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XL. Fear and despair

Remus esperava que com a ausência de Sirius ali e a cobertura de Tonks estariam livres para que ele pudesse levar seus filhos para terem os cuidados médicos necessários e ficarem seguros. Porém, estava muito enganado.

— Quem de vocês conjurou a Marca?! — Bartholomew Crouch chegou e perguntou alterado. — QUEM?!

— Ninguém, Sr. Crouch — Lyall disse.

— A Marca foi lançada dessa região. Quem foi?!

— Certamente foi Sirius Black, Sr. Crouch. Aqueles gêmeos são filhos dele, não são? — disse um auror. — Testemunhas afirmaram que o viram com um garoto. Um deles, provavelmente.

— Sirius não esteve aqui — Remus disse firme.

— Black ser avistado no mesmo local que seus filhos e a Marca ser conjurada exatamente onde estão não foi coincidência. Vocês são cúmplices, admitam! Onde está seu pai?

Os gêmeos permaneceram calados, de cara fechada, ambos agarrados a Remus. Canis pensou em dizer algo, sim, mas Therion apertou sua mão com força antes que falasse algo que os deixariam mais encrencados.

— Sr. Crouch, a última vez que esses meninos devem ter visto o pai nem sabiam falar — Arthur disse. — Somente Comensais sabiam conjurar a Marca. Crianças nunca conseguiriam tal feito!

— Nós ouvimos uma voz — Harry declarou. — Tinha alguém por perto.

— A voz disse o encantamento de conjuração da Marca — complementou Six. — M-mos… Morsmordre.

— E você me parece muito bem informado sobre as palavras que conjuram a Marca — Crouch disse ao garoto.

— Eu acabei de ouvir. Precisamos repetir? Ouvimos alguém dizer.

— A voz de Sirius Black?

— Não — Therion quem disse. — Não era a voz dele.

— E como sabe se supostamente não vê seu pai desde a prisão, garoto?

— Ele invadiu Hogwarts ano passado, caso não saiba ainda — Canis disse, a voz rouca e fraca. — Temos o desprazer de conhecer a voz dele.

— Eu estudei com Sirius… Não era a voz dele. Meus filhos não tiveram nada a ver com isso.

— Além de que é necessário uma varinha para conjurar a Marca. A varinha de Black ainda está sob posse do Ministério — Lyall completou. — Ainda acho que é apenas histeria coletiva por toda a confusão. Ele não escaparia tão facilmente com tantas testemunhas.

— Algum deles pode ter emprestado a própria varinha para Black — teorizou um auror.

— Claro! Eles foram pegos na cena do crime! — Crouch exclamou. — Para o azar de vocês, podemos verificar o último feitiço feito por uma varinha. Entreguem suas varinhas!

— Crouch! São apenas crianças! — Lyall tentou intervir.

— Eles não fizeram nada, então não há o que temer, Lyall. Vamos acabar com as dúvidas de uma vez! — disse Amos Diggory, que também estava ali.

— Primeiro a dele. É o filho de Lucius Malfoy, é muito mais suspeito que Harry! — disse Weasley apontando para Draco.

Draco cerrou os punhos, encarando o homem ruivo com raiva. Amos aproximou-se, e ele afastou-se rapidamente.

— Eu não fiz nada!

— Então nos deixe comprovar.

Malfoy permaneceu com uma expressão séria e raivosa em seu rosto. Encarou Diggory e depois passou seus olhos pelos outros, parando em Canopus. Então entregou sua varinha a contragosto, ainda mantendo a de Canis escondida consigo para que não a vissem.

Amos encostou a ponta de sua varinha com a de Draco.

Priori Incantato — disse.

Filetes pequenos e finos de ataduras saíram da ponta da varinha. Não igual a quando estava cuidando de Canopus, apenas a sombra de um feitiço utilizado.

— Feitiço de ataduras? — Weasley franziu o cenho.

— Acho que está precisando guardar dinheiro para comprar óculos, Weasley — Malfoy retrucou ríspido. — Black… Canopus Black está gravemente ferido e eu o ajudei.

— Desencargo de consciência? — murmurou Harry, recebendo um olhar mortal logo em seguida.

Em seguida, Harry entregou sua varinha, sem medo. Não havia o que esconder.

— Estuporante?

— Eu estava tentando me defender — justificou-se. — Tinham vários Comensais por perto. Um bruxo veio me ajudar e pensei que fosse um.

— É um feitiço demasiado avançado para sua idade, garoto.

— Amos, está falando com Harry Potter! Ele sobreviveu a uma Maldição da Morte, fazer um feitiço estuporante não é nada — Arthur o defendeu.

A próxima varinha a ser analisada foi a de Therion, que causou ainda mais estranheza.

— Quem você obliviou? — Crouch indagou severamente.

— Um Comensal… — Therion murmurou em resposta.

— Para encobrir seus rastros como cúmplice do seu pai?!

— Ele viria para cima de mim! — defendeu-se.

— Um feitiço de memória não é uma forma comum de se defender, garoto — disse Amos.

— E-eu… Eu não estava pensando direito. Foi muito rápido.

— Você apagou toda a memória do único Comensal que conseguimos capturar? Conveniente — disse um auror.

— Ele ia apagar a minha! — retrucou rapidamente, em seguida franzindo o cenho com a própria frase. Ele não tinha ideia de como sabia que essa era a intenção do Comensal.

— Quem te ensinou esse feitiço?

— Ninguém… Só lancei… Não pensei bem. Só ouvi o Professor Lockhart falar dela.

Claro que ele ocultou a parte em que Lockhart tentou obliviar a ele e seus amigos e acabou o fazendo consigo mesmo.

Todos olharam desconfiados para o jovem Black, que encolheu-se nos braços do pai. Harry ficou ao seu lado protetoramente, segurando sua mão com força e olhando frustrado e irritado para os agentes do Ministério.

— A sua, garoto — Amos estendeu a mão para Canopus.

— Eu…

— Ele perdeu — Draco falou, antes que Canis dissesse qualquer coisa. O Black o encarou imediatamente.

Seus olhares se encontraram. Canopus encarou-o levemente desconfiado, mas não o contrariou. Malfoy permaneceu com a varinha escondida .

— Perdeu? — um auror arqueou a sobrancelha.

Perdi — confirmou. — Comensais me atacaram, e deixei a varinha cair. Foi quando encontrei Malfoy e viemos para cá.

— E não pensou em recuperar sua própria varinha? — Crouch indagou.

— Pense e faça essa pergunta novamente quando estiver com a porra de um pé quebrado, queimaduras e morrendo de dor enquanto tem vários Comensais tentando te matar — retrucou entredentes, irritado, mas com a voz ainda baixa.

— Esse não é maneira de falar com oficiais do Ministério, jovem Black.

— Fazer perguntas imbecis para garotos inocentes e feridos que acabam de serem atacados por vários assassinos não é uma atitude legal para agentes do Ministério. — Rebateu e em seguida grunhiu de dor, tremendo e apertando o terno sobre o corpo numa mínima tentativa de combater o frio em seu corpo.

— Não o culpe por suas palavras, Sr. Crouch — Lyall disse, parado protetoramente a frente dos netos e do filho. — Como ele mesmo disse, está ferido. Ele está assustado e ardendo em febre, não tem filtro no que diz.

Draco se conteve para não comentar que Canopus naturalmente já não possuía filtro para suas palavras.

— Eu os criei, conheço meus filhos — Remus interviu. — Eles não possuem nenhum contato com Sirius. Estão feridos e assustados depois de serem atacados pelas pessoas que destruíram nossa família anos atrás, precisando urgentemente de um medibruxo e não de um interrogatório sem fundamento.

— São crias de Sirius Black!

— Eu os adotei, eles são meus filhos — retrucou num tom firme. — E se irão acusá-los de algum crime, espero uma intimação oficial do Ministério em vez de uma abordagem completamente desnecessária e desrespeitosa contra crianças feridas e com sono no meio da madrugada em um ataque!

— Meu filho está com os nervos à flor da pele devido a situação, mas não está de todo errado — Lyall complementou. — São apenas crianças que estão machucadas. Deveríamos rondar o perímetro em busca de algo, não interrogá-los!

— Ele está certo — Arthur concordou. — Já verificamos as varinhas e acho que podemos concluir que eles não conjuraram a Marca. Vamos investigar os arredores.

— A essa altura quem quer que seja já fugiu com essa enrolação pra nos acusar injustamente — Six comentou baixo.

— Rondem os arredores. Algo pode ter passado! — um auror ordenou aos outros.

Os aurores adentraram a floresta e até mesmo Arthur e Amos foram verificar. Remus suspirou e preocupou-se agora apenas no estado febril dos filhos e em torcer internamente para que Sirius já estivesse longe.

— Esperem! Achei algo aqui e… Por Merlin! — exclamou Diggory.

