LVI. Mischief managed
Sendo aquela a provável última semana dos gêmeos Black em Hogwarts, eles estavam quase contando os minutos para o dia da audiência enquanto faziam seus planos.
Após a conversa com Arcturus, cerca de uma hora depois Harry os encontrou na Casa dos Gritos. E pela primeira vez, os gêmeos não deram tanta atenção a ele.
Nem mesmo Therion.
O gêmeo mais novo focou em finalizar a Poção Polissuco para Sirius e começar a preparar a poção para uma noite sem sonhos, a qual ele passou todo o mês estudando o preparo para não errar em absolutamente nada. Canopus continuou a estudar o feitiço do diário da mãe fazendo marcações simples nas paredes cobertas de arranhões.
Harry tentou conversar com eles, mas realmente não queriam conversa naquele momento.
— Okay, agora vão começar a me ignorar apenas porque decidi dar um voto de confiança para o tio de vocês que só está tentando ajudar?
— Bom saber que sua mente ainda consegue formular deduções coesas, Harry — Therion retrucou enquanto mexia a poção.
— Se ele quisesse fazer algum mal, já teria feito. Ele salvou a minha vida!
Canopus virou-se para Harry irritado.
— Ele já fez mal, Harry. Ele matou a nossa mãe.
— Qualquer Comensal pode ter feito isso! Ele pode só… Se sentir culpado. O silêncio dele não ajuda, mas vocês também não são os maiores livros abertos. Não é justo com ele.
— Nós não precisamos agora da porra do seu otimismo grifinório e essa ideia de justiça. Além de que você é um hipócrita do caralho que estava chamando ele de covarde. De repente o defende?
— Eu não concordo com a forma que ele se esconde do Sirius, mas ele está tentando ajudar vocês! Custa dar uma chance?
— Custa — Therion respondeu. — Harry, não queremos mais falar disso. Se vai continuar, melhor ir.
— Therry…
— Só nos deixe em paz! — Canopus exclamou.
— Eu não vou deixar vocês aqui!
— Se é para discutir e não ficar do nosso lado, então é melhor deixar! — Therion quem esbravejou dessa vez, usando sua varinha para a poção não parar de se mexer e voltando-se para Harry.
Potter o encarou surpreso, sem acreditar. Ele fechou a cara, encarando os amigos e então bufando antes de sair dali pisando duro.
Therion suspirou pesadamente, sentindo um aperto no peito. O mesmo aperto de quando Harry soltou sua mão na sala do tio. Ele ainda encarava a porta por onde Harry saiu quando sentiu os braços do seu irmão ao seu redor.
Canis sempre sabia quando o irmão não estava bem, e sempre o confortava, assim como ele o fazia. Sempre juntos.
Lágrimas chegaram aos seus olhos, mas ele rapidamente secou-as e fungou e voltou a atenção para a poção em seguida, finalizando o preparo. Eles voltaram para o castelo apenas quando o jantar já havia encerrado e passaram na cozinha para pegar um pouco de comida e levar para o dormitório.
No dia seguinte, não conversaram com Harry antes do café da manhã nem após. Eles receberam respostas de suas cartas, e durante toda a refeição Canopus leu a resposta do pai aos seus pequenos surtos confusos pelo beijo de Malfoy.
Estava tudo indo muito bem com ele falando que era normal ficar confuso e nervoso, e ele obviamente falou para conversar com Draco mais uma vez, coisa que ele se recusava, muito obrigado. Porém, não gostou muito de ler:
“Eu sei como a relação de vocês não é fácil, mas você talvez deva começar a pensar na possibilidade de isso estar mudando. E não precisa ficar com medo disso, pode ser algo bom para os dois.
E suspeito que seja muito mais difícil para ele que para você.”
Canopus fechou a cara e bufou, revirando os olhos.
“E eu sei que você com certeza acabou de bufar e revirar os olhos, mas tente realmente pensar nisso. Eu sempre incentivar vocês a serem quem são não significa que todos os pais o façam, infelizmente.
Ele tem nos ajudado, você querendo admitir ou não.
Talvez seja o momento de se abrir para novas possibilidades. Se aproximar dele pode não ser tão ruim quanto pensa.
Dizer isso faz eu me sentir quase um idoso, mas já tive sua idade. É um turbilhão de emoções, e você sabe que estou aqui para conversar e ajudar sempre que precisar.
Ao menos tente e estarei aqui pronto se quiser falar mais depois.
Imagino também que essa última semana não será fácil, mas confie que vai ficar tudo bem. Não vou deixar ninguém fazer mal a vocês. Tentem não se preocupar, Sirius e eu estamos cuidando disso.
Prometo fazer o melhor.
E pode dizer ao seu irmão que estou tomando as poções Mata-Cão. Vou ficar bem nessa lua cheia.
Eu amo vocês.”
Canis suspirou, mas um pequeno sorriso surgiu por entre seus lábios. Ele ergueu os olhos da carta e encontrou Draco a sua frente, devorando um bolo de chocolate que sua mãe enviou nessa manhã, então olhando para o irmão.
— Papai está tomando a poção.
— A vantagem de sermos expulsos é que poderemos acompanhar ele nas próximas.
— Se vocês falarem mais alguma coisa sobre serem expulsos, eu jogo um estuporante em vocês dois — Merliah falou, sentada ao lado de Therion.
Eles seguiram para suas aulas da manhã, e naquele dia não possuíam aulas com a Grifinória, então não viram Harry.
No almoço, eles logo foram para a Casa dos Gritos, onde encheram garrafas que pegaram na cozinha no dia anterior com a poção Polissuco pronta. Com ajuda dos gêmeos Weasley, eles conseguiram caixas para guardar a poção e levar até o corujal.
E lá, eles encontraram Harry entregando uma carta para Edwiges enviar para Sirius.
Potter cruzou os braços e os encarou enquanto iam até Hermes, mesmo depois de Edwiges voar dali com a carta.
— O que foi, Harry? Vai ficar parado aí igual um poleiro para as corujas? — Canopus falou após Hermes voar com o pacote.
— E vocês vão me ignorar pelo resto da semana por uma bobagem?
— Bobagem?! — Therion elevou o tom de voz, indignado. — Harry, você sabe muito bem tudo o que passamos e o pensamos com relação ao Arcturus. Ele salvou a sua vida, mas pode ter sido o responsável por destruir a nossa! Pensei que você entendia.
— Eu entendo, mas podemos também tentar entender a verdade. Depois dessa audiência, nada nos impede de ir até o Sirius e falar a verdade de uma vez ou depois disso enfim estaremos livres, então podemos pensar em alguma coisa para fazer para descobrir o que ele quer — Harry continuou a falar, sem pausas, a voz também elevada. — Eu estou do lado de vocês, não me tratem como se não estivesse!
— Oh, desculpe se pensamos isso vendo você defender o assassino da nossa mãe — Canopus resmungou sarcástico.
— Não comece, Canis.
— Ele não está exatamente errado — Therion falou.
— Mas Therion… O que diabos está passando na sua cabeça?
— Eu não sei, porque fico o dia inteiro com os pensamentos dos outros na minha cabeça e mal consigo ter os meus próprios! — esbravejou. — Eu estou cansado disso! Não consegue ver?! E olha só! A única pessoa aqui que podia me ajudar com isso se recusou.
— Therry…
— É mais fácil admitir logo que só quer estar perto dele porque ele foi uma pessoa importante pro seu pai e você está se apegando a isso para se sentir perto dele, mesmo que pra isso ignore o que nós estamos sentindo.
Harry abriu a boca para responder, mas ele congelou, completamente, em choque. Os olhos tão brilhantes de Therion faiscavam agora.
— Pare de olhar um pouco os arredores e veja o que está bem na sua frente! Ou está precisando de novos óculos?
Therion saiu andando dali e trombou o ombro em Harry, que estava ainda paralisado.
As palavras ecoavam em sua cabeça, e ele sentia um grande aperto no peito. Não esperava ouvir aquilo vindo de Therion, alguém em quem sempre confiou para falar e desabafar.
Canopus estava tão em choque quanto Harry, olhando paralisado para a direção por onde o irmão foi. Ele sabia ali que Therion não estava bem. Nada bem.
Ele passou por Potter sem dizer nada e desceu correndo as escadas do corujal ao conseguir cair em si e se mover. Therion também corria à sua frente e só parou ao chegar à ponte, apoiando-se no parapeito e respirando fundo.
— Therry, hey… — chamou num tom calmo ao alcançá-lo, tocando seu ombro.
— Eu estou tão cansado de tudo, Canis… Só quero que tudo isso acabe logo! — exclamou Therion, ainda com certa irritação em sua voz, porém isso logo foi dando lugar às lágrimas.
Ele levou ambas as mãos à cabeça, que estava explodindo de dor.
Canopus então puxou-o para um abraço forte, apertando os braços ao redor dele para acolhê-lo. Ele o abraçou de volta após alguns instantes, tentando esquecer todo o caos em sua mente.
Era a vez de Canis estar ali, e ele estava.
Therion recebeu o calor e conforto do irmão, acalmando-se aos poucos. Era o que ele mais precisava agora, do apoio de sua família.
Afinal, os gêmeos Black estão sempre juntos, não importa o que aconteça.
***
Os gêmeos seguiram para a sala de Arcturus no mesmo horário de sempre das detenções para conversar com sua advogada.
Ao chegarem lá, encontraram a mulher sentada à mesa com uma xícara de chá em mãos junto de Arcturus. Ela sorriu gentilmente para eles e ficou de pé.
— Olá, meninos! Vocês com certeza não devem se lembrar de mim — ela disse e aproximou-se. — Sou Mary Macdonald, amiga dos pais de você e, atualmente, sua advogada.
— Papai já nos falou de você algumas vezes — Therion comentou.
— Ele não vai ficar aqui, vai? — Canopus perguntou apontando para Arcturus.
Ele suspirou e pegou uma xícara.
— Ficarei em meu quarto. Chamem se precisar. — Ele seguiu em direção às escadas que levavam aos seus aposentos.
Mary franziu o cenho, mas não disse nada.
— Sentem-se, temos muito o que conversar.
Eles assim o fizeram, e Therion não demorou a servir chá para si mesmo e beber um longo gole. Houve um certo silêncio antes de Mary unir as mãos sobre a mesa.
— Serei direta com vocês. Não será fácil.
— Imaginamos — Canis suspirou e cruzou os braços.
— Estou dizendo que será realmente difícil. O Ministério vai usar de todos os artifícios que puderem para pressionar vocês a entregarem Sirius, até os mais baixos possíveis. Vocês terão que ser fortes e inteligentes para não cair no jogo deles.
— Não sei o que já te falaram sobre nós, mas somos bem espertos — Therion retrucou.
— Imagino que sejam, mas estou falando sério com vocês. Eu conversei com Remus e Sirius. Remus me contou o que aconteceu, mas antes de falarmos sobre a sua defesa, gostaria de ouvir de vocês o que realmente aconteceu. Qual de vocês é o Canopus?
Canis ergueu a mão. Mary sorriu fraco, voltando os olhos diretamente para ele.
— Eu sei que você é o principal envolvido. Conte tudo o que aconteceu naquele dia, não poupe detalhes. Pode ir no seu tempo, sem pressa.
Canopus respirou fundo, fechando os olhos por alguns instantes enquanto se lembrava daquele dia. Seus punhos cerraram ao pensar no rosto ferido de Elliot, em tudo o que aquele maldito garoto disse, como os atacou sem piedade por nada.
Ele sentiu a mão de Therion tocando a sua, e olhou para o irmão.
