LVIII. Hidden monsters
Remus e Sirius já estavam à beira de um colapso antes mesmo do patrono de Lyall chegar.
Eles mal dormiram naquela noite, ambos inquietos e sem conseguir parar de pensar nos filhos. Remus passou grande parte daquele tempo tentando convencer Black a ficar em casa, pois ele insistia em querer ir ao Ministério com seu disfarce.
Durante o café da manhã, mais uma vez, Sirius insistiu. Mary e Hadria vieram para irem juntos ao Ministério e fazer companhia a eles, e as duas se uniram para fazê-lo desistir da ideia.
— Eu quero estar lá para os meus filhos.
— Sirius, eu prometo que farei tudo o possível por eles, mas é extremamente arriscado ir. Se eles te pegarem…
— Eu não quero ficar parado e inútil.
— Você estará ajudando não se colocando em perigo. — Remus entrelaçou seus dedos sobre a mesa. — Por favor… Não podemos perder você agora. Também estou preocupado com eles.
Sirius ainda não gostava da ideia de ficar em casa, mas parou de insistir, por enquanto.
— Não era para o Profeta Diário já ter sido entregue? — Hadria quem comentou. — Tenho certeza que o Ministério não vai perder a chance de falar sobre os gêmeos.
O jornal realmente demorou para chegar e foi aí que tudo piorou, pois Hadria estava certa. Estavam falando dos gêmeos.
E não apenas falavam, eles estampavam a primeira página.
Uma fotografia mostrava os gêmeos no Ministério da Magia, os dois com expressões sérias em seus rostos, sendo guiados por quatro aurores com as mãos aparentemente presas às costas.
Remus conhecia seus filhos o suficiente para saber por aquela simples imagem que eles não estavam bem e aquilo não passava de uma máscara para todos ali.
— Eles não deveriam estar lá ainda. A audiência é à tarde!
— Levaram eles para interrogatório… Merda! — Mary xingou. — Tonks não me disse nada.
— Talvez porque não deixaram ela saber. Ela, querendo ou não, tem ligação com os Black — Hadria disse.
Sirius arrancou o jornal das mãos de Remus e começou a andar de um lado a outro enquanto lia a reportagem escrita por, obviamente, Rita Skeeter.
OS SEGREDOS OBSCUROS DOS HERDEIROS BLACK
Os holofotes da justiça bruxa estão focados hoje em Canopus e Therion Black, os já conhecidos por nós filhos do assassino foragido Sirius Black.
Nesta manhã, os garotos saíram de Hogwarts escoltados por um esquadrão de aurores, os quais precisaram detê-los com feitiços após grande resistência. Eles permanecerão sob custódia do Ministério da Magia para sua audiência esta tarde. Acusados de ataques contra trouxas e cumplicidade com o pai, a expectativa paira no ar.
Fontes indicam que eles podem possuir informações cruciais sobre o paradeiro do pai que serão devidamente averiguadas pelos aurores. Eles são a peça-chave para acabar com a caça ao Black e trazer, enfim, paz para as famílias bruxas.
Para muitos de nós, não restam dúvidas de que os garotos mantém contato com o pai e estão seguindo seu caminho de terror para as artes das trevas. Sirius assassinou treze trouxas no passado — que nós saibamos —, estariam eles trilhando esse caminho? Os pobres trouxas atacados por eles, certamente, têm muita sorte de ainda estarem vivos.
Essa audiência irá nos responder o quanto os gêmeos Black seguem em cumplicidade com o pai. O palco está montado para um espetáculo de revelações.
Há boatos de que até mesmo Albus Dumbledore e Harry Potter, o Menino-que-sobreviveu, estarão presentes.
Esse seria o momento perfeito para Sirius Black sair das sombras. Podemos nos perguntar se ele tentará algo contra o Ministério por capturar seus filhos? Uma rendição? Uma tentativa de resgate?
Teremos de aguardar por essas respostas.
— Eles estão me provocando.
— E não vão conseguir — Mary completou.
— ELES CONSEGUIRAM!
Sirius amassou o jornal e jogou em um canto qualquer, bufando frustrado e grunhindo de raiva. Remus não estava em condições muito melhores, as palavras da reportagem martelando em sua mente. Eles não conseguiriam ficar parados.
Era extremamente doloroso para Black ver aquilo acontecer. Seus filhos estavam agora tendo sua imagem manchada atrelada a ele, sendo tratados como futuros bruxos das trevas e criminosos. Tudo para conseguir capturá-lo.
Aquilo foi um claro desafio. Sirius não era tolo de não perceber. Queriam que ele fizesse algo, que tentasse salvar os filhos.
Uma rendição. Uma troca.
Se Sirius se entregasse…
— Não.
— Não o quê, Remmy?
— Você não vai aceitar essa provocação deles. Você vai ficar aqui.
— Eu preciso salvar eles!
— Mas não fará isso se entregando a eles. Eu te conheço, eu sei que está pensando nisso.
Mary ficou de pé.
— Essa é a intenção deles, te deixar nervoso.
— Conseguiram!
— Você precisa ficar.
— São os meus filhos… Os nossos filhos…
Remus suspirou, passando as mãos pelo rosto e os cabelos, sem saber o que mais fazer ou dizer. Estava tudo um caos, ele não conseguia raciocinar direito.
Seus filhos, suas estrelas… Entendia Sirius não querer ficar parado, ele também não queria.
— Os nossos filhos, Mary… Eles não podem fazer isso! Não podem interrogar eles sem a minha presença!
— Remus, vamos precisar manter a calma agora para não fazer nada precipitado.
— Eu não vou ficar aqui parado.
Sirius seguiu em direção a porta. Remus agarrou seu braço e o puxou.
— O que pensa que está fazendo?!
— Indo salvar os nossos filhos!
— Você não pode fazer isso.
— SÃO OS NOSSOS FILHOS, REMUS! SABE O QUE PODEM ESTAR FAZENDO COM ELES?
— EU TAMBÉM ESTOU PREOCUPADO COM ELES, MAS NÃO VOU TE PERDER DE NOVO!
Os olhos de Sirius já transbordavam, e os de Remus estavam marejados. Lupin segurou o rosto dele entre as mãos.
— Vão torturar eles, vão forçar eles a falar onde estou. Não posso deixar fazerem isso com eles. Eu prometi pro Canis que não deixaria nada acontecer com eles. Não posso ficar aqui parado.
— M-meu pai está no Ministério hoje, Tonks também… Eles logo vão estar sabendo e vão ajudar eles — Remus disse, tanto para Sirius quanto para si mesmo.
— Eu não posso deixar. Eles fizeram isso comigo. Eu sei o que estão fazendo, vão usar qualquer coisa pra fazer eles falarem, qualquer coisa…
Remus queria acalmar Sirius e impedi-lo de fazer alguma besteira, mas mal estava conseguindo acalmar os próprios nervos. Não queria pensar no que os filhos estariam passando lá.
Precisava confiar que seu pai saberia e os ajudaria. Tonks vai ajudá-los. Nada vai acontecer.
— Fica aqui, por favor. Eles precisam de você aqui, seguro.
Sirius se afastou, levando as mãos a cabeça e andando para longe da porta.
— Sirius… — Foi Hadria quem chamou.
Ela estava se aproximando dele e parecia emocionada com toda a situação. Remus sentiu as mãos de Mary em seus ombros e abraçou a amiga, sem forças.
Hadria agarrou os pulsos de Sirius e o encarou firmemente, os próprios olhos marejados pelo efeito da situação em junção aos hormônios da gravidez.
— Eu sei bem como é querer fazer o impossível por nossos filhos… Eu sei.
— Vão machucar eles…
— Se você sair, vai perder eles. Não vão te deixar escapar. Eles podem te matar, Sirius…
Sirius soluçou, as lembranças de suas primeiras horas detido voltando em uma onda desesperadora. Como foi trancado numa sala minúscula por aurores e interrogado, as maldições que jogavam cada vez que perguntavam o que ele havia feito, que Comensais estariam trabalhando ao seu lado por mais que dissesse que não estava com Voldemort.
E durante suas tentativas de acabar com Peter, os dementadores receberam permissão para sugar toda sua alma se o encontrassem. Os aurores, obviamente, teriam recebido ordens parecidas. Ele deveria ser capturado, vivo ou morto.
Mas eram os seus filhos. Os seus filhos de quem ele esteve longe durante toda a vida e não pôde protegê-los.
Sirius sabia que era uma armadilha… Mas o que deveria fazer?
— E se fosse o seu filho?
Hadria não respondeu de imediato, uma lágrima escorrendo por seu rosto.
— E se fosse o seu filho correndo perigo? E tudo por sua culpa, porque é você quem querem e estão usando eles para te atingir.
Sirius podia ver a resposta nos olhos dela. Ela também faria qualquer coisa para salvar o filho, por mais perigoso que fosse para si mesma.
Era uma pergunta dura e sensível para se fazer a alguém que havia perdido um filho, mas ele não estava pensando muito. Ele precisava salvar seus filhos.
— Eu faria de tudo para salvar o meu filho… Eu fiz, e ainda o perdi. Mas não vou te deixar sair dessa casa para se entregar ou seja lá o que esteja planejando, se é que você tem um plano.
— Eu não quero perder eles.
— E não vamos deixar, mas você precisa se acalmar… Por favor.
Sirius respirou fundo e soluçou outra vez, encolhendo os ombros. Hadria aproximou-se mais e o abraçou. Ele não teve tempo de pensar na surpresa da atitude ou que eles nunca foram próximos o bastante para isso. Estava vulnerável demais e só precisava de um abraço.
Mary guiou Remus para a cozinha para preparar um chá, deixando Hadria com Sirius. As mãos de Lupin ainda estavam trêmulas, e ele quase derrubou a xícara no chão antes da amiga pegá-la e preparar tudo ela mesma.
— Acha que eles estão mesmo sendo machucados?
— Não são maldições que me preocupam.
Mary respirou fundo.
— Duvido muito que usem meios físicos como maldições, poderia acabar pior para eles caso desse errado. Temo que vão brincar com a mente deles, levá-los ao limite até que dêem o que eles querem.
— Não podemos ficar aqui parados.
— E não vamos, mas tudo deve ser feito com cautela, Remus. Um passo errado e tudo pode acabar mal.
Remus suspiro, passando as mãos pelo rosto e não contendo um soluço.
— Eu tenho que estar lá, não posso deixar eles sozinhos.
— E não vamos, porque eles não podem ser interrogados sem que saibamos, mas você precisa se acalmar antes.
— Me acalmar? Os meus filhos podem estar sendo torturados por aurores e você quer que eu me acalme? Não vou deixar Sirius ir, mas eu não vou ficar parado.
— Nós dois vamos para o Ministério, está bem?
— Como você consegue estar tão calma?
Ela deu de ombros.
— Esse é o meu trabalho. Eu também estou preocupada com eles… E até com os aurores, na verdade.
Remus riu em descrença com as lágrimas manchando seu rosto.
— Preocupada com os aurores?
— Eu conheci os meninos, Remus. A nossa cartada do descontrole mágico não é apenas um meio de conseguir livrar eles da condenação… É a verdade.
