XLII. Meetings and plans
As compras para Hogwarts no Beco Diagonal são sempre muito aguardadas pelos alunos todos os anos. Com um baile iminente, certamente seriam ainda mais movimentadas.
Pela manhã, Hermes chegou e pousou pousou no ombro de Canopus trazendo uma carta. O garoto sorriu para sua coruja, acariciando as penas escuras.
— Espero que tenha dado muitas bicadas no Malfoy. — Hermes piou animadamente em resposta, confirmando que foi dito.
Canopus abriu a carta, observando a caligrafia irritantemente perfeita e elegante de Draco.
Caro Canopus Alphard Black, vulgo Estrelinha Irritante e Insuportável,
Antes de me ameaçar, deveria me agradecer por estar com sua varinha. Como suspeitei, o Comensal que conjurou a Marca a utilizou para isso, eu confirmei quando voltei para casa. Graças a mim, os aurores não a pegaram e você não está sendo acusado de ser cúmplice de um assassino procurado e prestes a ocupar a cela dele em Azkaban. Disponha!
Para sua infelicidade, pela graça de Salazar, meu pai não foi o Comensal que seu irmão obliviou. Entretanto, pode avisar a ele que minha mãe está enfurecida e bastante abalada pois era um primo dela muito querido. Sendo proposital ou não, conseguiu afetar minha família, podem ficar felizes.
Não enviarei sua varinha de volta por essa coruja, não confio um objeto tão importante a uma ave tão arisca que passou o dia inteiro me atacando, mesmo que eu imagine ter sido ordem sua.
Irei ao Beco Diagonal sexta-feira pela manhã para comprar meus materiais. Como você gentilmente sugeriu, podemos nos encontrar lá. Esperarei na Floreios e Borrões, onde imagino que vá passar muitas horas de suas compras já que gosta tanto de livros.
Quero meu terno de volta.
Aguardarei uma resposta com a confirmação.
Tive muitos problemas para contornar o fato de ter salvo a sua vida. Então, sim, estamos quites, você querendo ou não. Na verdade, te salvei duas vezes escondendo sua varinha. VOCÊ quem está me devendo.
P.S.: E para sua informação, meu nome é Draco Lucius Malfoy.
Canis riu ao ler o final, balançando a cabeça. Dobrou-a de volta e tornou a acariciar as penas de sua coruja, beijando a cabeça da ave, que bicou carinhosamente seu dedo em resposta.
— Muito bem, Hermes. Vai ganhar mais petiscos por ter bicado o Malfoy — disse orgulhoso. A coruja piou feliz. — Pode ir descansar antes de fazer a próxima viagem.
A coruja então levantou vôo e bateu as asas até chegar ao quarto dos gêmeos.
— Infelizmente, você não obliviou o Lucius, Therry — lamentou Canis. — Mas vou ter minha varinha de volta.
— Seria muita sorte.
— Pelo menos ainda está dentro da família Malfoy. Era primo da mãe dele, o que confirma que ninguém naquela família presta e todos são puristas babacas que se uniram a um terrorista maluco.
Sirius franziu o cenho erguendo as sobrancelhas, confuso e surpreso com a informação, mas não disse nada.
— Com certeza os Malfoy liberaram um bom dinheiro do cofre para que isso não vazasse e ligassem Lucius ao ataque — Harry comentou.
— Não duvido — Therion concordou.
— Pai, podemos deixar para ir ao Beco sexta-feira? — Canis pediu.
— Por quê?
— É quando Malfoy vai comprar os materiais dele e poder devolver minha varinha.
— Tudo bem — Remus concordou. — Mas ainda vamos ao St. Mungus hoje para verificar sua fratura.
O café da manhã terminou pouco depois. Os gêmeos e Harry ajudaram Merliah a arrumar suas malas para voltar pra casa. Ela deu um grande abraço em Therion, Potter e até mesmo em Sirius, que ficou bastante surpreso, antes de ir.
Ela sumiu pela lareira, e Remus e Canis foram logo depois, para deixá-la em segurança em sua casa no caminho para o hospital. Assim, Sirius ficou sozinho na residência com Harry e Therion.
Potter dessa vez ficou assistindo Sirius treinar Therion para desenvolver sua habilidade e aprender a controlar, o que não ajudou muito o Black mais novo. Ter Harry ali por perto o observando deixava-o nervoso, e o nervosismo por sua vez deixava-o sem controle.
Os dois grunhiram de dor ao mesmo tempo e levaram as mãos a cabeça, até Sirius reerguer sua barreira de oclumência e afastar o filho de sua cabeça.
Therion ofegou enquanto imagens de lembranças que não eram suas passavam por sua cabeça. Ele viu James vestido em um traje formal rindo de algo com Sirius em frente a um espelho... E a semelhança dele consigo e com Canis na adolescência é realmente assustadora. Remus na sua idade sorrindo na Florean Fortescue com o nariz sujo de sorvete.
O que mais fez sua cabeça doer foi quando viu um garoto também muito parecido consigo, mas que ele sabia não ser Sirius e não devia ter mais que 7 ou 8 anos de idade, choramingando com as mãos nas têmporas numa sala de estar lotada.
“Vozes na cabeça dói, Sirius. Eles pensam demais! Quero ir embora!” o garotinho choramingou.
Sirius respirou fundo, encarando Therion.
— Você realmente foi fundo em minhas memórias hoje... Um avanço rápido para o segundo dia.
— E-eu... Eu não sei como fiz isso. Mas dói!
— Você está nervoso, isso deixa a sua própria mente mais frágil e lê outras com mais facilidade, mas sem controle.
— Concordo com aquele menino. Vozes na cabeça doem... — murmurou. — E-era... Era o seu irmão?
Sirius assentiu com a cabeça, comprimindo os lábios.
— Regulus tinha muitas dores quando era pequeno. Ele começou a desenvolver muito cedo. Ainda tinha em Hogwarts, mas... Não tanto quanto em casa.
— Minha avó era a dor de cabeça dele?
— Ele nunca admitiria isso.
Eles continuaram. No fim, novamente Sirius preparou um chá para o filho.
Harry sentou-se ao lado de Therion na bancada da cozinha, enquanto Sirius descansava no sofá em sua forma de cachorro, pois também fora bastante cansativo para ele. O jovem Black bebia seu chá com calma, suspirando.
— Segundo dia e já estou um caco — resmungou baixo, massageando as têmporas.
— Você está indo bem — Harry o tranquilizou. — E Sirius está gostando bastante de te ajudar. Ele fica feliz em estar perto de você.
Therion sorriu fraco. A situação com Sirius estava melhor desde a conversa. Nada totalmente resolvido, mas estavam trilhando seu caminho. Ambos se entendiam melhor após os desabafos necessários.
— É bom estar com ele — admitiu. — Eu ainda não o sinto realmente como… Como meu pai. Mas depois de conversar com ele, acho que estamos seguindo um bom caminho.
— Já está melhor que Canis.
— Não fique chateado com ele por isso. Nós somos gêmeos idênticos, mas ainda somos muito diferentes. Cada um lida com seus sentimentos do seu jeito.
— Entendo o Canis, de verdade, mas ele também exagera as vezes.
— Como eu disse… Cada um com seu jeito de lidar.
— Na verdade, parece que ele não quer lidar com Sirius.
— Por mais que ele não admita, eu não sou o gêmeo mais emotivo, sou apenas o que se abre mais sobre o que sente… Na maior parte do tempo.
Therion riu baixo e bebeu um gole de chá. Ele sabia se abrir melhor que o irmão, de fato, mas para algumas coisas era bastante complicado. Harry era uma dessas coisas. Estava aprendendo a melhorar isso.
Mesmo que tenha certeza que nunca foi tão discreto quanto gostaria em relação ao que sente. Ele tem uma enorme queda por Potter desde o segundo ano, embora demorou para admitir para si mesmo aquele fato. Gostar de qualquer garoto não seria uma grande novidade, ele sabia que se interessava apenas por garotos, como o irmão, mas justamente Harry, que estava se tornando seu amigo… Isso tornou tudo um pouco complicado.
Até mais complicado que quando teve uma queda por um amigo trouxa quando estavam morando numa vila no oeste da Irlanda que era seu amigo e de Canis e vivia próximo de sua casa. Eles tinham 10 anos e moraram lá por pouco mais de um ano, o menino foi um dos poucos amigos de verdade que fizeram ao longo de tantas mudanças. Aquela foi uma das estadias mais longas que já tiveram em algum lugar.
Ele chorou quando precisou se despedir depois que Remus foi demitido. Ficou feliz pelo pai se livrar daquele emprego, pois já havia presenciado o quanto ele sofria naquele lugar por causa da licantropia, mas imensamente triste por precisarem ir embora.
Ele não teve tanta coragem quanto Canis teve um ano antes disso em Gales, quando ele disse sem pesar para um garoto que gostava muito dele e ele era muito lindo.
Por que o chapéu quis mandá-lo para a Grifinória mesmo?
— Ainda não sei como expressar o tanto que gosto de você — confessou. Potter corou rapidamente.
— Talvez saiba melhor com algum dos corvinos que gosta de você — Harry rebateu presunçosamente.
Black franziu o cenho.
— Do que está falando?
— Você pareceu bastante interessado em saber os nomes quando Liah falou ontem.
— Claro, por curiosidade — disse e deu de ombros. — Não é sempre que tenho declarações e garotos aos meus pés.
Harry desviou os olhos para outra direção, apoiando os braços na bancada, emburrado. Therion continuou encarando-o de cenho franzido, confuso. E então, após analisar a expressão do outro e o rosto corado, ele sorriu de canto ao perceber o que estava acontecendo. Podia sentir a inquietação de Potter. Uma certa irritação por aquele fato.
Harry não gostava da ideia de outros garotos interessados em Therion e se declarando para ele.
— Você ficou com ciúmes? — Black perguntou arqueando a sobrancelha.
— Claro que não! — Harry ainda não olha para ele.
— Está falando com um legilimente, Harry. — Manteve um sorriso ladino no rosto, divertido.
— Está na minha cabeça agora? — Potter encarou-o desafiador.
— Não — admitiu. — Mas sei que estou certo. Você está com ciúmes.
— E se estivesse?
— Seria uma bobagem. O mundo pode me amar, mas não significa que amarei de volta — disse.— E eu gosto de você.
— Há pessoas muito mais interessantes em Hogwarts que eu.
— Não pra mim.
Harry sentiu o coração falhar uma batida. Ah, ele gostava tanto daquele garoto!
Therion segurou a mão de Harry, entrelaçando seus dedos, e beijou a bochecha dele, ainda deixando seus rostos próximos. Sorriu carinhosamente para ele, e Potter sorriu de volta, afastando a franja de seu rosto.
Também poderia facilmente dizer que não havia garoto em Hogwarts mais interessante e atraente que Therion Black. Nem mesmo seu irmão gêmeo idêntico.
— Gosto de tudo em você, Harry James Potter.
— Me chamar pelo meu nome completo parece que está bravo comigo.
— Eu posso estar. Não quero que duvide que gosto mesmo de você e pensei que poderia correr para qualquer um desses garotos que supostamente tem algum interesse em mim.
— Então está bravo, Theiron Regulus Black? — Harry provocou.
— Calado, James.
— Esse tom parece de alguém bravo, Regulus.
