LVII. Madness game
A audiência dos gêmeos Black seria um evento para o Ministério da Magia muito maior do que imaginavam.
Naquela manhã, os gêmeos não vestiram seus uniformes habituais. Ambos vestiram calças pretas justas e calçaram botas escuras, camisetas pretas e jaquetas de mesma cor. Estavam completamente iguais, até mesmo os cabelos escuros presos no alto com a franja caindo sobre o rosto e lápis preto sob os olhos.
Merliah foi até o quarto deles, não apenas para se despedir, mas porque sabia muito melhor que eles como disfarçar com uma boa maquiagem que estiveram chorando grande parte da noite. Não queriam que ninguém percebesse isso, não queriam parecer abalados.
Se fossem fotografar a audiência, como tinham certeza que o Ministério faria, ao menos estariam melhores que Sirius na capa do Profeta Diário. Eles queriam um show, e os gêmeos dariam isso a eles.
Seus colegas de quarto observaram a preparação enquanto amarravam as próprias gravatas.
— Estão se preparando para um grande show, Black? — Nott perguntou rindo.
— Meio que sim — Therion respondeu. — Podem admitir que sentirão nossa falta, prometemos não contar a ninguém.
— Seria uma pena termos que nos despedir permanentemente, mas pelo menos a Sonserina não vai mais perder tantos pontos — Blaise retrucou em seguida.
— Vamos ver as ampulhetas hoje e ver quantos ainda restam. Dependendo de quanto perderam ontem, é melhor realmente serem expulsos, porque todos nós iremos matar vocês.
— Foi apenas um mês de aula, vocês conseguem recuperar — Canopus garantiu enquanto se admirava no espelho para ter certeza de que não havia sinal das lágrimas da noite anterior em seu rosto.
— Eu fiz um trabalho perfeito nesse rostinho, Canis. Pode sair desse espelho. — Merliah afastou-se de Therion. — Prontinho! Estão lindos.
— Agora você pode sair do nosso quarto — Theodore a expulsou.
— Posso dar um belo trato nesse cabelo, Nott. Sei fazer uma ótima finalização nessas ondas.
— Eu sei pentear meu cabelo, Stuart. Agora, saia!
— Esse quarto também é nosso e nós queremos que ela fique — Therion rebateu.
Liah sorriu e caminhou até a cama do amigo, sentando-se de pernas e braços cruzados. Nott bufou e pegou um pente, indo até o próprio espelho, enquanto Blaise ajeitava a capa.
Draco permanecia calado, apenas observando com os olhos atentos todos no quarto, especialmente Canopus, que agora estava tirando um Antares sonolento de sua cama. A doninha o mordeu, não gostando de ser tirada de seu sono, mas ele não pareceu se importar, e logo o animal aconchegou-se em seu peito e dormiu de novo.
— Enfim, foi bom dividir o dormitório com vocês. Adeus! — Blaise se despediu.
— Nós faremos um bom trabalho substituindo vocês dois no time de quadribol — Nott falou.
Os gêmeos riram.
— Só nos sonhos de vocês — Therion retrucou.
— Se vocês voltarem, eu pago uma rodada de cerveja amanteigada em Hogsmeade, porque isso é quase impossível.
— Agora está falando nossa língua, Nott — Canopus falou. — Muito fofo vocês se despedindo. Vamos enviar cartões postais de Azkaban.
— Não vai dizer nada, Draco?
— Dizer o quê?
— Se despedir. Com quem você vai discutir todos os dias agora fora o Potter? Essa é sua última chance de encher o saco deles!
— Ah, ele já se despediu muito bem ontem — Therion comentou e olhou para o irmão e depois para Malfoy.
O rosto de Draco imediatamente ficou tão vermelho quanto um tomate. Canopus comprimiu os lábios antes de sorrir levemente de canto, e talvez suas bochechas tenham corado também.
Os olhos dos dois se encontraram brevemente, antes de Malfoy desviar.
— Será um alívio enfim ter paz nessa escola depois que vocês forem. Então, adeus!
Draco saiu rapidamente do dormitório.
— Perdemos alguma coisa aqui? — Blaise franziu o cenho.
— Esse quarto está precisando ser mais unido — Merliah comentou.
— Mais? — Therion riu arqueando a sobrancelha.
— Você odeia Pansy e Daphne — Canopus argumentou.
— Nós conseguimos estipular bons termos de convivência. Há muitas coisas que vocês não sabem. E eu adoro a Sam!
— Que Sam?
— Minha outra colega de quarto e amiga?
— Sua lista de amigos além de nós fica cada vez maior — Therion comentou.
— Não precisa ter ciúmes, Therry, você ainda tem um lugar especial.
— Só o Therry?
Merliah ignorou a pergunta de Canopus, olhando para suas unhas pintadas de azul escuro naquela semana.
— Quando eles voltarem, faremos uma festa da vitória pela audiência. E aí vocês podem pensar em como serem colegas de quarto mais unidos.
— Prefiro não pensar. Adeus, Black! — Nott acenou e foi embora.
— Boa sorte na audiência, de verdade — Zabini falou.
— Obrigado, Blaise — os gêmeos agradeceram.
O garoto foi embora do quarto.
Os gêmeos suspiraram, observando os arredores do quarto com um olhar melancólico, apreciando os detalhes pela última vez.
Eles passaram muito tempo ali, já havia se tornado um lugar familiar. Um refúgio em meio ao caos. Tinham muito orgulho de fazer parte da Casa Sonserina, não importava a fama que tivesse. No início, ficaram receosos, de fato, mas não deixariam o que os outros pensavam abalá-los. A Sonserina era muito mais que a “casa dos bruxos das trevas”.
Enquanto todos os julgavam, seus colegas sonserinos faziam o oposto. Cada um com seus motivos para isso, alguns por não se importarem, mas eles agradecem por isso, por saberem se preocupar com as próprias vidas, mas ao mesmo tempo serem leais de certo modo.
Não era fácil se despedir após tanto tempo, tantas aventuras.
— Será que os aurores já chegaram? — Canopus se questionou.
— Não duvidaria se já estivessem na porta — Therion comentou.
Os dois suspiraram pesadamente, então olharam na direção da amiga. Ela não deixou-os dizer muitas palavras de despedida no dia anterior, não queria pensar demais naquilo.
— Liah…
— Não comece, Canis. — Ela ergueu o indicador, e ele se calou. — Vocês vão conseguir e vão voltar, estão me ouvindo? Vão dizer na cara daqueles malditos que estão mexendo com as pessoas erradas e que não são vocês que deveriam estar lá sendo julgados, e sim aqueles homofóbicos filhos da puta.
— Mas, caso não dê certo, o que é bem provável…
— Sem pessimismos!
— Vamos sentir sua falta.
Merliah fungou, os olhos se enchendo de lágrimas. Ela estava tentando muito não chorar, sem sucesso.
— Também vou sentir falta de vocês… Mas espero não precisar sentir!
Therion foi até ela e a abraçou forte, tentando não chorar também. Já haviam chorado demais e o Ministério não merecia nenhuma de suas lágrimas.
— Saiba que nós estaríamos muito piores sem você do nosso lado. Você é quem levanta nossos ânimos quando precisamos.
— Acho que nós ainda não estamos nos melhores termos, mas… Therion está certo — Canis disse e também foi até eles. — Você sempre vai ser a nossa melhor amiga. Eu agradeço por ainda estar conosco apesar de tudo.
— Ganhou meio ponto a mais pelo agradecimento — ela disse. Canopus riu baixo. — Faça mais vezes.
— Como quiser.
— Mas nem pensem em chorar e estragar minha arte nesses rostinhos lindos!
Os gêmeos então riram e apertaram a garota em um forte abraço em conjunto. Therion olhou para o relógio.
— Já se despediu do Antares, Canis?
— Me despedir? Eu vou levá-lo comigo.
— Eu posso cuidar dele — Liah sugeriu.
— Obrigado, Liah, mas eu realmente quero levar o Antares comigo.
Canopus colocou a doninha por baixo do casaco e fechou-o, exibindo um sorriso. Antares farejava o ar com apenas a cabeça a mostra e então fechou os olhos com um carinho de Canis.
— E está bem quentinho para dormir.
— Espero que os aurores não o encontrem.
— Eles que tentem machucar o Antares. Aí sim eu darei motivos para ser preso.
— Bom, me contem como é o Ministério depois. Será que é parecido com a sede do escritório do Primeiro Ministro?
— Vovô disse que é bem grande e fica no subterrâneo de Londres — Therion comentou. — Ele se perdeu no primeiro dia de trabalho.
— Duvido que os aurores saiam da nossa cola para nos deixar nos perdermos. Pelo menos, acho que o vovô já vai estar lá antes de papai chegar.
Assim esperavam, seria bom ver alguém da família por lá.
Os gêmeos acompanharam Merliah até o dormitório dela, pois ela dizia que precisava retocar a maquiagem antes de ir para o Salão Principal. Bastet estava bastante entretido com um novelo de lã quando chegaram, e Canis apertou mais Antares contra o peito.
O gato da amiga podia ser imprevisível as vezes.
— O que estão fazendo aqui? — Daphne indagou com uma expressão confusa e de leve desgosto, sentada em uma penteadeira penteando os longos cabelos loiros e olhando para os gêmeos após vê-los pelo reflexo do espelho.
— Acompanhando nossa amiga. Por quê? — Therion respondeu e arqueou a sobrancelha.
— Saiam já daqui! — Pansy exclamou num tom realmente irritado e com uma expressão dura no rosto.
— Já estamos indo, Parkinson. Volte pra sua maquiagem — Canis rebateu.
— Podemos convidar quem quisermos, essas são as regras — Liah falou indo para a própria penteadeira lotada de produtos de maquiagem, pele e cabelos.
— Desde que as outras não tenham objeções.
— Ah, por mim tudo bem — disse uma garota sentada na cama mais afastada que penteava os pelos de um gato enorme e peludo. Ela deu de ombros e ajeitou os próprios cabelos, o rosto corado.
