LV. Out of plan
Algo muito característico sobre os gêmeos Black é que eles sempre estarão juntos em tudo, não importa o que aconteça.
Não importava se eles brigaram um dia ou uma hora antes, eles acabariam correndo até o outro quando precisassem desabafar.
E não importava o quão terrivelmente boba fosse a situação que os levasse a procurar um ao outro de novo.
Therion estava bastante chateado com Canis após entender o motivo de Merliah estar afastada deles. Ele já havia saído transtornado quando ocorreu, e o irmão não deu nenhum indício de ter feito ou dito algo. Sabia que ela estava magoada, mas não conseguia entender. Agora conseguia.
Ela foi a primeira amiga deles em Hogwarts, e ele também estava com o humor bastante afetado pelo caos dos últimos tempos, então certamente não teve paciência para ver Canopus ser o cabeça dura de sempre. Era difícil se afastar um dia inteiro, mas fez pelo bem de sua própria cabeça.
Ele sempre tentava entender o irmão, mas reconhecia que às vezes era complicado.
Depois que terminou sua detenção com o tio, ele não ficou muito tempo com Harry e voltou para seu dormitório, retirando a capa e a gravata e jogando-se em sua cama. As cortinas da cama de Draco estavam fechadas, o que indicava que ele já havia voltado.
Canopus não voltou logo para o dormitório, o que provavelmente significava que Snape havia lhe dado mais tempo de detenção. Isso deu-lhe tempo para descansar sua mente, no silêncio apenas com seus próprios pensamentos.
Quando voltou, ele abriu a porta com certa brutalidade, olhando ao redor, e suspirou no momento que seus olhos encontraram Therion. Ele tinha algo para falar, e Therion estava pronto para ouvir.
Antes que Canopus sequer abrisse a boca, Draco saiu de sua cama e seguiu para a porta.
— Ei! Espere aí! — Canopus chamou.
Draco desviou dele em um reflexo rápido e foi embora. Canopus deu um passo na direção da porta, mas pareceu desistir, e em vez de sair, ele a fechou e encarou o irmão.
— Eu vou matar ele.
— O que aconteceu na detenção dessa vez?
Therion sentou-se na cama e escorou-se na cabeceira. Canis aproximou-se rapidamente e ficou parado à sua frente, não respondendo de imediato, e sua mente a mil. Ele olhou para trás na direção da porta e então mais uma vez para o irmão, com uma expressão de muita confusão.
Poucas coisas deixariam Canopus daquele jeito.
Therion inconscientemente — talvez nem tanto — conseguiu captar da mente do irmão o que houve. Seu queixo caiu no mesmo instante.
— Puta que pariu!
Remus provavelmente iria lavar sua boca com sabão se estivesse ali.
— Que motivos aquele idiota teria para me beijar?
— Não seria a primeira vez. Repetir a dose, provavelmente.
— Foi um acidente!
— Gostar de garotos.
— Estou falando sério!
— Eu também. Ele é tão gay quanto nós dois, talvez até mais.
— Therion!
— Canis, as veelas estavam gritando tanto na Copa que chegou uma hora que incomodou até nós e Malfoy parecia estar ouvindo uma ópera entediante.
Canopus abriu a boca para rebater, mas fechou em seguida, reflexivo. Ele não tinha reparado na reação de Malfoy às veelas, estava ocupado demais tentando impedir Merliah de pular da arquibancada e tampando os ouvidos quando os gritos furiosos começaram.
Therion franziu o cenho.
— Por que está tão nervoso?
— Porque aquele idiota me beijou! E não foi um acidente como na última vez, ele fez por livre e espontânea vontade.
— E você aparentemente retribuiu.
— Não entre na minha cabeça.
— Isso foi apenas um chute.
— Eu vou te matar.
Therion riu, achando toda aquela reação do irmão bastante divertida.
— Nem o Harry surtou tanto com nosso beijo. Já estamos num ótimo de nível de aceitação sobre a nossa sexualidade, Canis.
— Eu já sei há bastante bastante tempo que sou muito, muito gay, obrigado.
— Impossível negar isso.
— Mas é o Malfoy, porra!
— Realmente, você decaiu um pouco depois do Elliot. Eu precisaria estar completamente bêbado para cogitar a ideia de beijar ele e provavelmente nem cogitaria.
— Ele ser bonito não quer dizer que eu quero beijar ele.
— Mas você beijou.
— Ele me beijou.
— Se fosse algo forçado você provavelmente já teria lançado uma maldição nele. Você beijou de volta.
Canopus mais uma vez ficou em silêncio e bufou, então sentando-se de uma vez na cama do irmão e puxando um travesseiro para abraçar contra o corpo.
— Agora, eu quem pergunto, por quê? — Therion perguntou curioso.
— Não sei. Bom… Realmente, feio ele não é.
— Está tão carente assim depois de terminar com o Elliot? Vai beijar o Will, então.
— Eu só o vi mais uma vez depois da biblioteca, não tive tempo pra isso. E eu não sou carente!
— Malfoy pode não ser feio, mas cara… É o Malfoy. — Fez uma careta.
— Você não está ajudando. É exatamente o que estou tentando dizer!
— Receba como karma.
Canopus ergueu os dedos do meio para o irmão, que apenas riu e mostrou a língua em resposta. Eles ficaram em silêncio por algum tempo.
— Ainda está bravo comigo?
— Não tanto quanto antes, mas você fez merda e você vai resolver.
— O que quer que eu faça?
— Você quem fez nossa melhor amiga se sentir mal. Resolva isso.
Canis suspirou.
— E não retiro o que eu disse. Outras pessoas importam além do papai — Therion concluiu.
— Vou falar com ela.
— Fale de verdade com ela, não só o que acha que ela quer ouvir.
— Você está parecendo o papai.
— Um dos motivos para eu quase ir pra Grifinória. Use sua maldita sinceridade e falta de filtro e resolva o que fez.
— Você vai falar pro Harry que está quase enlouquecendo sem um namoro oficial e público?
Therion fechou a cara e cruzou os braços, desviando o olhar.
— Não estamos falando sobre mim, e eu estou muito bem dando ao Harry o tempo que ele precisar.
— Eu te conheço tanto quanto você me conhece, maninho.
— Que tal voltarmos a falar sobre você beijar o Malfoy?
Canopus choramingou, deitando-se ao lado do irmão e enterrando o rosto no travesseiro. Ele não fazia ideia do que estava acontecendo.
— Você sabe o que fazer — Therion disse.
— Falar com aquele idiota — respondeu, a voz abafada pelo travesseiro.
— Ainda não consigo ver os pensamentos dele, mas diria que deve estar surtando igual a você agora. Deixe a conversa para amanhã. Vocês ainda tem mais um dia de detenção juntos, não é?
— Temos.
Canopus ergueu o rosto e suspirou. Therion riu e deitou-se ao lado dele, um de frente para o outro como um espelho.
Ainda estava levemente chateado, talvez até bravo, mas estava ali com o irmão. E Canis estava ali com ele. Os gêmeos Black nunca ficam muito tempo separados.
***
Draco queria muito fugir completamente de Canopus pelo resto da semana, mesmo sabendo que seria impossível.
Ele sequer saiu de sua cama para ler na comunal naquela noite, pois sabia que Black estaria lá. Ouviu o momento exato que o garoto saiu da cama e deixou o quarto, mas continuou em sua cama, com as cortinas bem fechadas e o diário sobre o colo.
Muitas páginas foram ocupadas com seus pensamentos em relação ao beijo. Ele deveria tentar aprender a como trancar aquele diário como a mãe de Canopus fez com o próprio, pois morreria se alguém lesse o que havia escrito ali.
Em meio ao silêncio do quarto, ele sufocou um soluço. As lágrimas já molhavam seu rosto há muito tempo, e ele se odiava por isso.
Se odiava por chorar como o fraco que era.
Seu pai o odiaria por isso. O odiaria pelo que fez.
Mas no fim, Draco não conseguia se arrepender. Ele deveria, mas não sentia arrependimento algum, por mais que aquela fosse sua ruína.
Nas últimas duas semanas, ele se aproximou de Daphne na tentativa de seguir os planos de sua família, o que seu avô desejava. Ela era uma de suas pretendentes, quem sabe apenas precisasse se aproximar um pouco mais. Eles já eram amigos, não seria difícil. Ela era incrível. Bonita, inteligente, vinha de uma boa família…
Mas então, eles se beijaram e foi completamente desastroso.
Pela cara dela, também não deve ter sido muito bom para ela, embora tentasse disfarçar.
Draco sabia que era sensível demais e foi criado a vida inteira para não ser. Por mais que aprendesse a reprimir seus sentimentos como ninguém, eles ainda estavam ali, ainda existiam e ele os sentia com todo o fervor. Porém, naquele momento, não sentiu absolutamente nada. Nem uma mísera faísca.
As várias páginas escritas há pouco em seu diário provam que foi completamente diferente com Canopus. E ele não devia ter sentido tanto.
Depois que foi embora e entregou o pergaminho com a tarefa pedida por Snape, ele voltou para o quarto e gritou contra o travesseiro, já que não havia mais ninguém ali, antes de Therion chegar. Foi até que bastante relaxante fazer isso.
Seu coração estava acelerado, sua mente um turbilhão de pensamentos. E o principal deles é: Ele havia gostado muito e se não tivesse cuidado, acabaria fazendo de novo.
Naquele momento, ele cedeu a um impulso, algo que sempre foi ensinado a não fazer. Mas Black estava ali tão perto, o provocando, causando todas aquelas emoções gigantescas em seu peito... Ele apenas fez.
Aproveitou sua chance.
Não ousou falar com ninguém sobre, obviamente. Seria terrível.
Por um mísero segundo pensou em enviar uma carta para sua mãe, mas logo abandonou a ideia. Seria quase tão bom quanto enviar uma para o seu pai. Por melhor que fosse com as palavras, não saberia como explicar tudo o que sentia sem expor demais, o que era muito frustrante, já que na maior parte do tempo sempre pôde contar com sua mãe para tudo quando precisou.
Mas para aquilo, não. Sabia que não.
Ela era mais compreensiva que seu pai, mas haviam limites. Deixar a entender que sentia algo por um garoto estava fora de cogitação.
Sua última alternativa foi Nikolai. Talvez houvesse o risco de perder sua recente amizade, mas não viu outra saída.
E Nikolai veio para o funeral de seu avô e ficou em sua casa até o retorno às aulas. Ele parecia alguém confiável. Eles tinham muito em comum.
Ele enviou a carta de manhã, depois de sair do quarto em disparada antes mesmo que Canopus acordasse.
Pelo restante da manhã, tentou fugir do Black o quanto pôde, embora sua mente ainda estivesse nele. E ele ainda não se arrependia.
Provavelmente nunca se arrependeria.
Ele estava arruinado.