Therion revirou os olhos, e Harry riu. Ainda assim, ele não conseguiu evitar mais um pequeno sorriso.
— Se duvidar de novo que qualquer outro chegue aos seus pés, aí sim ficarei bravo.
— Até que você fica bonito quando está bravo.
— Quer me testar, Harry?
— Nunca ousaria.
Então Potter riu novamente, sentindo-se incrivelmente leve ali com Black, naquela breve conversa, a vontade para provocar. Gostava de como conseguia ser livre para falar como quisesse ali.
Ele segurou o rosto dele e deu-lhe um selinho rápido, pegando Black totalmente de surpresa.
— Pode fazer isso de novo? — pediu num tom baixo e fechando os olhos.
— Não. — Harry riu. Therion suspirou derrotado. — Termine seu chá.
— Como quiser, Mini Prongs. — Therion bebeu mais um gole de seu chá. — O que acha de sairmos sexta? Canis vai sair com o Elliot, Liah já voltou pra casa, já terminamos o trabalho de férias daquele fantasma chato…
— Onde podemos ir?
— Não sei. Só quero sair um pouco com você. E papai e Sirius com certeza merecem um descanso de todos nós.
Harry riu, concordando. Aconteceu muita coisa. Seria ótimo um momento para descontrair, apenas ele e Therion, como nos momentos que ficavam sozinhos na Torre de Astronomia ou quando fugiram juntos para Hogsmeade.
Apenas eles. Potter queria isso.
— Remus ficaria muito bravo se fôssemos até outra cidade para ir ao cinema?
— Não se for avisado previamente, mas duvido que ele nos deixe sair da cidade sozinhos agora. Já não foi fácil ele nos deixar ir te visitar mês passado.
— O cinema de Londres não é longe do Caldeirão Furado… — Harry comentou com um sorriso travesso surgindo em seu rosto.
— Rede de Flu quando ele não estiver olhando então. Canis pode nos encobrir e papai nunca vai saber que saímos de Rowen's Valley.
— Espero que Sirius não esteja ouvindo nossos planos de fuga. — Abaixou o tom de voz.
— Ele não iria nos impedir.
— Cinema na sexta, então. Depois que voltarmos do Beco Diagonal.
Os dois sorriram um para o outro, ainda de mãos dadas. Após tantas confusões nos últimos dias, sair em um encontro somente eles parecia uma boa ideia para distrair-se de tudo.
Harry só havia ido ao cinema uma vez. Ir de novo com Therion parecia um sonho digno de um filme que poderiam assistir.
***
— Okay. Então, quando estiverem voltando, eu distraio papai para longe da lareira — disse Canopus, olhando-se no espelho enquanto prendia os cabelos com um elástico.
— Exatamente — Therion concordou, já arrumado em sua cama ao lado de Harry. — Podemos dar uma volta também para te dar mais tempo com seu namorado se quiser.
— Eu agradeço, porque não pretendo voltar até a hora do jantar.
— Teremos bastante tempo então — Harry disse olhando para Therion e sorrindo de lado. Black sorriu de volta.
Os três saíram do quarto e desceram para o café da manhã. Remus também já estava pronto para ir ao Beco Diagonal, e Sirius ainda estava com seu pijama, que na verdade eram roupas de Lupin.
Por segurança, Sirius decidiu que o melhor seria ele ficar em casa, por mais que Harry insistisse que também fosse ao Beco Diagonal. Mesmo que ainda tenha Poção Polissuco, parecia mais prudente esperar até a próxima vez que pudesse sair de casa.
Ninguém o impediria de levar o afilhado e os filhos para King's Cross, mas, nas compras, ficaria ali apenas aguardando.
Após a refeição, todos seguiram para o Caldeirão Furado pela Rede de Flu.
O bar estava lotado para uma longa manhã de compras de alunos. Muitos pais ficavam por ali bebendo uma cerveja amanteigada e deixavam suas crianças mais velhas fazerem as próprias compras.
Em uma das mesas do bar, Merliah já se encontrava à espera dos amigos junto de Hermione — que estava passando o fim das férias na casa dela —, sua mãe e seu pai, como falara a Therion por telefone na noite anterior. A mulher de cabelos loiros com raízes escuras em crescimento ao lado da garota rapidamente sorriu para eles e cumprimentou Remus.
— Bom dia, Helena, Benjamin — Remus respondeu ao cumprimento. — Não me avisaram que os dois viriam também, pensei que seriam só Merliah e Hermione.
— Liah está bastante empolgada com a ideia de um baile. E Ben resolveu tirar uma merecida folga depois que voltou de viagem, e ela o arrastou conosco.
— Richard está bem?
— Está ótimo. Já voltou ao trabalho hoje mesmo, mas meu irmão Anthony está ajudando hoje — respondeu Benjamin.
— Vamos logo! Quero pegar minha varinha de volta e comprar logo um uniforme novo — Canopus apressou, agarrando o braço do pai.
— Está bem, Canis — Remus disse, rindo.
Eles seguiram até os fundos, onde se encontrava a parede que levava até o Beco Diagonal.
Remus abriu a passagem tocando nos tijolos com sua varinha.
Começaram a seguir caminho primeiramente para Gringotes apanhar um pouco de ouro. Em seguida, foram a Floreios e Borrões, por insistência de Canopus para encontrar logo Malfoy e recuperar sua varinha. Remus conseguiu reconhecer alguns de seus antigos alunos a vista, principalmente os jogadores aglomerados em frente a loja de vassouras.
— É sempre tão cheio? — perguntou Benjamin desviando de um carrinho lotado de caldeirões. Era sua primeira vez ali.
— Às vésperas de volta às aulas, sim — Remus respondeu.
— Isso aqui é quase como a 25 de Março dos bruxos, Ben. Esperaria até mais — disse Helena. — Será que vai ter outra confusão daquela de 92? O tal Sr. Weasley quebrou a cara daquele oxigenado de jeito!
— Não duvidaria, mamãe.
Chegando à loja, os olhos de Canopus rapidamente vagaram por todos os cantos a sua vista à procura de Malfoy. Muitos alunos aparentemente do primeiro ou segundo ano circulavam pela loja, nenhuma briga a vista ou qualquer fio de cabelo platinado.
— Vou procurar os livros de Runas Antigas e ver se encontro o Malfoy.
— Vou pegar os de Aritmancia e Poções — Therion disse com a sua lista de materiais em mãos.
— Cuidado! — Remus alertou enquanto Canopus já se afastava.
Remus acompanhou Harry na busca por seus livros, enquanto Therion seguia diretamente para a seção de Poções.
Canis subiu para o segundo andar da loja, onde logo após o mezanino haviam outras prateleiras lotadas de livros e mesas e poltronas para ler.
Não muito longe, sentado em uma poltrona, avistou os fios loiros extremamente claros e rapidamente reconheceu Malfoy em sua capa preta por cima das roupas caras de mesma cor. Draco lia um livro atentamente com as pernas cruzadas, parecendo bastante entretido com o conteúdo.
Os olhos de Malfoy voltaram-se para o Black ao ouvir os passos rápidos e perceber sua presença, focando no garoto que se aproximava a passos largos e estendia a mão.
— Minha varinha.
— Bom dia, Canopus. Como vai? — cumprimentou com sarcasmo e deboche transbordando em sua voz enquanto fechava o livro em sua mão. — Bom final de férias?
— Estarei melhor com minha varinha. Devolve!
— Nem um "obrigado"? — indagou arqueando a sobrancelha e com um sorriso de canto. — Eu salvei sua pele e ainda fiquei quase uma hora te esperando aqui para devolver essa varinha.
— Não precisa mais esperar. Minha varinha. Agora!
Draco bufou e revirou os olhos. Levou a mão até o bolso dentro de suas vestes e sacou a varinha, devolvendo-a. Canopus agarrou-a e sorriu, agitando-a e fazendo luzes azuis saírem da ponta.
— Foi um saco não poder fazer magia sem ela esses dias.
— Sério? Você não parece precisar muito dela para fazer magia.
— É mais fácil — disse e deu de ombros, guardando a varinha. — Não consigo fazer feitiços com as mãos somente com minha vontade. O que foi? Está com inveja ainda porque sou poderoso o bastante para isso?
— Menos, Estrelinha. Sou tão poderoso quanto você ou até mais.
— Claro que é — Canopus falou irônico. — Que livro é esse na sua mão?
— A Magia das Runas Nórdicas. Por quê?
— É um dos livros de Runas Antigas desse ano. Obrigado!
Canis pegou o livro e folheou algumas páginas com vários desenhos de runas e textos sobre elas.
— É meu!
— Pegue outro na prateleira. Tanto faz! É o mesmo livro e nós dois precisamos.
— Então por que você não vai pegar um na prateleira? — Draco levantou-se e tentou pegar o livro de volta, mas Black ergueu-o no alto e não pôde alcançar.
— Me poupa tempo de procurar. E já que insiste, agradeço por devolver minha varinha — disse e se afastou.
— Espere!
Draco agarrou o pulso de Canopus, não deixando-o ir. Black suspirou, voltando os olhos acinzentados para Malfoy e encarando as íris azuis com um misto de tédio e desafio enquanto sentia o aperto firme.
— O que você quer?
Draco ficou em silêncio por alguns instantes, parecendo pensar. Estava realmente pensando, ponderando se era uma boa ideia fazer isso mais uma vez depois da grande discussão que teve com o pai. Nunca vira Lucius tão furioso, mas também pareceu convencido de suas justificativas.
Fora justamente com o pai que aprendeu a mentir bem. Nunca pensou que precisaria usar contra ele para evitar uma bronca maior ou ser trancado no quarto pelo resto das férias.
Já havia arriscado uma vez. Daquela vez Canopus não iria ignorá-lo.
Malfoy apertou ainda mais o pulso do Black e o puxou por entre as estantes até um canto vazio e discreto. Canopus observou-o confuso.
— Pra quê isso?
— Fica quieto, Canopus!
Canis bufou e revirou os olhos.
— O que foi? Mais algum aviso como o da Copa? — indagou. — Não me diga que seu pai e os amiguinhos dele vão atacar o Beco Diagonal também…
— Não… Eu acho.
— Você acha? — Canis arqueou a sobrancelha e riu em descrença. Puxou seu braço, mas Draco não o soltou, continuando a apertar seu pulso e mantê-lo perto.
Perto o bastante para sentir o aroma daquele shampoo de narcisos irritantemente enjoativo e caro que Malfoy costumava usar.
— Você parece muito bem e recuperado da Copa — disse Draco, os olhos descendo por Canis da cabeça aos pés e voltando às orbes azuis-acinzentadas em seguida. — Meu pai está no Ministério a negócios, aliás.
— Poderia muito bem estar tentando encobrir um novo ataque, mas ainda me surpreende deixar você sozinho. O intocável herdeiro Malfoy solitário e desprotegido no meio de tantos mestiços, que desastre!
— Minha mãe veio comigo, idiota! Pedi para que fosse comprar outras coisas e me encontrar depois. Será que pode me deixar falar?
— Fala logo, não tenho o dia todo! Tenho compromissos importantes hoje — retrucou impaciente. — Sua mãe resolveu assumir o lugar do seu pai num novo ataque?
— Não, mas você, seu irmão e aquele lobisomem vão ocupar o lugar do seu em Azkaban! — exclamou de uma vez.
