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XLIII. Hide

TW: Homofobia
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Sirius ouvia atentamente Canopus falar após o almoço, quase não conseguindo conter a satisfação crescente em seu peito por poder estar com ele por perto falando consigo.

Era apenas o plano para enganarem o Ministério, e ele evitava encará-lo sempre que podia, mas ouvir sua voz direcionada para si era um pequeno avanço que o deixava feliz. Não insistia muito, apenas ouvia o que ele tinha a dizer e por vezes complementava com algo vagamente, mas tendo cuidado.

Pequenos momentos era o bastante por enquanto. O tempo dele era o tempo dele. Respeitaria isso e aproveitaria as chances que lhe eram dadas.

O plano não era extremamente complexo, precisava ser simples, mas convincente, para não haver chance de erros. Ainda havia uma grande quantidade de Poção Polissuco e fios de cabelo do disfarce deixado por Liah para novas ocasiões. O Ministério ainda não sabia que Canopus havia recuperado sua varinha, então teria que emprestar a sua a Sirius — mesmo não apreciando tanto essa parte da ideia. Ele poderia se passar por um bruxo estrangeiro exatamente como na Copa.

Era também a chance de colocar totalmente à prova aquele disfarce. O Ministério não sabia que Sirius era um aninago até então, porém, não usariam desse artifício justamente para não haver desconfiança — afinal, por isso ele conseguiu fugir de Azkaban e em algum momento um auror minimamente conhecedor de dementadores entenderia que animais não são afetados por eles — e ser revelado. Era o pequeno trunfo definitivo deles para grandes emergências com risco iminente.

— Barty Crouch não é mais chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, foi realocado para Cooperação Internacional Mágica, então ele não poderá ter a satisfação de vir aqui para te prender de novo — Remus disse. — E acho que isso também vai te deixar um pouco mais tranquilo.

— O quão tranquilo posso estar perto de autores interrogando minha família a minha procura — Sirius riu sem humor. — Mas com certeza se eu visse Crouch na minha frente, iria querer dar um soco na cara dele.

— Como ele foi de um dos cargos mais importantes abaixo apenas do Ministro da Magia para Cooperação Internacional? — Harry perguntou confuso.

— Não sei. Um tempo após a guerra e as prisões ele mudou de setor — Remus respondeu.

— Prender o próprio filho sem remorso algum talvez tenha mexido com a cabeça dele em algum momento — Sirius comentou.

— Ele mandou o filho para Azkaban?!

— Harry, você precisa entender uma coisa… Na Guerra, o Ministério não queria deixar ninguém escapar, principalmente Crouch. Ele abomina Artes das Trevas.

— A menos que a pessoa tenha um cofre cheio de ouro — Therion murmurou.

— Dependendo da situação... Sim. No meu caso, nem todo o ouro do mundo faria mudar de ideia — Sirius suspirou. — Mas, em geral, Crouch estava louco para prender o máximo de Comensais possível e mostrar que o Ministério estava fazendo alguma coisa… Prender o próprio filho por ser um Comensal é fazer algo. E ele também não estava exatamente preocupado com julgamentos.

Sirius exibiu um fraco sorriso triste. Todos sabiam exatamente o porquê.

— Por que você não teve um julgamento?

— Porque além de todas as circunstâncias contra mim, como eu disse, o Ministério estava preocupado apenas em se mostrar fazendo alguma coisa, não em realmente fazer o certo e descobrir a verdade.

Harry não achava isso justo. Todos deveriam ter a chance de serem julgados por seus crimes e ter suas situações analisadas. Prender alguém injustamente apenas para se exibir para a sociedade bruxa e dizer que está fazendo um bom trabalho quando não está… Nem sabia qual palavra usar para descrever.

Todos concordavam que foi muito injusto, mas não podiam voltar atrás. O que poderiam fazer é lidar com isso e tentar fazer justiça à sua maneira.

— Quando conseguirmos provar sua inocência, você terá um julgamento justo e poderá ser livre. Nós vamos fazer isso!

— Vamos com calma, Harry. Um dia, talvez, isso seja possível — Sirius disse. — Por hora… Teremos que brincar um pouco com o Ministério.

— Recapitulando — começou Canopus, jogado na poltrona. — Quem é você?

— Anthony LeBlanc, um bruxo francês de 34 anos que se formou em Beuxbatons. Minha família era muito amiga dos Lupin e foi assim que conheci Remus quando éramos crianças e nos tornamos amigos.

— O que faz aqui?

— Eu venho periodicamente para a Inglaterra nas férias e atualmente estou hospedado com vocês por todo o verão — continuou Sirius.

— O que sabe sobre Sirius Black?

— Nunca conheci Sirius Black pessoalmente, apenas ouvi de Remus o que ele conhecia e vi as notícias.

— Quando chegou?

— Há três meses.

— Meio de transporte?

— Chave de portal.

— Onde fica Beuxbatons?

— Sul da França, mas não direi exatamente onde, é claro. É um grande segredo entre os alunos e o corpo docente — Sirius respondeu usando um leve sotaque francês. — Não podemos correr o risco de os idiotas de Durmstrang descobrirem.

Canopus conteve uma risada.

— Fui bem, Canis?

— Razoavelmente bem. Você realmente sabe mentir.

— Os Black são especialistas nisso.

— O que tem Durmstrang? — Harry franziu o cenho.

— Beuxbatons e Durmstrang possuem uma rivalidade antiga — Therion respondeu.

— A esposa do meu tio Cygnus, Druella Rosier, era francesa e estudou em Beuxbatons. Ela já mencionou muitas vezes sobre essa rixa entre as escolas, e alguns dos sobrinhos dela que tive o desprazer de conhecer estudaram lá também — Sirius comentou.

— Eu vi um Rosier no mural de troféus e times de quadribol da Sonserina — Canopus falou e franziu o cenho.

— Evan Rosier, provavelmente. Sobrinho de Druella, estudou em Hogwarts e foi Comensal, assim como os primos que viviam aqui na Inglaterra. Ele era capitão do time da Sonserina na mesma época em que meu irmão jogava. Muito amigo do Barty Junior, aliás.

— E amigo do meu querido titio comensal também? Um trio de comensais se formando juntos, maravilhoso!

— Não muito. Ele não era tão próximo deles quanto foi de Pandora, Killian ou sua mãe. A pessoa da Sonserina que mais o via interagir era a pretendente a noiva insuportável dele.

— Pretendente a noiva? — Therion indagou.

— Minha família gostava de arranjar casamentos convenientes com famílias sangue-puro para manter o sangue… Bom, "puro". Regulus sempre detestou a ideia, mas evitava dizer claramente para não enfurecer nossos pais e fingia seguir seus planos — explicou. — Isso incluía esconder sua sexualidade como se fosse o maior crime existente no mundo bruxo.

— Ainda bem que não fomos criados pela nossa avó.

— Ela com certeza já estaria arranjando um casamento com alguma garota sangue-puro para vocês nesse exato momento.

— Esses casamentos não iam dar muito certo — Canopus disse.

— Com certeza não. Nós dois não gostamos de garotas.

Sirius piscou, absorvendo a informação. Aquilo era algo que não sabia sobre os filhos, e Therion falou com uma naturalidade com a qual ele apenas sonharia em dizer na idade dele.

Sabia que Canis estava namorando um garoto, mas nada específico sobre preferências em geral. E realmente não se importava, de todo modo. Apenas era um detalhe insignificante que sabia a mais sobre eles agora. Eles poderiam aparecer namorando um vampiro que ele não poderia se importar menos. Nisso ele não seria como os pais, nunca.

Harry virou o rosto para encarar Therion quase imediatamente ao ouvi-lo, permanecendo com os olhos vidrados nele por longos instantes.

— Oh… Regulus também não. Então… Podem imaginar como era.

— Terrível — os gêmeos disseram juntos. Remus sempre fora tão compreensivo e lhes dava tanta liberdade para serem como quiserem que não conseguiam imaginar tendo que esconder quem realmente eram.

— Felizmente, somos os últimos Black restantes, desconsiderando minhas primas casadas. Não precisamos mais nos preocupar com os esforços dos meus antepassados para manter essa porcaria de pureza de sangue e ideologia besta.

— Bem… Tudo certo para amanhã, então? — Canopus perguntou.

— Sim, estou pronto para me tornar um ótimo ator.

— Ainda precisaremos ter o máximo de cuidado — Remus alertou. — Eles irão revirar a casa inteira.

— Não temos nenhum objeto das trevas. O maior perigo estará muito bem disfarçado de Polissuco.

— Vai dar certo, Moony. Você até comprou roupas novas pra mim, posso guardar numa mala e dizer que é minha bagagem.

— Realmente nunca me imaginei mentindo assim na cara do Ministério, mas… — Remus suspirou. — Tudo por você, Padfoot.

Sirius sorriu largo com a fala de Lupin, que estava sentado ao seu lado no sofá. Não conseguiu resistir e abraçou seus ombros, beijando sua bochecha. Remus corou, sorrindo tímido.

— Nem sei o que faria sem vocês.

— Nem precisa saber. Estamos aqui para ajudar a te manter longe de Azkaban, não é? — Therion disse.

— Sim, sim, arriscando nossas vidas e tudo mais. Será que pode afastar as patinhas do meu pai?! — Canopus exclamou e arqueou a sobrancelha.

— Canis!

Sirius afastou os braços dos ombros de Remus com as bochechas coradas, mas se manteve colado a ele ali no sofá e agarrado ao seu braço. Lupin enviou o um olhar repreensivo para o filho.

Um pequeno animal de pelos brancos caminhou pela sala rapidamente, farejando ao redor e escalando o braço de Therion, que estava sentado no chão junto a Harry. Ele riu.

— Antares, acho que você errou de gêmeo.

— Antares! — Canopus chamou. Therion entregou a doninha ao irmão, que ajeitou-se na poltrona abraçando o animal. — Você precisa aprender a nos diferenciar.

— Pensei que fosse comprar um petauro.

— A doninha conquistou mais — Harry riu.

Canis começou a coçar o queixo da doninha, que aninhou-se satisfeita em seu peito.

— A gaiola dele caiu quando o petauro fugiu. Chamo de destino — disse. — Antares vai ser uma ótima companhia. Não deixem ele escapar quando eu sair.

— Onde vai? — Remus perguntou.

— Eu tenho um encontro com o Elliot, lembra? Acho que já discutimos o necessário sobre o que fazer amanhã, basta Sirius se preparar. O senhor pode continuar a falar com ele, eu fiz a minha parte.

— Tudo bem… Mas não volte tarde. Ainda quero voltar a conversar sobre essa batida amanhã para não haver erros.

— Vou separar a minha roupa e descansar antes de ir. — Ele ficou de pé e subiu as escadas.

— Acho que nós podemos dar uma volta na praça enquanto Canis sai com Elliot, não é, Harry? — Therion sugeriu, encarando Potter com um pequeno sorriso de canto.

— Er… Sim! Sim, vamos.

— Tenham cuidado.

— Teremos, papai.

Sirius e Remus observaram Therion e Harry também seguirem para o andar de cima. Lupin respirou fundo, a cabeça a mil pensando na visita dos aurores. Não sabia se estava realmente pronto para isso.

Ao menos, eles tinham um bom plano em mente.

— Vai ficar tudo bem, Remmy — Sirius disse, abraçando a cintura de Remus e deitando a cabeça em seu ombro. — Vocês estão me ajudando tanto… Não vou deixar nada prejudicar você ou os meninos.