E então chegou a hora da detenção, e ele sabia que não poderia continuar fugindo. Mesmo que conseguisse convencer Snape a mantê-los longe, Canopus não desistiria.
O conhecia o suficiente para saber disso.
Como sempre, ele chegou muito antes do Black a sala de Poções.
— Hoje é seu último dia de detenção — lembrou Snape. — Espero que seja realmente o último, Draco.
— Não é exatamente culpa minha que estou aqui desde o princípio.
— Como o pai, os Black e o Potter sabem como arrastar pessoas para suas confusões. Aconselho que seja prudente em não dar corda para que o façam.
Draco apenas assentiu.
— Eu reparei que algumas coisas sumiram de minha dispensa, principalmente ingredientes de Poção Polissuco. Sabe de algo sobre isso?
— Não — mentiu com uma expressão neutra no rosto.
— Draco, se estiver tentando ajudar aquele Black de novo…
— Eu só queria acabar aquela detenção rápido. Ele não pegou nada da dispensa, e eu divido dormitório com eles, saberia se estivessem preparando Poção Polissuco escondidos.
Sua resposta não era uma mentira. Canopus realmente não pegou nada, foi Therion, e ele sabia que estavam preparando polissuco, apenas não precisava confirmar, e sim constatar que era uma informação que teria.
Não havia motivo para Snape desconfiar, e ele pareceu acreditar.
— Não deixe de me contar qualquer coisa suspeita, eles sempre estão envolvidos em problemas.
Draco quis responder que diria com prazer, se ele mantivesse reciprocidade e lhe contasse sobre sua tia desconhecida, porém ficou calado. Ele não voltou a mencionar o nome dela quando percebeu que não conseguiria nada.
Canopus adentrou a sala pouco depois. Draco não olhou para trás, mas sentiu ele se aproximar cada vez mais.
Black bufou quando mais uma vez precisou organizar a sala e depois a dispensa, enquanto Draco escrevia uma longa redação sobre os efeitos da pedra da lua em poções. Malfoy não demorou muito em sua tarefa, pois era extremamente fácil.
E depois Snape pediu que ficasse de olho em Canopus para que não roubasse nada da dispensa e deixou bem claro que lhe daria mais dias de detenção se soubesse que o ajudou novamente. Draco quis muito lançar um feitiço no professor por isso, mas fez o que foi pedido em silêncio.
Malfoy ficou parado de braços cruzados próximo à porta sentado num banco. Black parou o que fazia e voltou-se para ele, encarando-o fixamente.
Os cabelos dele estavam presos com sua varinha, que Draco convenceu Snape a deixá-lo ficar, estando também em sua tarefa cuidar para que ele não a usasse. Não pôde deixar de reparar que suas roupas não pareciam tão velhas e surradas quanto outras que costumava usar aos fins de semana, quando não usavam uniforme, embora fossem simples e trouxas.
Canopus também cruzou os braços, as mangas curtas da camiseta preta deixando expostos os braços marcados por cicatrizes. Draco reparou brilhando em seu peito um colar com pingente de uma estrela com uma lua crescente, o mesmo que vinha usando algumas vezes.
Talvez estivesse reparando demais nele.
O rosto de Draco rapidamente corou com aquela percepção. Uma leve risada escapou dos lábios do Black, e ele escorou-se nas prateleiras atrás de si ao ver a cor chegando à pele pálida. Malfoy respirou fundo, sentindo seu coração acelerar e o corpo esquentar, as mãos apertando o tecido da própria roupa.
E Canopus não dizia nada, apenas o encarava ali, parado, divertindo-se com a reação do outro sem que precisasse fazer muito.
— O que foi, Black? Quanto mais ficar aí parado, mais vai demorar para terminar.
Canopus olhou na direção da porta e depois de volta para Draco. Então empurrou com pé até deixar apenas uma fresta aberta.
— Vai falar agora ou vai esperar o imbecil do seu padrinho não estar mais por perto?
— Primeiramente, não temos o que falar.
— Ah, temos sim!
— E segundo, não precisa lembrar o tempo todo que Snape é meu padrinho. Aqui, em Hogwarts, ele é meu professor, apenas isso.
— Tanto faz! Mas você não vai ficar uma semana inteira fugindo de novo.
— Eu estou bem aqui, não estou?
Ele realmente queria fugir, mas teria de ficar. E quanto mais cedo isso terminasse, melhor para ele.
— Por que fez aquilo?
— Seja mais específico.
— Não comece de novo. Você sabe muito bem do que estou falando.
Draco ficou em silêncio, apenas observando a reação de Black. Obviamente, como sempre, seus olhos falavam muito mais que qualquer palavra que saísse de sua boca, sempre tão expressivos. Ele não era o único nervoso com aquilo.
Porém, os motivos, certamente, eram muito diferentes. Eles tinham vidas muito diferentes.
Canopus não se importava nem um pouco em beijar garotos, o problema era o garoto em questão ser Draco Malfoy.
Draco não se importaria em beijar Canopus pelo resto do dia inteiro, se isso não significasse que ele estava beijando um garoto.
Se não fosse um garoto, o fato de ele ser mestiço, filho de um traidor de sangue, filho adotivo de um lobisomem… Poderia ser irrelevante. Draco poderia ignorar isso por pelo menos um tempo; o tempo de aproveitar o momento, um simples e pequeno desvio que não precisaria significar algo.
Mas ele é um garoto, e isso seria um enorme desvio do seu caminho. Isso significava alguma coisa.
— Vai continuar calado — Canopus bufou e revirou os olhos.
— O que você quer que eu diga?
— O que eu quero? Porra, Malfoy! — Ele elevou o tom de voz. — Você me beij…
Draco levantou-se rapidamente e cobriu a boca dele com sua mão, os olhos indo para a porta e então de volta para as orbes acinzentadas.
— Não fale tão alto! — Baixou a voz para quase um sussurro.
Canopus agarrou sua mão para afastá-la de sua boca.
— Agora está com medo que seu padrinho descubra e vá correndo contar para o seu pai? — Também abaixou a voz.
— O que você acha?!
Ele riu.
— Oh, então agora faço parte do seu segredinho.
— Cale a boca!
— Por que você me beijou?
— Quer mesmo falar disso agora?
— É difícil encontrar oportunidades quando você está tentando fugir. Não adianta negar, você nem desceu para a comunal a noite.
Draco não respondeu.
— Por que você me beijou? — Canopus repetiu a pergunta, o tom de voz ainda mais baixo.
— Você quem pediu.
— Eu pedi?
— Eu não faria o seu trabalho de limpar aquele banheiro por você.
— Eu não pensei que você realmente me beijaria!
— Você não me conhece tanto quanto pensa, Black.
— Parece que não.
Malfoy não negaria que foi levemente divertido perceber a confusão nos olhos do Black sobre toda essa situação. Então, um pequeno sorriso de canto surgiu por entre seus lábios.
— Nunca pensei que teria algo minimamente interessante para conhecer, na verdade — Canopus continuou, tentando não transmitir toda sua confusão.
— Você tira muitas conclusões antes de sequer tentar.
— Posso dizer exatamente o mesmo sobre você, Dragãozinho. Sabe, sempre acreditando fielmente em sua família e não aceitando ver o outro lado.
— Cala a boca, Estrelinha.
Aquele maldito sorriso surgiu por entre os lábios de Canopus quase imediatamente, e os olhos de Draco foram atraídos também no mesmo instante.
Eles, mais uma vez, estavam perto demais.
Forçou seus olhos a voltarem para os do Black e havia algo mais ali. Além do sorriso radiante, seus olhos pareciam brilhar como se tivesse ganhado o melhor presente da sua vida ou recebesse algo que ansiava há muito tempo. Apenas pelo simples modo que o chamou, ele percebeu.
— Agora, termine o seu trabalho.
— Sozinho? — Canopus arqueou a sobrancelha e aproximou-se ainda mais.
Draco se esforçou para não desviar o olhar, enquanto sentia que seu rosto deveria estar muito mais vermelho do que gostaria e lutava contra a vontade de se aproximar ainda mais.
— Sim, sozinho. Vai jogar um caldeirão na minha cabeça?
— É bastante tentador.
— Eu não vou te beijar de novo para que faça.
— Isso nem sequer passou pela minha cabeça. Quer tanto assim que já está sugerindo?
— Você quem insiste em falar tanto, Canopus. Talvez seja você quem queira.
Houve um instante de silêncio.
— Eu precisaria estar muito bêbado ou desesperado.
— Você já parece desesperado.
— Cala a boca, Dragãozinho.
— Estou te dizendo isso há bastante tempo. Você quem insiste em falar, Estrelinha.
Canopus não rebateu de imediato, apenas encarou Malfoy de volta. Draco suspirou após e afastou-se, porém Black ainda segurava sua mão e o puxou para perto outra vez, sem dizer nada. Ofegou surpreso e tentou muito manter a postura.
— Não será diferente do ano passado.
— Não espero que seja. Pode esquecer, se quiser — Draco disse. — Para mim não significou nada, só queria ir embora dali e calar sua boca de uma vez.
— Para mim significou menos ainda.
— Então por que simplesmente não me deixa em paz?
— Claro, porque é super normal nós dois simplesmente nos beijarmos do nada.
— Um erro que não cometerei outra vez, garanto.
Por mais tentador que fosse repetir aquele erro, Draco pensava. E estarem tão perto certamente não o ajudava.
— Você realmente quer continuar falando sobre isso ou vai terminar a detenção? Vamos esquecer, nada aconteceu.
— Nada aconteceu.
— Ótimo. Volte ao trabalho.
— Mas você vai ajudar.
— Não vamos começar isso de novo, Black. Termine ou chamarei Snape, e você sabe que eu não estou blefando.
Canopus bufou.
Alguém poderia lhe lançar uma maldição Imperdoável por pensar isso, mas ele preferia ter que beijar Malfoy de novo a cumprir a detenção sozinho.
Aquele caos estava realmente o deixando maluco.
Ele tirou a varinha que prendia seus cabelos, bagunçando os fios em frustração enquanto se afastava. Draco observou o ato, xingando o Black mentalmente por conseguir transmitir tanto charme com algo tão simples, antes de cruzar os braços e desviar o olhar.
A detenção terminou sem que Draco ajudasse. Ele foi embora rapidamente assim que foi liberado, e Canis seguiu para a comunal.
Lá, Black avistou Merliah no sofá com o gato em seu colo, enquanto Therion estava numa poltrona com um livro de poções. O gêmeo mais novo notou sua chegada e apenas indicou a amiga com a cabeça.
— Agora? — murmurou.
Therion não disse nada, apenas o encarou com o mesmo olhar repreensivo de Remus. Canopus suspirou e foi até a amiga.
— Liah, podemos conversar?
— Não.
— Por favor, Liah… É sério.
