LIV. Really not good
A cada dia que se passava em Hogwarts significava para os gêmeos Black a quase certa possibilidade de nunca mais pisar no castelo, e eles queriam aproveitar esses últimos dias.
Contudo, sendo odiados por todos e sem quadribol, não restavam muitas opções além de passar um tempo com os amigos ou estudando.
O domingo inteiro eles reservaram para ler os livros que pegaram na biblioteca.
Pela manhã chegaram as cartas de Sirius e Remus por suas corujas no caminho até o Salgueiro Lutador para irem à Casa dos Gritos. Harry recebeu a sua após sair da cozinha com o café da manhã para si e os amigos, com Edwiges pousando em sua cabeça e começando a bicá-lo antes de seguir para o corujal.
Quando chegou a Casa dos Gritos, encontrou Therion preparando a poção polissuco, enquanto Canopus lia um dos livros que roubaram.
— Eu recebi uma carta do Sirius — Harry revelou erguendo a sua carta.
— Ele e papai também escreveram pra nós e disseram expressamente pra não falarmos do diário pra mais ninguém — Therion disse, deixando a poção de lado para comer.
— Nem mesmo Liah, Rony e Mione?
— Por mais que confie neles, talvez devêssemos seguir o que pediram — Canis falou.
— Pelo menos, por enquanto — Therion completou.
— Ainda bem que eles não quiseram vir, então. Rony e Liah estão ajudando Fred e George com coisas da loja deles.
— Liah tá estranha. Nem vimos ela direito nesses dias. Quando olho no Mapa estava sempre com os Weasley ou a Hermione, até com as colegas de quarto chatas dela.
— Vamos falar com ela depois — Canopus sugeriu. — Voltando às cartas, papai disse que não sabia muito mais, apenas que mamãe leu muito sobre memórias durante a gravidez. Sirius falou basicamente o mesmo que Malfoy. Magia antiga, poderosa, etcetera…
— Alguma coisa com os livros?
— Poderia ser melhor.
— Mas achei algumas coisas bastante úteis também — Therion falou e abriu um dos livros. — Numa penseira, geralmente se coloca apenas uma memória para visualizar e se colocamos mais de uma elas são vistas todas em sequência, mas em objetos tem uma particularidade… Na maioria dos casos, é preciso intenção de ver o que está ali.
— Eu tenho muita intenção de ver tudo, mas isso não parece muito claro.
— Quando se tem muitas memórias, pode ser mais complicado ver mais de uma sequencialmente como uma penseira a depender de como o bruxo realizou o encantamento. É realmente complexo de entender como funciona.
— Eu descobri que alguns retratos de bruxos muito específicos podem também ter memórias deles em vida guardadas para melhor impressão… Talvez tenha muito também sobre o que ela gostaria de mostrar, talvez? É diferente, mas… Realmente não sei!
— Teremos um longo mês pela frente — Harry suspirou.
Eles passaram boa parte de seu dia ali. Lendo o exemplar de Segredos das Magias da Mente, Therion acabou descobrindo também muito sobre a legilimência, que possuía alguns capítulos focados nisso e resolveu ler após passar pela parte de memórias.
A parte para legilimentes natos sobre controle não era muito extensa… Basicamente, exigiria um longo treinamento pessoal e controle de suas emoções. Ele não quis continuar depois disso, porque o controle emocional não era o forte dos Black.
Naquela noite, eles resolveram tentar jantar no Salão Principal. Os olhares de outras Casas estavam mais discretos que antes, porém ainda muitos voltados para eles. A mesa da Sonserina estava muito mais calma, e o gêmeo mais novo resolveu focar apenas nisso.
Os filhos de Comensais sabiam, obviamente, que a parte do ataque à Copa era uma grande mentira. Com a confissão clara deles sobre a audiência, não tinham muito o que duvidar, mas também não se importavam. Os de pensamentos mais supremacistas aprovaram o feito, os outros apenas torciam ou por sua condenação ou inocência, mas, de qualquer forma, não era da conta deles para ficarem pensando tanto.
Arcturus também estava na mesa dos Professores naquela noite, assim como Stella, na mesa da Corvinal. Os olhos dele sempre transitava entre a mesa da Corvinal e Sonserina. Naquela noite, os gêmeos resolveram ignorar completamente a existência do tio.
— Temos muita coisa para contar, Liah — Therion falou. A garota, até então, estava conversando com Astoria, que estava sentada entre ela e Draco e havia voltado-se para falar com ele.
— O que fez o dia todo com os Weasley?
— Oferecendo ideias. Por que quer saber?
— Só curiosidade. Não te vimos direito nos últimos dois dias — Canis respondeu.
— É sério, Canis?
— O quê? É só isso mesmo.
Ela revirou os olhos e suspirou, voltando a comer em silêncio.
— Está chateada com alguma coisa? — Therion perguntou.
— Não, imagina.
— Está sim.
— Não faça essa coisa de entrar na minha cabeça.
— Não é exatamente algo que já sei controlar, mas não foi preciso. Só… Sinto que tem algo errado.
— Reveja suas habilidades.
Ela voltou a conversar com Astoria.
Os gêmeos franziram o cenho e se entreolharam, confusos. Liah nunca havia sido tão fria assim com eles. Ela sempre adorava saber novidades que tinham para falar ou corria para contar a eles tudo que havia descoberto sobre outros alunos apenas passeando pelo castelo e ouvindo conversas por aí.
Definitivamente, algo não estava bem.
Ela não olhou para eles pelo resto da noite. Quando voltaram à Comunal, ela seguiu para o dormitório antes que pudessem ir falar com ela.
Retornaram ao dormitório e mais uma vez afundaram-se na leitura. Therion permitiu que o sono o vencesse durante a madrugada; Canopus, como sempre, escolheu continuar acordado, por mais exausto que estivesse.
Therion estava aprendendo a lidar com seus pesadelos. Canopus preferia fugir deles.
Canis abraçou Antares, que descansava contra seu peito, e levantou-se de sua cama, levando seu exemplar de um livro francês consigo depois de decidir pausar a leitura dos livros roubados antes que sua cabeça explodisse com tantos termos complexos sobre magias antigas.
Saiu do quarto e desceu para o salão comunal. Para sua surpresa, o local não estava vazio.
Ali estava Draco sobre o sofá ao lado de uma janela, com as pernas encolhidas e escrevendo em seu diário apoiado sobre elas.
Malfoy ergueu o rosto antes mesmo que chegasse muito perto, notando sua presença. Ele desviou o olhar e rapidamente secou o rosto, evidenciando suas lágrimas, antes de apertar as bordas do caderno e suspirar.
— Vai aderir ao hábito de leituras noturnas, então? — Canopus perguntou.
— Não é um hábito novo, faço isso há mais tempo do que imagina — Draco retrucou e fechou seu diário. — Leu algo útil naqueles livros?
— Muito cedo para dizer.
— Continue, então.
— De manhã. Agora vou para uma leitura mais divertida. — Sorriu de canto e colocou seus óculos no rosto.
Draco ficou de pé e abraçou o diário e o livro que levava consigo contra o peito, levantando-se para ir embora.
— Já abandonando esse hábito não tão novo?
— A comunal é toda sua. Como falei ontem, não queria ver você, seu irmão ou Potter até amanhã.
— Já é segunda, Dragãozinho. Passou da meia noite.
Draco respirou fundo.
— Tanto faz — murmurou e passou por Black em direção às escadas.