— Por mim tanto faz, se vão sair logo. — Daphne voltou-se novamente para o espelho para fazer seu penteado.
Pansy olhou indignada e desacreditada para Greengrass antes de bufar. Ela lançou um olhar sério e quase mortal para os gêmeos. Seus olhos pareceram reparar em Antares, e então encarou especialmente Canopus com muito mais irritação, e enfim retornou para sua maquiagem. O garoto não deu importância a isso.
A estrutura do quarto não era muito diferente do dormitório dos gêmeos, a diferença é que havia uma cama a menos, pois apenas quatro garotas entraram na Sonserina naquele ano, e mais penteadeiras repletas de maquiagens e produtos para cabelo, coisas que os garotos costumavam deixar ou nas cômodas, ou na mesa de cabeceira ou nos próprios malões.
As decorações tinham bem a cara das residentes ali. A área de Pansy e Daphne neutra e bem arrumada, das outras duas repletas de pôsteres e fotografias nas paredes, arranhadores para gatos e lugares para eles escalarem.
Os garotos repararam em alguns detalhes enquanto aguardavam a amiga, mas não ficaram realmente muito por ali. Depois que Merliah terminou de retocar a maquiagem, eles saíram do quarto, seguindo caminho para o Salão Principal.
Não sabiam a que momento os aurores chegariam, então iriam tomar seu café da manhã o quanto antes. A maior suspeita deles é de que chegariam na hora da primeira aula.
Contudo, eles estavam enganados.
Assim que adentraram o salão, avistaram cinco aurores uniformizados caminhando em sua direção vindos da mesa dos professores. Eles engoliram em seco, surpresos com o quão rápido foram.
— Canopus e Therion Black, vocês serão escoltados até o Ministério da Magia e permanecerão sob custódia no Departamento de Aurores até sua audiência pela acusação de uso indevido de magia por menores e ataque premeditado a trouxas. Qualquer resistência será denunciada e entrará para os autos do processo.
Duplas de aurores avançaram até os garotos. Canopus acabou dando passos para trás inconscientemente, apertando um Antares agitado contra o peito e tentando mantê-lo protegido em seu casaco. Porém, quando seus braços foram agarrados e ele foi puxado para fora do salão, a doninha escorregou de seu peito para o chão.
Ele agitou-se para soltar-se dos aurores, os olhos arregalados.
— Esperem! Me deixem levar ele!
Ele soltou-se e tentou ir atrás do animal, mas foi agarrado novamente e um dos aurores afastou a doninha com o pé para longe.
— Não o machuque! Me soltem!
— Vocês estão me machucando, me soltem! — Therion exclamou impaciente, tentando inutilmente se soltar.
— Antares, vem aqui! — Canopus assobiou, mas os aurores continuaram a puxá-lo.
A doninha andou de um lado a outro agitada, tão rápido que Merliah não conseguiu agarrá-la. Canopus sentiu o coração quase sair pela boca, os olhos ardendo, não conseguindo mais se soltar pois suas mãos estavam agora presas as suas costas.
— Me deixem levar ele, por favor! Eu preciso!
Therion sentiu a agitação do irmão em seu peito e isso apenas o deixou mais agitado, principalmente ao perceber o laço brilhante prendendo duas mãos para trás.
— Soltem o meu irmão! Ele não precisa do feitiço de algemas!
— Calados!
— Soltem ele, agora! — Therion exclamou mais uma vez tentando soltar-se.
Então suas mãos também foram presas com um feitiço.
Os garotos foram arrastados sob olhares atentos. Canopus apenas viu Merliah tropeçar com Antares passando por entre seus pés tentando agarrá-lo e então Draco correr e pular no chão para conseguir pegar a doninha e um par de olhos azuis o encontrando antes de ser puxado para um corredor.
Isso, de certo modo, lhe trouxe certo alívio.
— EI! Soltem eles!
— Harry, fique aí! — Therion exclamou ao ver o garoto vindo do corredor que levava as escadas em direção a Torre da Grifinória junto de Rony e Hermione.
— Afastem-se! Eles estão sendo levados para o Ministério, sem interferências — o auror que seguia a frente liderando disse firme.
— Vocês estão arrastando eles como dois criminosos! Deixem eles irem sozinhos.
Os gêmeos não demoraram a entender que aquela era justamente a ideia.
— Harry, nos vemos no Ministério — Canopus disse num tom repentinamente sério enquanto era arrastado para longe.
O quinto auror impediu Harry de seguí-los, enquanto o garoto exclamava, embora os outros dois amigos tentassem levá-lo para o salão.
Therion virou-se e tentou voltar para Potter num impulso, não queria ir embora daquele jeito. Nada na noite anterior pareceu o bastante, aquele não poderia ser o jeito que se despediriam.
— HAZZ!
— ME DEIXA FALAR COM ELES! — Harry gritou.
— Vamos, Harry! — Hermione tentou puxá-lo junto de Rony, olhando receosa e assustada para os aurores.
Therion sentiu mãos apertarem seus braços com mais força. Talvez ele chorasse por isso, mas naquele momento não conseguiu. Ele apenas sentiu um fogo furioso dentro de si, com raiva. Nada daquilo deveria estar acontecendo.
Apenas conseguiu encarar os olhos de Harry a distância uma última vez e então um auror segurou sua cabeça e o fez olhar para frente.
Canopus caminhou em silêncio, não mais se agitando como o irmão. Sua mente e sua expressão falavam muito mais. A raiva que Therion sentia não vinha apenas de si mesmo, mas do próprio irmão, que olhava para frente com o rosto erguido como se de um instante para o outro uma chave tivesse virado em sua cabeça.
Ele enviou um breve olhar para o irmão que o fez enfim parar de se debater e tentar olhar para trás. A conexão foi imediata, os pensamentos conectados.
Therion engoliu em seco e olhou para frente, a respiração intensa.
Não poderiam combatê-los agora, e eles queriam justamente que tentassem e falhassem, para poder dizer o quão terríveis eram perante aquele tribunal.
— Caros senhores, acredito que não seja necessário levar os garotos dessa forma — Dumbledore comentou quando o encontraram na saída.
— Eles resistiram, é o protocolo.
— Resistir? Vocês que já chegaram nos puxando! — Therion exclamou.
— Nós sabemos o que estão fazendo, não precisam se esconder atrás de pretextos esfarrapados como protocolos.
— Temos um horário a cumprir, então, precisamos ser rápido, Professor Dumbledore. Com sua licença.
— Nos veremos em breve, garotos. Lembrem-se, o destino pode se desenrolar de várias formas e existem muitos caminhos.
E com mais uma frase enigmática do diretor, os garotos foram levados para fora dos domínios de Hogwarts, onde uma chave de portal os aguardava.
Eles não puderam passar muito tempo apreciando os detalhes do Ministério. Assim que chegaram, suas varinhas foram confiscadas e eles deram de cara com flashes de câmeras bruxas em seus rostos.
Repórteres do Profeta Diário e outros jornais e revistas do mundo mágico estavam prontos para o show. Os gêmeos mantiveram a cabeça erguida, sem dizer mais uma única palavra, suas percepções apenas se comprovando a cada momento mais verdadeiras.
Como Harry disse: eles estavam sendo levados como criminosos.
Eles eram Canopus e Therion Black, os filhos do temido assassino Sirius Black. Tão loucos quanto o pai. Tão cruéis quanto o homem que assassinou treze pessoas e riu disso em meio ao caos. Dois garotos que atacaram trouxas a sangue frio.
Essa era a visão que o Ministério queria transmitir ao país. É assim que eles trabalham.
Essa seria a manchete, a menos que eles joguem o seu jogo.
***
Tudo já começou mal quando os garotos foram levados para salas separadas.
Eles protestaram, mas não adiantou. Cada um foi levado para uma sala diferente e deixado sozinho sentado de frente para uma mesa por um longo tempo. Não gostavam nem um pouco da ideia de serem separados.
E eles ainda não haviam tomado café da manhã, o que não melhorava seu humor. Por isso, quando o auror entrou na sala, Canopus imediatamente lançou-lhe um silencioso olhar sério e mortal.
O homem parecia ter aproximadamente a idade de Remus, vestido em um uniforme vermelho. Ele sentou-se à sua frente e colocou um copo transparente com suco de abóbora sobre a mesa, encarando-o atento.
— Eu sou o agente Howard e vou apenas lhe fazer algumas perguntas. Pode beber, é suco de abóbora.
— Vocês me tiram da escola antes do café da manhã e pensam que um simples copo de suco de abóbora é o bastante?
— Traremos um bom café da manhã para você e seu irmão quando responderem nossas perguntas.
— Eu não estou muito apto a responder perguntas quando estou com fome. Para onde levaram meu irmão?
— Ele está em outra sala conversando com um amigo meu.
— E por que não podemos conversar todos juntos?
— Questões de segurança, além de que assim podemos ter um diálogo mais direto. Beba.
— Me traga meu irmão e um café da manhã decente e quem sabe eu pense em conversar com você.
— Você não está em posição de exigências, Black.
Canopus cruzou os braços.
— Quer que eu responda ou não?
— Suco primeiro. Depois vemos o que poderá comer.
— Vocês nos pegaram antes do café da manhã justamente para nos deixar com fome e usar isso de barganha, não foi?
— Você está pensando demais, garoto. E acredito que realmente esteja com sede, então aproveite. Não são todos que recebem tamanha regalia.
— Bom saber os métodos de tortura que usam. Eu, definitivamente, não quero ser um auror depois que me formar.
— Vamos direto ao ponto.
— Espero que esse ponto seja quando verei o meu irmão. Na verdade, posso falar com meu avô?
— Seu avô morreu durante a guerra, e pelas informações que temos, seu avô trouxa também já está morto há muito tempo.
— Lyall Lupin está bem vivo até onde sei.
— Acho que ainda não entendeu onde está, Black.