Ela suspirou.
— Fale.
— Pode ser em particular?
— Sério, Canis?
— Cinco minutos.
— Nem um minuto a mais.
Os dois seguiram para o seu dormitório e fecharam a porta. A garota sentou-se na cama de Therion de braços cruzados, uma expressão séria em seu rosto.
Canopus aproximou-se continuou de pé de frente para ela e respirou fundo, tentando pensar no que dizer.
— Eu sei que você espera um pedido de desculpas.
Merliah ficou calada.
— Mas sei que você também preza por sinceridade tanto quanto eu, então não vou pedir perdão por tudo.
— Claro que não.
— Você é realmente muito importante para mim e para o Therion, okay? Você foi a nossa primeira amiga em Hogwarts e não fugiu em meio a toda a loucura que somos, e eu aprecio isso — Canopus falou com as mãos enterradas nos bolsos da calça. — Mas ultimamente tudo tem estado muito mais complicado do que já é e nós estamos cansados… Eu estou cansado de tudo.
— Exatamente por isso eu queria ajudar.
— Eu queria ficar sozinho, Therion precisava de mim e estar longe do salão. Sei que fui rude e falei coisas demais, mas não peço desculpas por isso.
Liah bufou e desviou o olhar.
— Peço desculpas por não dar importância ao que você sentiu.
— O que no final não muda muita coisa.
— Eu não vou te dizer que falei no impulso e sem pensar, porque não foi assim. Queria ficar sozinho e falei o que precisava ser dito, mas não me importei com seus sentimentos depois e por isso eu peço desculpas. Por não valorizar a grande amiga que você é, não vir falar antes ou ignorar como isso pode ter te magoado.
— Está basicamente assumindo que disse tudo aquilo com plena ciência de que poderia me magoar, mas simplesmente não deu importância?
Canopus comprimiu os lábios e não disse uma única palavra. O silêncio era a melhor resposta.
— Sabe, Canis… Você é um grande babaca e filho da puta.
— Eu sei.
— E acha que eu deveria te perdoar por não se importar com meus sentimentos?
— Eu só quero me desculpar e ficar bem com você. Sua presença é realmente importante… Você faz falta.
— Deveria ter pensado nisso antes.
— Tudo bem, você está com raiva de mim, mas não fique com raiva do Therion, ele não estava entendendo nada — suspirou. — Não precisa me perdoar agora, só… Nós gostamos de você por perto e precisamos, só tem momentos que eu… Eu queria paz.
— E eu queria ajudar. Sei que estão passando por um momento difícil e é exatamente por isso que eu me dispus a estar com vocês, e se você realmente queria ficar sozinho, não precisava ter dito aquilo. Você falou como se eu não fosse nada!
— Você é importante para nós, Liah.
— Você pode querer ficar sozinho com toda essa sua pose de que está sempre bem e que nunca precisa de ajuda, mas se continuar menosprezando os sentimentos de outras pessoas assim, você vai realmente acabar sozinho, Canis.
Canopus não respondeu, as palavras adentrando sua mente. Merliah mantinha um olhar sério em sua direção, ainda claramente magoada.
— Eu espero, de verdade, que você entenda isso um dia.
Um longo silêncio dominou o ambiente, nenhum som sendo ouvido por nenhum lado. Canis engoliu em seco.
— Nós… Vamos ficar bem? — perguntou receoso.
Merliah respirou fundo. Seu olhar sério suavizou, porém ainda possuía certa seriedade.
— Em partes. Ainda estou muito magoada e você vai ter que lutar muito para conseguir meu perdão de verdade, mas… Podemos ter um recomeço.
— Obrigado.
— Não agradeça, ainda estou brava.
Canopus suspirou.
— Therion, sabemos que você está aí.
— Pode entrar, Therry.
A porta foi aberta, e Therion entrou, fechando-a em seguida. Ele correu até Liah e a abraçou, e ela retribuiu com força, enquanto Canopus apenas observava.
Therion sorriu largo para a amiga.
— Eu realmente não fazia ideia e não estava entendendo. Desculpa…
— Não precisa se desculpar, Therry. Seu irmão é um idiota.
— Eu sei.
Canis revirou os olhos.
— Então, o que eu perdi? — ela perguntou.
— Você não vai acreditar. — Therion riu e olhou para Canopus. — E aí? Muito ruim?
— O que aconteceu?
Canopus suspirou e choramingou levando ambas as mãos ao rosto, pensando em toda a detenção e sua conversa com Draco.
— O Draco me beijou.
Os olhos de Liah brilharam e seu queixo caiu em descrença antes de exibir um sorriso sincero para Canis.
— Vamos lá, Canis. Conta tudo! Cada detalhe!
Canopus respirou fundo, mas devolveu um fraco sorriso para a amiga e jogou-se na cama junto com ela e o irmão.
E mais tarde, antes do toque de recolher, ele escreveu uma carta para seu pai relatando toda a confusão em sua mente por tudo que aconteceu, pois conselhos do pai era o melhor que poderia esperar naquela situação.
***
Draco desceu para a comunal durante a madrugada naquela noite, e Canopus talvez não devesse ter ficado tão ao encontrar a cama do outro vazia ao sair da sua e vê-lo ao lado da enorme janela quando saiu do quarto.
Bom, talvez sim, ele gostava de coisas constantes.
E Malfoy sabia que provavelmente poderia estar cometendo um grande erro ao ir ali depois de tudo. Uma péssima ideia.
Ele andava tendo muitas péssimas ideias.
Também seria uma péssima ideia não se levantar e ir para outro canto quando Black sentou-se do outro lado, bem à sua frente, como na primeira vez que estiveram ali juntos, mas foi exatamente o que Draco fez.
Canis estava com um livro relativamente pequeno comparado a outros que já leu. Draco conseguiu ler o nome na capa quando ele o abriu, que lhe trouxe certa surpresa. Le Petit Prince.
Obviamente um livro francês. Desde quando Canopus sabia ler em francês? Ele sequer foi criado com os Black para aprender.
— Parece que alguém resolveu se adiantar e vir mais cedo — Canopus comentou. — E está no meu lugar.
— Você não é dono dessa parte da comunal. Eu apenas decidi descer antes.
— Você sabe bem que sempre fico aqui. — Ele ergueu brevemente os olhos do livro, inclinando levemente a cabeça. — Decidindo matar a falta que vai sentir de mim quando for embora?
— Você não fará falta. E na verdade, acho que realmente vou para o sofá.
— Pode ficar. — Deu de ombros. — E para quem estava fugindo até hoje de manhã, você veio bem rápido.
— Apenas voltando ao habitual.
— Nosso habitual tem sido bem peculiar. Tente não me derrubar ou se jogar em cima de mim de novo, apesar de que aqui a noite no meio da comunal seria bastante… Intrigante da sua parte. Você tem gostado de surpeender. — Exibiu aquele seu maldito sorriso antes de voltar os olhos para o livro novamente.
Draco abriu a boca em choque, sem saber o que responder, seu rosto rapidamente ficando corado. Ele fechou a cara logo em seguida, apertando o livro em suas mãos.
— Pare com isso.
— Isso o quê?
— Já conversamos e deixamos tudo muito bem claro hoje mais cedo.
— Exatamente por isso estou dizendo. Está difícil saber o que esperar.
— Não espere que eu cometa o terrível erro de te beijar de novo.
— Terrível? — Canopus arqueou a sobrancelha e tornou a encarar Draco. — Pensei que tivesse gostado já que quase parecia disposto a repetir, Dragãozinho.
— Beijar um garoto mestiço que não tem o mínimo de bom senso é realmente terrível — Draco respondeu com os olhos em seu livro.
Canopus imediatamente fechou a cara.
Draco percebeu e sabia que teria essa reação. Assim como Black sabia exatamente como provocá-lo, ele também sabia como irritá-lo, embora aquela não fosse a única razão para isso.
Para um Malfoy, seus atos eram realmente terríveis e precisava aceitar isso.
De fato, havia gostado. Muito mais do que deveria. Porém, isso não apagava o erro. Por que as coisas erradas eram tão tentadoras?
— Não tanto quanto beijar um supremacista mimado que segue fielmente uma família hipócrita e imbecil que o chutaria sem pensar duas vezes por ser o que é — Canopus retrucou seco, sabendo exatamente o peso de cada palavra.
— Não comece, Black.
— Você quem começou, Malfoy — rebateu. — Eu tenho muito orgulho de ter sangue trouxa, obrigado… E de saber que não preciso me esconder da minha própria família.
— Não fale do que não sabe.
— Eu sei, e, sinceramente, não te julgo exatamente por isso… Mas você seguir toda essa ideologia idiota mesmo vendo tudo o que ela faz, isso é quase inacreditável.
— Disse o garoto que atacou três trouxas com feitiço estuporante e ainda mandou um deles pro St. Mungus.
— Trouxas que me atacaram.
— Algo muito comum na história do mundo mágico, aliás. Bem vindo a origem de todo o problema, Black.
— Você não tem moral alguma para falar de história mágica.
E, como sempre, eles acabaram em uma grande discussão em questão de segundos.
Enquanto isso, na Torre de Astronomia, Therion e Harry estavam aproveitando os últimos dias que teriam juntos, abraçados e admirando as estrelas. Por vezes, admiravam um ao outro e trocavam selinhos e breves beijos e carícias.
Black estava com o diário da mãe daquela vez, e em dado momento começou a ler ali sentado no chão da torre escorado a uma parede, com Harry entre suas pernas e aconchegado ao seu peito, ambos agasalhados com seus pijamas e cobertos por um cobertor vermelho de Potter. Ele estava passando as páginas, enquanto o outro estava quase dormindo.
— Ela nunca diz nada bom sobre meu pai. Como ela se tornou minha madrinha? — Harry comentou com a voz um tanto sonolenta.
— Tia Lily. — Deu de ombros. — Vejamos, deve ter alguma coisa na época que ela estava grávida. Ela deve falar algo bom sobre os padrinhos que escolheu.
Passou várias páginas até perto do final do diário.
— Ela ficou muito tempo insistindo pro papai ser e sempre falava bebê no singular. Acho que deve ter sido antes de descobrir que seriam gêmeos.
— Demorou tanto assim para descobrir?
— Acho que um pouco. Mamãe não saía muito de casa, exceto quando passou muito mal… Ou quando aparentemente planejava invadir uma reunião de comensais para roubar um livro e conseguir informações… Ela era maluca?! — Therion arregalou os olhos ao parar na página.
Setembro de 1979. Sua mãe estaria com cerca de seis meses de gestação na época e aparentemente havia decidido invadir uma reunião disfarçada.
— Você e Canis tiveram a quem puxar sobre as ideias arriscadas. — Harry riu e bocejou. — Isso é sério?
— Sim. Como ela escondeu aquela barriga?
— Uma capa?