— Se está ameaçando abrir essa boca suja para nos entregar, eu juro que… — Canopus começou a falar num tom ameaçador, dando mais um passo na direção de Malfoy, deixando-os ainda mais próximos.
— Não preciso, seu irmão e seu papai fugitivo já fizeram isso.
Canopus franziu o cenho.
— Do que está falando?
— Depois do que saiu no Profeta Diário, acha mesmo que o Ministério não vai fazer uma batida na sua casa? Já fizeram na minha porque pegaram alguém da minha família lá por culpa do seu irmão!
— Espero que tenham encontrado coisas incriminadoras contra o seu pai.
— Canopus!
— Eu sei que alguma hora os aurores vão bater na minha porta. Tenho dito isso ao meu pai desde que Sirius resolveu se esconder lá! — retrucou. — Ninguém me escuta!
— Não julgo, você consegue ser tão insuportável diariamente que quando fala algo certo fica difícil ouvir.
— Você seria muito mais tolerável se fechasse a boca as vezes.
— Deveria se ouvir mais.
— Esse é o seu aviso? Se for, não tenho mais nada a ouvir.
Canopus tentou ir, mas Draco tornou a puxá-lo.
— Que porra você quer ainda?!
— A batida será amanhã.
Ele congelou e piscou desconcertado, processando a informação.
— Como você sabe?
— Eu estava com meu pai no Ministério, ouvi o Ministro contar a ele. Pretendem pegá-los de surpresa. Seu pai lobisomem não pediu uma intimação formal? Vão receber uma visita de aurores para o café da manhã.
Black analisou o rosto de Draco, buscando algum sinal de mentira. Não encontrou, claro. Malfoy possuía o mesmo olhar de alerta da Copa Mundial de Quadribol. Seria imprudente demais não dar um voto de confiança daquela vez.
Realmente surpreendente, mas não seria tolo de não ouvir após um aviso certeiro.
— Por que está me avisando?
— Vocês já me meteram nessa história até o pescoço!
— Você quem se meteu vindo atrás na Casa dos Gritos.
— Você pulou atrás de um suposto assassino!
— E o que isso importa para você?!
Malfoy engoliu em seco. Ele ainda não sabia exatamente.
— Eu não queria te ver morto na Copa e muito menos quero que vá para Azkaban porque Sirius e seu irmão foram burros o bastante para serem vistos juntos! — exclamou Draco num tom exasperado, mas ainda baixo para não ser ouvido.
— Não ouse falar do meu irmão — ralhou entredentes. — Ele estava desesperado, com medo e com muita dor. Fale o que quiser de Sirius, mas não abra a boca para falar mal da minha família.
— Posso começar a listar todas as vezes que você xingou a minha? — Malfoy arqueou a sobrancelha, olhando-o mais irritado. A raiva começou a queimar no peito.
— Eu mesmo posso repetir com prazer. São todos um bando de filhos da puta supremacistas que deveriam ter evaporado junto com o chefe maluco.
— Você é um Black. Não tem direito algum de julgar a minha família por sabermos o nosso lugar superior no mundo bruxo, porque a sua nunca foi diferente até Sirius ser deserdado!
— Eu conheço a história dos Black. Sei até que meu tio foi um maldito Comensal da Morte e está fazendo companhia ao Voldemort no inferno — retrucou, abaixando ainda mais o tom de voz, firme e irritadiço. — Mas eu não sou como eles, meu irmão também não. Nós vamos mudar o legado do nosso nome, porque ele sim é sujo, não nosso sangue por termos avós trouxas. Eu, Canopus Black, vou garantir que todos saibam disso… Começando por você, Dragãozinho.
Draco estremeceu, afrouxando o aperto no pulso de Canis. Sentiu todos os pelos se arrepiarem, mas tentou manter-se firme encarando Black com a mesma frieza que ele o olhava. A tensão no ar, seu coração a mil. Persistiu naquela batalha de olhares.
Malditos olhos. Mesmo na luz do sol que entrava por uma janela, ainda parecia um céu nortuno estrelado e brilhante.
Ele comprimiu os lábios, lutando para continuar firme e não fraquejar. Um Malfoy nunca abaixava a cabeça ou demonstrava fraqueza e vulnerabilidade.
Queria jogar uma azaração nele. Uma maldição por insistir em não sair de sua cabeça.
Malfoy respirou fundo e ali perdeu sua batalha, inundado pelo doce aroma de um perfume que não soube identificar com exatidão. Canopus viu as pupilas se dilatarem, e um sorriso vitorioso surgiu em sua boca quando os olhos azuis desviaram dos seus.
Ele sempre vencia. Draco odiava isso.
— Se quer tanto ser diferente, comece não estampando a próxima manchete numa roupa de prisioneiro com uma placa com um número de série em Azkaban — murmurou Malfoy com os olhos focados em uma prateleira.
— Sabemos nos cuidar, Dragãozinho — disse Canopus soltando o pulso, mas ainda sem se afastar, divertindo-se ao ver o rubor no rosto do outro. — Vou acreditar em seu aviso.
— Bom, isso significa que você não é tão estúpido quanto pensei.
— Não tem medo de enfrentar o papai de novo nos avisando, Dragãozinho? — provocou.
— Com a minha família, eu me resolvo. Cuide da sua.
— É exatamente o que eu tenho feito.
Draco suspirou. Já havia terminado sua parte.
— Quero meu terno de volta. — Voltou a olhá-lo. — Onde está?
— Está na minha casa. Vou pensar nisso.
— Eu devolvi sua varinha.
— Ela é muito mais essencial que um terno.
— Você ficou com meu terno, eu com sua varinha. Fiz minha parte de te devolver.
— E agradeço muito, de verdade. Prometo pensar sobre o terno e levarei isso em consideração. — Ergueu o livro de runas.
— Quer mais livros pelo terno?
— Está querendo me dar presentes tão cedo? Que gentileza!
Draco revirou os olhos.
— Quero meu terno.
— É só a porcaria de um terno. Por que tanto drama?
— Ele é meu. Guardei algo importante nele. Quero ele de volta!
Um novo sorriso de canto apareceu no rosto do Black, interessado e intrigado com a fala de Malfoy.
— Algo importante é?
Draco arrependeu-se imediatamente de ter dito algo.
— Eu não parei para olhar direito. O que tem nele?
— Não importa.
— Vou poder verificar em casa, de qualquer forma.
— Eu quero de volta! Meu avô quem me deu! — exclamou.
Canopus apenas riu.
— Vou verificar e te mando uma carta.
— Canopus...
— Parece realmente importante, Dragãozinho. — Sorriu divertido.
— Você não faz a menor ideia, Estrelinha — Draco retrucou friamente. Ele respirou fundou, comprimindo os lábios. — Eu quero de volta.
Black encarou-o, os olhos fixos nos de Malfoy mais uma vez. Mas daquela vez havia algo diferente, algo que nublou mente por alguns instantes.
— Você não vai me fazer implorar.
— Nunca quis — disse ainda com o mesmo sorriso. Draco odiava aquele sorriso.
— Me devolva meu terno — pediu mais uma vez, sem desviar o olhar.
De repente, Canopus sentiu uma grande vontade de realmente devolver aquele maldito terno. Ele piscou, um pouco confuso, mas também não desviou o olhar.
— Interrompo os pombinhos? — indagou uma voz próxima. — Se querem namorar, sugiro adentrarem um pouco mais os corredores. Ninguém vai para aquele seção ali.
Os dois se afastaram rapidamente em um salto, voltando os olhos para o garoto de cabelos hoje azuis vestido numa calça de couro, cropped e luvas de dedo. O salto pequeno das botas ecoaram pelo assoalho quando se aproximou mais carregando dois livros grandes, dentre eles um exemplar de Animais Fantásticos e Onde Habitam.
Karrie sorria divertido para eles.
— Por que você não está na França? — Canopus perguntou.
— Porque minhas aulas ainda não começaram e minha família está se mudando para Londres — respondeu. — Acho que talvez nos vejamos muito mais agora.
— Ah, que legal — disse. O outro percebeu o sarcasmo transbordando em sua voz.
— Você é o que estava quase morrendo de febre, não é?
— Sim.
— De nada. Vejo que realmente ajudei. E imagino que você tenha levado uma bronca daquelas, Draco… Depois que sua mãe parou de te sufocar de abraços e beijos.
— Isso não é da sua conta — Draco retrucou ríspido.
— Quanta animosidade hoje. Desculpa por atrapalhar, só quis dar um "oi" e uma dica para não serem flagrados em uma cena mais comprometedora. Podem voltar a namorar, vou procurar livros pra mim.
— Por Merlin, não! — Canopus exclamou rapidamente. — Meu namorado está muito bem em Rowen's Valley esperando nosso encontro mais tarde.
— Que namorado? — Malfoy indagou confuso.
— Acho que estamos no meio de uma novela aqui.
— Meu namorado, que é meu vizinho em Rowen's Valley e um trouxa, então, para sorte dele, não terá o desprazer de te conhecer algum dia.
— Okay, livros. Vejo vocês no Torneio! — O garoto de cabelos azuis virou-se para ir embora.
— Que torneio? — Canopus franziu o cenho, enquanto Draco aproveitava a chance para arrancar o livro de suas mãos com a cara amarrada. — Ei!
— Eu paguei por esse livro, é meu. Compre o seu.
Malfoy guardou o livro junto aos outros que comprara para as aulas, além de alguns para ler quando estivesse entediado.
— Minha mãe já deve estar me esperando há bastante tempo. Quero meu terno de volta, nem que eu precise ir até sua casa te obrigar a me devolver.
— O que tem de tão importante nele?
— Não é da sua conta. Eu quero de volta — disse ríspido com sua postura perfeitamente ereta e prepotente. — Devolvi sua varinha. Cumpra sua parte.
Ele saiu empurrando Black com o ombro em direção a escada, descendo rapidamente. Canis bufou, revirando os olhos.
Se Malfoy fazia tanta questão daquele terno, que ele mesmo fosse buscar. Aquela vontade de devolver sumiu tão rápido quanto Malfoy partira.
— Que climão... — Karrie murmurou.
— Por que você tá se mudando pra Londres, afinal?
— Meu pai quis voltar para casa. — Ele deu de ombros. — Enfim, até o Torneio.
— De que maldito Torrneio está falando?
— Se ainda não sabe, vai saber quando chegar em Hogwarts. Vou procurar mais livros, tchau!
E então ele foi embora.
Canopus suspirou e adentrou outro corredor, buscando por seus livros de Runas Antigas e encontrando Hermione.
— Hermione, você que é a grande sabe-tudo, que tipo de torneio envolveria Hogwarts e outras escolas?
— Os de quadribol, talvez, mas já fazem muitos anos que Hogwarts não participa de um. Eles são mais comuns na América. Castelobruxo enfrenta Ivermorny num amistoso todos os anos — respondeu. — A maioria dos torneios interescolares foram banidos por altas taxas de mortes. Não leu Hogwarts: Uma História? O último Torneio Internacional Heptamágico aconteceu em Hogwarts e nunca mais houve outra edição.
— Torneio Heptamágico?
— As sete maiores escolas do mundo se enfrentam em um torneio com um representante cada. Francamente, pensei que você e Therion estudassem mais.