— Eu sei, Sirius… Sempre damos um jeito — Remus respondeu, levando a mão aos cabelos do Black. — Não vamos te deixar voltar para Azkaban.

— Nem eu vou permitir que tentem mandá-los para lá. Se algum dia isso estiver iminente, eu farei qualquer coisa para impedir. Qualquer coisa. Não quero que vejam como é aquele lugar e passem pelo que passei.

— Nenhum de nós irá para lá — garantiu e beijou a testa de Sirius.

Mais tarde, os três garotos se prepararam para sair. Harry andava de um lado ao outro pelo quarto, já tendo mudado de ideia sobre o que vestir várias vezes. Agora estava com uma camisa xadrez verde por baixo da jaqueta de seu pai, pensando seriamente em trocar mais uma vez. Canopus lutava com um lápis de olho roubado do kit de maquiagem de Merliah, enquanto Therion secava os próprios cabelos com a varinha e rodava o quarto tirando e guardando roupas do armário.

O gêmeo mais velho sorriu satisfeito para sei reflexo após conseguir usar a varinha para ajudar seu trabalho, então começando a cantarolar enquanto prendia o cabelo com um elástico.

— Therion, você pode usar um saco de batatas que Harry vai babar até formar um rio. Decide logo essa roupa!

— Vermelho ou verde? — perguntou Therion erguendo os cabides com duas camisas de botões.

— Sempre voto por Sonserina.

— Vou usar a vermelha.

— Por que pediu minha opinião, então?

Therion vestiu a camisa e uma jaqueta de couro, calçando as botas em seguida. Olhou-se no espelho, parado ao lado do irmão, bastante nervoso.

— Vai ser o primeiro encontro de verdade desde que nos beijamos. Acho que vou surtar.

— Você já está surtando, Therry.

— Me ajuda, porra! Você é meu irmão!

Canopus terminou de arrumar o cabelo e voltou-se para o irmão, que olhava-o ansioso. Agarrou-o pelos ombros e o empurrou até a cadeira da escrivaninha, pegando mais uma vez o lápis de olho.

— Olha pro teto. — Therion logo obedeceu. — Vocês já se beijaram de novo outras vezes, não foi?

— Sim…

— Um bom caminho andado. Não pense nisso como um super evento, apenas vai te deixar surtando como agora.

— Mas é algo importante.

— Eu sei. Pense que vai ser como qualquer outra visita a Torre de Astronomia ou fuga para Hogsmeade, mas dessa vez há uma grande chance de você ficarem de amassos.

— Alguns desses momentos já me faziam surtar, eu só… Não deixava ele perceber — confessou. — E nós não… N-não ficamos de amassos. Só… Nos beijamos. Isso aconteceu só outras duas vezes. Hoje de manhã ele me beijou de novo…

— Harry tomando iniciativa? Uau! Acho que hoje pode ser um grande dia.

— Para! Vai me deixar mais nervoso!

Canopus riu.

— Não está nervoso?

— Um pouco — admitiu. — Mas como eu disse, gosto de pensar em como qualquer outra vez que saímos. É especial, mas é… Bom, eu e ele. Eu confio nele. Sei que vai dar certo.

— E se não der?

— Tentamos de novo. Eu te contei que ele surtou quando nos beijamos pela primeira vez e a chuva quase estragou nosso encontro?

— Contou. Harry fez igual.

— É… Os dois tinham medo de admitir sua sexualidade — suspirou. — Eu não fui o primeiro, mas ele surtou porque ficou com medo de fazer isso de novo. Nós tivemos uma conversa realmente longa até ele se acalmar. Mas nós conversamos e tentamos de novo.

— Não vou comentar a hipocrisia dos seus conselhos.

— Ótima decisão.

Canopus terminou com o lápis de olho e ficou atrás do irmão, convocando a escova e começando a pentear o cabelo dele, usando um vento da varinha para secar.

— Elliot tem muito medo de se assumir para a família, por mais que eles já desconfiem, porque a maioria dos trouxas tem uma mente tão fechada quanto os supremacistas loucos, claro, e isso podia fazer tudo dar errado… Mas está dando certo. Escondidos sob o disfarce de apenas grandes amigos? Sim, mas está dando certo — continuou a falar. — Ele deixou o medo de lado porque, como sabe, ninguém resiste a nós dois, maninho. E vamos seguir até a volta às aulas. Um belo romance de verão.

Therion revirou os olhos, rindo.

— Vai dar certo com o Harry. É um encontro como qualquer outro. Se der sorte, vão se beijar de novo e continuar. Se algo der errado, outra tentativa. Mas, se der errado de um jeito que ele destrua seu coração, aí eu vou resolver com ele.

— Não sei se vamos nos beijar estando no mundo trouxa. A situação do seu namorado já mostra que é uma ideia ruim.

— Liah disse que as salas de cinema são escuras e muitos casais se beijam. Ninguém vai ver. — Canis deu de ombros. — E talvez encontrem algum lugar discreto enquanto passeiam por Londres. Existem gays trouxas, e eles dão um jeito. Você vai encontrar o seu.

— Assim espero… Por mais nervoso que eu esteja, realmente quero beijar ele de novo…

— Harry vai levar a capa da invisibilidade também, então podem muito bem usar para isso. Vá e aproveite a chance que encontrar. E também será sua primeira vez em um cinema, vai ser divertido.

— Estou empolgado por isso também! — Therion sorriu largo. — Ele conseguiu pegar escondido um jornal trouxa no Caldeirão Furado. Tem uma seção com os filmes no cinema para escolhermos.

— Vão assistir o quê?

O Rei Leão.

— Grifinório demais pro meu gosto.

Therion riu.

— Vou te contar sobre o filme querendo ou não. E você vai me contar seu encontro.

— Como quiser.

Canopus terminou, e Therion ficou de pé, seguindo até o espelho.

— Estamos lindos, não estamos?

— Sim, estamos.

Therion sorriu para seu reflexo. O lápis escuro na linha d'água destacava a cor de seus olhos. O cabelo preto estava penteado com com duas tranças no topo que terminavam presas num rabo de cavalo com parte dos fios, enquanto o resto dos cabelos continuavam soltos e enrolando-se levemente nas pontas abaixo do queixo e a franja cobria parte da testa, um pouco jogada de lado, emoldurando seu rosto.

— Ei! — resmungou quando Canopus abriu um botão da camisa vermelha.

— Assim está melhor. E o toque final… — disse e prendeu um colar no pescoço dele.

Era um colar prateado com um pingente de uma lua crescente com uma estrela.

— É o colar da mamãe.

— Espero que ela te traga um pouco de sorte e te deixe menos nervoso — falou e sorriu de forma doce para o irmão. — Está perfeito agora.

— Eu te amo, sabia?

— Quem não ama? — Therion o empurrou com o ombro. — Também te amo, Therry. Lembre-se, se Harry fizer merda…

— Você quebra a cara dele.

— Mas eu tenho quase certeza que não vai, porque ele também gosta muito de você.

— O mesmo vale para você.

— Meu coração não se quebra tão fácil.

— Mesmo que não admita, eu sei que muitas coisas doem nesse coraçãozinho de gelo. Se Elliot te magoar, ele vai ter que se ver comigo.

— Tudo bem. — Canis riu.

— Therry, você já está pront… — Harry adentrou o quarto e paralisou. — Wow! V-você… V-você está…

Harry respirou fundo, sem conseguir concluir a frase.

— Estou…? — Therion sorriu de lado, um pouco corado, provocando Potter.

— E-está… Você t-ta…

Ah, Merlin, ele estava lindo pra caralho! Mais lindo do que Harry já o viu em toda a sua vida. Simplesmente perfeito. Fazia o seu coração quase sair pela boca.

Therion viu aquele pensamento.

— Obrigado.

— Você está perfeito — Harry disse, mesmo ele já tendo agradecido.

Black sorriu, ficando ainda mais corado. Seu coração também batia forte no peito, pois Harry estava deslumbrante.

— Você também está lindo, Harry.

Harry ficou vermelho.

— Estou aceitando elogios também.

— Está bonito, Canis — Harry disse olhando para ele por apenas alguns segundos antes de voltar a focar no outro gêmeo. Canopus riu.

— Vou distrair papai e Sirius antes de ir. É melhor saírem agora, assim todos nós aproveitamos mais tempo.

— Tudo bem.

Canopus abriu uma gaveta e tirou de lá os dois pedaços de espelho que Sirius lhes deu no dia que foram visitar Harry na Rua dos Alfeneiros, o mesmo que já vira tantas vezes em seus pesadelos. Entregou um a Therion, guardando o outro consigo.

— Vou avisar quando estiver voltando para casa. Fiquem atentos.

— Certo. Boa sorte no seu encontro.

— Boa sorte no de vocês também — disse. — Cuide bem do meu irmão, Prongs.

— Eu não preciso que cuidem de mim.

— Vou cuidar bem, Padfoot — Harry respondeu. Canis lhe deu um tapa na nuca pelo apelido, e ele riu.

Therion cruzou os braços e arqueou a sobrancelha, encarando Potter. Harry apenas sorriu de canto e deu de ombros.

— Sou o mais velho, então eu quem vou cuidar de você.

— Cuidamos um do outro para nada acontecer, então.

— Justo — Therion concordou.

— Divirta-se conhecendo a casa, Antares — Canopus despediu-se da doninha, beijando sua cabeça e deixando o animal em sua cama.

Harry pegou sua capa de invisibilidade e cobriu a ele e Therion, que segurou sua mão e eles saíram do quarto logo atrás do irmão.

— Papai! — Canopus chamou descendo as escadas.

Remus e Sirius rapidamente olharam na direção do garoto, ambos dividindo juntos mais um pouco de sorvete. Canopus caminhou até atrás do sofá, obrigando-os a se virar para olhar, e deu uma volta no lugar de braços abertos e sorriso no rosto.

— Estou lindo, não estou?

— Está, Canis — Remus concordou.

Therion e Harry entraram na lareira rapidamente e pegaram um pouco de pó de Flu. Sirius olhou para trás ao ouvir um barulho, franzindo o cenho.

— Lembre de voltar antes do jantar.

— Sim, sim, já entendi. Prometo que estarei de volta no horário — disse pegando sua varinha discretamente e mantendo-a em suas costas. Ele a agitou e um estrondo ecoou quando a cauda do piano fechou de repente.

O garoto pulou e guardou a varinha, fingindo susto. Remus e Sirius também saltaram assustado com o barulho.

— Acho que não estava tão firme — Canopus mentiu.

— Tudo bem, isso acontece as vezes. Esse piano já está velho mesmo — Remus disse e ficou de pé, enquanto Sirius olhava desconfiado para o filho.

— Remmy, pode pegar mais sorvete? Eu arrumo o piano. Quero de morango.

— Ah, tudo bem. Tenha um bom encontro, Canis.

— Obrigado, papai.

Remus entrou na cozinha, e Sirius seguiu até o piano. Rapidamente as chamas verdes acenderam na lareira ao surgir o momento, e Canopus sorriu satisfeito. Ele então virou-se e foi embora, sem dar atenção a Sirius.

Lupin voltou com o sorvete.

— Vou perguntar se Harry e Therry também querem.

— Eles acabaram de sair para dar uma volta. Deixemos para depois do jantar — Sirius falou, voltando-se para ele.

— Já foram?

— Saíram agora com Canis. Acho que Theo vai preferir ter o treinamento mais tarde. Podemos ver um filme na TV?

— Tudo bem.

— Não ouse escolher O Homem Que Caiu na Terra de novo!