— Eu vou mostrar isso aqui pro Canis. Acho que ele ainda não leu essa parte.
— Vou querer ouvir depois. Acho que estou com sono demais para entender alguma coisa agora. — Harry segurou o diário junto do Black para observar a página, apesar do sono.
Therion riu baixo, acariciando os cabelos de Potter com a mão livro.
— Isso com certeza não me ajuda com o sono, Lobinho.
— Eu sei.
Harry fechou os olhos, apreciando o carinho que recebia. Ele adorava quando Therion fazia isso, assim como ele próprio também adorava acariciar os macios cabelos escuros quando o Black deitava a cabeça em seu colo ou aconchegava-se em seu peito ali na Torre de Astronomia.
— Ei… Tem algo na página.
A voz fez Harry abrir os olhos. Realmente, assim como na última vez, algo parecia diferente, um certo brilho.
— Melhor voltar para seu dormitório. Canis com certeza está acordado lendo na comunal ainda, vou falar com ele — Therion disse e fechou o diário, marcando a página. — Deve ter outra memória aqui.
— Tem certeza?
— Quase. Vou voltar agora, quer vir ou espera eu voltar?
— Acho que meu sono pode esperar.
Therion ficou de pé junto de Harry, e os dois logo cobriram-se com a capa de invisibilidade e retornaram para a comunal da Sonserina.
Quando Black disse a senha e a entrada se abriu, ele logo ouviu Canopus e Draco discutindo fervorosamente e revirou os olhos enquanto entrava. Harry o seguiu com a capa em mãos, pronto para se esconder caso algum outro sonserino com insônia decidisse descer em plena madrugada.
Ou simplesmente alguém acordasse com o barulho daqueles dois discutindo.
— Vocês vão acordar a comunal inteira assim.
A atenção de Canopus e Draco imediatamente foi para os outros dois.
— Ele quem começou, como sempre — Canis bufou.
— Eu? Você que não me deixa mais em paz.
— Devíamos ter ficado dormindo na Torre — Harry logo lamentou em arrependimento.
— Realmente — Therion concordou.
— O que faz aqui, Potter? A sala dos leões fica pro outro lado e o pouco mais para cima — Draco falou com certa irritação para Harry.
— Não é da sua conta. Aliás, pode ir, temos assuntos mais importantes para falar com o Canis.
— A essa hora? E quem você pensa que é para me expulsar da minha própria comunal? Você é o intruso aqui.
— Meio que você tem um pouco a ver, Draco — Therion falou.
Draco franziu o cenho, e então percebeu o diário na mão do Black.
— O diário. Descobriu alguma coisa?
— Descobri quem roubou o exemplar da sua casa daquele livro que vimos na Seção Reservada.
Malfoy ficou em silêncio por apenas alguns segundos antes de começar a negar com a cabeça e rir, desacreditado.
— Não.
— Sim.
— Não, com certeza não. Sua mãe pode ser a nascida-trouxa mais poderosa que existiu, ela não conseguiria roubar a minha casa.
— Não esqueça nosso acordo Draco — Canopus lembrou-o e aproximou-se do irmão.
Draco bufou e revirou os olhos.
— Pois eu vou adorar te mostrar isso aqui em primeira mão, Malfoy — Therion disse abrindo na página. — Estava com aquele mesmo brilho de antes, tem uma nova memória aqui e essa farei questão que veja para esfregar na sua cara como minha mãe enganou toda sua família e seu antro de Comensais.
Canopus segurou o diário junto do irmão, percebendo o que ele havia dito. Harry e Draco aproximaram-se deles.
— Realmente, está igual daquela vez. Vamos tentar.
Os gêmeos respiraram fundo e se entreolharam, assentindo juntos com a cabeça antes de encarar a página mais uma vez, focando totalmente nela e no que queriam ver, no que queriam mostrar dela.
E então, foi a mesma sensação como um puxão e toda a comunal desapareceu, e os quatro se viram repentinamente numa enorme sala com várias pessoas em capas e máscaras.
Draco imediatamente reconheceu o local.
— É a minha casa. O salão em que meus pais recebem convidados para festas.
Era um salão realmente muito grande e luxuoso, quase tão grande quanto a comunal da Sonserina. Poucos estavam sem suas máscaras e alguns seguravam taças de vinho, inclusive um que Harry imediatamente reconheceu.
Um homem de aparência mais velha do que se recordava, muito mais magro também, mas ele reconheceu os cabelos escuros, as feições de seus rosto, o olhar frio.
Tom Riddle.
— Por que a sua mãe estaria numa reunião de Voldemort?
— Trabalhando para descobrir como detê-lo — Therion respondeu e olhou ao redor. — Onde ela está?
Estava difícil reconhecê-la ali, porém algo chamou a atenção de Canopus. Próximo a eles, alguém que parecia um comensal estava parado à espreita de todos, misturado e ao mesmo tempo distante, vestindo uma longa capa preta.
Um brilhante colar estava pendurado no pescoço da pessoa, o mesmo que ele estava usando mais cedo que um dia foi de sua mãe.
Karina estava vestida com roupas pretas e usava uma capa da mesma cor, em seu rosto uma máscara igual a que as pessoas que atacaram na Copa Mundial usavam.
— É ela. — Apontou.
Canopus e Therion ficaram de frente para a mãe e observaram paralisados, assim como na última vez.
— Como ela conseguiu uma máscara de Comensal da Morte exata? Nem mesmo os aurores conseguiam uma cópia perfeita para se disfarçar — Draco questionou. — É uma máscara de segundo escalão.
— Como assim? — Harry perguntou.
— Os Comensais tinham diferentes máscaras dependendo do quão próximos fossem de Voldemort ou suas principais funções. Os primos da minha mãe, os Rosier, usavam essa máscara — explicou e então apontou para onde estava Tom Riddle. — Aqueles ali são o primeiro escalão, meu pai e os Lestrange. São detalhes pequenos para quem não conhece, mas eles reconhecem. Ela conseguiu essa máscara com alguém de dentro.
— É incrível como você assume tão tranquilamente que sua família era aliada de Voldemort e ainda explica a hierarquia deles.
— Não é como se vocês não soubessem, Potter. Essa aqui é a minha casa! E você pode ser o queridinho do Ministério, mas não teria poder para reverter a absolvição do meu pai. Ninguém vai acreditar em vocês.
— Qual era o escalão do Arcturus? — Canopus perguntou.
— Provavelmente segundo. Ele desertou, então meus pais não falavam muito nele.
A memória então mudou, como se tivesse tido um corte, um salto de tempo, e agora estavam em outro lado na multidão de Comensais.
Karina começou a caminhar discretamente por entre eles e parou próximo a outros. Voldemort falava em alto som sobre algum plano para expandir o grupo pela Grã-Bretanha.
Entre os poucos sem máscara, uma se destacava.
Hadria estava parada ao lado de um Comensal com máscara de segundo escalão, o olhar completamente perdido, como se sua mente não estivesse ali e sim em outro lugar. Porém, seus olhos repentinamente se arregalaram e voltaram-se para a direção onde Karina estava.
Draco focou seus olhos nela, que estava próxima de quem ele sabia que era seu pai. Reconheceria a postura do homem em qualquer lugar, mesmo de máscara.
Hadria deu um passo para trás, porém Lucius rapidamente agarrou seu braço e a puxou de volta para o lugar e inclinou-se brevemente para dizer algo. Ela soltou-se do aperto e olhou-o parecendo irritada.
O Comensal que estava ao lado dela a afastou de Lucius protetoramente, encarando-o por trás da máscara enquanto Hadria agarrava-se ao braço dele e logo voltava a sua postura com uma feição séria.
Os garotos não permaneceram muito tempo ali, pois Karina logo saiu num momento oportuno quando todos começaram a remover suas máscaras pela porta logo atrás.
Ela caminhava rapidamente pelos corredores e adentrou uma biblioteca, logo trancando a porta com um feitiço. Retirou a máscara e respirou profundamente, apoiando-se contra a parede e levando as mãos à barriga bem disfarçada pelas ruas escuras, mas que agora era perceptível.
Estava bastante avantajada, indicando um estágio um tanto avançado da gestação.
— Bom, parece que nós já estivemos na sua casa antes mesmo de você, Malfoy — Therion comentou.
— Em que dia estamos?
— Meados de setembro. Ela deve estar de seis meses, acho… Ou quase isso.
— É engraçado pensar que estamos ali dentro — Canis disse.
Karina respirou fundo mais uma vez com uma expressão incômoda no rosto.
— Essa não é a hora para se mexer, meu bem — ela disse acariciando a barriga. — A mamãe precisa trabalhar.
Ela afastou-se da parede e a memória então mudou novamente. Continuavam na biblioteca, porém talvez tivesse se passado algum tempo mais uma vez. Ela agitou a varinha na frente de uma grande estante e ela se moveu, dando entrada para uma câmara.
— Não acredito que o revelio funcionou — murmurou surpresa e riu baixo.
Olhou para a entrada antes de seguir para a câmara, que aparentava como uma Seção Reservada da biblioteca Malfoy.
— Nós realmente precisamos melhorar a segurança disso aqui — Draco murmurou.
— Por que você tem um tipo de Seção Reservada na sua casa? — Harry perguntou.
— Pelo mesmo motivo de Hogwarts. Mas o que ela quer com um livro de Artes das Trevas?
Karina pegou um livro disposto numa das prateleiras, o mesmo que viram em Hogwarts que Draco disse ter um exemplar em sua casa que fora roubado. Estavam presenciando agora o dia do roubo.
Ela folheou algumas páginas do livro e então apertou-o contra o peito, saindo da câmara e usando a varinha para fechar a entrada, porém um barulho foi ouvido na porta.
Enquanto duas pessoas adentraram a biblioteca, Karina se escondia atrás de uma estante, agarrando o livro com força. Ela espiou discretamente, e os garotos fizeram o mesmo, curiosos, também escondidos como se pudessem ser vistos.
Eram dois homens sem máscaras. Um deles loiro e alto, outro apenas poucos centímetros mais baixo com cabelos mais escuros, ambos não parecendo ter muito mais que dezoito anos.
Um deles, os gêmeos e Draco reconheceram. Os Black já tinham visto no mural de capitães do time de quadribol da Sonserina, e Malfoy em antigas fotos de família que sua avó Druella mostrou.
— Não sei porquê trancar essa biblioteca, não é como se tivesse algo valioso aqui.
— Os Malfoy são bastante cuidadosos, Barty. Eu falei que podíamos conversar no meu quarto de hóspede.
— Quero evitar pelos na minha roupa — Barty disse com desdém.
O outro suspirou e revirou os olhos, virando-se para ele seriamente.
— O que quer agora. Não tenho muito tempo.
— Apenas conversar, Evan. Não tem mais tanto tempo pra mim? — Barty sorriu de canto e aproximou-se de Evan.