— Eu lembro de ler algo sobre isso, mas não foi algo que realmente me chamou atenção.
— Por que está perguntando?
— Por nada, esquece. Encontrou o livro de Runas Nórdicas?
Ela apontou mais adiante na fileira de livros em que estavam.
No andar inferior, Harry pegou livros extras de Adivinhação para os gêmeos se matricularem na matéria. Ele seguiu para a seção de livros de Feitiços junto a Therion, enquanto Remus analisava bastante interessado uma prateleira e pegava um livro para si próprio, pois fazia muito tempo que não lia algo novo e pensando em levar algo para Sirius também poder passar o tempo.
Black pegou três exemplares do Livro Padrão de Feitiços 4ª série e entregou um deles para Harry.
— Os livros desse ano são enormes! — comentou Harry.
— Esse ano já começa as preparações para os NOM's, então teremos muito o que estudar e montanhas de tarefas.
Harry suspirou, já imaginando que provavelmente teria de passar muitas madrugadas acordado para terminar seus deveres.
— Eu vou continuar te ajudando com Poções, e você pode me falar se precisar de mais ajuda. Talvez consigamos fazer algumas tarefas juntos na Torre de Astronomia ou podemos invadir alguma sala vazia.
— Você está ficando melhor nisso.
Therion paralisou e choramingou.
— Você que estava pensando nas noites acordado para fazer o deveres, não é?
Harry assentiu com a cabeça, contendo uma risada com a expressão do amigo.
— É estranho. Eu sempre meio que senti o que Canis e papai pensavam e sentiam quando estavam muito chateados, mas nunca pensei que legilimência funcionasse assim. Pensava que era coisa de gêmeos com o Canis.
— Eu não estou chateado.
— Eu conseguiria ler normalmente. Sirius disse que só é bem mais fácil quando as pessoas estão chateadas ou eu estou mal.
— Você está? — Harry se preocupou.
Therion riu, negando com a cabeça.
— Estou bem. Apenas minhas aulas já estão começando a ter resultado.
— Acho que vou pedir para Sirius me ensinar aquilo de fechar a mente… Oclumência.
— Tem medo que eu veja algum pensamento que não deva saber, Mini Prongs? — Therion questionou com um sorriso malicioso. — O que quer esconder de mim?
— N-nada! Só… — Harry engoliu em seco, com o rosto corado.
— Não se preocupe, Harry. Ainda não sou tão bom quanto pensa e nem quero ficar invadindo sua mente.
Potter sorriu fraco, desviando o olhar. Não tinha nada a esconder de Therion, ele realmente não queria isso. Eram amigos e não achava legal ficarem escondendo coisas um do outro. Mas também adoraria que ele não descobrisse que muitas vezes, quando não tinha pesadelos, ele quem dominava seus sonhos.
Talvez isso fosse mais óbvio do que gostaria, porém, ainda gostaria de manter alguns sentimentos em segredo.
— Falta mais algum livro ainda? — Remus aproximou-se perguntando, carregando alguns livros.
— Alguns. — Therion olhou para sua lista. — Prof. Bins parece ter mudado de tática esse ano, não pediu nenhum livro velho chato que o senhor já tinha.
— Dumbledore consegue encontrar novos professores de Defesa Contra as Artes das Trevas todo ano. Poderia encontrar um novo de História da Magia que estivesse vivo e realmente ensinasse, em vez de recitar monólogos — Harry disse.
— Fantasmas não recebem salário — Merliah disse chegando juntos aos pais e muitos livros.
— Merliah! — Benjamin repreendeu a filha.
— Tecnicamente, ela tá certa — Helena disse. — Mortos não precisam de dinheiro.
— Bins também não era dos meus favoritos. Nunca entendemos porque continua sendo professor. James sempre tirava um cochilo nas aulas dele — Remus comentou.
Harry e Therion riram. Os dois também já fizeram isso em algum momento que estavam terrivelmente exaustos depois de noites em claro.
— Scusi! Scusi! — um homem aproximou-se deles um tanto atrapalhado com vários livros e segurando uma lista de materiais como a dos garotos. — Vocês poderiam aiutare, per favore? São bruxos de Hogwarts, sì?
O homem era muito provavelmente um trouxa. Ele passou a mão pelos cabelos loiro-mel um pouco escuros, os olhos azulados por trás dos óculos expressando uma certa confusão enquanto tentava sorrir amigavelmente. A camiseta de botões azul clara sobre uma blusa branca colocada por dentro dos jeans escuros estava um pouco amarrotada, a grande bolsa transversal à frente do corpo com o fecho aberto.
Parecia ter pego muito mais livros do que podia carregar e estar um tanto perdido. O sotaque e a mistura de idiomas logo entregou que sequer daquele país ele era.
— Nós estudamos lá — Harry respondeu.
— Mia bambina entrará esse ano. São muitos livros e está difficile entender e encontrar alguns — disse agitando a lista e ajeitando os óculos sobre o rosto. — Era para ter qualche aiuto, mas acho que la mia famiglia pensa ser muito divertido deixar um senza-magi fazer as compras sozinho.
— É um trouxa também? — Helena perguntou curiosa.
— Quella! Giusto! Trouxa, é como chamam aqui. Ainda não ter inglês perfetto também não deixa facile para mim.
— Ah! Que maravilha! É ótimo encontrar alguém que me entende! — Ela sorriu simpática e pegou a lista dele. — Meu marido e eu também somos. Viemos acompanhar nossa filha nas compras para o quarto ano. Quais livros precisa?
— Aquì. — Ele apontou na lista. — Esses. Feitiços, eu acho, esse… Não tenho certeza de que palavra é essa.
— Mil Ervas e Fungos Mágicos. É da aula de plantas dos bruxos.
— Herbologia, mamãe.
— Tanto faz. São plantas!
— Feitiços provavelmente deve ser esse aqui. Já está no corredor certo. — Therion pegou um exemplar para o primeiro ano do seu livro de feitiços numa estante próxima e entregou ao homem.
— Grazie, bambino! — Sorriu largo.
— Buona fortuna a tua figlia.
— Oh! Il tuo italiano è molto buono!
— Ah, falo só um pouquinho. — Deu de ombros, sorrindo satisfeito. — Meu pai me ensinou.
— Meu amigo tinha família italiana — explicou Remus.
Harry franziu o cenho, pois não havia entendido nem uma única palavra.
— O que foi que disseram?
— Desejei boa sorte para a filha dele.
— Tem muito mais livros que os pedidos no primeiro ano — Remus notou, observando os livros que o italiano carregava.
— Non são todos de mia bambina. Mio marito vuole aggiungere alla sua vasta collezione perché non può vivere senza libri da leggere — disse rindo. — Nem em todos os meus anos de medicina acumulei tantos quanto ele, e eu realmente amo ler tanto quanto. Pegou alguns e deixou comigo para comprar antes de desaparecer da loja.
— Seu marido é bruxo?
— Sì. Ma dieci anni com certeza não é o bastante para eu conseguir me virar sozinho no mundo bruxo de um país novo. Comunque, grazie pela ajuda.
— De nada. Benvenuto in Inghilterra.
— Apprezzare — falou, mais uma vez ajeitando os óculos sobre o rosto e os muitos livros que carregava.
Therion franziu o cenho ao sentir algo estranho. Nervosismo. Mas esse sentimento não vinha dele. Encarou o estrangeiro, que olhou-o curioso.
— Scusi… Se machucou? — perguntou com curiosidade apontando no próprio rosto a região próximo ao olho, onde ficava a marca de nascença do Black.
— É uma marca de nascença…
— Peguei todos os livros das seções lá de cima. — Canopus aproximou-se da família ao lado de Hermione, entregando ao irmão os livros dele. Então olhou para o homem que conversava com eles. — Quem é esse?
— Ele só estava pedindo ajuda para encontrar alguns livros para a filha que irá para Hogwarts este ano — Remus respondeu. — Chegou há pouco tempo da Itália.
— É bom ver que alguns bruxos ingleses são bem mais gentis e prestativos que meu marido quando o conheci. Ele era… Molto particolare — disse e sorriu fraco. — Permita-me me apresentar. Mattias Lucchesi.
— Remus Lupin.
O sorriso de Mattias se alargou.
— É um prazer, Remus Lupin.
— Helena Stuart, uma grande admiradora da Itália. De onde você é? — Ela estendeu a mão e Mattias apertou.
— Veneza.
— Ah, vou querer ouvir tudo sobre lá! Ben está adiando nossa viagem para Veneza há séculos.
— Lena!
— Sei exatamente como é chegar num país novo e se perder fazendo compras e ainda ter uma filha bruxa sendo trouxa. É ótimo conhecer outros pais de Hogwarts como eu! — ela ignorou o marido.
— Onde está a…? Principessa, non allontanarti così lontano! — exclamou Mattias olhando para trás, onde uma garotinha de vestido azul e uma faixa de igual cor prendendo os cabelos escuros observando uma estante de livros voltou-se na direção deles abraçada a um livro grande e segurando uma varinha.
— Scusa, papà! — disse e correu para o lado dele.
— Mia bambina — apresentou. — Principessa, eles também estudam na sua nova escola.
— Olá! — ela acenou e sorriu feliz. — É verdade que os quartos de Hogwarts ficam embaixo d'água e dá para ver peixinhos pela janela?!
O inglês dela, certamente, era muito melhor que o do pai, embora houvesse um sutil sotaque.
— Os dormitórios da Sonserina que tem visão para o fundo do Lago Negro… Tecnicamente, esses ficam — Therion disse rindo baixo. — Poderá ver com os próprios olhos se ficar na nossa Casa.
— Mas é uma masmorra. Eu não ficaria animado para dormir lá — Harry disse. — Nem pode abrir a janela para respirar.
— Já que gosta tanto de poder abrir janelas, que tal abrirmos a do seu quarto na Torre da Grifinória e te jogarmos de lá direto pro lago? — Canis disse. — Vamos adorar te ver nadando lá pela nossa janela.
Harry fechou a cara para o amigo.
— Pelo menos eu sei nadar. O que vai fazer se algum idiota abrir a janela por engano?
— Ninguém é tão burro de fazer isso — retrucou. — Garotinha, ignore ele. A Sonserina é a melhor Casa e você vai adorar a Comunal.
— E vou poder jogar quadribol como papai e meu irmão?
— Quando eu for capitão ano que vem, te deixo fazer o teste para o time. Com certeza vamos precisar de uma apanhadora.
— Eu quero! — Ela animou-se e sorriu.
— Depois que seu irmão quebrou metade dos ossos na última partida, te quero bem firme no chão. Niente scope per ora — Mattias disse a filha com seu forte sotaque. — Vocês realmente não se incomodam com tantos ferimentos graves nesse jogo? Tenho muitas opiniões médicas quanto a isso.
— É normal. — Remus deu de ombros. — Ninguém morreu, pelo menos… Que eu me lembre.
— Todos nós jogamos quadribol. Nenhuma lesão muito grave até hoje — Liah comentou. —, exceto quando Harry perdeu os ossos do braço, mas a culpa foi de um professor que não sabia fazer um feitiço de cura decente. Se você entrar para a Sonserina, te ajudo a entrar no time, estamos precisando de mais mulheres.
— Foque no "se" — disse Harry e os sonserinos o olharam mortalmente.
— Eu já sei voar de vassoura. Papà, podemos comprar livros de quadribol?