— Quem é?! — Crouch questionou imediatamente.

Passos e gravetos se quebrando foram ouvidos. Logo Amos surgiu de detrás das árvores arrastando um ser minúsculo vestindo o que parecia mais panos velhos que roupas propriamente ditas, jogando-a no chão.

Harry ofegou, reconhecendo o ser. Era o mesmo elfo que viu no camarote.

— M-meu senhor…

— Winky?! Não… Isso não pode ser… — Crouch murmurou transtornado e marchou para a floresta.

— Não há mais nada, Crouch! — disse Amos.

O Sr. Crouch não pareceu nem um pouco satisfeito e retornou frustrado e furioso junto a alguns aurores.

— Deve ser meio embaraçoso… O elfo doméstico do Barthy Crouch na cena do crime.

— Você  está mesmo acreditando que foi o elfo, Amos? — perguntou Arthur. — Um elfo não pode conjurar a Marca, é um símbolo bruxo! Precisaria de uma varinha!

— Bom… O garoto Black ali perdeu a sua, não? — respondeu. — Elfo, eu sou do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Você foi encontrada logo abaixo de onde a Marca do Lorde das Trevas foi conjurada. Explique-se!

— Eu... Eu… E-eu não estou fazendo isso, meu senhor! — Winky respondeu, trêmula e assustada.

— Um desses garotos perdeu a varinha. Você esteve com essa varinha?

O silêncio reverberou pelo local.

— Responda, elfo! E não ouse mentir!

— Amos, acalme-se! — Lyall exclamou. — Está deixando ela ainda mais nervosa.

— Responda a pergunta, Winky!

— Eu vi uma varinha, tentei pegar, mas…

— Então assume seu crime? Seres não-bruxos são proibidos de usar varinhas!

— Eu não fiz mágica com ela, meu senhor! Eu avi, mas… M-Mas alguém pegou antes!

— Quem?!

A elfa não respondeu, apenas olhou ao redor com seus grandes olhos. Draco ficou parado nas sombras da árvore atrás de Canopus, as mãos despretensiosamente às suas costas, observando a cena atentamente longe das vistas do elfo.

— E-eu… Eu não sei quem era, meu senhor!

— Não minta! Você pegou a varinha e conjurou a Marca. Onde está a varinha?

— Amos – disse o Sr. Weasley em voz alta — Pense um pouco. Pouquíssimos bruxos sabem fazer esse feitiço… Onde ela o teria aprendido?

— Talvez Amos esteja insinuando — disse o Sr. Crouch. — que eu rotineiramente ensino meus criados a conjurar a Marca?

— Não, senhor! Nunca ousaria acusá-lo dessa maneira!

— Espero que se lembre das muitas provas que tenho dado durante a minha longa carreira de que desprezo e detesto as Artes das Trevas e aqueles que a praticam! — vociferou. — Se acusa o meu elfo, está acusando a mim!

— Mas então ela deve ter estado a poucos passos do verdadeiro responsável! Você viu quem foi?

Winky olhou nervosamente de Diggory para Crouch.

— N-ninguém… Não vi ninguém, meu senhor!

— Amos, Lyall — disse o Sr. Crouch secamente — Estou muito consciente de que normalmente vocês iriam querer levar Winky para interrogatório no seu departamento. Mas peço-lhes que me deixem cuidar dela.

— Como preferir, Crouch — Lyall respondeu. — Agora, meus netos precisam imediatamente de um medibruxo. Então, iremos agora mesmo.

— Pai, os Comensais…

— Eles começaram a fugir após a Marca.

— Os medibruxos estão dispostos próximo ao estádio — Tonks informou. — E você, Six, vamos até seu pai. Ele está surtando por não te encontrar.

— Eu estava procurando por ele! Os Comensais iriam matá-lo! Ele está bem?

— Está, mas essa confusão deixou a cabeça dele explodindo. Sua irmã não parava de chorar também — respondeu. Ela voltou-se para Draco. — Malfoy, certo?

— Sim — respondeu.

— Venha comigo, vou te levar até sua mãe.

— Posso muito bem ir sozinho.

— Sou auror e tecnicamente da família, então você vem comigo. Isso vai ser interessante.

Draco suspirou e caminhou até a auror, a contragosto. Ele virou o rosto na direção dos Black, encontrando os olhos de Canopus por alguns instantes antes de seguir seu caminho e se deixar ser guiado até sua mãe.

— Ele ainda está com a minha varinha — Canopus sussurrou.

— Ele poderá devolver depois — Remus respondeu no mesmo tom. — Você e seu irmão precisam dos medibruxos agora. Vamos!

Remus carregou Canopus em seu colo, e Lyall carregou Therion em suas costas, pois também estava fraco e febril como o irmão. Eles seguiram para o local onde os medibruxos da Copa fizeram uma pequena instalação de emergência para cuidar dos feridos. Harry e Arthur foram logo atrás.

A família Weasley já estava lá, junto de Merliah, que estava sendo cuidada por um medibruxo.

— Liah, graças a Merlin você está bem! — Remus suspirou aliviado. — Aconteceu algo muito grave?

— Só um tornozelo torcido, que já está magicamente curado. E também me queimei — respondeu, com o braço erguido onde o medibruxo passava uma pomada nas queimaduras. Ela tossiu e espirrou. — Não preciso comentar que essa fumaça não faz nada bem a pessoas com rinite. Mas adorei a praticidade das curas mágicas. Quero me tornar medibruxa!

Remus riu baixo, aliviado. Ao menos, com a garota, sua preocupação já havia cessado. Deixou Canopus em uma maca ao lado e o medibruxo começou a atendê-lo assim que terminou com ela e outro veio atender Therion.

— Onde está… Anthony? — Merliah perguntou, por pouco não o chamando de Sirius.

— Conseguiu escapar e está seguro… Por enquanto — Remus respondeu. — Você ficou muito tempo perdida?

— É um pouco difícil medir tempo quando se está numa confusão assim… Talvez um pouco. Eu estava tentando lembrar algum feitiço que pudesse me ajudar depois que torci meu tornozelo, mas aí meu anjo da guarda resolveu enviar um salvador — ela respondeu e apontou na direção dos gêmeos Weasley. As orelhas de George ficaram vermelhas, e ele coçou a nuca, sorrindo timidamente. — Fugi para a floresta com eles e a Ginny. Rony e Hermione nos encontraram depois.

— Nós vimos a Marca — Hermione murmurou, de pé ao lado de Rony, que abraçava a irmã mais nova. — Eram mesmo os seguidores do… Você-Sabe-Quem?

— Eram — Arthur confirmou. — Capturamos um, mas duvido que será de grande ajuda já que foi obliviado.

— O importante é que estamos todos bem — Lyall disse.

Remus concordou com a cabeça, parado entre os filhos.

— Bem na medida do possível — murmurou o medibruxo cuidando de Canis. — Sorte desse garoto que a temperatura está paralisada e não aumentou ainda mais. Já está com 40 graus de febre! Nem sei como ainda está acordado.

— Um dragão não me deixou dormir — Canopus riu.

— Delirando um pouco, mas acordado. É um sinal positivo. Ele vai ficar bem. Talvez não tivesse tanta sorte se tivesse perdido a consciência e aumentado a febre.

— Ele não está delirando tanto — Therion falou, baixo. — Agora você está quite com ele, Canis.

— Cala a boca, Therry — Canopus resmungou, mas esticou a mão na direção do irmão.

Therion riu baixo e segurou a mão dele.

***

Por uma grande sorte, as barracas dos Lupin não foram totalmente destruídas. Remus agradeceu mentalmente a James, que, quando foram comprar a barraca maior, encheu-a de feitiços de proteção e fez questão de comprar uma feita de tecidos mágicos à prova de fogo.

Os gêmeos e Merliah dormiram ali por mais algumas horas no restante da noite. Harry relutou muito, insistindo em ficar ao lado de Therion, mas acabou cedendo ao sono sem nem perceber, e Remus o levou para o quarto.

Com todos dormindo, Remus suspirou exausto e desabou em lágrimas nos braços do pai. Lyall o consolou e o acolheu. 

Não conseguia parar de pensar em Sirius, novamente fugindo sem rumo. Pensou em Killian, que depois de anos descobriu ainda estar vivo e claramente magoado por tudo o que houve. Pensou no desespero da busca pelos filhos. Pensou na volta dos Comensais e em tudo que poderia significar, a possibilidade do retorno de seus piores pesadelos e a guerra que pensaram ter definitivamente acabado.

Remus estava exausto e confuso. Enquanto chorava, acabou dormindo. Quando acordou ao amanhecer, seu pai já estava preparando tudo para a partida deles.

— Eles acordaram?

— Ainda não… Mas Sirius voltou — Lyall respondeu.

— O quê?

— Ele voltou quando o Sol nasceu, na forma de cachorro.