— Diga logo.
O sorriso de Barty imediatamente morreu, assumindo uma expressão sombria e descontente. Ele afastou-se de Evan e começou a caminhar pela biblioteca de braços cruzados, sendo acompanhado pelo olhar dele.
— Barty…
— Seu casamento deve estar indo muito bem para não responder minhas cartas.
— Não comece.
— Começar o quê? Eu fiquei esperando semanas! Meses! Você nem tem mais porque se preocupar com ela.
— Eu sou casado com ela, não com você.
— Para o seu azar. Por que o Regulus não quis manchar o sangue da família se casando com aquela lobisomem igual o irmão dele fez engravidando aquela sangue-ruim você decidiu que tinha que fazer isso?
Os gêmeos cerraram os punhos ao mesmo tempo que Karina, os três fechando a cara, assim como Harry.
— Não teremos essa conversa de novo.
— Claro, você nunca quer conversar.
— Não é como se essa fosse sua real intenção, Barty.
Barty riu, caminhando por trás de Evan.
— E também não é como se você não sentisse minha falta. — Ele abraçou Evan por trás.
— Barty…
— Que mal tem?
Barty disse algo no ouvido dele que eles não ouviram. Evan respirou fundo, como se reunisse grande força, e então se afastou, e Barty bufou frustrado.
— Não me diga que tem outro monstrinho a caminho e agora você vai querer ser o marido exemplar.
— Não, não está. E meu filho não era um monstro, você sabe muito bem que ficamos muito mal quando ela o perdeu depois de uma lua cheia.
— Você deveria agradecer por isso.
— Agradecer?!
— Nem a necessidade de manter sua linhagem viva valerá a pena se o herdeiro for como a maldita mãe.
— Vai se foder, Crouch.
Os garotos imediatamente focaram em Barty com mais atenção, enfim encontrando as semelhanças com o velho Sr. Crouch que conheceram — o máximo que a distância permitia sua visão de enxergar naquela memória.
Barty pareceu ficar ainda mais irritado com a fala de Evan, e não era preciso pensar muito para entender que ele estava com ciúmes e de quem falavam.
E para Draco, foi uma grande surpresa descobrir que, aparentemente, um dos primos falecidos de sua mãe também foi tecnicamente seu tio. E não apenas isso, já teve algo no passado com Crouch.
Quantas coisas mais ele não sabia sobre sua família?
— Agora me chama de “Crouch”?
— Prefere Junior? — Evan arqueou a sobrancelha. — Que fique bem claro que não existe mais nada aqui, e qualquer mínima chance de existir acabou.
— Por que insiste em algo que não vale a pena?
— Por que você insiste? Eu fiz o que eu precisava fazer pela minha família, não que você entenda o que é isso já que nem visita a sua mãe doente que dizia tanto adorar.
— E a sua irmãzinha bastarda, Rosier? Soube que ela está noiva! Vai ao casamento e levar sua loba de estimação?
— Não ouse…
— Ah… — Karina murmurou de repente e logo mordeu o lábio inferior com força.
A atenção dos garotos foi para ela. Ela tocou a barriga com uma expressão incômoda e dolorida e em seguida tentou apoiar-se em algum lugar, mas esbarrou na estante e derrubou alguns livros, causando um barulho.
Evan e Barty se calaram, e Karina mordeu o lábio com mais força.
— Quem está aí? — Evan perguntou.
— O que ela tem? — os gêmeos perguntaram em uníssono.
— Vocês dois — Draco respondeu. — Pela cara dela ou está com dor ou vocês estão se mexendo demais… Ou os dois. Uma ótima hora para isso.
Karina se escondeu atrás de outra estante. Ela apertou a varinha em sua mão, apenas aguardando. Os passos ao redor ecoavam pelo local, aumentando o clima de tensão.
Crouch passou pela estante, e ela não perdeu tempo.
— Petrificus totalus.
— Barty!
Karina tentou acertar o feitiço nele também, mas ele se defendeu rapidamente com um escudo, encarando-a surpreso.
— Como entrou aqui?!
— Sua máscara reserva foi bastante útil. Agradeça a Hadria por mim. — Ela sorriu de canto, um sorriso idêntico ao dos filhos. — Depulso!
Rosier se defendeu mais uma vez. Ela revirou os olhos e bufou.
— Foi um erro estar aqui.
— Você não tem muita moral para falar sobre erros, Rosier.
Karina então fechou a mão com força segurando a varinha e socou Evan com força, que estava surpreso demais para fazer algo, e também chutou sua perna, então resmungando de dor e segurando a barriga.
Ela saiu da biblioteca o mais rápido que conseguiu, seguindo por corredores. Foi possível ouvir Barty gritar que havia uma invasora, denunciando que Evan o despetrificou.
— Que merda você tem na cabeça?! — uma voz familiar ecoou quando Karina virou um corredor.
Arcturus se aproximava dela correndo.
— Uma descoberta fascinante, Reggie. Bom te ver também.
— Você tem que sair daqui.
— Ah, não me diga.
— O que você está fazendo aqui? Está quase dando a luz, Karina!
— Faltam alguns meses ainda, na verdade. Eu envio uma carta depois, mas agora preciso sair daqui com esse livro!
— Me dê o livro, eu te entrego depois. Vou te ajudar a sair daqui.
Karina afastou-se, apertando o livro contra si.
— Eu sei que minha confiança não é a maior no momento, mas…
— Mas nada.
— Karina!
Ela afastou-se e escondeu-se num corredor quando ouviram-se passos.
— O que houve? — Arcturus começou a falar com alguém.
Karina não permaneceu ali para que pudessem ouvir o que ele diria. Ela começou a caminhar pela casa, entrando em corredores para não ser vista. Em dado momento, ela precisou subir as escadas para fugir, e e acabou por entrar em um quarto.
Ela recostou-se na porta respirando rápido com a mão sobre a barriga.
— Essa foi uma péssima hora para você acordar… — murmurou e respirou fundo.
— Vocês quase entregaram a mãe de vocês, parabéns — Draco caçoou.
— Ah, cala a boca, Dragãozinho — Canopus retrucou.
Eles olharam ao redor do quarto. Era um cômodo grande e espaçoso de parede em tons claros, contrastando com o ar obscuro do restante da mansão.
— Esse aqui era o seu quarto quando era bebê, Malfoy? — Therion riu, observando os arredores. — Esperava mais verde.
— Não… Esse não era o meu quarto — Draco respondeu, sua voz tão baixa que era quase um sussurro, uma expressão sombria e melancólica em seu rosto.
Canopus franziu o cenho, pois havia um berço no quarto. Assim como Karina olhou em volta, ele também o fez. Era realmente um luxuoso quarto de um bebê, digno de um príncipe, ou uma princesa.
Malfoy comprimiu os lábios, os olhos muito agitados reparando nos detalhes do cômodo. Ele sentia um grande nó em sua garganta e abraçou o próprio corpo, abaixando a cabeça. Therion logo percebeu seu desconforto repentino.
— Não devíamos estar aqui. Ela não devia estar aqui.
— Sabemos que não, é uma reunião de Comensais! — Harry exclamou.
— Ela tem que sair daqui.
— O que tem demais num quarto de bebê, Malfoy? Um ursinho de pelúcia das trevas?
— Isso não é hora para suas gracinhas, Potter — Draco resmungou impaciente.
— Você que está fazendo drama por vermos o seu quarto.
Draco olhou ao redor e seus olhos pararam em Canopus, que estava ao lado de uma cômoda. Ele o encarou, apontando para uma manta dobrada sobre a cômoda, um manto verde claro com letras prateadas bordadas formando um nome.
— Quem é Polaris? — perguntou.
— Hã? — Therion franziu o cenho.
— Está bordado na manta. Polaris Malfoy.
Draco fechou os olhos com força e respirou fundo, lembrando-se de como sua mãe chorava sempre que chegava determinada época do ano, sempre que entrava naquele quarto.
— Era a minha irmã.
— Você tem uma irmã?! — os gêmeos e Harry indagaram ao mesmo tempo, surpresos.
— Eu tinha uma irmã — corrigiu. — Ela faleceu poucos dias depois de nascer. Foi o último que minha mãe perdeu antes… Antes de mim.
Um silêncio quase ensurdecedor se instalou, todos em choque com a informação.
Os gêmeos conviviam com Draco desde o primeiro ano no dormitório, mas ele nunca fez nenhuma menção ao fato de ter tido uma irmã. Os olhos dele pareciam tristes ao encarar o cômodo, como se sentisse a perda, embora nunca tivesse conhecido ela.
Na memória, Karina começou a se aproximar do berço vazio.
Foi quando eles perceberam que havia uma porta aberta no quarto que levava a um banheiro.
— Depulso!
Karina abaixou-se para tentar evitar o feitiço, mas ainda caiu no chão.
Narcisa Malfoy apareceu no cômodo, bastante diferente da última vez que qualquer um dos três garotos a viu.
Os cabelos loiros sempre bem penteados estavam um caos, completamente bagunçados presos de mal jeito. Um manto cobria seus ombros, o vestido preto completamente amassado. A expressão prepotente dava lugar a um misto de dor e fúria, as olheiras fundas e os olhos vermelhos de quem não parava de chorar há semanas.
Draco nunca havia visto sua mãe daquele jeito, tão mal, tão desolada. Ela sempre se mostrava graciosa e elegante, nem mesmo quando chegava o aniversário da morte de sua irmã. Sempre com os cabelos bem penteados e a maquiagem feita. Sempre perfeita.
Perfeita uma Black deveria ser. Como uma Rosier deveria ser. Como um Malfoy deve ser.
Como Draco deve ser.
— Como ousa invadir o quarto da minha filha? — A voz de Narcisa estava falha, seca, embargada.
— Narcisa…
— Expelliarmus. — A varinha de Karina voou para longe de sua mão. — Estupefa…
Mesmo sem a varinha em mãos ou dizer uma única palavra, um escudo se formou ao redor de Karina, repelindo o feitiço. Narcisa arregalou os olhos, tão surpresa quanto Draco esteve quando viu Canopus lançar um feitiço sem varinha.
Os garotos encararam em completo silêncio a cena. Karina sentou-se no chão resmungando de dor, o escudo a protegendo, os olhos arregalados de susto.
— Como você…?
— Me deixe ir, por favor.
— Você é uma garota muito tola de me pedir isso — disse Narcisa, a surpresa indo embora. — LUCIUS!
— Não! Eu… Ah…
Karina fechou os olhos com força, e Narcisa pareceu analisá-la enquanto segurava a barriga e tentava ficar de pé. Ela não voltou a chamar por Lucius, apenas observando.
— Então é verdade… Você está grávida.
— Como você.
— Eu tive minha filha, e ela morreu. E você invadiu o quarto dela. — Narcisa ainda apontava a varinha.
