priori Incantato.
Um leve jato de vento saiu da varinha de Canopus.
— Esse feitiço é ótimo para secar o cabelo! — Sirius disse passando a mão por entre seus cabelos curtos. — Deveria usar. Deixa seco e macio como um secador trouxa.
Flint devolveu a varinha, parecendo frustrado.
— Conhece os Rosier, LeBlanc? — Tonks perguntou de repente.
— Sim, estudaram comigo.
Ela se aproximou e sorriu.
— Te ouvi falar que estudou em Beuxbatons. Imaginei que conhecesse.
— Minha avó era uma Rosier. Alguns primos da minha mãe estudaram em Beuxbatons também — disse. — Deve ter estudado com Clemént Rosier.
— Sim. Ele era um ótimo apanhador!
— Morreu tão jovem. Mal tinha se formado e sofreu aquele acidente estagiando com um Mestre de Poções.
Sirius entendeu rapidamente o que ela estava fazendo. Ele exibiu uma expressão triste.
— Ele faleceu, mas está se confundindo, querida. Quem morreu após se formar enquanto estagiava foi o irmão mais velho dele, que estagiava com um duelista e estava tentando criar um novo feitiço para duelos. Clément faleceu alguns anos depois da irmã. — Sirius deu um longo suspiro. — A pobre Camille faleceu dando à luz ao filho em 76. Ele ficou desolado! Faleceu durante uma viagem com o sobrinho. A família nunca revelou como.
— Ah, sim, me confundi. Foi uma terrível tragédia.
— Clément era incrível. Amava demais o sobrinho. Os vi juntos uma vez, eram muito parecidos, ele o tratava como um filho em memória a sua doce irmã.
— Confere. Ele realmente estudou em Beuxbatons — Tonks falou. — Sirius só viu Clément uma vez, quando tinha 12 anos, e ele nem era apanhador ainda. O último contato com os Rosier da França fora minha avó e Evan Rosier foi em 1973. Não teria como saber tanto sobre eles, até porque no Natal de 75 ele já foi embora de casa.
— Tem certeza?
— Minha mãe já me contou tudo sobre a família dela, com detalhes. Esse aí talvez até seja um primo muito distante por algum antepassado francês do século XVI, porque todo mundo tem parentesco com os Black, mas ele não é Sirius Black.
Sirius arregalou os olhos.
— Je ne suis pas Sirius Black! — exclamou esboçando extrema surpresa e indignação. — Êtes-vous sérieux? JE? Un tueur? Quelle terrible calomnie!
— Anthony, calma — Remus tocou seu ombro.
— Como eu poderia ser Sirius Black? Polissuco? Eu quase reprovei em Poções no sexto ano!
— Algum dos garotos poderia ter feito — Dayholt disse dando de ombros enquanto agitava a varinha em frente a televisão.
— Crianças de 14 anos fazendo Polissuco? Vous plaisantez!
— Nem sonharia chegar a esse nível tão cedo — Therion suspirou, com o maior ar de inocência.
— Nos perdoe se o ofendemos, Sr. LeBlanc — disse Tonks.
— Eh bien, offensé!
— Apenas estão fazendo o trabalho deles — Remus disse.
— Na França, não saímos acusando dessa maneira!
— Está tudo bem, foi apenas um engano compreensível. Você não é daqui, está na nossa casa…
— Deveria tentar diminuir meu sotaque logo, então.
— Anthony é um pouco dramático — Canopus comentou.
— Não fique assim. Adoro te ouvir falar com sotaque francês — Remus falou e sorrindo ladino. Não era mentira.
Ele realmente adorava ouvir Sirius falando francês. Isso era recíproco, pois Black amava quando Lupin falava o idioma.
— Gosta?
— Avec certitude.
Sirius suspirou e sorriu, adorando ouvir Remus falar com aquele francês tão perfeito.
Eles continuaram a acompanhar os aurores. Apenas Remus seguiu quando Dayholt e Flint desceram ao porão, pois Canopus se recusou a descer para lá e seguiu Tonks para o andar superior com o irmão, Harry e Sirius.
— Você é um excelente ator, Sirius — ela disse assim que entraram no quarto dele e de Remus.
— Alguma coisa eu aprendi com meus pais — disse e sorriu fraco. — E você percebeu logo.
— Eu sabia que você estava aqui e te vi na Copa também. Eles devem ter desconfiado, mas conseguimos despistá-los. De quem pegou a aparência?
— Tio da nossa melhor amiga — Therion quem respondeu. — A família dela é trouxa e mora em Londres.
— Esperto não usar um morador do vilarejo. Onde conseguiram Polissuco?
— Eu que fiz. — Tonks arregalou os olhos. — Eu comprei parcialmente pronta, na verdade, não tinha um mês para cozinhar as crisopas nem colhi descurainia na lua cheia, porém finalizei ela e adicionei os ingredientes restantes. Não restou muito, mas a dose que Sirius bebeu hoje vai durar o bastante e irei preparar mais em Hogwarts.
— Realmente impressionante.
— Sua mãe… Andrômeda... — Sirius murmurou.