— Onde ele está?

— Foi ver os garotos.

Remus correu sem nem esperar o pai dizer algo. Procurou com Harry, depois Canopus e, por fim, encontrou Sirius sentado no chão, em forma humana, ao lado da cama de Therion acariciando os cabelos do garoto.

— Sirius!

Lupin desmoronou de joelhos ao lado dele e o abraçou. Sirius retribuiu, sem dizer nada.

— Você está bem?

— Fisicamente, estou — Sirius respondeu sussurrando enquanto Remus segurava seu rosto. — Fale baixo. Theo ainda está dormindo.

— Pensei que já estivesse longe — Remus sussurrou.

— Eu fiquei escondido e voltei quando achei seguro. Não vou embora de novo… Não vou abandonar eles, Moony.

— Com o ataque dos Comensais, os aurores irão reforçar ainda mais as buscas por você. Eles te viram, sabe que está na Inglaterra.

— Enquanto ninguém mais souber que sou animago, estarei seguro. E nosso pequeno pocionista em ascensão fez um ótimo trabalho com meu disfarce — Sirius disse e sorriu fraco, voltando os olhos para Therion. — Vamos conseguir passar por isso.

— Aliás, você tem muito o que me explicar sobre essa noite. Usar conexão gemelar para encontrar o Canis, o que Therion estava sentindo…

— Acho que não preciso explicar, Remus. Theo… — Sirius voltou a acariciar os cabelos do filho com carinho. — Regulus… Não tinha certeza do quanto ele seria como Regulus…

— Ele nunca ficou daquele jeito, Sirius.

— Porque não tinha se desenvolvido tanto até então… Nem teve gatilhos emocionais que a gente percebesse. Ele estava muito mal, com medo… Nossa magia sempre fica instável quando estamos abalados, e isso era doloroso pra ele. Regulus sempre sentia dor quando estava com medo e rodeado de pessoas… — Os olhos de Sirius ficaram marejados. — Eu me lembrei do Regulus. Mesmo que tenham me visto ontem… Não me arrependo de ter ajudado ele. Ele sempre contava comigo quando estava com medo…

Remus suspirou, abraçando Sirius de lado enquanto ele não tirava os olhos de Therion. Os olhos do Black encaravam o filho com imenso carinho e melancolia. Não disseram mais nada.

Therion se remexeu na cama, apertando o cobertor contra o corpo.

— Papai… — ele murmurou baixo, com os olhos semicerrados completamente grogue de sono e poção para febre.

— Oi, Therry — Remus sussurrou.

— Estou aqui, Reggie… — Sirius disse em seguida.

Remus tocou o rosto do filho e suspirou aliviado.

— Já está sem febre. Vamos para casa, está bem?

O garoto resmungou sonolento, coçando os olhos. Abriu-os e encarou Sirius.

— Você voltou…

— Sempre vou voltar — Sirius garantiu.

— Vou ver como Canis está e acordar os outros.

— Eu fico aqui com ele.

Remus assentiu e ficou de pé.

Ele seguiu até Canopus e sentou-se ao lado dele. Tocou primeiramente seu rosto, constatando que também já estava sem febre. Acordou-o com cuidado, ajudando-o a sentar-se na cama em seguida.

O pé estava em uma bota ortopédica, as muletas ao lado da cama. As queimaduras cicatrizaram bem durante a noite, já imperceptíveis. Parecia bem, o que deixava Remus muito mais tranquilo.

— Precisa de ajuda para se trocar? — perguntou.

— Eu consigo sozinho.

— Chama se precisar.

O garoto assentiu. Lupin então partiu para Harry e Merliah, que acordaram rapidamente. Depois, ele próprio trocou de roupa, pois ainda vestia as mesmas da confusão, que cheiravam a fumaça.

Encontrou Sirius bebendo a Poção Polissuco, também já trocado de roupa.

— Theo ainda tinha um pouco com ele — explicou depois que a transformação estava completa. — Vai durar até chegarmos em casa.

— Nem pensamos na poção antes de fugir… Eu deveria ter te lembrado.

— Não se culpe, Remus. Nenhum de nós estava pensando bem. Eu vou conseguir despistar o Ministério outra vez.

— Com sorte, podemos conseguir firmar a teoria de confusão e histeria — Lyall disse. — Em meio a tanta confusão e com Sirius em todos os jornais há um ano, é possível dizer que foi apenas ilusão. Ninguém chegou a ficar cara a cara com ele de fato.

— Não vai conseguir colocar isso na cabeça dos aurores, pai.

— A dúvida sendo implantada já é um bom começo. Vou fazer o que estiver ao meu alcance para ajudar a desviar a atenção.

— Muito obrigado, Lyall — Sirius agradeceu, sincero.

Logo os gêmeos apareceram junto de Harry e Liah. Potter correu para abraçar Sirius, que retribuiu rapidamente e o tranquilizou, dizendo que estava tudo bem.

— Por que você voltou? Devia ter ficado longe — Canopus disse.

— Eu não posso ficar longe de vocês. E ninguém me viu, está tudo bem agora.

— Acho que subestimei sua estupidez.

— Canis, só vamos para casa — Therion disse. — Lá conversamos sobre o quão seguro pode ser para Sirius continuar por perto ou não.

— Não precisa pensar muito para se obter uma resposta.

— Vamos pra casa — Remus disse firme.

Eles desarmaram tudo e saíram do acampamento. Encontraram os Weasley na saída, todos parecendo um pouco melhores e recuperados, embora visivelmente abalados e com sequelas. Um dos garotos mais velhos, Bill, estava com um braço enfaixado numa tipóia, e Charlie também estava de muletas.

Havia uma enorme multidão de bruxos próximo ao ponto das chaves de portal, todos ansiosos para voltar para casa. Arthur e Lyall foram conversar com o guardião das chaves para conseguirem voltar o mais rápido possível.

Remus olhou ao redor, em meio aos numerosos bruxos, com receio de encontrar Killian novamente. Não havia sinal dele, mas isso não o tranquilizava em relação a ele.

Logo eles conseguiram uma chave de portal de volta para a mesma colina de onde partiram. Atravessaram o povoado até chegarem aos terrenos da família Weasley, onde Molly aguardava ansiosamente.

Ela pulou nos braços do marido ao se aproximarem, em seguida abraçando seus gêmeos, que ficaram surpresos com a atitude.

— Mamãe… Está nos sufocando… — Fred resmungou.

Todos adentraram a casa dos Weasley. Molly surtava de preocupação com os dois mais velhos, que tentavam acalmá-la, enquanto Arthur pegava o exemplar do Profeta Diário.

— Rita Skeeter já começou a com a falácia.

— Acho que teremos que encerrar nossas férias mais cedo, Arthur— Lyall suspirou.

Lyall, Arthur e Percy Weasley foram para o Ministério. Remus retornou logo para casa pela lareira com todos.

Canopus foi o primeiro a rapidamente ir até a escada, enquanto Remus dizia para ir mais devagar. Therion ajudou o irmão a subir, e Merliah foi até o telefone ligar para sua casa.

Lupin e Black preparam algo para comerem e arrumaram a mesa. Quando todos estavam reunidos, Remus pegou o Profeta Diário para ler a manchete.

Uma foto da Marca das Trevas estampava o jornal e a matéria escrita por Rita Skeeter.

TERROR NA COPA MUNDIAL DE QUADRIBOL

Uma grande desgraça nacional assola um dos maiores eventos esportivos da Comunidade Bruxa.

A segurança ineficaz do Ministério da Magia permitiu que bruxos das trevas, seguidores Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, causassem terror entre inocentes famílias bruxas durante a Copa Mundial. Responsáveis, até então, seguem livres para nos aterrorizar novamente.

Testemunhas e fontes confiáveis afirmam com total certeza que Sirius Black, notável assassino foragido há mais de um ano e seguidor fiel do Lorde das Trevas, teria sido avistado entre os criminosos atacando jovens bruxos inocentes e seria uma das grandes mentes por trás dessa tragédia.

O Ministério da Magia não apenas se mostrou ineficaz em recapturar Black, como também permitiu que os filhos do criminoso mais procurado do país aproveitassem o Camarote de Honra do Ministro durante o evento. É de se questionar se ceder tais privilégios a estas proles das trevas não teria cooperado para a terrível tragédia.

Com exclusividade, podemos afirma que o único responsável capturado pelos aurores teria sido, convenientemente, obliviado por uma das crias de Black numa suposta defesa contra um ataque, impossibilitando que oferecesse quaisquer detalhes sobre os planos para o ocorrido. Um feitiço desse calibre é deveras avançado para crianças, contudo, é de se esperar que estas estejam aliadas ao pai e o protegendo, e ele está treinando-os furtivamente para as Artes das Trevas.