Karina estava já de pé. Os olhos cor de mel encararam os de Narcisa, sem esboçar nenhum tipo de raiva ou determinação, apenas calmaria, uma tranquilidade que não se esperaria num momento como esse.
Ela inclinou levemente a cabeça, e Draco reconheceu aquele olhar. O mesmo olhar de Canopus quando sua mente estava trabalhando para conseguir o que queria.
— Sinto muito por isso… E sei que deve estar sendo difícil.
— Você não sabe de nada.
— Eu com certeza não suportaria perder o meu filho… E é o que vai acontecer se não me deixar sair.
— Você quem invadiu.
— Algumas coisas fugiram um pouco do planejado. — Ela deu de ombros. — Eu sei bem que estamos em lados diferentes nessa guerra e não vou conseguir te fazer mudar de ideia sobre o que pensa de pessoas como eu em uma noite… Mas você entende o que é fazer de tudo para que seu filho fique bem.
Narcisa ficou alguns instantes em silêncio. Seus olhos inundaram de lágrimas, mas ela não deixou nenhuma cair, mantendo sua postura.
— Você provavelmente deve estar muito enjoada agora, por isso estava no banheiro. Gostaria de ter sido avisada com bruxas são sensíveis a enjôos desde cedo — Karina disse. Narcisa apoiou-se no berço. — Você faria de tudo para que esse fique bem.
— Acho que nós dois não somos os únicos também presentes nessa memória, Canis — Therion comentou com o irmão, olhando para Narcisa.
— Como assim? — Harry perguntou.
— Minha mãe já estava grávida de mim quando isso aconteceu — Draco quem respondeu. — Acho que ela só não sabia ainda...
Karina deu um passo a frente.
— Eu não vou lutar com você, Narcisa. Realmente sinto por sua filha… Essa é uma dor que posso apenas imaginar agora que… Bom… — Ela indicou a própria barriga. — Enfrentarei seu marido algum dia, provavelmente. Mas não com nossos filhos presentes.
Narcisa continuou calada.
— Foi um erro estar aqui, você está certa, totalmente certa — Karina continuou a falar. — Por favor… Depois, ainda teremos uma guerra inteira pela frente. Hoje… Só me deixe ir. Por eles.
O silêncio no ambiente foi desconfortável. Narcisa levou a mão a própria barriga, ainda sem qualquer volume aparentemente, pensativa.
— Não direi nada — disse, por fim. — Mas… Se eles te pegarem, se você ousar voltar aqui… Está por sua conta.
— Obrigada… De verdade.
Karina pegou sua varinha de volta e foi até a porta. Narcisa não olhou para ela, apenas encarando o berço vazio. Ela observou parada por alguns instantes, um olhar triste em seu rosto.
Então, saiu do quarto, respirando fundo mais uma vez, aliviada. Ela seguiu por outro corredor.
— Karina! — Hadria aproximou-se vindo de outro corredor.
— Hadria!
— Você é maluca! Completamente sem noção, sua idiota, você…
— Okay, okay, eu sei. Essa ideia parecia bem melhor antes de ser pega. Mas preciso da sua ajuda para sair daqui e poder aparatar.
— Se só queria um livro, podia ter me pedido. Era mais prático.
— Não temos tempo para discutir, preciso ir para casa.
— Tudo bem… Venha.
Hadria segurou a mão dela e começou a guiá-la entre os corredores. A mansão era realmente grande, quase um labirinto que facilmente quem não conhecia poderia se perder.
Draco conhecia cada um daqueles corredores e os pontos que usaram para se esconder quando alguém se aproximava.
— Regulus!
— Graças a Merlin — ele suspirou aliviado ao vê-las.
— Você precisa levar Karina para casa. Ela não pode aparatar sozinha nesse estado.
— Com certeza não.
— É o seu sobrinho que está aqui dentro, lembra? — ela falou apontando para a barriga de Karina.
— E ele está adorando essa confusão e não para de chutar — Karina murmurou. — Chutando demais um só.
— Sirius vai estar lá, então, não. Tire ela daqui antes que o Lorde a encontre.
— Reggie…
— Não, Karina. Me desculpe, mas… Não. Eu não vou falar nada sobre ver vocês, mas saiam agora.
Karina e Hadria bufaram.
— Crie uma distração. Eu vou tirar ela daqui.
Hadria voltou a puxar Karina pela mansão, enquanto Radcliffe olhava para trás por onde deixaram Arcturus.
— Evan! — Hadria começou a chamar. — Evan!
— Hadria, eles vão nos achar!
— EVAN!
Elas encontraram o homem que estava na biblioteca a pouco. Seu queixo e seu nariz estavam sujos de sangue pelo soco que recebeu.
— Aquela sua maldita amiga sangue-ruim está aqui, isso não é hora para… — Ele pareceu enfim perceber Karina ali. — Não.
— Sim.
— Não. Vamos entregá-la ao lorde.
— Ela está grávida!
— Então não deveria ter vindo. Não vamos nos meter em problemas. Você roubou minhas roupas e minha máscara pra ela! Se alguém descobrir…
— Não será você que vai contar, não é?
Evan se calou.
— Me ajude a tirar ela daqui.
Evan olhou para as duas, pensativo, a feição séria.
— Evan, por favor…
— Você ainda matará nós dois, querida.
Hadria pareceu satisfeita com a resposta. Evan começou a seguir pela frente, enquanto elas seguiam atrás discretamente.
— Ela está lá em cima! Vou avisar ao Lucius para ativar mais barreiras de proteção no andar superior, vão! — ele disse quando passaram por comensais, enquanto elas ficaram escondidas atrás de uma porta.
Depois disso eles seguiram pela sala de jantar no andar inferior. Hadria tropeçou e apoiou-se na mesa de repente.
— Estou bem, só… Essa correria está me deixando tonta.
Eles ouviram um estrondo em outro lugar da casa. Elas se esconderam quando outros Comensais passaram correndo por perto antes de seguir até chegar a sala de recepção onde todos estavam antes, e dessa vez, Karina parou.
— Karina, estamos quase, vamos!
— Eu preciso fazer uma coisa.
— Radcliffe, não podemos perder tempo.
— O seu lorde precisa de um recado — ela disse.
Karina aproximou-se de uma parede e arrastou todos os móveis antigos e caros para longe com um feitiço. Ela começou a agitar sua varinha e palavras começaram a surgir.
— Radcliffe, o que pensa que está fazendo?! — Evan exclamou.
— Você sabia que o seu tão amado lorde é mestiço, Evan?
— O-o… O quê?!
— Esse é só um dos muitos segredos dele, e eu só estou aqui para poder provar a ele que não poderá escondê-los por muito tempo. Pode dizer para procurar qual livro exatamente eu peguei.
Os garotos olharam para a parede para ler as palavras gravadas em um vermelho ardente como fogo.
EU SEI O SEU SEGREDO
— Agora podemos ir.
— Você é realmente maluca — Evan balançou a cabeça negativamente.
Eles correram até a entrada, e Hadria abriu a porta, que estava trancada com um feitiço. Assim que colocaram o pé para fora, ouviram alguém gritar.
— EVAN!
Ao olhar para trás, viram que era Crouch.
— Barty…
Karina apertou o braço de Evan, uma expressão séria em seu rosto. Rosier engoliu em seco e olhou para trás com pesar e depois para Hadria.
— QUE PORRA VOCÊ ESTÁ…?
Eles aparataram.
E então, estavam na conhecida sala de estar da casa em Rowen's Valley. Ela estava exatamente do mesmo jeito.
— Porra… Isso aqui foi uma baita confusão — Harry comentou.
— Agora sei porque tem aquele papel de parede horrível na sala de recepção — Draco murmurou.
Karina jogou-se no sofá, respirando ofegante, enquanto Hadria cambaleava até o piano e apoiava-se nele.
— Essa foi a última vez que faço alguma coisa por você, Radcliffe! — Evan exclamou, também ofegante, muito mais do que elas. — E o que quer que você tenha roubado, devolva agora.
Karina tocou no livro com sua varinha, e ele desapareceu.
— Boa sorte procurando para onde enviei.
Evan bufou e levou as mãos aos cabelos loiros. Ele então tirou sua capa, respirando fundo, levando a mão ao pescoço.
— Isso… Isso foi loucura. O lorde vai nos matar, o meu pai com certeza vai me deserdar se souber, nós estamos… — Ele respirou fundo mais uma vez, buscando ar com dificuldade.
— Respire, Rosier.
— Evan… — Hadria murmurou, e ele ergueu a mão.
— Eu estou bem. — Respirou fundo mais uma vez e apontou a própria varinha para o peito enquanto virava-se de costas e começava a caminhar pelo cômodo.
Ele murmurou algo que os garotos não conseguiram ouvir, mas Draco imaginava o que seria.
— Nós teremos uma séria conversa quando formos para casa, Hadria.
— Tudo bem, eu só… — Ela fez uma pausa, tocando a barriga e a boca. — Karina, eu…
— Primeira porta. — Apontou o corredor.
Hadria correu para o corredor. Karina olhou para Evan.
— E não é que Crouch estava certo? — ela sorriu de canto.
Aquele sorriso tão igual ao dos filhos quando sabiam o que diziam. Harry e Draco perceberam a semelhança no mesmo instante.
Evan paralisou onde estava, em choque.
— Tenha cuidado dessa vez.
— Cuidado? Eu não posso impedir ela de se transformar!
— Pode deixar ela longe deles.
— De quem?
— De quem não quer que o tão esperado próximo herdeiro Rosier venha.
Evan comprimiu os lábios e olhou na direção que Hadria foi, então suspirando e seguindo até uma poltrona.
— O que quer que você tenha visto na biblioteca…
— Isso não importa, Rosier. Só… Não continue estragando tudo. Ela não merece isso.
Evan abaixou a cabeça.
— E não estou falando só do Crouch.
Evan ergueu a cabeça outra vez, confuso.
— Do que está falando?
— Você sabe, Rosier — Karina inclinou levemente a cabeça.
Ele encarou-a por um tempo, o silêncio crescente.
— Agora… O que você vai fazer?
— Como você sempre sabe de tudo?
— Eu também tenho meus segredos. — Ela deu uma piscadela. Evan riu.
— Até compreensível Sirius insistir tanto, Radcliffe.
— Está me cantando, Rosier? — ela arqueou a sobrancelha.
— Apenas constatando uma compreensão. Você não faz o meu tipo, e eu tenho uma esposa, e aparentemente um filho a caminho para cuidar.
— Cuide bem deles enquanto pode.
— “Enquanto”?
— Nunca se sabe o dia de amanhã nessa guerra. Isso ainda irá te matar.
Evan pareceu afetado pelas palavras, pensativo. Hadria retornou, caminhando lentamente. Karina sorriu fraco.