— Ela recebeu a carta. Está feliz que você encontrou um lugar seguro, por enquanto — Tonks falou. — Estão planejando essa batida a semana inteira, desde o dia seguinte à Copa. Consegui dar um jeito de entrar na missão dizendo que seria mais fácil alguém da família reconhecê-lo caso estivesse aqui disfarçado.
— Obrigado pela ajuda, de verdade!
— Eu me lembro de quando saiu a notícia da sua prisão. Minha mãe sempre imaginou que você era inocente e só foi pego no lugar errado, mas não podia fazer nada. Sinceramente, tudo estava contra você, e o Ministério estava decidido a te usar como um dos exemplos de que o trabalho estava sendo feito. Os aurores que te capturaram se gabam até hoje por isso.
— Sinto tanta falta da Andy…
— Vocês vão se reencontrar. Ela está apenas aguardando um bom momento — garantiu. — Agora, antes que eles cheguem, seria bom ter um resumo geral do que aconteceu para você estar na cena do crime naquele dia.
— É uma história longa…
Os gêmeos e Harry fizeram o trabalho de resumir tudo. Contaram os pontos principais da forma mais rápida possível, pois não poderiam perder tempo.
— Wow! É uma história e tanto.
— Eu sei.
— Mas eu vou ajudar. Tentarei dar um jeito de encontrar Pettigrew, ele é a única forma de provar sua inocência.
— Não temos nem ideia de onde ou como procurar.
— Vocês não estão mais sozinhos nessa. Eu tenho meus contatos no Ministério, vou dar um jeito! — Tonks falou. — A preocupação no momento é a batida e a audiência dos seus filhos.
— E eu adoraria saber o que aquela auror está fazendo com o meu namorado! — Canopus falou. — Vocês não podem simplesmente agarrar um trouxa para interrogar, desacordá-lo e apagar sua memória como se ele não fosse nada!
— Está verificando o que houve e alterando a memória dele sobre nossa visita. Sinto muito por como estão fazendo isso, também não concordo tanto com como algumas medidas são tomadas — disse sincera. — O Ministério está empenhado em vigiar vocês e tentar se aproveitar dos seus rastreadores. Queriam encurralá-los. Primeiro, a batida. E agora, ontem tiveram um motivo perfeito para intimar vocês.
— O que pretendem com isso?— Harry perguntou.
— Pressioná-los para dar qualquer informação sobre Sirius, imaginam que ele tentaria contato com vocês.
Os gêmeos olharam para Sirius. Os aurores estavam complemente corretos ao pensarem assim. Por mais que demorem a aceitar, sabem muito bem que Sirius estava ali por causa deles. Se não fosse por eles, ele estaria vagando por aí tentando se esconder, talvez até tivesse realmente saído do país.
Eram a única coisa que o impedia de ir embora de uma vez.
Assim pensavam, claro. Porém, não eram a única coisa realmente. A principal? Com certeza, mas havia mais nessa equação. Havia Harry. Havia Remus. Todas as pessoas que ele mais amava estavam ali.
— Tem mais — Sirius disse olhando para Tonks. Conhecia bem aquele olhar. Havia muito mais por trás do que ela disse. — Eles estão planejando algo.
— Estão.
— O quê? — perguntou com receio.
— Usar eles de isca.
Sirius comprimiu os lábios.
— Como assim? — Therion indagou.
— Querem usar o fato de vocês serem filhos de Sirius para atraí-lo. Tendo realmente usado magia ou não, eles vão tentar condená-los por atacar trouxas e noticiar por todo o país para fazer Sirius aparecer outra vez.
— E por que acham que daria certo? — Canis indagou confuso e ainda irritado com tudo. — Como exatamente isso seria nos usar de isca?
— Porque eu nunca deixaria vocês irem para Azkaban.
O olhar de Sirius era de determinação e fúria enquanto cerrava os punhos. Imaginava que fariam de tudo contra seus filhos, mas deveria esperar que não medissem qualquer esforço. Eles ameaçariam mandar crianças para uma prisão se isso significasse capturá-lo.
Fugir de Azkaban foi um verdadeiro desafio e afronta. Ninguém mais conseguiu tal feito e não poderiam deixá-lo livre. Sua prisão foi uma das principais durante o encerramento da Guerra Bruxa, não podiam permitir que continuasse a fugir.
Era tudo uma questão de imagem e orgulho para o Ministério da Magia.
Se não conseguiam encontrá-lo, iriam dar um jeito de tirá-lo das sombras atacando exatamente onde mais machucaria: seus filhos.
— Nós só temos 14 anos! Não mandariam Therry e Canis para Azkaban, mandariam? — Harry perguntou, hesitante.
Ninguém disse nada. Potter engoliu em seco.
— M-mandariam? — A voz de Harry falhou ao repetir a pergunta.
— Essa é a questão, Harry. Para eles, isso não importa — Sirius disse, a voz fria como nunca usou, nem mesmo quando estava prestes a matar Pettigrew na Casa dos Gritos. — Não importa se vocês são crianças ou se têm culpa de algo. O que importa é me capturar de novo, não como vão fazer. Isso é a porra do Ministério da Magia Britânico.