Ou então, devemos questionar os tipos de ensinamentos que nossos jovens bruxos andam recebendo em Hogwarts durante a diretoria de Albus Dumbledore?

O artigo continuava com mais acusações e questionamentos ao Ministério. As mãos de Remus apertaram o papel com tanta força que o amassou.

Sempre detestou os artigos tendenciosos de Rita Skeeter. Agora, aquela mulher acusava seus filhos e os chamava de "prole das trevas"?

— Vou mandar um dos fogos de artifício que compramos para o escritório dessa mulher no Profeta Diário — Therion resmungou irritado.

— Melhor explodir o prédio inteiro — Canopus falou. — Eu nunca me aliaria às Artes das Trevas. Esses caras mataram a minha mãe! Acham mesmo que eu me submeteria a isso?

— Acusam vocês injustamente e ainda questionam Dumbledore? E se diz jornalista?! — Harry disse indignado.

— Como ela teve sabe que Therry e Canis estavam justamente no Camarote de Honra? E que Therry obliviou um Comensal? — Liah questionou.

— Rita Skeeter sempre teve seus meios misteriosos de conseguir informações sigilosas. Desde a Guerra, os artigos dela sempre foram tendenciosos nesse nível — Sirius disse.

— Agora que ninguém vai nos deixar em paz mesmo quando voltarmos pra escola — Canopus resmungou, bebendo um gole de suco de abóbora. — É melhor já procurar um novo esconderijo, Sirius.

— Não vamos ser precipitados, Canis — Remus disse.

— Acha mesmo que nenhum auror vai vir aqui em casa depois disso? É óbvio que vão fazer uma batida procurando por ele e fazendo um interrogatório. Isso se não enviarem uma intimação para irmos até o Ministério ou pior!

— Eles não possuem prova alguma de que nós mantemos contato com Sirius. O melhor a se fazer é que ele continue escondido e não saia de casa em nenhum momento.

— Papai, o que mais vamos fazer? É certo que pelo menos uma visita do Ministério teremos — Therion indagou. — Ainda tem Polissuco no meu quarto, e eu posso preparar mais, mas estamos em risco.

— Vamos enviar uma carta para Andrômeda — Sirius disse.

Remus voltou os olhos para ele.

— Aquela auror que me deixou fugir era a Nymphadora, a filha dela. Ela pode ajudar… Ela disse que Andrômeda acredita em mim.

— Quem é Andrômeda? — Harry perguntou.

— Minha prima.

— Pedir ajuda a uma Black? Que ótima ideia! — Canopus retrucou irônico. — Que outro parente supremacista vivo temos que podemos chamar? Um tio distante? Ah, melhor! Que tal a nossa avó que quase nos criou?

— Ela não é como o resto da família. Andrômeda não acredita mais na ideologia purista. Ela foi deserdada quando se casou com um nascido-trouxa — explicou. — Se ela realmente acredita na minha inocência… Eu confio nela. Pode ajudar. Por segurança, é melhor você enviar a carta, Remmy…

— Ótimo. Pode ir se esconder na casa dela então.

— Canopus, por favor…

— Não, pai. Aceitamos deixar ele aqui até tudo ficar perigoso, certo? Então, agora está mais do que na hora de ele partir de novo. É o que ele faz de melhor, não é?

Sirius encolheu os ombros, respirando fundo.

— Eu não quero deixar vocês...

— Você já fez isso antes, lembra? Não pareceu tão difícil.

— Eu precisei ir, mas nunca tive a intenção de ficar tanto tempo longe.

— Agora está de volta e todos nós estamos em perigo porque te viram. O Ministério vai ficar de olhos em nós! Então, você precisa ir de novo — Canis insistiu.

— Nós temos que ajudar o Sirius! Não podemos simplesmente expulsar ele — Harry disse.

— Sirius não vai embora enquanto pudermos manter tudo sob controle — Remus disse.

— Enquanto não somos presos junto com ele, o senhor quer dizer?

— Canopus, eu sei que não está confortável em me ter aqui — Sirius disse. — Mas estou aqui por vocês. Vamos resolver isso. Eu não quero e nem viu abandonar vocês de novo.

— Não é como se não esperássemos por isso, Sirius.

O garoto ficou de pé e pegou seu prato, rumando para a escada com apenas uma das muletas na outra mão.

— Canopus, volte aqui! — Remus chamou.

— Estou cansado. Vou para o quarto.

— Canopus, eu estou mandando!

— NÃO! — gritou.

Sirius pulou para trás quando seu café explodiu e o encharcou. Grunhiu por estar muito quente, mas manteve os olhos na direção do filho.

— Canopus, fique calmo — pediu.

— Calmo? Isso era fácil antes de você acabar com tudo!

— Eu só...

— Eu te disse uma vez, Sirius. Você pode ser inocente, mas para mim, sua vida não vale mais que a do meu pai. A segurança da minha família é o que importa e você não está inclusa nela! — exclamou Canis.

— Nem tudo é apenas como você quer, Canis! — Remus esbravejou, erguendo um pouco o tom de voz. — A vida e a segurança de Sirius importam tanto quanto a nossa. Você gostando ou não o Sirius faz parte das nossas vidas e dessa família. Tente entender ao menos um pouco o lado dele!

— E o MEU lado?

— Desculpa te decepcionar, mas o mundo não gira ao seu redor — Harry comentou rispidamente.

— Não quero arriscar tudo que amo por alguém que me deixou sozinho nessa casa sem nem pensar duas vezes! Acha que depois de anos pode chegar e tudo ver perfeito?

— Eu sei que nada está igual, Canis... Eu sei! — Sirius lamentou. — Eu fui embora porque precisava salvar o meu amigo quando estávamos em uma guerra! Mas isso não significa que não me preocupo com você, seu irmão ou Remus... Eu quero resolver tudo agora para que possamos seguir em frente.

— De que adianta salvar o mundo se você vai abandonar quem você diz ser sua família?! — indagou o garoto com a voz elevada e alterada, os olhos marejados. A luz começou a falhar.

— James era minha família também! Eu precisava salvar ele!

— Não adiantou muito, adiantou?

Sirius engoliu em seco, apoiando-se na mesa.

— Não salvou ele, assim como não salvou a minha mãe — disse. — E não voltou... Nem trouxe Harry de volta. Foi de novo tentar salvar tudo. Já que gosta tanto de ir embora para ajudar, então é melhor ir agora.

— Eu não vou deixar vocês.

— Não é como se já não esperássemos que fosse fazer isso de novo.

— Canopus… — Remus chamou.

— Já estou indo para o meu quarto.

Canopus se virou e foi embora. Merliah se levantou e foi até ele, ajudando-o a subir as escadas.

— Therry… Vá atrás do seu irmão — Remus ordenou.

— A magia dele está instável… Precisa se acalmar. Foi uma noite estressante — Sirius disse olhando para as lâmpadas ao redor. — Depois conversamos com ele, Remmy. Pode ir, Theo.

Harry seguiu Therion quando ele foi até o quarto.

— Ele vai ter que aceitar que você não vai sair daqui.

— Vamos esperar ele se acalmar. Mas, depois, deixe que eu falo com os meninos.

— Sirius…

— Por favor, Remus… Acho que eu preciso ter uma conversa com os meus filhos — Sirius insistiu. — Eu entendo porque ele está tão chateado. Preciso... Preciso conversar com eles, quando estiver calmo...

— Tudo bem… Mais tarde — Remus suspirou. — Você se queimou muito com o café?

— Não muito. De todo jeito, acho que estou precisando de um banho.

— Um banho quente com certeza vai nos ajudar depois dessa noite.

***

Canopus permanecia sentado na cadeira de sua escrivaninha com os braços cruzados. Therion e Harry estavam sentados juntos na cama de baixo da beliche, Liah deitada na de cima, ainda discutindo tudo o que houve e o que deveriam fazer.

Harry descreveu seu sonho com Voldemort e a volta da dor na cicatriz.

— Não deve ser coincidência. Minha cicatriz dói e logo depois os Comensais retornam e atacam. E eu sonhei com Voldemort!

— Pode ter sido só um sonho — Liah disse, dando de ombros.

— Dificilmente foi — Therion disse.

— Nem sempre os sonhos são apenas sonhos — Canopus afirmou. — Digo por experiência própria.

— Com o quê você anda tendo pesadelos? — Harry perguntou.

— O mesmo de sempre — disse. Não era mentira, mas não era toda a verdade. — E quando acordo, parece que ainda estou num pesadelo.

— Sirius ir embora não vai acabar com seus pesadelos, Canis.

— Acho que seria bem mais fácil lidar se não tivesse meu pesadelo personificado perambulando pela minha casa, Therry. — Suspirou.

— Você exagerou — Harry disse. — Ele não tem culpa de ter ficado longe! Pettigrew armou pra ele!

— Ele escolheu ir atrás dele.

— Porque por causa dele Voldemort matou meus pais!