— Vocês lembram que eu tenho uma audição bem apurada, não lembram?
Karina riu.
— Vamos para casa. Eu digo que você saiu no meio da confusão por estar se sentindo mal — Evan disse calmamente e segurou os ombros de Hadria com cuidado. — E ir ao St. Mungus amanhã… Por garantia.
Eles ouviram vozes alteradas vindo da entrada.
— Sirius, Remus, James e Lily — Hadria disse.
— Obrigado — Karina agradeceu a eles mais uma vez.
— Sempre. — Ela murmurou e sorriu fraco.
— Pense no que disse, Evan.
— Pensarei.
— E não peço perdão pelo soco, você mereceu.
Evan riu.
— Até o próximo duelo, Radcliffe.
Eles aparataram, e então a porta foi aberta e um Sirius alterado entrou arrastado por Remus.
— Eu não quero descansar, Moony! Nós precisamos continuar procurando ela, ela não vai simplesmente aparecer aqui de vol…
— Karina! — James exclamou.
Os olhos de Harry imediatamente brilharam ao ver os pais, imediatamente se movendo para observá-los mais de perto enquanto todos iam para cima de Karina.
— Nós estávamos te procurando a noite toda! — Lily disse sentando-se ao lado dela.
— Você quer me matar de preocupação onde você estava?! — Sirius exclamou indo até ela e segurando seu rosto.
— Uma pequena missão. Nós fizemos um ótimo trabalho, está até rolando uma bela festa aqui dentro — Karina disse com tranquilidade.
Os gêmeos observaram o jovem Sirius suspirar de alívio e tocar a barriga dela, então deixando um beijo ali.
— Sua mãe ainda vai me matar do coração.
— Sirius, não exagere. Você não deveria estar ajudando o James?
— Estava, mas você resolveu desaparecer! Eu não posso mais te deixar sozinha! Missão? Que porra de missão, Karina?! Você está afastada! Merlin! E se algo tivesse acontecido? Você não pode sair assim e…
Sirius tagarelava, e os gêmeos encararam pensativos. Ele olhava totalmente preocupado e carinhoso para Karina, não tirando a mão de seu rosto ou de sua barriga.
— Você nos deu um baita susto! — Remus exclamou.
— Eu pensei que o Sirius ia infartar! — James riu. — Ainda quero conhecer meu afilhado e não quero ver meu melhor amigo morrer de preocupação, então que tal não sair mais desse jeito? Eu acabei de sair do St. Mungus, não podemos preocupar os dois de uma vez, ele é sensível!
— Prongs!
— Ele não mentiu — Lily disse. — Sirius só faltou colocar os aurores atrás de você.
— Vocês estão bem? — Sirius perguntou preocupado.
— Estamos… Mas acho que uma passadinha no hospital não fará mal. Essa agitação está bem incomum… Au!
— Vamos agora! Remmy, você vem?
— Se eu não for, você vai assustar os medibruxos ou a Karina vai te lançar uma maldição por não deixar ela em paz.
— Ou os dois — James completou. — A segunda opção é ainda mais provável.
— Calado, Potter. Eu ainda posso te desqualificar como padrinho, a decisão não é só do Sirius. Só preciso de mais uma semana para convencer o Remus a aceitar.
— Não teremos essa conversa de novo — Remus disse.
— Sem conversa, temos que ir.
Sirius pegou Karina no colo, e ela resmungou surpresa.
— Sirius!
— A sua saúde e a do nosso bebê primeiro, ma belle. Depois conversamos sobre o que você andou aprontando.
E então os garotos então estava de volta a comunal da Sonserina, os quatro em completo silêncio absorvendo o que acabaram de presenciar.
Não sabiam muito bem o que dizer, pensar ou sentir.
Harry ainda pensava principalmente sobre a última parte, quando mesmo por um curto período ele viu seus pais. Ele viu seu pai, ele viu sua mãe.
Ela era tão linda.
E viu mais de sua madrinha e conseguiu perceber ainda mais semelhanças entre ela e os amigos. Ela com certeza adorariam que falasse sobre isso.
Draco pensava em muitas coisas. Evan e Barty, sua mãe deixando a mãe dos Black ir, sua tia desconhecida ter sido casada com um Rosier, eles ajudando Karina a fugir… Fora como ela conseguiu invadir sua casa e provocar todo aquele caos.
Ela manipulou sua mãe para conseguir ir. Era claro que ela usou do fato de Narcisa ter acabado de perder um bebê e estar à espera de outro para sensibilizá-la sobre os seus.
Um pouco cruel? Sim. Genial? Também.
E Draco percebe que a perda de sua irmã deve afetar sua mãe muito mais do que ela mostrava. Ela devia estar realmente muito mal para tudo seguir como seguiu.
Os gêmeos… Estavam ainda mais impressionados com tudo o que a mãe fez, ao mesmo tempo que pensavam em toda a reação de Sirius ao vê-la e o cuidado com ela. E agora possuíam ainda mais perguntas.
— Isso foi… — Draco murmurou.
— Intenso — Harry completou.
— O que mais tem sobre a Hadria aí?
— Calma aí, Malfoy. Isso aqui não é sobre você e seus segredos de família.
— Mas envolve!
— Bom, agradeço a seus tios. Graças a eles estamos aqui vivos e isso é tudo — Canopus falou. — Céus! Evan Rosier era seu tio. Cada dia a família fica pior.
— Você acabou de dizer que agradece por ele ter salvo sua mãe!
— Ele ainda era um Comensal da Morte e aparentemente um péssimo marido também.
— Espero que o livro que sua mãe roubou esteja na sua casa, porque agora quero de volta!
— Sonhe com isso, Malfoy — Therion rebateu.
— Ninguém mandou ter uma segurança fraca — Harry completou.
— Essa memória foi bem maior que a última. Será que foi intencional? — Canis voltou-se para o irmão.
— Talvez. Queria poder ver logo todas de uma vez.
— Nós roubamos aqueles livros e vocês ainda não entenderam como funciona?
— Sabemos como entrar… Só não conseguimos achar fácil as páginas que pode fazer isso. E você não tem que cobrar nada, Malfoy. Estamos te fazendo um favor te deixando ver.
— E contente-se em usar suas novas informações para descobrir o resto, porque quando formos embora, você não poderá ver mais nada — Canis concluiu. — Espero que seu primo tenha puxado a mãe e seja mais simpático.
Draco bufou e pegou o próprio diário e seu livro, decidindo voltar para o dormitório, sua mente ainda bastante confusa e caótica com tudo.
Canopus pegou o diário da mãe e analisou as páginas que contavam a memória que acabou de ver. Karina havia descrito ali que o feitiço usado para escrever aquilo na parede dos Malfoy foi criado por ela com base em outros feitiços de escrita que conhecia… E não teve preocupação em criar algo que apagasse.
Isso fez algumas engrenagens se moverem em sua mente.
— Therry, espero que esteja lendo minha mente mente agora.
Therion não estava, mas fez um esforço e logo um sorriso travesso surgiu por entre seus lábios.
— Que tal nossos nomes na entrada das outras Casas e no Salão Principal? Acho que na sala do Snape também será um ótimo lugar.
— Ótima ideia, Therry.
— Do que vocês estão falando? — Harry perguntou.
— Ideias para nosso último dia.
Canopus passou alguma páginas.
— Olha só! Foi nesse dia que descobriram que seriam gêmeos. Queria que ela tivesse colocado a memória aqui.
— Por que ela queria tanto aquele livro? — Harry indagou.
— Devia ter alguma informação importante. Vamos procurar em casa se formos apenas expulsos, teremos tempo de sobra.
— Parece que papai e Sirius não exageram quando dizem que ela fez de tudo até o último minuto na guerra.
— Com sorte, teremos bastante tempo para tentar saber mais depois da audiência.
— Saber aqui, porque não vou deixar vocês serem expulsos — Harry constatou com determinação.
— Vamos aproveitar nossos últimos dias mesmo assim, nunca se sabe — Therion disse. — Uma boa noite de sono vai nos ajudar a digerir tudo isso e amanhã conversamos sobre o que fazer.
— Eu já não sei o que é isso há um bom tempo, Therry.
— Não quero voltar para o dormitório agora.
— Você tem uma capa de invisibilidade, e eu tenho cortinas na minha cama, então você não precisa voltar agora. — Therion abraçou os ombros de Harry, que imediatamente sorriu e abraçou sua cintura de volta, beijando seu rosto.
— Ótimo, terei que aturar vocês dois juntos até a noite no meu dormitório agora.
Harry riu e afastou-se de Therion para pular por trás de Canopus, abraçando seus ombros.
— Vamos fazer companhia a sua insônia, Padfoot.
Canis riu, e logo Therion juntou-se a Potter abraçando os ombros do irmão e os três subiram as escadas juntos para o dormitório.
Harry não voltou para a Grifinória até o amanhecer.
Naquela manhã, Draco não falou com os gêmeos sobre a noite anterior, ainda pensativo, sentindo o medalhão pesar ainda mais no pescoço. Ao menos, para sua alegria, sua mãe enviou os doces e chocolates de sempre pelo correio, a caixa quase transbordando, e ele teria chocolates para comer o dia inteiro se quisesse.
— Por que seus pais te mandam tanto chocolate? — Canopus perguntou enquanto roubava um e dividia com o irmão.
— Porque eu gosto. Só não peço esse de volta porque tenho muitos hoje.
— Devíamos mandar alguns pro papai — Therion falou. — Amanhã é lua cheia.
— Espero que nesses planos não incluam os meus chocolates.
— Nós podemos enviar uma carta a Dedos de mel fazendo um pedido. Pode se empaturrar com os seus a vontade, Malfoy.
— Quer, Liah? — Canopus ofereceu o chocolate que roubou. A amiga aceitou.
— Hoje, vamos falar sobre uma nova ideia que tivemos — Therion disse para ela e mordeu seu pedaço de chocolate.
— Que ideia?
— O que acha de deixarmos nossa marca em Hogwarts?
***
Algumas coisas voltaram à normalidade nos dias que se seguiram, mas os gêmeos e Harry ainda cumpriam mais uma semana de detenção.
Na semana a mais que receberam, Arcturus quem passou a ficar responsável pelas detenções. Ele sempre lhes entregava algum livro e pedia que fizessem resumos, sem falar mais nada, apenas preparando um chá — ou café — para eles, enquanto trabalhava em sua mesa.
O tempo livre deles estava dividido entre conversar sobre detalhes da última memória que viram para tentar entender o motivo de toda aquela confusão, planejar o caos para a véspera da audiência e aproveitar o tempo que tinham.
Agora Merliah ajudava no planejamento para a grande despedida. Rony acabou entrando nos planos depois que a garota sugeriu conseguirem algumas coisas necessárias entre as criações dos gêmeos Weasley. Hermione se recusou a participar disso, mas ficava próxima deles durante algumas reuniões de planejamento.