Remus suspirou. Era exatamente o que ia escolher, mas decidiu pensar em outro.

— Pode ser outro do David Bowie, mas esse eu já sei todas as falas de tanto que vimos.

Labirinto do Fauno, então — Lupin sorriu e foi procurar a fita do filme.

Remus colocou a fita no videocassete e acomodou-se no sofá junto a Sirius, que aconchegou-se contra seu peito entre suas pernas enquanto dividiam o sorvete.

Canopus atravessou a rua assim que saiu de casa, seguindo por calçadas e jardins até parar em uma residência de dois andares. As cortinas de uma das janelas do segundo andar estavam abertas, e ele viu um garoto passar por ela, o que o fez sorrir.

Ele atravessou o jardim bem cuidado e tocou a campainha. A porta foi aberta por uma jovem mulher de cabelos loiro-escuros e olhos iguais aos de Elliot que aparentava ter uns 20 anos.

— Boa tarde!

— Elliot, aquele seu amigo chegou! — exclamou num tom alto e deixou-os entrar. — Ele está no quarto. Pode subir.

A televisão ecoava alto da sala, onde o caçula assistia a um desenho enquanto comia biscoitos com leite ao lado da cachorra e de um bebê adormecido em uma manta.

Passou por eles e subiu as escadas, seguindo até o quarto que já conhecia o caminho. Bateu na porta, a qual logo foi aberta por Elliot.

— Oi! — disse já entrando e fechando a porta atrás de si.

— Oi! Você chegou cedo — Elliot cumprimentou e sorriu para ele. Canopus segurou seu rosto e o beijou, sem perder tempo. — O seu pé… Cadê as muletas? Não pode ter se curado tão rápido.

— Eu tenho uma ótima saúde e me curo bem rápido. Não era tão grave.

— Queria ter me recuperado rápido assim quando me lesionei numa partida de futebol — falou. — Três dias trás você nem colocava o pé no chão.

— Nós Black temos nossos segredos. — Piscou e sorriu de canto.

Elliot riu, enquanto dava um selinho em Canopus.

— O que aconteceu com o seu olho? — Canis perguntou ao se afastarem e poder ver mais de perto. Estava um pouco arroxeado abaixo do olho esquerdo do garoto.

— Um pequeno problema antigo.

— Quem fez isso?

— Um babaca da minha escola que encontrei ontem quando estava com o Ethan no playground, mas não importa. Você chegou cedo, e eu ainda tenho que me arrumar. Então espere aqui.

— Nome.

— O quê? Você vai bater nele de volta? Não se preocupe, eu já fiz isso. — Ergueu as mãos e mostrou os punhos vermelhos e um pouco feridos.

Canopus instintivamente levou a mão ao bolso onde estava a varinha, mas se deteve. Não poderia usar um feitiço de cura na frente dele, por mais que quisesse.

— Ester já cuidou disso. Vai sumir em alguns dias.

— Você vai me contar quem foi.

— Você vai se acalmar bem aqui enquanto me arrumo. Depois conversamos, mas eu já disse que está tudo bem.

Elliot o agarrou pelos ombros e o empurrou até estar sentado na cama, então virou para pegar suas roupas. Enquanto ele saía, Canis pegou sua varinha.

Episkey — sussurrou o feitiço. Os machucados dos punhos sumiram.

Guardou a varinha rapidamente. E enquanto Elliot saía do quarto, Canopus ponderava qual seria sua pena por azarar um trouxa.

***

Harry e Therion adentraram o cinema juntos. Potter admirou com um leve sorriso os olhos do Black brilhando com alegria ao observar tudo ao redor. Ele olhava para cada canto, cada detalhe mínimo do lugar.

Haviam vários trouxas por ali. Casais de mãos dadas, grupos de amigos, pais com seus filhos. Havia um painel com os nomes das sessões e os horários e três cabines de bilheteria. Eles entraram na fila lado a lado, como apenas dois amigos indo ver um filme.

Harry pagou pelos dois ingressos e o guiou até a fila da bomboniere para comprar pipoca. Therion observou de longe a gama de opções de doces. Eles levavam alguns doces bruxos na mochila onde Harry guardava a capa da invisibilidade, mas ele já queria comprar mais alguns.

Black pagou pela comida. Eles pegaram o maior balde de pipoca, dois refrigerantes, barrinhas de cereal e mais alguns doces. Seguiram então até a sala de sua sessão e sentaram-se numa fileira um pouco mais para cima. As da frente lotaram.

— Não coma tudo antes de o filme começar — Harry avisou em voz baixa enquanto Therion devorava uma barra de chocolate.

— Vai demorar muito?

— Não, chegamos na hora certa.

Therion olhou ao redor.

— É realmente escuro aqui.

— É melhor para projetar a imagem na tela. Me explicaram uma vez na escola trouxa. Olha ali. — Harry apontou para as paredes do topo da sala, onde havia uma pequeno janela em cima. — Ali tem um projetor, que vai fazer o filme passar naquela tela ali na frente.

— A tela é gigante.

— Esse é o melhor do cinema!

Therion sorriu animado.

— Você já veio?

— Só uma ou duas vezes. Não foi muito bom por causa do meu primo. Tenho certeza que vai ser bem melhor dessa vez com você.

— Apenas cumprindo minha promessa.

Harry riu baixo. As poucas luzes acesas se apagaram, deixando a sala ainda mais escura.

— Vai começar agora.

Os dois ficaram em silêncio. Após dois trailers, o filme se iniciou, e eles começaram a comer a pipoca pousada no colo de Harry. Eles assistiram com atenção, divertindo-se com as músicas e rindo.

Potter estava totalmente imerso no filme. Sentiu seu coração apertar ansioso ao ver o pequeno filhote de leão no meio daquela rebandada de animais que não se preocupou em identificar. Ele e Therion exclamaram juntos em descrença quando Scar matou Mufasa.

Harry pôde ouvir Therion xingar o leão sussurrando em todos idiomas que conhecia.

Alguns instantes depois, sua atenção foi tirada do filme ao ouvir o Black fungar. Olhou para o lado e o viu secar as lágrimas enquanto assistia o pobre Simba junto ao corpo do falecido pai.

— Você tá chorando? — perguntou surpreso. Ele também estava muito triste com a cena, talvez até sentindo um nó de angústia na garganta, mas talvez não a ponto de realmente chorar.

— Não, estou cortando cebola — retrucou sarcástico.

Harry riu e secou algumas lágrimas dele.

— Ele tentou acordar o pai dele — choramingou. — Isso é triste!

— Eu sei. Realmente é.

— Isso não é algo legal para um filme para crianças.

Harry ofereceu mais pipoca, e Therion pegou uma mão cheia, levando tudo à boca enquanto fungava mais uma vez. Ele pegou sua mão depois, e Potter sentiu que seu coração iria explodir e as bochechas queimando, mas não soltou.

As lágrimas deram lugar a um sorriso quando começou uma nova música bastante animada.

— Se Canis estivesse assistindo conosco, ele iria pedir ao papai para ter um suricato por causa do Timão — Therion comentou sussurrando.

— Não duvido que ele quisesse até um filhote de leão ou um javali — Harry riu, sendo seguido por Therion. — A personalidade é igualzinha à do Timão.

Black tentou não rir alto, escondendo o rosto no ombro de Potter. Ele não levantou a cabeça de volta depois, apenas olhou para Harry, que sorria também tentando não rir mais. A grande concentração de pessoas estava mais a frente, mas ainda era melhor não serem ouvidos.

Voltaram os olhos para o filme de novo, ainda de mãos dadas e a cabeça de Therion no ombro de Harry, ambos comendo pipoca. Após mais do decorrer do filme, Black ergueu o rosto para admirar Potter com os olhos vidrados na tela.

Era bom estar assim com ele. Somente os dois. Daquela vez, não negaria que era um legítimo encontro romântico, e isso fazia seus dois batimentos cardíacos acelerarem a ponto de parecer que explodiria seu peito.

Harry sentia-se do mesmo jeito e se esforçava para não aparentar seu nervosismo toda vez que percebia os olhos do Black em si. Como naquele momento.

Ele olhou para Therion de volta, encarando aqueles olhos brilhantes que tanto gostava.

— Por que está me olhando?

— A vista é bonita — respondeu sussurrando e sorrindo de lado.

Harry corou.

— Fica lindo assistindo tão concentrado.

— Bom… Minha vista agora também é muito linda — Harry sussurrou de volta, com toda a coragem que havia em seu peito, encarando os olhos azuis-cinzentos. Aqueles olhos sempre seriam a melhor vista de todas.

Therion sorriu bobo e tentou esconder o rosto corado na curvatura do pescoço de Harry, onde também pôde sentir seu perfume. Can You Feel the Love Tonight começou a ecoar pela sala vinda do filme.

Combinava tão bem com a cena romântica no telão quanto a bem naquela sala de cinema, escondida em meio a escuridão e a desatenção das pessoas focadas no filme.

— Talvez tenha que assistir de novo. Ver com mais atenção, porque você está roubando toda a minha agora.

— E você vai chorar de novo? — Therion deu um leve tapa no ombro de Harry e o encarou sério. Ele riu baixo. — Não tem problema, vou estar aqui para secar suas lágrimas. Temos tempo, não é?

— Se depender do encontro de Canis, todo o tempo do mundo.

— Eu gosto disso — admitiu. — Ter todo o tempo do mundo com você.

— Bom… Nós sempre teremos todo o tempo do mundo — Therion sussurrou e afastou os cabelos da testa de Harry.

Potter sorriu fraco, o coração palpitando no peito. Todo o tempo do mundo… É, ele realmente gostava muito disso. Sempre ter tempo para fazer o que tanto queria e estar com quem quisesse.

Therion admirou os olhos verdes e sorriu de volta.

— Posso te beijar? — sussurrou tão baixo que Harry quase não pôde ouvir.

Harry sentiu todo o ar se esvair de seus pulmões. Foi inevitável que seus olhos percorressem outros cantos da sala tão escura, cuja única luz vinha do telão. A música ainda tocava. Todos assistindo atentos, mas ainda ali.

Ele queria. Queria muito.

Por um momento, decidiu esquecer tudo ao redor. Ele já se arriscou de piores formas por muito menos. Não era justo ter que ser tão cuidadoso por apenas gostar tanto de um garoto.

Não um garoto qualquer. Therion Black.

Harry gostava muito de Therion Black. E ele queria muito beijar Therion Black naquele cinema.

— Pode — sussurrou de volta, voltando os olhos para os dele.

Não demorou nem dois segundos. Seus lábios estavam colados, as mãos dele em seu rosto, exatamente como no seu aniversário, a música em seus ouvidos. O mundo poderia explodir agora, Harry estaria feliz por ao menos ter beijado Therion mais uma vez antes disso. Um beijo de verdade.

Os dois estavam sorrindo bobos contra os lábios um do outro no fim, imersos em sua própria bolha alegre e romântica. E eles se beijaram de novo antes de decidirem realmente assistir ao filme.

Afinal, eles tinham tempo.

Daquela vez, Harry quem deitou a cabeça no ombro de Therion, entrelaçando os dedos de suas mãos, e Black apoiou a cabeça sobre a sua. Assim eles ficaram até o filme terminar.

Eles se afastaram quando as pessoas começaram a se levantar para ir embora, mas não saíram. Permaneceram ali até a sala ficar vazia, quando se encararam.

— O que achou?

— Eu gostei do filme. Ver o vilão provar do próprio veneno é muito satisfatório — Therion respondeu.