— Nada vai se resolver se Peter continuar escondido onde quer que esteja. Sirius vai ter que ir embora de novo!

Harry bufou, desistindo de insistir.

— Seus pesadelos provavelmente tem alguma relação com a realidade. Voldemort caiu quando você sobreviveu a Maldição da Morte dele, isso deve ter algum efeito mágico. Se ele tentar voltar, ele virá atrás de você.

— Ele quer me matar como fez com meus pais. Terminar o trabalho.

— Mas nós não vamos deixar — Therion garantiu. — Nós somos bruxos poderosos e vamos te ajudar a lutar contra ele caso precise um dia.

— Espero não precisar — comentou Merliah. — Mas caso precise, também tô dentro.

— Também estarei se preciso. Para isso, vou precisar da minha varinha de volta.

— Duvido que Malfoy te devolva — Therion falou.

— Eu dou meu jeito, mas eu vou ter minha varinha de volta.

Canopus endireitou-se na cadeira da escrivaninha e pegou sua pena. Mergulhou a ponta na tinta e começou a escrever.

Caro Draco Seja-Lá-Qual-For-Seu-Nome-Do-Meio Malfoy, vulgo Dragãozinho idiota,

Você ainda está com a minha varinha, e eu quero ela de volta. Não me importa quanto tempo irá demorar para essa carta chegar aonde quer que esteja em suas férias, você tem uma semana a partir de quando estou escrevendo, dia seguinte a Copa, para me devolver.

Se não me devolver, irei te aguardar cada dia no Beco Diagonal e quando o encontrar vou obrigá-lo a comprar novas varinhas gêmeas para mim e meu irmão.

Do bruxo mais poderoso da Sonserina e seu futuro Capitão que irá substitui-lo do time de Quadribol,
Canopus Black.

Estava prestes a dobrar a carta, satisfeito, quando decidiu acrescentar:

P.S.: Se seu pai for o Comensal que meu irmão obliviou, muito bem feito. Não espere nossas desculpas. E não, nós não estaremos quites até eu dizer que estamos.

Por fim, dobrou a carta e escreveu Para Draco Malfoy.

— Uma carta romântica? Que fofo! — Merliah perguntou atrás dele.

— Que susto, Liah! — exclamou. — E claro que não. Estou pedindo minha varinha de volta. Hermes!

Assobiou alto, chamando sua coruja. A coruja pousou sobre a mesa e piou. Ele lhe deu um petisco e a carta, então pegando a ave entre as mãos com cuidado. Ficou de pé e mandou até a janela.

— Entregue o mais rápido possível e dê umas bicadas no Malfoy até ele responder. Entendeu? — A coruja piou em resposta. Ele beijou carinhosamente as penas escuras. — Bom garoto!

Ele soltou a coruja no parapeito, e ela levantou vôo. Observou Hermes rapidamente tornando-se um borrão escudo no céu e sumir de sua vista.

— Vai contar com o quê você sonhou ou não? — Therion perguntou.

— Você já sabe.

— Mas não é toda a verdade. Tem mais alguma coisa — insistiu.

Canopus suspirou, apoiando-se no parapeito da janela.

— Com a mamãe — confessou. Sabia que não esconderia nada do irmão. — Eu sonhei com ela essa noite… Foi a primeira vez que sonhei de verdade com ela.

— Como foi? — Harry perguntou. Ele sabia como era difícil sonhar com a mãe que perdeu há tanto tempo. Muitas vezes sonhava com a morte da sua.

Canopus ficou calado por alguns instantes, pensando no sonho. Fora muito estranho, porque ele nunca tinha visto o rosto de sua mãe além de fotos.

— Foi bastante confuso na verdade. Tinha um piano… Tocava uma música. Depois ela estava chorando… Sirius estava lá… Não entendi bem.

— Papai disse que mamãe tocava piano.

— Foi uma sensação bastante estranha. Depois o de sempre. Sirius fazendo o que faz de melhor… Ir embora.

Merliah se aproximou e tocou o ombro do amigo em sinal de conforto.

— Therry, me empresta sua varinha?

— Por quê?

— Quero ir dar uma olhada no porão.

— Vou com você. Se tiver um bicho papão lá embaixo, melhor ter ajuda.

Os quatro acabaram indo para o porão. A porta ficava ao final do corredor que levava ao escritório, trancada. Liah destrancou rapidamente com um feitiço, e eles desceram as escadas. A garota espirrou várias vezes por conta de toda a poeira acumulada.

Lumus.

As pontas das varinhas se acenderam. Estava um pouco escuro e muito empoeirado. Haviam várias caixas, alguns móveis velhos e um grande e majestoso piano de cauda que um dia foi preto, porém agora estava quase branco de tanta poeira.

Merliah e Harry passearam pelo espaço, analisando tudo com curiosidade. A garota não tardou em abrir algumas caixas, enquanto os gêmeos se aproximavam do piano.

— Podemos levar lá pra cima — Therion disse. — Papai pode nos ensinar a tocar.

— Talvez… — Canopus murmurou. Franziu o cenho e tocou algumas das teclas empoeiradas. O som não foi muito alto, parecia abafado e desafinado.

— É um piano de cauda. Tem que abrir para o som sair — Liah disse. — Tem um na minha casa.

Canopus pensou em seu sonho. Realmente, havia uma parte erguida sobre o piano, como uma grande tampa, que agora estava fechado. Tocou a cauda do piano e assoprou a poeira em cima. Merliah começou a espirrar.

Therion agitou a varinha, tirando a poeira de cima. Então, o piano balançou sozinho.

— O que foi isso? — Merliah deu um salto, assustada.

Potter se aproximou do piano. Com cuidado, ele ergueu uma minúscula fresta da cauda para espiar dentro.

— Harry, melhor não fazer isso — Canis alertou. — Aqui é um perfeito habitat para um bicho-papão. É escuro e não viemos ao porão depois de nos mudar. Ninguém entra aqui há uns 13 anos.

— Não estou vendo nada.

— Provavelmente deve ser um ninho de ratos ou outras criaturas de porões — Therion disse.

Harry ergueu mais a tampa, mas soltou repentinamente e deu um pulo para trás quando um vulto escuro passou por ele rapidamente. Ouviu-se um estalo familiar, igual ao da primeira aula de Remus.

Com a luz das varinhas, eles avistaram um dementador se aproximando de Potter.

— Um dementador?

— É um bicho-papão! Lance logo o feitiço nele, Harry! — Canopus exclamou, deixando uma das muletas cair no chão ao se afastar para trás.

Riddikulus!

Riddikulus! — Liah tentou ajudar.

O bicho-papão então assumiu uma forma humanoide de capa escura e máscara. Canopus franziu o cenho, enquanto Therion atacava e exclamava "Riddikkulus". Ele deveria ter tomado a forma animaga de Sirius para o garoto, não a de um Comensal da Morte. O medo de seu irmão não poderia ter mudado tão facilmente.

— Canis, você está sem varinha, volte para cima! — Therion exclamou. — Riddikkulus!

A criatura começou a ficar confusa entre se transformar num dementador, um basilisco ou um Comensal. Isso era esperançoso, poderiam vencê-lo. Só mais um pouco…

Canopus se afastou mais, porém, infelizmente, o bicho-papão percebeu. Um estalo e um vulto transcorreu em torno do porão, deixando os outros três avoados. Outro estalo e mais uma pessoa se fez presente ali.

Harry arregalou os olhos e franziu o cenho ao ver Sirius ali. Em que momento ele havia chegado?

Canopus mancou para trás, engolindo em seco.

Demorou alguns instantes para Harry perceber. Aquele não era Sirius realmente. Era idêntico a ele, mas não era ele caminhando na direção de Canopus. Era o bicho-papão. O garoto continuou a mancar para trás, apoiado na muleta.

Canis esticou a mão numa falha esperança de novamente o ocorrido na Copa ajudá-lo. Muito bruxos poderosos faziam isso, não devia ser difícil.

Riddikulus! — entoou. — Riddikulus!

Mas nada aconteceu. Não sentia aquela mesma energia transcorrendo seu corpo.

RIDDIKULUS!

— Deixe o meu irmão em paz, transformista maldito! — Therion esbravejou, laçando outra azaração contra o bicho-papão.

A criatura continuou a ir na direção de Canopus, que mancava para trás tentando inutilmente usar magia com as mãos. Aquela imagem de Sirius que tanto atormentava seus pesadelos avançava contra ele com loucura em seu olhar. Merliah jogou sua varinha em na direção dele para que a usasse. Ele conseguiu agarrá-la no ar.

Riddikulus! Riddikulus!

O bicho-papão continuou. Canopus sentiu suas costas se escorarem na parede, engolindo em seco, a criatura a poucos passos deles.