Therion sempre ia verificar a poção Polissuco e estudava para preparar a poção para uma noite sem sonhos, Harry por perto na maioria das vezes. Na verdade, o garoto fazia questão de sempre levá-lo consigo. Quando não estava com o irmão e os amigos, ele estava com Harry e não permitia que ele se afastasse.
Quando ficavam sozinhos, era sempre na Casa dos Gritos, Torre de Astronomia ou algum lugar discreto. Queria aproveitar o tempo que ainda tinham.
Agora faltava apenas uma semana para a audiência, e seria mentira se Therion dissesse que não estava receoso, ao mesmo tempo que ele queria chegar lá e destruir aquela porcaria de Ministério. Um misto de medo e raiva. Aquilo só estava acontecendo porque eles queriam fazer de tudo para prender Sirius outra vez.
A cada dia que passava, Therion ficava cada vez mais sentindo aquele grande misto de emoções e isso estava deixando sua cabeça cada vez pior. As dores durante as aulas ficaram mais frequentes. E para piorar ainda mais, ele voltou a sonhar com sua mãe.
Não que isso fosse totalmente ruim… Mas também era doloroso ouvir a voz dela se despedindo dele. E agora acessando suas memórias, sentir-se ainda mais próximo do que jamais esteve dela, da lembrança e presença dela.
Ao menos, além do irmão, ainda tinha Harry por perto para consolá-lo ao acordar, seja quando dormiam na Torre de Astronomia nas noites em que não havia aula ou quando Potter ia para sua comunal com a capa de invisibilidade.
Nenhum de seus colegas de quarto diria algo. Draco, eles tinham aquele estranho acordo que ele fez com Canis para um não dedurar o outro e com informações da tia dele. Blaise e Theodore não se importavam, pois o problema não recairia sobre eles caso fosse descoberto, já que poderiam simplesmente dizer que não faziam ideia e usar os nomes e dinheiro de suas famílias se fosse preciso.
Harry sugeriu deixar Therion entrar na comunal da Grifinória com sua capa, mas Black se recusava estar no mesmo quarto que Finnigan por uma noite inteira.
Estavam agora no último dia de detenção, enfim. Na sala de Arcturus, fazendo um resumo de um enorme livro enquanto ele lia outro após terminar de corrigir atividades.
Stella também esteve por ali, mas ela foi embora logo dizendo que iria ficar com Luna Lovegood.
Quando o horário da detenção estava quase chegando ao fim, Arcturus fechou seu livro e levantou-se, começando a preparar um chá, como sempre. Ele deixou três xícaras dispostas à frente deles sobre a mesa e sentou-se junto a eles.
— Podem acabar por aí.
Harry não perdeu tempo e fechou seu livro imediatamente e enrolou o pergaminho. Os gêmeos fizeram o mesmo.
Therion logo bebeu um longo gole de chá, encarando o tio um pouco desconfiado, enquanto segurava a mão de Harry por baixo da mesa.
— Hoje foi o último dia. Espero que vocês se comportem essa semana.
— Não estamos precisando de conselhos agora — Therion quem respondeu.
Assim como irmão, ele também tinha agora um pé atrás com o tio. Não conseguia saber se ele era realmente confiável ou não, quais eram suas intenções. Sequer podia tentar ler a mente dele para descobrir.
Naquela última memória, ele pode não ter entregue sua mãe, mas também não a ajudou. Ela sequer confiou nele para segurar um simples livro. De que lado ele realmente estava? Se estava com eles, por que ser tão enigmático e nunca falar nada?
Não precisava saber toda a história de vida dele, apenas queria uma certeza de que estava com eles, de que não havia matado sua mãe realmente.
Certeza que talvez nunca chegaria.
— Vocês terão uma audiência essa semana. Arranjar mais problemas não vai ajudar.
— E não fazer nada também não terá muita diferença — Canopus falou. — Eles já nos condenaram. Não vão nos deixar livres sem que entreguemos Sirius.
— Sua advogada irá cuidar disso. Ela virá falar com vocês amanhã.
— Como sabe disso? — Harry questionou.
— Eu conheço ela, e eu mesmo conversei com Dumbledore. Ele permitiu que ela viesse encontrá-los aqui para conversar sobre a audiência.
— Agora quer ajudar, titio? — Canis falou num tom irônico e bebeu seu chá.
— Sempre estive disposto a ajudar, apesar de tudo. Vocês não merecem isso.
— Nós estivemos aqui a semana toda e você nunca diz nada — Therion falou.
— Não tenho muito o que dizer, estive cumprindo meu dever de professor.
— E estava cumprindo seu dever de Comensal da Morte quando matou nossa mãe? — Canopus falou rispidamente.
Arcturus se calou, respirando fundo.
— O silêncio também é uma resposta.
— Eu não sou mais um Comensal, e vocês precisam confiar em mim.
— Mostre que devemos — Therion rebateu.
— Therry, ele quer ajudar! — Harry falou. — Eu acredito nisso.
Arcturus sorriu fraco para Potter.
— Obrigado pela confiança, Harry. Eu sei que vocês não tem motivos para confiar em mim, mas eu não quero fazer mal a vocês. Sua advogada estará aqui na minha sala amanhã no horário que seria a detenção.
— Já que diz tanto que vai ajudar, vai na audiência também? — Canis perguntou.
— Não. Remus estará lá, e eu…
— Não quer que ele conte ao Sirius que você está aqui — Therion completou, uma expressão séria em seu rosto. — O que nos impede de falar quando a audiência terminar?
— Eu estou pedindo.
Os gêmeos encararam-no sem acreditar. Harry estava tão descrente quanto e não se conteve para falar, não ao pensar em como seu padrinho se sentia sobre ele.
— Por que tem tanto medo de que o Sirius saiba? Você está aqui em Hogwarts, está lecionando para vários alunos, em algum momento ele vai saber!
— Eu estar aqui não indica que todos saibam quem eu sou. E eu estou apenas sendo cauteloso.
— Está sendo covarde.
— Por que você voltou? Consciência pesada? — Therion indagou.
— Voltei para ajudar.
— Ajudar em quê?
Arcturus ficou em silêncio. A expressão neutra em seu rosto apenas deixou Therion e Canopus mais irritados, e o gêmeo mais novo estava com emoções demais dentro dele para conseguir ficar quieto perante isso.
— Eu te pedi ajuda, e você negou. Minha cabeça parece que vai explodir toda vez que entro numa aula que não seja apenas com a Sonserina porque todo mundo pensa que eu sou um criminoso! Não posso nem ir comprar uma simples cerveja amanteigada sem milhares de olhares me julgando! — esbravejou. — Ajudar? Ajudar como fez com minha mãe? Porque podemos ver como você ajudou muito mandando ela sair praticamente sozinha de uma casa cheia de Comensais enquanto estava grávida.
— Do que você está falando? — Arcturus franziu o cenho, pensativo, e então a surpresa passou por seu rosto. — Como vocês sabem sobre aquele dia?
Os garotos ficaram em silêncio.
— Como vocês sabem?
— Não importa como sabemos, mas nós temos cada vez menos motivos para confiar em você — Canopus falou. — Aliás, por que querer ajudar os frutos de quando seu irmão desonrou toda a família “manchando” o legado Black com uma nascida-trouxa? — Fez aspas com os dedos. — Você com certeza não deve ter gostado disso.
— Eu nunca me importei com isso! Karina era minha amiga!
— Você tinha um jeito peculiar de tratar os amigos.
— Canis, eu entendo você, mas dizer isso é uma hipocrisia do caralho — Harry resmungou para ele.
— Eu sei, Harry, mas esse não é o ponto aqui. E se você não está do nosso lado, pode avisar logo e sair.
Harry revirou os olhos, e olhou para Therion, que apertou sua mão. Buscava o senso dele que tanto se fazia presente em momentos como aquele, porém, daquela vez, ele parecia mais disposto a estar com o irmão.
Potter então soltou a mão do Black e suspirou, cruzando os braços. Therion sentiu um aperto no peito, surpreso.
— Eu não sei como sabem disso ou do que exatamente estão falando, mas eu… Eu realmente sinto muito por tudo que aconteceu com a Karina. E-eu… Eu não queria… — Arcturus tentou falar e atrapalhou-se com as palavras.
Ele uniu as mãos nervosamente e abaixou a cabeça, comprimindo os lábios. Os gêmeos apenas observaram, com a mesma expressão neutra que ele mostrava para eles boa parte do tempo.
— O que você quer, Arcturus? — perguntaram em uníssono.
Arcturus ergueu os olhos lentamente para eles, as mãos inquietas arrumando os cabelos, respirando fundo.
— Eu estou aqui para ajudar, mas não me façam encarar o Sirius agora. Estou fazendo o que posso. Acreditem em mim.
— Voltaremos amanhã para falar com a advogada — Therion falou firme. — Ela pode ajudar mais que você, se é que não está do seu lado também.
Therion levantou-se e saiu da sala, e Canopus fez o mesmo, seguindo o irmão. Harry ficou paralisado onde estava, olhando para a porta e então para Arcturus, sem saber o que fazer.
Ele acreditava que Arcturus só queria ajudar. Ele queria acreditar.
Arcturus fechou os olhos com força.
— Obrigado mais uma vez, Harry — ele murmurou. — Gostaria que seu pai também tivesse acreditado mais em mim também.
Quando ele abriu os olhos mais uma vez, Harry viu dor neles, embora ele sorrisse fraco.
— Acho que você se parece mais com sua mãe do que imagina.
Harry exibiu um fraco sorriso de volta, e então ficou de pé e saiu atrás dos amigos.
Os gêmeos se refugiaram na Casa dos Gritos, a Poção Polissuco incompleta para Sirius borbulhando no caldeirão enquanto estavam sentados lado a lado encolhidos contra uma parede. Eles se entreolharam, não precisando dizer muito.
Compartilhavam suas ideias, e Arcturus não escaparia delas na grande véspera. Ninguém escaparia.
Eles seriam lembrados, para o bem ou para o mal.
———————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
Voltamos! Esse capítulo era um grande capítulo de 20k de palavras (e ainda falta algumas coisas), mas decidi dividir em mais dois para não deixar vocês mais tempo sem att. A próxima virá nesse fim de semana!
Surtos de Stardragon, um pouquinho de Deerwolf (teremos mais deles no próximo)... O que acharam?
E mais uma memória da Karina! Por que será que ela quis tanto aquele livro? 👀
O que acharam de ver a nossa queridíssima aprontando com o Voldemort e os Comensais?
E mais uma revelação sobre a Hadria RSRSRS
Mais teorias?
Próximo capítulo, sem falta, teremos a grande despedida de Hogwarts dos gêmeos! Preparados?
Digam o que aguardam!
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋🏻
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