— Entendi muito bem, Sr. Howard.
O auror encarou-o em silêncio, parecendo analisá-lo. Naquele momento, Canis queria muito ter as habilidades do irmão para adentrar a cabeça do homem e saber o que pensava.
— Está enrolando demais e fugindo das perguntas.
— Você quem não está perguntando. — Canopus sorriu de canto com satisfação e deu de ombros em seguida.
Ele pegou o copo de suco, sem beber. O auror continuou a analisá-lo, esperando suas próximas ações, e o garoto olhou para o copo.
Estava realmente com sede.
— Vocês estão precisando comprar abóboras mais maduras, esse suco está horrível — disse com uma careta após colocar o copo de volta a mesa.
— Sinto muito se não é do seu agrado, mas é o que temos.
— Meu pai faz sucos melhores.
— Sirius Black faz bons sucos?
— Remus Lupin, ele é o meu pai. Se vocês fizeram uma pesquisa realmente bem feita, deve saber disso.
Howard ficou em silêncio por alguns instantes.
— Diga seu nome completo… Apenas protocolos.
— Canopus Alphard Black.
— Idade?
— Quatorze. Faço quinze em dezembro.
— Qual seria sua primeira aula hoje e com que professor?
— Feitiços com o Professor Flitwick.
O garoto falava sem hesitação, uma resposta rápida e imediata. O auror sorriu. Canopus se conteve para não sorrir também.
Ele não precisou ter a habilidade do irmão para saber o que se passou na mente do auror. Aquela gentileza de dar-lhe um suco não fora apenas um gesto amigável.
Mas ele não havia bebido uma única gota. Ele apenas virou o copo, sem realmente beber, e engoliu a própria saliva. Só havia um motivo para insistir tanto em fazê-lo beber algo quando a intenção de pegá-lo antes do café da manhã era justamente deixá-lo com fome e sede.
— Quando foi a última vez que viu Sirius?
— Quando ele invadiu Hogwarts.
— Ele te disse alguma coisa?
— Que era inocente.
— E o quê mais?
— Que foi uma armação de Peter Pettigrew. Não tivemos muito tempo para conversa, era lua cheia e eu precisava ajudar o meu pai.
— No dia da fuga, segundo relatos, você sumiu a noite inteira e só apareceu de manhã, quando Sirius já tinha fugido, com Lupin. Vocês ajudaram na fuga?
— Não. Meu pai é um lobisomem e era lua cheia. Como iríamos ajudar Sirius a fugir? Eu só acordei na floresta de manhã, não sei o que aconteceu.
Howard franziu o cenho.
— Como você foi parar na floresta durante uma lua cheia com um lobisomem à solta e continuou vivo?
— Sorte? Aquela noite foi um caos, não me lembro de muitas coisas. Meu pai me encontrou de manhã e me levou para a ala hospitalar, eu desmaiei. Então disseram que Sirius já tinha fugido quando acordei. É tudo o que sei. Therry já estava lá, talvez ele poderia te falar mais se o deixasse estar aqui comigo.
— Sirius entrou em contato com você depois disso?
— Não, nunca mais o vi. Por que está perguntando tanto sobre Sirius? Pensei que minha acusação fosse atacar trouxas.
— Você me parece esperto o bastante para saber, Black.
— Sirius me abandonou. Ele não é o meu pai, e eu não sei onde ele está.
Canopus pegou o copo mais uma vez e fingiu que bebeu antes de deixá-lo cair na mesa. Xingou e limpou a boca com a mão.
— Desculpe, perguntas sobre Sirius me deixam meio nervoso. — Ele encolheu os ombros. O auror suspirou e sacou a própria varinha para limpar. — Não gosto que falem dele.
— Está tudo bem. Próxima pergunta.
Enquanto isso, numa sala não tão distante, Therion encarava de cara fechada o autor à sua frente, também em uniforme vermelho.
— Eu quero ver o meu irmão.
— Não antes de responder nossas perguntas. Beba um pouco de suco para se acalmar.
— Eu não vou responder nada se não me deixarem com o Canis.
— Não está em posição de fazer exigências. Responda nossas perguntas e poderá ver seu irmão e ter um belo café da manhã.
Therion cerrou os punhos. Não estava gostando daquela barganha. Ele pôde ver na mente do auror suas intenções. Deixá-lo nervoso e desesperado, longe do irmão para ceder a pressão e responder as perguntas.
Bufou e pegou o maldito copo. Porém, quando estava prestes a beber, sentiu um cheiro estranho.
Como um bom aspirante a pocionista, Therion treinou bem sua habilidade de reconhecer os aromas de boas poções, embora não fosse tão bom quanto gostaria. Aquele suco cheirava a muito mais que apenas suco de abóbora.
Não soube reconhecer de imediato, mas havia algo mais ali. O que queriam fazer? Uma poção para fazê-lo dormir? Para alucinar? Para…
Oh! Ele teve uma boa teoria. Uma teoria que deixou-o furioso.
Encarou o auror com os olhos queimando e fingiu beber o suco antes de deixá-lo cair na própria roupa.
— Merda!
O auror limpou a bagunça com um agitar de varinha e olhou-o desconfiado.
— Quantos anos tem?
— Quatorze.
— Quem são seus pais?
— Karina Radcliffe, Sirius Black e Remus Lupin… Mas por que…
— Protocolo. Primeira aula do dia?
— Feitiços.
— Quando viu Sirius pela última vez?
— Durante a invasão a Hogwarts.
O auror respirou fundo, com um ar de certa satisfação.
Therion precisou se conter para não acabar com aquilo. Suas suspeitas apenas se confirmaram e ele assumiu aquele papel.
Tentaram lhe dar veritaserum. Qualquer um que a bebe, sobretudo se não souber que está bebendo, somente dirá a verdade, porém não apenas isso. A pessoa se sente obrigada a responder qualquer pergunta feita com total sinceridade imediatamente, sem controle.
Se ele tivesse bebido, o auror poderia perguntar qualquer coisa e mesmo que não quisesse, iria responder. Ficar calado era difícil.
Seu avô lhe disse uma vez que já bebeu veritaserum ainda em Hogwarts, uma brincadeira de amigos que ele e outros só perceberam quando era tarde demais e já estavam revelando os segredos mais vergonhosos sem nenhum controle sempre que alguém perguntava. E também disse que o ministério somente usava em casos muito específicos, pois grandes bruxos poderiam saber burlar a poção.
Therion sabia que era um bruxo excepcional, mas não gostaria de arriscar a testar o quanto conseguiria burlar aquilo e esperava que o irmão também percebesse antes de beber.
Muitas coisas teriam sido melhores se tivessem feito Sirius beber no dia que foi preso.
— O que conversou com ele nesse dia?
— Ele me disse que foi uma armação, que ele não matou aquelas pessoas. Queria que soubéssemos a verdade.
— Ele contou como fugiu de Azkaban?
— Não.
— Mantém contato com ele?
— Quem me dera. Não o vejo desde que ele fugiu de Hogwarts depois de ser capturado.
O auror apoiou os braços sobre a mesa.
— Testemunhas da Copa Mundial de Quadribol afirmaram ter visto Sirius Black junto a um dos filhos.
— Eu não confiaria na palavra de pessoas confusas e histéricas.
— E você obliviou o único Comensal que capturamos, convenientemente.
— Ele ia me atacar!
— Obliviate não é um feitiço de defesa e não é algo que se aprende em Hogwarts, garoto. Onde aprendeu o feitiço?
— Eu só tinha visto em livros, nunca tinha tentado antes.
— E decidiu usá-lo como defesa?
— Antes que usasse em mim. Eu estava nervoso!
— Isso é apenas uma desculpa, não é? Estava tentando livrar o comensal de falar sobre o envolvimento de Sirius no ataque. Pare de tentar resistir e fale a verdade.
— Oh, claro! Eu sendo um mestiço o Comensal iria me parabenizar por ser filho de um assassino e aceitar a minha ajuda para um ataque daquele porte e ainda me deixar obliviá-lo. — Revirou os olhos.
O garoto bufou e riu sem humor, apoiando então os braços sobre a mesa como o auror.
— Imagino que você nunca tenha ido a uma missão em campo, não é? Quando estiver em perigo, tente não ficar nervoso e usar o que vier a mente para testarmos sua teoria.
— Tenha mais respeito, garoto.
— Ou o quê? Sei que nada que eu falar vai te fazer mudar de ideia e você não fará nada que me machuque porque precisa de mim para encontrar Sirius.
— E se você admitir que participaram do ataque a Copa Mundial e sabe onde está Sirius, poderá voltar para a escola muito mais rápido.
— Acho que você precisa estudar um pouco mais sobre a ideologia dos Comensais da Morte. Eu não sou puro-sangue, minha mãe tinha pais trouxas, Sirius é um traidor para eles porque meu irmão e eu existimos.
— Ele ainda matou treze pessoas. Essa história de armação… Não parece combinar com alguém que estava rindo em plena cena do crime e entrou no dormitório de Harry Potter com uma faca.
— Sei que Harry ficaria feliz em esclarecer essa parte. Sobre ele rir naquele dia quando foi preso… Acho que eu também acabaria rindo de nervosismo e descrença porque um dos meus melhores amigos me traiu, o amigo que eu considerava um irmão está morto e estou no centro de uma cena de crime prestes a ser preso sem um julgamento justo e nem poder me despedir dos meus filhos. É difícil manter a sanidade numa situação assim.
— Pare de resistir à verdade, garoto.
— Só porque a verdade não é o que você esperava ouvir?
O auror fechou a cara, parecendo muito irritado. Era exatamente por isso. Aquela não era a verdade deles e qualquer outra estava fora de cogitação.
Therion começou a rir. O homem franziu o cenho quando o garoto gargalhou, e ele pôde captar um pensamento claro.
Tão louco quanto o pai.
— Talvez eu seja.
— Seja o quê?