— Em geral, a pior medida para o uso de magia por menor e possível exposição do mundo bruxo seria a expulsão de Hogwarts — Tonks explicou. — Acredite, vão tentar isso. Porém… Vão usar os trouxas para agravar a situação.
Um silêncio ensurdecedor se instalou no local. Harry olhou para os amigos, sem nem conseguir pensar como seria vê-los em Azkaban.
Não, ele não permitiria isso. Ele faria alguma coisa. Não sabia o quê, mas faria.
Potter sentiu a mão de Therion agarrar a sua, e eles se encararam. Ele soube apenas de olhar em seus olhos que Black sabia exatamente o que ele estava pensando. Não era legilimente, mas também sabia o que Therion pensava.
Therion ia ficar ao lado do irmão. Mesmo não tendo participado de tudo, continuaria ao lado dele e faria o máximo possível para nada acontecer a eles. E se Canis caísse nessa armadilha do Ministério para Sirius, ele cairia junto.
Os dois olharam para Canopus, que agora estava em silêncio. Ele encarava o chão com os punhos cerrados. Eles ficaram um de cada lado dele, tocando seu ombro.
Resolveriam isso juntos, de algum jeito.
— O mais recomendado agora seria ter um advogado.
— Porque com certeza muitos advogados vão se dispôr a defender as terríveis crias maléficas do assassino Sirius Black — Canis murmurou sarcástico.
— Tem uma pessoa que com certeza vai saber como ajudar. Não tive tempo de falar com ele ainda, mas vou assim que chegar meu intervalo.
— Quem? — Sirius perguntou.
— Bem… Não importa agora. Mas, por favor, não façam nada que chame a atenção do Ministério nos próximos dias porque eles com certeza irão usar na audiência.
— Podemos tentar, mas eles parecem capazes de nos culpar até por um resfriado que alguém pegou — Therion falou.
— Tentem o quanto puderem.
— Estão vindo! — Sirius falou baixo ao ouvir vozes altas.
— Vocês acham mesmo que se Sirius estivesse aqui, eu seria burro de esconder ele debaixo da cama?! — Remus resmungou.
— Todos os cômodos devem ser revistados, Lupin.
Tonks rapidamente virou-se com a varinha em punho para fingir estar revistando o quarto, mas tropeçou no pé da cama.
— Merda! — xingou.
— Tonks, o que houve? Encontrou algo? — Flint rapidamente adentrou o quarto.
— Eu disse! — Sirius disse, voltando ao personagem rapidamente. — A única coisa perigosa nesse quarto é o pé da cama onde, como pode ver, vivemos tropeçando. Isso pode matar!
— Eu só tropecei — ela confirmou com uma careta dolorida. — Ai! Realmente dói.
Remus parou ao lado de Sirius, que olhou-o interrogativo. Olhou para ele de volta e tocou seu ombro, indicando que ocorreu tudo bem. Black enlaçou o braço ao dele, suspirando e continuando a falar com seu leve sotaque.
— Essa auror desastrada insiste em mexer em todas as nossas coisas, Remmy! — exclamou num tom levemente dramático. — Quase quebrou um dos meus perfumes. Seus livros, nossas roupas, até nossa cama! Quem se esconde em um livro? Como esconderria alguém embaixo da cama? É o lugar da poeira e dos bichos-papões!
— É o que estava tentando falar para eles, Tony — Remus disse e suspirou balançando a cabeça, expressando exaustão. — Acham que Sirius realmente está aqui.
— "Nossas coisas"? Você tem dormido aqui, LeBlanc?
— Oui. — Sirius deu de ombros.
— Na mesma cama que Lupin? — Flint arqueou a sobrancelha.
— Hmm… Sim? Vocês tem alguma lei contra isso também? Que coisa ultrapassada!
— Ah, Flint! Não seja tão invasivo na intimidade alheia — Tonks falou. — Anthony começou a sair com um velho amigo e veio passar as férias na casa dele, nada incomum nisso. As melhores histórias de amor começam assim.
Remus comprimiu os lábios e sentiu o rosto esquentar rapidamente. Coçou a nuca, envergonhado, porque, modificando um pouco o contexto, não era exatamente muito diferente do que realmente estava acontecendo, embora pensasse que ele e Sirius estivessem longe de estar vivendo um romance.
— Eles com certeza não… — Canopus começou a falar, mas Therion tampou sua boca com a mão.
— Canis é o que está mais relutante em aceitar a ideia de um novo pai, mas é… Estamos indo já faz um tempo e já quase consideramos Anthony da família — falou. — E vocês estão causando uma péssima impressão. Eu não quero ter que me mudar para a França depois do casamento porque vocês estão acusando o noivo do meu pai de ser um foragido disfarçado e ainda revirando a casa toda sem fundamento algum além do nosso parentesco com Sirius.
— Julgar alguém por seus parentes não é nada legal — Harry complementou. — Mesmo que a prisão de Sirius não tenha sido das mais justas. Vocês precisam urgentemente de uma reforma no seu sistema judiciário.
— Parabéns pelo noivado! — Tonks disse sorrindo. — Formam um belo casal.
— Er… Obrigado? — Remus disse incerto.