— Meninos, o que estão fazendo aqui? Que barulho foi esse? — A voz de Sirius se fez presente e logo ele surgiu descendo as escadas, tateando a parede até apertar um interruptor e acender a luz. Ele observou a cena ao redor. — O que…

RIDDIKULUS! — Canopus gritou com todas as forças.

Enfim o bicho-papão explodiu, derrotado. Canopus respirava com dificuldade, com as mãos trêmulas.

— Hey, o que tava acontecendo aqui? — Sirius perguntou preocupado.

Canis o encarou, pulando de susto. Ele não pensou.

R-riddikulus!

Tentou acertar a azaração em Sirius, sem pensar, errando por muito pouco. Ele estava nervoso demais para pensar em alguma coisa engraçada.

Sirius arregalou os olhos surpreso e franziu o cenho confuso, encarando os garotos. Preocupou-se ao ver Canopus contra a parede tremendo e com lágrimas nos olhos e tentou aproximar-se, mas ele se afastou mais apoiando-se na parede atrás de si.

— Canis…  — murmurou, tentando tocar o braço do filho, mas ele afastou-o bruscamente, ainda apontando a varinha para seu peito.

— Não chegue perto de mim!

— Hey, calma, é o Sirius! É o Sirius de verdade! — Harry tentou acalmar o amigo e segurou levemente o pulso da mão que segura a varinha. — Está tudo bem…

— Não, não está!

Canopus soltou a varinha e saiu do aperto de Harry, levando ambas as mãos aos cabelos enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto e todos os seus pesadelos que não o deixavam dormir a noite atormentavam sua mente.

Diferente de Therion, seu maior temor não havia mudado. Ainda tinha a mesma forma. O mesmo rosto que ele via todos os dias naquela casa e estava bem na sua frente.

— O que houve?

— Foi um Bicho-Papão… — Therion respondeu. — Estava dentro do piano. E-ele… Pulou para fora e…

Therion não completou sua fala, mas não foi preciso muito para Sirius compreender. Soube exatamente o que estava acontecendo ao olhar nos olhos do garoto e observar o estado do gêmeo mais velho. Ele conhecia muito bem aquilo, e perceber a situação quebrou-o por dentro.

Para Canis tentar atacá-lo logo após enfrentar um Bicho-Papão, completamente transtornado e confuso, havia uma resposta que doía no fundo de sua alma.

— Ele se transformou… Em mim?

Harry, Therion e Merliah permaneceram em silêncio, mas Potter confirmou com a cabeça.

— Para o Canis… — especificou.

Os olhos de Sirius transbordaram de choque, sentindo o peito doer com a informação. As lágrimas começaram a inundar seus olhos, enquanto ele assimilava que era o pior pesadelo do próprio filho. Sentiu-se completamente despedaçado de repente.

Encarou o filho com grande dor e culpa. De tantas coisas que passou por sua cabeça que dificultavam sua relação com ele, assustá-lo tanto nunca foi uma delas. Depois de tudo que ele tentou, tanto que se esforçou para não ser como seus pais, no fim, o resultado fora o mesmo. Ele conseguiu destruir a vida dos filhos e tornar-se o maior medo deles.

Canopus sentia medo dele.

Ele era tão desgraçado quanto seus pais. Tão deploráveis quanto. Aquilo era demais para ele.

Só queria que Canis entendesse o quanto o amava e sentia muito…

A última coisa que ele queria era que seus filhos sentissem medo dele.

— Canis… M-me… Me desculpa, eu… — começou a gaguejar e aproximar-se mais uma vez. — Por favor, filho…

— SAI DAQUI! NÃO ENCOSTE EM MIM! — Canopus gritou. O corpo desabou no chão, e ele arrastou-se para longe de Sirius com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu quero o meu pai… Vai embora, vai embora, vai embora…

— Canis, calma… — Therion abaixou-se ao lado do irmão e abraçou seus ombros.

— Eu quero ver o papai — sussurrou. Ele só queria um abraço quente de Remus agora, só isso.

— Canopus… Eu entendo tudo… E-eu… Eu não queria… — Sirius tentou falar.

— Não, você não entende nada. Eu quero o meu pai.

— Eu estou aqui…

— EU QUERO O MEU PAI QUE NÃO FOI EMBORA E ME DEIXOU SOZINHO! — gritou.

Sirius soluçou, caindo de joelhos no chão.

— Canopus, me escuta, por favor…

— Não…

— Por favor…

— NÃO! — a voz do garoto ecoou pelo cômodo, e ele ergueu a cabeça, os olhos ardendo em dor e fúria.

— Canis… — Therion apertou o irmão com mais força num abraço, mas ele desvencilhou-se.

— EU NÃO QUERO MAIS OUVIR VOCÊ! — ignorou o irmão, continuando a gritar com Sirius.

Canopus ergueu as mãos enquanto gritava, sentindo todo o corpo formigar e arder em brasa. Novamente aquela sensação, a mesma que buscou momentos antes, da magia correndo sob sua pele até suas mãos.

Sirius tentou falar, mas engasgou-se e levou a mão à garganta enquanto se levantava com dificuldade, encarando o garoto com os olhos arregalados.

Harry segurou o padrinho e apoiou-o em si antes que caísse de novo, enquanto Black tentava a todo custo falar ou simplesmente respirar.

Ele não conseguia respirar. Todo o seu peito e sua garganta ardiam numa dor intensa e puxar o ar para os pulmões parecia um trabalho impossível. Não sabia o que estava acontecendo, mas Canopus continuava a encará-lo com fogo em seus olhos, enquanto cada lágrima continuava a descer por seu rosto, com as mãos erguidas na altura do peito.

— C-Canis… Para… — Therion suplicou ao perceber que era o irmão que fazia aquilo.

— Por favor, só… Me deixa… Em paz… — choramingou ele, com os olhos vidrados em Sirius ardendo em raiva e tristeza, as lágrimas escorrendo lentamente.

— O que você está fazendo? — Harry perguntou assustado, com os olhos arregalados. — Pare!

— Ele não está respirando! Canis, você vai matar ele assim! — Merliah exclamou alterada, ajudando Harry a segurar Sirius, que desabou de joelhos outra vez.

— Canopus, p-pare agora! — Therion pediu.

Canopus não tinha ideia do que estava fazendo, apenas queria que aquela dor parasse. Estava transtornado, com medo. A magia apenas explodia dentro de si e se manifestava sem seu total controle, mesmo sem sua varinha. As emoções estavam um caos. Sua mente estava um caos.

Ele estava um caos completo, chorando como se mais uma vez fosse aquele garotinho de dois anos que chorava e clamava pelo pai quase todas as noites e sentia-se abandonado ao não tê-lo ali para acolhê-lo.

Ele só queria que Sirius fosse embora de uma vez, exatamente como anos antes. Que sumisse tão rápido que não daria tempo para sentir sua falta de novo. Não queria que ele chegasse mais perto.

Tinha medo de que Sirius chegasse perto demais de novo. Ele iria embora. Ele sempre ia.

Therion sentia sua cabeça latejar com força, exatamente como na noite anterior. Ele levou as mãos a cabeça e fechou os olhos com força. Sentia dor, tristeza, mágoa, raiva… Um turbilhão de coisas que não estava entendendo.

— C-Ca… Ca...nis — Sirius tentou falar, um fio de voz quase inaudível. Seu rosto começava a ganhar uma coloração arroxeada.

— Sirius… — Harry choramingou preocupado e assustado. — Para de fazer isso, Canis! PARE!

Canopus não conseguia. Ele então abaixou as mãos bruscamente e abraçou sua perna boa, gritando frustrado. Therion tentou tocar nele, mas um campo de força o afastou.

Caído no chão, ele olhou para o irmão. Havia um escudo mágico ao redor dele, como protego. Franziu o cenho confuso, pois em nenhum momento Canis havia dito o comando do feitiço, muito menos estava com uma varinha na mão para isso.

Remus desceu as escadas correndo, estranhando todo o barulho. Ele arregalou os olhos ao avistar Sirius e correu até ele, preocupado.

— Sirius, o que…?

Então ele olhou para Canopus num completo caos envolto naquela aura protetora mágica.

— Canopus, não há nada aqui, pode desfazer o escudo.

O garoto não disse nada.

— Canopus, você precisa ficar calmo e se concentrar. Lembra quando estávamos aprendendo a controlar os impulsos mágicos? Respire devagar e desfaça o escudo.

Remus foi na direção dele cautelosamente. Quando chegou mais perto, de repente, foi atirado com força para trás com uma luz ofuscante até a parede oposta, caindo sobre todas as caixas.

Somente então, Sirius conseguiu respirar outra vez e puxou o ar com força, tossindo enquanto ofegava. O escudo ao redor de Canopus sumiu no mesmo instante, enquanto ele olhava na direção de Lupin com os olhos arregalados.

— Papai?!