— Louco como meu pai. Eu poderia jogar a culpa toda no meu irmão e me livrar da audiência, é o que se esperaria de um sonserino. Ele quem foi atacado com o namorado, não eu. Mas não… Estou aqui com ele, assim como meu pai foi atrás de justiça pelo irmão dele, James Potter, porque não pôde salvar o outro irmão dele, e deixei para trás o garoto que eu gosto assim como ele deixou. — Riu. — Ele me deu um anel ontem, acredita? E tem a constelação do meu segundo nome!
Therion ergueu a mão, exibindo o anel que ganhara de Harry com um grande sorriso no rosto.
— Acho que nós somos loucos por amarmos demais nossos irmãos e nos preocuparmos mais com eles do que com nós mesmos… Mesmo sabendo que talvez eles se preocupem mais com eles do que conosco. Claro que no caso do Sirius isso vale mais para o meu tio Comensal.
O auror continuou a analisá-lo em silêncio.
— Não sabe mais o que perguntar, não é? Está pensando como fazer esse garoto calar a boca sobre falar bobagens e falar logo onde está Sirius.
— Você não pode dizer o que eu penso.
— Claro que posso. Nunca ouviu falar dos dons de alguns Black?
E então, de repente, Therion não captou mais nada. Ele riu mais uma vez.
— Deduziu rápido. Você é um bom oclumente quando quer. Prefiro assim, na verdade, me dá menos dor de cabeça.
— Garoto…
— Na próxima vez que tentar interrogar alguém, pesquise melhor sobre essa pessoa. Tipo, nunca se sabe quando o interrogado é um garoto com um interesse especial em poções e neto de um funcionário do ministério que já lhe contou algumas táticas de interrogatório… Como veritaserum. E aprenda a disfarçar o cheiro dela melhor também, ela é muito menos perceptível misturada a chás fortes que um simples suco de abóbora.
O auror levantou-se bruscamente. Therion, por um momento, pensou que ele realmente faria algo consigo e logo se encolheu. Porém, ele apenas encarou-o parecendo frustrado e furioso.
— Está achando que tudo é um grande jogo, não é?
— Vocês quem começaram.
Therion se concentrou. Mesmo com a cabeça explodindo de dor, ele tentou invadir a mente do auror como fazia com Sirius quando treinavam.
— Pare de tentar entrar na minha cabeça.
— Pare de tentar acusar pessoas inocentes. Sirius não fez nada!
— Defender seu pai não irá ajudá-lo, garoto.
— Estou apenas dizendo a verdade. E vocês ainda estão usando o ataque que meu irmão sofreu para nos trazer até aqui. Vocês são grandes imbecis iguais eles!
— Você e seu irmão atacaram um grupo de trouxas. Vocês não são os inocentes aqui, assim como seu pai. Foi ele quem te ensinou para que pudesse matar mais treze no futuro, hm?
— Eles atacaram primeiro, foi legítima defesa. Mas vocês nem sequer perguntaram a nossa versão da história, assim como não perguntaram pro Sirius.
— Podemos perguntar ao seu pai adotivo o que ele acha.
Therion ficou de pé.
— Ele não tem nada a ver com essa história.
— Ele é o padrinho de um de vocês dois. Ninguém escolhe um bruxo qualquer para isso. Podemos ligar os dois… A menos que vocês digam.
— Eu não vi o Sirius. E mesmo que tivesse visto,a última pessoa para quem eu diria seria um maldito auror mesquinho e filho da puta como você e seus amigos.
— Esse é o tipo de resposta para fugir da verdade. Está assumindo que pode estar trabalhando com seu pai.
— Eu não disse isso!
— Admita!
— Você gosta de distorcer palavras, não é? Mas já que não aceita minhas respostas, me deixe arrancar algumas de você.
Therion concentrou toda a sua raiva ao tentar invadir a mente do auror. A dor em sua cabeça aumentou, mas não ousou recuar, cerrando os punhos até que as unhas se fincaram na palma de sua mão.
— Pare.
Therion não parou.
— PARE AGORA!
— NÃO!
O auror gritou e levou as mãos à cabeça. Therion tentou mais, os olhos não desviando do homem nem por um instante enquanto ele se curvava com dor.
Ele conseguiu acessar memórias. Reuniões de aurores planejando a batida surpresa, o momento que um funcionário verificou uma magia feita por menor em Rowen's Valley e eles prepararam todo aquele show, uma reunião com Rita Skeeter no Profeta Diário para criar manchetes sobre eles, pedidos para enfraquecer as defesas do Ministério.
Foi mais fundo e então ele próprio segurou sua cabeça com a explosão de dor e caiu de joelhos no chão com a visão que teve.
Ele viu Sirius. Uma rua destruída e focos de incêndio, Sirius gargalhando enquanto era agarrado por aurores e então levado para o Ministério. Sirius de repente chorando e gritando.
“FOI O RATO! EU PRECISO IR PARA CASA! EU NÃO SOU UM ALIADO DE VOLDEMORT! EU PRECISO IR PRA CASA, MEUS FILHOS ESTÃO LÁ”
Um grande grito de dor.
“Meus filhos... Não deixem eles irem pra minha mãe, por favor. Deixem eles com o Remus. Eu faço qualquer coisa. Não deixe ela ficar com eles, ela vai machucá-los, por favor...”
O grito de Therion se uniu ao do auror, ecoando por toda a sala. Mais aurores entraram.
A visão dele estava borrada, mas pôde ver o auror no chão ainda segurando a cabeça com dor enquanto era levado para fora da sala pelos colegas. Ele foi deixado ali sozinho.
Levou as mãos trêmulas ao rosto e tentou se acalmar. Sabia que aquilo havia sido apenas o começo, eles encontrariam outro jeito de fazê-lo falar.
Talvez devesse ter dito menos do que disse, mas ele não conseguiu se conter.
Sua cabeça ainda parecia que ia explodir. Aquele auror estava na prisão de Sirius, ele o viu ser condenado e levado para Azkaban sem nenhum julgamento, apenas sendo torturado para dar mais informações que ele realmente não sabia antes de ser jogado em uma cela.
Nunca havia sido tão doloroso usar sua habilidade por conta própria. Ele não sabe como fez isso, foi pelo instinto.
Ele não queria ver aqueles aurores de novo.
Por ele, ficaria trancado numa sala com o irmão até a audiência, muito melhor que encarar aqueles malditos aurores. Se soubesse usar magia sem sua varinha, talvez tivesse tentado algo para sair dali e ir atrás do irmão.
Ele ficou de pé e começou a caminhar pela sala, impaciente. A sala não era muito grande, era quase claustrofóbica, na verdade, e deixava-o muito mais ansioso, sufocado. Aquela era a intenção, claro.
Sua respiração ficava cada vez mais acelerada, sua mente pensando em todas as coisas que Canis poderia dizer se tiver bebido o maldito suco, em como tudo poderia ser diferente se Sirius tivesse um julgamento justo, em como tudo aquilo estava acontecendo porque o Ministério não quer aceitar estar errado.
O copo vazio ainda estava sobre a mesa. Therion pegou-o e atirou contra a porta com toda a sua força. Ele não quebrou, porque nisso eles foram inteligentes ao não dar um copo quebrável que poderia ser usado como arma.
— EU QUERO VER O MEU IRMÃO!
Na outra sala, Canopus tinha os punhos cerrados sob a mesa enquanto ouvia cada pergunta e atuava como alguém sob efeito da poção da verdade, porém Howard era muito insistente.
— Como explica Sirius Black ter sido visto na Copa Mundial com um de vocês?
— Histeria?
— Resistir à verdade apenas tornará mais difícil.
— Eu fui atacado por Comensais da Morte, até perdi minha varinha. Passei a maior parte do ataque delirando de febre com um pé quebrado. Os medibruxos podem confirmar. Arthur Weasley viu como eu estava, Crouch viu, vários dos seus colegas aurores viram.
— Nas duas vezes em que esteve no mesmo lugar que seu pai foi visto você estava misteriosamente machucado e fora de cena. Muita coincidência.
— Elas acontecem as vezes, por mais incrível que pareça. Aposto que Lucius Malfoy está aqui no Ministério bajulando o ministro. Pergunte a ele se o seu querido filhinho não esteve comigo durante todo o ataque e onde ele estava.
— O Sr. Malfoy esteve procurando o filho que estava perdido durante o ataque.
— Filho esse que estava comigo, e eu sei que ele sabe, então eu tenho um álibi bastante consistente.
— E onde seu irmão estava?
— Provavelmente com o Harry e meu pai, eles chegaram juntos onde eu estava, ficaram me procurando. E antes que pergunte, estou falando de Remus Lupin.
Howard ficou em silêncio mais uma vez, e Canis respirou fundo. Estava cansado de tudo aquilo. Queria ver o irmão.
O auror ainda teve a ousadia de lhe trazer outro copo de suco, que ele não tinha dúvidas de também ter veritaserum. Queria fazer ele engolir aquele maldito suco.
A próxima pergunta pegou-o desprevenido.
— Remus Lupin é o seu padrinho, correto?
— Do Therion, na verdade. Meu padrinho era James Potter. Ele é o nosso pai, nos criou desde sempre.
— Ele estudou com Sirius Black, certo? E deveriam ser muito amigos, já que o escolheu para ser padrinho do seu irmão.
— Isso não foi uma decisão unicamente dele. Minha mãe quis assim, ela quem fez o pedido a ele.
— Mas eles eram amigos?
— Onde quer chegar?
— Responda a pergunta. Pode beber mais suco se quiser, trouxemos outro sabor dessa vez.
— Meu pai não está ajudando o Sirius.
— Eu não disse que está.
— Disse no momento que começou a perguntar. Eu não sou tolo.
— Já percebi que não é. Você é um garoto esperto, Canopus. Esperto o bastante para resistir a verdade.
— Esperto o bastante para não cair na sua tentativa barata de me fazer beber soro da verdade.