Therion sentiu o nervosismo vindo dele, embora não demonstrasse. Aquilo afetava Canis muito mais do que ele próprio gostaria de admitir para si mesmo. Queria poder tirar tudo aquilo do coração do irmão, dividir sua dor.
Ele sentia a dor de Canis.
Canopus podia agir como se não se importasse, destilar seu ódio por aqueles garotos através das palavras, dizer que sabia que os errados a princípio foram eles. Mas ele ainda sentia aquela dor.
Que garoto não se sentiria minimamente mal depois de ser atacado por apenas estar saindo com outro garoto?
A auto aceitação não impede que aquilo machuque de alguma forma.
E para piorar: ele seria punido por se defender daquele ataque. Aquilo seria demais até mesmo para um adulto, imagine para um garoto de apenas quatorze anos.
— Eu tinha marcado de sair com o Elliot naquele dia. Quando o encontrei na casa dele, ele já estava machucado, já tinham batido nele mais cedo, e ele revidou. Eu… Usei um feitiço para aliviar sem que ele visse — contou. — Nós fomos até um riacho que tinha uma lagoa e uma cachoeira, o caminho fica perto da saída do vilarejo. Seria um lugar tranquilo para termos um piquenique… E onde ninguém nos veria.
Ele continuou a contar tudo, e Mary em nenhum momento o interrompeu. Ela apenas ouviu atentamente, permitindo que Canopus contasse sua história. Não anotou nada, não fez nada. Apenas ouviu.
— Depois que falei com Therion pelo espelho de dois sentidos, eu vi o Jake bater no Elliot. Eu não sei direito como, eu só… Fiquei com raiva — ele fechou a cara. — Não peguei minha varinha. O feitiço saiu, e derrubou os outro dois. Continuei brigando com Jake, e ele me derrubou de novo, e aí…
— Eu cheguei — Therion completou o irmão, assumindo a narrativa. — Tirei ele de cima do Canis. Ele começou a falar sobre mim e Harry, então Harry deu um soco nele. Ele agarrou a gola dele e ameaçou revidar, então chutei a perna dele e o ameacei mandando ficar longe. Harry falou com o primo dele, o Johnny, ele é um nascida-trouxa da Grifinória, prometeu não falar nada, ele parecia assustado.
Ele respirou fundo antes de continuar.
— Eu acordei os outros dois. Estavam confusos, então falei que o Canis nocauteou eles com um soco e que qualquer coisa estranha era alucinação. Então eles foram embora.
— E eu lancei uma azaração. Então fiquei com Elliot e fomos para casa.
— Therion, onde estava quando seu irmão falou com você? — Foi a primeira pergunta que Mary fez.
— Estava com Harry em Londres. Nós… Tínhamos ido ao cinema. — Therion corou e coçou a nuca. — Fomos escondidos, papai não nos deixaria ir pra outra cidade sozinhos depois do ataque à Copa. Era para Canis criar alguma distração quando voltasse para podermos usar a rede de Flu para voltar e fingir que só estávamos passeando pelo vilarejo. Mas quando vi o que estava acontecendo, voltamos na mesma hora.
— O resto papai já deve ter contado.
— Sim, ele contou — Mary confirmou e então suspirou, pensando por alguns instantes antes de prosseguir: — Canopus, primeiramente, digo que sinto muito pelo que houve e entendo que não é fácil lidar com tamanha violência. Ninguém merece passar por isso.
O garoto não disse nada.
— Pelo que pude perceber, Therion não participou efetivamente do ataque fora quando ameaçou o garoto para afastá-lo de você e de Harry.
— Sim.
— Mas eu não ligo se irei levar a culpa junto com meu irmão.
— Entendo, Therion. É compreensível que queira apoiar seu irmão. Mas após ouvir todos esses detalhes, creio que posso liberá-lo mais facilmente de toda a culpa.
— Nós estamos sempre juntos em tudo, não vou deixar que joguem tudo para cima do Canis. Terão de julgar nós dois.
— Precisamos pensar logicamente no melhor caminho.
— E com certeza não será deixando meu irmão levar toda a culpa sozinho.
Ela respirou fundo.
— Podemos discutir isso depois. Testemunhas. — Mudou de assunto. — Remus irá depor sobre seu lado, claro, e para apoiar nossa tese de defesa. O menino, Johnny, será chamado pelo Ministério. E, obviamente, Harry.
Os gêmeos bufaram e reviraram os olhos com os braços cruzados, emburrados ao ouvir o nome do amigo.
— É realmente necessário? — Canis perguntou.
— Harry estava presente no momento, então é mais que necessário.
— E qual é a tese de defesa, então? Espero que não seja jogar tudo para o Canis, porque já falei que não irei permitir.
Mary respirou fundo, pensando bem em cada uma de suas palavras escolhidas. Não foi preciso muito tempo para perceber o que Remus e Sirius diziam sobre a personalidade dos garotos.
— Canopus, você disse que o feitiço saiu de suas mãos, sem varinha.
— Exatamente.
— Em um momento de raiva.
— Sim… E? No que isso me ajuda?
— Nossa magia está ligada muito às nossas emoções. Quanto mais instável estamos, mais instável fica nossa magia, principalmente em bruxos jovens. Remus me disse que vocês sempre demonstraram muita magia desde muito cedo e são… Tendentes a explosões mágicas.
— Espere aí! — Canopus remexeu-se agitado. — Então esse será seu argumento? Uma explosão mágica?
— Sim, para a acusação de magia fora da escola e perante trouxas, que foram agravadas por serem usadas contra eles. Irei alegar sua legítima defesa quanto ao ataque físico, mas sobre os feitiços, sim, direi que a adrenalina e a raiva impulsionaram um descontrole já existente.
— Descontrole já existente? Vai basicamente dizer que eu não sei controlar minha própria magia?
— A grosso modo… É nossa melhor opção. Explosões mágicas não são incomuns, mas precisamos ir mais a fundo para bater de frente com o ministério. Remus foi o tutor de vocês, ele quem os ensinou a usar magia, então ele será a principal testemunha sobre como vocês sempre tiveram uma magia instável.
— E basicamente dizer que ele não soube nos ensinar a controlar? — Therion indagou indignado. — Ele nos ensinou muito bem! Nós tínhamos algumas explosões, mas ele nos ensinou a controlar a maior parte delas.
— Para o tribunal, diremos que não foi o bastante.
— Nem fodendo! — Canopus xingou.
— Eu disse que não seria fácil. Precisamos usar dos maiores artifícios que tivermos, porque o Ministério também usará o deles. Entendam, por favor.
— Eu estava me defendendo, não precisa dizer que sou um bruxo incompetente! — elevou a voz. — E se quiserem me expulsar, que expulsem, mas não vou dizer que não sei usar minha magia.
— Acalmem-se, por favor.
— Nós sabemos usar nossa magia! — Therion exclamou. — E eles ainda podem usar disso para dizer que somos perigosos demais para continuar em Hogwarts.
— Alegar instabilidade também pode ser um argumento para continuarem em Hogwarts, onde aprenderão a controlar seus impulsos mágicos.
— Eu não vou deixar falarem que meu pai não soube nos ensinar a controlar nossa magia! — Canopus esbravejou irritado, e as lamparinas que iluminavam a sala começaram a falhar.
Mary olhou ao redor de cenho franzido, então para os garotos.
Therion começou a massagear as têmporas, sentindo sua cabeça já começar a doer, misturada a frustração.
Arcturus saiu do quarto ao ouvir as vozes alteradas para ver o que estava ocorrendo. Desceu as escadas e aproximou-se da mesa rapidamente.
— Está tudo bem, Archie. Eles só… Não gostaram muito da ideia de defesa.
— É uma ideia ótima.
— Se fosse acha ela boa, então é realmente terrível — Canopus resmungou.
— Sirius e eu também tínhamos explosões mágicas em casa. É algo totalmente plausível e condiz com o histórico familiar.
— Não estamos precisando de sua opinião, obrigado — Therion resmungou, ainda sentindo a cabeça explodir.
Arcturus suspirou.
— Eu irei explicar de novo e peço que ouçam com atenção, por favor. Ouvi o lado de vocês, agora também precisam me ouvir. Eu quero ajudar vocês e precisam confiar em mim. Remus também não gostou da ideia de início, mas percebeu que era necessário — Mary falou calmamente, sem erguer a voz em nenhum momento.
Ela voltou a falar sobre a ideia e contou sobre a conversa com Remus, obviamente sem citar Killian. Seria informação demais para eles.
Arcturus encheu a xícara de chá à frente de Therion, recebendo o olhar do garoto. Ele abaixou-se brevemente, apoiando uma das mãos sobre a mesa.
— Respire fundo e foque apenas nos seus próprios pensamentos. Pense em uma coisa específica que traga conforto… Costuma ajuda com a dor — disse baixo para o sobrinho.
Ele logo se afastou e retornou para o quarto. Therion o seguiu com o olhar, não sabendo exatamente o que pensar sobre o conselho do tio.
A conversa com Mary foi longa. Os gêmeos custavam a aceitar permitir levar a tese do controle mágico adiante, e ela precisou repetir muitas vezes que aquela era a melhor opção.
Ainda assim, foi uma conversa produtiva no fim, quando eles enfim aceitaram a contragosto. As informações que Canopus deu sobre o histórico do garoto trouxa com Elliot seriam úteis. E também, eles não seriam pegos de surpresa por nada que ela alegasse no dia.
— Eu estou fazendo de tudo por vocês. Não vou permitir que o Ministério use vocês nesse jogo sujo — garantiu. — Depois que isso acabar, eu ajudarei Sirius.
— Verdade? — Therion perguntou esperançoso.
— Ele merece um julgamento justo, e eu farei o Ministério perceber que errou. Estudei anos para isso. A justiça será feita.
Therion suspirou. Ele realmente esperava que Sirius enfim tivesse justiça.
— Agora… Sei que vocês já tiveram muitas detenções ultimamente, mas preciso pedir que se comportem nos próximos dias, por favor. Não temos ideia do que o Ministério pode tentar usar contra vocês.
— Faremos o possível — Canopus disse, obviamente mentira.
Mary conheceu os Marotos muito bem e sabia que eles não tinham a menor intenção de se comportar.
— Estou falando sério.
— Nós também — Therion falou.
Mary ainda não acreditava.
***
Naquela noite, Therion ainda estava com a cabeça cheia pensando sobre a reunião com Mary e os próximos dias.
Ele deixou o salão comunal e seguiu para a Torre de Astronomia, usando o Mapa do Maroto para desviar dos monitores que estavam mandando todos para suas comunais com a chegada do toque de recolher.
Apoiou-se no parapeito e suspirou, admirando as estrelas no céu.
Foi inevitável não pensar em Harry. Eles sempre estavam ali juntos.
Sua mente estava dividida sobre o que pensar em relação a Potter. Um lado ainda estava magoado e frustrado, talvez até irritado. Eles não se falaram durante aquele dia inteiro. Não ficavam tanto tempo sem se falar desde o segundo ano, quando ainda estavam se aproximando de fato.
Quando seus sentimentos começaram a surgir. Ele já reparava em Harry desde aquela época, muito além de um amigo, do filho de um dos velhos amigos de seu pai.
Tudo o que eles têm passado desde o beijo tem sido incrível. Porém, a cada dia Therion ansiava por mais. Ansiava que Harry demonstrasse de verdade que eles estavam evoluindo, que realmente seriam algo de fato um dia.
Os beijos naquela torre e em cantos discretos eram ótimos, mas ele queria poder segurar a mão de Harry na frente de todos e dizer que estavam namorando.
E ao mesmo tempo dava tempo a ele. A espera era torturante.