— Eu ainda tenho que voltar para a França, mas… Obrigado. Estamos resolvendo minha mudança ainda. Vocês são burocráticos demais! — Sirius abraçou a cintura de Remus e olhou para Flint. — Por enquanto, realmente são apenas férias, mas estou repensando seriamente sobre me mudar para um país com aurores tão…
Eles fez uma expressão de desgosto que orgulharia sua mãe e não completou a frase, virando o rosto. Walburga fazia muito isso, deixava que ele próprio deduzisse todas as coisas ruins que pensava sobre ele apenas com uma expressão.
Algo bom tinha que vir disso. Obrigado por me ensinar a mentir e como ser um verdadeiro pé no saco, mamãe, ele pensou.
— Não encontrei nada aqui. Vamos ver outros quartos, vamos! — Tonks saiu. Flint suspirou e a seguiu, frustrado.
— Dayholt, encontrou algo? — perguntou ao auror que revistava o quarto de Harry.
— Não.
— Ei! Não mexe nos meus desenhos! — Harry exclamou entrando no quarto e empurrando o autor da frente de sua escrivaninha. Pegou todos os seus desenhos e abraçou-os contra o peito irritado. — Não há nada para vocês no meu quarto. Saiam!
— Você pode ter derrotado o Lorde das Trevas e carregar essa cicatriz, mas não está acima de oficiais da lei, Harry Potter — disse Flint. — Aliás, o que está fazendo nessa casa com um quarto próprio?
— Remus era um dos melhores amigos do meu pai, e eu sou amigo do Therry e do Canis. É contra a lei receber um bruxo amigo para ficar em sua casa e ter um quarto reservado para ele? — retrucou petulante.
— Não é — Tonks falou e recebeu uma encarada de Flint. — O que foi? Realmente não tem nada de errado ele ficar um tempo na casa dos amigos. Eu já dormi na casa de algumas amigas quando era mais nova.
— Nada aqui.
— Vamos ver o último quarto.
Flint apressou-se até o quarto dos gêmeos. Canopus pegou Antares que passeava pelo poleiro de Hermes e ficou abraçado a ele, encarando os autores com uma expressão irritada e impaciente.
Harry ficou segurando o braço de Therion, ambos com a mesma expressão de Canis, observando todos os cantos do quarto serem revistados. Black possuía os olhos focados em Flint, concentrados.
Flint grunhiu e levou uma mão à cabeça. Therion sorriu de canto. Sirius voltou os olhos para o filho.
— Pronto. Não encontraram nada. Satisfeitos? — Remus indagou.
— Quando foi a última vez que tiveram contato com Sirius Black?
Todos suspiraram e reviraram os olhos quase em sincronia.
— Quando ele invadiu Hogwarts e fugiu de novo — Remus respondeu novamente, já tendo dito isso durante as perguntas enquanto revistavam o porão. — O mesmo para os garotos. Vocês já perguntaram isso várias vezes.
— Ele quer ver se nós contradizemos em algum momento — Therion falou. — Está louco para nos levar daqui direto para o Ministério.
— Ele foi visto com um dos garotos na Copa Mundial, não mintam.
— Era um ataque de Comensais da Morte, todos fugindo aterrorizados… Você realmente vai confiar no testemunho de pessoas em pleno colapso nervoso de desespero? — retrucou. — Sirius está saindo em todos os jornais há um ano, óbvio que iriam pensar ter visto ele.
— Está mentindo.
— Não, não estou. Você quem quer colocar palavras em nossa boca e nos obrigar a de algum modo colaborar com suas teorias malucas! Até nos incriminaria se fosse preciso. Que provas você tem de que nós estivemos com Sirius? Nenhuma.
— Testemunhas…
— Testemunhas não totalmente confiáveis. Pessoas abaladas psicologicamente no meio de um ataque. Eu estava lá, eu era uma dessas pessoas. Entre tantos Comensais encapuzados conseguiram ver justamente o homem foragido que estava nos jornais há tanto tempo que supostamente, segundo essas mesmas notícias, teria fugido para outro país? Se Sirius realmente estivesse lá e fosse um dos Comensais, ele não estaria encapuzado e com máscara como todos os outros?
— Ele…
— Ele está bem longe daqui — Harry falou. — Se não encontraram nada, agradeceríamos se nos deixassem voltar ao café da manhã que vocês estragaram.
— E então? Mais alguma acusação? — Sirius indagou e arqueou a sobrancelha.
Houve um longo instante de silêncio. Eles encararam os aurores com intensidade, aguardando uma resposta. Os aurores se entreolharam, então voltando-se para eles.
— Não — disse Flint. — O Ministério agradece por sua colaboração.
— E pede desculpas por qualquer ofensa, Sr. LeBlanc.
— Não aceito suas desculpas — Sirius respondeu friamente, ainda abraçado a Remus.
— Ficamos felizes em cooperar. — Remus forçou um sorriso.
Os aurores saíram do quarto. Ao chegarem à sala de estar, encontraram Elliot desacordado sobre o sofá ao lado da auror que estava de pé, analisando os arredores. Canopus correu até ele imediatamente, deixando Antares sobre uma poltrona e segurando o rosto do namorado com ambas as mãos.