— Não está fugindo por causa da biblioteca está? — Canopus virou-se e viu Malfoy seguindo para a escada.
— Por roubar alguns livros? Isso não foi nada, Black.
— Não é disso que estou falando.
— Então não faço ideia sobre o que seja.
Draco continuou a seguir até as escadas. Porém, ele parou no meio do caminho, por alguma razão, um passo vacilante para trás. Canopus não disse nada, apenas observou-o e aguardou que falasse, pois ele obviamente tinha algo a dizer.
Mas ele não disse. Seus ombros acompanharam o movimento de um longo suspiro e ele correu de volta para o quarto.
Black franziu o cenho, confuso. Ele respirou fundo e balançou a cabeça, então seguindo até uma janela e sentando-se com seu livro.
Os próximos dias passaram surpreendentemente rápido até chegar ao dia da primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.
Os gêmeos estavam, de fato, ansiosos para a primeira aula de Moody. Estavam bastante curiosos, na verdade.
E não eram os únicos, claro. Muito se falava sobre as aulas do ex-auror pelos corredores. A multidão de alunos da Grifinória e da Sonserina já se reunia em frente a sala após o almoço naquela tarde de quinta-feira muito antes da chegada do professor, todos procurando os melhores lugares.
Harry e Therion sentaram-se juntos daquela vez, o que fez Canopus sentir-se profundamente traído. O gêmeo mais velho então procurou Merliah.
— Hey, Liah! — Ele foi até a mesa dela.
Ela olhou-o de cara fechada e colocou a mão sobre o lugar vago.
— Estou guardando para a Hermione.
— Ah, Liah, ela pode sentar com o Rony.
— Não.
Hermione chegou correndo na sala carregando vários livro, e Liah acenou para ela com um sorriso. Ela sentou-se rapidamente.
Canis bufou e voltou-se para Rony, vendo-o sentado ao lado de Neville. Derrotado, olhou para a carteira logo atrás do irmão, onde Draco estava. Observou o restante da sala, todos já acomodados em duplas.
Quando o viu se aproximar, Malfoy fechou os olhos e xingou baixo.
— Parece que não conseguimos fugir tanto quanto gostaríamos — Canopus jogou-se na cadeira vazia ao lado de Draco. — Você é um maldito traidor. — Deu tapa no ombro do irmão logo à frente.
Therion virou-se com um sorriso radiante junto de Harry.
— Essa aula vai ser emocionante.
— Tente ficar calado pelo menos uma vez, Malfoy. Esperei a semana toda por essa aula.
— Fique quieto, Potter. — Draco voltou-se para trás, onde Blaise e Theodore estavam. — Blaise, troca de lugar comigo.
— Estou bem aqui.
— Theo…
— Não, obrigado — Nott negou.
Draco ficou de pé e olhou para Pansy e Daphne mais atrás.
— Nem pensar — elas negaram.
Draco suspirou, derrotado, sentando-se novamente e enterrando o rosto em suas mãos.
— Vamos ter que nos aturar até o fim da aula, Dragãozinho.
— Cale a boca até lá, então, Black.
— Não é algo que você vai decidir, a menos que tente fazer algo mais uma vez.
— Black, apenas me deixe em paz ou vou te jogar no lago.
— Eu farei questão de te arrastar junto, Dragãozinho. Vamos virar lanchinho de lula gigante — provocou com um sorriso divertido.
— Eu sei nadar, você não.
Canopus bufou e cruzou os braços após pegar seu livro e colocá-lo sobre a mesa. Não demorou muito mais para o professor adentrar a sala anormalmente silenciosa, os passos ruidosos ecoando pelo local enquanto ele caminhava até sua mesa.
— Podem guardar esses livros, não precisarão deles.
Os alunos guardaram seus livros rapidamente, ansiosos. O professor abriu o longo pergaminho de chamada e começou a chamar cada aluno, mirando seu olho mágico em quem respondia.
Deixou o pergaminho sobre a mesa ao terminar e passou ambos os olhos por toda a sala antes de começar a falar.
— Certo, então. A pedido de Dumbledore, tenho uma carta enviada pelo Prof. Lupin sobre as turmas. Me parece que vocês receberam um ótimo ensino em especial para combater criaturas das trevas, correto?
Todos concordaram.
— Contudo, ainda lhes faltam muito aprendizado sobre maldições. Terei um ano para colocar todos vocês a par do que os bruxos podem fazer uns aos outros e como lidar com as artes das trevas.
— Um ano? O senhor não vai continuar aqui ano que vem?! — Rony perguntou surpreso e, até, indignado.
O professor voltou-se para o garoto.
— Você deve ser filho do Arthur Weasley, certo? — indagou Moody, e Rony confirmou. — Seu pai me livrou de grandes enrascadas recentemente. Sim, ficarei apenas um ano antes de retornar a paz de minha aposentadoria, um favor a Dumbledore.
Muitos alunos pareceram profundamente decepcionados.
— Então… Maldições. Para o Ministério, eu deveria ensiná-los apenas contramaldições, vocês não teriam idade para aprender sobre maldições graves ou ilegais até o sexto ano. Porém, eu acredito que quanto antes souberem o que irão enfrentar, melhor. Dumbledore concorda. Como poderão se defender de algo que nunca viram? Hoje começaremos com algumas muito especiais.
Moody agitou sua varinha em direção a lousa, onde surgiu escrita as palavras: Maldições Imperdoáveis.
Alguns alunos ficaram tensos, outros empolgados — em maioria da Sonserina —, outros neutros. Tanto os gêmeos quanto Draco estavam no grupo dos que não esboçaram grandes reações, enquanto Harry ficou levemente surpreso com o tema.
— As maldições possuem variadas formas e forças. As Maldições Imperdoáveis são as mais severamente punidas pelas leis da magia. Alguém saberia me dizer uma delas?
Vários braços foram erguidos hesitantes, dos gêmeos inclusos, embora sem hesitação alguma. Moody apontou para Rony.
— Maldição Imperius… Meu pai me falou dela.
— Sim, seu pai conhece bem esta. Ela deu um grande trabalho para o Ministério durante a guerra.
— O seu também conhece bem, não é, Malfoy? — Canopus sussurrou.
— E você vai conhecer se não calar a boca — Draco respondeu no mesmo tom.
Moody abriu uma gaveta da escrivaninha e tirou de lá um pote de vidro com três aranhas dentro. Rony estremeceu em seu lugar e encolheu-se, engolindo em seco.
O professor pegou uma das aranhas e segurou-a na palma da mão para todos verem. Apontou a varinha para ela e murmurou o feitiço.
— Imperio!
A aranha saltou da mão de Moody e começou a balançar para frente e para trás. Com as finas patas rígidas, começou a sapatear sobre a mesa e então deu uma cambalhota e alguns giros, encenando uma grande coreografia.
Isso arrancou várias risadas da classe.
— Engraçado, não? Gostariam que isso acontecesse com vocês? — Moody falou firme. — Este é o efeito da Maldição Imperius, controle total sobre qualquer ser vivo consciente. Poderia fazer essa aranha saltar diretamente da janela ou que algum um de vocês fosse se afogar no lago.
As risadas cessaram imediatamente.
— Essa maldição causou um grande caos no Ministério. Há alguns anos, durante a guerra, muitos bruxos foram controlados por ela, porém foi extremamente trabalhoso conseguir distinguir quem realmente foi controlado de quem agia por vontade própria e estava apenas fingindo — continuou a explicar. — Existe uma forma de se resistir a ela, mas exige muita força de vontade do bruxo, pouquíssimos conseguem de fato. Por isso, evitem ser amaldiçoados. VIGILÂNCIA CONSTANTE!