Agora, aquilo se misturava a chateação pela conversa com Arcturus no dia anterior. Quando Harry não ficou ao seu lado. Quando Harry soltou sua mão, e ele pôde sentir o quanto Potter estava detestando a atitude dele e do irmão, o quanto estava irritado com ele por pensar daquela forma.
Therion então ouviu passos. Ele olhou para trás e não viu ninguém, mas não foi preciso. A dor em sua cabeça já dizia que não estava mais sozinho.
— Sei que está aí, Harry. Você está me dando muita dor de cabeça. — Voltou a encarar as estrelas.
Harry tirou a capa de invisibilidade e se aproximou lentamente do Black, parando ao seu lado e também mirando o céu. Eles ficaram em silêncio por alguns instantes, ambos com as mãos sobre o parapeito uma ao lado da outra.
Os dedos próximos ansiavam para se tocarem.
Therion fechou os olhos, sentindo um grande nó em sua garganta e tentando focar apenas em seus próprios pensamentos. Pensar em algo confortante.
Porém, ele não estava bem. Estava chateado, instável.
Era sempre mais fácil ler os outros quando se está instável.
Harry também estava chateado. Muito. Estava confuso — o que não era novidade —, decidindo se falava de uma vez ou ia embora.
Ele decidiu falar, é claro.
— Me amaldiçoe se quiser, mas eu também tenho todo o direito de estar chateado.
— Bom, não é você que está prestes a ser expulso e será tratado como um adolescente emocionalmente instável que não sabe controlar a própria magia em um tribunal.
— Vocês dois não estão demonstrando muita estabilidade ultimamente.
— Se veio aqui apenas para brigar e piorar a situação de novo, é melhor ir embora — Therion falou com firmeza, sem olhar para Harry, sentindo o próprio coração doer por suas palavras.
— Está mesmo me expulsando de novo?
— O que você acha?
Harry bufou e revirou os olhos, afastando-se e virando de costas, pronto para ir. Mas ele então parou e virou-se novamente para o Black e retornou.
— Não, eu não vou sair daqui.
— Porra, Harry…
— PORRA DIGO EU, THERION! — Potter gritou. — Eu poderia muito bem entrar nesse joguinho e te ignorar pelo resto da semana, e olha que eu estava muito tentado a fazer isso porque você está sendo um grande idiota!
— Eu que estou sendo idiota?! — Therion virou-se de frente para Harry. — Você fica aí uma hora dizendo estar do meu lado e outra defendendo o assassino da minha mãe, e eu que estou sendo idiota?
— Eu entender minimamente ele não significa que não esteja do seu lado. Quero entender tudo o que está acontecendo tanto que você e Canis, mas vocês são muito cabeça-duras para entender.
— Vai se ferrar, Potter! — Therion bufou e virou-se de costas.
Harry aproximou-se e puxou-o para virá-lo de volta, a irritação ardendo em seus olhos.
— Eu entendo que você está em um momento difícil e que está cansado de ter a mente de todo mundo em sua cabeça, mas você não vai descontar tudo em mim!
Therion não respondeu, apenas encarou-o de volta em silêncio.
— EU ESTOU TENTANDO! Estou tentando te entender, estar aqui como sempre estive, mas não vai funcionar se você só descontar suas frustrações em mim.
— Está, mas te falta ver o que está bem na sua frente.
— O quê? O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? EU ESTOU AQUI!
— QUE VOCÊ REALMENTE ME ENTENDESSE E NÃO SOLTASSE MINHA MÃO, QUE FICASSE COMIGO!
Aquela frase era tão literal quanto figurativa. Não era mais apenas sobre Arcturus, isso foi apenas uma faísca num barril de pólvora entalado em seu peito.
— EU ESTOU COM VOCÊ! — Harry gritou e então comprimiu os lábios, os punhos cerrados. — Se você não está vendo isso, talvez você quem precise de óculos.
— EU NÃO VEREI SE VOCÊ NÃO FIZER NADA! — Therion desabou de vez, e as lágrimas começaram a cair.
— O que mais quer que eu faça?! — Harry perguntou de novo, a voz dessa vez baixa e exausta.
Therion não respondeu.
Harry se aproximou mais e segurou suas mãos.
— Eu estou aqui! — Ele entrelaçou seus dedos e ergueu as mãos unidas entre eles. — Estou segurando sua mão e não quero soltar. Não consegue ver?
— Estou ficando tão exausto…
— Eu sei! Compartilhe comigo, me fale! Você… Você não confia em mim?
— E você confia em mim?
Harry riu em descrença, balançando a cabeça negativamente.
— Não acredito que está mesmo perguntando isso.
— Então responda. Fale!
— Eu não estaria aqui se não confiasse. E realmente me magoa que você duvide disso.
— Me desculpe…
— Acho que nós dois estamos exagerando…
Harry soltou apenas uma das mãos para secar as lágrimas de Therion, mas continuou a segurar a outra com firmeza. Therion voltou a segurá-la e apertou com força contra seu peito.
— Me desculpe também… Eu sei que está exausto. Só… Não gosto que fique assim distante.
— Minha cabeça está uma bagunça. Eu não devia ter falado sobre Arcturus e seu pai daquele jeito.
Harry suspirou. Aquilo realmente magoou.
— Está tudo bem. Sei como é ter a cabeça uma bagunça.
— Eu sei que sabe. Sua cabeça é um caos.
— Eu sou caótico. Sou Harry Potter.
Therion sorriu fraco. Ainda tinha o nó na garganta e a mente confusa, muitas coisas para pensar e resolver, mas um pouco mais leve.
Ele inclinou-se e beijou Harry, ainda mantendo suas mãos juntas contra o próprio peito.
E naquela noite, Harry usou sua capa mais uma vez para entrar no dormitório da Sonserina. Sua intenção era passar a noite ali com Therion, óbvio, mas ele precisava resolver algo antes.
— Eu não vou sair do meu quarto por causa do Potter — Draco resmungou.
— E eu não estou afim de ouvir um dramalhão do Potter com os Black. Cinco minutos, nem um segundo a mais — Nott se levantou de sua cama e foi até a de Draco, puxando-o para segui-lo. — Você vai me falar porque está trocando nossa amizade de anos para ficar só trocando cartas com aquele russo idiota.
— Foram só três cartas!
— Mais do que trocamos nesse verão enquanto eu estava no Canadá.
Draco revirou os olhos e seguiu Nott para fora do quarto junto de Zabini.
Canopus cruzou estava segurando sua doninha, olhando sem ânimo para Harry. Quando os outros saíram, ele fechou as cortinas de sua cama, e Potter suspirou.
Harry abriu ultrapassou as cortinas e sentou-se na cama do amigo.
— Sai da minha cama. Traidores não tem permissão de ficar aqui.
— Therion deixou.
— Problema dele estar apaixonado por você. Vai pra cama dele.
— Ei! — Therion abriu parte da cortina para encarar o irmão. — Nós dois tivemos uma boa conversa para nos resolver. Sua vez.
— E você deveria ter sido mais resistente. É um coração mole igual o papai.
— Ele quase me tirou do sério, na verdade — Harry pontuou. — Vocês dois. — Apontou para ambos, e Therion revirou os olhos.
— Ficou magoado porque não gostamos de te ver defendendo um assassino? Oh, sinto muito — Canopus retrucou com a voz carregada de sarcasmo.
— Eu disse pro Therry. Quero entender o que houve tanto quanto você. Entendo que ele pode não parecer totalmente confiável, mas há alguma esperança. Ele me salvou!
— Agradeça e siga em frente.
Harry bufou.
— Pode parar de ser tão cabeça dura por um segundo, Canis?
— Harry, ele te salvou, tudo bem. Consciência pesada pelo Tio James.
— Ele é casado!
— Não apaga que eles tiveram algo e que foi muito importante, assim como não apaga que ele matou a minha mãe.
— Me desculpe, eu sei que isso é um assunto delicado para vocês.
— Então porque veio discutir conosco por isso?
Harry arqueou a sobrancelha.
— Você não tem muita moral para falar sobre isso. Eu pelo menos estou pedindo desculpas.
— Está precisando melhorar nisso.
— Lembra das suas desculpas pra Liah, Canis? — Therion questionou.
Canopus bufou e revirou os olhos. Ele não retrucou o irmão, ficou apenas em silêncio com uma expressão emburrada enquanto aninhava Antares no colo, que mordia seu dedo, mas não forte o bastante para ele se incomodar.
Ele estava realmente chateado e irritado com o amigo, mas sabia que tinha certa razão. E estava pedindo desculpas, isso era bom.
— Aceito suas desculpas.
Harry sorriu. O silêncio retornou.
Canopus olhou para Potter, que parecia esperar algo. Olhou para o irmão.
— Sua vez.
— Me desculpar pelo quê?
— Canis!
Ele bufou.
— Me desculpe… Em partes. Você realmente estava irritando e foi muito melhor ter ido embora na Casa dos Gritos.
— Irei aceitar. Você também precisa melhorar nisso, Padfoot — Harry disse e sorriu divertido.
— Cala a boca e vai logo pra cama do meu irmão, Prongs. — Ele paralisou uns instantes e franziu o cenho. — Essa frase ficou meio estranha.
— Meio? — Harry arqueou a sobrancelha, com o rosto um pouco vermelho.
— Mas você me entendeu! Sai logo, quero aproveitar enquanto ainda posso abraçar minha doninha.
— Qual delas? — Therion questionou rindo.
Canopus ergueu o dedo do meio para o irmão e abraçou Antares contra o peito. Harry riu e saiu da cama do amigo, seguindo para a de Therion.
Os outros donos do quarto retornaram e podiam ouvir Nott ainda tagarelar alguma coisa, mas não se importaram. Logo o silêncio dominou o quarto quando todos foram dormir.
Por trás das cortinas que rodeavam a cama de Therion, ele e Harry se abraçaram, encarando um ao outro.
— Você pode vir pelo resto da semana? — Black pediu num sussurro.
— Sim — Harry concordou.
— Eu posso fazer o sacrifício de ir para o seu uma vez. Só uma, não aguento mais que isso perto do Finnigan.
Harry riu e concordou com a cabeça, beijando o rosto dele.
— Minhas noites são melhores com você.
Therion segurou a mão de Harry mais uma vez e a colocou contra o peito. Potter podia sentir sob seus dedos os batimentos fortes de ambos os corações do Black.
Corações que batiam por ele.
***
O último dia dos gêmeos Black em Hogwarts chegou e já iniciou-se em um grande caos.
No dormitório da Grifinória, quase todos ouviram o grito de Finnigan quando olhou-se no espelho e viu “Fã n° 1 dos Gêmeos Black” escrito em sua testa e não conseguiu fazer sumir de jeito nenhum. Harry caiu na gargalhada, enquanto o colega de quarto surtava.
— Você deixou eles entrarem, não foi?! — acusou.
— Não faço ideia do que está falando. Aliás, Bela tatuagem! — Harry brincou.
Na verdade, havia deixado.
Na noite anterior, emprestou sua capa de invisibilidade para Therion e deixou-o entrar. Não disse a ninguém além de Rony, ele apenas entrou e ficou escondido atrás das cortinas de sua cama e dormiu ali consigo.
Pouco antes de retornar para o próprio dormitório ao amanhecer, usando a capa, ele fez a arte na testa de Finnigan usando o feitiço do diário da mãe que treinou com Canis por toda a semana.
E no salão comunal, todas as paredes vermelhas foram pintadas de verde e flâmulas da Grifinória substituídas pelas da Sonserina, e os quadros de grandes grifinórios estavam vandalizados com os nomes de sonserinos famosos.