A auror balançou a cabeça negativamente para Flint, que suspirou frustrado.
— Tudo que ele viu foi Canopus Black dar um soco nos trouxas. Sem exposição mágica.
— O que você fez com ele?! — esbravejou.
— Ele acordará em alguns minutos.
— Saiam da minha casa, AGORA!
— Sem violência, Black. Ou teremos que levá-lo mais cedo?
— Não distorça a situação — Sirius retrucou. — Está tão desesperado assim para levar esses meninos embora?!
— Ele não ameaçou ninguém. Vocês já viram tudo, podem sair — Remus falou friamente. — Sabem onde fica a porta.
Mais instantes de silêncio.
— Não ouviram? Saiam da nossa casa! — vociferou Harry. — Espero não precisar ver vocês na audiência deles, porque eu com certeza farei questão de estar lá.
— Tenham um bom dia.
Flint virou-se e seguiu para a porta. Tonks foi por último e acenou discretamente para eles antes de sair.
Todos suspiraram aliviados, exceto Canopus. Ele respirava fundo, com fogo nos olhos, acariciando os cabelos do namorado enquanto o observava ali tão indefeso.
— Se eu vou ser mandado para Azkaban, antes farei questão de lançar um cruciatus em cada um desses aurores, fora Tonks. Irei para lá com muito gosto.
— Não, você não vai — Sirius disse.
— Você não tem direito algum de me falar nada, Sirius! — ralhou furioso. — Eles não vão parar! E eu prefiro matá-los e ocupar sua cela a deixar que continuem ferindo pessoas importantes pra mim!
Sirius caminhou até ele e ajoelhou-se à sua frente. Ele esticou a mão para tocá-lo, mas o garoto afastou-se bruscamente, encarando-o. Então, pegou a varinha dele.
Canopus afastou-se mais, mas sem sair de perto de Elliot. Continuou encarando Sirius. A determinação era clara em seus olhos enquanto estendia a varinha de volta. Ele segurou a varinha, mas Sirius não a soltou, permanecendo os dois segurando o objeto.
Sirius não tocou o filho, sabia que ele não queria e não gostaria. Apenas manteve os olhos presos nos dele enquanto ambos seguravam a varinha, aquele olhar que ele próprio já viu no espelho tantas vezes durante a Guerra. O olhar de fúria e medo.
— Me escute bem, Canopus — Sirius disse, firme. — Nem você nem seu irmão chegarão sequer perto de Azkaban.
Canopus não desviou os olhos de Sirius. Sentiu-os marejados, mas não desviou. Era bem mais fácil quando ele não tinha o rosto que assombrava seus pesadelos.
— Eu prometo — Sirius continuou. — Não vou deixar vocês passarem pelo mesmo que eu naquele lugar.
— A diferença é que não sou tão inocente assim.
— Você é. Estava se defendendo, defendendo alguém importante pra você. E mesmo que não fosse... Não vou permitir. Acredite em cada uma de minhas palavras.
Sirius enfim soltou a varinha. Canopus a guardou e continuou a encará-lo, absorvendo cada uma daquelas palavras.
Remus aproximou-se do filho e passou a mão pelos cabelos dele.
— Vou levar o Elliot de volta para o quarto. Ele vai acordar bem.
Mesmo relutante, Canis afastou-se e deixou Lupin carregar Elliot até seu quarto e deixá-lo na cama de Therion novamente. Ficou ao lado dele.
— Cada vez gosto menos do Ministério da Magia — Harry murmurou.
— Infelizmente, sempre há o lado ruim de tudo — Sirius disse. — Você foi muito bem, Theo. Tentou entrar na mente do autor.
— Eu já estava com muita raiva de tudo isso. Resolvi tentar... Não vi muito — Therion admitiu. — Eles queriam de todo jeito tentar nos fazer dizer algo errado em algum momento. Acho que ter a filha da sua prima aqui com certeza ajudou.
— Está progredindo. Quando você voltar de Hogwarts, nós vamos continuar.
— Temos que agradecer ao Malfoy por isso. Se ele não tivesse avisado ao Canis...
— Nem acredito que aquele idiota realmente nos ajudou — Harry suspirou.
— Flint é amigo do pai dele. Com certeza, em breve ele já vai saber que o aviso deu certo.
— Enfim alguém daquela família nasceu com o mínimo de bom senso — Sirius comentou. — Os Malfoy que conheci com certeza não ajudariam... Não a mim, pelo menos. Todos me detestavam.
— Não vamos contar com isso sempre. Não sabemos o porquê disso, mas Draco é tão insuportável quanto outros supremacistas da Sonserina. Dificilmente vai ajudar de novo — Harry falou.
— É sempre bom ter um pé atrás com um Malfoy.
— Estou faminto. Vamos terminar o café da manhã — Therion falou.
Eles seguiram para a mesa. Remus desceu logo depois.
Após alguns minutos, Elliot acordou com Canopus ao seu lado. Ele sentou-se na cama franzindo o cenho confuso. Black rapidamente segurou seu rosto, preocupado.