— Os meus filhos sabem usar sua magia.
— Você mesmo disse que nem sempre, principalmente o Canopus. Conversando comigo ele só fez algumas luzes piscarem. No Ministério…
Remus lembrou-se do porão, de como Canis quase sufocou Sirius sem nem chegar perto, o escudo de proteção que o lançou para longe. De quando ele chegou completamente abalado depois de todo o ocorrido com Elliot.
E Therion estava cada vez mais sem controle da legilimência. Sirius já tinha lhe explicado certa vez ainda em Hogwarts, quando falou de Regulus, que quanto mais o tempo passava, mais forte ficava, porque era desenvolvido junto com a magia ao longo do crescimento do bruxo até a maioridade. Por isso pode ter passado desapercebido por ele no início, que não conhecia tão bem todos os sinais, e pelo tipo de habilidade dele ser tão centrada em emoções, como percebeu, podendo ser facilmente confundido com os próprios sentimentos ou intuições.
Regulus era treinado desde pequeno por Walburga e ainda assim era difícil pra ele. Mesmo que o seu tipo de legilimência fosse diferente, os anos sem treinamento de Therion dificultava seu controle.
Se antes ele já estava preocupado, agora estava muito mais.
E quando o patrono de seu pai apareceu trazendo uma mensagem, ficou ainda pior.
As horas trancados sozinhos, sem comida ou água, todas as perguntas, a tentativa de enganar se passando por Sirius, a perseguição…
“Consegui protegê-los dos aurores e estão comigo agora, mas não estão bem… Estou cuidando deles, mas talvez seria bom se viesse”
Aquele final da mensagem foi o bastante para Remus vestir seu casaco o mais rápido possível, enquanto Sirius reclamava por não poder ir.
— Eles não podem se passar por mim! O que podem ter dito a eles?
— Sirius…
— Eu preciso ver como eles estão!
Remus segurou o rosto de Black entre as mãos, e ele segurou seus pulsos. Os olhos de Sirius transbordavam dor e súplica, desespero, ansiedade.
— Eu vou cuidar deles.
— Moony… Não quero ficar aqui sozinho sem fazer nada. Não posso.
— Você sabe que é perigoso, e você não está bem.
— Você também não está.
— Mas eu tenho que ir.
— E eu não?
Lupin então segurou as mãos dele enquanto unia suas testas, os dois em prantos, nervosos, trêmulos. Seu coração doía como se tivesse levado uma facada no peito. Havia um nó tão grande em sua garganta que mal conseguia falar.
Estava tão preocupado com Sirius quanto com os garotos. Não queria deixá-lo ali, mas também não podia deixar Therion e Canis. Seu pai estava lá e confiava nele para cuidar dos garotos, mas ele ainda precisava estar com eles.
E não queria perder Sirius.
— Eu vou pedir a Mary para enviar outro patrono quando a audiência começar e quando terminar, okay?
— Eu quero ver eles…
— Eu vou dar um jeito de trazer eles pra casa, mas você não pode ir para o Ministério.
— Eu sei…
Sirius apertou suas mãos, e Remus beijou as dele com carinho. Eles queriam permanecer assim por um longo tempo, mas também não queriam perder nem mais um segundo.
— Fique em segurança, por eles, está bem? — Remus pediu ao se afastar.
Sirius não respondeu e virou-se de costas abraçando o próprio corpo. Remus comprimiu os lábios tentado a falar mais, mas decidiu deixá-lo.
— Eu vou ficar com ele, não se preocupe — Hadria disse quando ele deixou o quarto.
— Obrigado, Haddy…
— Fique bem você também, hm? — Mary disse à esposa acariciando seu rosto e dando-lhe um selinho rápido. — Descanse.
— Nós dois iremos. Foram lágrimas demais para uma manhã. — Ela acariciou sua barriga. — E vamos garantir que Sirius não pise naquele Ministério.
Remus seguiu Mary até o Ministério, secando o rosto no caminho.
Eles tiveram que usar a entrada para visitantes numa cabine telefônica, e ele ficou bastante surpreso com a quantidade mínima de perguntas feitas além de seus nomes.
Ficou mais surpreso ainda quando passou pela inspeção de varinhas para visitantes e dois aurores o abordaram.
— Eu sou filho de Lyall Lupin, meus filhos estão aqui para uma audiência e estão com ele em seu departamento. Só vou vê-los.
— Sabemos. Remus Lupin, você não tem permissão para falar com os Black até a hora da audiência e virá conosco responder algumas perguntas.
— Eu sou pai deles!
— Sou Mary Macdonald, advogada da família, e vocês não irão levar meu cliente para responder nada antes de explicarem a razão para isso. — Ela colocou-se à frente de Remus.
— Lupin está na lista de testemunhas e temos o direito de interrogá-lo, além de estar sob suspeita de envolvimento com Sirius Black.
— Onde está o documento assinado pelo Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia pedindo esse interrogatório?
— Lobisomens dispensam permissão do chefe do departamento. Venha conosco, Lupin.
— Eu não vou a lugar nenhum antes de ver os meus filhos!
Não muito longe, Lyall batia o pé ansioso no elevador enquanto descia ao lado de Tonks, a cabeça presa na imaginação de tudo o que poderiam estar fazendo com seu filho. Depois do que viu os aurores fazendo com os netos e o que ouviu deles, não duvidava de nada.
Eles usaram Remus para tentar coagi-los, cumprir alguma ameaça para mostrar que podiam não seria uma grande surpresa. O velho Lupin começava a pensar se valia a pena continuar trabalhando num ambiente de pessoas como aquelas. O Ministério já não era mais preocupado com seus ideais de verdade e justiça há muito tempo.
Quando chegaram ao andar do hall de entrada, Lyall saiu em disparada, logo ouvindo o tumulto. Ouviu a voz alterada de seu filho e dos aurores, pessoas passando olhando curiosas.
No momento que o grito de Remus ecoou pelo hall e chegou aos ouvidos de Lyall, seus pés foram mais rápidos que sua mente e ele já estava correndo e empurrando quem estivesse no caminho.
Ele avistou Mary discutindo com um auror, e Tonks foi até ela, afastando-a do homem com o pretexto de “contê-la” para seus colegas. Porém, os olhos de Lyall se focaram no filho de joelhos no chão e nas correntes de prata em seus pulsos.
— Soltem o meu filho!
— Afaste-se, Lupin.
— ESTÃO MACHUCANDO ELE!
— P-pai… — Remus olhos na direção do pai, a voz dolorida.
— Ele será interrogado agora sob suspeita de ser cúmplice de Sirius Black.
— Vocês já fizeram isso na batida!
— Faremos de novo. E ele já tem uma denúncia de ataque com suas garras, as correntes são uma medida de segurança.
— Denúncia? Mas… — Lyall ponderou e então se lembrou, agitando a cabeça. — Isso já foi resolvido, Flint.
— Já? — Flint arqueou a sobrancelha, um sorriso querendo surgir.
— Isso foi há quase dez anos! Eu ainda paguei para deixarem Remus em paz!
— Isso não muda o fato de que seu filho já atacou um bruxo, você tendo usado seus contatos para sumir com os papéis e tirá-lo da lista de procurados ou não, Lupin. Não queremos que ele faça de novo, certo?
Flint olhou para Remus, que olhou-o de volta com irritação.
— Você deve se lembrar disso, não é, Remus?
— Eu estava protegendo os meus filhos!
— Eu vou entrar com uma denúncia ao Chefe de Departamento de Execução das Leis da Magia por sua conduta, senhores. Vocês estão torturando um bruxo sem que tenha dado motivos para isso! — Mary exclamou.
— A senhorita poderia, mas ele não é um bruxo, é um lobisomem. Levem-no!
Remus foi erguido brutalmente pelos aurores e arrastado para longe. Ele olhou suplicante para Lyall, ainda tentando se soltar, as lágrimas chegando aos seus olhos.
— P-pai, por favor…
Aquele era o maior pesadelo de Lyall se realizando bem na sua frente. Seu filho, seu querido filho, sendo tratado e arrastado como um animal perigoso por algo que era sua culpa.
Seu medo nunca foi o que Remus poderia fazer com outras pessoas na lua cheia, mas o que as pessoas fariam com ele fora dela.
E a culpa era sua, porque ele foi um idiota. Porque ele falou o que não deveria para Greyback.
— E-eu vou tentar fazer alguma coisa — Tonks murmurou para ele e então seguiu os colegas de trabalho. — Ei! Se querem interrogar ele, que tal não matá-lo por infecção por prata no caminho?
Lyall voltou-se para Flint, mas não disse nada, apenas encarou aquele sorriso presunçoso. Ele não deixaria aquilo ficar assim.
— Você não poderia protegê-lo para sempre, Lyall.
— Eu vou proteger o meu filho e os meus netos de vocês, nem que eu perca meu emprego para isso.
— Foi ótimo servir ao Ministério com você, Lupin.
Lyall afastou-se dele e pousou a mão levemente sobre as costas de Mary, guiando-a de volta para o elevador.
— De que denúncia ele estava falando?
— Já faz muito tempo…
— Se eu vou defender o Remus, preciso saber exatamente as cartas que eles têm. Quem ele atacou, quando e por quê?
— Essa é uma longa história. Vou te contar no caminho, mas temos que ir logo. Vamos ao escritório da chefe do meu Departamento.
— Mas…
— Eles não vão tratar Remus como um bruxo. Se vão tratá-lo apenas como um lobisomem, isso entra no Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas e apenas ela vai conseguir fazer algo agora.
Mary bufou e xingou o Ministério de nomes que faria o Ministro prendê-la por desacato caso ouvisse.
— Onde os gêmeos estão?
— Com uma colega. Não estão sabendo de nada e quero que continue assim. Apenas espero que Emma não tenha levado eles para conhecer ela.
— Por que levaria?
— Porque eles com certeza iriam querer um autógrafo de Aurelie Scamander.
***
Therion sabia que algo estava errado quando Lyall foi embora tão apressado, mas ele estava exausto demais para fazer algo além de confiar que o avô resolveria e seguir Canis pelo tour com as criaturas mágicas.
Canopus não poupava perguntas para Emma sobre Newt Scamander e até mesmo sobre a esposa dele, que era tão sua ídola quanto. Como ele era — mesmo que Lyall já tenha contado várias vezes —, como foi trabalhar com ele, como era a maleta, se ele estava no Ministério, quais criaturas tinham na maleta.
A mulher respondeu todas elas como pôde.
Quando passaram pela estação de poções onde preparavam os tratamentos para as criaturas feridas, Therion ficou encantado e foi a sua vez de começar as várias perguntas.
Ele estava sentado em uma cadeira com o irmão observando Emma preparar uma poção, enquanto Canis segurava em seus braços um filhote de seminviso que estava agarrado a ele como um bebê que era. O gêmeo mais velho brincava com o filhote e o enchia de carinho, enterrando seu rosto entre os pelos e beijando o topo de sua cabeça.
— Bem que você podia me ajudar a prever o que vai acontecer na audiência, hm? Ou quando meu pai vai chegar.