Todos começaram a reclamar furiosos e apenas piorou quando saíram e encontraram os nomes dos gêmeos Black gravados por toda a parede do quadro da Mulher Gorda. E no quadro dizia: “A senha é o aniversário dos melhores gêmeos de Hogwarts”.
As entradas das outras comunais, com exceção da Sonserina, não estavam diferentes. Na Lufa-lufa dizia: “As batidas de Livin’ on a Prayer é a senha”. Na Corvinal, “Enigma do dia: Qual o nome completo dos melhores bruxos de Hogwarts?”
Durante o café da manhã, os gêmeos entraram no Salão Principal de cabeça erguida com grandes sorrisos no rosto, enquanto os outros alunos olhavam feio para eles ou levantaram-se querendo brigar. Os monitores precisaram acalmar todos, embora também estivessem furiosos.
Ele foram levados até a sala de McGonagall, pois eles haviam feito um caos na comunal da Casa a qual ela era a diretora.
Além, é claro, do pequeno presente que deixaram para ela.
Quando entraram na sala, ela estava lotada de flores, no chão e nas paredes, transbordando quando a porta foi aberta. A professora apenas olhou para eles seriamente.
— Apenas um presente de despedida para a nossa querida Vice-diretora de Hogwarts — Therion disse com um sorriso inocente no rosto.
— Não gosta de flores, Professora?
— Prefiro buquês menores.
— Não gostou da surpresa? Fizemos de coração. — Canopus fez um biquinho triste.
— O quanto Potter tem a ver com suas empreitadas dessa noite?
Os gêmeos apenas deram de ombros.
Quando foram liberados para as aulas, eles até se comportaram… por um certo tempo. Na hora do almoço, eles não foram para o salão.
Junto de Harry, eles pegaram suas varinhas e começaram a gravar nas paredes do castelo frases como “Os Marotos estiveram aqui” ou “Os gêmeos Black não sentirão falta de vocês” ou um simples “Adeus!”.
Naquela semana, Arcturus tem ido almoçar no salão normalmente — os gêmeos acreditavam que para ficar de olho neles. Então, naquele momento a sala dele estava vazia.
Harry vigou do lado de fora com o Mapa do Maroto. Canopus e Therion fizeram todo o planejado. Tiraram coisas do lugar, afastaram a mesa e as cadeiras, enfeitiçaram livros.
Enquanto enfeitiçavam os livros, eles também pegaram alguns para si próprios. Therion não perdeu a chance quando avistou livros de Poções muito raros de pocionistas antigos que ele apenas havia visto sendo citados brevemente em outros livros.
Canopus subiu o mezanino até o quarto do tio. Infelizmente, ele parecia estar preparado para novas invasões, pois trancou a porta com um feitiço que não era desfeito com simples alohomora.
Ele tentou todos que conhecia, tentou até mesmo chutar a porta como em um filme que viu com Harry e Therion na TV nas férias, mas não deu certo.
Então, precisou improvisar. Com sua varinha, usando o feitiço que aprendeu no diário da mãe, marcou as iniciais do tio na porta: R.A.B. E para complementar, escreveu algumas outras coisas ao redor da porta.
Ao descer de novo, viu que o irmão já havia usado o mesmo feitiço e eles sorriram travessos. Então saíram e fecharam a porta.
Eles encontraram Harry em outro corredor observando o mapa, e Merliah já havia se juntado a ele.
— Tudo pronto, Liah? — Therion perguntou.
— Prontíssimo. Rony já organizou os últimos detalhes com Fred e George.
— Acho que dá tempo para um lanchinho na cozinha. Podemos nos despedir dos elfos — Canis falou. — Vamos lá, Prongs! — Ele passou o braço sobre os ombros de Potter.
Eles seguiram para a cozinha e comeram enquanto observavam o Mapa do Maroto, esperando Arcturus voltar para sua sala antes da próxima aula.
— Ele está indo agora — Harry apontou no mapa.
Após terminar seu almoço e conversar brevemente com Minerva sobre tudo que os sobrinhos aprontaram, contendo a risada ao saber das flores, Arcturus saiu do salão. Ele logo avistou todas as marcações feitas pelos garotos nas paredes e ficou boquiaberto.
Ele riu baixo, balançando a cabeça, e seguiu normalmente para sua sala, observando toda a arte feita por eles e sentindo um grande déjà vu. Porém, qualquer emoção que sentia deu lugar ao choque quando abriu a porta de sua sala.
Estava tudo uma bagunça. Cadeiras viradas, livros no chão.
Da porta até sua mesa, havia uma cobra desenhada no chão, enroscada de um jeito muito semelhante a marca em seu braços. A dor subiu por seu peito, sabendo exatamente a intenção por trás daquilo.
Ele pegou um dos livros do chão e no mesmo instante ele começou a se multiplicar em várias cópias. Toda vez que pegava um, mais surgiam até inundar toda a sala.
Foi então que ele olhou para a parede e sentiu um grande nó em sua garganta. As letras vermelhas ardendo como brasa na parede — ou talvez lembrando sangue —, a lembrança imediatamente invadindo sua mente.
SABEMOS QUEM VOCÊ É E O QUE FEZ,
REGULUS ARCTURUS BLACK
Arcturus respirou fundo e cerrou os punhos e virou o rosto, à procura de mais danos. Passou por todos os livros a passos duros e subiu as escadas.
Se ele já não estava chateado — ou furioso — o bastante, ele viu sua porta. As iniciais gravadas e ao redor várias vezes a palavra assassino dominando a parede.
E para piorar, se eles usaram o feitiço que ele imaginava terem usado, aquilo não iria sair tão cedo.
Para o azar dos garotos, Arcturus sabia sua grade horária, e eles deram de cara com ele no corredor.
— Pode ir, Srta. Stuart.
— Nós três temos que ir para a aula.
— Pode ir, Liah. Não deve ser nada importante — Therion falou.
Ela foi, esperando que os amigos não se metessem em encrenca antes de finalizarem todos os planos.
Arcturus encarou os garotos friamente.
— Como vocês descobriram o feitiço de escrita permanente da Karina?
— Isso não te interessa, titio — Canopus retrucou de braços cruzados.
— Duvido muito que ela tenha contado a Sirius e Remus o que escreveu naquela parede quando invadiu a reunião. Como vocês sabem disso?
— Não importa, nós sabemos. E nós não mentimos em nada ali — Therion respondeu.
Arcturus respirou fundo. Os garotos exibiam aquela expressão fria e neutra no rosto, com olhos faiscando de raiva, do mesmo jeito que os seus. A típica feição de um Black.
Mattias tinha razão ao dizer que seria muito pior se eles fossem parecidos consigo, ele via.
Tinham a fúria de Sirius e Karina, mas também a frieza de um Black que sabia como afetar diretamente seus inimigos, certeiros mas escolhas das ações. Algo que ele aprendeu a ser com sua mãe, que foi em Hogwarts, que precisou ser quando se juntou a Voldemort.
Eles poderiam ter feito muitas coisas em sua sala, ter armado um grande circo para afetá-lo, mas eles foram até sua sala, escreveram exatamente aquelas palavras, fizeram aquele desenho no chão. Os livros foram apenas um bônus.
Queriam afetá-lo, fazê-lo falar.
Ninguém melhor que um Black para saber como afetar outro, tenso sido criado com a família ou não.
— Tudo bem. É assim que querem jogar?
— De que jogo está falando, tio? — Canopus falou com falsa inocência.
O chamava daquele jeito apenas para provocá-lo, o sarcasmo e desgosto transbordando cada vez que o chamava de "tio".
Ele perdeu a conta de quantas vezes fez aquilo com Sirius quando estava com raiva dele após fugir de casa, chamando-o de "irmão" quando o que menos queria era considerá-lo isso.
— Imagino que sejam espertos o bastante para descobrir um contra-feitiço. Quando voltarem amanhã, resolveremos o que será feito — falou firme.
— Não vamos voltar — eles responderam.
— É o que veremos.
Eles não retrucaram de volta.
— Eu estou realmente tentando ajudar vocês, mas eu não vou deixar ficarem jogando comigo e me provocando sobre o que não sabem. Se é assim que querem, a leveza acabou para vocês.
— Nunca pedimos nada além da verdade — Therion rebateu.
— E não será desse jeito que terão.
Arcturus não disse mais nada, apenas passou por eles e seguiu para longe.
Os garotos seguiram para sua aula.
Muito se falou dos gêmeos Black pelos corredores naquele dia. Os professores ficaram irados ao ver o estado das paredes do castelo, e mesmo com a audiência iminente, eles receberam detenções.
Quando chegou a hora da aula de Poções, tudo parecia que seguiria normalmente. Snape estava de olho nos gêmeos Black, embora esperasse que não fossem fazer mais nada naquele dia após tantas confusões.
A sala de aula não escapou deles, aliás. “Ranhoso” estava escrito tantas vezes nas paredes que eram quase como um novo papel de parede para a decoração.
— Vocês estão muito ferrados — Malfoy comentou enquanto preparava sua poção.
— Nós não estaremos aqui para sofrer as consequências amanhã, Malfoy — Therion respondeu enquanto ajudava Harry com a poção dele mostrando como cortar os ingredientes.
— E se eu fosse você, Dragãozinho, me abaixaria ao final da aula.
— O que mais vocês ainda vão aprontar?!
— Espere para ver, Malfoy — Harry falou com um sorriso maldoso. — Espero que goste de rosa.
Os gêmeos e Harry colocaram suas poções nos frascos para avaliação. Quando Snape começou a recolher os frascos, os garotos sorriram.
— É ótimo poder dizer adeus, Ranhoso — os Black disseram em uníssono. — Accio.
As vassouras que eles esconderam na sala durante o almoço voaram para suas mãos. Harry tirou um frasco do bolso e jogou para o alto, e Merliah acertou o objeto com um feitiço com sua varinha.
Houve uma explosão e começou a chover glitter e tinta cor de rosa por toda a sala. Os alunos gritaram e se esconderam embaixo da mesa. E então, pequeno objetos começaram a correr pela sala soltando faíscas, passando pelos pés dos alunos que pularam assustados e outros a explodirem.
Até mesmo Snape pulou e começou a recolher sua capa, que começava a pegar fogo.
Os gêmeos subiram em suas vassouras e saíram pela porta, começando a jogar frascos que explodiam em grandes gosmas de cor verde e gritar.
Vários alunos e professores começaram a sair pelas salas e gritar por eles. A maioria irritados, mas haviam alguns poucos rindo e admirados.
Logo Harry pegou sua própria vassoura para se juntar a eles. Aproveitaram a multidão para usar mais das coisas que conseguiram com os Weasley. Tiraram dos bolsos pequenas bombas e atiraram para cima, que explodiram em fogos de artifício no teto com palavras como: “Adeus!”, “Os gêmeos Black agradecem a hospitalidade”, “Até nunca mais!”, “Não sentiremos falta de vocês”, “Os Marotos estão de volta!”.
Os professores colocaram todos os monitores para correr atrás deles e tentarem alcançá-los, porém muitos escorregavam nos rastros gosmentos de algumas bombas jogadas, e eles desviavam de todos os feitiços agilmente como se fossem balaços.
Eles riam e gritavam alegres, um momento genuíno de diversão após um mês caótico.
Mais uma vez sobrevoaram uma multidão de alunos, acenando e mandando beijos.
Foi então que um grupo de monitores se reuniu à frente deles e conseguiu derrubá-los. Eles resmungaram doloridos, mas logo ficaram de pé e pegaram as vassouras, tentando fugir correndo por entre as pessoas.