— Você está bem?
— Estou... — disse incerto. — Bom dia?
Canis forçou um sorriso.
— Bom dia.
— Que estranho... Acho que sonhei que já tinha acordado... — falou confuso. — Você está chorando?
— Só fiquei preocupado com você — Canopus falou secando os olhos marejados e forçando mais um sorriso. Ele depositou um selar rápido sobre os lábios do namorado. — Dormiu bem?
— Não — confessou. — Estou com uma terrível sensação de déjà vu.
— Deve ser pela péssima noite de sono que tivemos.
— Você conseguiu descansar pelo menos um pouco? — perguntou, preocupado, levando as mãos para a cintura do Black.
— Um pouquinho. Estou bem — respondeu. — Estava esperando você acordar para o café da manhã. Te deixei dormir o quanto pudesse.
Continuou segurando o rosto do garoto, escondendo ao máximo a frustração e irritação por vê-lo acordar tão confuso e precisar contribuir com essa confusão.
— Que dia é hoje?
— Sábado. Tivemos um pequeno probleminha ontem, lembra?
— Não lembro se avisei meus pais que ia dormir aqui. Meu pai deve estar furioso.
— Você avisou a Ester. Ela disse que resolveria com eles.
— Acho que realmente tive uma péssima noite de sono — disse.
Canis suspirou e beijou a bochecha dele.
— Vamos comer alguma coisa.
Eles saíram do quarto e foram para a mesa. Elliot ainda estava um pouco confuso e sentindo que já havia visto e feito tudo aquilo antes.
Todos tentaram agir normalmente, mas estavam visivelmente exausto e abalados depois de tudo.
Sirius pegou a varinha de Remus e foi para a garagem transformar Bicuço de volta e deu-lhe comida, enquanto os garotos iam trocar de roupa.
— Você pode ficar mais — Canopus disse a Elliot, depois que ele havia vestido suas roupas do dia anterior.
— Tenho que voltar pra casa. Ester consegue acalmar meus pais, mas não vai me livrar de tudo. Preciso voltar logo e enfrentar as feras se já tiverem descoberto sobre ontem.
— Eu vou com você.
— Isso só vai piorar as coisas. Eu... Eu consigo resolver — Elliot falou. — Obrigado por me deixar dormir na sua cama, Therion.
— Não precisa agradecer.
— Você pode voltar depois, se precisar — Harry disse. — Vamos estar aqui.
— Vou voltar mais tarde. Acho que agora mais que nunca, o que menos quero é ficar em casa.
Canopus o abraçou.
— Eu vou estar aqui. Pode ficar sempre aqui até o dia da partida para a escola.
Elliot sorriu fraco e beijou o rosto de Canis.
Remus insistiu em acompanhá-lo de volta para casa. O garoto acabou aceitando, e eles saíram depois que ele se despediu de Canis.
Canopus bufou e chutou a primeira coisa que viu assim que a porta fechou. Foi um dos pés do piano, e e resmungou de dor depois.
— Eles vão deixá-lo em paz agora — Sirius disse, já de volta a sua aparência, saindo da cozinha com um Profeta Diário em mãos. Não haviam lido o exemplar do dia para que Elliot não visse as imagens bruxas.
— É melhor para eles.
Os garotos sentaram-se no sofá, suspirando. Sirius sentou-se na poltrona e abriu o jornal para ver algumas notícias. Dessa vez, ele não estampava a manchete principal, mas ficou longos minutos encarando a notícia, um tanto surpreso.
— E ele tava vivo ainda? — murmurou baixo.
Obviamente havia uma notícia sobre ele na segunda página.
Ele revirou os olhos ao ler mais uma matéria de Rita Skeeter sobre a falha do Ministério em capturá-lo. Novamente, o Ministério pedia para que qualquer um que o avisasse informasse imediatamente às autoridades.
Harry ligou a televisão e deitou a cabeça no ombro de Therion e puxou as pernas para cima do sofá, tentando se distrair de tudo assistindo ao desenho que passava na tela.
— Espero que aquela auror realmente consiga algum advogado para nos ajudar — murmurou.
— Passamos pela batida por muito pouco, isso já foi uma vitória — Sirius disse olhando para eles. — Podemos ficar aliviados com isso.
Uma coruja adentrou começou a bicar a janela, chamando a atenção de todos. Distraído e estressado, Canis apenas agitou a varinha para abrir. A ave entrou e lhe entregou a carta.
Estava endereçada a ele. A coruja bicou sua cabeça algumas vezes antes de voar para a mesa de centro.
— Ai!
— Malfoy avisou mais alguma coisa para nós preocuparmos? É a coruja dele — Therion falou, reconhecendo a ave de penas escuras, semelhante a Hermes. É a mesma que sempre deixava para Draco os doces que sua mãe enviava de casa.
Era mesmo uma mensagem de Malfoy. Canopus a abriu. Não era muito grande na verdade.
Caro Canopus Alphard Black, Estrelinha mais teimosa e insuportável dessa Terra,
Eu quero o que é meu de volta. Sei que não vai devolver de boa vontade, porque você é idiota orgulhoso que não se importa com os sentimentos de ninguém além dos seus próprios e do seu maldito irmão e papai lobisomem.