Mattias choramingou.
— Principessa, eu mal consigo entender sua lista de livros didáticos. Seu pai e seu irmão te ajudam depois — respondeu e olhou mais uma vez para a lista. — Acho que só falta esse de fugus-sei-lá-o-quê. Onde que fica?
— Na última fileira ali — indicou Helena. — Podemos te mostrar.
—Ah, grazie. Stella, dietro di me.
— Sì, papà.
A garota rapidamente ficou atrás do pai e o seguiu, não deixando de acenar para todos os outros.
— Sua mãe é sempre tão simpática — Therion comentou.
— Brasileiros são simpáticos... Com quem merece gentileza, é claro — Merliah respondeu.
— É bom conhecer novos alunos. Parece que receberemos muitos esse ano. Já posso analisar possíveis novos prodígios para meu time — Canis disse.
— Canis, você ainda não é capitão — Remus alertou.
— Mas eu vou ser, custe o que custar.
— Sinto pena do time da Sonserina — Harry murmurou.
Canopus fechou a cara e deu um leve tapa na nuca de Harry.
— Acredita que eu encontrei o Karrie de novo lá em cima? A família dele está se mudando pra Londres.
— O garoto metamorfomago? — Remus engoliu em seco.
— Esse mesmo.
Remus quase choramingou enquanto levava os garotos para o caixa.
***
Ao adentrarem o estabelecimento da Madame Malkin, Canopus imediatamente revirou os olhos e bufou, questionando ao universo a razão de tamanho azar naquela manhã assim que ouviu a conhecida voz reclamando como sempre.
— O comprimento da capa pode ser um pouco maior.
— Eu não quero tropeçar na minha capa pelo caminho, mamãe!
— Puta que pariu, eu dancei valsa na tumba de Merlin numa vida passada e ele está me amaldiçoando agora — resmungou Canopus. Aquela altura, Remus já havia desistido de controlar a boca suja dos filhos.
Imediatamente os olhos de Draco foram para ele. Manteve a expressão neutra, embora suspirasse.
— Está me seguindo, Black?
— Eu tenho coisas muito mais importantes para gastar meu tempo, Malfoy — respondeu ríspido. — Bom dia, Madame Malkin. Dois uniformes novos da Sonserina, por favor. Meu irmão tem o mesmo tamanho, só pegar as mesmas medidas.
Subiu na banqueta ao lado de onde Malfoy estava e logo uma funcionária fez surgir uma fita métrica com a varinha e convocou uma capa da Sonserina para ajustar em seu corpo, exatamente como no primeiro ano, enquanto Malkin trabalhava nas vestes de Draco.
— Olá, Narcisa — Remus cumprimentou sem ânimo algum. Apreciava a Sra. Malfoy tanto quanto Sirius e também gostaria de não estar em sua presença.
Narcisa estava parada próxima ao filho e analisou cuidadosamente o casal trouxa e Lupin junto de Harry, Hermione e Merliah. Não lhes direcionou nem uma única palavra, rapidamente voltando sua atenção para Draco outra vez.
— Ficará melhor assim, querido. Não precisa encolher tanto a barra da capa, Madame Malkin — disse. — As mangas, pode ajustar mais para cima.
— Geralmente, quando alguém te cumprimenta, é educado responder, minha senhora — Helena falou encarando a mulher.
— Apenas estou acompanhando meu filho, não estou aqui para conversas — respondeu com desdém.
— Até os bruxos se prestam ao mínimo de educação.
Narcisa apenas olhou-a com insignificância, permanecendo onde estava em sua postura prepotente.
— Mas que madame metida e mal educada, hein? — Helena resmungou em português, cruzando os braços e fechando a cara. — Não fui com a cara dessa aí.
— O filho não é tão diferente, mamãe — Merliah sussurrou para a mãe. — É esposa daquele que o Sr. Weasley desceu a porrada dois anos atrás, lembra dele? O que odeia trouxas.
— Se merecem.
Remus franziu o cenho, não compreendendo uma única palavra.
— Daqueles loucos por linhagem mágica que você falou? — Benjamin aproximou-se da filha falando baixo.
— Exatamente. Se daria muito bem com o Tio Phillip.
O homem rapidamente esboçou seu desgosto com a informação e abraçou protetoramente a cintura da esposa, afastando-se alguns passos.
— É o seu traje a rigor, Malfoy? — Harry perguntou.
— Sim. Por quê?
— Está parecendo o Snape com essa capa tão longa — caçoou, rindo. — Roupas formais bruxas são sempre assim?
— As de maior classe, sim, Potter. Após quatro anos, esperava que até mesmo você já tivesse aprendido nossos códigos de vestimenta mesmo que goste tanto de trapos trouxas — ralhou Draco rispidamente.
— Estou bem habituado a isso, sim. Irá usar capuz e máscara também, como seu pai na Copa? — retrucou.
Draco virou-se na direção de Potter, irritado.
— Draco — Narcisa chamou sua atenção antes que dissesse algo. —, isso não vale a perda do seu tempo.
— Escute a mamãe, Dragãozinho — Canopus disse com um sorriso divertido.
— Cale a boca, Black. — Draco voltou-se a como estava antes rapidamente, atrapalhando Malkin, que espetou-o com um alfinete sem querer. — AI! Cuidado com esses alfinetes. Faça seu trabalho direito!
— Farei se você ficar parado, mocinho — rebateu ela.
Malfoy fechou a cara e ficou parado enquanto eram feitos os ajustes em sua capa.
— Assim está perfeito — disse Narcisa.
— Ainda não gostei dessa capa, mamãe. Prefiro a azul.
— Está ótimo assim, Draco, discreto, mas bonito, como um perfeito cavalheiro bruxo. Já podemos ir, não devemos ficar mais tanto tempo por aqui.
Draco não parecia concordar tanto com a mãe enquanto mirava o reflexo no espelho a sua frente. Estava bonito, claro, muito bem arrumado. Porém, não era como queria estar.
— Não estava tão errado em duvidar que conseguisse se vestir sozinho — Harry murmurou. Therion e Liah riram. Draco olhou-os mortalmente pelo espelho.
— Pode ao menos apertar mais o colete?
Narcisa concordou. Draco retirou a longa capa preta, e seus movimentos foram acompanhados pelo Black ao lado.
O colete branco sobre a camisa social de mesma cor foi rapidamente melhor ajustado em seu corpo, o que deixou-o visivelmente mais satisfeito. A calça preta também estava perfeitamente ajustada e sob medida. Ele ajeitou a gravata borboleta também branca em seu pescoço e observou-se no espelho.
— Pronto, Malfoy — disse Madame Malkin ao finalizar, e o garoto exibiu um pequeno e discreto sorriso para seu reflexo.
Ele olhou de soslaio para Canopus, percebendo os olhos acinzentados em sua direção. Rapidamente desviou, xingando mentalmente ao sentir o rosto esquentar.
Black comprimiu os lábios para conter uma risada ao notar as bochechas vermelhas de Malfoy. E realmente detestando seus pensamentos, precisava admitir.
Draco ficava tão bem de branco quanto num terno preto.
— Au! — Canis exclamou ao sentir-se ser espetado sem querer por um alfinete.
Malfoy rapidamente se retirou para trocar de roupa e não demorou para ir embora com sua mãe.
— Ainda bem que já foram. Que família mais metida — resmungou Helena.
— Minha vez! Madame, mostre os seus melhores vestido de baile, de preferência verde! — Merliah exclamou animada.
A garota rejeitou vários e experimentou muitos outros. Nesse tempo, os gêmeos, Hermione e Harry também procuraram suas roupas. Potter não viu nada que o agradasse, mas os Black pareceram bastante contentes com um traje completamente preto com detalhes em prata, rapidamente ajustados para seus corpos.
Enquanto Stuart se admirava no espelho em um longo vestido verde esmeralda brilhante, parecendo enfim ter aprovado algo e conversando com sua mãe sobre possíveis ajustes que elas mesmas poderiam fazer em casa, Harry estava com os olhos fixos em Therion terminando os ajustes em seu traje. Ele não sabia como ele poderia estar ainda mais bonito e radiante apenas trocando de roupa.
Tanto Therion quanto Canopus sentiam que faltava algo a mais em seus trajes, mas ainda estavam bastante satisfeitos. Talvez passeando pelo Beco encontrassem algo para complementar que os agradasse. O gêmeo mais novo observou feliz seu reflexo ao terminar os ajustes e percebeu o olhar de Harry por ele, o que fez seu rosto corar ao que sorria de canto e voltava-se para ele.
— O que acham?
— E-está… Muito bonito… — Potter gaguejou.
Se fosse realmente um baile como acreditavam, conseguia se imaginar dançando com o Black naquela bela roupa, os dois juntos rodopiando pelo salão. A imagem em sua mente o deixou igualmente feliz e envergonhado, seu rosto logo ficando tão vermelho quanto seu uniforme da Grifinória.
Será que Therion havia visto esse pensamento?
— Está lindo, Therry — Remus elogiou e sorriu orgulhoso. Canopus ainda estava vestido em seu traje, muito semelhante ao do irmão. — Os dois estão.
— A baba do Harry já mostra que estão mesmo lindos. Vão arrasar no baile! — Merliah comentou. Potter ficou ainda mais vermelho. — Acho que vou levar esse aqui mesmo.
— Está linda, Liah — Harry elogiou. Ela realmente estava magnífica. — E eu não estou babando!
— Madame, sabe alguma loja por aqui que tenha corsets e tecidos?
— Na loja da Madame Beaufay mais adiante.
— Obrigada. Vou levar este aqui! — disse a garota. Ela então ficou boquiaberta ao ver Hermione sair do trocador com um belo vestido rosa. — Mione… Você está…
— Incrível! — Harry completou.
— Oh, querida! Está perfeita! — disse Helena.
Hermione sorriu tímida, aproximando-se até o espelho. Era um vestido de seda simples, mas charmoso. A saia descia até o chão com várias camadas de babados com um laço na cintura, as mangas de um fino tule quase transparente.
Havia realmente gostado muito dele, mas havia um pequeno detalhe…
— É lindo, mas… Acho que preferiria azul.
— Vejamos, meu bem… — Madame Malkin foi até ela. Agitou a varinha e apontou para o vestido, que mudou de cor. — O que acha?
— Perfeito! Vou levar esse.
— Vou te mostrar algumas ideias lindas de penteados. Vamos ser as mais lindas desse baile! — Merliah foi até Hermione e a abraçou de lado.
— Nós estaremos mais, é claro — Therion disse.
— Estão lindos, mas eu vou estar mais.
— Vocês duas estão maravilhosas! — Helena exclamou e colocou-se atrás delas. — O primeiro baile da minha princesa. Os brincos de esmeralda da sua avó vão combinar perfeitamente com esse vestido.
— Eu tenho um colar que vai ficar perfeito com seu vestido, Mione. Posso te emprestar.
— Veremos se em outra loja encontramos algo que você goste, Harry — disse Remus para ele.
Harry concordou. Os gêmeos e as garotas trocaram de roupas e Madame Malkin embalou seus trajes.
— 85 galeões cada um dos trajes masculinos.
— É maravilhoso não precisar me preocupar mais com ouro — Canopus disse ao ver o pai separar os galeões para o pagamento do que retiraram do Gringotes.