Canopus então sentiu seu braço ser agarrado. Quando olhou para trás, um grande sorriso surgiu em seu rosto ao avistar o uniforme azul da Corvinal e o garoto alto de cabelos acobreados.
— Sinceramente, Canis, dessa vez vocês exageraram.
— Só queria ter uma despedida memorável, Will — falou num tom leve com um sorriso de canto, inclinando a cabeça. — Vai sentir minha falta?
— Isso não vai funcionar dessa ve…
Canopus não deixou o garoto falar e pulou sobre ele, juntando seus lábios e o beijando sem medo algum. Ele ouviu exclamações surpresas ao redor, mas apenas ignorou e sorriu ao ser retribuído pelo corvino.
Ele não poderia perder a oportunidade de beijar o primeiro garoto para quem se declarou. Ah, e isso foi realmente muito gratificante.
Afastou-se com um sorriso vitorioso e olhou para a multidão atrás de Will. Muitos de seus colegas de Casa estavam lá, inclusive Draco, em choque. Canopus apenas piscou enquanto sorria, e então começou a correr para longe.
Correu o máximo possível para alcançar o irmão e Harry. Com o mapa, conseguiram desviar de todo mundo até chegar a uma das passagens secretas e usaram para sair do castelo.
Eles gargalharam quando conseguiram sair das vistas dos professores e monitores. Esconderam-se na Casa dos Gritos pelo resto da tarde, e logo seus amigos se reuniram junto a eles.
— Eu ainda acho que exageraram muito — Hermione disse. — Quanto tempo vai demorar para conseguirem arrumar toda aquela bagunça?
— Mione, até você precisa admitir que foi divertido — Rony falou em seguida, animado. — Certeza que amanhã de manhã já estará tudo normal.
— A ideia dos fogos personalizados foi genial, Liah! — Harry elogiou, e a garota sorriu com orgulho.
— Eu já tinha feito essa sugestão a Fred e George para uma futura festa de inauguração quando abrirem a loja. Já sabemos que o produto funciona!
— E ainda teremos o Gran Finale no jantar!
— Ainda tem mais?! — Hermione arregalou os olhos.
— Ninguém irá se esquecer de nós pelos próximos anos, isso podemos garantir — Canopus falou e abriu a cerveja amanteigada que haviam deixado ali depois de pegar na cozinha. — Podem beber para comemorar!
— Onde conseguiram isso?
— Na cozinha. Compramos algumas que os elfos tinham, eles também gostavam de beber às vezes para se divertir nas folgas. Pagamos uma boa quantidade de galeões para repôr depois — Therion respondeu.
Rony franziu o cenho.
— Eles têm folga?
— Óbvio? Como qualquer trabalho. Hogwarts foi uma das primeiras instituições a aderir às leis de trabalho dos elfos. Deveria visitar mais a cozinha para falar com eles.
— Mas temos comida todo dia!
— Rony, deixe eu te apresentar um conceito chamado escala de funcionários — Merliah riu e passou o braço sobre os ombros dele.
Os outros riram. Eles ficaram por ali conversando e rindo juntos, aproveitando aqueles últimos momentos, pois provavelmente não se reuniriam novamente tão cedo. Hermione com o tempo acabou entendendo que os gêmeos só queriam criar um caos antes de ir embora e também se divertiu ali com eles.
Como eles não tinham uma vitrola ali, os gêmeos mesmo em algum momento começaram a cantar a plenos pulmões músicas tanto trouxas quanto de bandas bruxas, essas as quais Rony conhecia e também juntou-se a eles na cantoria.
Eles perderam completamente a noção do tempo, imersos naquele presente, sem qualquer pensamento sobre o dia seguinte.
Quando chegou a hora do jantar, eles já estavam no salão. Todos comentavam sobre as bagunças dos gêmeos durante todo o dia, e eles ficaram bastante satisfeitos por isso.
— Boa sorte amanhã, Black! — disse o monitor da Sonserina. — E se vocês voltarem, terão de recuperar os pontos que nos fizeram perder hoje.
— As probabilidades são mínimas, mas obrigado — Canis falou erguendo seu cálice com suco de abóbora.
— Podem nos agradecer por ter poupado vocês dos nossos planos — Therion disse em seguida.
Era claro que poupariam sua casa. Foram os únicos que os deixaram em paz o ano inteiro. Por mais que tivesse rolado algumas perguntas, eles não os infernizaram como os outros.
Muitos por pensarem que atacar trouxas era exatamente o que um Black deveria fazer? Sim, mas ainda assim os deixaram em paz.
Depois que terminaram de comer, eles pegaram seus cálices e subiram sobre as mesas, o que chamou a atenção de muitas pessoas. Eles colocaram suas varinhas na garganta, usando o feitiço para ecoar suas vozes.
— ATENÇÃO! ATENÇÃO! — Therion gritou. — Temos algumas coisinhas a dizer.
— Black, desçam já dessa mesa! — Snape esbravejou da mesa dos professores.
— Espera aí, Ranhoso! A mensagem é pra você também — Canopus falou. — Bom, primeiramente, gostaria de dizer que, exceto meus queridos amigos, os sonserinos e os professores legais, eu espero que todos vocês vão pro inferno!
— Deixando a elegância de lado, podem todos se foderem que não daremos a mínima, porque vocês não deram para nós — Therion completou. — Vocês são todos filhos da puta que nos julgaram desde que chegamos e ano passado foi realmente um inferno.
— Então hoje, fizemos o favor de dar a vocês esse show e isso foi realmente divertido, e nós estávamos precisando de diversão, porque vocês não nos deixam em paz! Olhem para as paredes que marcamos e lembrem-se que é apenas o resultado do que fizeram.
— Uma despedida que nós e vocês merecem.
— O melhor lado de ir embora é que nunca mais vou olhar pra cara de nenhum de vocês. Procurem outros para infernizar esse ano.
— E se voltarmos, um aviso… É bom nos deixar em paz, porque como vocês tanto gostavam de lembrar, nós somos filhos de Sirius Black, e podemos fazer algo muito pior que simples fogos e explosões — Therion falou firme e sorriu maldoso. — E é bom começarem a fazer aulas de oclumência, porque eu sou legilimente e meu aviso vale para seus pensamentos também.
Houveram algumas exclamações de surpresa, e na mesa dos professores, Arcturus engasgou-se com seu suco, arregalando os olhos, surpreso que ele tenha falado aqui em voz alta para toda a escola.
— É, eu sei muito bem o que vocês pensam de nós… O quanto nos odeiam. Isso me dá uma dor de cabeça do caralho aliás, então se controlem.
— Tenham cuidado antes de infernizar a vida de alguém sem saber o que eles passam, seus imbecis filhos da puta! — Canopus ergueu o dedo do meio junto do irmão.
— ADEUS!
Eles agitaram as varinhas e apagaram todas as luzes do salão e deixaram as supresas que compraram com os Weasley fazer seu trabalho. No primeiro estrondo, os gritos começaram e eles correram para fora, deixando várias explosões de cor verde para trás.
***
— Vocês e o Senhor Potter se metem em mais confusões que seus pais na época de escola. Um recorde! — Minerva exclamou.
— Obrigado, Professora — Therion sorriu orgulhoso.
Os gêmeos Black e Harry estavam os três sentados diante do diretor em sua sala após todo o caos do jantar. Muitos alunos acabaram na ala hospitalar com queimaduras ou completamente verdes.
É, eles fizeram pequenas alterações nos equipamentos que compraram.
— Diretor, o senhor mesmo deveria expulsar esses garotos, incluindo Potter! — Snape exclamou.
Eles não esboçaram nenhuma reação enquanto Snape tentava a todo custo convencer Dumbledore de que todo aquele caos deveria ser passível de expulsão.
O diretor apenas os analisava em silêncio. Therion adoraria poder saber exatamente o que ele estava pensando, mas já era de se esperar que ele fosse um ótimo oclumente.
— Eles passaram de todos os limites, violaram todo o castelo e…
— Expulsão é uma punição severa demais, porém algo precisa ser feito — Minerva o interrompeu. — Ainda são apenas garotos, afinal, Severus.
— Garotos que tentaram destruir essa escola.
— Você realmente gosta de fazer um dramalhão e aumentar a história — Canopus comentou.
— Sua insolência não será mais permitida, Black!
— Deixem-me a sós com eles — Dumbledore pediu calmamente.
— Diretor…
— Deixem-me a sós com eles — repetiu com mais firmeza, direcionando um olhar sério para o professor.
Mesmo a contragosto, Snape deixou a sala, seguido por Minerva. O som da porta se fechando ecoou pela sala, e os garotos não disseram mais nenhuma palavra.
Ao lado da mesa do diretor, uma fênix repousava tranquilamente em seu poleiro, bela e graciosa com sua penas avermelhadas e alaranjadas. Em quase todas as paredes repousavam quadros de outros diretores anteriores, alguns já dormindo, outros apenas parecendo observar atentos o que acontecia na sala.
Um dos quadros chamou a atenção dos gêmeos, pois o homem de expressão tediosa parecia familiar. Os cabelos negros e a barba, os olhos claros, algumas feições do rosto.
Se parecia um pouco com Sirius, na verdade. Não muito, mas era possível reconhecer traços.
Algum parente distante deles, talvez. Já ouviram alguns comentários sobre todas as famílias bruxas terem um pé na família Black.
— Vamos ficar de detenção pelo resto do ano? — Harry questionou o diretor.
— Não acho que precise ser tão drástico — o diretor negou e balançou negativamente a cabeça e as mãos. — Na verdade, na idade de vocês, eu coloquei fogo nas cortinas do meu dormitório.
— É sério? — Canopus indagou sem acreditar.
— Tive meus momentos de rebeldia. Entendo que vocês apenas queriam provocar e causar um caos para se despedirem, na próxima tentem não destruir a escola no processo.
— Não acho que terá próxima.
— Eu sei bem sobre a audiência e peço que tenham confiança. Tudo seguirá o seu devido caminho.
— Nosso caminho pela saída — Therion murmurou.
— Ou direto para Azkaban.
— Novamente, um pensamento muito drástico, rapaz. Embora, eu não duvide da tentativa de outros meios de aprisionamento. Fudge está… Empenhado, nesse caso.
— Muito revigorante, Professor.
— Ainda confio na habilidade de sua advogada, ela tem uma ótima defesa.
— Eu não chamaria de “ótima” uma defesa que diz que não sabemos controlar nossa magia — Therion resmungou.
— Eu sei controlar minha magia.
— Os cálices que explodiram e facas que voaram na direção de seus colegas no final do último ano letivo dizem o contrário, Sr. Black.
— Eu transformei minha tia num balão ano passado — Harry interviu.
— Comum em jovens bruxos. Apenas um motivo a mais para continuarem aqui.
— O que exatamente o senhor quer? Se não vai nos punir agora, por que estamos aqui?
— Porque é meu dever como diretor — respondeu simples. — E porque é uma boa oportunidade de acalmá-los sobre o dia de amanhã.
Os garotos suspiraram.
— Eu vou poder acompanhar eles, pelo menos?
— Sim, Harry. Você é uma testemunha vital, e eu mesmo irei acompanhá-lo ao Ministério.
Harry arregalou os olhos, surpreso. Os gêmeos também esboçaram seu espanto, não acreditando que fosse realmente verdade. Os três se encararam surpresos, então voltando a encarar o diretor.
— Verdade?
— Sim.
— Se o senhor estará lá, não tem nada que possa fazer? Não pode impedir que façam isso?