Canopus pegou o copo e virou o conteúdo na mesa, sem desviar os olhos do auror. Cruzou os braços em seguida, uma expressão séria em seu rosto, os olhos faiscando de raiva e frustração.
Howard riu baixo.
— Devia ter imaginado. Certo, Canopus, vamos falar sério dessa vez.
— Quero ver o meu irmão.
— Me diga a verdade.
— Eu posso não ter bebido esse maldito suco, mas disse toda a verdade. Não vi o Sirius, não sei onde ele está e nem me importo. Acredito na inocência dele, sim, mas não faço questão de saber onde ele está escondido.
— Nem para salvar seu querido pai Remus Lupin?
Canopus trincou o maxilar. O auror estava entrando em águas perigosas. O garoto estava muito mais atento às palavras dele, respirando fundo e apertando as unhas contra a palma das mãos em punho.
— Remus conhecia Sirius. Não encontramos nada na batida em sua casa, mas nós podemos fazer outra. Ele poderia estar secretamente ajudando Sirius, escondendo até de você.
— Ele não esconde nada de nós.
— Para nós, ele esconde.
— Vocês não podem fazer nada contra ele.
— Nós podemos, mas não vamos precisar se você disser de uma vez onde Sirius está.
— Eu já disse que não sei.
— Temos jaulas de prata feitas especialmente para gente como Lupin se comprovarmos que ele está ajudando Black. Quanto tempo sendo intoxicado por prata ele aguenta até admitir?
Canis comprimiu os lábios, tentando falhamente controlar todas as avalanches de emoções dentro dele. Não queria imaginar Remus sofrendo torturado com prata para ser forçado a falar.
— Vocês não podem prendê-lo sem provas.
— Temos algo a provar? — Howard arqueou a sobrancelha.
Canopus ficou em silêncio, a respiração pesada, os olhos analisando o auror. Estava tentando encurralá-lo, deixá-lo sem escolha. Porém, ele não ia cair nessa, daria um jeito de escapar.
Sentiu um grande aperto no peito, um que reconhecia. Therion estava agitado, onde quer que estivesse, pressionado com as próprias perguntas que recebia. Ele precisava encontrá-lo, precisavam estar juntos nessa.
Mas não conseguiria fácil.
E não podia entregar Sirius. Entregar Sirius era o mesmo que condenar Remus. Ligariam os dois de qualquer maneira. A única alternativa era continuar mentindo e fugir das perguntas.
Canis não tinha muitos problemas com mentir, mas toda aquela situação estava levando-o ao limite.
— A única coisa a se provar aqui é a incompetência de vocês.
— Cuidado com as palavras, Black.
— Eu não estaria aqui se vocês tivessem conseguido capturar um homem que passou doze anos preso sob o efeito de dementadores que sequer tem uma varinha.
Howard fechou a cara, a expressão presunçosa já não mais em seu rosto. E Canopus não parou.
— Sabe que estou certo. Meu irmão e eu não somos os únicos bruxos menores de idade residindo em Rowen's Valley, mas fomos os primeiros a ser acusados.
— Confirmado pelas vítimas.
— Eu fui a vítima! — Canopus exclamou. — EU! Elliot foi a vítima, não eles. O que eu deveria fazer? Aceitar que eles me batessem? Deixar que batessem no Elliot? Se não tivesse usado magia, eu provavelmente não estaria aqui sendo interrogado por você, e não estou falando sobre a audiência.
Ele sentia um nó em sua garganta, o mesmo que sentiu na noite anterior ao pensar em nunca mais voltar para Hogwarts, que sentiu ao cogitar voltar para Hogwarts quando estava em casa, que sentiu cada vez que lembrou do olhar de ódio daqueles garotos, dos machucados de Elliot.
Lembrou de quando era criança e estava na Escócia e viu o irmão mais velho adolescente de um de seus novos amigos trouxas, Eddie, voltar para casa completamente ferido e depois ser jogado para fora aos gritos dos pais ainda pior, por mais que implorasse para ficar. Remus cuidou do garoto naquele dia e deixou que ficasse alguns dias na casa. Eles se mudaram pouco depois, e ele foi babá dos gêmeos e Remus o ajudou conseguir um emprego pra ele numa biblioteca e depois conseguir o próprio lugar pra ficar.
Um tempo depois, eles estavam em um hospital visitando um Eddie muito machucado. Ele faleceu no dia seguinte.
Certa vez no sul, Remus trabalhava em uma cafeteria trouxa. Ele tinha uma colega de trabalho que os gêmeos adoravam, sempre ficava de olho neles no balcão enquanto ele precisava fazer uma entrega ou trabalhar em algo nos fundos, lhes dava alguns doces a venda mesmo que isso fosse descontado do seu salário e cuidava dos gêmeos nas luas cheias. O nome dela era Celeste, mas sempre viam algumas pessoas chamá-la por outro nome que a deixava desconfortável, chamar de “ele”, dizer para Remus não deixá-los perto dela.
Um dia, ela sumiu, nunca mais foi trabalhar. Depois eles estavam de repente em um cemitério, Canis observando Remus com lágrimas nos olhos usar sua varinha para mudar o nome de uma lápide para Celeste com um feitiço permanente para que ninguém pudesse mudar outra vez.
Quando perguntou o que aconteceu, ele disse: “Um mundo cruel que não aceitava que ela fosse ela mesma”
As palavras que Remus disse um dia ainda estavam vívidas em sua mente.
“Algumas pessoas não conseguem aceitar que outros amem quem queiram ou sejam quem são”, ele disse. “E não vêem que o problema está neles em não aceitar. Ninguém deve ser julgado por apenas amar ou ser quem é”
E depois, ele disse que Therion e ele não precisariam se preocupar consigo quanto a isso, porque nunca deixaria que fossem julgados por isso. Ele disse que o mundo trouxa poderia ser cruel para quem não segue os padrões, mas que eles não deveriam se acanhar por isso e deixar de ser quem são.
Se lembrava de ouvir Therion dizer que não era diferente entre os bruxos, porque ninguém aceitava Remus como ele era. Remus apenas sorriu fraco para eles, com lágrimas nos olhos, dizendo que não era um caso igual, ao mesmo tempo que, realmente, bruxos e trouxas não eram muito diferentes em questão a aceitação de diferenças, só que os motivos eram outros.
Apenas mais velho Canopus entendeu exatamente o que aconteceu com Eddie e Celeste e outros trouxas que conheceu que sumiram de repente, apareceram mortos ou apareciam completamente machucados do dia pra noite antes de ficar impossível para Remus trabalhar entre trouxas e se isolarem ainda mais do mundo.
E ele era um deles.
Mesmo sabendo como era o pensamento de muitos, aquela foi a primeira vez que Canopus experienciou aquilo na própria pele. Depois de anos vivendo sem medo de ser quem é, porque Remus sempre o apoiou e defendeu pessoas iguais a ele, havia ficado cara a cara com alguém que não suportava sua existência. Não era o mesmo que os ataques que sofria por ser teoricamente filho de quem era ou os comentários de supremacistas por sua mãe ser nascida-trouxa.
Canopus tentou não deixar que aquilo o afetasse. Ele não se renderia a isso. Eles eram os errados, ele só estava tendo um dia legal com seu namorado.
Ele estava bem. Eles não iriam abalá-lo. Nem Jake, nem seus capangas, nem aqueles aurores.
Estavam usando ele e aquele momento para fazê-lo dar a eles o que queriam. Isso o deixava furioso, mas não se renderia.
Não. Ele estava bem com isso, ele conseguiria lidar.
— Eu estou aqui porque sou gay e o homem que se diz meu pai é um foragido. Seja bruxo ou trouxa, ambos podem ser malditos imbecis que me julgam por quem sou.
— A sua sexualidade não importa aqui, Black.
— Se não importasse, eu não teria sido atacado apenas por estar com o meu namorado, em primeiro lugar. Eles me atacaram primeiro, eu revidei. Mas onde estão agora? Em Rowen's Valley vivendo suas vidas, Jake sendo cuidado no St. Mungus.
— Nós não julgamos trouxas. Você é um bruxo e atacou com magia uma pessoa não mágica, eles estavam em desvantagem.
— Os trouxas que passam pelo mesmo não tem magia para se defender. Eu tenho, e eu usei. E vocês não só estão me tratando como se eu fosse um criminoso, o errado… Mas também querem usar isso para benefício próprio, pra me manipular para conseguir o que querem.
Canopus balançou a cabeça.
— Vocês são tão nojentos quanto aqueles filhos da puta que me atacaram.
Howard ficou de pé e bateu a palma da mão na mesa com força, o som ecoando por toda a sala. Black continuou sentado, aguentando a queimação por trás de seus olhos e o nó em sua garganta.
— Estamos fazendo o nosso trabalho aqui.
— Igual fizeram quando deixaram o assassino da minha mãe livre?
O auror cerrou os punhos.
— Sirius Black matou mais de uma dezena de pessoas. Trouxas foram atacados na Copa e logo depois outros foram atacados por você. Não tente virar a história ao seu favor.
— Eu estava me defendendo.
— Sirius também estava quando matou aquelas pessoas?
— Eu não sou o Sirius.
— Então prove que não está com ele e diga a verdade. Nos ajude a capturá-lo e quem sabe impeça seu pai de acabar em uma jaula de prata. Vai ser muito fácil ligá-lo ao Black. E você poderá sair daqui inocentado de tudo e voltar a estudar magia.
— Eu já falei tudo.
— Por bem ou por mal, você irá me ajudar, Canopus. Se você não nos levar até Sirius, vamos fazê-lo vir até aqui.
Canis ficou em silêncio, respirando fundo. Howard deu a volta na mesa, qualquer tentativa de parecer amigável já se foi e ele o olhava sério, frustrado e com raiva.
— Sua última chance. Quando viu Sirius e onde ele está?
— EU NÃO SEI!
— NÃO MINTA! NÓS SABEMOS.
— Se sabe por que está me perguntando?
— Veremos se seu pai terá uma resposta melhor enquanto conhece nossas correntes de prata.