As garotas pagaram por seus vestidos e logo todos saíram da loja.
— Devia ter me deixado pechinchar pelos vestidos, Ben — Helena resmungou.
— Amor, você não gosta quando reclamam do preço das jóias que você desenha. É um vestido de baile, estava até barato.
— Roupas novas não costumam ser muito baratas mesmo — Remus comenta.
— Por isso eu aprendi a me virar com as minhas velhas e transformá-las em quase novas quando era criança. O começo do meu amor por design.
— E você veio fazer intercâmbio na Inglaterra estudando Direito Internacional — Benjamin riu.
— Todos já tivemos a fase de escolher cursos visando o lucro da carreira por pressão familiar. — Ela deu de ombros. — Mas não me arrependo, porque assim eu conheci você. Ver minhas primas com inveja e tentando te paquerar na nossa festa de noivado foi impagável… Tão iludidas.
— Nem me lembre disso, foi insuportável. — Ele suspirou com uma careta. — Não conseguiam aceitar que eu só tenho olhos para a mãe da minha filha.
— Adoro quando você diz isso.
Helena sorriu, enlaçando os dedos ao do marido enquanto ainda caminhava agarrada ao seu braço. Ele sorriu amorosamente para ela.
De longe pareciam o mais perfeito casal clichê.
— E foi graças aos meus poucos períodos de Direito que consegui revisar toda a legislação bruxa para ajudar Remus a conseguir um emprego na joalheria.
— Serei eternamente grato por isso — Lupin disse.
— Meu pai adora tê-lo por perto trabalhando com ele. Sou igualmente grato por como o ajuda, tem estado até muito mais inspirado e produtivo — falou Benjamin, sincero.
— Também gosto muito do Richard. Ele é uma ótima pessoa.
Remus realmente gostava. Certamente, um de seus chefes que mais gostou, além de Dumbledore. Mesmo em outras poucas vezes que trabalhou no mundo trouxa antes que mais leis dificultando seu acesso ao mercado de trabalho surgissem, ninguém que o contratou fora tão prestativo. Senhor Stuart era realmente um bom homem e dono de um grande coração. Ele adorava ouvir de Lupin algumas curiosidades bruxas que sua neta ainda não havia lhe contado e contar a ele a história de sua família, por quem demonstra ter enorme carinho.
Estava extremamente ansioso para voltar ao trabalho segunda-feira.
Eles seguiram andando até parar em frente a outra loja. Harry admirou bastante interessado um manequim vestido em um traje formal bruxo na vitrine, enquanto Merliah não perdia tempo para entrar agarrando a mão de Hermione e a puxando junto.
A capa verde esmeralda do traje combinava com os olhos de Potter. O colete também era verde, com botões e detalhes dourados. Harry conseguia se imaginar naquela roupa, entrando em um salão de baile e atraindo olhares.
Ele naturalmente já atraía olhares por ser… Bom, por ser Harry Potter. Mas conseguia talvez se ver… Bonito com aquele traje. Realmente muito bonito. Gostaria que ao menos uma vez as pessoas o olhassem não por ter sobrevivido a uma Maldição da Morte, mas por ser um garoto numa multidão que de alguma forma chamava atenção.
— Posso comprar esse? — perguntou.
— Gostou dele? — Remus disse. — Vai combinar com seus olhos.
— Eu quero experimentar.
— Então vamos.
Eles adentraram a loja, e Harry logo buscou pela roupa que queria. Para a alegria dele, havia pessoas conhecidas ali também, mas alguém muito mais apreciável que Malfoy.
— Harry, querido!
— Olá, Sra. Weasley! — a cumprimenta.
— Você está bem? Foram embora tão rápido após toda aquela tragédia na Copa, o Profeta Diário… — Molly não concluiu sua frase. — Oh! Remus!
— Bom dia, Molly.
— Estou bem — Harry respondeu. — Rony também veio?
— Sim, Hermione disse que viriam hoje e já esperávamos encontrá-los em algum momento.
— Onde está ele?
— Provando seu traje formal.
— Vou me apressar com o meu também então.
Com sua roupa em mãos, Harry seguiu empolgado para o provador da loja. Os gêmeos estavam juntos de Merliah e Hermione, Stuart escolhendo um corset enquanto sua mãe admirava tecidos não muito longe.
Remus permaneceu aguardando Harry. O garoto não demorou a sair, parecendo bastante feliz e satisfeito. Ele sorriu tímido, exibindo a capa verde. Realmente destacava a cor de seus olhos.
— Fiquei bem?
— Oh, está belíssimo! — Molly exclamou.
— Está mesmo. Você gostou, Harry? — Remus perguntou. — Se sim, já podemos ir ao caixa.
Harry baixou o olhar para suas roupa e então mirou-se em um espelho próximo. Sim, ele havia gostado, e muito. Verde lhe caía tão bem quanto vermelho.
— Gostei! — Ele voltou os olhos para Remus.
— Mamãe, eu não vou essa porcaria! — Rony exclamou de repente.
O garoto saiu de um provador com uma expressão irritada e de claro desgosto. Estava com um traje formal de aparência um pouco gasta de cor marrom, com babados e rendas nas mangas, na barra e na gola. Harry quase não conseguiu conter uma risada.
— Se você rir… — ameaçou apontando para Harry.
— Oi, Rony! — Harry cumprimentou sorrindo e tentando muito não rir. — Bela roupa.
— Está vendo, mamãe? Estou ridículo! Por que pegar essa tralha da seção de usados?!
— Ah… Vai ser preciso vestes de segunda mão, querido… Foram muitos livros novos esse ano.
— Fred e George conseguiram trajes bons!
— Não é ruim, Rony — Molly tentou argumentar.
— Harry conseguiu algo legal também.
Molly suspirou.
— Se me fizer usar isso em Hogwarts, eu juro que vou largar a escola. Parece as roupas da Tia Tess!
— Liah vai comprar materiais para fazer mais ajustes que ela quer no vestido dela. Você pode, sei lá… Fazer igual — Harry sugeriu.
— Eu tenho cara de estilista?!
— Bem que pensei ter ouvido sua voz resmungando como sempre, Rony — Merliah surgiu, como se convocada por seu nome.
Rony bufou e revirou os olhos.
— Esse será seu traje formal? — Hermione pergunta.
— É ridículo, eu sei. Estou tentando convencer a mamãe a desistir desse!
Os gêmeos correram até Remus, trazendo algo em suas mãos. Por um momento, pareceram coletes, e Lupin franziu o cenho, pois já haviam comprado os coletes no conjunto da Madame Malkin.
— Precisamos de 50 galeões pro caixa, pai. — Canopus estendeu a mão.
— Já compramos coletes.
— Não são coletes — Therion disse.
Foi então que Remus analisou melhor e percebeu o que era. Era talvez menor que um colete, sem mangas, quase uma faixa, mas era estruturado e possuía cordões traçados. Corsets.
— Sério?! — arqueou a sobrancelha.
Os dois assentiram com a cabeça, juntos.
— Podemos comprar?
Lupin sorriu fraco e deu de ombros, entregando a Canopus a bolsa de dinheiro. Eles tinham liberdade para vestir o que bem quiserem, afinal. Os garotos sorriram.
Canis correu em direção ao caixa, mas Therion paralisou no meio do caminho ao ver Harry. Ficou parado admirando-o nas vestes com as cores da sua casa, enquanto Potter ainda estava distraído com Rony que resmungava sobre sua roupa.
Potter riu de algo que o amigo disse e seus olhos se desviaram para Therion, percebendo que ele o encarava fixamente. O vermelho então surgiu em suas bochechas, enquanto sorria levemente de canto.
Therion mal conseguia formular um pensamento coeso. Agradeceu aos céus que ele era legilimente e não Harry.
— Vai ter muito tempo para babar no baile, irmãozinho. Venha! — Canopus retornou e agarrou o braço do irmão. — Está lindo pra caramba, Prongs.
O gêmeo mais novo apenas se moveu quando foi puxado pelo outro, girando sua cabeça exageradamente para trás para observar Harry até perdê-lo de vista.
— Vou matar ele por não ter vindo pra Sonserina. Ele fica lindo de verde… — divagou.
— Vai ficar com torcicolo — caçoou Canopus.
— Cala a boca! Malfoy ficou desidratado com você secando ele na Madame Malkin — retrucou, então encarando o caminho a frente.
— Ele é um filho da puta, mas um filho da puta que fica muito bem em trajes formais.
— Talvez um pouco.
Canopus arqueia a sobrancelha.
— Oh, vai ficar com ciúme?
— Cala a boca. Vamos logo que eu ainda quero um novo bichinho.
Rony ainda resmungava sobre sua roupa. Não queria de jeito algum vestir aquilo em qualquer que fosse o evento formal que teria em Hogwarts, muito menos um baile se Harry estiver certo sobre a informação.
— Ah, Rony, vamos.
— Não, mamãe! Isso aqui é horrível!
— Tenho certeza de que podemos dar um jeito nisso — Helena intrometeu-se na discussão, entregando todos os tecidos, rendas e linhas nas mãos do marido. Ela rodeou o garoto, analisando a roupa. — Um pouco gasto...
— Isso não ajuda, senhora.
— Mas tem conserto! — ela disse. — Retirar esses babados e rendas principalmente.
— Confie na minha mãe, ela entende — Merliah disse. — Eu posso te ajudar a arrumar.
— Eu mesma posso mudar o que quiser, querido — Molly disse, olhando desconfiada para a garota e a mãe.
— Por que Rony tá vestido igual a Tia Tess? — ouviu-se a voz de Ginny.
A caçula Weasley chegou junto aos irmãos Fred e George. Rony cruzou os braços, emburrado.
— Consegue fazer milagres com isso?
— Óbvio que consigo! — Merliah garantiu.
— Então tudo bem. Vou tirar essa coisa logo.
Rony correu para o provador. Harry decidiu ir também, decidido a comprar aquelas roupas. Os gêmeos Black retornaram poucos instantes depois.
— Onde vocês se meteram?! — Molly exclamou para os filhos.
— Só fomos cuidar de alguns negócios, mamãe — Fred respondeu.
— E cuidamos muito bem da nossa irmãzinha que gentilmente quis nos ajudar — George disse.
— Eu quem cuido de vocês, seus paspalhos! — Ginny falou.
— Eu não duvido, Ginny — Liah riu. — E aí cópias grifinórias?
— Cópias não vêm antes do original, Stuart — Fred resmungou.
— Oi, Liah! — George cumprimentou e sorriu. Ele então tirou algo de uma das sacolas que carregava e jogou para ela sem aviso, que agarrou no ar agilmente. — Eu falei que você se daria melhor como apanhadora.
— Para a sorte de Potter e seu time, estou muito bem como artilheira.
— O que é isso? — Molly franziu o cenho.
— Nada demais, mãe.
Merliah sorriu largo ao abrir a pequena caixa que George lhe jogou e pegar uma bala de lá.
— Parece que gostaram das minhas ideias na Copa.
— Ajudas são sempre bem vindas, principal as ideias mais divertidas.
George jogou um pacote de balas, o qual ela também pegou.
— Quero uma — Canis disse, já interessado.
— Não quer não. — Merliah sorriu travessa, guardando em sua bolsa. Benjamin observou curioso de sobrancelha arqueada ao lado da esposa.