Ele apanhou a aranha e jogou de volta no frasco.
— Alguém conhece mais uma?
Vários levantaram a mão, mais uma vez, inclusive Draco, com uma expressão fechada em seu rosto. Moody apontou para ele.
— Cruciatus — respondeu e voltou seus olhos para Canopus.
Black percebeu o tom de provocação e desafio em sua voz. Sabia que ele certamente estava pensando no momento em que quase lançou essa maldição em Sirius meses atrás.
Canis cerrou os punhos e voltou a cruzar os braços. Malfoy pareceu satisfeito com a reação.
— Uma maldição tão cruel quanto atacar pelas costas, Senhor Malfoy. Alguns dizem a segunda pior entre as Imperdoáveis — Moody disse seriamente com os olhos focados em Draco, antes de voltar-se para a sala novamente. — Alguém saberia me dizer o que ela faz?
Entre os que ergueram a mão estava Neville, tímido e de ombros encolhidos.
— E-ela… Ela é a Maldição da Tortura — murmurou a resposta quando o professor apontou para ele. — Causa uma dor insuportável.
— Você é o Longbottom?
Neville confirmou com a cabeça, tímido e nervoso, mas o professor não fez mais perguntas. Moody pegou outra aranha.
— Precisarei de algo maior para demonstrar… Engorgio.
A aranha dobrou de tamanho. Rony se empurrou com a cadeira para trás, assustado.
— Crucio!
A visão não foi das melhores.
A aranha começou a se contorcer, agitando-se de um lado a outro. Os olhos de todos os alunos estavam fixos, uns especialmente assustados.
Harry engoliu em seco e olhou discretamente para trás, na direção do amigo. Lembrou-se imediatamente da Casa dos Gritos enquanto via a expressão neutra no rosto do Black e ao voltar os olhos novamente para a aranha não pôde se impedir de imaginar que aquilo aconteceria com Sirius se Remus não tivesse chegado a tempo para desarmar Canis.
Ele descobriu depois qual era o feitiço e o porquê ser tão grave, mas agora que via os efeitos com os próprios olhos, parecia diferente. Sentiu um aperto no peito.
Therion apertou a mão dele por baixo da mesa, seus dedos entrelaçados, na tentativa de tranquilizá-lo. Ele comprimiu os lábios e abaixou o olhar quando Harry o encarou, sabendo exatamente o que ele pensava.
Ao lado de Rony, Neville estava congelado com uma expressão de horror em seu rosto, apavorado. Os olhos dos gêmeos foram para ele, e eles perceberam seu estado. Eles sabiam o motivo, conheciam a história da família dele.
Remus lhes contou uma vez, quando eram crianças. Nas vezes que ficaram muito doentes e precisaram ir ao St. Mungus, ele sempre usou da oportunidade para visitar seus velhos amigos Alice e Frank Longbottom, internados permanentemente depois de serem torturados pela Maldição Cruciatus até perderem a sanidade. Ele evitava muito falar sobre eles quando mencionava sua época de escola, pois diferente de seus outros amigos, ainda estavam vivos, porém num estado que não conseguia suportar ver ou pensar.
— Pare! — Therion exclamou.
Enquanto ele olhava para Neville, conseguia sentir toda a sua dor e pavor com a cena.
— Por favor, para — pediu mais uma vez.
— Reducio. — Moody jogou a aranha de volta no frasco. — Dor. Não é preciso facas para causar dor quando se pode usar a Maldição Cruciatus.
A sala encontrava-se em um silêncio ensurdecedor.
— Quem pode me dizer a última Maldição Imperdoável?
Ninguém ousou levantar a mão naquele momento, exceto os gêmeos Black. Moody apontou para Therion, porém os dois responderam em uníssono:
— Maldição da Morte. Avada Kedavra.
Todos os olhares dos alunos voltaram para os gêmeos, muitos julgadores ou amedrontados. Therion logo apoiou a cabeça em sua mão livre, a outra ainda segurando a de Harry. Ele respirou fundo para concentrar-se apenas na aula.
Moody não tardou em pegar a última aranha. Não disse nada, apenas apontou a varinha.
— Avada Kedavra.
Um raio de luz verde atingiu a aranha, e ela caiu imediatamente, sem vida.
Harry encarou congelado, a luz esverdeada ainda piscando diante de seus olhos, a lembrança que tinha do dia da morte de seus pais passando várias e várias vezes em sua cabeça. Durante todos os últimos anos, aquela luz assombrou os pesadelos de Potter, desde muito antes de saber que era um bruxo e o significado dela.
— A última e a pior. Não há como repelir com qualquer feitiço. Morte instantânea, sem vestígios. Apenas uma pessoa na história sobreviveu a essa maldição e está aqui nesta sala.
Os olhos de todos agora estavam em Harry. Ele não disse nada, apenas continuou paralisado.
— É preciso uma magia poderosa para lançar a ela ou qualquer uma das outras duas. Vocês podem apontar suas varinhas para mim agora e dizer Avada Kedavra, duvido que sequer meu nariz sangre — Moody falou. — Além de magia poderosa, é preciso grande vontade e intenção. Tanto Avada Kedavra quanto Cruciatus, talvez até Imperius, não basta uma mínima vontade de usar o feitiço. Você precisa realmente querer ferir alguém para ter efeito. Por seu caráter cruel e falta de defesa, essas maldições são consideradas imperdoáveis. O uso de qualquer uma delas resultará numa ida direta para Azkaban.
A sala continuou em silêncio.
Therion olhou para o irmão atrás de si por alguns instantes, então novamente apoiando a cabeça sobre a mão. Respirou fundo.
— Vocês precisam conhecê-las, não vão querer encará-la. VIGILÂNCIA CONSTANTE! — vociferou Moody. — Agora, escrevam o que irei ditar sobre cada uma delas.
Todos pegaram suas penas e pergaminhos e começaram a escrever o que o professor dizia. Ninguém disse uma única palavra até o sino tocar indicando o fim da aula. Assim que se levantaram das cadeiras, os cochichos começaram, comentando a aula.
Therion afastou-se de Harry para correr atrás de Neville, que saiu encolhido da sala e de cabeça baixa. Potter o seguiu confuso ao lado de Rony, e Canis logo foi atrás também. Encontraram o garoto paralisado no meio do corredor, atordoado e com a mesma expressão de horror.
— Hey, Neville… — chamou cauteloso. — Você está bem?
— S-sim… Er… Aula interessante, não?
— Eu sei que não foi uma aula fácil — disse e então abaixou o tom de voz. — Os seus pais…
— Você sabe?! — Neville arregalou os olhos.
— Acho que você vai precisar de um chá antes da próxima aula, e eu também. Alguns minutos de atraso para se recompor não fará mal. — Sorriu fraco para ele. — Encontramos vocês depois.
— Therry…
— Nos encontramos depois do final da próxima aula, certo, Hazz?
— Ah… Tudo bem.
Therion afastou-se com Neville.
— Eu não entendi bem o que está acontecendo.
— É algo complicado sobre os pais do Neville — Canis disse. — Ele nunca falou deles, falou?
— Só sobre a avó — Rony disse.
— Bom… É complicado. Não deve ser algo que ele goste de comentar por aí, Therion vai conseguir conversar com ele e acalmá-lo. Vocês têm aula de quê agora?