— Infelizmente, apesar de ser o atual Chefe da Confederação Internacional dos Bruxos, os Ministérios e Congressos ainda possuem suas autonomias para julgar os bruxos que achem necessário ou que… Representem risco. Foi o caso de Hagrid quando estava em seu terceiro ano.
— Somos um grande risco, claro — Therion resmungou.
— Não, não são. Mas sabemos que querem fazer todos acreditarem que sejam e qual a real intenção por trás disso.
— Capturar Sirius — Harry concluiu. Todos sabiam disso.
— Não posso interferir na autonomia do Ministério, porém, ainda há algumas coisas em minha influência que já foram colocadas a postos para auxiliá-los.
— Que seria…?
— Não é algo que precisem se preocupar no momento. Agora, peço apenas que retornem para suas comunais e tenham uma boa noite de sono. Amanhã, veremos o caminho a seguir.
Canopus riu sem humor. Boa noite de sono. Parecia uma piada.
— E tenham cuidado amanhã. Confiem em seus próprios princípios. Não se deixem iludir pelas artimanhas do Ministério.
— Eles terão que se esforçar bastante para arrancar algo de nós. — Canopus ficou de pé e apontou para a fênix. — Posso ver ela mais de perto antes de ir?
Dumbledore apenas assentiu com um leve sorriso gentil.
O garoto aproximou-se da fênix com os olhos brilhando. Estendeu a mão com cuidado, pois sabia o quanto era uma ave sensível.
— As coisas acontecem de uma forma que no seu desenrolar podem criar pequenos nós, mas esses empecilhos não alteram o resultado final — Dumbledore disse enquanto o garoto fazia um leve carinho nas penas da Fênix.
Ele não quis explicar o significado, mas os garotos decidiram aceitar o conselho. Harry dizia que ele sempre era meio enigmático às vezes.
Quando deixaram a sala, encontraram Merliah na entrada com os gêmeos Weasley — que estavam completamente sujos de verde e parte das roupas chamuscadas —, aguardando ansiosa.
— Vocês estão muito encrencados?
— Na verdade, acho que não. — Harry sorriu.
Ela suspirou aliviada.
— Os monitores da Sonserina não sabem se riem ou se ficam furiosos com vocês junto dos outros monitores.
— Veremos voltando para a comunal — Canis disse.
— Temos que admitir, vocês tiveram certa genialidade hoje — Fred disse.
— Mas poderíamos ter sido avisados das mudanças em nossas invenções. Nós não temos dinheiro para novos uniformes! — George resmungou.
— Eu pago um novo — Liah falou e deu de ombros.
— Nós não...
— Investimentos para uma boa imagem de futuros empresários — ela interrompeu.
Ninguém discutiu.
— Enfim... Hoje, vocês nos superaram.
— Apenas hoje — pontuou Fred. — Foi uma honra ajudar nesse caos.
Os gêmeos Weasley estenderam as mãos, e os gêmeos Black as apertaram.
— Foi realmente divertido — Therion disse.
— Estamos em bons termos agora — Canopus falou.
— Vamos voltar para a Comunal e anotar algumas ideias. Vem, Harry? Já vai começar o toque de recolher.
— Nos vemos depois, então? — Harry disse para Therion, e Black assentiu.
Potter então seguiu para a Torre da Grifinória com os Weasley. Os Black e Liah então seguiram para a comunal da Sonserina sob os olhares de todos e jogaram-se no sofá.
Não sabiam o que fazer a partir dali.
— Bom, já que provavelmente não vamos voltar amanhã…
— Shh! — Liah ergueu o indicador. — Sem despedidas, Canopus. Vocês vão voltar nem que eu use minha reserva da faculdade pra subornar o Ministério igual as famílias supremacistas.
— Não acho que suborno vá funcionar no nosso caso — Therion comentou.
— Ainda assim, sem despedida. Deixem isso para amanhã de manhã, não quero dormir e acordar com a cara inchada de tanto chorar.
Os garotos riram e a abraçaram juntos. Ela olhou para Canopus.
— Ainda estou brava com você.
— Também vou sentir sua falta.
Ela revirou os olhos e abraçou os dois de volta. Realmente recusou as despedidas e logo foi para o próprio quarto.
Os gêmeos foram para o dormitório em seguida. Tomaram seus banhos e vestiram os pijamas.
Canopus alimentou Antares com um rato a mais, e a doninha apreciou seu banquete. Ele observou o animal caçar e devorar suas presas como sempre fazia, uma parte da rotina diária da noite e depois limpou a bagunça.
Ambos estavam na cama de Therion agora, lado a lado. Ele entregou o frasco para o irmão com o líquido azulado, a poção para uma noite sem sonhos que havia preparado.
Ele estudou muito para prepará-la. Ao menos uma vez, eles tinham certeza de que teriam uma boa noite de sono.
— Vai beber agora?
— Mais tarde. Ainda não quero dormir. E você?
— Mais tarde.
Os dois suspiraram. Havia sido um dia e tanto. Eles fizeram tudo o que planejaram, se divertiram com os amigos, deixaram a marca deles — literalmente — por Hogwarts. Porém, agora restava apenas o vazio e a angústia de pensar que não teriam mais momentos como aquele.
No dia seguinte, eles estariam perante um tribunal que decidiria seu futuro. Eles não sabiam o que esperar, mas preferiam pensar na pior das possibilidades. Seria mais fácil aceitar já esperando que tudo fosse dar errado.
— Você ainda pode deixar toda a culpa cair sobre mim amanhã.
— Se você for embora, eu também vou. Não vou te deixar passar por isso sozinho. Sempre juntos, hm?
— Eu enviei uma carta pro Elliot junto com a última que mandei pro papai. Pedi pra ele colocar no correio trouxa.
— Você pensou em contar pra ele?
Canopus franziu o cenho para o irmão.
— Que é um bruxo.
— Por um momento, talvez, quando tudo aconteceu. Mas… Acho que é melhor que não saiba. Ele não precisa de mais caos na vida dele.
— Nós ainda podíamos pedir para voltarmos pra Gales. Você poderia ainda estar com ele quando voltarmos pra casa.
— Acho que gosto da ideia de apenas um romance de verão, como nos livros. — Canis sorriu fraco. — Um pouco de normalidade, apesar de tudo.
— Veremos até quando irá durar o meu romance de verão.
— Therry…
Therion suspirou e jogou a cabeça para trás contra a cabeceira, encarando o topo do dossel com os tecidos verdes com a estampa do símbolo de Slytherin em prata. Uniu as mãos nervosamente no colo e comprimiu os lábios.
— Eu já conversei com o papai sobre isso, mas… Ainda tenho medo de tudo dar errado e perder até a amizade com ele.
— Vocês não se desgrudam!
— Por isso mesmo. Eu não sei o que é pior. Estragar nossa amizade ou… — Ele suspirou. — Não passar disso.
— O jeito que vocês se olham já diz muito bem que é mais que isso.
— Não acho que só isso seja o bastante.
— Ele também precisa saber que você espera algo.
— Eu meio que já gritei isso pra ele.
— Grite de novo, se precisar.
Therion riu e olhou para o irmão.
— Como será depois da audiência?
— Nós dois ou você e Harry?
— Ambos.
— Não faço ideia. — Suspirou. — Se formos apenas expulsos, vamos voltar pra casa. Você pode mandar cartas pro Harry, nós poderíamos entrar numa escola trouxa.
— Mas não a de Rowen's Valley.
— Com certeza não. Se formos presos…
— Não diga isso.
— Temos que cogitar todas as possibilidades. Pensar nas piores torna mais fácil caso se tornem realidade.
— Não quero pensar nessa.
Canopus suspirou. No fundo, ele também não queria.
— Eu prometi ao Elliot que tentaria ter um bom ano quando estávamos naquele riacho antes de tudo. Acho que terei que mentir muito em minhas cartas.
— No último dia de aula, quando Harry e eu estávamos em Hogsmeade… Nós esperávamos que dessa vez tivéssemos um ano tranquilo.
— Eles ainda poderão ter.
Therion deixou a cabeça cair sobre o ombro do irmão, que estava com Antares no colo. Ele tentou fazer carinho na doninha, porém ela mordeu seu dedo.
— Au!
— Ele está meio agitado.
— Ele quase arrancou meu dedo!
— Ele não morde tão forte.
Canopus aninhou a doninha no peito e acariciou sua barriga. Antares logo fechou os olhos, e Black sorriu fraco para ele.
Therion conseguia sentir que ele estava triste com a mínima possibilidade de não ver mais aquela bolinha de pelos brancos. Talvez até chorasse em breve, como quando se despediu de Bicuço.
— Pode chorar agora se quiser.
— Não quero chorar.
— Canis…
Canopus não respondeu, nem olhou para o irmão. Apenas ficou de cabeça baixa, acariciando a doninha.
— Não precisa se fazer de forte perto de mim.
— Eu sei.
Ele não disse mais nada. Therion também não o forçou a dizer. E eles ficaram em silêncio, ali juntos.
— Pode ir ver o Harry. Provavelmente vão querer dormir na Torre de Astronomia.
— Pode vir também. É a nossa última noite aqui.
— Vocês também precisam se despedir. Ainda teremos muito tempo juntos, maninho.
***
Era muito mais cedo que o costume quando Draco ouviu a movimentação de Canopus saindo de sua cama e deixando o dormitório. Quando ele também saiu com um de seus livros e seu diário, para sua surpresa, não encontrou Black lendo, apesar de estar com os óculos no rosto e ter um livro em seu colo.
Apesar de um pouco mais cedo que o normal, ainda era tarde o bastante comunal já estar vazia e escura, e o garoto estava sentado na janela observando o local com um olhar perdido.
Canopus notou a chegada de Malfoy, mas continuou com os olhos focados no salão. A lareira sob o quadro do fundador da casa, as poltronas e sofás, as mesas de estudo, os entalhes em pedra com o símbolo de Slytherin.
Aquele lugar se fez presente na sua vida nos últimos anos desde que entrou em Hogwarts e essa provavelmente era a última vez que poderia apreciá-lo. Um dos poucos refúgios em meio ao caos que enfrentava desde que seu nome foi chamado para a relação.
Mais um lugar que ele precisaria abandonar de repente. Foi realmente ingenuidade sua pensar que aquele seria um lar, um lugar realmente constante.
— Pensei que depois de toda a agitação de hoje você finalmente iria dormir uma noite inteira — Draco comentou. — Ou estaria se agarrando com aquele monitor corvino em algum canto.
Canis voltou os olhos para ele. Malfoy havia sentado-se junto a ele na janela e o encarava com a expressão neutra de sempre, abraçando o diário contra o corpo para impedir que ele ousasse tentar espiar algo.
Ele apoiou a cabeça contra a janela.
— Está com ciúmes, Dragãozinho?
— Não se ache tanto, Canopus.
— Eu te vi lá.
— Eu fiquei apenas surpreso. Na frente de todo mundo? Sério?
— Eu sou uma estrela, gosto que prestem atenção em mim.
Draco revirou os olhos.
— E eu apenas decidi ficar e ler — Canopus respondeu.
— Seu irmão fez uma poção para você não ter sonhos — Draco falou, então. Aquela era a razão para Canopus nunca querer dormir. — Não vai dormir?
— Irei depois. Não vou quebrar um costume logo no último dia.
Draco riu baixo e abriu seu livro. Os olhos de Canis caíram no seu próprio, o exemplar em francês de O Pequeno Príncipe pousado em seu colo. Em sua mão estava o frasco com a poção feita pelo irmão que, enfim, lhe renderia uma noite de paz.
Não sabia se queria testar agora.
— Você realmente não tem dúvidas de que será expulso mesmo depois de ver sua advogada, não é? — Malfoy questionou.