Então eu vou buscar, nem que precise lançar uma Maldição Imperdoável em você.
De Draco Malfoy.
Canopus suspirou.
— Quanto drama só por um simples terno e um medalhão idiota com o brasão da família — resmungou.
— O que ele disse?
— Nada. Ele só quer o maldito terno que me emprestou na Copa onde guardou uma jóia besta de volta. — Revirou os olhos, bufando. Não estava com paciência naquela manhã. — Ele deve ter vários iguais. Duvido que realmente venha buscar. Só deve estar fazendo drama.
— Não seria novidade.
— Ele com certeza vai estar muito ocupado em um funeral para se preocupar em vir buscar o terno — Sirius comentou.
A coruja piou alto. Canopus saiu do sofá e aproximou-se para pegá-la.
— Funeral?
O olhar dele parou no jornal que Sirius estava lendo. A manchete não mostrava o Black, de fato, mas ainda havia algo que ele conhecia ali.
Ele colocou a coruja no ombro e pegou o jornal das mãos de Sirius.
— Ah, merda... — Canopus murmurou.
Ali estava na imagem, o tal medalhão. A grande manchete se destacava logo acima.
UM TRISTE DIA PARA OS MALFOY E MAIS UMA TRAGÉDIA PARA O MUNDO BRUXO
Abaixo da manchete, estava uma fotografia bruxa da família Malfoy, mas não era recente. Reconheceu Lucius Malfoy de pé ao lado da esposa, ambos com expressões neutras no rosto e alguns anos mais jovens, os cabelos do homem maiores e muito mais claros que os loiros de Narcisa. Junto a eles estava outro homem sentado em uma poltrona adornada que mais parecia um trono.
A genética familiar já entregou quem era. O homem era muito mais velho que Lucius, talvez tivesse uns 70 anos quando a fotografia foi tirada. Ele possuía os mesmos longos cabelos loiro-prateados, porém um pouco mais ralos, e os gélidos olhos claros.
Era extremamente parecido com Lucius Malfoy. Certamente, ali era o seu pai.
Ele trajava uma elegante capa em suas roupas bruxas e sua mão estava pousada nos ombros de um garotinho ao seu lado.
Canopus reconheceu o garoto que não parecia ter mais que 8 anos na fotografia de imediato. Os olhos claros, o cabelo platinado perfeitamente cortado e penteado, as roupas engomadas junto a capa semelhante a do avô. A versão criança de Draco da foto era a única pessoa com alguma expressão, exibindo um leve sorriso discreto sem mostrar os dentes.
Um doce garotinho num ninho de cobras inexpressivas.
Em letras minúsculas abaixo da imagem estava a legenda: Abraxas Malfoy junto de seu único filho, Lucius Malfoy, e sua nora, Narcisa, no aniversário de 9 anos de seu único neto, Draco Malfoy.
Brilhando no peito de Abaraxas, a prata se destacando mas roupas escuras, estava o medalhão com o brasão dos Malfoy. O mesmo medalhão guardado no bolso do terno de Draco.
Logo depois, vinha a notícia.
Com grande tristeza, chega a notícia de que Abaraxas Malfoy faleceu durante a última madrugada, aos 75 anos de idade.
Um grande e conhecido conselheiro de três dos nossos antigos Ministros da Magia, o Ministério recebe sua morte com muito pesar. Embora afastado de atividade na política bruxa nos últimos anos, seu filho, Lucius, tem seguido seus passos e perpetuado seus ideais ao ser um influente amigo do nosso atual Ministro, Cornelius Fudge.
É de conhecimento de amigos da família que a morte de sua esposa, Elmeera Malfoy, quando seu filho estava as vésperas de encerrar a vida acadêmica em Hogwarts, o marcou até o fim de seus dias. Lucius afirma que: “Minha mãe era a luz de meu pai, não houve um único dia, até mesmo em seu leito de morte, que não falasse dela. Me despeço dele com muita tristeza, mas meu coração está em paz por saber que ele a encontrará novamente”.
A família nunca sentiu-se em capacidade de revelar as circunstâncias da enfermidade que levou sua matriarca, porém, foi informado que Abraxas já se encontrava há certo tempo acamado por Varíola de Dragão. Esta noite, a enfermidade o venceu e o uniu a sua amada esposa.
Como único herdeiro, Lucius Malfoy herda todos os bens da família. Seu único filho e herdeiro, Draco, encontra-se abalado pela perda do avô e não sentia-se disposto a falar sobre. “Meu pai sempre foi muito apegado ao Draco. Ele é o orgulho e futuro da nossa família”, disse Lucius. O garoto também já havia perdido seu avô materno no Natal de 1992.
A matéria seguia falando dos grandes feitos de Abaraxas como conselheiro de ex-ministros. Canopus voltou os olhos novamente para a foto, onde o pequeno Draco estava parado orgulhosamente ao lado do avô, que exibia o medalhão no peito.
Sua mente viajou de volta para a Floreios e Borrões, quando Draco estava quase suplicando que devolvesse o terno, porque nele havia guardado um presente de seu avô.