— Concordo. Scar teve o fim merecido com as hienas.

— Muitos filmes tem músicas legais? Não vi muitos.

— Os musicais, sim. Outros tem trilha sonora que toca no fundo que são legais as vezes.

— Gostei daquela que tava tocando quando nos beijamos.

Harry corou e sorriu.

— Também gostei dela… — disse. O som apenas deixou o momento ainda mais memorável. Seu primeiro encontro e primeiro beijo em um encontro. — E que tenha me beijado.

— Posso beijar de novo se quiser. Não tem ninguém aqui.

Eu quero. — As palavras pularam da boca de Potter antes que ele sequer percebesse.

Oh, Merlin! Será que assim pareceria muito desesperado? Esperava que não. Ele ainda era totalmente inexperiente em relacionamentos.

— Você não é o único.

— Assusta quando você faz isso, sabia? — Harry disse.

— Desculpa. — Therion encolheu os ombros. — Em minha defesa, você está me deixando com os nervos à flor da pele e sua mente parece fácil demais de ler.

— Realmente vou ter que pedir ajuda a Sirius nisso.

Therion riu e beijou o rosto de Harry.

— Acho que agora quero um beijo na boca.

— Está ficando muito atrevido, Sr. Potter.

— Culpa sua, Sr. Black — rebateu.

Therion riu outra vez e deu um selinho em Potter. Harry sorriu fraco e timidamente ergueu a mão para afastar a franja que caiu pelos olhos do Black. Então a abaixo devagar, fazendo um leve carinho no rosto dele.

Ele é tão lindo…

Harry mal conseguia entender tudo o que ele o fazia sentir, e se lembrava perfeitamente de quando ele disse que lhe daria o tempo que fosse preciso para entender. Iriam do jeito deles. Já sabia que esse era um grande lema da família e gostava disso. Podia não entender, mas ele ainda sentia

E sabia que seus sentimentos por Therion eram fortes. Gostava dele. Simplesmente. O que poderia haver de errado em apenas querer expor isso?

Estava aprendendo a ser ele mesmo sem medo, se entender aos poucos. Explorar sua liberdade sempre negada na casa que nunca sentiu como seu lar. Algo ele estava começando a entender…

Therion não era a solução para todos os seus medos e problemas, mas era o suporte que precisava, assim como Canis, Remus, Sirius. E havia o detalhe especial do que sentia… Apenas um detalhe.

Um detalhe que queria muito desbravar e entender todos os mistérios.

— Vai ficar apenas me admirando, Harry? — Therion brincou com um sorriso de canto.

— Sempre dizem que coisas bonitas devem ser admiradas.

— Isso é verdade. — Ele subiu a mão até o rosto de Potter.

— E gosto de admirar seus olhos.

— Eu sei. Os seus também são lindos.

— Não tanto quanto os seus. Sempre parecem brilhar e refletir todas as estrelas — disse. — Espero que esse brilho nunca se apague um dia. Eu gosto dele.

— Não com você aqui.

Harry sorriu. Então, em mais um impulso de coragem, ele agarrou a gola da jaqueta de couro de Therion e o puxou para beijá-lo.

Black sorriu contra os lábios de Potter antes de segurar seu rosto firmemente com ambas as mãos. Não saberia dizer exatamente por quanto tempo ficaram daquela maneira. Eles se afastavam por poucos centímetros e logo estávamos juntando suas bocas novamente, curtindo o momento juntos e sozinhos.

— Acho que ainda não está na hora de voltar. — Therion bateu no relógio com o indicador após se afastarem mais uma vez. — O que vamos fazer?

— Vamos ver outro filme, então. Logo alguém virá limpar a sala.

— Poderia ter avisado antes para ficarmos mais atentos.

— Acho que agora não conseguiríamos ter atenção em mais nada além de nós — Harry disse, com o coração acelerado.

Ele estava feliz. Muito, muito, muito feliz.

— Isso não posso negar. — Therion sorriu maliciosamente e então deu mais um selar em Harry.

— Vamos para a bilheteria comprar mais ingressos.

— Realmente temos que enfrentar aquela fila de novo? Não podemos só entrar em outra sala?

— Até podemos, mas acho que não é bem assim que funciona. Vamos, deve dar tempo para mais um filme.

Eles enfim ficaram de pé e saíram da sala lado a lado. Assim que colocaram os pés para fora, deram de cara com um funcionário do cinema que varria distraidamente o chão em frente a porta, mesmo que parecesse bastante limpo. O funcionário rapidamente entrou assim que os viu, levando um carrinho de limpeza consigo.

Therion encarou-o intrigado. Antes de entrar de fez e fechar a porta, o funcionário que parecia ter no máximo uns 18 anos sorriu e piscou para ele. Ele sentiu o rosto corar, mas sorriu fraco.

Nem todos os trouxas eram ruins para pessoas como ele, afinal.

— Bem na hora — Harry suspirou aliviado. — Foi por pouco.

Os dois seguiram para a bilheteria, porém, a fila estava com o triplo do tamanho de quando eles chegaram. Bufaram quase ao mesmo tempo, sem vontade alguma de enfrentar uma fila quilométrica.

Então, os olhos dos dois foram até a mochila de Harry e se encararam em seguida. Logo souberam que tiveram a mesma ideia. Eles foram até o banheiro do cinema e se cobriram com a capa da invisibilidade assim que ficou vazio.

Seguiram para as salas, observando os nomes dos filmes nas entradas.

— Vamos ver esse — Therion sussurrou, apontando para uma sala.

Top Gun. Harry concordou, e eles entraram. Pelo que indicava o cartaz, aquela sessão havia se iniciado há uns 20 minutos. A sala estava muito mais cheia, embora com menos crianças com familiares. Sentaram-se em dois assentos mais ao fundo, no final da fileira.

Mantiveram-se debaixo da capa por precaução, encolhidos com os pés sobre as poltronas para a capa poder cobrir ambos totalmente. Therion abraçou os ombros de Harry, que deitou a cabeça no seu enquanto retirava doces da mochila para comerem, devagar e em silêncio.

Os dois contiveram risadas, contagiados pela alegria misturada a adrenalina. Harry nunca se imaginou fazendo isso algum dia, mas estar fazendo junto do Black certamente deixava tudo melhor.

Levou alguns minutos para entenderem um pouco do que perderam do filme, porém isso não estragou a experiência. Nem um pouco.

Therion apenas faltou suspirar enquanto sentia os hormônios à flor da pele graças a um dos atores. Era um ator muito bonito. Canopus com certeza concordaria se estivesse ali.

Harry também concordava muito na parte de atores muito bonitos. Ele sempre costumou tentar não reparar nisso quando por ventura conseguia ver algum filme na televisão, mesmo que falhasse miseravelmente e se odiasse por isso. Naquele filme, seria bem difícil negar.

E a parceira do protagonista também era muito bonita. Como podia Harry estar encantado pela beleza de um casal num filme?

Sempre foi um grande questionamento. Estava começando a entender isso.

Canis lhe disse uma vez que havia quem se interessasse por todo tipo de pessoa… Talvez ele fosse assim. E dar-se conta disso não tornava o fato menos assustador.

Não mais que se perceber interessado por seu melhor amigo e ter medo de perdê-lo. Isso já estava sendo resolvido há semanas, então não era realmente um pensamento iminente. Estava aproveitando os momentos.

Novamente, quando o filme acabou, eles aguardaram a sala esvaziar.

— Vai ficar com ciúme se eu disse que achei um ator muito bonito? — Therion perguntou.

— Não… Também achei — confessou corado.

— Talvez eu fique com ciúmes agora.

— É mesmo? — Harry arqueou a sobrancelha e ergueu a cabeça para encará-lo.

— Não, estou brincando — riu Black. — Você é o ciumento.

— Não sou.

— É sim. Mas isso significa que algo você sente por mim… Espero que seja algo bom.

— Por que seria algo ruim?

Therion deu de ombros.

— Não sei, mas seria uma possibilidade. Existem todo tipo de loucos.

— Não sou louco — Harry disse firme. — Eu sinto algo bom por você.

— Sente?

— Não me pergunte demais ou eu vou explodir. Tenho minha cota diária de entendimento e sinceridade sobre o que sinto por você.

Therion riu e continuou com um sorriso bobo no rosto. Ainda tinha um braço em torno dos ombros de Potter e guiou sua mão até os fios rebeldes.

— Mas se quiser me beijar agora, você pode.

— Eu sou o legilimente aqui — disse. Harry sorriu por constatar que é exatamente o que ele queria.

— E eu estou de muito bom humor.

— Então você esteve de mau humor desde o último beijo?

— Não… Mas é que estou muito feliz de estar aqui com você.

— Também estou, Hazz.

— E esse é com certeza o melhor dia de toda as minhas férias, Lobinho… Depois do meu aniversário.

— Acho que dessa vez isso basta.

Os dois riram baixo e logo selaram seus lábios mais uma vez, ainda cobertos pela capa da invisibilidade. E mais longos minutos se seguiram.

Eles se afastaram ao ouvir algo. Um funcionário do cinema entrava para limpar a sala. Harry ofegou assustado, e Therion rapidamente tapou sua boca, comprimindo os lábios e encarando os olhos verdes. Ergueu o indicador até a boca, pedindo silêncio.

Eles permaneceram paralisados por alguns instantes, exatamente como no Halloween, quando caíram sob a capa na cozinha ao preparar uma pegadinha. Até que se levantaram devagar, Harry abraçando a cintura do Black para mantê-los juntos enquanto caminhavam devagar. Passaram exatamente ao lado do homem que limpava, em silêncio.

Saíram da sala de volta ao banheiro, onde retiraram a capa e começaram a gargalhar.

— Essa foi por muito pouco — Harry disse.

— A sorte foi sua capa.

— Ela tem salvo minha vida há bastante tempo. — Guardou a capa na mochila. Os dois riram. — Mas confesso que a adrenalina é emocionante.

— Com certeza é — Therion concordou. — Gosto disso.

— Não é à toa que você e Canis vivem de detenção.

— Você também tem nos feito muita companhia, então também gosta.

— Nunca neguei isso. — Harry sorriu ladino. — Que tal um passeio por Londres?

— Nem precisa pedir duas vezes.

***

Sirius estava distraído de traçando as cicatrizes no braço de Remus com o indicador enquanto sentia as carícias em seu cabelo para prestar atenção no que ele dizia.

— E então, Sirius?

— Hã?

Ele ergueu o rosto para Lupin. Eles ainda estavam juntos no sofá, Black deitado por entre as pernas e os braços de Remus e a cabeça em seu peito. Estava passando algum programa na TV que não davam importância após terem terminado o filme e o sorvete.

Remus estava falando algo, mas Sirius não prestou atenção. Ficou perdido demais em seus próprios pensamentos. Isso acontecia as vezes. Receber aquele carinho também não ajudava em sua concentração nas palavras ditas. E ele sempre gostou de admirar como as cicatrizes traçavam o corpo de Lupin.

Ele via como algo ruim. Sirius via como una obra de arte que fazia parte de Remus.

— Perguntei se estava muito nervoso para amanhã — Remus repetiu a pergunta. Ele não parou de acariciar os fios escuros que começavam a crescer de novo aos poucos.

— Um pouco... Mas confio que vai dar certo — respondeu. — A única coisa que deu errado na Copa foi eu ter esquecido de beber a poção de novo antes de sair da barraca.

— Não tínhamos como pensar naquela situação.

— E eu faria tudo exatamente igual se fosse para salvar os meninos.