— Minha única esperança real, não importa os argumentos jurídicos, seria cair na armadilha do Ministério e entregar o Sirius. Eu não vou fazer isso — Canis respondeu, sincero. — Se eu entregá-lo, logo vão descobrir que meu pai o ajudou. Não vou arriscar que algo aconteça com ele.
— Irão quebrar sua varinha.
— Vou treinar minha magia sem elas. E não pense que vai se livrar de mim tão fácil, Dragãozinho. Vou te enviar um berrador no seu aniversário.
— Oh, que atencioso da sua parte — Draco disse irônico.
Canopus não rebateu, apenas encarou o fundo do lago pela janela.
— Como se sente por essa ser sua última noite aqui?
— O que está lendo hoje? — Black fugiu da pergunta, fazendo outro questionamento.
— Olha quem está fugindo agora.
— É uma simples pergunta.
— A que eu fiz também.
Mesmo assim, Draco ergueu o livro e mostrou a capa, e viu o Black se aproximar pra ler o título.
— Um romance? Sério?
— E como sabe que é romance?
— Eu já li. Meu pai tem esse livro.
— Respondi à sua pergunta. Responda a minha.
Canopus voltou a ficar em silêncio, pensativo. Estava refletindo muitas coisas sobre ir embora de Hogwarts. Ao mesmo tempo que parecia um alívio não ter mais todos os olhares julgadores dos alunos nem os ataques vindos deles a qualquer coisa errada ou estranha que aconteça, também era doloroso e odiava a ideia.
Ele nunca esteve em um lugar por tanto tempo quanto esteve naquele castelo.
— Por que está curioso? Vai sentir tanto assim a minha falta? — fugiu mais uma vez.
— Não se ache tão importante.
— Você está aqui.
— Sempre estou, não é? — Draco respondeu arqueando a sobrancelha.
— Exceto quando está fugindo de mim.
Draco suspirou e desviou o olhar. Talvez não tivesse sido realmente uma boa ideia continuar a descer ali.
Ele fez menção de levantar, porém Black agarrou seu pulso, impedindo-o de ir embora. Encarou-o surpreso, não movendo mais nenhum músculo.
— Você não tem mais nenhum motivo pra ir. Pode ficar.
— Não preciso da sua permissão pra ficar.
— Estou apenas dizendo que não tem por que ir. — Canopus soltou seu pulso em seguida.
Draco não foi embora. Ele continuou ali, ainda mais perto do Black.
Canopus suspirou e comprimiu os lábios, ainda pensativo, e voltou a observar o salão, um peso em seu peito. Ele precisava ter pelo menos uma única coisa que ainda era constante ali.
Havia um nó em sua garganta, mas ele não se deixaria chorar. Não na frente de Draco.
— Eu passei mais tempo aqui do que em qualquer casa que eu já morei.
Malfoy encarou o Black, surpreso com a confissão sincera. Canopus o encarou de volta, seus olhos expressivos como sempre. Apesar da expressão neutra, era possível ver o caos que ele estava internamente.
— Como assim?
— Único lugar que talvez se compare é a casa do meu avô, e ainda tenho certas dúvidas — disse e tirou os óculos do rosto. — Eu tinha dois anos quando saímos de Rowen's Valley. Não sei quanto tempo ficamos em pousadas ou numa casa depois disso até papai ficar sem dinheiro, mas naquele mesmo ano fomos pra casa do meu avô. Três meses. Depois alguns meses na Escócia, nos mudamos de novo para a Inglaterra, depois para a Irlanda no mesmo ano. Sempre fugindo cada vez que os vizinhos começavam a desconfiar das luas cheias e fazer comentários sobre nós.
— É inevitável que alguém descubra em algum momento.
— E era inevitável que alguém tentasse fazer algo contra nós e não tivéssemos alternativa além de irmos embora para outra cidade. O máximo que já ficamos foi mais ou menos um ano antes de nos mudarmos mais uma vez, sempre voltando pra casa do vovô Lyall por algumas semanas quando a situação estava complicada demais e depois indo embora mais uma vez. Esse é o meu quarto ano em Hogwarts.
— Então vai sentir falta?
— Não das pessoas que tornaram o meu último ano um verdadeiro inferno por causa do Sirius. — Respirou fundo. — Eu só… Não é fácil pensar que nunca mais estarei aqui e que vai ser só mais uma coisa no caos de coisas inconstantes da minha vida.
Draco não sabia se poderia dizer que o entendia totalmente. Ele sempre viveu na Mansão Malfoy, aquele era o seu lar desde sempre, e quando foi para Hogwarts de fato foi talvez um pouco difícil estar longe de casa.
Canopus não teve isso. Hogwarts chegou perto de ser uma casa para ele, mas agora iria embora como de todas as outras.
— Bom… Não é como se eu já não estivesse acostumado com isso. De manhã, eu sairei daqui e nunca mais vou voltar.
— Acho que agora serei eu quem irá tentar o posto de Capitão ano que vem — Draco falou, mais para aliviar a tensão que uma verdade.
— Tente. Terá que ser um jogador melhor primeiro — Canopus riu.
— Eu tenho certeza que sou um aluno muito melhor e será realmente uma pena não poder mostrar quando tiver NOMs melhores que os seus.
— Também duvido que fosse conseguir — falou confiante. — Admita que você vai sentir minha falta, Dragãozinho.
— Muito egocêntrico da sua parte pensar isso.
— Oh, então você realmente quer que eu vá embora?
Não, Draco não queria. Ele não admitiu diretamente, mas ele realmente não queria.
Esse seria o melhor. Seria muito mais fácil fazer o que era preciso. Ele faria tudo exatamente como sua família esperava, como seu avô queria. Sem mais problemas que levariam a grandes desvios. Apenas vantagens.
Mas havia um lado que não queria. Seria tudo muito diferente sem ele por ali com sua aura agitada e irritante.
Apesar disso, não havia o que fazer. Já era praticamente certo que Canopus e Therion seriam expulsos. Aquela era a última noite.
A última vez que o veria em muito tempo… Se é que o veria novamente.
— Ao menos, estarei livre de mais problemas.
— Você vai sentir minha falta. Não culpo, sou realmente marcante.
— Não irei. Estarei grato ao ministério por me livrar de você.
Canopus riu baixo. Seus olhos ainda estavam presos nos de Malfoy, os dois um de frente para o outro naquela janela. Sob a fraca iluminação, os olhos de Draco ainda pareciam brilhar, um azul tão claro que poderia beirar o cinza e refletia o ambiente.
— Eu já avisei. Você não se livrará tão fácil de mim, Dragãozinho — disse num tom baixo, inclinando-se levemente na direção dele.
Eles estavam realmente próximos.
— Bem, não acho que nos veremos de novo tão cedo, Estrelinha.
Os olhos do Black brilhavam, aquele aspecto que lembravam o céu noturno, lotado de estrelas. Draco não veria mais aqueles olhos, por mais que ele dissesse que não se livraria deles tão fácil.
— Então isso é meio que um adeus. Vou ganhar algum presente de despedida?
— Como eu disse… Não se ache tão importante pra isso.
Canopus sorriu levemente de canto.
E lá estava mais uma aparente constância indo embora, como exatamente tudo. Por mais difícil que fosse admitir, gostava de ter companhia enquanto lia, principalmente por ser algo que se tornou habitual. Ele gostava de habitualidade.
Por mais que essa habitualidade viesse de alguém que o irritava tanto boa parte do tempo.
Canopus gostava de aproveitar o pouco tempo que tinha. Jogar tudo para os ares porque nunca teria uma real importância, pois logo não estaria mais em sua vida. Foi o que fez com Elliot. Foi o que fez em Hogwarts. De certo modo fez com Will quando aproveitou aquela única oportunidade.
E ele não queria mais pensar no pouco tempo que tinha, naquela maldita audiência, não queria chorar por isso, nem queria dormir ou tinha cabeça para ler por mais que tivesse descido exatamente para aquilo e aproveitar um último momento de algo constante.
Essas últimas semanas de caos já haviam levado toda sua sanidade embora.
Ele nunca se importou com consequências, de qualquer maneira, e precisava levar a mente para outro lugar.
— Essa é a hora que você mais uma vez vai esquecer tudo o que combinamos, me derrubar no chão e depois me beijar de novo, Dragãozinho?
— Cala boca, Estrelinha.
E Draco soube que era uma péssima ideia estar ali e não se afastar quando Canopus o beijou, mas ele parou de se importar por um momento.
Definitivamente, uma péssima ideia, mas a promessa para seu avô podia esperar mais uma noite.
E Canopus poderia ignorar por uma noite que era Draco Malfoy ali consigo e aproveitar o momento para não pensar em mais nada. Fugir dos problemas e ignorar a razão deles era sua especialidade.
Não significaria nada no dia seguinte.
— Devo perguntar por que fez isso? — Draco sussurrou quando ele se afastou.
— Acho que sabe a resposta.
Canopus engoliu em seco, o nó preso em sua garganta. Apesar de tudo, não queria ir embora. E ele não queria pensar nisso. Não queria chorar por isso.
Mas a primeira lágrima desceu silenciosamente.
Por essa razão, ele não reclamou quando Draco mais uma vez puxou-o pela gola de sua roupa e o beijou de novo.
Draco sentia algo estranho no ar, um frio na espinha, como se houvesse algo errado. Como se todos os seus passos fossem observados. Porém, ele apenas ignorou tudo e puxou Canopus para mais perto, e deixou que fizesse o mesmo consigo para continuar a beijá-lo.
A mente do Black estava completamente nublada, não pensando em mais nada, exatamente como queria.
Isso não aconteceria de novo. Era última chance dos dois.
Última chance de Draco sentir algo. Última chance de Canopus escapar da sua própria mente e não encarar seus problemas.
E foi um acordo silencioso. Seja lá como terminasse aquela audiência, aquilo nunca tinha acontecido.
***
Quando Therion chegou na Torre de Astronomia, Harry já estava lá, arrumando alguns travesseiros sobre cobertores estendidos no chão. Ele ergueu o rosto ao vê-lo chegar e sorriu docemente.
— Oh! Eu já ia te buscar na comunal. Estava arrumando tudo primeiro.
— Resolvi vir agora. Como estão as estrelas hoje?
— Brilhando?
Therion riu e sentou-se sobre as cobertas. Ele admirou o céu. Haviam algumas nuvens, o verão chegara ao fim dava lugar ao frio do outono. Contudo, ainda era possível ver as estrelas, e elas estavam perfeitas.
Harry ficou sentado ao seu lado, e Therion então deitou a cabeça sobre o ombro dele.
— Como está Canis?
— Tentando não pensar demais em amanhã além de que pode dar tudo errado. O chamei, mas ele preferiu ficar no dormitório.
— E como você está?
Therion pegou a mão de Harry e uniu a sua, sentindo um aperto no peito. Enterrou o rosto no ombro dele e mordeu o lábio inferior com força, os olhos já marejando.
Ele não respondeu de imediato. Era difícil pensar em tudo aquilo. Tantas coisas acontecendo, tudo tão caótico.
Antes que percebesse, as lágrimas já molhavam seu rosto.
— Eu quero pensar que vai dar tudo certo, mas… Não é fácil.
— Eu vou estar lá. O Ministério pode tentar, mas não vai conseguir o que quer.
— Nós pensamos que seria um ano tranquilo e olha como começou.
Harry olhou para o Black, seu coração partindo ao ver que ele chorava. Soltou a mão dele para segurar seu rosto e secar suas lágrimas.
— E vai ser, quando você e Canis voltarem amanhã. Nós faremos ser.