O garoto se arrastou até ele e ignorou a dor do pé machucado. Therion correu até lá, desesperado.

— O que você fez?!

— E-eu… Eu não sei!

Remus grunhiu dolorido, um pouco atordoado. Um filete de sangue escorria na lateral de seu rosto e sua cabeça doía muito.

— Desculpa, papai! Desculpa, desculpa… — Canopus começou a falar. — Eu não queria te machucar! Desculpa…

— Eu… Vou ficar bem… — Remus disse, sentando-se devagar. Piscou algumas vezes.

— Desculpa! Eu não sei como eu fiz isso… Fiz na Copa também, mas não sei como. E-eu… Desculpa!

Canopus o abraçou com força, desabando em seus braços. Therion também o abraçou, preocupado. Lupin levou as mãos aos cabelos deles e olhou ao redor, confuso.

— O que aconteceu? Sirius…

— Eu… Estou bem… — Sirius mentiu, pálido e com a voz frágil e embargada. As lágrimas ainda escorriam por seu rosto.

Ele não estava bem, nem ficaria tão cedo.

***

Sirius encarava o chão fixamente, perdido em seus pensamentos. Já havia anoitecido, mas o que havia acontecido no porão ainda não saiu de sua mente.

Harry estava ao lado do padrinho no sofá, sem saber muito o que fazer. 

Black havia bebido uma poção revigorante depois de tudo e cuidou do machucado na cabeça de Remus. Canopus desmaiou assim que ficou de pé, esgotado. Lupin ficara no quarto com os gêmeos, disposto a ter uma séria e longa conversa quando o garoto acordasse.

Potter e Stuart explicaram tudo com detalhes. O fato de o bicho-papão ter se transformado em si deixava Sirius completamente destruído e reviveu suas piores lembranças da infância. Ele entendeu rapidamente que já estressado pela manhã, o medo apenas deixou Canopus ainda mais descontrolado com sua magia, embora também soubesse que ela exalava todos os sentimentos dele. A vontade de machucá-lo para que ficasse longe e o medo conjurando uma proteção mágica inconsciente, magia poderosa, mas extremamente instável.

Ele já fizera isso quando mais novo em situações semelhantes.

Nem sabia mais como olhar para o garoto sabendo que era seu pior pesadelo. Muito menos sabia como se aproximar dele agora sem correr o risco que fique tão recluso e assustado que o ataque com magia, mesmo que sem querer.

Therion desceu as escadas e sentou-se ao lado de Harry, em silêncio. Sirius ergueu a cabeça e olhou para o filho, seus olhos vermelhos e marejados.

— Papai está conversando com Canis…

— Espero que esteja bem mais calmo. Ele quase matou o Sirius! — Harry exclamou.

— Ele está… Pelo menos um pouco. Ainda quer que Sirius vá embora.

— Ele não vai. Sirius vai ficar aqui! É mais seguro.

— Harry, você e Merliah podem me deixar sozinho com o Theo? — Sirius pediu.

Harry hesitou. Não queria se afastar do padrinho agora.

— Vem, Harry. Vamos conversar e pintar um pouco. Eles precisam de privacidade. — Merliah levantou-se da poltrona onde estava e puxou Harry pelo braço.

Potter acabou cedendo e subiu as escadas com a garota até o seu quarto, e ela logo agarrou um de seus pincéis novos e jogou em sua direção.

Therion continuou mantendo um espaço entre ele e Sirius no sofá, mas ergueu os olhos para os dele. As lembranças da noite caótica antes de se reunir com o irmão eram um tanto confusas, mas se lembrava muito bem de como Sirius se arriscou para salvá-lo e como o ajudou.

Como ele o ajudou a sentir onde Canis estava.

— Você… Se sente melhor? — perguntou num tom baixo, puxando os pés para cima do sofá, exatamente na mesma posição que o outro estava

— Não tanto quanto gostaria… Mas vou ficar bem — respondeu Sirius, forçando um sorriso. — Eu… Eu sinto muito mesmo, por tudo.

Therion respirou fundo, apenas balançando a cabeça.

— Eu sei que nos últimos anos vocês ouviram coisas terríveis e sofreram por se parecerem comigo. Me desculpa de verdade… — prosseguiu. — Entendo ainda terem medo de mim… Mas eu nunca faria mal a vocês.

Eu sei… — Therion disse. — Agora eu sei. Só… Precisamos de tempo.

— Eu realmente entendo.

Sirius apertou as mãos uma a outra, nervoso. Soltou um longo suspiro, comprimindo os lábios e desviando o olhar enquanto uma lágrima escorria.

— Quando eu estava no fim do segundo ano, também enfrentei um bicho-papão, em Hogwarts. James e eu estávamos fugindo depois de uma pegadinha que fizemos e acabamos numa sala nas masmorras… — disse. — Para James ele tinha a forma de seus pais morrendo... Fleamont e Euphemia já eram idosos, e ele era doido pelos pais, tinha medo de perdê-los...

— E... E pra você? Que forma tinha?

Minha mãe — respondeu, voltando os olhos para o garoto.

Therion paralisou, encarando-o surpreso.

— S-sua mãe?

— Eu tinha pavor dela na época — explicou. — Ela era obcecada pela ideologia supremacista e a pureza de sangue, pelo status da família Black, pela perfeição. Era muito rígida quando ensinava a mim e ao meu irmão a sermos bruxos exemplares, ela… Ela usava os piores meios para nos manter na linha. Eu tinha muito medo do que ela poderia fazer conosco se a decepcionasse…

— Papai… Nos disse que ela não era uma boa pessoa.

— Com certeza não — confirmou. — Ela até mesmo prendia minha mão esquerda às costas e me forçava a escrever com a direita, porque assim era o "normal e correto".

— A sensação é terrível.

— É… Mas o importante era a perfeição. Ela não tinha pena quando se tratava de jogar maldições para me castigar, nem meu pai. E para piorar… Ela era legilimente. Sempre entrava na minha cabeça o tempo todo até meu pai e meu tio me ensinarem a erguer minha proteção mental.

— Você é oclumente? — o garoto perguntou surpreso. Sirius assentiu com a cabeça.

— Quase todos os Black são. Para sempre manter nossa mente protegida.

Sirius aproximou-se um pouco mais dele, ainda mantendo uma certa distância.

— Eu não queria ser como meus pais. Quando fugi de casa e fui morar com os Potter… Disse a mim mesmo que seria diferente — disse. — E quando vocês nasceram… Jurei que nunca faria com vocês o que fizeram comigo e com meu irmão… Mas acho que falhei nisso.

Os olhos de Therion marejaram, e não demorou para que as lágrimas caíssem. Conseguia ver o quão doloroso era para Sirius admitir e aceitar isso. Ver que ele e Canis sentiam medo dele, como sentia medo de seus próprios pais.

Mas Sirius não era como os outros Black. Com certeza não era.

Também era difícil para Therion. Digerir tudo, aceitar que foi enganado a vida inteira. Tudo que ele acreditava sobre Sirius que tanto o assustava havia sido destronado quando descobriu a verdade, mas não facilitou nada, muito menos trouxe grande alívio. Eles ainda corriam perigo até tudo ser esclarecido. Esquecer tantos anos de dor não aconteceria do dia pra noite.

Porém, as coisas estavam mudando. Estava conhecendo mais da verdade.

— A primeira aula do papai foi sobre bichos-papões — começou a falar. — Ele conseguiu capturar um para enfrentarmos. Quando chegou a minha vez…

— Também se transformou em mim — Sirius disse convicto, ao mesmo tempo com dor e tristeza.

— Na sua forma animaga — admitiu.

— Sinto muito… Eu…

— Mas hoje… — interrompeu. — Ele assumiu outra forma.

Sirius analisou o olhar do filho.

— Seu bicho-papão… Mudou?

— Mudou…

Então Sirius desatou a chorar. De tristeza. Esperança. Dor. Alívio. Um grande misto de emoções.

Isso significava que Therion não tinha medo dele como Canis?

— Acho que não mais… Não tenho mais medo… — Therion confessou num sussurro.

Sirius sorriu fraco em meio as lágrimas. Esticou sua mão com cuidado, levando até o rosto do filho e acariciando-o com ternura. Relutante, abriu os braços.

Therion deixou que o abraçasse mais uma vez. Sirius o apertou entre os braços, ambos chorando. E mais uma vez o garoto sentiu um conforto familiar e nostálgico.

Nada poderia descrever tudo que Sirius estava sentindo. Poder abraçar seu filho, conversar com ele. Ele amava tanto seus meninos, tanto… Sempre os amou, desde o momento em que ele e Karina decidiram assumir aquela responsabilidade e criá-los da melhor forma que pudessem. Desde que ouviu os coraçõezinhos batendo pela primeira vez.

Não teve a chance de realmente ser pai deles. Vê-los crescer e ensinar tudo que poderia. Mas ele sempre os amou… A todo momento.