Therion seguiu com Neville em direção a cozinha, ambos calados. Os dois adentraram o local e já foram bem recebidos por um dos elfos que já reconhecia o Black de tanto que já foi ali pegar comida, que preparou os dois chás rapidamente.
Longbottom observou tudo maravilhado, pois nunca havia entrado na cozinha de Hogwarts em todos os seus anos ali.
— Não existe nenhuma regra que nos impeça de vir buscar algo para comer, e os elfos não se incomodam, principalmente se for educado e gentil com eles.
Eles sentaram-se em dois bancos próximo aos alojamentos dos elfos com suas xícaras em mãos.
— Sobre a aula… — Black começou a falar.
— Como… Como você sabe sobre os meus pais? — Neville perguntou.
— Meu pai me contou — respondeu. Percebeu a surpresa do garoto e adiantou-se: — Meu pai Remus, não o Sirius. Ele já os visitou umas duas vezes, acho, quando levava meu irmão e eu para o St. Mungus. Também não gosta de comentar sobre eles, mas nos contou uma vez o que houve… Sinto muito por isso.
— Eu sempre visito eles com a vovó.
— Os vi só em uma das visitas. Imagino que deve ser difícil vê-los daquela forma.
— Eles nem se lembram de mim…
— Talvez, no fundo, ainda se lembrem, só… Estão confusos demais para demonstrar. A mente humana é realmente complexa, ainda mais quando envolve magia.
Neville bebeu um longo gole de chá e respirou fundo.
— Eu… Eu nunca falei disso com nenhum dos meus amigos.
— Nem sempre precisa, se não quiser. Nesse caso é algo delicado. Não precisa falar nada agora se não quiser. Podemos apenas relaxar um pouco.
Therion direcionou um sorriso leve para Longbottom antes de beber seu chá. Neville olhou-o curioso antes de retribuir timidamente o sorriso. Eles ficaram em silêncio por algum tempo.
— Aquela aranha… Foi aquilo que aconteceu com meus pais…
— É…
— Eu sabia que era a maldição da dor e tortura, mas acho que nunca poderia imaginar como era até ver.
— Também não gostei muito de ver — admitiu.
Therion sentiu uma grande aflição no momento. Sabia bem que não foi o único. Até mesmo Harry parecia bastante incomodado e tinha certeza que ele pensou na Casa dos Gritos, não apenas por sua habilidade. Ele também pensou.
E pensou em sua mãe. Seria ingenuidade pensar que não teriam muito provavelmente usado aquela maldição nos dois dias que ela esteve em cárcere até matarem ela.
— Os responsáveis estão em Azkaban, não estão?
— Estão, vovó me disse.
— Gostaria que os responsáveis pela morte da minha mãe também estivessem… — Suspirou. — Meu irmão, Harry e eu… Nós sabemos bem o que é ter a vida mudada por culpa de Comensais da Morte, de Voldemort. Se algum dia precisar conversar, nós estamos aqui. E Harry é seu colega de quarto, talvez seja mais fácil.
— Obrigado… De verdade.
— Não precisa agradecer. Meu pai diz que todos nós precisamos de alguém para conversar com um bom chocolate quente às vezes… Nesse caso, chá.
Eles não conversaram muito, mas era nítido o quanto fez bem a Neville. Ele estava visivelmente mais calmo e disse que se algum dia precisasse de alguma ajuda com Herbologia, poderia falar com ele também. Therion disse em resposta que o ajudaria com Poções na próxima aula.
Depois de terminarem seus chás, os dois saíram da cozinha e seguiram para suas respectivas aulas. Quando Black adentrou a sala de Transfiguração, levou uma grande bronca de Minerva pelo atraso e perdeu alguns pontos, mas ainda achava que valeu a pena e logo sentou-se ao lado do irmão.
A aula seguiu muito bem. Os gêmeos nunca tiveram grandes dificuldades com Transfiguração, na verdade, além de que estudaram bastante durante o processo de animagia. Conseguiram perfeitamente transformar um porco-espinho em uma almofada de alfinetes.
Canopus logo transfigurou seu porco-espinho de volta para brincar com o bichinho e acariciá-lo, com cuidado para não se ferir com os espinhos.
Encontraram Harry ao final da aula. Therion seguiu com ele para sua detenção, enquanto Canopus ia para a dele nas masmorras com Snape.
Quando Canis chegou à sala de Poções, como sempre, Draco já estava lá. Eles não se falaram muito nos últimos dias. Malfoy parecia estar evitando muito isso, na verdade, a maioria das palavras trocadas sendo se encontravam na comunal com seus livros, essas sendo apenas dele perguntando se teve algum avanço na pesquisa sobre o diário.
Apenas sobre isso. Os dois ficavam lendo juntos em silêncio, cada um com seu próprio livro e compartilhando apenas a presença um do outro.
Quando Canis dizia alguma provocação, Draco rebatia apenas pedindo que ficasse quieto. "Calado, Black"."Me deixe ler, Black". Quando tentava falar sobre a invasão à biblioteca, Draco fechava seu livro e ia embora. Durante o dia, ele passava a maior do tempo ou com Nott e Zabini ou com a Daphne Greengrass — às vezes a irmã dela e Parkinson junto.
Isso trazia uma pequena sensação de déjà vu sobre o ano anterior.
O que significava que Canopus não estava imaginando coisas sobre o quão perto estiveram de repetir aquele pequeno incidente da festa da Sonserina.
Mais uma vez, Black foi colocado para fazer várias coisas enquanto o trabalho de Draco era apenas ficar sentado escrevendo algo em um pergaminho. Malfoy sequer erguia o olhar.
No dia seguinte, durante a aula de História da magia, os gêmeos ficaram bem mais silenciosos, os olhos frios na direção do tio, que ministrava sua aula tranquilamente com empolgação e passou várias tarefas, assim como os outros professores.
Quando seguiam caminho para encontrar Harry e irem para a aula de Adivinhação, eles de repente foram parados pelos gêmeos Weasley perguntando por Merliah.
— Ela saiu antes de nós, já deve ter ido para a sala de adivinhação — Canis respondeu.
— Ela tem agido meio estranha com a gente, na verdade. Vocês sabem de alguma coisa? Ela tem passado mais tempo com vocês.
— Ela não comentou nada de estranho, só tem nos ajudado com umas coisas — disse George.
— Ela tem umas ideias bem legais. Acho que teremos que ser mais rápidos na próxima, George.
— Podem entregar isso a ela?
Os gêmeos Black assentiram, e Canis pegou o pacote que George entregou.
— É só uns doces que ela queria. Querem um chiclete também? — George estendeu a mão onde haviam duas gomas de mascar redondas.
— São ótimos. Ela adora.
Eles deram de ombros e pegaram, logo levando a boca.
— Até mais! — Therion disse e seguiram caminho.
— É meio grudento demais — Canopus comentou enquanto mastigava.
— Também achei e…
Therion não conseguiu falar mais, embolando as palavras. Logo não conseguia falar direito, muito menos Canopus, e eles pararam de caminhar ao ouvirem gargalhadas.
— O… Que…Ah! — Canopus tentou falar, mas logo começou a se engasgar.
Os Black se encararam e perceberam que suas línguas começaram a ficar muito inchadas e maiores do que eram. Eles olharam mortalmente para os gêmeos Weasley, que começaram a aproximar-se deles gargalhando.