— Ele já está na idade de começar a prever possibilidades, então talvez realmente pudesse. Mas ainda está começando a aprender a se comunicar — Emma explicou. — Sabe como nos comunicamos com eles?
— Essa até eu sei. Sinais, igual os trouxas fazem com alguns primatas — Therion quem respondeu.
— Muito bem!
— Posso levar ele pra casa? Seria legal ter uma criatura que prevê o futuro por perto.
— Ele está em tratamento de resgate. É até estranho estar assim com você, ele costuma ter medo das pessoas. Só o Newt e a Aurelie conseguem se aproximar dele sem nenhum problema.
— Todas as criaturas me amam.
— E você ama todas elas — Therion disse.
— Obviamente. Como não amar um bebê desses?
Canis abraçou o seminviso, que continuou aninhado em seus braços e com a cabeça descansando em seu ombro.
— É realmente difícil não se encantar por ele.
Os gêmeos olharam na direção da voz e ficaram boquiabertos, sem palavras, encarando a mulher que se aproximava.
Já era uma mulher tão velha quanto o diretor de Hogwarts, porém tão em boa forma quanto ele, talvez até melhor. Os cabelos eram longos e grisalhos, presos em uma trança, e a sola de suas botas ecoavam pelo chão.
Ela retirou as luvas de couro que usava e estendeu a mão para acariciar a cabeça do seminviso no colo de Canis.
— Eu estava justamente procurando por ele.
— V-você… — Canis gaguejou de queixo caído.
— Aurelie Scamander! Você escreveu meu livro de poções favorito! — Therion exclamou.
— O meu também! E-e… O livro sobre o uso sustentável de elementos de criaturas para poções e a alquimia, a vida nas reservas de dragões, o…
— Sim, eu escrevi muitos livros na minha carreira. Vocês são os netos do Lyall, certo?
Os dois assentiram com a cabeça, os olhos brilhando. Eles gostaram bastante de serem chamados ali como “os netos de Lyall Lupin” e não “os filhos de Sirius Black”.
— Eu devia ter trazido meus livros para pegar um autógrafo.
— Podemos cuidar disso outra hora. Onde está o avô de vocês?
— Foi resolver um problema. Nosso pai já está chegando — Therion respondeu.
— Ah, sim, a audiência. Vocês deram um baita trabalho aos aurores, hm? Devem estar exaustos.
Eles não precisaram responder para confirmar aquilo, seus rostos já entregavam.
— Que tal uma xícara de chá em minha sala? Vocês precisam descansar.
— Claro!
— Emma, a poção já está pronta?
— Sim, senhora.
A mulher seguiu até o caldeirão e pegou um frasco da poção.
— Já que está segurando ele, continue e me ajude a dar isso a ele, sim?
Canopus apenas balançou a cabeça e continuou abraçando o seminviso enquanto ela falava com ele com carinho até ter os enormes olhos azuis em sua direção e conseguir fazer ele beber a poção conversando com ele.
— Isso vai te fazer bem, te deixar bem forte igual a sua mãe foi… Está tudo bem agora…
Os garotos observaram encantados. Uma de suas maiores ídolas estava bem ali, na frente deles.
— Quando Lyall voltar, diga a ele que eles estão comigo em minha sala.
— Tudo bem!
— Venham.
Ela os guiou pelos corredores, e eles logo começaram com as perguntas. Todas foram respondidas até chegarem à sala e sentarem-se em um sofá ao canto.
O seminviso deixou o colo de Canis para se deitar no de Aurelie. O garoto não demorou a admirar também a outra criatura residindo na sala, uma bela fênix empoleirada próxima a mesa, semelhante a Fawkes na sala de Dumbledore, só que ligeiramente maior e mais penas.
Era a segunda fênix que viam em pouco tempo. Mal acreditavam que um dia veriam uma, quem dirá duas.
— Ela acabou de renascer. Essa é a Freya.
— Nunca pensei que veria duas fênix na minha vida.
— Pois está vendo. Como vai a Fawkes?
— Magnífica.
— Chá com açúcar ou sem?
— Com açúcar.
— Sem açúcar — Therion respondeu.
Logo duas xícaras de chá estavam nas mãos dos gêmeos. Therion bebeu um longo gole assim que pegou a sua, sentindo o gosto forte descer por sua garganta.
— Para quem foi que Lyall me enviou uma carta pedindo para Newt autografar os livros de presente de aniversário?
— Eu! — Canis ergueu o braço. — Eu posso conhecer o Newt?!
— Algum dia, talvez. Ele tem feito mais trabalho de casa. Detesta escritórios.
Canopus bocejou.
— Quando eu me formar, vou querer um estágio.
Therion também bocejou.
— Vocês devem estar cansados, foi um dia agitado. Por que não dormem um pouco?
— Não, eu tenho mais perguntas — Canis rebateu, mas seus olhos já estavam pesando. Ele bebeu mais um gole de chá.
— Vou responder o que quiserem depois. Eu vou procurar o seu avô, está bem? Estarão seguros aqui.
Ela pegou a própria varinha e com um aceno travesseiros surgiram no sofá. Os gêmeos deixaram as xícaras de lado e deitaram nos travesseiros, um para cada lado.
— Lyall e seu pai logo estarão aqui com vocês. Podem descansar.
Eles apenas balançaram a cabeça, exaustos. Os dois bocejaram juntos e os olhos se fecharam. Não demorou para eles caírem no sono.
Aurelie sorriu fraco e convocou um cobertor para cobrir os dois. Ela saiu da sala e respirou fundo.
Foi nesse momento que Lyall chegou, correndo ofegante e desesperado.
— Merlin! Eu te procurei pelo andar inteiro. Eu vim na sua sala, você não estava, procurei em todos os terrários, Emma disse que você voltou para cá com os meninos e…
— Acho que tivemos alguns desencontros. — Ela riu baixo. — Eles estão lá dentro.
— Eles estão bem?
Aurelie abriu a porta de sua sala novamente, mostrando os garotos adormecidos no sofá.
— Dei um chá para eles. Estavam exaustos, dormiram rápido. Eles realmente precisam descansar.
— Obrigado — Lyall suspirou. — Preciso da sua ajuda, agora!
— Olá, Sra. Scamander! Sou Mary Macdonald, advogada dos Black e Lupin, talvez se lembre de mim…
— Estou velha, mas ainda tenho uma boa memória. Bom te ver, Mary. Em que posso ajudá-los?
— Remus… Ele foi detido e usaram algemas de prata, eles…
— Se acalme, Lyall.
— Eles vão tratar o meu filho como um animal perigoso! Ele não é isso. E-ele… Precisa nos ajudar. Não pode deixar prenderem ele nem que o coloquem no registro.
— Eu vou te ajudar, mas sabe que não pode deixar o Remus fora do registro. Já sabem quem ele é e o que ele é…
— É o meu filho, e eu vou protegê-lo. Não podem colocar Remus no Registro de Lobisomens… Não podem. Ele vai achá-lo!
Lyall respirava pesadamente, o coração acelerado. Suas mãos estavam tremendo. Ele não se acalmaria até saber que Remus estava bem e em segurança.
— Por favor… Só você pode ajudar ele agora.
— Tudo bem, eu vou ajudar, mas precisamos ser cautelosos. O Ministério está um caos hoje.
— Rápido, por favor… Eu tenho medo do que podem fazer com ele.
Lyall respirou fundo e olhou para dentro da sala, diretamente para os netos. Ainda estavam dormindo, totalmente apagados.
— Certo, vamos. E não se preocupe com os gêmeos, eles vão ficar bem e dormir até voltarmos.
Essa era a melhor hipótese, claro. Mas, infelizmente, aquele era um dia em que tudo parecia estar fadado a não sair como o esperado.
Além do mais, os gêmeos Black não são conhecidos por terem sonos tranquilos, especialmente Canis.
Depois de uma primeira noite em um ano inteiro sem pesadelos, dessa vez seus sonhos foram diferentes, mas ainda doloridos e reais demais.
Ele não sonhou com Sirius. Dessa vez, ele sonhou com Remus.
Remus em uma sala escura com paredes que pareciam ser de metal que parecia prata... Talvez realmente fosse. Seus pulsos e tornozelos estavam acorrentados em correntes de prata. A pele sob as correntes estava vermelha e várias manchas e bolhas subiam por seus braços.
Tudo estava muito confuso. Remus estava com dor, os olhos cheios de lágrimas. Alguém falava com ele num tom alto e irritado. Canopus entendia apenas algumas coisas. As cenas mudavam, a voz de um auror misturada a de Remus.
“Eu só quero ver os meus filhos. Me tirem daqui!”
“Ataque a trouxas é um crime grave, Lupin, assim como atacar bruxos. Onde será que aprenderam a ser tão violentos?”
“O QUE MAIS QUEREM DE MIM?”
“Você quase matou um bruxo. Aqueles garotos poderiam ter matado trouxas inocentes… É o que queria? Torná-los iguais a você?”
A imagem mudou. Já não via mais uma sala metálica escura. O chão agora era de madeira, haviam prateleiras com garrafas. Garrafas de vidro estavam quebradas no chão.
Remus estava lá, empurrando um homem contra as prateleiras. Suas mãos estavam banhadas de sangue, assim como suas roupas. No lugar de suas unhas, suas garras de lobisomem estavam expostas.
Remus nunca mostrava suas garras, mas ali estava ele, cravando-as no peito de alguém enquanto gritava e chorava.
“FIQUE LONGE DE MIM E DOS MEUS FILHOS!”
“ELE NÃO VAI CHEGAR PERTO DOS MEUS FILHOS! ELE. NÃO. VAI. DIGA A ELE PARA ME DEIXAR EM PAZ!”
Depois, ali estava Remus caído no chão abraçando os gêmeos e soluçando. Outras pessoas ao redor deles chamando-os de “monstros”. E então, Remus correndo com eles e deixando um rastro vermelho na neve.
“Se eu não tivesse atacado, meus filhos teriam uma dessas agora e todo o esforço do meu pai para me manter longe dele teria sido em vão.”
Remus estava de volta a sala com as correntes, puxando-as e tentando se livrar delas.
“VOCÊS NÃO VÃO TIRAR ELES DE MIM! ME SOLTEM!”
— SOLTEM ELE! — Canopus acordou gritando.
Therion acordou assustado ao ouvir o grito do irmão, confuso. Canis estava sentado ao seu lado, trêmulo, o rosto banhado em lágrimas.
As emoções o atingiram em cheio. Medo. Confusão.
Therion o abraçou.
— Estou aqui, Canis.
— O papai… E-ele… Ele está em perigo. Vão pegar ele. E-eles…
Therion abraçou o irmão com mais força. E enquanto o abraçava, ele viu o que atormentava a mente de Canopus, visões confusas em sua mente que fizeram sua cabeça doer.
— O que está acontecendo? Pareceu real… Não foi um sonho, não foi um sonho…
Canopus sentiu algo tocar seu joelho. O filhote de seminviso ainda estava ali, olhando-o com os enormes olhos brilhantes.
Ele pegou a criatura nos braços, trêmulo, e os braços dela o rodearam.