Remus sorriu fraco. Ele entendia exatamente como era, porque ele também faria. Os dois amavam demais aqueles garotos e fariam de tudo por eles. Tudo.

— Eu sei.

— Sendo descoberto amanhã ou não, eu quero levar eles para King's Cross, seja com Polissuco ou como Padfoot.

— Sirius...

— Não vou discutir isso. Eu vou — Sirius disse firme, encarando os olhos de Lupin. — Quero fazer isso. Eu... Eu preciso ir com eles. Quando eles forem... Eles vão ficar longe de novo.

— Eles precisam estudar.

— Eu sei, por isso preciso ir. Como deveria ter ido todos os outros anos... Para aproveitar todo momento que puder com eles.

— Eles vão voltar na Páscoa, provavelmente.

— Ainda serão meses longe deles. Eu já perdi doze anos... Não queria ter que me afastar tão cedo.

Sirius abaixou o olhar, enterrando o rosto na curvatura do pescoço de Remus. Seus olhos marejaram e logo começaram a derramar lágrimas. Não conteve nenhuma.

Lupin apertou os braços em torno de Sirius e apoiou o queixo na cabeça dele.

— Foi difícil pra mim no primeiro ano — confessou. — Ter que ficar longe deles por meses até o Natal. Já fazia um tempo que não conseguia mais levá-los comigo para trabalhar... Parecia que não tinha aproveitado tempo o suficiente.

— Você ainda teve muito tempo.

— Sinto muito que tenha sido mais que você...

— Fico feliz que tenha estado com eles. Sei que estiveram bem e seguros — Sirius disse. — E não venha me falar da licantropia. Eles estavam seguros com você, sim! Muito mais do que estariam com minha mãe ou... Céus! Nem quero imaginar se tivessem mandado eles pra Narcisa.

Remus riu baixo. Sirius o conhecia muito bem.

— Acho que discutir se eu era uma escolha segura já era uma causa perdida no momento que Karina me convenceu a aceitar ser o padrinho do Therry.

— Exatamente — Sirius concordou e fungou. — Ela sempre tinha razão.

— Infelizmente.

— Acha que Canis me deixaria abraçar ele na estação?

— Sendo sincero? — Sirius assentiu com a cabeça. — Não.

Black riu baixo e dolorido e fechou os olhos, comprimindo os lábios. Já imaginava.

— Mas Therion, acho que sim. Harry com toda a certeza.

— Isso já é bom — disse. — Tem sido ótimo passar mais tempo com eles.

— Harry te adora.

— E eu amo ele... Desde que ele nasceu. Isso não mudou. Amo Harry, amo Theo, amo Canis... Amo todos eles.

— E estamos indo muito bem com Harry — Remus disse. — Sei que se culpa muito por tudo que ele passou, mas você está ajudando. Todos estamos.

— Ainda quero acabar com aqueles trouxas.

— Não só você... Mas cuidar de Harry é o que mais importa e estamos fazendo isso. James está feliz... Onde quer que esteja.

Sirius sorriu fraco e soluçou ao pensar no amigo. Sentia tanta falta dele... James era seu irmão. A dor de perdê-lo nunca iria embora, assim como a de perder Regulus não foi.

Noites atrás, no dia que Therion conseguiu acessar uma memória de Regulus, Sirius chorou nos braços de Remus. A dor e as memórias de seu irmão vindo a tona, principalmente as piores, as que mais lhe causavam dor e culpa, porque é o que anos com os dementadores fazem com você. As piores lembranças voltam a tona com força, enquanto as melhores ficam cada vez mais difíceis de se lembrar.

Talvez pelos momentos na forma de Padfoot ele não se esqueceu de todas as memórias boas, mas algunas ainda eram nevoadas em sua mente. Ele mal conseguia se lembrar do sorriso de Regulus.

Mas se lembrava com grande precisão a dor nos olhos de Regulus na última vez que o viu, quando disse que ele estava morto para si. Era algo que queria muito esquecer.

E lembrava-se com a mesma exatidão da dor no olhar de James quando souberam da morte de Regulus e de ver uma parte dele se quebrar completamente enquanto desabava nos braços de Lily. Os dois carregavam aquela culpa. A culpa por não ter ajudado quando ele pediu. Nenhum deles se prestou a isso... E se arrependeram amargamente depois.

Muitas vezes no meio da noite desde que saiu de Azkaban ele acabava chorando ao pensar no irmão... Em seus irmãos. É o que os dois eram para ele de igual maneira e intensidade.

— James estaria orgulhoso do Harry — murmurou.

— Sem dúvida alguma — Remus confirmou.

— Gosto de ver Harry junto com os meninos. É o que James e eu sempre quisemos... Que eles fossem amigos exatamente como nós dois, que fossem como irmãos.

— Mesmo afastados até Hogwarts, eles se tornaram isso. Harry esteve com eles nos últimos tempos exatamente como James esteve com você quando precisou...

— E com Regulus... Antes de tudo.

Remus sorriu fraco para Sirius, que havia erguido o rosto mais uma vez. Seus próprios olhos marejaram pela conversa. Ele levou a mão até o rosto do Black, secando os rastros molhados deixados pelas lagrimas.

— Sim, exatamente como James também esteve ao lado de Regulus antes de tudo e te ajudou.

— Principalmente a parte do Regulus — reforçou Sirius.

Lupin gargalhou e foi acompanhado por Sirius. Uma risada sincera que não davam juntos há muito tempo.

— Sim — Remus assentiu e balançou a cabeça. — Você também percebeu.

— Não sou tão bobo.

— Não, você não é.

— Talvez eu devesse falar com o Harry sobre.

— O quê exatamente?

James e Regulus — respondeu. — Ele gosta de saber mais sobre os pais. Acho que gostaria de saber disso.

— Que o pai dele namorou o seu irmão por quase dois anos?

Sirius assentiu com a cabeça.

— Talvez seja realmente bom pra ele.

— Eles tiveram a audácia de me esconder por quase dois meses e isso me deixou furioso — Sirius riu, secando suas lágrimas. —, mas fiquei feliz por eles, James fazia bem para Regulus. E... Fico igualmente feliz de ver que Harry faz bem ao Theo... E ele também faz bem ao Harry. Seja lá o que está acontecendo agora entre eles... Só quero que fiquem bem.

— Não estão nos escondendo um namoro, isso garanto. Therion vai me contar quando for algo sério.

— Como pode ter certeza?

— Porque eu os criei assim, e eles sempre me contam. — Deu de ombros. — Os dois me falaram todas as vezes que gostaram de algum garoto. Canis até já falou sobre o primeiro beijo desastroso dele e quando beijou o Elliot.

Sirius sorriu fraco. A confiança que existia entre Remus e os gêmeos era incrível, até invejável. Era a relação próxima que ele queria construir com eles. Que confiassem nele para falar sobre qualquer coisa.

Esperava conseguir isso um dia.

— Eles sempre foram livres para amar quem quiserem e falar sobre isso.

— Você é incrível, Remmy.

— Só fiz o meu papel de pai e apoiei eles.

— Mas muitos não fazem — Sirius disse com pesar. Remus sabia que se referia a si próprio e Regulus.

Orion e Walburga não fizeram esse papel mínimo, apenas os deixaram confusos sobre si mesmos e com medo de serem o que são. Os obrigaram a ter que esconder — Regulus principalmente.

Eram um exemplo que Sirius não queria seguir.

— Fiz o meu melhor.

— Nunca vou deixar de te agradecer por isso e dizer o quanto foi incrível.

Sirius segurou o rosto de Remus entre as mãos, acariciando suas bochechas delicadamente.

— Você também teria sido — Lupin sussurrou. — E vai ser daqui pra frente.

— Já imaginou como teria sido?

Sempre, Sirius... 

Remus sorriu fraco com uma lágrima escorrendo pelo rosto e beijou a bochecha de Sirius. Eles uniram suas testas, e uma das mãos do Black subiu para os fios mais claros e apertou-os entre os dedos, enquanto Lupin abraçava seus ombros.

— Os meninos teriam ido para a escola primária dos trouxas — disse baixo, quase sussurrando. — Eu pensei em mandá-los... Mas as mudanças constantes não deixavam.

— E sempre nos contariam como foi o dia depois — Sirius complementou. — Levaríamos eles para brincar no playground da praça e tomaríamos sorvete todos os fins de semana.

— Sim — Remus confirmou. — E já os ensinaríamos a controlar a magia cedo para evitar acidentes.

— Teríamos as noites de jogos.

— Com certeza.

— E você sempre tocaria piano para nós.

Remus comprimiu os lábios. Sirius riu.

— Tocaria, sim! E os meninos sempre acabariam dormindo — Sirius continuou. — Então levaríamos eles para o quarto e os deixaríamos dormir. Voltaríamos para a sala para uma boa taça de vinho e dançaríamos.

— Dançar?

— Sim, como no baile. Sempre dançaríamos.

Sirius encarou os olhos de Remus e deslizou o polegar pela grande cicatriz que cortava metade do rosto.

—  E eu te beijaria de novo — sussurrou.

O coração de Lupin deu um salto no peito. Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto sem que percebesse enquanto admirava aqueles olhos brilhantes e expressivos que tanto amava.

— Queria ter tido essa vida com você.

— Eu também — Remus sussurrou de volta.

— Nós realmente poderemos ter nossa vida juntos como queríamos algum dia, não é?

— Um dia. Não igual, mas teremos. Isso eu prometo a você.

— Podemos conseguir isso — Sirius disse. — Vamos conseguir.

— Lua por lua, não é?

Sirius apenas balançou a cabeça assentindo e sorriu, um sorriso sincero e carinhoso. Ele beijou o rosto de Lupin, depois a ponta de seu nariz.

Por fim, ele abraçou o pescoço de Remus e deixou um longo selar no canto de sua boca antes de juntar suas testas de novo.

Ele queria beijar a boca Remus de novo. Ah, como queria. Mas agora não era a hora. Não se sentia verdadeiramente pronto para isso.

Pequenos passos. Um passo de cada vez. Uma lua de cada vez.

Cada momento como aquele era importante. Apenas eles ali, sozinhos, presos em sua própria bolha, desabafando e encontrando uma maneira de seguir em frente. Cuidando um do outro.

Essa era a maior demonstração do amor deles. A forma mais doce e pura de amor.

Um amor que foi partido, mas que estavam reconstruindo a cada dia com pequenos momentos.

— Dança comigo? — Sirius pediu.

— Hã? — Remus encarou-o aturdido, imerso demais naquele momento.

Sirius afastou-se e ficou de pé de repente. Remus observou completamente confuso ele desligar a televisão e ir até seus discos, pegando um deles sem nem pensar duas vezes. Ele seguiu para a vitrola e colocou o disco.

Logo Starman começou a ecoar pela sala.

— Dance comigo.

Sirius estendeu uma mão para Remus, que ainda apenas olhava sem reação.

Encarando os olhos acinzentados, Lupin segurou a mão dele e levantou-se, deixando-se ser puxado até o centro do cômodo. Sirius guiou sua mão até a própria cintura e segurou outra, entrelaçando seus dedos. Ele então começou a mover-se pela sala no ritmo da música.

Remus rodeou a cintura do Black com o braço, deixando-os mais colados, e viu um pequeno sorriso satisfeito surgir por entre os lábios dele.

Eles dançaram seguindo a voz de Bowie, sem desviar os olhos um do outro nem por um segundo. Nada mais parecia importar no mundo, apenas eles e aquele momento.

A preocupação com o amanhã poderia esperar. Eles mereciam aquele momento de paz.