— Exatos cinco segundos. Ação rápida! Incrível! — Fred comentou batendo em seu relógio com o indicador.
— Ideia da Liah, obviamente — George complementou.
— Nossa nova invenção. Chicletes Incha-Língua… Ainda estamos pensando em um nome legal.
Os Black tentaram xingar os garotos, mas não conseguiam falar mais que alguns resmungos desconexos e incompreensíveis. Nem mesmo fizer um feitiço seria seguro naquelas condições.
— E isso é para aprenderem a não falar merda para amigos que querem apenas te ajudar — George disse e pegou o pacote que entregou a Canis antes de volta.
— Obrigado por serem nossas cobaias!
Os gêmeos ruivos seguiram andando. Os Black os xingaram mentalmente dos piores possíveis enquanto tentavam falhamente abrir a boca e tirar a grande massa que se formava.
Quando encontraram Harry junto de Rony, ficaram muito confusos. Tentaram fazer sinais para explicar, sem sucesso. Então Therion pegou um pergaminho e escreveu.
Weasley começou a gargalhar, recebendo um olhar mortal dos Black em seguida. Potter comprimiu os lábios, contendo uma risada.
Therion arqueou a sobrancelha enquanto o encarava, e ele tentou muito não rir, porém não conseguiu.
— Desculpa, Therry… É que… — Harry riu. — É engraçado, vai!
Therion agarrou o irmão pela capa e começou a puxá-lo em direção a ala hospitalar, de cara fechada e sem olhar mais para Harry.
— Ei, esperem aí! Desculpa!
Os gêmeos olharam para trás apenas para erguerem o dedo do meio em sincronia e então continuar seu caminho. Eles foram até Madame Pomfrey, que teve a bondade de não rir.
Infelizmente, isso não os livrou da detenção, apesar de chegarem atrasados para ela. E para o azar de Canopus, Snape decidiu compensar seu atraso com um tempo a mais de trabalho.
— Te entendo, Tio James — murmurou para si.
Mais alto do que deveria. Ele ganhou uma hora a mais de detenção.
E com isso, lhe veio o pensamento de que daria muito orgulho ao seu padrinho infernizando o professor até que fosse enfim expulso ou preso em Azkaban.
Além de que ele revelou o segredo de seu pai para a escola inteira. Para os gêmeos, revidar era mais que justo.
— Me diga algo sobre aquele imbecil que você chama de padrinho e eu te mostro alguma página sobre sua tia no diário — Canopus ao aproximar-se de Draco sentado numa mesa da comunal fazendo suas tarefas.
— Não.
— Pensei que quisesse saber mais sobre ela.
— Já temos um acordo sobre isso. Eu te ajudei a descobrir mais sobre memórias, me deixar vê-las é a sua parte. Preciso terminar essas tarefas, então saia.
Canopus puxou a cadeira ao lado e sentou-se, enquanto Draco revirava os olhos e suspirava.
— Eu respondo sua tarefa de Adivinhação.
— Eu faço essa matéria há muito mais tempo que você, então com certeza não vou precisar da sua ajuda. Aliás, você nem estava na última aula.
— Trato das Criaturas Mágicas, então. Tenho muito o que falar sobre os explosivins.
— Por que você quer tanto saber algo sobre ele?
— Planos.
— Eu disse que não me envolveria mais em suas confusões, Black.
— Acho que é um pouco tarde para isso, Dragãozinho. — Canopus apoiou o cotovelo sobre a mesa e a cabeça em sua mão, com um sorriso ladino nos lábios.
— Não, não é.
Draco voltou sua atenção novamente para suas tarefas, evitando a todo custo olhar para o Black, mas percebeu que ele não foi embora e continuou ali o observando.
— Vamos lá, Dragãozinho. Vai me dizer que não achou a aventura na biblioteca divertida?
— Nós quase fomos pegos por culpa daquele poltergeist idiota.
— É, realmente quase fomos.
Um pequeno silêncio se seguiu.
Draco não precisou pensar muito para perceber que Canopus não se referiu exatamente sobre o roubo dos livros. Ele não ousou olhar para o Black, muito menos ao sentir o rosto queimando.
Sua mão acabou seguindo até o medalhão pendurado rente ao seu peito, as palavras do avô se repetindo em sua mente.
— Toda essa confusão foi um grande erro, mas você vai precisar cumprir a sua parte.
Draco reuniu seus pergaminhos e livros; porém, antes de se levantar, encarou o Black.
— E já vai fugir de novo, Dragãozinho? — Canopus indagou arqueando a sobrancelha, ainda com aquele maldito sorriso.
Draco levantou-se, então, seguiu em direção às escadas para o dormitório. Canopus também levantou-se e o seguiu. Ao perceber, Draco apressou o passo até o quarto.
— Pare de me seguir.
— O quarto para o qual você está indo também é o meu.
— O que você quer, Black? — perguntou voltando-se para ele quando adentraram o dormitório.
— Uma ajudinha a mais para aprontar algo não vai fazer diferença para você.
— Vai. Quer arriscar ficar de detenção? Faça sozinho.
Canopus suspirou, mas não foi embora. Ele aproximou-se da cama de Malfoy e escorou-se no dossel enquanto o outro guardava seus materiais.
— Tudo bem. Eu consigo pensar em algo.
— Ótimo, então saia.
— Ainda é o meu quarto.
Draco suspirou.
— Que tal você ir ler com seu irmão os livros que eu ajudei a roubar para cumprir o acordo?
— Que tal falarmos sobre como foi a fuga durante a invasão a biblioteca, Dragãozinho?
— Sobre como você flertou descaradamente com o monitor para escapar? — Malfoy cruzou os braços e encarou-o impaciente. — Não, obrigado.
— Sabe que não.
— Não tem como saber o que você quer dizer sem que diga, Black.
— E eu não vou falar com você sobre nada além do que acordamos. Só te ajudei porque ninguém mais vai dizer o que eu quero e nós dois sabemos bem que não aconteceria se nós dois não precisássemos de algo.
— Definitivamente, não.
— O que mais você quer, Black?!
— Que tal parar de fugir?
— Eu não estou fugindo de nada, apenas quero distância de você.
— Um pouco difícil de acreditar, Dragãozinho.
— Acredite no que quiser, Estre-... Black.
Draco respirou fundo ao perceber o próprio deslize e logo virou-de de costas para o Black. Porém, aquilo não passou desapercebido por Canopus, e um sorriso surgiu em seu rosto ao perceber.
Ele colocou-se a frente de Malfoy e apoiou-se a outra haste do dossel, uma das mãos em sua cintura enquanto sorria de canto.
— Acredito que está fugindo.
Draco comprimiu os lábios. Era como se o medalhão pesasse ainda mais em seu pescoço, a voz gritando em sua cabeça.
Ele não poderia fraquejar.
— Você quem está me seguindo, Black.
Black. De novo. Canopus suspirou.
— Eu já estou em problemas demais por sua causa — Draco disse, por fim, e dessa vez seguiu diretamente para o banheiro e trancou a porta.
Ele escorou-se a madeira e fechou os olhos com força, apertando o medalhão em sua mão enquanto sua respiração estava mais descompassada. Canopus olhou em direção a porta por longos minutos, sem sair do lugar.
***
A Casa dos Gritos tornou-se a nova central de planejamentos para o caos dos jovens novos Marotos. E eles estavam planejando muitas coisas.