— Precisamos procurar o vovô. Agora!
***
Remus sabia que eles só não colocaram uma focinheira de prata em seu rosto porque precisavam que ele falasse, pois não duvidava que o fizessem se fossem apenas jogá-lo em uma cela.
Ele foi arrastado até uma sala e jogado no chão, onde ganhou mais correntes prendendo seus pulsos e tornozelos. Não havia janelas e o espaço era tão pequeno que era quase claustrofóbico, até as paredes e o chão pareciam ser de prata, tudo feito para machucá-lo, deixá-lo fraco. Havia penas uma cadeira diante dele, onde um auror sentou-se após chegar à sala.
O homem parecia um tanto abatido e inicialmente atordoado. Seus colegas pareciam receosos e preocupados quando ele entrou, mas ele logo afastou todos e mandou-os embora, inclusive Tonks.
Ela o olhou com um olhar culpado quando ordenaram que o prendesse com as correntes murmurando um "desculpa". Remus sussurrou de volta que estava tudo bem.
E então, ele estava sozinho com o auror.
— Olá, Lupin. Sou o agente Howard.
— Pode poupar sua formalidade — Remus grunhiu. Sua pele estava queimando por causa da prata, a dor chegando aos seus ossos. — Deixe-me adivinhar: você é o auror que levou um estuporante.
— As notícias correm rápido.
— Costuma levar um certo tempo para as pessoas se recuperarem de um. Você ainda está afetado.
— Eu tomei algumas poções que me deixaram bem o bastante. Meu amigo, no entanto, não irá se recuperar tão cedo do dano que o seu filho causou a mente dele.
Como Remus temeu e imaginou, o estresse também fez Therion reagir com suas novas habilidades. Não sabia o que ele pode ter feito, mas ainda estava muito mais preocupado com seu filho do que com aquele auror.
— Eu quero ver os meus filhos.
— Faremos assim, então: você responde as perguntas calmamente e deixarei que veja seus filhos. Mas precisa ser sincero, seria uma pena se eles tivessem que presenciar você ser trancafiado em uma cela de prata.
— Eu já estou em uma, não estou?
Remus ergueu os pulsos acorrentados e apontou para as paredes metálicas. Manchas já começavam a subir por seus braços em reação à prata. Ele estava se contendo para não urrar de dor, porque eles não mereciam ver que estavam conseguindo o que queriam.
— Vão me colocar uma focinheira também?
— Não, precisamos que você consiga falar.
Remus quis rir.
— Imaginei. Certo, então. Faça logo suas perguntas.
— Vamos do início. Qual sua relação com Sirius Black?
— Nós estudamos juntos em Hogwarts, éramos amigos e colegas de quarto. Dividimos o dormitório por sete anos com James Potter e Peter Pettigrew.
— Eram muito próximos, já que ele o escolheu para ser padrinho de um dos filhos.
— Não foi uma escolha apenas dele, Karina insistiu muito até eu aceitar, ela era minha amiga também. Mas, sim, éramos amigos. Eu morava com ele depois que a Karina morreu para ajudar a cuidar dos gêmeos, depois que ele foi preso eles ficaram sob minha tutela e eu os adotei. Apenas isso.
— Você o ajudou a criar os filhos. Por que não ajudá-lo a se esconder dos aurores?
— Existe um abismo bem grande entre ajudar um amigo em luto que do dia pra noite tinha que criar dois bebês sozinho e ajudar um fugitivo de Azkaban a se esconder.
— Mas eles são a mesma pessoa, seu amigo, como diz.
— Eu não sei onde ele está. E ainda que soubesse, por que eu diria para as pessoas que estão tratando os meus filhos como criminosos por apenas se defenderem?
— Ataque a trouxas é um crime grave, Lupin, assim como atacar bruxos. Onde será que aprenderam a ser tão violentos?
Remus mordeu a própria língua para não gritar, seja de dor pela prata queimando sua pele ou pela raiva perante a insinuação daquele auror.
— Talvez seja o efeito de ser criado por um monstro, não podemos culpá-los. Como um lobisomem poderia educar duas crianças bruxas?
Remus cerrou os punhos.
— Talvez o melhor seria deixá-los longe de más influências…
— Vocês não podem tirar meus filhos de mim!
— Enquanto eles ainda forem menores de idade, podemos. Seu filho ficou uma noite inteira numa floresta durante a lua cheia e na manhã seguinte estava na ala hospitalar.
— Eu não queria…
— Então, vamos lá, Lupin. O que é mais importante: esconder Black ou ter os seus filhos ao seu lado?
— Eu não sei onde Sirius está! Vocês não vão tirar os meus filhos, não podem.
— Todas as vezes em que Sirius Black foi visto você estava por perto, e ele conseguiu escapar. Por que o protege?
— Eu não sei de nada.
— Vocês moraram juntos por quase dois anos, você mesmo disse. Depois de sete anos no mesmo dormitório em Hogwarts. Você o conhece. Você sabe para onde ele iria.
— Eu já disse que não sei!
— Quem mais ele procuraria? Não resista, Lupin.
— Por que vocês não desistem?
Os olhos de Remus estavam marejados, mas ele segurava suas lágrimas. Suas pernas estavam doloridas, assim como seus braços. Sentia-se cada vez mais fraco.
Ele queria apenas sair dali e ver seus filhos.
Ele começou esfregou os braços, já sentindo as bolhas começando a se alastrar a partir de seu pulso. A ardência estava cada vez mais difícil de suportar.
— Eu só quero ver os meus filhos. Me tirem daqui!
— Não até responder.
— Eu já respondi. Vão esperar até que a prata queime meus ossos?
— A prata é apenas uma medida de segurança. Você entende, certo? Dado o seu histórico.
— Histórico? — Remus riu sem humor. — Se você fosse pai entenderia a razão para o meu “histórico”.
— Meu filho está no segundo ano em Hogwarts.
— E você não faria de tudo para protegê-lo?
— Eu estou fazendo, é o meu trabalho como auror livrar o mundo de monstros e bruxos das trevas para deixar o meu filho seguro. Você usou suas garras para tentar matar um bruxo inocente, por isso está nessas correntes.
Remus fechou os olhos com força, a dor pela prata se misturando a dor em seu peito com a lembrança. Um nó se formou em sua garganta com a volta da imagem daquele homem, do maldito sorriso em seu rosto, o som de suas palavras que reviraram o estômago de Remus naquele dia.
Ele se lembrou daquela fatídica noite, trinta anos atrás, quando viu a lua cheia brilhar pela janela enquanto tinha garras cortando seu corpo e dentes cravados em seus braços.
— Você quase matou um bruxo. Aqueles garotos poderiam ter matado trouxas inocentes… É o que queria? Torná-los iguais a você?
— Também usaram essas correntes no Greyback quando conseguiram pegá-lo? — Remus rebateu com outra pergunta, sua voz dolorida e embargada.
— O quê?
— Quando vocês capturaram o Fenrir Greyback trinta anos atrás, também usaram correntes de prata?
O silêncio foi quase ensurdecedor.
— Não.
— Claro que não, porque se tivessem usado, eu não estaria usando. — Remus enfim abriu os olhos, não conseguindo mais conter as lágrimas. — Não usaram prata. Não esperaram até a lua cheia como meu pai disse para fazerem. E quando a lua cheia chegou, em vez de estar numa cela, ele estava no meu quarto.
— Não importa como você foi mordido, Lupin…
— Eu tinha quatro anos. Faltava um mês para o meu aniversário. Eu passei a noite do meu aniversário de cinco anos trancado gritando de dor porque era a minha primeira lua cheia. Estou aqui com essas correntes me queimando porque vocês são incompetentes e não colocaram ela em quem realmente deveriam!
Howard ficou em silêncio, enquanto as lágrimas de Remus continuavam a cair e ele soluçava.
— Onde ele está agora? Trancado em uma cela de prata como ameaçam fazer comigo? Ou livre para transformar outras pessoas? Eu era só uma criança e desde então pessoas como você me tratam como se eu fosse um monstro.
— O seu passado não justifica o que você fez.
— Eu enfiei as minhas garras no peito daquele desgraçado para que não fizessem com meus filhos o que fizeram comigo.
Remus conteve outro soluço.
— Ele conhecia o Greyback. Todos sabiam que o Greyback pagava se alguém levasse outras pessoas para seu exército ou devolvesse fugitivos. Eu sou um fugitivo desde os meus quatro anos porque ele não conseguiu me levar naquela noite. Aquele homem iria levar os meus filhos e me entregar! “Já estão com um lobisomem, que diferença vai fazer? Ao menos ganharei algo com isso” — ele recitou o que ouviu naquele dia. — O que deveria fazer? Deixar que meus filhos acabassem como eu com o monstro que me transformou nisso que sou? E ele sabia que eu tinha sido transformado pelo Greyback, porque ele sempre morde no mesmo lugar, e eu passei a minha vida inteira fugindo dele. Ele ganharia muito entregando me entregando com mais dois de brinde para ele transformar.
Remus arregaçou a manga para mostrar a marca da sua mordida no braço. A marca que dizia quem o transformou no que ele era. Ele conheceu outros com aquela marca e não saberia dizer quem tinha vida pior: quem tentava fugir e se esconder dele ou quem estava ao lado dele todos os dias.
As mudanças constantes iam muito além de fugir de vizinhos anti-lobisomens.
— Se eu não tivesse atacado, meus filhos teriam uma dessas agora e todo o esforço do meu pai para me manter longe dele teria sido em vão. Então, não me julgue pelo que eu fiz. Quer me chamar de monstro? Eu sei que sou um, mas eu só estava impedido que meus filhos também fossem.
— Realmente impediu?
Remus mordeu o lábio com força e não respondeu.
— Você teria ido para Azkaban se o seu pai não tivesse intervido, e eles teriam ido para o parente mais próximo naquela época, o irmão de Walburga Black, Cygnus, ou sua sobrinha Narcisa. Eles não estariam sendo julgados, teriam crescido em uma boa família e não com um monstros que os ensinou a atacar bruxos e trouxas.
— Você ouviu alguma coisa do que eu falei? E eles com certeza estariam muito piores com os Black ou os Malfoy.
— Ouvi desculpas para não responder o que perguntei. Que provas tem de que isso foi legítima defesa dos seus filhos? De que o homem que você quase matou tinha contato com Greyback? A história que ele contou na época foi bem diferente.
— Porque a palavra de uma vítima é o mesmo que nada para vocês e preferem acreditar no verdadeiro culpado por tudo.
— Você realmente ensinou bem a eles. As mesmas desculpas, o mesmo discurso de vítima. Mas e as pessoas que vocês atacaram? Não são vítimas?
Remus balançou a cabeça negativamente e suspirou, exausto. Não adianta. Eles não vão acreditar nele. Não vão acreditar que ele não sabe onde Sirius está (por mais que ele saiba), assim como não acreditam que ele só estava protegendo seus filhos.
Ele brigou com seu pai quando descobriu o que ele fez, que ele usou os contatos que tinha no Ministério para fechar o caso e pararem de procurá-lo, o quanto de dinheiro ele gastou para jogar tudo para debaixo do tapete e tirar seu nome do Registro de Lobisomens. Mas hoje ele entende. Se Lyall não tivesse feito isso, alguma hora ele seria pego e preso.