Agora entendi porque era tão importante.
Sem dizer nada, Canopus largou o jornal no colo de Sirius e seguiu para seu quarto. Ele pegou seu malão, murmurando com a varinha em punho todos os feitiços para abrir e tirou de lá o terno que havia guardado com os mais poderosos feitiços que leu no diário de sua mãe para que não fosse encontrado pelos aurores.
Sua mãe era realmente genial. Assim como guardava cada coisa dela com grande apreço, imaginava que Draco queria aquele medalhão.
Pegou o medalhão, do bolso suspirando. Analisou bem os detalhes gravados na prata. Era idêntico ao da foto no jornal.
Mas ele sentia que já havia visto antes em outro lugar. Logo ele teria que devolver, então precisava pensar exatamente sobre onde seria.
Seus olhos desceram para outro objeto que guardou no malão, com medo de os aurores encontrarem, o mesmo que o ensinou os feitiços para guardá-lo tão bem. Ele pegou o diário de sua mãe, abrindo o fecho rapidamente e folheando as páginas.
— Eu sei que vi aqui... — murmurou consigo mesmo.
Continuou a passar as páginas, até parar em uma. Ali estava. O mesmo medalhão, mas no pescoço de outra pessoa.
Ali estava sua mãe aos 15 anos abraçando sorridente uma garota loira diferente da que já vira em outras fotos que esboçava o mesmo sorriso mínimo e discreto de Draco naquele jornal. Ao lado delas, seu tio Killian abraçava Remus, que ria e fechava os olhos na hora que ele lhe apertava mais forte e beijava sua bochecha. Atrás deles, podia ver as ruas de Hogsmeade.
Os cabelos da garota eram ainda mais claros que os da corvina que já vira em outras imagens. Os olhos extremamente claros cerrando um pouco pela luminosidade da manhã, idênticos aos que ele conhecia muito bem. Pela gola da blusa, era possível ver linhas grossas subindo por seu pescoço, como as que Canopus via em seu corpo no espelho por todo o verão, e manchas que lembravam queimaduras.
Em seu peito, brilhava o medalhão prateado com o brasão Malfoy. Aquela garota parecia familiar, e Canis sabia o porquê.
Ela se parecia com Draco.
Naquela página, sua mãe descrevia um dia em Hogsmeade no quinto ano junto ao irmão, Remus e mais dois amigos: Regulus e Hadria. Regulus quem tinha tirado a foto pra eles.
Canopus guardou o diário de volta, mas permaneceu com o medalhão em sua mãos. Possuía um fecho, mas não conseguia abrir. Imaginava que possuísse um encantamento semelhante ao do diário ou da gaveta no escritório de sua mãe.
Guardou o medalhão no bolso e leu novamente a carta, ainda consigo.
“Então eu vou buscar, nem que precise lançar uma Maldição Imperdoável em você”
Aquela mensagem foi séria. Horas depois, pouco antes do almoço, batidas fortes e constantes na porta ecoaram pela casa. Canopus quem correu para abrir.
Como imaginou, parado a sua porta, estava Draco Malfoy. Ele usava roupas inteiramente pretas, incluindo a capa. Possuía uma expressão séria em seu rosto, um misto de tristeza e raiva que Canis conhecia por si mesmo.
— Oi, Dragãozinho.
Draco não disse nada, apenas estendeu a mão e o encarou fixamente. Seus olhos estavam vermelhos e tristes, como os de Canopus também estavam, pois ambos passaram aquela noite em lágrimas.
A diferença é que os olhos de Draco ainda pareciam prestes a transbordar.
— Me devolva o meu medalhão agora.
— Teria sido mais fácil se você tivesse dito logo que estava guardando uma lembrança de família que foi presente do seu avô doente.
— Sei que isso não importaria pra você. Só... Me devolve logo. Eu não estava brincando sobre a maldição.
— Entra.
— Só me devolve, Canopus.
— Eu estou pedindo gentilmente para que entre se quer o medalhão de volta. Você não é o único tendo um péssimo dia, aproveite enquanto estou calmo.
Draco encarou Canopus, comprimindo os lábios. Seus olhos estavam como Black nunca vira antes.
— Entra logo, Draco.
— É bom você me devolver — disse num tom frio antes de adentrar a residência.
——————————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Última atualização do ano! Que venha um 2023 maravilhoso para todos!
Um capítulo um pouco tenso com a batida para fechar o ano, mas decidi colocar Stardragon se encontrando de novo para terminar.
O diário da Karina ainda vai trazer muitos mistérios e respostas, inclusive sobre quem realmente possuía o medalhão Malfoy antes do Draco rsrs
Sim, a ex noiva do Regulus é muito mais importante do que parecia. Não citei ela antes a toa!
Que comecem as teorias!
Aguardem por 2023!
Tudo ficou bem na batida! Sirius ainda continua seguro e livre 🙌
Próximo capítulo, finalmente teremos o retorno para Hogwarts. Ansiosos?
Finalizando o ano com o fim das férias!
Espero que tenham gostado! Não esqueçam de comentar bastante, tá bom?
Um feliz Ano Novo para todos vocês!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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