Após verificar o andamento da preparação da Poção Polissuco, Therion usou o caldeirão do irmão para iniciar o preparo de outra poção. Em sua última detenção, Canopus roubou mais ingredientes para Therry utilizar em um de seus novos planos, enquanto Harry roubava alguns da estufa de Herbologia, com ajuda de Neville para reconhecer o que precisava, e ali estavam eles começando os preparos.
Aquele era um plano que estava principalmente baseado em Therion e sua mente brilhante para poções. Uma vingança contra seus adversários do caos, os gêmeos Weasley.
Eles quiseram brincar com balas mágicas? Então experimentariam o poder de um pocionista em ascenção.
E Therion também aproveitou o momento para ajudar Potter com a disciplina.
— Conhecer os ingredientes e suas propriedades é essencial para uma poção — disse. — Não apenas saber quais usar, mas sobre cada elemento em si e como usá-lo. Seguir o livro à risca é um bom caminho, mas alguns ingredientes possuem melhores formas de serem usados.
O garoto pegou uma sanguessuga e cortou com uma faca antes de jogar no pilão e espremer. Harry fez uma careta enojada.
— O corte ajuda a sair mais fluídos das sanguessugas para o suco — exemplificou.
Ele fez o mesmo com outras antes de jogá-las num outro recipiente com um pouco de água quente e esperar. Então utilizou um pano limpo para coar todo o líquido e jogar uma pitada dele no caldeirão.
— Amassar quase sempre funciona melhor com ingredientes que precisamos recolher fluidos.
— Vou tentar lembrar disso…
— Quanto melhor puder aproveitar ingredientes, melhor. E cada mínimo detalhe importa. Tudo bem ter um livro ao lado caso não tenha certeza dos passos. Um grau errado na temperatura, um movimento a mais ou a menos, pode ser catastrófico. As suas poções não saem perfeitas porque você sempre esquece de verificar algum detalhe.
— São muitas coisas para fazer!
— O estudo e a prática levam a perfeição. Vou te emprestar alguns dos meus livros que ganhei do papai.
Harry respirou fundo e assentiu. Apenas pensar nos inúmeros detalhes de cada poção lhe dava dor de cabeça, mas gostava de ver Therion explicar e como ele ficava entretido e se empolgava ao falar.
— Vai ter como reverter o efeito dessa poção aí, não vai?
— Claro que sim! Vou preparar o antídoto depois. Não posso fazer os dois ao mesmo tempo, essa poção precisa de extremo cuidado ou irá virar um veneno.
— Veneno?!
— Não se preocupe, Therry sabe o que faz — Canopus falou.
— Não confia em mim, Hazz?
— Sabe que confio, Lobinho.
Therion sorriu e beijou a bochecha de Potter.
No dia seguinte, Harry estava no pátio pela tarde desenhando em seu caderno enquanto comia um chocolate. Ele ergueu os olhos ao ver os gêmeos Weasley chegarem e sentarem-se juntos no mesmo lugar que ficavam todos os dias conversando.
Eles nunca perdiam a oportunidade de falar consigo, e daquela vez não foi diferente. Harry voltou a desenhar e não demorou a ouvir as vozes dos gêmeos ruivos.
— Hey, Harry! Sem nossos imitadores hoje? — Fred cumprimentou.
— Hey! — Harry cumprimentou de volta. — Eles pegaram mais uma detenção e estão cumprindo agora com Snape. A minha só começa mais tarde.
— Fazendo um lanche? — George perguntou.
— É. Remus enviou chocolates para nós hoje. Querem um? — Harry tirou uma barra do bolso.
Os gêmeos se entreolharam desconfiados e depois olharam para Harry.
— Não contem pra eles que estou oferecendo a vocês. Eles odeiam dividir os chocolates que ganham do Remus — Harry abaixou o tom de voz com um sorriso travesso e riu. — Eu peguei uns a mais sem que vissem para dividir com o Rony. Não dividem nem com a Liah.
— Oh, obrigado, Harry — George pegou a embalagem.
— Ei, Rony! — Harry acenou ao ver o amigo.
Rony foi até ele e sentou-se ao seu lado. Harry ofereceu outra barra de chocolate para ele, que aceitou e logo começou a devorar.
— E aí? Mostrando algumas novidades da loja para o Harry? — Rony perguntou aos irmãos.
— Ainda não, mas quem sabe um dia — Fred respondeu.
— Por que não falam do kit mata-aula? É uma ideia genial!
— Ainda está em desenvolvimento. Precisamos planejar melhor os efeitos… — George abriu o próprio chocolate e dividiu a barra ao meio, entregando uma metade para Fred e dando uma mordida. — Mas não ouse compartilhar sobre isso com ninguém.
— Eu sei guardar segredos muito bem.
Fred também deu uma mordida em seu chocolate.
— Um dia mostramos algumas coisas que temos em mente. Certo, George? — Olhou para o lado. — George?
— Tem alguma coisa nesse chocolate.
Antes que eles pudessem falar mais sobre isso, o efeito começou. Os dois garotos sempre muito altos começaram a diminuir de tamanho até não serem maiores que o bonequinho do Krum que Rony comprou na Copa Mundial.
Harry sorriu largo e pegou o minúsculo Fred pelo capuz, observando-o começar a se debater e xingá-lo, enquanto Rony fazia exatamente o mesmo com George.
— O QUE VOCÊS FIZERAM? ME SOLTEM! — Fred começou a gritar, mas sua voz estava mais baixa que o normal.
— Desculpe? Não consigo ouvir.
— Agora, eu sou maior que vocês dois — Rony se vangloriou com um largo sorriso.
— IRMÃO TRAIDOR! SEU… — George começou a xingar o irmão e também debater-se.
Os gêmeos Black então saíram de debaixo da capa da invisibilidade de Harry, revelando estarem ali o tempo inteiro. Eles começaram a gargalhar enquanto pegavam os minúsculos Weasley em suas mãos.
Harry e Rony acompanharam nas risadas, ambos os maiores cúmplices do plano. Eles sabiam que passaria mais confiança se vissem os dois comendo o mesmo doce.
— Devíamos ter imaginado. Foi tudo ideia de vocês! — Fred vociferou.
— Vocês dizem que são muito maiores que nós, mas… Acho que vocês ainda precisam crescer um pouquinho — Therion caçoou.
— Muito, na verdade — Canopus corrigiu. — Acharam mesmo que ficaríamos quietos?
— Nos tragam de volta ao tamanho normal, agora! — George exigiu.
— A ideia das balas foi realmente boa, de verdade. Mas, vocês podem ver… — Therion falou.
— Nós sabemos fazer pior.
— Vocês não perdem por esperar! — os gêmeos Weasley exclamaram em uníssono.
— Talvez não fiquemos em Hogwarts tempo o bastante para vocês fazerem algo, mas podemos fazer um acordo.
— Acordo? Foda-se acordo!
— Ver vocês desse tamanho já é uma boa vingança. Estamos quites agora.
— Agora que estamos quites, podemos nos unir para algo muito maior que estamos planejando e vocês podem ajudar.
— Por que ajudaríamos vocês? — George perguntou cruzando os braços. Era uma visão engraçada considerando seu tamanho atual.
Canis estendeu um pote de vidro, o mesmo onde guardou as mariposas durante o processo de animagia, e jogou George lá dentro. Therion fez o mesmo com Fred. Contudo, eles não tamparam o pote.
Os Weasley começaram a bater no vidro, ainda gritando e xingando os dois.