Lyall sabia que ninguém acreditaria. Infelizmente, aquele mundo não era bom para os justos, e ele precisou agir como eles, precisou usar de dinheiro e toda influência mínima que pudesse ter para o próprio benefício, para proteger seu filho.
Se Lyall tivesse garras, ele também as usaria para proteger Remus se fosse preciso.
— Mais uma vez, Lupin… Diga onde está Sirius se quer ver os seus filhos outra vez.
— Não. Você não vai me tirar os meus filhos. Não conseguiram antes, não vão conseguir agora.
Howard respirou fundo e cruzou os braços.
— Você se importa demais com eles, Lupin. Diz que faria uma atrocidade por eles, que fez isso por eles. — Ele inclinou a cabeça. — Agora penso… você foi escolhido como padrinho de um deles. Eles são gêmeos, James Potter poderia ter sido padrinho dos dois, mas você foi escolhido também. Eles até o chamam de pai.
— Eu sou pai deles.
— Desde a prisão de Sirius ou já era antes? — Howard arqueou a sobrancelha.
— O-o quê?
— Eles são tão apegados a você. Você não tinha obrigação nenhuma de estar morando naquela casa apenas para ajudar a cuidar do seu afilhado. Eles não são seus filhos de verdade, Lupin.
— Eles são meus filhos.
— Mas você teoricamente só os adotou ao final da guerra. Por que você estava morando com eles?
— Eu só estava ajudando…
— Ajudando um amigo? Muito bom amigo, você era.
— É o que bons amigos fazem.
— E poderia fazer da sua própria casa, mas você estava lá, por dois anos. Qual era sua relação com Sirius Black nesses dois anos?
— Éramos… Amigos. Só isso. Sirius tinha perdido a namorada e o irmão, ele precisava de alguém por perto para ajudar.
— E você se ofereceu prontamente, não é?
— Porque ele era meu amigo e precisava de mim!
— Precisava de você?
— O que você quer de mim? O que está querendo dizer? Eu já falei tudo!
— Você se importa demais para fazer apenas por amizade, Lupin. Você assumiu a paternidade dos filhos do seu… Amigo?
— O QUE MAIS QUEREM DE MIM?!
Remus já não suportava mais. Começava a entender o caminho por onde seguia o raciocínio do auror, e ele não poderia ceder a isso.
— Isso faria muito sentido, não é? A namorada dele morreu e você prontamente se ofereceu para ajudar, talvez ajudar até demais. E então, você ficou com os filhos dele. Que bom amigo você é. Será que seu noivo sabe o quão bom amigo você era para Sirius?
— O que…?
— Você está noivo, não é? Anthony LeBlanc. Os LeBlanc são uma família muito rica, aliás, alguns pensavam até ter desaparecido com o tempo. Um Black e um LeBlanc, muito esperto, Lupin! Que tal chamarmos o seu noivo aqui para ver o que ele sabe sobre seu envolvimento com Black?
— NÃO! — Remus exclamou.
O auror riu. As deduções dele sobre isso estariam levemente erradas, claro, mas isso não importava, porque de toda maneira Sirius não poderia ser chamado em seu disfarce, seria muito arriscado.
— Oh, ele não sabe, então?
— E-ele não tem nada a ver com isso.
— Ele é seu noivo, então você já o colocou nisso. Vamos lá, Lupin! Vai contar onde está seu velho amante ou teremos que fazer uma visitinha ao novo?
— Pare com isso!
— Fale!
— EU NÃO SEI!
— Seria bom fazer uma visita, talvez até estejamos o salvando de estar amaldiçoado sob efeito da Amortentia…
— Pare…
— Afinal, quem amaria um monstro?
— PARE!
— Você poderia ter deixado aqueles garotos terem uma boa vida decente, mas os condenou a uma vida miserável sendo criados por um monstro, nunca parando em um lugar, correndo de um lado para o outro. Você é um maldito monstro egoísta, Lupin! Seus filhos só estão aqui por culpa sua.
— E-eu...
— Os manipulou para serem como você, para ter o carinho deles e não viver sozinho. Só um monstro amaria outro, não é?
Remus abaixou a cabeça, enterrando o rosto entre os joelhos e tampando os ouvidos, não querendo mais ouvir.
— Admita, Lupin! Você os condenou a isso e está arruinando a vida deles, para que fossem tão miseráveis quanto você. A chance de libertá-los está bem diante de você, mas não aceita.
— Para, por favor...
— Mas isso não foi o bastante. Você precisava ajudar o Black e ter a família completa, os dois trabalhando juntos para condenar aqueles garotos a serem iguais a vocês.
Remus soluçou.
— Está decidido, então. Uma visitinha ao seu noivo e ao Departamento de Relações das Famílias Bruxas para falar sobre o quão perigoso é deixar dois menores sob a tutela de um lobisomem.
— NÃO PODE FAZER ISSO!
Howard se levantou e avançou até Remus, agarrando sua gola com uma mão e colocando a ponta da varinha contra sua garganta.
— Não posso? Nós podemos TUDO! Posso até mesmo jogar um estuporante em você agora. Seria muito fácil acreditar que fui atacado por um lobisomem que não me deu outra escolha, hm? Talvez até um Cruciatus.
— Não podem tirar eles de mim.
— Escolha, Lupin! O que é mais importante? Proteger os seus filhos que tanto diz se importar ou Sirius Black? Escolha!
— NÃO!
— ESCOLHA!
— NÃO!
— Eles estarão bem melhor longe de você, não é mesmo? Até você percebe.
O auror jogou Remus contra o chão. Ele precisou apoiar suas mãos contra o piso para não bater a cabeça. Como ele imaginou, o chão também era revestido de prata.
Ele viu Howard começar a se afastou e começou a puxar as correntes e tentar se soltar, grunhindo de dor.
— VOCÊS NÃO VÃO TIRAR ELES DE MIM! ME SOLTEM!
— Você fez sua escolha, Lupin.
— ELES SÃO MEUS FILHOS!
— Então por que não aproveita a única chance de salvá-los? — Howard olhou para trás.
Remus estava destruído, desabando em lágrimas. Não poderiam tirar seus filhos dele, eles eram tudo que ele tinha. Ele fez tudo por eles, eles eram a sua vida. Sem eles, Remus já estaria morto há muito tempo.
A dor estava nublando seus pensamentos, mal conseguia respirar direito.
Como ele poderia escolher algo assim? Ele amava seus filhos e amava Sirius, não poderia perder eles, não poderia fazer isso.
Sirius passou doze anos preso por algo que não fez, Remus já se culpava o bastante por não ter dado a ele um voto de confiança antes, não poderia condená-lo a voltar para aquele lugar. Mas ele já não duvidava mais da capacidade do Ministério de fazer de tudo para conseguir o que querem.
Eles queriam Sirius e o teriam, custe o que custar.
— Você realmente ama os seus filhos?
— Me deixa ver eles, por favor…
— Diga.
— EU QUERO VER OS MEUS FILHOS!
— ENTÃO DIGA ONDE ELE ESTÁ OU NUNCA MAIS IRÁ VÊ-LOS OUTRA VEZ!
Remus grunhiu de dor.
Ele viveu sua vida para proteger os gêmeos. Sabia que não era seguro para eles, ele era o perigo que vivia ao lado deles, o motivo para nunca se fixarem em um lugar, o motivo para suas cicatrizes, o motivo para sempre desconfiarem de tudo.
Ele nunca foi a melhor opção, mas ele foi egoísta. Não queria ficar sozinho nem deixar que tivessem um destino como o de Sirius e Regulus vivendo com os Black. Porque ele amava aqueles garotos e isso foi mais importante que a sua razão.
— Diga onde Black está e até mesmo essa audiência estará acabada. DIGA!
O grito de Remus ecoou pela sala.
***
— Assina.
— Aurelie, eu não posso…
Lyall batia o pé no chão, ansioso, os braços cruzados, enquanto observava Aurelie e Mary tentando convencer Scrimgeour a assinar o pergaminho em sua mesa. Ele sabia que não seria uma tarefa fácil, conhecendo-o como o conhecia.
Não sabia quem era pior: Crouch ou Scrimgeour. Ele estudou com ambos e os dois eram igualmente mesquinhos, manipuladores e aproveitadores. Crouch fez sua campanha no cargo de Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia para futuro Ministro prendendo qualquer pessoa suspeita durante a guerra. Scrimgeour estava seguindo um caminho parecido agora que assumiu o cargo, mas sem uma guerra atrás dele.
— Fazer isso por um lobisomem irá manchar toda a minha campanha para as próximas eleições para Ministro da Magia.
— Que se fodam as eleições, Rufus! — Lyall exclamou, irritado, e apoiou as duas mãos na mesa. — O meu filho está preso numa sala, muito provavelmente sendo torturado pelos seus aurores, e eu juro por Rowena Ravenclaw que, se você não assinar essa porcaria de pergaminho, eu vou usar Imperio.
— Lyall, não vamos seguir por meios radicais — Mary aconselhou. — Não quero precisar te defender em um tribunal também.
— Sinto muito, Lyall. Nós somos amigos e tenho muito apreço por você e seu trabalho, mas entenda que o seu filho não é um bruxo como nós. Eu já te ajudei com ele antes, não posso mais fazer isso.
— O meu filho é um bruxo com muito mais caráter e muito mais habilidoso que você. Você passou raspando nos NOM’s de Defesa Contra as Artes das Trevas e só conseguiu os NIEM’s porque eu te ensinei a conjurar um patrono, e ainda assim você só fez um escudo, enquanto no quinto ano o Remus já conjurava um corpóreo.
— Isso já faz muito tempo, Lyall.
— Você nem teria conseguido um emprego no Ministério se eu não tivesse te indicado. Tudo você só conseguiu se pendurando em outras pessoas.
— Eu fiz o que precisava fazer para chegar onde cheguei, e você não pode julgar ninguém Lyall. Seu filho só se livrou daquela acusação por causa da minha ajuda e do dinheiro que você pagou!
— Eu sei, nunca falei que eu era um santo.
Lyall sabia bem tudo que já havia feito para proteger Remus, para esconder sua licantropia, para impedir que ele entrasse para o registro. Era a sua maneira de fazer algo por ele, de aliviar a própria culpa.
E ele faria absolutamente tudo outra vez. Usaria das mesmas cartas sujas que usavam contra eles se fosse preciso.
— Vamos logo com isso — Aurelie suspirou. — Você vai assinar isso ou vou ter que conversar com o editor do Profeta Diário sobre como um dos maiores candidatos para próximo Ministro da Magia desviou dinheiro do fundo para alunos de baixa renda para a sua campanha?
— O quê? Eu não fiz isso!
— Até descobrirem, o estrago já estará feito. É o que você pretendia fazer nas eleições, não é?