— Não chegue perto do meu pai.
— Um lobisomem ajudando um assassino… Não seria surpreendente.
— Ele não fez nada!
— Ainda não sabe de nada, Black? Ou a informação está surgindo em sua mente?
Canopus comprimiu os lábios, não respondendo. Ele não queria que tudo caísse sobre Remus, mas entregar Sirius teria praticamente o mesmo resultado.
Estava sem saída.
Poderia ser um blefe. Não poderiam acusar Remus sem provas. Mas não podia também confiar que o Ministério seguiria as regras…
— Não? Tudo bem então. A resposta virá até nós.
— O que quer dizer?
— Nós atrasamos a edição do Profeta Diário hoje e diminuímos nossas defesas. O que acha que seu pai irá fazer quando ver os filhos estampando a primeira página do jornal com um desafio implícito?
— Desafio?
— Será que Sirius Black faria algo para impedir seus queridos filhos de serem julgados pela Suprema Corte dos Bruxos?
O auror riu.
— Acabou sua chance de negociar, Black.
E então, Howard se afastou e saiu da sala, deixando para trás Canopus com as mãos trêmulas e respirando rápido.
O nó em sua garganta pareceu pensar mais, os olhos queimando. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, e ele rapidamente a secou, fechando os olhos com força. Em sua mente as únicas imagens que vinham eram a do punho de Jake em direção ao seu rosto, Elliot machucado e Remus sendo levado pelos aurores.
Ele secou as outras lágrimas que começaram a escorrer, uma atrás da outra, sem parar.
Queria que Therion estivesse ali. Queria que o pai estivesse ali.
Queria voltar para a noite anterior quando pôde ignorar todos os seus problemas, mesmo que por pouco tempo.
Therion em sua sala batia insistentemente na porta.
— CANIS! — gritou esmurrando a porta com toda sua força. — ME DEIXEM VER ELE!
Ele urrou irritado, chutando a porta. Jogou a cadeira contra ela inutilmente, puxou a maçaneta. Implorou para que o levassem até Canis até sentir a garganta seca, não tendo mais nada para beber.
Muito tempo se passou, Therion já não estava mais aguentando aquela dor em seu peito, a própria angústia se misturando a de seu irmão. Ele permaneceu sentado no chão encolhido em um canto quando se cansou de gritar e chutar tudo pela frente, abraçando as próprias pernas.
Mantinha os olhos fechados e tentou focar os pensamentos em seu irmão, como Sirius lhe pediu para fazer na Copa para procurá-lo. Tentar se conectar com tudo o que sentia sobre ele. Canis não estava longe, mas procurar por ele era doloroso.
Não queria imaginar o que estariam fazendo com seu irmão para que houvesse tanta dor nele. Ele não estava bem, precisava dele.
Talvez ele também precisasse de Canopus agora.
Nada poderia tê-los preparado para isso. Sabiam que a audiência seria brutal, não pegariam leve, mas mesmo antes de ela começar já era um pesadelo. Estavam levando eles ao limite para terem o que querem.
Todo aquele tempo sozinho sem saber o que estava acontecendo estava deixando-o maluco. Essa devia ser a intenção.
Tão louco quanto o pai. Mas quem não enlouqueceria assim? Sendo acusado injustamente, o risco de perder coisas que amava.
Ele viu de perto nos últimos meses o que isso fazia com alguém. Mesmo antes de descobrir a legilimencia e começar a treinar, era visível o quanto Sirius ainda sofria os efeitos dos anos preso. Por melhor que conseguisse estar, nunca mais seria o mesmo.
Therion, definitivamente, não permitiria que pegassem Sirius outra vez.
Ele ouviu a porta sendo aberta, mas não ergueu o rosto.
— Eu não vou falar nada até ver o meu irmão.
— Therion…
Ele congelou e levantou a cabeça, em choque. Seu coração quase saiu pela boca.
— Sirius?!
Sirius fechou a porta rapidamente e correu em sua direção, ajoelhando-se à sua frente. Therion permaneceu paralisado, confuso, acreditando estar alucinando, até sentir a mão dele em seu braço.
— Eu estou aqui, vim tirar vocês daqui.
— V-você… Você não pode. O que está fazendo aqui?
— Vamos para casa. Eu… Eu não podia deixar que fizessem isso com vocês. Não, não… Eles não podem. Vocês são meus filhos, ninguém irá machucá-los enquanto eu estiver aqui.
Therion pulou sobre ele, abraçando-o em prantos. Ele retribuiu rapidamente, afagando suas costas.
Por um momento, esqueceu-se completamente que ele não deveria estar ali. Aquele era o plano, fazer Sirius ir atrás deles e ser pego ou se render por eles. Eles estavam sendo usados desde o início como iscas.
Tudo aquilo apenas para não admitirem que erraram, para pegar Sirius e limpar a própria imagem.
Therion apertou-o mais forte no abraço, lembrando de tudo que viu na mente do auror. Ele apenas havia ouvido Sirius comentar brevemente o que aconteceu, ver em sua mente era totalmente diferente, era difícil, doloroso.
Eles não mereciam aquilo.
— É uma armadilha.
— Você é mais importante, Therry. Vamos buscar seu irmão e ir para casa.
Therion soluçou e ofegou, suas mãos tremendo. Ele abraçava Sirius como se sua vida dependesse disso.
— Para casa?
— Você disse onde eu estava?
— Eu disse que não sabia.
— Eles não vão nos achar.
Therion fechou os olhos e mordeu o lábio com força, sentindo o gosto ferroso em sua boca. Muitas coisas se passaram por sua mente, possibilidades de sair daquela situação, sua cabeça tentando trabalhar na melhor chance.
Não havia dúvida da primeira coisa a se fazer.
— Canis. Eu preciso achar o meu irmão.
— Nós vamos encontrar ele.
Therion se afastou e Sirius segurou seu rosto entre as mãos. Encarou-o ainda sem acreditar, os olhos acinzentados como os seus, o cabelo comprido desgrenhado, o rosto magro.
— Como você entrou aqui?
— Eu esperava ser mais difícil, na verdade. Foi fácil demais desviar daqueles aurores, nem tinha ninguém vigiando a entrada.
— Não deveria ter vindo. Escapou de Azkaban para vir direto para o Ministério?
Sirius suspirou.
— Depois que vi o Profeta Diário… Eu não podia ficar parado! Não vou deixar que levem vocês. Vocês vem comigo.
— A audiência…
— Isso não importa! Estou tentando salvar vocês, Therry.
Sirius acariciou os cabelos dele, e Therion fechou os olhos mais uma vez. Respirou fundo antes de abrir novamente e encarar o pai.
— Canis. Ele não está bem.
— Tudo bem. Vem comigo.
Sirius ficou de pé e o ajudou a se levantar. Therion tropeçou, fraco, mas segurou-se nele e foi até a porta. Tinha que achar o irmão, isso era o mais importante agora.
Abriu a porta com cuidado, observando o lado de fora. O corredor estava vazio.
Aquele era o plano, claro. Deixar fácil demais.
Therion respirou fundo mais uma vez, pensando no irmão, tentando conectar-se a ele. Ele sentiu um grande puxão em seu peito que o fez se curvar, com dor.
E então, foi como na Copa. Ele sabia exatamente para onde ir, mas dessa vez estava muito mais doloroso.
Sabia que Canis estava machucado e fraco naquele dia. Mas agora, era pior. Não era dor física.
As dores emocionais às vezes podem ser piores que uma perna quebrada.
Therion tropeçou para fora da sala e começou a caminhar, com Sirius em seu encalço. Ele o segurou antes de virarem um corredor, colocando-se a frente para verificar se o caminho estava livre.
— Podemos ir.
O garoto não esperou mais. Caminhou rápido como se conhecesse aqueles corredores, como se houvesse um fio ligando-o ao irmão que o puxava em sua direção.
Parou em frente a uma porta e olhou para Sirius.
— Eles confiscaram minha varinha.
— Ainda bem que vim preparado.
Sirius tirou uma varinha do bolso. Therion a agarrou.
— Eu sei abrir uma porta, Therry.
Therion arrancou a varinha de sua mão e abriu a porta brutalmente após destrancá-la. A primeira vista, não viu o irmão, mas ao olhar ao redor avistou-o sentado no chão em um canto distante da sala, abraçando as próprias pernas e com o rosto escondido entre os joelhos.
— Canis!
Ele ergueu o rosto ao ouvi-lo, o rosto completamente manchado pela maquiagem escorrendo.
— Therry…
Therion correu e jogou-se no chão, ao mesmo tempo que o irmão se lançava contra ele. Eles se abraçaram com força, como se não se vissem há anos.
Ele apertou Canis com cada vez mais força entre os braços, querendo amenizar aquela dor que ambos sentiam. Estavam juntos agora e ninguém mais os separaria. Ele acabaria com cada um daqueles aurores se fosse preciso, mas não sairia mais de perto do irmão até aquela maldita audiência terminar.
— Está tudo bem agora.
— T-tudo bem… Você tá aqui. Está tudo bem — Canis gaguejou, ainda abraçando o irmão.
Foi então que Canis abriu os olhos e olhou para quem estava atrás de Therion.
— O que ele está fazendo aqui?
Ele se afastou do irmão.
— Você não deveria estar aqui. Eles vão chegar e só vai piorar tudo! — exclamou. — Vai embora!
— Eu vim buscar vocês!
Sirius se aproximou e ajoelhou-se a frente deles.
— Estou aqui para ajudar vocês, Canopus.
Canis apertou o braço do irmão, encarando Sirius fixamente. Ele estendeu a mão em sua direção, mas Canopus se afastou rapidamente.
— Canopus, sou eu...
Canopus desviou de mais um toque. Os olhos dele se arregalaram.
— Não temos muito tempo. Precisamos ir! Vamos pra casa.
— Não — Therion disse.
Sirius franziu o cenho.
— Não?
— Therion, ele não é…
— Eu sei.