Ele uniu suas testas, mantendo-o perto, como queria que permanecesse, ambos com os olhos fechados. Não deixaria o Ministério levá-los embora.
Não, ele não permitiria.
— E-eu… Eu estou realmente com medo, Hazz — Therion confessou num sussurro com sua voz falha.
Ele estava apavorado com tudo aquilo.
A ideia de ser expulso de Hogwarts. A ideia de não ver Harry novamente tão cedo. A ideia de tudo acabar recaindo sobre seu irmão. A ideia de que não os deixariam em paz até capturarem Sirius.
A ideia de tudo dar certo e voltar para o castelo, mas nada mudar sobre Harry… Ou tudo mudar.
Harry continuou a secar cada uma de suas lágrimas, as testas ainda unidas. Ele abraçou o pescoço do Black e abriu os olhos, encarando as íris brilhantes tão tristes. Apertou seus braços ao redor dele e deixou um breve selar em seus lábios, sentindo o gosto salgado das lágrimas, mas isso não o incomodou.
— Eu estou aqui, hm? — sussurrou de volta.
Mas por quanto tempo? Therion se perguntava enquanto abraçava o tronco de Potter com força. Quanto tempo ainda tinham até o Ministério estregar tudo? Até ele estragar tudo com todo aquele caos dentro de si.
E se desse errado… Como seria? Como continuariam sendo amigos depois de tudo que estavam passando? Nada do que dizia e pensava parecia ser o suficiente.
Therion entendia porque Canis explodia às vezes. Em alguns momentos, ele também sente vontade.
Quando não tivesse mais que se preocupar com a audiência, como seria?
Se ele fosse expulso, bom… Ficar longe de Harry seria ruim, mas talvez depois do tempo até se verem de novo em algum feriado tudo enfim se resolvesse. Todas as dúvidas, todas aquelas inseguranças em sua cabeça…
— Tudo pode mudar amanhã. Eu não quero que tudo mude, mas também tem coisas que gostaria que fossem diferentes, e eu não consigo saber o que pensar. Sobre mim e Canis, sobre nossa vida, sobre nós dois… Você e eu… Não sei o que fazer!
— Nada vai mudar depois de amanhã. Você e Canis continuarão aqui! Nós continuaremos aqui! Nada vai mudar.
— Acho que esse também é meu medo.
Therion virou o rosto, evitando encarar Harry. Potter se afastou, confuso.
— Como assim?
— Tudo continuar igual e não dar nem um passo adiante. Nós dois, como as pessoas nos tratam…
Harry comprimiu os lábios e encolheu os olhos.
Therion deixou que as lágrimas continuassem a cair e soluçou. Ele não sabia quanto suportaria se tudo continuasse exatamente igual, tanto sobre Harry, quanto sua vida em Hogwarts.
Eles tentaram intimidar, provocaram um caos, mas que garantia tinham de que os deixariam em paz? Paz era algo que desconhecia desde que seu nome foi chamado para a Seleção.
Já começou péssimo quando precisou ficar mais de dez minutos sentado naquele maldito banco com o chapéu na cabeça tentando decidir para onde ele deveria ir.
— Não ter certeza de nada é uma tortura.
— Eu sei muito bem… — Harry concordou.
Therion olhou para ele, e percebeu que Potter encarava as estrelas. Suas mãos estavam inquietas, e ele começou a virar anéis em seus dedos que ele vinha usando, algo que devia estar entre as coisas de seus pais.
— Eu não tenho certeza de nada na minha vida desde que descobri que sou um bruxo. Tudo virou de ponta cabeça quando Hagrid apareceu para me buscar, quando eu conheci você e Canis… — Ele voltou a encarar o Black. — Não tenho certeza nem de quem eu sou de verdade.
Therion soluçou.
Harry permaneceu encarando o céu, pensando em toda a sua vida. Antes de descobrir que era um bruxo, sua maior certeza era de que seria obrigado a suportar todo o terror de ser explorado pelos tios e viver debaixo daquela maldita escada até completar 18 anos, para então sair daquela casa e nunca mais voltar.
Ele teria que reprimir todos os seus anceios e desejos. Não poderia se permitir experienciar o mundo.
Essa era sua certeza.
A esperança de se livrar deles antes disso foi um sonho realizado, mas que trouxe um mundo de incertezas. Mágico? Incrível? Com certeza. Mas o preço era nunca saber o que esperar.
Agora ele estava repleto de dúvidas sobre quem ele realmente era e o seu futuro. Estava, enfim, podendo ser ele mesmo, se conhecer, se entender.
Mas isso era… Complicado.
Nem certeza de que poderia continuar perto de Therion agora ele tinha, graças a toda aquela confusão.
E ficar um dia inteiro sem falar com ele quando discutiram foi um grande misto de emoções. Ele estava muito irritado e frustrado por ser ignorado, mas também triste por não entender realmente o que acontecia.
Mas refletindo depois de tudo, podia entender algumas coisas. Ele não tinha muitas certezas, mas as que tinha, ele precisava falar.
Ele viu Therion comprimir os lábios e conter mais um soluço. Então voltou-se para ele e aproximou-se mais.
— Mas tem algumas coisas que eu sei — Harry disse.
— Tipo o quê?
— Eu gosto de você.
Um leve sorriso surgiu por entre os lábios de Black em meio às lágrimas.
— E eu não quero perder você — concluiu.
Harry voltou a secar suas lágrimas.
Essa era sua maior certeza. Em meio a todo o caos, Therion estava ali. Ele também lhe trazia muitas incertezas sobre o futuro, sobre ele mesmo, mas perdê-lo não estava em seus planos.
Therion não sabia mais o que dizer, não sabia de nada também. Porém, ele tinha uma certeza.
— Você é muito mais importante pra mim do que pode imaginar, Harry.
Potter sorriu fraco. Ele então olhou para suas próprias mãos, não de um jeito cabisbaixo ou confuso, mas com sua mente trabalhando uma ideia repentina.
Ele retirou um dos anéis de seu dedo e segurou a mão de Therion. Black engoliu um soluço, os olhos levemente arregalados e encarando Harry.
Harry encarou-o, admirando os olhos tão brilhantes que transbordavam. Ele colocou o anel prateado no dedo anelar na mão direita de Therion, sem desviar o olhar.
— E eu estou aqui com você. Não importa o que aconteça.
O sorriso no rosto de Therion poderia iluminar o céu muito mais que qualquer estrela.
Ele olhou para o anel. Era igual a outro que estava no dedo de Harry. Os tamanhos um pouco desejustados para eles, mas não se importaram.
O que mais chamou sua atenção foi o fato de que as minúsculas pedras brilhantes pareciam formar a constelação de leão.
— É lindo…
— Estava entre as coisas dos meus pais. Estava usando os dois, mas quero que fique com esse.
— Harry, isso é…
— Aconteça o que acontecer, quero que tenha isso. Eu quero estar com você, sempre.
Therion sabia o quanto isso era significativo, e pôde ver que Harry realmente queria que guardasse consigo.
Ele era apegado a qualquer lembrança dos pais, assim como ele era a de sua mãe. Isso era algo extremamente importante, com significado.
Harry levou sua mão com o anel ao peito de Therion, os corações pulsando sob seus dedos. Segurou a dele e colocou em seu próprio peito.
Ele não tinha dois batimentos, mas aquele único coração batia forte por Therion.
Therion levou sua mão livre até o rosto de Harry, e então o beijou, a outra ainda sobre o peito dele. Todo o seu corpo relaxou no momento, a sensação avassaladora que ele lhe causava explodindo no peito.
Potter secou todas as lágrimas do rosto do Black, e eles deitaram-se sobre as cobertas, abraçados. Por um longo tempo, admiraram as estrelas e beijaram-se sob elas. Algumas horas se passaram, e eles continuavam como estavam.
Eles não tinham certeza de nada, apenas de que queriam estar ali, juntos.
Porém, ainda havia uma angústia no peito de Therion que apenas ficava mais forte. Ele não conseguiu não acabar pensando em seu irmão, pois sabia que Canis não estava bem.
Canis quis que ele tivesse aquele momento com Harry, para que ele tivesse como esquecer aqueles problemas. No fundo, mesmo sem admitir, não queria que o que fez recaísse sobre ele.
— Você vai beber aquela poção que fez? — Harry questionou.
— Vou. Um pesadelo é o que menos preciso agora, mas…
— Mas o quê?
Therion afastou-se de Harry para pegar a poção, que deixara no chão ao lado do Mapa do Maroto, que usara para chegar até ali sem ser visto.
Ele buscou pelo irmão no Mapa para saber se ele estava no quarto, um mínimo indício de que talvez tivesse bebido a poção.
Ele não estava no quarto. Na verdade, estava bem perto.
Therion olhou para Harry, que encarou-o confuso.
— O que foi?
— Eu sei que está um ótimo momento para nós, mas… Canis está precisando de mim.
Ele sentia aquele aperto que reconhecia no peito. Quando sabia que seu irmão não estava bem, mesmo que distante.
— De nós — Harry disse. — Ele é meu amigo também, Therry. Marotos sempre unidos, hm?
Therion sorriu fraco.
— Eu já volto.
Therion se levantou e desceu a torre. Como viu no Mapa, Canis estava ali escorado na janela observando o céu na base da torre. Ele voltou os olhos para si ao perceber sua chegada.
Estava ali vestido em seu pijama, com o casaco fechado com Antares preso ali, aquecido contra seu peito e com a cabeça para fora na pequena abertura deixada. Seu rosto estava molhado, os olhos vermelhos com lágrimas ainda presentes.
— Por que não subiu?
— Imaginei que em algum momento olharia para o Mapa. Não quis atrapalhar — respondeu.
Therion apoiou-se na janela junto a ele e observou o irmão com cuidado.
— Ainda não bebeu a poção.
— Não. Ainda estou com receio de dormir — admitiu.
Os olhos dele estavam presos nas estrelas.
— Eu meio que beijei o Draco.
— Por Merlin, Canis!
Canopus não disse mais nada, mas mais lágrimas desceram por seu rosto.
— E o que pensa disso?
— Você é legilimente.
— Fale.
— Cada um com seus meios de esquecer os problemas. — Canopus forçou um sorriso. — Essa é a minha especialidade.
Therion balançou a cabeça negativamente. Ele abraçou o irmão de lado, os dois admirando as estrelas agora.
— Acha que posso considerar isso aqui um pedido de namoro? — Ergueu a mão com o anel.
— Vocês são realmente melosos e bregas.
— Cada um com seus relacionamentos — rebateu.
Canopus riu baixo.
— Ainda teremos coisas boas para nos lembrar — Therion disse.
— É… Algumas coisas.
Therion guiou o irmão pelas escadas de volta para o topo, onde Harry esperava. Quando os viu chegar, Potter sorriu de um jeito caloroso.
Os três deitaram-se juntos, como já fizeram tantas vezes no ano anterior e na primeira noite de Harry na casa deles, os olhos presos no céu. Os gêmeos beberam a poção.
Foi um mês de muito caos depois de anos caóticos. Estavam começando a aceitar que tranquilidade realmente nunca faria parte da vida deles.
Ao menos, deixariam aquela escola exatamente como suas vidas. De um jeito maluco e caótico.
— Malfeito feito? — Harry disse.
Os gêmeos sorriram.
— Malfeito feito.
—————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Enfim acabamos o caos dos dias pré audiência! Gostaram?
Um grande caos, mais beijo stardragon, Deerwolf começando seus tempos caóticos...
O que acharam de tudo isso? Me digam!
Muitas coisas ainda estão por vir!
O que esperam da audiência?
Não esqueçam de comentar bastante!
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋🏻
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