— Ou eu posso revelar algumas verdades que sei sobre você — Lyall falou. — Você se escorou no Barty a vida inteira para conseguir sucesso e mesmo tendo conseguido o cargo dele, faz de tudo para ter metade do nome que ele conquistou e usa esse nome para ter apoio, mas sem nenhum escrúpulo por baixo dos panos. Vazamento de informações confidenciais, suborno, queima de arquivos e muitos favores sujos para famílias puro-sangue em troca de apoio para sua campanha.
— Que provas você tem?
— Que provas vocês têm de que Remus está ajudando Sirius Black? Eu tenho muitos contatos em todos os departamentos, Rufus. Sei muito bem onde estou trabalhando. Estou aqui para proteger o meu filho de vocês e sei que para conseguir teria que jogar o seu jogo… E não se engane, não tenho medo de cair.
Scrimgeour cerrou os punhos e fechou a cara.
— Você não sabe no que está se metendo, Lyall…
— Se não soubesse, eu não estaria aqui. Assine isso ou poderá dar adeus a sua campanha e sua carreira.
— Você está vendo ele me chantagear, não está? — o homem olhou para Mary.
— É muito mais fácil defender chantagem que uma Maldição Imperdoável. Meio que não haveria chantagem sem que você desse motivo para isso e denunciá-lo poderia revelar seus segredinhos. — Mary sorriu. — E então, Sr. Scrimgeour? Vai assinar a declaração ou não?
— O rastreador dos gêmeos captaria minha magia, infelizmente, mas eu estou muito tentado a usá-la.
— Você realmente não entende, Lyall. Todos estão me cobrando para que algo seja feito o quanto antes. Black é perigoso e está foragido há mais de um ano, nós precisamos encontrá-lo. Ele pode estar recebendo ajuda, é a melhor justificativa para ele estar conseguindo escapar por tanto tempo, e seu filho é a única pista que temos além daqueles garotos. Remus precisa ser interrogado.
— Arrastaram ele como um animal com correntes de prata! Meus netos estavam apavorados sendo atacados por seus aurores, levados até o limite de sanidade. Se fizeram isso com crianças, não quero imaginar o que estão fazendo com meu filho.
— Estamos fazendo o que é preciso para capturar Black. Você entende que eles são as únicas pessoas relacionadas ao Black que temos.
— Por que Remus era amigo dele na escola? Por que são filhos dele? Eu namorei o tio dele, vão me interrogar e me torturar também? Uma de suas aurores é prima de segundo grau dele, também está sendo interrogada? E a mãe dela? Ela é a prima favorita dele. Oh! Narcisa Malfoy, também prima dele, vai ser interrogada? Podemos chamar o Lucius agora mesmo para perguntar se ele pode pedir a sua querida esposa para vir ser jogada em sala e torturada para entregar o primo que ela não vê há anos sem nenhum indicativo de que tenham voltado a ter contato.
— É diferente.
— A diferença é quem vocês escolheram usar de isca. Vão torturar o meu filho para fazer os gêmeos falarem!
— Então eles tem algo para dizer?
Lyall agarrou a gola da roupa do homem e o puxou para cima com uma expressão séria em seu rosto.
— Você não faz nem ideia do que eu seria capaz de fazer pelo meu filho e meus netos. Sua sorte é que eu sei que nem que você implore de joelhos Fudge vai permitir que Canis e Therion escapem da audiência sem o que querem. Podemos dizer mil vezes que não sabemos de nada, vocês só acreditam no que é conveniente. Mas ainda posso salvar meu filho. Então, assine a porra desse pergaminho ou verá o que eu faria por eles.
Scrimgeour engoliu em seco. A expressão de Lyall não suavizou, sua mão apenas apertando mais a gola, as mulheres ao lado apenas paradas de braços cruzados aguardando.
— Está bem! Está bem! Eu assino!
Lyall o soltou.
— Mas… Essa será a última vez. Se seu filho for pego de novo e entrar para o registro, não poderei fazer mais nada.
— Teremos mais cuidado de agora em diante. Assina.
Scrimgeour suspirou e pegou sua pena. Ele olhou para Lyall mais uma vez antes de pegar a tinta e enfim assinar o pergaminho. Mary o pegou rapidamente.
— Muito obrigada por sua colaboração. — Aurelie agradeceu com um sorriso irônico.
— Aproveitando a oportunidade, senhor — Mary sorriu. — Poderia me encaminhar todos os arquivos da condenação de Sirius Black?
— O quê?
— Estudo de caso. Gostaria de entender melhor toda a situação que levou a estarmos aqui e tem sido muito difícil conseguir essa papelada.
— Dê a ela o que ela quer — Aurelie disse.
— Venha Segunda-feira e veremos isso.
— Muito obrigada.
Eles deixaram a sala rapidamente para seguir até onde sabiam que Remus estaria. A Sala de Prata é o único lugar para onde poderiam levar um lobisomem para interrogatório.
As mãos de Lyall ainda tremiam, seus nervos a flor da pele. Eles demoraram muito mais do que pretendiam naquilo. Primeiro, para que ele tomasse s decisão mais difícil daquela manhã, a única forma de Aurelie conseguir fazer algo por Remus, algo que ele tentou impedir por anos que acontecesse. E então, a demora para conseguir falar com Scrimgeour, ou seja, mais tempo para Remus ser torturado e queimado pela prata.
Ele já viu o que fazem naquela sala, como ela deixa licantropos cada vez mais fracos. A prata queima com o contato, mas não apenas isso. Contato constante enfraquece como veneno.
Lyall sentia o coração apertado e um nó na garganta quase o sufocando ao pensar em Remus lá. Ele estava lutando muito para se conter, para não perder totalmente a razão, para não desabar de chorar por estar falhando no que prometeu a Hope que faria.
Ele prometeu a ela em uma das primeiras luas cheias que não deixaria que outras pessoas o machucassem, e ele falhou.
Mas todo o seu autocontrole desapareceu quando ele ouviu os gritos de Remus.
— Lyall, espere! — Mary exclamou, mas ele não lhe deu ouvidos. Ele já estava correndo pelo corredor.
Como um déjà vu de trinta anos atrás. Ele estava na cozinha preparando um chá antes de ir para a cama e então ouviu Remus gritar e logo estava correndo. Remus estava gritando outra vez, e ele estava correndo.
Ele não foi cuidadoso ao abrir a porta brutalmente.
Howard estava de pé sobre Remus, apontando sua varinha para ele. Foi como estar mais uma vez vendo o lobo sobre seu filho.
Lyall não pensou.
— Expelliarmus!
A varinha do homem voou de sua mão. Ele mal teve tempo de reagir em surpresa, pois Lyall já estava agarrando-o pelo uniforme e o jogando contra a parede.
— NÃO ENCOSTE NO MEU FILHO!
— LYALL!
— Esse é um interrogatório oficial do Departamento de Aurores e você não pode intervir, Lupin.
— Não?
Lyall pressionou sua varinha contra o pescoço dele, os olhos ardendo em fúria. Estava pronto para dizer um feitiço, mas duas mãos seguraram seu pulso.
Era Mary.
— Acabou, Lyall. Não precisa fazer isso.
— Ele…
— Ele não pode fazer mais nada contra o Remus, mas poderá contra você.
— Eu não me importo! — As lágrimas já escapavam de seus olhos.
— Remus, Canopus e Therion precisam de você agora. Não deixe a raiva te consumir agora. Fique com eles.
— P-papai… — a voz fraca de Remus chegou aos seus ouvidos.
Isso foi a única coisa que o fez se afastar.
Ele soltou o auror e jogou-se no chão onde o filho estava para abraçá-lo, exatamente como fez trinta anos antes. Puxou Remus para seus braços, e ele o agarrou de volta.
Usou sua varinha para soltar as correntes e jogá-las longe, então abraçando Remus com toda sua força.
— Eu estou aqui, filho. Estou aqui com você.
Remus chorava e soluçava alto, agarrado a ele como se fosse a única coisa que pudesse mantê-lo vivo, e naquele momento era.
Lyall beijou sua testa e acariciou os cabelos dele, murmurando várias vezes que estava ali com ele, que tudo acabou.
— Acabou, Remmy, acabou. Eu estou aqui. Eu estou aqui.
— Vocês estão interrompendo o meu trabalho.
— Você não tem mais permissão para interrogar Remus Lupin — Mary disse com a voz firme.
— Quem é você para dizer isso?
— Como Chefe do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, eu não permito que o faça — Aurelie deu um passo a frente.
— Isso não está em seu poder. Ele é…
— Um lobisomem. O Ministério da Magia Britânico categoriza lobisomens como uma criatura mágica, e o protocolo de ação para criaturas está sob o meu comando.
— Ele está sob suspeita de cumplicidade com um foragido do Ministério.
— Você poderia ter feito suas perguntas na sala usual de interrogatório com as devidas notificações.
— Elas não são necessárias porque…
— Porque ele é um lobisomem, mas nenhuma criatura mágica pode ser investigada se eu não permitir — ela reafirmou. — Ou você discorda e admite que ele é um bruxo como qualquer outro?
Howard ficou em silêncio, cerrando os punhos. Aurelie sorriu vitoriosa.
— Já que estamos de acordo, eu declaro que Remus John Lupin está sob proteção do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas e nada poderá ser feito por outros departamentos sem a minha autorização. — Ela estendeu a ele um pergaminho. — Você conhece o protocolo de proteção para criaturas, certo?
Mary abriu o pergaminho assinado por Scrimgeour.
— E para outros fins de afirmação, o Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia assinou este termo declarando que Remus John Lupin está livre de quaisquer suspeitas de cumplicidade com Sirius Black e que sua acusação anterior de ataque contra bruxos está, oficialmente, anulada e não poderá mais ser usada de maus antecedentes para fins de contenção com prata. Peço, por favor, que libere meu cliente para que possa receber os devidos cuidados na Seção de Tratamento do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas.
Howard leu os pergaminhos, claramente irritado. As duas ficaram entre ele e os Lupin, impedindo que se aproximasse outra vez e também para garantir que Lyall não faria nada.
O auror bufou.
— Nós ainda vamos capturar Black e provar que ele e aqueles garotos estão trabalhando com ele.
— Boa sorte buscando provas, Howard. Do Remus você não vai chegar perto.
— E eu vou garantir que nem dos gêmeos Black também — Mary completou.
O homem foi embora com os outros aurores. Mary então, enfim, abaixou a guarda e suspirou, deixando os ombros caírem enquanto se ajoelhava ao lado do amigo.
Remus estava encolhido nos braços do pai como uma criança assustada, chorando e tremendo. As marcas das correntes estavam queimadas em sua pele junto a reação da prata. Mary sentiu um nó em sua garganta, pois sabia que as marcas daquelas correntes não sairiam, elas se tornariam cicatrizes que ele carregaria para sempre, lembrando-o desses momentos de terror.
Ela via marcas como aquelas nos braços e tornozelos da esposa todos os dias.
— Ele precisa de cuidados imediatamente — disse tentando manter a calma.
— C-Canis… Therry… — Remus murmurou.
— Eles estão bem, estão dormindo, seguros. Vamos cuidar de você agora.
Mary passou um dos braços de Remus sobre seus ombro para ajudar Lyall a levantá-lo. Eles o levaram para fora da sala com dificuldade por conta de seu tamanho. Remus mancava com a cabeça baixa, mal conseguindo ficar de pé.