Poderia ser uma paz antes da tempestade, mas aproveitariam cada segundo. Depois, enfrentariam a tempestade de cabeça erguida sem pestanejar.

***

— Nem é tão fundo, Canis!

— Se a água fica acima dos meus ombros, e eu quase me afogo, é fundo até demais! — resmungou Canopus enquanto tossia e subia em uma rocha.

Elliot riu, ainda dentro da pequena lagoa com a água em seus ombros. O Black respirava fundo e ofegante, após um pisar em falso que o fez afundar de vez e engolir muita água, agora sentado numa rocha.

Haviam saído da casa de Elliot há pouco mais de três horas. Seguiram de bicicleta até uma trilha que levava por dentro do mesmo bosque onde Remus passou a última lua cheia. A ideia era um piquenique onde ninguém poderia incomodá-los, e o local perfeito para o garoto aparentemente era seguindo por um riacho onde havia uma pequena queda d'água que demorou uma hora inteira para chegarem.

O piquenique estava perfeito, até Elliot sugerir um mergulho. Canopus não sabia nadar, então negou veementemente. Apenas observou o garoto mergulhar e ficaria muito satisfeito com isso. Então ele o convenceu a tentar entrar, pois não era tão fundo.

Canopus tentou… E agora seus pulmões pareciam que iriam explodir.

— Canis, volta aqui! — chamou Elliot quando ele voltou para a cesta.

— Para você apenas me deixar morrer afogado? Não, obrigado — retrucou e tossiu mais um pouco.

— Desculpa! Olha, trás a cesta e você só fica com os pés na água. Que tal?

— Não!

— Eu não peço para entrar de novo, prometo.

— Se pedir, eu termino com você!

Ele pegou a cesta e voltou para a lagoa. Pisou nas rochas com extremo cuidado para não cair, sentando-se cautelosamente enquanto Elliot se aproximava.

— Nunca mais vou chegar perto do Lago Negro além da minha janela — resmungou enquanto pegava uma garrafa com cerveja amanteigada que trouxe de casa.

— Que lago é esse?

— O lago da minha escola. A janela do meu dormitório dá para o fundo dele.

— Deve ser legal estudar em um castelo antigo — Elliot comentou e sentou-se ao lado dele. — Mas como fizeram janelas no fundo de um lago? É um lago artificial que foi colocado depois?

— Acho que sim — Canis apenas concordou com a suposição. Não conhecia explicações trouxas possíveis.

— Nem me atrevo a perguntar a mensalidade de um internato desses.

E Canis não se atreveria a dizer que não havia uma.

— E eu não me atrevo a responder.

— Me pergunto há um tempo… Se você estuda em um internato da alta elite na Escócia, por que mora numa casa de um vilarejo minúsculo da Inglaterra?

— Digamos que não faz muito tempo que recebi uma herança de família e gostamos um pouco da simplicidade e calmaria daqui. Foi onde eu nasci.

— Se eu tivesse dinheiro, iria embora daqui na primeira oportunidade.

— E deixaria sua família?

— Sem pensar duas vezes.

Elliot roubou a garrafa da mão de Canopus e bebeu um longo gole.

— Isso aqui é muito bom!

— Uma bebida secreta de família.

— Sua família tem muitos segredos, hm?

— Todas têm. — Canis deu de ombros e pegou a garrafa de volta. — Por que iria embora?

— Não há nada aqui pra mim… Ser o filho homem mais velho também não facilita. Meu pai espera que eu assuma os negócios, mas não é o que eu quero.

— Diga a ele.

— Não é tão fácil quanto parece. Ter que esconder quem sou já é complicado o bastante. Minha vida é assim desde que me lembro.

Canopus segurou a mão dele e exibiu um fraco sorriso compreensivo para confortá-lo.

— Minha vida não é das mais fáceis também.

— Você tem um bônus: seu pai te aceita.

— Tenho aspectos da minha vida muito mais complexos e complicados que minha sexualidade. Não é algo que vai mudar, de qualquer forma.

— Se pudesse mudar, minha vida seria mais fácil.

— Mas não pode. E quem não aceita, o problema está nessa pessoa imbecil, não em você.

— Quem dera meu primeiro namorado pensasse assim.

— Ele também é um imbecil.

Elliot riu.

— Com certeza é.

Canopus abraçou o pescoço dele, ainda segurando a garrafa de cerveja amanteigada, e eles se beijaram.

— Para onde iria se pudesse sair daqui?

— Para a casa do meu tio em Gales — respondeu rapidamente.

— Uma resposta bem rápida — Canis riu. — Por quê?

— Acho que ele sempre soube de mim... Sempre me defendeu do meu pai — explicou. — Eles não se dão muito bem. Na última vez que o vi, ele me disse que sempre teria um lugar para mim na casa dele.

— E por que não foi ainda?

— Eu não tenho uma herança milionária. — Riu e abraçou a cintura do Black. — Estou juntando minha mesada, mas não ganho muito, e meus pais não aceitariam tão bem. Então o jeito é juntar dinheiro até completar 18 anos.

— E o que faria na casa do seu tio?

— Não faço ideia.

— Um ótimo plano.

— Viver minha vida, talvez. Um lugar novo onde ninguém me conhece e eu possa ser... Eu mesmo sem medo dos comentários de babacas que conheço e com quem estudo desde que nasci— disse. — Esse não é meu primeiro olho roxo.

Canopus levou a mão até o rosto dele devagar, deslizando o polegar levemente sobre a parte arroxeada. Elliot encolheu-se com um gemido dolorido.

— Desculpa.

— Tudo bem. Só está um pouco dolorido ainda — disse baixo. — Isso deve ter doído bem mais.

As mãos de Elliot que estavam na cintura de Canis agora subiam delicadamente traçando suas cicatrizes. Ele não perguntou nada quando as viu no momento em que tirou a camisa para entrar na água, mesmo que esboçasse sua surpresa. Black com certeza apreciava isso.

Ele também não perguntou sobre algumas que via.

— Às vezes ainda dói pra caralho — confessou. — Therion sente mais incômodo que dor propriamente. Ele foi atendido mais rápido.

— Parecem garras.

— Uma longa história. O que posso dizer é que as ganhei protegendo meu pai e tenho muito orgulho disso.

Elliot não fez perguntas sobre, apenas sorriu fraco.

— E não vai perguntar das minhas?

— Sei muito bem que nem sempre gostamos de falar sobre nossas cicatrizes, sejam físicas ou emocionais — disse. — Meu pai não gosta. Harry também não... Nem eu falo de todas.

Ele sorriu leve sem mostrar os dentes, sendo retribuído por Elliot.

— Essa aqui é de uma apendicectomia. — Apontou para uma no abdômen e riu.

— Apendi-oci... O quê? — Canopus franziu o cenho.

— Apendicectomia. Eu tive apendicite há dois anos.

— Harry tem uma cicatriz igual no mesmo lugar. Ele teve isso, eu acho.

— É uma cirurgia bastante comum. — Deu de ombros.

— Nunca fiz uma cirurgia.

— A recuperação não é muito boa. Aqui eu levei pontos depois que um idiota me empurrou do balanço. — Apontou para a cicatriz no joelho.

— Espero que tenha retribuído na mesma moeda.

— Você é muito vingativo.

— Eu sei — Canis admitiu sem medo. — Nem imagina o que fiz com todos que falaram mal do meu pai na escola ou implicaram comigo.

— Nem vou perguntar.

— Vai falar de mais alguma?

Elliot afastou os cabelos no lado direito da cabeça, exibindo uma escondida entre os fios loiro-escuros.

— O mesmo que me deu esse olho roxo. Ano passado.

— Posso perguntar como?

— Não.

— Ele saiu pior?

— Talvez.

Canopus sorriu.

— Meu pai. — Elliot apontou para outra nas costas. Canis não perguntou como.

— Meu pai. — Apontou para a mais antiga. — Mas ele não queria e nem sabe que fez.

— O meu queria e sabe.

— Ele é um filho da puta.

— Sim, ele é.

Elliot não apontou para mais nenhuma cicatriz.

— Nunca gostei de falar delas.

— Não precisava me falar.

— Mas eu quis falar.

Canopus sorriu fraco e segurou o rosto dele. Não disse mais nada, apenas permaneceu ali.

— Quando você vai voltar para o internato?

— Primeiro de setembro. O trem sai às onze de King's Cross.

— Então temos… Mais uma semana?

— É… Nem sei se vamos nos ver ano que vem — respondeu.

— Você não vai voltar pra casa?

— Talvez aqui não seja mais a minha casa.

Canopus pegou um sanduíche da cesta, distraidamente. Entregou outro a Elliot.

— Eu já comentei que não fico muito tempo na mesma casa. Mal fico mais que alguns meses. A última vez que ficamos um ano inteiro em um lugar, foi quando completei 10 anos e estávamos na Irlanda do Norte.

— Você vai se mudar?

— Provavelmente. Meu pai logo vai precisar procurar outra casa.

— Por que?

— Um dos aspectos complicados da minha vida. — Forçou um sorriso.

Comeu em silêncio por alguns minutos. Já estava pensando nisso há bastante tempo. Remus tinha um ótimo emprego, isso é fato, e não seria demitido por causa da licantropia ou pelas faltas por causa dela, mas nunca foi apenas os empregos de Lupin que o faziam se mudar.

Muitos bruxos viviam entre os trouxas daquele vilarejo, assim como em Godric's Hollow. Não demoraria para alguém começar a notar e comentar a existência de um lobisomem na região, espalhar e logo apontar. Era sempre assim. E nunca apontavam apenas para Remus.

Os gêmeos já foram chamados de "filhotes de lobisomem" vezes até demais. Remus odiava quando diziam isso.

Ter um bosque para as luas cheias ajuda, mas de todo jeito, em algum momento iriam comentar.  O estoque de Poção Mata-Cão não duraria para sempre e eles sabiam o quão orgulhoso Remus era para não querer que comprem mais.

Queria aproveitar enquanto ainda pudesse estar com Elliot, pois talvez nunca mais o visse.

Aquela casa era sua. Remus disse que sempre seria. Poderia voltar um dia, como voltaram agora, mas já estava pensando na possibilidade de ficar longe. Era sempre bom estar preparado para tudo.

Canis estava pronto.

— Então temos literalmente só mais uma semana.

— É.

— Eu devia ter tomado coragem antes.

— Ah, não precisa ficar assim. Aprendi que mesmo que o tempo seja curto, o que aproveitamos durante vale muito a pena — disse. — Já tive que deixar muitos amigos para trás.

— Eu não sou só um amigo.

— Vou ter que ir de qualquer jeito. E não vou te prender a mim.

— Você é prático demais, Canopus. — Elliot riu. Canis viu seus olhos marejarem.

— Tenho que ser às vezes. Única coisa constante na minha vida é a minha família e a minha escola… Ultimamente nem isso tem sido, exatamente.

— Isso é cruel.

— Como eu disse… Tenho muitos aspectos complicados em minha vida.

Canopus focou o olhar na água enquanto sentia um braço rodeando sua cintura e uma mão acariciando seus cabelos úmidos do mergulho trágico.

— Amanhã, um desses aspectos pode destruir tudo se algo der errado — falou. — Não posso dizer o que é, mas… Porra! Eu tô com medo pra caralho, e se meu pai souber ele vai surtar e também ficar com medo por mim, e eu não vou preocupar ele mais ainda depois de tantas coisas que vêm acontecendo.

— É normal sentir medo as vezes.