— Me desculpa mesmo ter ido embora — sussurrou. — Eu precisei…

— Tudo seria melhor se tivesse ficado com a gente… — Therion choramingou, afastando-se para encarar Sirius.

— Eu precisava ver se James estava bem…

As lágrimas não cessaram. Uma grande dor assolou o peito de Sirius ao se lembrar do dia que foi preso, da imagem de seu melhor amigo morto aos seus pés.

— Ele não havia dado nenhum sinal. Eu já tinha perdido um irmão… Não queria perder outro — falou.

Encarou o garoto, deslizando o polegar delicadamente pela marca de nascença em seu rosto. Ele o lembrava tanto de Regulus…

— Meu irmão era a única pessoa em minha família que realmente importava para mim — disse. — Nós sempre fomos muito unidos. Mesmo com nossas diferenças e problemas… Eu nunca deixei de amar ele.

— O que aconteceu com ele?

— Ele não teve tantas forças para ir contra nossos pais… Quando teve, já era tarde demais. Eu não pude salvar ele…

Sirius suspirou. Estava decidido a falar do irmão para o filho, por mais que doesse.

— Ele era dois anos mais novo que eu. Era sonserino, como você e Canis, e também adorava Poções.

Therion sorriu fraco.

— Uma vez você me perguntou o porquê eu escolhi o nome Regulus…

— Por causa da Constelação de Leão. O animal da Grifinória.

— Era o nome do meu irmão — revelou. — O nome dele era Regulus... Foi por causa dele que eu e sua mãe te demos esse nome.

Therion piscou desconcertado e ficou pensativo por alguns instantes. Sempre se perguntou se teria uma razão por trás para a constelação e a estrela escolhidos para o seu nome. Nomes são muito importantes e poderosos no mundo bruxo. Muitas vezes, definem com estranha exatidão o destino dos bruxos.

Agora sabia que o seu era uma homenagem ao seu outro tio que nunca conheceu. Um que ele não sabia absolutamente nada, nem tinha interesse. Mas agora... Estava curioso.

— A última vez que o vi foi no funeral de sua mãe... E não foi nada bom. Eu... Eu disse coisas que me arrependo muito de ter dito...

— O que você disse?

— Eu falei... Que ele não era mais meu irmão. Que estava morto pra mim...

Sirius fechou os olhos, chorando em silêncio por alguns instantes. Lembrar-se de como ele tratou o irmão na última vez que se viram o machucava muito. Ele estava com tanta raiva, tão magoado... Não pensou. Ele se deixou levar e não havia um único dia que não se arrependesse de não ter ajudado ele.

— Ele veio me pedir ajuda, e eu disse que estava morto para mim... E pouco tempo depois ele realmente estava.

— Por que você disse isso?

— Porque eu estava com raiva, magoado... O culpava por tudo que tinha acontecido.

Sirius voltou a olhar para o filho.

— Ele era um Comensal da Morte.

— O-o quê?

— Quando enfim cedeu a pressão dos nossos pais... Regulus se tornou um Comensal da Morte.

Therion encarou-o em choque. Não conseguia acreditar que fosse mesmo verdade. O irmão de Sirius era um seguidor de Voldemort... Não parecia certo. Ele sempre falava com tanta saudade do irmão...

— Você me deu o nome de um Comensal?!

— Eu te dei o nome do meu irmão — Sirius corrigiu. — O irmão que eu falhei em proteger, que eu amava... Que sempre confiou em mim. Eu não sei todos os motivos que levaram ele a fazer isso, mas ele era meu irmão. Meu irmãozinho...

— Ele era aliado do Voldemort! A pessoa que matou os pais do Harry... Ele era do mesmo grupo de quem matou a minha mãe!

Sirius estralou os dedos, mordendo o lábio inferior com força, os olhos agora voltados dolorosamente para a lareira.

— Eu e ela queríamos que você seguisse um caminho diferente — falou. — O nosso Regulus não teria o mesmo destino...

— Ele...

— Ele morreu porque desertou... Ele veio me pedir ajuda, e eu o mandei embora. Regulus morreu porque eu não o ajudei — falou. — Voldemort o matou porque ele se arrependeu e quis abandonar os Comensais. Eu também não consegui salvar ele... Não consegui salvar ele dos nossos pais, não consegui salvar ele de Voldemort... Ele morreu porque eu estava com tanta raiva que me neguei a ajudá-lo. Não acreditei que estava mesmo arrependido...

— Eu não acreditaria.

— Não se pede demissão a Voldemort, Theo. No fim, todos sabiam... Regulus desertou e foi morto por isso. Ele realmente tentou escapar... E eu não o ajudei.

Ele voltou-se para o filho e segurou sua mão, encarando-o com dor e desespero.

— Quando James não falou comigo quando disse que faria... Quando ele não atendeu nenhuma ligação, não respondeu quando chamei na lareira... Eu não consegui pensar. Precisava ir ver se o único irmão que me restava estava bem... Eu não consegui salvar Regulus... Não podia deixar ele ir também!

— Mas... Já era tarde...

— Já... Quando cheguei, James já estava morto. Eu não consegui chegar a tempo... Assim como não consegui chegar a tempo para sua mãe. Não consegui salvar James, como não consegui salvar Regulus... — lamentou. — Eu não queria deixar vocês, mas também não queria perder James... E cheguei tarde demais de novo. Isso me deixou com tanta raiva... Tanta... Quando percebi, já estava atrás de Peter... E não consegui voltar para você e Canis.

Therion apertou a mão de Sirius e então... Ele o abraçou.

Sirius apertou os braços em volta do filho com toda sua força e deixou-se chorar em seu ombro. Deixou tudo fluir, sentindo um grande peso abandonar seus ombros. Desabafar tudo era tudo que ele precisava, contar ao filho a verdade, toda a verdade.

Uma parte daquela sombra sobre eles se esvaiu. Uma parte da barreira desabou.

— Eu queria voltar... Eu ia voltar... — sussurrou. — Me desculpa demorar tanto, me desculpa...

— Está tudo bem...

Therion o abraçou com mais força, também desabando em lágrimas.

Não sabia muito bem o que sentir naquele momento. Estava confuso. Entendia Sirius... Antes já tentava ver melhor seu lado, agora... Entendia muito mais.

A confusão em sua mente fazia sua cabeça explodir.

— Você e seu irmão são tudo pra mim — Sirius falou, afastando-se para segurar o rosto do filho entre as mãos. — Eu amo vocês dois mais que tudo. Sei que não será hoje, nem amanhã... Mas eu espero que sejamos uma família de novo... E me deixem ser o pai de vocês.

Therion não conseguiu dizer mais nada, apenas balançou a cabeça.

— E eu tenho muito orgulho do grande bruxo que você está se tornando, Reggie.

— Eu não faço magia sem varinha igual o Canis.

— Mas é o melhor pocionista que conheço — disse. — Eu era terrível em Poções na escola. Nunca conseguiria fazer uma Poção Polissuco sozinho com 14 anos.

— Eu fiz a primeira quando tinha 12 anos — corrigiu com a voz embargada.

— Ainda mais impressionante. E você conjurou um patrono! Até os melhores da Ordem da Fênix tinham dificuldade com esse feitiço.

Therion sorriu fraco, com as orelhas vermelhas de vergonha.

— E você tem o nosso dom de família.

— Ser emocionalmente instável?

Sirius dois baixo.

Legilimencia. Está no sangue dos Black tanto quanto a habilidade para oclumencia.

— Eu não sou legilimente.

— Não completamente desenvolvido, mas você é... Você nasceu com legilimencia, assim como Regulus...

Therion travou, negando com a cabeça. Ele não lia mentes. Era impossível.

— E eu posso ajudar você... Eu quero te ajudar. Para que possa controlar e não sofrer com a dor como durante o ataque na Copa.

O garoto engoliu em seco.

— Eu sei que isso pode ser assustador, mas eu estou aqui. Posso te ajudar e vou fazer isso... — Sirius disse, acariciando a marca de nascença no rosto do filho. — Vou te ajudar, Regulus. Não vou te deixar sozinho de novo... Nunca mais.

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Olá, meus amores!
Tudo bem?

Um capítulo repleto de emoções!
Eu chorei MUITO escrevendo as cenas do Canis com o Sirius 🥺🥺
E mais ainda com Sirius falando do Regulus pro Theo 😭😭

Próximo capítulo é a vez de Remus e Canis terem uma longa conversa emocionante também. Já preparem as lágrimas!

E como todo mundo já suspeitava: Therion é um legilimente de nascença! Ele ainda não desenvolveu totalmente, mas veremos ele treinando e se desenvolvendo muito no futuro!

Espero que tenham gostado!
Não esqueçam de comentar bastante, tá bom?

Em breve retorno com mais!

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋

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