Fora da sala, eles ouviram vozes tumultuadas.
— EU QUERO VER O MEU PAI!
— Não pode ser… — Mary suspirou.
Remus ergueu a cabeça imediatamente e grunhiu de dor ao tentar andar mais depressa. Ele foi segurado por Lyall para não desabar, mas eles continuaram a caminhar até virar o corredor e encontrar os gêmeos muito bem acordados discutindo com aurores.
Canopus ainda abraçava a criatura peluda, que apontou na direção deles.
— PAPAI! — os gêmeos gritaram.
Remus desabou de joelhos enquanto os garotos empurravam os aurores e corriam até eles. Canopus colocou o seminviso no chão antes de se jogar sobre o pai com o irmão.
Lyall desabou com o filho e entrou naquele abraço.
— Como vocês chegaram aqui? — Mary perguntou.
Therion apenas apontou para a criatura agora no colo de Aurelie e voltou a abraçar o pai.
— Seminvisos vêem as probabilidades de caminhos e futuros. — Scamander deu de ombros e voltou-se para os aurores. — Está tudo bem, eles não vão causar problemas.
Remus olhou para os gêmeos, segurando os rostos deles entre suas mãos e analisando-os para se certificar se estavam bem, apesar de toda a dor em seu corpo como se todos os seus ossos tivessem se partido e a mente confusa.
Seus filhos estavam ali, estavam bem. Suas estrelas estavam bem ali com ele.
— A-as correntes… Eu vi… — Canis murmurou com a voz fraca e os olhos desceram para as mãos de Remus, vendo as marcas. — E-ele disse que ia te prender em uma cela de prata se eu não dissesse nada…
— E-está tudo bem…
— D-desculpa, desculpa…
Therion tremia com a dor em sua cabeça sentindo o caos de dor ao seu redor. Remus estava tão frágil, e ele viu… Ele viu. Como no sonho de Canis, como nas lembranças daquele auror no dia que Sirius foi preso… Fizeram o mesmo com os dois.
A imagem de seus pais sendo torturados era demais para ele depois de tudo que já havia acontecido.
E por alguma razão, um grande sentimento de culpa dominava seu irmão.
— E-eles… V-você… — Ele não conseguiu falar.
— Não é culpa de vocês… Não é culpa de vocês — Lyall disse para eles.
— D-desculpa, desculpa, desculpa… Eu devia ter dito logo... Desculpa, desculpa...— Canis continuou a repetir enquanto as lágrimas rolavam.
Mesmo fraco, Remus apertou os filhos em seus braços e não os soltou. Eles não se levantaram dali.
Uma equipe do departamento foi convocada trazendo uma maca para poderem carregar Remus para ser cuidado. Foi difícil convencê-lo a deixá-los ajudar, ele não queria soltar os filhos e nem deixou que ninguém além deles e Lyall o tocassem.
Lyall precisou voltar a reunir suas forças por ele.
— Você está muito fraco e machucado para conseguir sair sozinho. Eu vou chamar o Lewis para vir até aqui te atender e cuidar de você, está bem? Não vão fazer nada, os meninos vão ficar do seu lado o tempo todo.
Ele concordou, mas Lyall e os gêmeos que ajudaram a se deitar na maca. Enquanto o levavam para a área médica do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, Lyall correu o mais rápido que pôde para falar com o medibruxo que atendia os Lupin.
Remus não deixava ninguém chegar perto dele, nem mesmo Mary. Sentado na maca a espera do medibruxo, Mary tentou se aproximar, mas ele a afastou.
Ela não insistiu.
— Ainda temos algumas horas. Vocês precisam descansar.
— O que mais eles podem fazer nessas horas? — Canopus perguntou.
Mary suspirou.
— No momento, acredito que mais nada.
— Eles ficaram nos deixaram mais de uma hora trancados sem comida e nem um copo d'água e depois nos interrogaram até chegarmos ao limite — Therion falou.
— Eles torturaram o papai. Eu realmente espero que você esteja certa, porque eu só quero que isso acabe logo.
— Eles não podem fazer mais nada com o Remus, ninguém mais pode — Aurelie garantiu. — Enquanto ele estiver sob proteção do departamento, nada poderá ser feito contra ele. Ele está sob a mesma proteção do nosso pequeno ajudante de encrencas aqui. — Ela coçou o queixo do seminviso em seus braços.
— A proteção para criaturas…
— Se o Ministério não vai ver Remus como uma pessoa, então temos que jogar o jogo deles e usar isso a nosso favor. Para irem contra isso, eles vão ter que admitir que lobisomens são mais que criaturas… E eles não vão fazer isso tão cedo. Se fizessem por Remus…
— Teria que valer para todos.
— E eles nunca vão admitir isso — Therion completou e suspirou.
— Talvez, algum dia… Mas não hoje. O importante é que você está seguro agora, Remus. Infelizmente, para estar sob a proteção você precisa ser registrado…
Remus começou a negar com a cabeça.
— Não. Tire meu nome de lá.
— Remus…
— Meu nome não pode estar lá. Tire! Eu não quero proteção, tire meu nome agora!
— Lyall colocou o endereço dele. Para o registro, você está morando com o seu pai, que é um membro do departamento. Ele sabia que não tínhamos escolha…
Remus paralisou. Ele não disse nada, apenas ficou calado.
Quando Lyall retornou, Remus voltou seus olhos para ele. Ainda não disse uma única palavra, mas sua expressão já revelava que ele sabia o que havia feito.
O medibruxo entrou logo atrás dele.
— Olha, só! Vocês cresceram bastante desde a última vez, hm? — ele disse para os gêmeos com um sorriso amigável para tentar aliviar o clima do ambiente. — Ainda cuidando bem do pai de vocês?
Os gêmeos assentiram com a cabeça.
— Olá, Remus. Como está se sentindo?
Remus não respondeu.
— Eu vou precisar ver essas queimaduras, está bem?
O medibruxo se aproximou com cuidado. Remus se afastou e recolheu os braços, abraçando o próprio tronco.
— Eu estou aqui apenas para cuidar de você, Remus. Sei que está abalado, mas preciso tratar isso para que fique bem.
— Papai, por favor — Therion pediu.
Remus apertou os olhos, trêmulo. Ele apenas queria se deitar e chorar abraçado aos filhos pelo resto do dia, sem fazer mais nada, sem pensar em mais nada.
— Só preciso ver seus braços. Não vou te tocar, está bem?
Remus engoliu em seco e respirou fundo. Com ajuda dos gêmeos, ele retirou a parte de cima de suas vestes. Ele estendeu os braços para frente. Como foi dito, o medibruxo não o tocou.
— Você conhece a pomada para aliviar o efeito da prata. Lyall pode me ajudar a aplicar?
Remus assentiu com a cabeça. Ele olhou para o pai, nem uma palavra sendo dita, apenas dor em seu olhar.
— Desculpa… — Lyall sussurrou.
Remus não pensava em responder, mas também não teria tempo para isso, pois logo Howard estava adentrando o local com mais aurores.
— O senhor não tem mais permissão para falar com meu cliente, Sr. Howard — Mary imediatamente colocou-se à frente dele.
— Eu não estou aqui para falar com Lupin, Sra. Macdonald.
Todos franziram o cenho, confusos. Howard estendeu um pergaminho.
— A audiência de Canopus e Therion Black foi adiantada e ocorrerá em quinze minutos. Temos ordens para levá-los imediatamente para o salão da Suprema Corte.
Os gêmeos rapidamente se agarram a Remus.
— Nossas testemunhas ainda não chegaram.
— Então, diga para que se apressem. Podem levá-los.
— NÃO!
Remus se ergueu da maca quando os aurores puxaram os Black para longe dele, resmungando de dor.
— Me soltem! Eu sei andar sozinho — Canopus resmungou.
— Chame suas testemunhas, Macdonald. O tempo está correndo.
Os gêmeos foram escoltados pelos aurores até o salão do tribunal da Suprema Corte dos Bruxos, sob protestos quando suas mãos foram presas às costas outra vez por “questões de segurança”. Eles foram ainda assim, já não se importando com mais nada daquilo, apenas desejando que acabe o mais rápido possível e direcionando um último olhar na direção de Remus sendo segurado por Lyall.
— Eu preciso falar com Dumbledore — Mary disse.
— Eu faço isso. Chame quem mais precisar — Aurelie falou e marchou para longe deles rapidamente.
Mary pegou sua varinha e conjurou um patrono para avisar Hadria e Sirius do início da audiência como haviam prometido fazer.
Na entrada do salão tribunal, Howard parou diante dos gêmeos. Eles o encararam em silêncio, as feições sérias e irritadas.
— Como você pôde ver, Canopus, eu posso cumprir minhas promessas. — Ele sorriu de lado. — Viu o que uma sala de prata faz com o seu pai, não viu?
Canis cerrou os punhos.
— Ele não estará protegido para sempre. Nós temos outros meios de agir, então essa é a sua chance final.
— Fique longe do meu pai.
— Ficarei, se você me entregar a localização do seu outro pai. Eu cumpro minhas promessas. Diga e tudo isso acaba. Continuem mentindo, e isso terá sido apenas o início de tudo.
Therion encarou o homem. Ele estava protegendo a mente, é claro. Mas aquele homem que jogou seu pai naquela sala e o feriu, então não seria uma barreira mental que o impediria de tentar.
Howard fechou os olhos.
— Tentar confundir minha mente como fez com meu colega não é o melhor caminho, Black.
— Parece um ótimo caminho pra mim.
Therion se concentrou mais para ultrapassar as barreiras dele.
— Pare!
— Não pare, Therion — Canopus disse e encarou o auror, que olhou-o de volta. — Vocês podem fazer o que quiserem conosco agora, também sabemos causar dor se quisermos. Aquele estuporante não foi nada comparado ao que posso fazer com você. E se eu usar uma Maldição Imperdoável igual você fez na próxima?
— Quero ver conseguir, garoto.
— Howard… — o auror atrás de Canopus chamou.
— Eu não duvidaria. Você é um maldito verme igual aqueles trouxas. Se pudesse, eu lançaria todas as maldições possíveis neles agora. Acha que não faria com você depois do que fez?
— Howard!
Howard enfim olhou para o outro auror, que apontou para as mãos presas de Canopus, que soltavam faíscas vermelhas.
— Podem pegar Sirius, eu não me importo. Podem me jogar em Azkaban agora. Eu disse para ficar longe do meu pai.
Howard grunhiu de dor e levou uma mão à cabeça e outra à garganta, sem ar. Therion continuou a ir fundo na mente dele, rachando aquela barreira como vidro.
Os aurores de afastaram deles.
— Fiquem longe dos meus clientes, eu mesma os guiarei para o salão.
A chegada de Mary foi o que desconcentrou Therion, mas Howard ainda respirava com dificuldade e pressionava a mão no peito.
— Canis, já pode parar — Therion disse.
Howard caiu de joelhos.
— Canis, pare!
Mary colocou-se à frente deles e segurou seus ombros.