— Therry…
Therion então de repente colocou a varinha contra o pescoço de Sirius.
Sirius nunca o chamava de Therry.
— O que está fazendo?
— Quem é você?
— Sou eu, Sirius. Do que está falando, Therry?
Therion riu.
— Eu não sei muito sobre o meu pai, como nos cansamos de dizer a vocês, nunca mais o vimos. Mas quando o vimos em Hogwarts… Ele não me chamava assim.
— Está desconfiando de mim por um simples apelido?
— Eu falei ao seu amigo que deveriam pesquisar melhor sobre as pessoas que querem interrogar.
Sirius agarrou a ponta da varinha.
— Therion, não temos tempo pra isso. Você não está pensando direito. Sou eu, o seu pai.
— Você não é o meu pai. O meu pai está bem longe daqui, escondido no último lugar em que vocês poderiam encontrar. O meu pai, está a caminho daqui em breve para acompanhar a audiência, e suas ameaças de jogá-lo numa jaula de prata não vão nos afetar.
O rosto de Sirius mudou completamente. A expressão calma e preocupada tornou-se sombria e furiosa. Ele arrancou a varinha da mão de Therion e se afastou.
Os garotos ficaram de pé e se afastaram ainda mais.
— Vocês dois estão tornando isso muito mais difícil do que esperávamos.
O homem apontou a varinha para si mesmo e com um “Revelio” anulou a magia da poção e assumiu seu verdadeiro rosto. .
— Como você conseguiu a aparência do Sirius, Howard? — Canopus perguntou.
— Ah, vocês já se mostraram espertos demais para isso.
— Não dá para usar polissuco sem uma parte da pessoa.
— Vocês se surpreenderiam com o tanto de cabelos que deixamos cair, principalmente numa cela por doze anos. E bem… Nós sempre temos uma reserva de nossos detidos para interrogatórios especiais colhidos todos os anos. Nunca se sabe quando poderá ser útil.
Howard sorriu de forma presunçosa. Os gêmeos deram mais um passo para trás.
— Pensamos que seria mais fácil fazer vocês nos levarem até seu pai assim. E você, meu caro Therion, foi o que mais pareceu fiel ao Sirius, então era mais óbvio ir primeiro.
— Teria conseguido se tivesse me chamado apenas pelo meu nome.
— Última chance de negociar: digam onde está Sirius e podemos cancelar a audiência.
— Não sabemos! — Canopus exclamou.
— Seu irmão parece saber bem.
— Eu só queria que você me trouxesse até o meu irmão. Consegui. Não sei onde Sirius está, mas deve estar muito longe.
O auror começou a se aproximar e olhou na direção de Canis.
— Acho que vou pedir para prepararem a jaula e as correntes de prata.
— Não.
— Digam onde está Sirius ou nunca mais pisarão em Hogwarts e nem sequer verão seu querido papai lobisomem outra vez.
— Vocês não podem fazer nada contra ele — Therion afirmou.
— Vocês querem testar a sorte?
Canopus começou a sentir a raiva e o medo fluindo para seus dedos. A possibilidade de ver seu medo de toda a situação recair sobre o pai se concretizar.
— Fique longe do meu pai!
O auror avançou mais na direção deles.
— ONDE SIRIUS ESTÁ? Digam logo ou acabamos por aqui e deixaremos isso para quando interrogarmos o seu pai com bem menos gentileza que naquela batida.
— Fique longe.
— DIGAM!
— EU MANDEI FICAR LONGE!
Um raio de luz azul escapou dos dedos de Canopus e atingiu o auror, jogando-o na parede oposta. O homem caiu no chão, desacordado.
Os gêmeos engoliram em seco. Eles deram mais passos para trás, trêmulos. Canopus encarou as próprias mãos.
Therion foi até o auror e pegou a varinha dele, então voltou até o irmão, segurou uma de suas mãos e o puxou.
— Vamos.
— Para onde?
— Vamos procurar o vovô ou a Tonks.
Eles correram juntos para fora da sala, sem soltar as mãos uns dos outros. Logo depois, ouviram gritos.
— ELES ATACARAM O HOWARD! ATRÁS DELES!
Começaram a correr mais rápido. Avistaram aurores vindo por um corredor e viraram para outro e continuaram a correr, sem rumo.
Dois aurores os cercaram e tentaram afastá-los um do outro.
— Levioso! — Therion fez um deles levitar.
Canopus deu uma cotovelada no auror que o segurou e se soltou.
— Lumus Solem.
Uma luz ofuscante emanou de suas mãos. O auror cobriu os olhos.
Ele então agarrou a mão de Therion de novo e continuaram a correr. Mais aurores surgiram os perseguindo e lançaram feitiços, que Therion rebateu com a varinha.
Chegaram a um salão com uma elevador. Canopus apertou o botão insistentemente, mas o elevador não chegava.
Mais uma vez foram cercados. Therion ergueu a varinha e atacou sem pensar, abaixando em seguida quando revidaram, e duelando com todos os aurores.
Os feitiços saíram das mãos de Canopus, sem controle, acertando aurores. Ele não conseguia parar e estava desesperado demais para ir embora para sequer tentar.
Até que a varinha na mão de Therion voou e ele foi acertado logo em seguida por outro feitiço que o derrubou no chão.
— THERRY!
— Vocês está sem varinha, Black. Renda-se agora!
— ESTUPEFAÇA!
O feitiço saiu de suas mãos e derrubou alguns aurores. Ele caiu de joelhos ao lado do irmão e quando feitiços foram jogados de volta contra ele, um escudo os protegeu.
Suas mãos estavam estendidas e uma grande cúpula azul cobria a ele e Therion.
— FIQUEM LONGE!
— Parem!
Cornelius Fudge saiu de detrás dos aurores portando sua varinha.
— Abaixe o escudo, Black.
— Não.
— Vocês não tem saída. Estão apenas piorando a situação.
— Vocês que estão piorando! Nós não fizemos nada!
— Sua mãe, que foi uma fiel funcionária do ministério, não aprovaria isso.
— Não ouse falar na minha mãe. Vocês machucaram o meu irmão!
— Vocês atacaram.
— ESTÁVAMOS NOS DEFENDENDO! — Canopus gritou. — Desde o início, eu só estava me defendendo. E vocês usando truques sujos para nos fazer falar o que não sabemos. PAREM!
— Abaixe o escudo e devolva a varinha que está usando.
— Eu não estou usando varinha.
Os aurores começaram a cochichar entre si.
— Derrubem o escudo.
Canopus usou toda sua força. Ele sentiu uma mão em seu ombro e olhou para Therion, vendo que estava desperto, embora atordoado.
O escudo repeliu todos os feitiços enquanto Canis conseguiu mantê-lo, mas aquilo exigiu muito dele. Rachaduras começaram a aparecer.
— PAREM!
No momento em que o escudo se desfez, um corpo surgiu a frente deles e criou outro. Os aurores pararam imediatamente.
— Vovô!
— Se vocês lançarem mais um feitiço contra eles, eu vou devolver.
Lyall permaneceu parado em frente aos netos com a varinha em punho, pronta para o ataque. Ele encarou os aurores com os olhos faiscando, enquanto o Ministro dava passos em sua direção.
— Esses garotos, Lupin, atacaram um esquadrão de aurores.
— O que eu estou vendo é o seu esquadrão de aurores atacando duas crianças!
— Eles estão sob custódia e fugiram.
— Isso não te dá o direito de atacá-los assim. Eles tem sorte de meu filho e eu termos ensinado muito bem como se defender.
— Está tudo bem agora. Vamos levá-los sem mais problemas.
— Eles virão comigo.
Canopus ficou de pé, ajudando o irmão. Eles se agarraram ao avô, olhando na direção do ministro.
— Eles estão em custódia até a audiência, Lupin.
— Eu ouvi. E até onde sei, ainda faltam algumas horas para a audiência.
— Eles precisam estar sob responsabilidade dos aurores, principalmente depois…
— Enquanto meu filho, o responsável legal por eles, não estiver aqui, meus netos estão sob a minha responsabilidade, e eu posso decidir deixar eles aqui ou levá-los comigo até a audiência, e é exatamente o que farei. Eles não podem ser interrogados sem a nossa permissão, e eu não permito.
Lyall apoiou suas mãos sobre os ombros deles.
— Irei prestar uma queixa formal pela má conduta de seus aurores. E se nada for feito, ficarei feliz em usar o dinheiro que acumulei em meus anos de trabalho para pagar uma manchete no Profeta Diário e falar com o Chefe da Confederação Internacional dos Bruxos sobre como anda o seu mandato, Fudge.
— Está me ameaçando, Lupin?
— Estou avisando. Nossa relação familiar não é algo exatamente de conhecimento geral, então até alguém descobrir que eles são filhos do temido Black, o quanto irá se espalhar a informação sem nomes citados de que os netos de um exímio funcionário do Ministério da Magia foram interrogados sem a permissão ou presença da família e atacados friamente por aurores?
Fudge fechou a cara, o rosto vermelho de raiva.
— Tenha cuidado com as palavras, Lupin.
— Você conhece o poder com que informações se espalham. Então, a menos que queiram adiantar a audiência, irei cuidar dos meus netos. Não se preocupem, eles não irão fugir.
— Podem ir — disse o ministro a contragosto. — Mas o que foi feito, será adicionado aos autos do processo deles.
— Informarei a nossa advogada.
Dito isso, Lyall guiou os garotos até o elevador sem dizer mais nada. Assim que as portas metálicas se fecharam, eles abraçaram o avô com toda a força, que abraçou-os de volta e afagou suas costas.
— Está tudo bem, meninos. Eles não irão mais incomodar vocês.
— Obrigado, vovô — disseram.
— Acharam mesmo que iam conseguir interrogar vocês sem que eu soubesse? — Lyall riu. — Subestimam os meus contatos aqui dentro. Ninguém mexe com os Lupin.