— As coisas não costumam dar certo quando fico com medo tanto quanto quando eu estou com raiva. Esse meu último ano foi uma merda por isso. Era tudo que eu conseguia sentir… Medo e raiva.

— Independente do que seja, vai dar certo.

— Pela primeira vez… Acho que eu realmente estou com medo de voltar pra escola — confessou.

Ele voltou o olhar para o garoto ao lado, agora os seus próprios olhos também marejados, embora tentasse sorrir.

— E eu adorava a ideia de ir para lá. É uma merda de lua cheia.

— Lua cheia?

— Nada, só… Algo meu e do meu pai — disse e balançou a cabeça. — Mas eu realmente não quero voltar e ter que passar outro ano horrível. Estou torcendo com todas as minhas forças para ser melhor ou eu vou surtar de novo. E se eu perder o controle outra vez...

Ele fechou os olhos.

— Machuquei meu pai na última vez.

— Fisicamente ou emocionalmente?

— Os dois, eu acho...

Abriu os olhos de novo, a visão um pouco embaçada. Secou as lágrimas que estavam ali rapidamente.

— Eu esperava ter um péssimo verão, sabia? E com certeza não foi — Elliot disse apertando a mão por entre os cabelos de Canopus. — Você vai ter um bom ano. Vou tentar ter também.

— Você não tem ideia de como é minha escola e como os alunos podem ser.

— Nem você da minha. Na verdade, já teve uma pequena ideia. — Apontou para o olho roxo. — Algumas pessoas podem ser bem cruéis com quem acham diferente… E eu tento ao máximo esconder.

— No meu caso, é por outra coisa que posso mudar quase tanto quanto podemos mudar quem somos. E não posso esconder porque está estampado na minha cara e na porra de um jornal — Canis disse. — Você pode ignorar esses babacas. Nem precisa jantar com eles ou dormir no mesmo lugar.

— Uma vantagem, mas não deixa de ser terrível. Mas não posso fazer nada além de levantar a cabeça e seguir.

— É o que tento. É basicamente o lema da minha família.

— Eu ignoro os babacas da minha escola, você ignora os da sua. Fechado?

Canis riu, assentindo com a cabeça. Uma lágrima escorreu por seu rosto.

— Não acredito que você está me vendo quase chorar.

— Chorar é normal.

— Não gosto que me vejam vulnerável demais. Só meu irmão pode ver.

— Não podemos ser fortes o tempo inteiro, infelizmente.

— Infelizmente…

— Você vai resolver tudo. Eu vou fazer o meu melhor por aqui.

— Podemos só… Não falar mais nisso? — pediu. — Só aproveitar. Estar aqui realmente me ajuda a escapar um pouco dos aspectos complicados.

— Você também me ajuda a fugir dos meus aspectos complicados da vida.

Canis riu baixo, então encarando os olhos esverdeados.

— Eu sei o quanto memórias são poderosas. Ter as melhores com certeza ajuda.

— Acho que sim… Com certeza vou guardar essas com você.

— Nosso pacto então. Guardar as boas memórias desse verão.

— Aceito isso.

Elliot sorriu fraco e ergueu o dedo mindinho.

— O que foi?

— Nunca fez promessa de dedinho na vida?

Canopus negou com a cabeça. Elliot segurou sua mão e pegou o dedo mindinho, enlaçando ao seu próprio.

— Fazemos isso e então prometemos algo que vai durar pra sempre. Quebrar isso é inaceitável. É a promessa mais forte de todas.

— Na minha família, a promessa mais forte de todas é quando eu e meu irmão prometemos algo juntos ou um voto perpétuo.

— Adicione isso à lista, então.

Canis sorriu pequeno para Elliot, apertando o mindinho em torno do dele.

— Guardar os bons momentos, então?

— Guardar os bons momentos — concordou.

Então segurou o rosto do outro com a mão livre e o puxou para um beijo.

— Dia primeiro é meu aniversário. Ia te convidar para vir a festa, mas você já vai ter ido.

— Vou te dar um presente antes de me despedir, então.

— Posso ir na sua casa buscar?

— Vou estar esperando. O que você quer?

— Qualquer coisa está bom. Sei que vou gostar.

Eles sorriram um pro outro. Canis detestava ter que se despedir.

Foi bom enquanto durou.

— Podemos não estar mais namorando quando eu for embora, mas pode me mandar uma carta. Tem um correio que envia diretamente para minha escola. Você pode enviar sua carta para lá por qualquer outro, e eles reenviam pra mim.

— Que sistema complexo. Não tem como mandar diretamente?

— Não. Mas vão entregar mesmo durante minhas férias enquanto eu for aluno. Quando me formar, vou estar de maior e terei uma casa fixa só minha. Vou te mandar o endereço e então você vai poder mandar diretamente pra mim de qualquer correio.

— Tudo bem, então. De namorados a amigos por correspondência… Acho que é melhor que você fingir que não me conhece.

— Se seu ex faz isso, eu quero muito socar a cara dele junto com a do outro que te machucou.

Elliot riu e o beijou.

— Eu já fiz isso também.

— Eu realmente te adoro. — Sorriu largo. — Namorados por mais uma semana e amigos a partir de então?

— Está ótimo pra mim.

— E guardando as boas memórias. — Canis ergueu o dedo mindinho.

Elliot sorriu também e juntou o dedo ao seu antes de o beijar de novo. Eles ficaram ali por todo o resto da tarde, curtindo o tempo juntos que ainda tinham.

Canopus não ousou tentar entrar no lago de novo além de molhar as pernas, então apenas observou Elliot nadar em alguns momentos. Se vestiram quando o sol começou a se pôr e seguiram caminho de volta para o vilarejo na bicicleta.

Quando já estavam dentro de Rowen's Valley, começaram a caminhar enquanto conversavam e Elliot empurrava a bicicleta. Já havia escurecido. Os dois riam enquanto Canis contava algumas pegadinhas que fez em Hogwarts, adaptando as partes mágicas para a coisa trouxa mais próxima que conseguisse pensar.

— Ah, merda! — Elliot resmungou de repente.

— Que foi?

— Acho que vai poder realizar seu desejo.

Um grupo de garotos se aproximou. O que estava no centro vinha a passos duros e rápidos. Ele possuía um corte no lábio, a maçã do rosto no lado esquerdo um pouco roxa e inchada com um curativo e mais outro curativo na testa, próximo a onde Harry tinha a cicatriz.

— Você realmente bateu nele.

— Meu pai me obrigou a fazer aulas de boxe — explicou. — Sabe… Mais másculo que brincar com minha irmã.

— Seu pai é realmente um filho da puta.

— Eu sei.

— Achou que ia me bater e ficar por isso mesmo, Baker?

— Achei. Você precisou chamar sua gangue por não se garantir sozinho? Trouxe até o seu primo.

— Quatro contra dois é realmente um pouco injusto — Canis comentou.

Outro garoto ao lado do líder do grupinho arregalou os olhos, assustado. Era claramente o mais novo dali. Ele começou a puxar a manga da camiseta do garoto.

— Jake, não!

— Não seja medroso, Johnny! — exclamou o tal Jake. — Sua irmã quem ficou de babá do pirralho hoje com aquele bebê melequento. Fiquei esperando e te procurei pelo vilarejo todo.

— Oh, que honra! Desculpe o atraso — Elliot respondeu sarcástico.

— Estava ocupado com o seu namoradinho? — caçoou num tom rude, olhando-os com desprezo. Ele direcionou o olhar para Canis. — Você é o que tá morando naquela casa velha que tava abandonada e ninguém conseguia entrar, não é?

— E daí?

—  Já ouvi boatos estranhos daquela casa. Não me admira que só alguém tão estranho quanto para morar lá.

— Defina "estranho", por favor. Vou adorar ouvir.

— Jake! — o menino Johnny tentou chamar a atenção de novo. — Não se mete com ele!

— Eu já te vi sempre grudado com aquele outro estranho de óculos. Realmente combina com a princesinha Baker aqui! — caçoou.

Elliot largou a bicicleta com uma expressão irritada. Canis segurou seu braço.

— Você está me confundindo com meu irmão gêmeo. Ele que sempre sai com Harry. Mas não te culpo, poucos sabem nos diferenciar. Agora voltando a parte de você me chamar de "estranho"...

— Até cheguei a ficar curioso sobre quem finalmente morava naquela casa, sempre tivemos curiosidade de saber como é. Uma pena que sejam pessoas como vocês que vivam lá.

— Não seja tímido! Vamos, fale, que tipo de pessoas somos.

— Está se achando muito durão, não é?

— Não sou eu que estou — Canis retrucou, cruzando os braços. — Por que você veio nos incomodar, aliás? Posso te dar mais alguns curativos se quiser.

— Não ia deixar barato.

— Você que me atacou. Só revidei! — Elliot exclamou.

— Eu só falei a verdade. E não vou me deixar abalar por você! Esse olho roxo foi só uma amostra.

Jake avançou, puxando Elliot pela gola da camisa. Canopus imediatamente puxou-o pelos ombros e o afastou do garoto, agarrando a gola da jaqueta que usava com força.

— Levante um dedo para o Elliot, e eu vou te matar — Canopus ameaçou, a voz fria e séria. Empurrou o garoto, jogando-o no chão com força.

— Seu namoradinho é valente, Elliot. Vai ser seu guarda-costas?

Canis instintivamente levou a mão ao bolso onde guardava a varinha. O garoto mais novo, Johnny, arregalou os olhos.

— Jake, vamos embora!

— Cala a boca, Johnny! — vociferou e se levantou, com raiva. — Eu não vou deixar duas bichas me intimidarem!

Elliot deu um soco em Jake, rápido como um verdadeiro lutador de boxe. Um dos amigos dele avançou e o empurrou no chão com força. Canopus deu um soco nele e chutou sua perna. Ele caiu gemendo de dor.

— Parem! Eu mesmo acabo com ele! — Jake esbravejou, com sangue escorrendo da boca, avançando contra Elliot que se levantava e lhe devolvendo o soco.

Canopus avançou com fogo nos olhos. Com um pouco de lucidez, decidiu usar as mãos em vez da varinha. Deu um soco no rosto dele, depois agarrou-o pelos ombro e socou sua barriga, jogando-o no chão.

Ele sentiu mãos agarrando seus braços e o puxando. Soltou-se rapidamente e deixou todos no chão choramingando de dor e com olhos roxos. Jake agarrou seu pé e o derrubou no chão, subindo em cima dele para lhe dar um soco.

— Eu não vou apanhar para mais um viadinho de merda!

— Você vai sim — Canis retrucou e mordeu a mão no garoto com tanta força que sentiu gosto de sangue em sua boca.

Jake gritou e se afastou. Canopus agarrou-o pelo pescoço, colocando-o contra o chão. Não afrouxou o aperto, tomado pela raiva.

— Eu te avisei, não avisei? — disse antes de bater a cabeça do outro contra o chão com força.

— Canis! — Elliot exclamou.

Ele puxou o Black para longe do garoto, que começava a tossir e tomar fôlego. Os dois sentados no chão no meio da rua, ofegante.

Canopus olhou para o namorado, segurando seu rosto para analisar como estava. Sangue escorria da boca e sua bochecha possuía alguns arranhões e um pequeno corte de quando foi derrubado no chão. Isso apenas o deixou com ainda mais raiva.

Ele não merecia isso.

Black lembrou-se de Harry. Ele lhe disse o quanto os tios o deixaram acanhado com a ideia de que gostar de garotos seria errado, quando o trancaram embaixo da escada pela mínima suspeita de ele gostar de alguém. O que mais daquilo ele poderia ter sofrido e não contou ainda?