— Hey, eu estou aqui com vocês. Vai ficar tudo bem.
Ela os fez olharem para ela. Howard ofegou logo atrás, enfim respirando.
— Soltem eles. Não tem mais para onde ir.
Os aurores soltaram as mãos deles depois que Howard assentiu, e então se afastaram. Eles logo seguraram as mãos de Mary.
— Remus não está apto a depor, mas nós ainda vamos conseguir. Lembrem-se de tudo o que combinamos e conversamos.
— Que eu não sei controlar minha magia? — Canopus riu.
— Eu ia dizer para vocês se comportarem, mas… Se em algum momento sentir que sua magia vai explodir, deixe.
— O quê?
— Siga tudo o que falamos. Você não queria fazer aquilo, estava se defendendo e fugiu do seu controle.
— Essa parte eu entendi.
— Mas eles vão pressionar você. Se isso fizer sua magia se descontrolar outra vez… Deixe que vejam. Não a contenha.
Canopus entendeu o que ela quis dizer, qual era sua ideia, mas ele gostava disso tanto quanto da ideia de seu pai ter que dizer que apesar de todos os seus esforços eles não aprenderam a controlar totalmente sua magia.
— Ler a mente da Suprema Corte não é exatamente de bom tom, mas pode ajudar. De qualquer forma, sigam o plano. Não respondam nada que não tenhamos dito antes, okay?
— Okay — eles assentiram.
Mary respirou fundo. Aquele era, certamente, um dos casos mais complicados com o qual trabalhou.
— Faltam cinco minutos.
— Isso é tempo o bastante para nos recompor, porque não vou entrar lá com a maquiagem borrada.
Mary sorriu fraco.
— Eu sempre carrego um lápis e um delineador na bolsa.
O salão do tribunal era amplo como uma arena circular, com duas cadeiras posicionadas ao centro diante do Ministro da Magia e toda a corte. Os outros assentos estavam ocupados por pessoas interessadas. Ao ver as câmeras, os gêmeos logo julgaram que eram mais jornalistas do Profeta Diário.
Ela os guiou até às cadeiras no centro, onde se sentaram eretos. A maior surpresa foi as correntes delas não os prenderem imediatamente, mas não reclamaram, já foram presos o suficiente para um único dia.
Eles reconheceram a mulher sentada ao lado do Ministro, robusta em roupas cor de rosa e laço da mesma cor adorando o cabelo volumoso bem arrumado. Anos atrás, eles a viram estampar o Profeta Diário: Nova Subsecretaria do Ministro da Magia, Dolores Umbridge, aprova novas leis de restrição de direitos para lobisomens.
Aquela mulher tornou a vida dele muito mais complicada. Eles ficaram quase um ano inteiro vivendo com o avô e meses sem notícias do pai porque ele não conseguia emprego por causa das leis dela que o impediam de conseguir um sem ser descoberto e precisar entrar para o registro de lobisomens. Remus buscava Lyall quando mais precisavam, mas ele não ficava muito por lá propriamente.
Era um lugar seguro para os gêmeos, mas Remus não queria ser um grande estorvo para o pai.
Faltava apenas um minuto para o início da audiência quando a atenção dos jornalistas foi para Albus Dumbledore entrando no salão ao lado de Harry Potter e sentando-se na arquibancada na área das testemunhas.
Harry olhou para os gêmeos com um claro questionamento no olhar, apreensivo.
Therion começou a girar a aliança em seu dedo e sorriu fraco para Harry, balançando a cabeça para dizer que estava tudo bem, por enquanto.
Junto aos bruxos com as câmeras estava uma mulher loira de óculos com uma pena de repetição rápida. Eles já esperavam estampar a próxima capa do Profeta Diário.
Ainda bem que eles retocaram a maquiagem com Mary.
— Audiência do dia trinta de setembro para averiguar violações ao Decreto de Restrição à Prática de Magia por Menores e ao Estatuto Internacional de Sigilo e acusações de ataque a três trouxas e a aurores em serviço do Ministério da Magia cometidas por Canopus Alphard Black e Therion Regulus Black, residentes de Rowen's Valley, número 727 — disse o Ministro. — Inquiridores: Cornelius Oswald Fudge, Ministro da Magia; Rufus Bernard Scrimgeour, chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia; Dolores Joana Umbridge, subsecretária sênior do ministro. Escriba da corte, Wayne Patrick Chapman…
Os gêmeos acenaram na direção do escriba com um sorriso, o reconhecendo como um dos formandos do último ano letivo e também irmão mais velho de Will, o velho amigo de infância deles que Canopus beijou na frente de toda Hogwarts no dia anterior. Ele fingiu não ter visto nada.
— Testemunhas de defesa: Remus John Lupin, Harry James Potter, Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore… — continuou o ministro. — Testemunhas de acusação: Jonathan Liam Thompson, Edgar Marcus Flint, Michael Terrence Ripley, Stephen Rowan Howard, Daniel Vincent Williams…
Os gêmeos cruzaram os braços e suspiraram enquanto todas as formalidades eram ditas pelo ministro, aguardando até ele terminar de falar.
— Os senhores, deliberadamente e em plena consciência da ilegalidade de seus atos, sendo menores de idade, utilizaram magia na frente de quatro trouxas, o que constitui uma violação ao parágrafo C do Decreto de Restrição à Prática de Magia por Menore e também à Seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional dos Bruxos, para atacá-los com intenção de ferí-los gravemente e, até, matá-los, o que fere o parágrafo F da Lei de Uso Indevido da Magia e o parágrafo D da Lei de Proteção aos Trouxas. Além disso, durante interrogatório, utilizaram de magia contra um esquadrão de aurores, ferindo também a Lei Contra Ataques a Autoridades Ministeriais.
Ouviram-se vários murmúrios entre as pessoas nas arquibancadas.
— Os senhores admitem tais violações?
— Sim — eles responderam em uníssono.
— Sem a parte da intenção de matar — Therion completou.
— Talvez nem tanto — Canopus falou em seguida.
— Admitem ter utilizado Feitiço Estuporante contra trouxas, deliberadamente?
— Não tão deliberadamente, mas muito bem feito, então sim — Canopus respondeu.
— Admitem ter atacado deliberadamente dois aurores em interrogatório?
— Com muito prazer.
— Eu não utilizei nenhum feitiço. — Therion deu de ombros. — A mente dele apenas foi fraca demais.
— Admitem atacar um esquadrão de aurores?
— Eles quem nos atacaram, apenas nos defendemos.
— Então, sim — Canopus confirmou.
— Perdoe-me a interrupção — Umbridge falou, com um sorriso visivelmente falso e forçado. — Se eu entendi bem, vocês estão acusando o esquadrão de aurores do Ministério da Magia de ataque intencional?
— Sim, estamos.
— Ministro, gostaria que se iniciasse o relato de meus clientes a respeito dos fatos — Mary pediu antes que aquilo se estendesse. Ela fez um bom estudo sobre os membros da Corte.
— Eles confessaram os feitos, Sra. Advogada.
— Toda ação possui o direito de ser justificada perante às leis do Ministério da Magia Britânico. Antes do relato das testemunhas, os acusados possuem o direito de contar sua versão dos fatos.
Fudge fechou a cara. Ele estava claramente contrariado, mas Mary permaneceu firme em sua posição, e o Ministro teve de ceder.
— Certo. Então, onde estavam na noite dos fatos decorridos?
— Eu estava com Harry Potter em Londres.
— Eu saí com meu namorado, Elliot, para um encontro nos arredores do vilarejo. Quando estávamos voltando para casa, aqueles trouxas chegaram.
— E então, o senhor atacou deliberadamente estes trouxas?
— Eles me atacaram. Bateram no Elliot, depois vieram para cima de mim. Eu apenas revidei.
— E por qual razão eles atacariam?
— Porque eu estava com meu namorado e eles são preconceituosos.
— O senhor e seu namorado, Elliot Baker, incitaram a violência?
Canopus cerrou os punhos.
— Eu apenas estava voltando para casa com ele, apenas isso. Para pessoas como eles, nossa existência já é motivo o bastante para atacarem, porque eles nos odeiam. Não dissemos nada, não fizemos nada, eles apenas atacaram, e eu me defendi. Soquei a cara deles e bati a cabeça daquele infeliz do Jake no chão até eles pararem, mas eles não pararam por muito tempo.
— Meu irmão e eu temos um espelho de dois sentidos para nos comunicarmos. Voltei assim que nos falamos, e ele falou da briga. Harry e eu chegamos e ajudamos meu irmão e Elliot a se defender deles. Jake não queria parar, ele planejava voltar. Ele ia nos matar se tivesse a chance.
— Como pode ter tanta certeza?
— Porque eu sou a porra de um legilimente. Não acabamos de falar sobre o seu auror que eu supostamente ataquei? Eu só entrei na mente dele.
— Eles teriam nos matado, então me defendi. Meu irmão chegou quando tudo já estava acabado, para a sorte deles.
Therion olhou para Canopus imediatamente.
— Eu...
— Ele não usou nenhum feitiço além de "enervate". Por mim, nem teria feito isso. Era melhor deixá-los jogados no chão como as pragas sujas que são.
Aquilo, certamente, não estava entre o combinado a ser dito.
— Eu não me arrependo dos feitiços. Se pudesse voltar até lá, teria feito pior.
— Está assumindo que atacou e atacaria novamente aqueles trouxas, Black?
— Eu teria matado cada um daqueles malditos trouxas se tivesse a chance.
E então, todo tribunal foi tomado por suspiros chocados e o silêncio ensurdecedor.
Harry engoliu em seco, os olhos arregalados. Dumbledore estava igualmente em choque, embora não surpreso. Mary paralisou por alguns momentos, pensando como contornar uma frase tão… Comprometedora.
Ninguém disse uma única palavra, todos olhando para Canopus, que permaneceu no assento com uma expressão fria no rosto e olhos faiscando. Poucos que se sentaram ali tinham um olhar tão gélido quanto aquele, mesmo entre os piores.
Palavras e um olhar podem dizer muito e guiar todo um destino.
———————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Enfim estamos de volta com a audiência!!!
A audiência e todo esse caos foi certamente o motivo da demora para sair esse capítulo, mas o próximo já está bastante adiantado, então não demorará tanto. Depois dessa audiência, as atualizações serão mais frequentes como antes!
Sobre a parte do Remus... Eu chorei escrevendo e fiquei pensando se deixava ela ou não. Decidi deixar porque faz parte da trama que vou trabalhar ao longo da história sobre como o Ministério é, e os efeitos disso serão trabalhados nos capítulos focados em Sirius e Remus assim como tenho trabalhado os efeitos de Azkaban no Sirius aos poucos.
No próximo capítulo veremos o resultado da audiência :)
Acham que o Sirius vai ficar realmente parado em casa?
E Lyall... Deixar ele vivo na história é simplesmente uma das minhas melhores decisões. Eu vejo muito pouco ser trabalhada a relação dele com o Remus e a culpa que ele sentiria por causa do Greyback. Ainda veremos muito dos Lupin!
Espero que tenham gostado do capítulo! Não esqueçam de comentar bastante!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋🏻
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