— Vocês vão ter muito tempo para refletir aí dentro. Não se preocupem, não vamos fechar com tampa — Theiron falou.
— Agora, que tal falar sobre algumas de suas invenções que seriam úteis para uma despedida de Hogwarts em grande estilo? Garanto que podemos pagar um ótimo preço por elas. — Canopus sorriu travesso.
Eles chegaram a um acordo para transformá-los de volta ao tamanho original. Porém, antes que pudessem cumprir sua parte e dar a poção que os faria voltar ao normal, foram pegos por McGonagall e receberam uma detenção.
Ela deu-lhes um grande sermão sobre o quão terrível foi o que fizeram, enquanto eles não esboçaram qualquer reação de arrependimento.
Os Weasley riram e caçoaram. Eles muito provavelmente não ajudariam mais os Black em sua grande despedida, mas logo mudaram de ideia quando ofereceram pagar o dobro do combinado anteriormente por novas invenções.
Para Canis e Therry, valeu a pena.
Quando chegou a aula de Poções dias depois, Therion ficou próximo de Neville para ajudá-lo. Mas a aula não seguiu seu curso habitual.
Todos estavam focados em preparar a poção descrita por Snape no quadro, o único som ecoando pela sala sendo dos caldeirões borbulhantes e de facas cortando raízes.
Então, de repente, Pirraça adentrou a sala e começou a jogar balões de tinta em Snape. Em seguida, o poltergeist começou a jogar os balões por toda a sala e derrubar caldeirões.
Os gêmeos e Harry eram os únicos que gargalhavam sem parar, escondidos debaixo da mesa para se proteger.
— Vocês tem alguma coisa a ver com isso, não tem?! — Draco indagou num tom irritado debaixo da mesa com uma mancha de tinta verde no uniforme.
— O que te faz pensar isso? — Canopus perguntou e riu.
Draco escapou por muito pouco de ser atingido mais uma vez e fugiu para debaixo da mesa onde Canopus estava, a única que não era alvo constante do poltergeist.
— Vocês são os únicos intactos.
— Somos bons em nos proteger. E você conhece o Pirraça, Dragãozinho, ele adora atrapalhar. — Sorriu de canto.
— Foi ideia sua.
Canis apenas deu de ombros e voltou a rir, e Draco revirou os olhos.
— Você é mesmo um idiota.
— Eu sou genial, Dragãozinho. Usar o Pirraça foi ideia minha. As tintas foram ideia do Harry.
Canis apontou para o amigo, que estava gargalhando na mesa logo a frente com Therion e Neville, que olhava tudo surpreso.
— Parece ansioso para passar os últimos dias em Hogwarts na detenção.
— Como você disse, meus últimos dias.
— Você quem irá limpar a bagunça mais tarde.
— Eu não vou fazer isso sozinho. Estamos juntos na detenção, Dragãozinho.
Sim, ele fez tudo sozinho.
Além disso, os gêmeos e Harry ganharam mais uma semana de detenção, pois não fizeram questão de esconder o envolvimento na bagunça.
Canopus passou a tarde xingando mentalmente Snape e Malfoy, mas principalmente Snape. Mais uma vez, Draco estava apenas auxiliando o professor na correção de trabalhos enquanto ele limpava tudo sozinho.
Quando o professor deixou a sala, ele não perdeu tempo em pegar sua varinha e começar a fazer feitiços para ajudar, jogando-se em uma cadeira enquanto o esfregão movia-se sozinho pelo chão.
— Você não pode usar magia para limpar — Draco alertou.
— Você não vai dizer, então ele nunca vai saber. — Deu de ombros e respirou fundo.
Draco disse.
O queixo de Canopus caiu, indignado. Ele fechou a cara e cruzou os braços, encarando o garoto furioso. Então, voltou os olhos para o professor.
— Acho que o senhor vai adorar saber que ele me emprestou uma pena de repetição para a revisão de estoque semana passada — disse, e os olhos de Draco se arregalaram.
— Eu…
— Falarei com você depois, Draco.
Canis dirigiu um sorriso vitorioso para Malfoy, que olhou-o irritado.
Os dois ficaram uma hora a mais na detenção. Black ainda limpou tudo sozinho, mas Malfoy daquela vez foi mandado para revisar novamente o estoque, e sem penas de repetição daquela vez.
Mais tarde, à noite, os gêmeos estavam na comunal fazendo o dever de Aritmancia. Eles avistaram Merliah fazendo as próprias tarefas em outra mesa com suas colegas de quarto e Draco, até que Malfoy e Daphne saíram do salão e Pansy seguiu para o dormitório.
Os dois trocaram um olhar mútuo, sem precisar de palavras para decidirem juntos. Eles se levantaram e foram até a mesa da amiga, sentando-se à sua frente.
Ela percebeu a chegada deles e rapidamente começou a reunir seus materiais.
— Liah, espera! — Therion chamou. — Por favor, fale conosco.
— Falar o quê?
— O que aconteceu?
— Você está estranha. Não fala com a gente desde o primeiro dia — Canis falou.
— Por que será, Canis?
— Eu não estaria perguntando se soubesse.
Ela revirou os olhos.
— Não vai embora, por favor! — Therion pediu. — Só queremos entender. Está tudo um caos agora e você se afastou de repente… Por quê? Eu sei que você não liga para tudo o que dizem sobre nós… Não é?
— Não… Mas começo a pensar que nem tudo é tão exagerado assim — ela respondeu seca.
— Você só pode estar brincando! — Canopus suspirou. — Você é nossa amiga e no meio de tudo isso vai se afastar e acreditar nos outros?
— Não é justamente o que vocês queriam?
— Do que está falando, Liah? — Therion indagou.
— Quando eu tentei ajudar e dar meu apoio, vocês se afastaram para ficar sozinhos. Como você disse mesmo, Canis? Er… "O que menos precisamos agora é de você se intrometendo". Bom… Fiquem sozinhos!
— Liah… Você sabe que seu apoio é importante. Nós só estávamos de cabeça cheia e precisando de alguns minutos e… — Canopus começou a falar.
— Existem formas muito mais educadas de dizer isso. Eu só queria ajudar! Você sabe o quanto suas palavras machucam, Canis?
O silêncio dele foi uma resposta mais que suficiente.
— Liah! — Therion chamou quando ela se levantou e foi embora. Ele suspirou e voltou os olhos irritados para o irmão. — Que merda você pensava que tava fazendo, Canis?
— Nós realmente precisávamos de um tempo, mas…
— Você realmente disse aquilo?!
— Disse, mas…
— Porra, Canis! E agora ela não fala nem comigo porque pensa que acho o mesmo que você. Você precisa pensar mais em outras pessoas além de nós dois e no papai às vezes.
— Ei! Por que está brigando comigo?
— Porque eu pareço ser o único de nós dois com um coração de verdade.
Therion bufou e ficou de pé.
— Therry!
Therion também foi embora, deixando-o ali sozinho. Canopus suspirou, levando as mãos ao rosto.
Ele ficou no salão até a madrugada, voltando ao dormitório apenas para pegar Antares e um livro. Therion ficou com o diário de sua mãe aquela noite em sua cama e não falou mais com o irmão.
Não conseguiu prestar muita atenção na leitura, pois somente conseguia pensar no que Therion e Liah disseram.
Em dado momento, Draco apareceu e sentou-se no sofá perto da lareira. Canopus estava na janela e o seguiu com o olhar.