Quanto mais o próprio Elliot sofreu e não disse?

— Você está bem? — Elliot perguntou preocupado.

— Estou…

— Vamos pra sua casa.

— Quer fugir? — Jake disse e riu, ainda tossindo ofegante.

— Cala a porra da boca! — Elliot resmungou.

Canopus olhou para o relógio em seu pulso. Seu pai já devia estar o esperando para o jantar. Com certeza levaria uma bronca por se meter em uma briga, mas ao menos tinha motivo. E ele ainda queria acabar com aquele garoto.

E lembrou-se de mais uma coisa.

— Espere um minuto.

— O que você…?

— É rápido!

Canopus se afastou e tirou o pedaço de espelho do bolso. Seu reflexo sumiu e surgiu o de seu irmão e Harry no lugar.

— Finalmente! — Therion exclamou.

— O que aconteceu com seu rosto? — Harry indagou exasperado.

— Eu e Elliot encontramos uns preconceituosos de merda da escola dele e estamos tendo uma conversa — disse. — Neste momento quero cometer o crime pelo qual Sirius foi preso com muito prazer.

Ele virou o rosto para observar a cena. Johnny puxava Jake.

— Está com medo só por que ele é daquela sua escola super restrita que você ganhou uma bolsa de estudos?

— O pai dele é um assassino! Ele vai matar você!

Canopus voltou a olhar para o espelho.

— Parece que encontrei um dos nossos colegas de Hogwarts.

— Canis, não faça nada com esses trouxas! — Therion alertou. Ele parecia estar correndo agora.

— Vão ter que contar com a sorte se quiserem voltar agora. Então, aproveitem o encontro e me visitem em Azkaban.

Canopus guardou o espelho de novo a tempo de ver Elliot dar uma cotovelada no estômago de um dos amigos de Jake e se afastar. A energia correu por seu corpo imediatamente enquanto ficava de pé, faíscas vermelhas e azuis saindo de seus dedos.

***

Remus e Sirius terminaram de colocar a mesa para o jantar e retornaram para a sala de estar, onde a vitrola ainda estava ligada.

— Vou procurar os garotos. Já está ficando tarde — Lupin disse.

— Eles já devem estar voltando.

Naquele momento, as chamas verdes brilharam na lareira. Harry e Therion saíram de lá de mãos dadas e já correram em direção à porta.

— Ei! Ei! — Remus exclamou. — Onde estavam? Em que momento saíram pela lareira?

— Não temos tempo para isso, papai!

— Onde estão indo? — Sirius perguntou.

— Buscar meu irmão. Voltamos logo!

Harry e Therion saíram pela porta rapidamente. Eles correram à procura de Canopus, e Therry concentrou-se no irmão exatamente como Sirius pediu na Copa. Ele seguiu como se soubesse exatamente para onde estava indo, sentindo o coração apertar e dor.

Canis não estava bem e iria fazer alguma coisa.

Logo ouviram os sons da briga e os avistaram, correndo na direção deles. Canopus havia sido derrubado por um garoto que chutou sua perna recém recuperada.

Therion chegou primeiro e puxou Jake, empurrando-o para longe do irmão.

— Fique longe do meu irmão, imbecil! — esbravejou.

— Chegou o outro. É realmente idêntico — disse. Estava acabado. Sangue escorria de sua cabeça, boca e nariz. — Oh, e o namoradinho também.

— Vai embora! — Harry vociferou.

— Não até acabar com eles, e vocês também se vierem. São todos sujos e nojentos de qualquer forma — continuou a falar. — Todos um bando de vi…

Harry deu um soco em Jake e ouviu-se o alto estalar de seu nariz de quebrando. Ele agarrou Potter pela gola, mas Therion puxou-o e chutou sua perna antes que fizesse algo, forçando-o a dobrar um joelho.

Therion abaixou-se agarrando os cabelos do garoto.

— Encoste no meu namorado, e eu vou quebrar as suas mãos, ouviu bem? — ameaçou.

— Vocês vão arder no inferno.

— E vamos te ver queimar junto com muito gosto — disse com fogo nos olhos. — Não. Você não vai vir atrás de nós de novo amanhã, nem depois. Trazer uma faca na próxima não vai te ajudar.

Jake arregalou os olhos.

— Como…?

— Se chegar perto de qualquer um de nós, eu mesmo acabo com você. Não é só meu irmão que sabe ser cruel quando quer — falou firme e largou-o no chão.

Jake fez menção de se levantar, Johnny agarrou seu braço, aterrorizado, e o ajudou a ficar e de pé e se afastar.

— Você tentou bater em Harry Potter! Está louco?!

— E quem seria ele?

— É da minha escola! Ele é famoso! — Johnny exclamou e engoliu em seco.

Harry encarou o garoto. Logo reconheceu. Era um primeiranista nascido-trouxa da Grifinória. Agora deve estar indo para o segundo ano.

— Hey, Johnny…

— Não faz nada com meu primo! Eu sei que ele é um idiota, mas…

— Ei!

— Não vamos fazer nada. E você — Harry disse e olhou para Jake. — vá embora e não se aproxime de novo.

— Aquele desgraçado deixou meus amigos desmaiados. Não sei como, mas eu...

— Eles com certeza mereceram. Agradeça por não estar igual — Therion ralhou.

— Johnny, se puder não deixar isso chegar ao Ministério…

— Não vou — garantiu.

Therion seguiu para os dois garotos desacordados. Ainda estavam vivos.

— Johnny, não deixe seu primo ver isso.

O garoto rapidamente virou o primo de costas e começou a brigar com ele.

Enervate — Therion disse com a varinha em mãos. Guardou-a rapidamente.

Os garotos acordaram atordoados.

— Meu irmão deu um soco e tanto em vocês. Até desmaiaram — disse e riu. — Se tiverem lembranças estranhas... Com certeza é alucinação pela pancada. Coisa da cabeça de vocês.

Therion afastou-se rapidamente.

— Johnny, leve todos embora — Harry pediu.

Ele assentiu e rapidamente o fez.

— Canis, não! — Harry exclamou.

Canopus murmurou uma azaração enquanto Jake ia embora com os amigos. Ele gritou.

— O que você fez?!

— Uns furúnculos de presente de despedida.

Therion suspirou. Canopus estava abraçando Elliot no chão, que olhava tudo atordoado enquanto segurava o nariz que sangrava, embora não estivesse quebrado.

Harry ajudou-os a ficar de pé e verificou Elliot, enquanto Therion puxava o irmão.

— Sabe que estamos mais encrencados agora, não é? Você atacou três trouxas.

— Eles mereceram.

— Eu teria até batido mais — Therion falou.

— Mas ainda podemos nos dar mal, eu sei. Eles machucaram Elliot, eu não ia ficar parado.

— Você lançou dois estuporantes.

— Simplesmente saiu. Eu nem estava com minha varinha.

— Vamos para casa. Você não está bem — disse segurando o rosto de Canis.

— Elliot que não está.

— Vamos cuidar dele também.

— É melhor irmos logo.

Eles voltaram para Elliot e Harry. Ele havia abraçado Potter, que conversava num tom baixo com ele, consolando-o.

— Vamos para a minha casa, okay? — Canis disse. — Está tudo bem.

Elliot apenas assentiu com a cabeça, correndo para abraçar Canis, que beijou sua testa.

Eles voltaram para casa. Assim que passaram pela porta, Remus arregalou os olhos.

— O que aconteceu?!

— Você vai ter que ouvir e entender bem — Canopus começou a falar, enquanto Harry levava Elliot para sentar-se no sofá.

Remus segurou o rosto do filho, preocupado.

— Eu bati e azarei três trouxas.

— Você o quê?! — exclamou se afastando. — Canopus, você perdeu a cabeça?!

— Papai...

— O Ministério vai fazer uma batida amanhã e você ataca três trouxas?!

— ELES ATACARAM PRIMEIRO!

Canopus respirou fundo. Ainda estava com muita raiva. Muita.

— Já atacaram o Elliot antes. E agora de novo porque estávamos juntos!

— Ah, Canis...

— Pode me dar a bronca e o castigo que quiser, mas a única coisa da qual me arrependo é de não ter lançado um cruciatus em todos eles!

Remus não deu nenhuma bronca. Ele apenas abraçou o filho com força. Canopus demorou para retribuir, mas o fez.

— Está tudo bem — disse e beijou o topo da cabeça dele.

— Não vai brigar comigo por talvez piorar a situação com o Ministério?

— Não, não vou.

— Usei magia na frente do Elliot...

— Não tem problema. Vamos resolver.

Canopus soltou-se do abraço.

— Vamos cuidar de vocês primeiro.

Remus convocou o kit de primeiros socorros, enquanto Canis sentava-se ao lado de Elliot e o abraçava. Sirius estava ali com Harry, com uma expressão difícil de descrever no rosto.

— Hey, Elliot — Lupin disse baixo. — Vai ficar tudo bem. Vou só cuidar desses machucados, está bem? Posso?

Elliot assentiu devagar com a cabeça. Remus começou a tratar os ferimentos com cuidado.

— Posso cuidar disso? — Sirius perguntou com uma gaze na mão, próximo de Canopus. O garoto encarou-o por longos instantes.

— Therion.

Sirius comprimiu os lábios, mas logo exibiu um fraco sorriso.

— Tudo bem. Therion, pode cuidar do Canis?

Therion concordou e começou a cuidar do irmão. Canis manteve um braço ao redor dos ombros de Elliot o tempo inteiro e aproximou-se do ouvido dele.

— Me desculpa — Canis sussurrou, acariciando os cabelos do namorado com cuidado.

— Por que? Isso foi culpa daqueles imbecis — sussurrou de volta, quase sem voz.

— Eu sei.

— Então por que está se desculpando?

Canis beijou a lateral da cabeça dele.

— Por não ter matado ele de uma vez — sussurrou, um misto de carinho por Elliot e raiva e frieza pelo que houve.

————————————
O

lá, meus amores!
Tudo bem?

Voltei bem rápido dessa vez! Estava inspirada.

Capítulo muito fofo no início, mas um final um pouco pesado. Quis dar um pouquinho de paz e senti que precisava daquele momento de Wolfstar e Deerwolf (por isso a batida ficou pro próximo capítulo).

Sei como pode ser frustrante as vezes, mas espero que estejam gostando de ver Wolfstar se encaminhando aos poucos. É um casal que teve a relação interrompida por culpa do rato, mas estão reconstruindo aos pouquinhos. E está mais que claro que os dois se amam, isso que importa.

Deerwolf fofinho. Precisava dar um encontro pra eles e colocar mais do Harry, como ele está se entendendo e tentando ser livre. E também mostrando como ter apoio está ajudando ele nisso.

Me doeu escrever a parte final. Chorei enquanto escrevia. Dolorido, mas é um ponto de certo modo importante para se referenciar futuramente, principalmente pela reação do Canis a tudo em vários sentidos que poderão ver.

Muitos desconfiaram do Elliot no início 😂 Mas ele é só um neném que merece ser protegido. O namoro com o Canis foi algo rápido de um verão, mas vai impactar na vida dele e ter influência em como ele vai agir em certo ponto da história (ele o Canis, no caso)

E vou dar um final feliz pro Ellie, sim. Ele merece.

Para todos os Elliots que estão lendo: Estou aqui com vocês 🥺🥺

Em breve retorno com mais!

Até a próxima!
Beijinhos,
bye bye 😘👋

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