— Não é mais uma daquelas besteiras que vocês criaram, é? — Molly indagou séria.
— Claro que é! — Fred disse sem medo.
— Eu já falei para esquecerem essa história de loja de logros!
— Por que? As ideias deles são ótimas! Podem fazer muito sucesso. — Merliah fechou a cara para Molly.
George havia contado a ela enquanto a confusão acabava na Copa sobre a ideia dele e de Fred de uma loja de logros e algumas coisas que já criaram. Ela, obviamente, ficou interessada e ofereceu muitas sugestões e até pediu algumas das criações.
Ele pareceu realmente feliz que mais alguém além de Lee Jordan e seus irmãos mais novos gostaram da ideia.
— Não se meta, por favor. É bobagem!
— "Bobagens" que podem render muito dinheiro com o apoio e investimento certo!
— Já bastou os NOM's.
— Lá vem os NOM's de novo… — George revirou os olhos. — Não precisamos de NOM's para abrir nossa própria loja.
— Oh, mamãe! E se nós sairmos dessa loja e um raio cair na nossa cabeça? A senhora mesmo não disse que ficaria desolada que a última coisa que disse para nós era reclamar que não tivemos NOM's suficientes? — Fred disse com uma voz falsamente dramática e a mão no coração.
— O que é NOM's? — Helena sussurrou.
— Exames importantes para conseguir emprego. Tem que passar em matérias específicas — Therion fez o favor de explicar. — Liah disse que parece o seu vestibular.
Helena imediatamente fechou a cara para Molly igual a filha e deu um passo à frente.
— Medir seus filhos por nota em vestibular que é uma bobagem, minha senhora!
— Helena… — Remus tentou intervir, já prevendo que a mulher com certeza tinha muito o que falar. A convivência quando ela está na joalheria e histórias de Richard o ensinou bem sobre a personalidade audaciosa dela, que nunca ficava quieta quando algo incomodava, sincera até demais.
— Eles tem um sonho para seguir e em vez de apoiar fica rebaixando por nota? Pelo amor de Deus! Educação é importante, mas uma nota baixa em física não vai interferir na habilidade de um pintor de desenhar ou um empreendedor montar e gerir seu negócio — ela ignorou Lupin e continuou. — São seus filhos, apoiar seus objetivos é o mínimo que você deveria, não importa se pensa que vai fracassar. Um pouco de incentivo ajuda bastante, sabia?
— Da vida dos meus filhos cuido eu. Apenas me preocupo com o futuro deles! E quem a senhora pensa que é para se meter? — Molly revidou.
— Helena Vitória Correia Stuart, muito desprazer! — respondeu.
— Amor, você não usa mais o sobrenome de… — Benjamin tentou falar, mas calou-se assim que a esposa apenas ergueu o dedo indicador, sem nem precisar encará-lo.
— Espero sinceramente que a senhora evolua espiritualmente e perceba que apenas cobrar perfeição e notas altas e não apoiar os sonhos dos seus filhos é uma ótima forma de afastá-los um dia! Muitos desistem justamente por falta de apoio e isso raramente leva a uma vida feliz por não fazerem o que realmente gostariam de fazer.
Molly arregalou levemente os olhos e piscou, desconcertada. Não esperava por nenhuma daquelas palavras.
Os Weasley, pela primeira vez, viram alguém conseguir fazer sua mãe ficar sem palavras.
— Tenha um ótimo dia de reflexão, Sra. Weasley — Helena sorriu falsamente. — Vamos ao caixa, Ben. Já peguei tudo o que precisamos.
— Certo, amor. — Ele seguiu a esposa com um sorriso genuíno no rosto.
— Adorei sua mãe — George comentou.
— George Weasley!
— Tive a quem puxar — Merliah respondeu orgulhosa. — Tenha um bom dia, Sra. Weasley! E George, Fred, vou querer ser uma das primeiras a ver a loja quando conseguirem um lugar.
— Claro! — concordaram.
Rony deixou o provador e franziu o cenho.
— O que rolou? Mamãe parece que vai explodir.
***
— Me lembre de nunca irritar sua mãe um dia — Therion riu, enquanto saía da Florean Fortescue com os amigos e deixando os adultos na sorveteria.
— Mamãe é legal. Ela só não leva desaforo ou aguenta calada quando vê algo que não concorda. — Deu de ombros. — Canis, você já não tem uma coruja? Por que estamos indo à loja de criaturas mágicas?
— Porque eu quero mais um bichinho — respondeu também com um sorvete em mãos.
Após uma longa e insistente conversa, Canopus conseguiu convencer Remus a deixá-lo ter mais um animal de estimação, desde que assumisse as responsabilidade de cuidar dele e realmente se esforçasse para um clima tranquilo com Sirius em casa. Ele conseguiu convencer bem ao dizer que um novo bichinho iria distraí-lo para não se preocupar tanto com Sirius.
Um pouco de manipulação, talvez, mas Remus não era bobo para não perceber. E o garoto não queria chatear o pai, então cumpriria o trato. Lua por lua, do seu jeito, mas se esforçando.
Eles adentraram a loja, e Canopus correu até um cercado com filhotes de crupe para adoção. Os pequenos cachorros agitaram os dois rabos alegremente e latiram, enquanto o garoto exibia um enorme sorriso.
Ele pegou um no colo, que logo lambeu seu rosto, fazendo-o rir alto.
— São tão bonitinhos! — Liah disse maravilhada e também pegou um, assim como Hermione.
— Remus disse que você não podia adotar um crupe — Harry lembrou.
— Mas são tão fofos — Canis disse, beijando a cabeça do filhote e aninhando-o em seus braços para acariciar os pelos delicadamente. — Eu poderia encontrar uma boa estrela ou constelação para o seu nome, hm?
— Pode dar nome de estrela para qualquer animal, Canopus, menos um crupe! — Remus disse adentrando a loja.
— Não ia ficar na sorveteria com os Stuart?
— Eu sabia que você ia tentar pegar um crupe. Sem mais cachorros em casa.
— Mas papai…
— Canopus, o acordo era você comprar um petauro de açúcar.
Canis choramingou, fazendo biquinho. Ele olhou para o filhote em seus braços, que os encarava de volta com grandes olhos escuros.
— Por favor! Olha só como são lindos.
— Muito lindos, mas você não pode levar para Hogwarts. Cachorros não são permitidos.
— Então Canis não vai mais poder estudar lá? — brincou Harry, rindo.
— Eu vou te morder na próxima vez que assumir a forma animaga.
Mesmo a contragosto, Canopus devolveu o crupe ao cercado, mas não sem antes deixar vários beijinhos no filhote. Então seguiu até um terrário com vários bichinhos pequeno, do tamanho de camundongos, com orelhas arrebitadas, um rabo peludo quase do tamanho de seu corpo e uma pele nas laterais entre as patas como a de um esquilo voador.
Sem cerimônias, o garoto abriu o terrário e colocou sua mão ali, aguardando algum deles subir. Um rapidamente escalou sua mão e o braço, curioso.
— Tenha cuidado para não escaparem, garoto! — disse a dona da loja.
— Está tudo bem — Canis disse, acariciando a pequena cabeça do animal. — Eu quero um desses.
— Parece um rato — Merliah disse. — Na última vez que um de nós teve um rato, não deu muito certo.
— Eles com certeza são legítimos petauros — garantiu e riu, fazendo carinho na barriga do animal com a ponta do dedo indicador.
O petauro farejou sua mão com curiosidade, voltando a escalar o garoto até subir em sua cabeça. Então ele saltou e voou até uma gaiola gaiola onde estava uma doninha branca, que assustou-se com o movimento repentino e ficou agitada, tentando atacar. Moveu-se tanto que a gaiola caiu no chão, e o petauro pulou e voou de novo para outro canto.
A mulher tentou alcançá-lo, enquanto Canopus se apressava até a gaiola caída e a abria, pegando a doninha com cuidado.
— Hey! Se machucou? — perguntou num tom doce, ouvindo um guincho em resposta.
Ele segurou o animal com mais cuidado, aninhando-o contra seu peito e também fazendo carinho em sua barriga exatamente como fez com o petauro. A doninha pareceu gostar bastante do carinho, o que fez o garoto sorrir.
— Cuidado, ele morde bastante.
— Ah, não me importo. Até agora ele parece tão fofo quanto os petauros e os crupes — disse e sorriu, deixando o bichinho aninhar-se em seu ombro de um jeito manhoso. — Você não vai me machucar, vai, amigo? — Acariciou o queixo da doninha.
— Você realmente parece levar jeito. Ele sempre morde os clientes.
— Papai, posso levar os dois? — pediu com um olhar suplicante que sempre funcionou quando era criança.
— Não, Canis. Apenas um.
— Por favor…
— Eu falei que você poderia adotar apenas mais um animal. Terá que escolher.
— Mas eu quero os dois.
Remus se manteve firme em sua decisão. Canopus transitou o olhar entre a doninha em seu colo e o petauro agora nas mãos da mulher.
Se pudesse, levaria todos os animais e criaturas mágicas daquela loja.
— Prometo que não falo mal do Padfoot pelo resto do ano — disse, não usando o nome de Sirius por haver testemunhas por perto.
— Esse já era o trato para um, Canis.
— Você prometeu que me deixaria ficar com o que eu quisesse.
— Apenas um. Você e Therion já tem o Hermes.
— Ele fica a maior parte do tempo no corujal.
— Quando você se formar, poderá comprar essa loja inteira se quiser, agora, nada mais. Esse foi o nosso trato.
Canopus suspirou.
Remus sabia o quanto Canis adorava animais, mas realmente não estava pronto para ter muitos em casa, além de que o filho só poderia levar um para Hogwarts além da coruja, que também é do irmão. Doía ver aqueles olhinhos suplicantes e dizer não, mas precisava se manter firme.
Ele lhe lançou o mesmo olhar quando tinha 6 anos e encontrou um cão perdido no jardim de casa e implorou para poder ficar. O animal tinha uma coleira com identificação, então precisou ver ele chorar grande parte do dia depois que o devolveram ao dono.
Também olhou do mesmo jeito quando tinha 9 anos e daquela vez ele cedeu. Encontraram uma gata choramingando aos pés de uma árvore próxima da casa deles, machucado. Canis implorou para cuidarem dele, o primeiro bichinho de estimação que realmente teve. Ele e Therion a chamaram de Remmy em homenagem ao pai.
A gata faleceu alguns meses depois, e o garoto chorou junto ao irmão por várias semanas. Foi quando Remus prometeu comprar uma coruja quando fossem ao Berço Diagonal depois de receberem suas cartas de Hogwarts. E Canopus jurou que um dia seria o melhor cuidador de animais e criaturas mágicas do mundo para nunca ficarem doentes e morrerem também.
Remus sabe que ele realmente pode se tornar um grande magizoologista algum dia.
Aquele olhar outra vez foi difícil de resistir, mas ele conseguiu, e Canis foi obrigado a escolher.
— No meu aniversário de 17 anos, quero uma maleta igual a do Newt Scamander para abrigar todas as criaturas que eu quiser.
— Presente anotado. — Remus riu.
***
Sirius estava aguardando deitado no tapete em sua forma animaga quando chegaram em casa. Ele latiu alegremente e ficou de pé, abanando o rabo.