Os garotos suspiraram e continuaram a abraçá-lo, sentindo-se enfim confortáveis para chorar de novo. Lyall apertou-os com mais força em seus braços, preocupado com o estado em que estavam e o que teriam feito com eles naquela sala.
Mas eles estavam seguros consigo agora e isso era mais que reconfortante.
Havia visitado Remus no dia anterior para ver como ele estava. Tanto ele quanto Sirius encontravam-se agitados e ansiosos, não conseguiam parar quietos no lugar, caminhando por toda a sala enquanto falavam, exalando suas preocupações. Estavam com muito medo do que o Ministério poderia tentar, principalmente Sirius.
Black desmoronou em lágrimas e precisou ser consolado por Remus quando mais uma vez propuseram que ele permanecesse em casa. Exclamava entre soluços que precisava estar com os filhos, que precisava protegê-los, que não poderia deixá-los sozinhos, que haviam prometido aquilo. Não poderia ficar parado.
Lyall garantiu aos dois que estaria ali, atento a tudo. Se algo fosse feito, ele iria intervir e proteger seus netos até que chegassem.
E foi o que fez no momento que foi alertado de que os gêmeos estavam detidos e sendo interrogados. Correu ao encontro deles para salvá-los sem pensar duas vezes.
Ninguém faria mal aos seus netos enquanto estivesse por perto.
E eles tentaram impedí-lo disso, aparentemente. O colocaram para trabalhar com as criaturas resgatadas logo cedo, longe do escritório e com várias tarefas a fazer e poucos no setor, justamente para que a informação não chegasse até ele. Graças a Tonks, seu colega conseguiu avisá-lo.
E, claro, ela também foi enviada para funções distantes por estar relacionada aos Black por sua mãe, mas ainda era uma pessoa bastante curiosa.
Ele depositou um beijo no topo da cabeça de cada um. Os garotos apenas aproveitaram o alento do avô, sentindo-se seguros, em casa.
Cada vez que as portas se abriram para outras pessoas, eles o apertavam com mais força, e Lyall não os soltava, encerrando rapidamente qualquer questionamento que surgiu de seus colegas.
Quando chegaram em seu andar, ele os guiou pelos corredores.
— Okamis! — Canopus exclamou.
— Vou deixar você ver eles de perto depois, está bem?
Lyall os deixou sentados em duas cadeiras numa sala de paredes brancas. O lugar cheirava como a ala hospitalar em Hogwarts e havia uma bancada repleta de diferentes poções, vários cartazes sobre sintomas de envenenamento e cuidados com algumas criaturas colados nas paredes.
Lupin pegou dois lenços úmidos e puxou uma cadeira para ficar na frente deles. Limpou o rosto manchado de Therion e depois de Canopus, os dois permanecendo calados.
— Está tudo bem agora.
— Eles falaram que vão prender o papai — Canopus falou com a voz falha.
— Eles não podem, e eu não vou deixar. Só queriam assustar vocês.
Lyall respirou fundo.
— Querem me contar o que aconteceu? Tudo bem se não quiserem.
— Tem água? — Therion pediu.
Lyall comprimiu os lábios e assentiu com a cabeça. Ele se levantou e buscou dois copos d’água para eles, sua mente martelando o que teriam feito com eles e ficando cada vez mais irritado internamente.
Eles beberam vários copos antes de começar a falar. Contaram tudo, desde que foram buscá-los em Hogwarts até o momento que Lyall chegou, cada um contando uma parte.
Quando Therion falou sobre a tentativa de se passar por Sirius para que fossem até o possível esconderijo de Sirius, Lyall quase não acreditou.
— A gente estragou tudo, não foi?
— Não, não. Vai ficar tudo bem, a culpa não foi de vocês.
— Ninguém vai acreditar nisso — Canis disse.
— Eu farei acreditarem como for preciso. Vou pedir para trazerem algo para vocês comerem e já volto, tudo bem?
Eles assentiram.
Lyall se levantou e se afastou, respirando fundo e tentando acalmar os nervos. Pegou sua varinha.
— Expecto Patronum.
A forma prateada de um lobisomem saiu da ponta da varinha. Lyall usou o patrono para enviar uma mensagem a Remus e Mary, pois era urgente demais para uma coruja.
Pediu a um dos estagiários para ir comprar comida para os gêmeos, e então retornou para onde os deixou. Sentou-se novamente a frente deles.
— Já vão trazer algo para vocês comerem.
Eles não disseram nada, apenas balançaram a cabeça. Doeu em Lyall vê-los assim.
Somente os viu assim no primeiro dia, quando os conheceu, os dois desconfiados e acanhados nos braços de Remus, devorando uma tigela de sopa famintos. Mas logo eles se mostraram mais enérgicos do que Remus antes de adquirir licantropia.
Nunca paravam quietos, sempre falando de algo com ele. Os momentos mais silenciosos eram quando estavam imersos demais em seus livros, mas logo vinham comentar algo consigo.
Agora eles estavam ali, quietos, sem falar muito, desconfiados de qualquer movimentação próxima a sala onde estavam. Se sentiu tão impotente de não poder ter agido antes, impedido os aurores de os perseguirem por todo um departamento.
Canopus soprou uma mecha de seus cabelos que caiu sobre os olhos. Então soltou todo o cabelo de uma vez, impaciente.
— Eu ajudo.
Canis deixou que ele pegasse o elástico e arrumasse o cabelo.
— Vocês nunca deixaram tão grandes.
— Estou começando a me arrepender. Acho que vou cortar diferente.
— Tente não fazer sozinho se uma mão ruim for a maldição do nome Alphard.
— Quem?
— Uma vez deixei crescer assim e depois deixei Alphard cortar o meu cabelo e foi um pesadelo. Ao menos ele usou as habilidades de metamorfomago para deixar o dele tão trágico quanto e eu não ser zoado sozinho pelos nossos amigos. — Riu baixo. — Pronto. Quer ajuda com o seu também, Therry?
Ele concordou. Lyall então soltou os cabelos dele e prendeu como o do irmão.
— Era o tio do Sirius?
— Hã?
— O seu amigo Alphard que acabou com seu cabelo. E é o mesmo que você disse que passou um Natal na sua casa e tem fotos no seu álbum da época de Hogwarts, não é?
— Era. Nunca especifiquei porque… Bom, Remus não gostava de menções aos Black. Vocês se parecem com ele. Pensei que Sirius teria falado mais agora.
— Só que meu nome é por causa dele.
— Acho que agora já estou livre para contar muitas histórias para entreter vocês. Ainda quer ver os okamis?
Os olhos de Canopus brilharam, e ele assentiu a cabeça rapidamente.
— Therry, pega aquelas poções com a etiqueta com imagens de okamis, por favor. Vou deixar me ajudarem a cuidar deles hoje.
O garoto ficou de pé e foi logo para as poções. Eles então para uma sala com paredes de vidro onde haviam ninhos de okamis e uma magizoologista cuidava deles.
— Tudo bem se tivermos mais companhia hoje, Emma?
— Claro, Lyall. Qual desses é o seu netinho futuro magizoologista?
Canopus ergueu a mão.
— Foram resgatados de contrabandistas ontem e estão bem machucados, então tenham cuidado — Lyall alertou.
Canis seguiu até a mulher que estava ao lado de um ninho e estendeu o braço. Uma das criaturas enroscou em seu pulso, o corpo de cobra multicolorido e as asas azuladas dando mais cor ao seu traje completamente preto.
— Quer ajudar a preparar mais poções para eles depois, Therion? — Lyall perguntou.
O garoto assentiu rapidamente. Lyall sorriu.
O estagiário chegou depois com a comida, e os garotos sentaram-se no chão para devorar os sanduíches e as torradas. Lyall apenas os observou enquanto contava sobre a operação de resgate, e eles ouviram atentos.
Um tempo depois, Canis se distraiu observando o ninho de ovos de prata, tentando chegar perto do animal que cuidava deles com cuidado junto do irmão.
— Eles parecem bem mais calmos do que você os descreve.
— Eu sei… Hoje foi um longo dia para eles.
— Lyall!
Lyall virou-se ao ser chamado e encontrou Tonks, que tropeçou ao correr até ele.
— Sim?
— Melhor você vir para o Hall de entrada. Agora.
— O que houve?
— Remus.
Lyall olhou na direção dos gêmeos, eles não pareceram ter ouvido, ainda entretidos com os animais.
— Emma, pode ficar de olho neles? Pode deixar eles verem outras criaturas e ajudar nas poções, assumo a responsabilidade se algo acontecer.
— Tudo bem. O que está acontecendo?
— Não sei, mas não quero preocupar eles.
Ele foi até os garotos.
— Estão me chamando para algo importante, mas eu prometo voltar logo para ficar com vocês, está bem?
— Tem que ir mesmo? — Canis segurou seu braço.
— Volto logo. A Emma vai ficar aqui com vocês. Ela trabalhou com o Newt Scamamder, você pode perguntar algumas coisas a ela enquanto não volto, tudo bem?
Os gêmeos concordaram, mas sem muito ânimo. Lyall não queria deixá-los, mas sendo Remus em apuros, precisava agir. Estavam passando de todos os limites naquele dia, mas ele não ficaria parado.
Ninguém mexe com um Lupin.
————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Um capítulo bem tenso! Gostaram?
Esse capítulo eu quis usar como forma de mostrar mais o quanto o Ministério é extremamente falho e podre.
Me doeu escrever boa parte dele, principalmente o Canis falando sobre a possibilidade de não estar vivo se não usasse magia. E, infelizmente, como muitos na nossa dura realidade, ele quem está saindo como o errado.
Como falei no capítulo em que tudo aconteceu, a todos que sofrem todos os dias nesse mundo que não aceita nossa comunidade, eu estou aqui com vocês. Estamos todos juntos.
Não temos magia para nos proteger, mas ainda podemos apoiar uns aos outros e isso pode ser mais forte que tudo.
Provavelmente até o final da semana ou semana que vem teremos att com a audiência em si.
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘
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