Harry e Therion riram, e Remus fez um carinho na cabeça dele. Canopus ignorou e seguiu para o quarto agarrado a Antares, seu novo bichinho e, segundo ele, novo membro da família.
— Sentiu nossa falta, Pads?
Sirius voltou a sua forma humana e assentiu com a cabeça.
— Como foram as compras?
— Muito bem! Compramos nossos trajes a rigor — respondeu Harry animado. — E trouxemos sorvete da Fortescue.
— Sinto falta dos sorvetes do Fortescue… Alice sempre conseguia alguns de graça.
— Vai ser nossa sobremesa depois do almoço — Remus disse.
— Já preparei tudo.
— Ótimo. Comprei algumas coisas pra você também.
Os garotos subiram para guardar suas compras, e Sirius sorriu para Lupin com os olhos brilhando. Remus mantinha uma mão em seu ombro e subiu para fazer um leve carinho em sua bochecha, deixando as compras no sofá.
Black sentou-se e revirou tudo enquanto Remus guardava o sorvete. Eram roupas novas, algo que estava realmente precisando. Adorava poder usar suas velhas roupas ou pegar algumas de Lupin emprestadas — ele gostava principalmente para dormir —, mas seria ótimo vestir algo novo outra vez.
Remus conhecia muito bem todos os gostos de Sirius, então ele amou todas as roupas. Havia também algumas que claramente Lupin comprara para si mesmo, mas Black em algum momento as pegaria de qualquer forma.
— Gostou? — perguntou ao retornar.
— Sim, Moony. Obrigado! — agradeceu Sirius.
— Não comprei muitas porque, infelizmente, você não pode arriscar sair, mas…
— Está ótimo, Remus. Obrigado mesmo. — Sorriu fraco e segurou sua mão quando sentou-se ao seu lado.
— Também comprei alguns livros para você. Sei que você nunca foi um leitor tão assíduo quanto eu, Karina, Killian ou… Ou Regulus, mas achei que poderia ajudar a te distrair — explicou, citando com cuidado o nome do irmão mais novo do Black.
Sirius observou os exemplares. Não eram livros muito grandes, mas todos obras fictícias bruxas de variados gêneros: Romance, terror, mistério…
Ele sorriu fraco e beijou a bochecha de Remus.
— Obrigado. Vai ajudar, sim.
— Podemos ler algum juntos essa noite. O que acha?
— Se você ler para mim, vai ser perfeito — concordou.
— Tudo bem.
— Com toda essa história de compras para baile, eu lembrei do nosso no quinto ano.
— Ver os meninos com as roupas foi bastante nostálgico. Lembrou de quando fomos comprar nossos trajes.
— Eu procurei algumas fotos nos seus álbuns para lembrar, tiramos algumas nesse dia. Achei essa no escritório… Devíamos realmente dar uma olhada melhor nele, tem muitas coisas.
— Eu sei.
Mesmo com toda a movimentação da mudança e tendo se passado um mês que viviam ali, eles nunca entravam no escritório. Karina era quem mais usufruía dele, então o cômodo era o que mais mantinha sua essência. Sirius nunca quis mexer nele depois que ela morreu, apenas o deixou abandonado exatamente como quando ela partiu. E agora também era um grande depósito para mais coisas após a mudança, mas nunca moveu um móvel para fora do lugar.
Remus entrou lá para pegar o diário sabendo onde ela sempre o guardava junto aos óculos para Canis. Também não se permitia revirar tudo mesmo após tantos anos.
Sirius ficou por lá um tempo com os álbuns de Remus enquanto estavam fora. Trouxe um pouco de conforto e o fez se sentir menos solitário.
Lupin encarou a foto que ele mostrava. Estavam os dois juntos de outros amigos e seus pares do baile — exceto de James e Dorcas, porque eles não levaram ninguém, e Lily… Porque ninguém gostava do seu par —, todos vestidos com roupas formais.
James sorria alegremente como sempre ao lado de Sirius e Regulus, este que estava bastante tímido e corado na imagem que se movimentava, os cachos de seus cabelos um belo caos. Remus estava ao lado de Sirius junto de Karina, que usava um belo vestido vermelho e tinha o braço enlaçado ao seu; Killian abraçava seus ombros por trás após pular em suas costas. Peter tímido ao canto, ao lado de seu par, uma lufana chamada Cassandra; Marlene, par de Sirius, estava nas costas dele, rindo; Hadria, par de Regulus, ao lado dele sorrindo genuinamente como raramente fazia com as cicatrizes na clavícula e pescoço visíveis pelo decote do vestido verde; Dorcas, Mary e Lily de joelhos em frente a Sirius e Marlene, sem se importarem em sujar o vestido na grama; Frank e Alice abraçados; Pandora e Xenofílio de mãos dadas com vestes muito coloridas.
Aquele foi realmente um dia memorável, assim como aquela foto. Muitos entre eles mal se falavam, mas todos eles se juntaram para aquela foto. Remus mal se lembrava de tê-la tirado.
Quase todos fizeram parte da Ordem da Fênix anos depois. Três tornaram-se Comensais da Morte. Mais da metade estavam mortos atualmente, outros estavam espalhados pelo mundo.
— Vou mostrar para os meninos — Sirius disse. — Acho que vão gostar de saber sobre nosso baile.
— Vão sim. Quase não lembrava dessa foto.
— Rolou uma grande briga porque a cada minuto entrava mais pessoas para a foto — riu.
— Eu lembro disso. No fim, conseguimos tirar, não sabíamos se teríamos outro baile para registrar.
— Minhas costas ficaram doendo por causa da Marlene.
Remus riu nostálgico. Lembrava dos resmungos de Sirius sobre a amiga quando voltaram ao dormitório.
— Sinto falta dela também — lamentou.
— Eu sei… Também sinto — Remus suspirou.
— Peter levou uma Comensal da Morte pro baile. Devíamos ter considerado.
— Sirius, realmente não tínhamos como saber. Peter soube mentir muito bem para todos nós.
Sirius resolver esquecer isso. Pensar em Peter o fazia querer sair daquela casa para esganar aquele rato por tudo que o fez perder.
— Não sei porque a chata da Hadria está na foto também.
— Seu irmão a convidou.
— Regulus só convidou ela por pressão dos nossos pais porque era uma das pretendentes que queriam arranjar casamento por tecnicamente já ser da família.
— Você nunca gostou dela mesmo, não é? Ela era boa pessoa.
— Odiava ter que aturar ela nos grandes jantares e reuniões de família. Ela só não é pior que o irmão.
— Ela foi deserdada.
— Ainda era insuportável. Não sei porquê defende.
E nunca saberá, pensou Remus. Era realmente maravilhoso Sirius não ter aprendido legilimencia.
— E eu ainda não acredito que você levou a Karina pro baile.
— Ela quem me convidou.
— Logo depois de recusar meu convite. Tenho certeza que foi uma afronta.
— Você se divertiu com a Marlene.
— Até ela me trocar pela Dorcas. E James e Regulus desapareceram logo depois por quase uma hora e nunca quiseram falar pra onde. Não foi fácil conseguir ficar perto de você. Me senti traído.
Remus sorriu nostálgico.
— Mas conseguiu, e Karina ainda aceitou uma dança com você. Foi um ótimo baile. E tiramos a foto depois.
— Espero que os meninos tirem fotos do baile deles. Vou querer ver todas e ouvir tudo sobre depois — Sirius disse.
— Ainda vai praticar com Therion hoje?
— Talvez mais tarde. Ele conseguiu ver lembranças minhas... De casa, do Regulus quando era pequeno... Preciso me esforçar mais para bloquear essas.
Remus suspirou, apertando a mão de Sirius.
— Não quero que ele acabe vendo o que meus pais faziam.
— Ele já sabe, vai entender.
— Eu sei, mas... Não é algo que eu quero que ele veja, entende? As piores partes...
— Faz tempo que você não precisa usar tanto de oclumência. Só está um pouco enferrujado — Lupin o tranquilizou e beijou sua bochecha. — Vamos guardar tudo isso.
Sirius concordou, e eles subiram com as compras.
Depois de acomodar Antares, Canopus rapidamente seguiu para seu guarda-roupa e retirou um terno preto de lá enquanto Therion estava no quarto de Harry. Começou a revirar todos os bolsos, tentando encontrar o que Draco tanto queria.
Bufou frustrado ao não encontrar nada a vista. Pegou sua varinha e começou a scanear com alguns feitiços, até revelar um bolso interno fechado com magia.
Sorriu de lado ao conseguir retirar uma jóia de lar. Era um medalhão de prata com um brasão com a grande M entalhado com dois dragões nas laterais e duas serpentes entrelaçadas no topo. Havia uma frase em latim inscrita. Um lema de família.
Sanctimonia Vincet Semper.
Pureza Sempre Conquistará.
Era o brasão dos Malfoy. Provavelmente, uma antiga relíquia de família, por isso Draco a queria tanto de volta.
Mas por que andar com uma relíquia de família num bolso escondido de um terno?
Canopus perguntaria depois, mas ele tinha certeza de que já havia visto aquele medalhão antes. Nunca vira Draco usá-lo, mas ele lhe era vagamente familiar.
— O que acha, Antares? Já viu um desses, hm? — disse analisando o objeto. Ouviu Hermes piar alto do poleiro. — Não fique com ciúmes, Hermes. Ainda te amo. Antares é seu novo amigo.
Ele acabou por guardar o medalhão de volta no terno e levou a peça para o armário. Resolveria aquilo depois, havia algo mais importante a fazer.
Não muito depois, estavam todos reunido para o almoço.
— Tenho uma péssima notícia — Canopus falou e bebeu um gole de suco de abóbora. — Os autores vão fazer uma batida aqui em casa amanhã.
— O quê?! — Remus arregalou os olhos assustado.
— Malfoy me avisou. Ele tinha me avisado dos Comensais na Copa, mas eu não quis acreditar, então não vamos cometer o mesmo erro duas vezes — disse. — Então, Sirius, como você não vai encontrar outro esconderijo, vamos te entupir de Polissuco e inventar a maior mentira já contada na História. Pronto para adicionar um crime real a sua ficha e brincar com o Ministério?
Canopus arqueou a sobrancelha. Sirius congelou e engoliu em seco, processando a informação. Tudo poderia dar muito errado agora, mas ele percebeu o tom de desafio e o olhar do filho. Era a primeira vez que olhava diretamente para ele naquela semana depois de tudo o que houve.
Ele não iria embora. Não iria fugir disso e abandoná-los de novo, por mais apavorado que estivesse de que desse errado.
— Remus já me disse todas as histórias que você já inventou para fugir de encrencas, Canis... — começou, encarando o garoto e sorrindo fraco. — E não foi da sua mãe que você herdou essa habilidade. Qual seu plano?
————————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Demorei, mas voltei! Muitas comprinhas, momentos de casais... Um ótimo e enorme capítulo!
Vem encontro de Deerwolf no cinema no próximo capítulo! Será que sai beijinho durante o filme? Rsrsrs 🤭🤭
Aceito sugestões de filmes lançados em 1994 para eles assistirem.
Sobre Antares: Eu ainda não decidi se será uma doninha ou petauro de açúcar. Fiquei muito em dúvida, então deixo nas mãos de vocês nos comentários!
Será que vai dar ruim a batida do Ministério? 👀👀
Não esqueçam de comentar!
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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