Havia se tornado uma coisa constante naquelas duas semanas. Draco sempre lendo na comunal a noite ou escrevendo em seu diário, mesmo que não conversassem ou ele fosse embora depois. Ele estava sempre ali.
Sempre distante. Sempre se afastando quando Canis se aproximava para questionar… Mas sempre ali.
As aulas na manhã seguinte foram um pouco mais tranquilas, embora a situação entre os gêmeos Black estivesse um pouco estranha. À tarde, cada um seguiu para sua detenção.
Quando Harry e Therion chegaram à sala de Feitiços, Flitwick não estava, então enquanto aguardavam, Black ficou sentado sobre o tampo de uma das mesas com Potter de pé a sua frente segurando suas mãos. Ele não perdeu tempo em deitar a cabeça no ombro de Harry.
— Está tudo bem? — Harry perguntou, preocupado e atencioso como sempre.
— Enfim entendi porque a Liah não fala mais tanto com a gente.
— O que houve?
— Algo que Canis disse… Acho que me exaltei um pouco quando entendi — respondeu, hesitante. — Talvez nem tanto. Ela está chateada.
— Bom, entendo ela. Ele não costuma pensar muito no que fala às vezes.
— Ele pensa, esse é o problema. Se importar se isso vai machucar? Aí já é outra história — suspirou. — Mas acho que nós dois realmente estamos de cabeça cheia nos últimos tempos, principalmente com a audiência chegando.
— Quem não estaria?
Therion respirou fundo e ergueu o rosto outra vez com uma expressão exausta.
— Queria que Flitwick ficasse ocupado demais para cuidar da nossa detenção.
— Eu também. Mas nós tivemos sorte, não temos que aturar o Snape. As detenções dele são as piores.
— E você não imagina nem metade, porque ele não é o Diretor da sua Casa. Ele cuida da maioria das minhas detenções com o Canis.
— Um pesadelo, eu diria. Espero que nossa grande aventura na véspera da audiência nos renda uma detenção com qualquer outro professor.
— Podemos dizer que você não teve nada a ver. Se formos expulsos, você teria que aguentar todo o peso sozinho.
— Pare de falar isso. Não vou deixar expulsarem vocês.
— Acho que nem sua fama é tão poderosa assim, Hazz.
— É o que veremos.
Therion sorriu e deu um selinho em Harry. Potter soltou suas mãos para segurar seu rosto depois de afastar os cabelos que o cobriam.
— Não vou deixar tirarem vocês daqui… Não vou — Harry disse com mais firmeza, embora num volume mais baixo. — Eu quebro aquele Ministério se precisar.
— Capaz de dizerem que te manipulamos e você enlouqueceu por nossa culpa, ou usamos a Maldição Imperius.
— Acho que é meio que o que já pensam agora, e não me importo. Você e Canis são meus amigos, eu vou estar com vocês, mesmo que o jeito dele não seja fácil às vezes.
— Eu sou um pouco mais que amigo, não sou? — Ousou falar e sorriu de canto.
Harry riu e mordeu o lábio inferior, desviando o olhar. Therion não se impediu de ver a grande confusão que ele se tornou antes de exibir seu sorriso torto.
Muitas ideias na cabeça ao mesmo tempo explodindo. Nervosismo, confusão, ansiedade.
Ele próprio não estava diferente, mas os motivos certamente não eram os mesmos. Encarou os olhos de Harry, aguardando uma resposta. Ele precisava ouvir uma resposta.
Por mais óbvio que fosse que eles já não agiam mais como apenas amigos, queria ouvir, ver que estavam seguindo em frente mesmo a passos lentos.
As mãos do Black apertaram a capa de Potter entre os dedos, os olhos ansiosos.
Harry suspirou e o beijou, Therion decidiu aceitar como uma boa resposta positiva.
Se ele voltasse livre de mais aquela preocupação… Será que eles poderiam focar em realmente ser alguma coisa? Esperava que sim.
Se não voltasse… Ninguém sabe o que realmente vai acontecer. Não seria a primeira vez que ele seria forçado a ir embora e se afastar de um amigo que ele gostava mais do que deveria.
Mas seria a primeira que algo parecia ter a chance de acontecer.
Harry não conseguiu dizer nada depois que seus lábios se afastaram, querendo dizer algo ou não. Assim que voltou a encarar os olhos do Black, sua mão emaranhada aos cabelos cada dia maiores. Ouviram um pigarro vindo da porta, e ele saltou para o lado de susto.
Therion ainda não soltou a capa de Potter enquanto voltavam os olhos para a entrada e viam o professor, que não era Flitwick.
Arcturus permaneceu parado a entrada por alguns segundos antes de seguir até eles com sua postura ereta e cabeça erguida de sempre. Therion apertou a capa de Potter com mais força entre os dedos, respirando fundo.
Não havia trocado uma palavra sequer com o tio desde o dia que Canis invadiu a sala dele.
— Sinto muito por interrompê-los.
— N-nós só… O que faz aqui, Archie? Flitwick não está — Harry gaguejou no início da resposta.
— Eu sei. Ele está ocupado com um incidente no Clube de Duelos, então sua detenção hoje será comigo. Sigam-me.
Arcturus virou-se de costas para eles e logo começou a caminhar para fora da sala, sem muito mais palavras. Os garotos suspiraram e o seguiram até a sala dele, a mesma onde tiveram a primeira e única conversa civilizada.
Stella estava lá, sentada fazendo sua tarefa. Ela apenas olhou para eles, acenou e voltou a atenção de volta para seu pergaminho. Seu cabelo estava preso de lado com um laço roxo dessa vez, caindo pelo ombro. Também não falaram com ela nos últimos dias, cumprindo o que disseram sobre não colocá-la em seus problemas com o pai dela.
Os garotos foram colocados sentados à mesa com um pergaminho cada e dois exemplares de um livro.
— Façam um resumo desse livro até o final da detenção.
— Eu não consigo ler isso aqui nem em uma semana! Quer que leia em algumas horas?! — Harry exclamou surpreso.
— Sim, quero. Podem começar.
Harry choramingou.
— E sem penas de repetição rápida. Também peço para não distraírem a Stella.
Therion começou a fazer o que foi pedido. Harry suspirou antes de decidir fazer o mesmo.
Arcturus encheu uma grande xícara de café para si e seguiu para sua escrivaninha, onde começou a trabalhar corrigindo tarefas dos alunos. Ninguém disse uma única palavra, o único som presente na sala sendo das mãos inquietas de Stella quando ela começava a batucar na mesa ou na capa de um livro.
Therion começou a observar o tio. Ele não batucava na mesa como a filha, mas enquanto escrevia algo em um pergaminho, sua mão livre movia-se tão inquieta quanto.
Arcturus não dirigiu mais nenhuma palavra a eles em nenhum momento ao longo das horas de detenção. Stella levou até ele seu pergaminho para pedir ajuda com a tarefa, e ele ficou totalmente focado nisso. Parecia que os garotos sequer estavam ali.
Os Black eram realmente muito bons em ignorar as pessoas quando queriam.
Porém, quando estava próximo de acabar o horário da detenção, Arcturus preparou um chá e silenciosamente colocou uma xícara a frente de Therion. O garoto franziu o cenho, confuso. Arcturus ainda não disse nada, apenas retornando a sua mesa com a própria xícara.
***
Quando Canopus chegou para sua detenção, ele já estava bastante impaciente.
Quase não conversou com o irmão durante o dia e isso deixou-o frustrado. Ele estava esperando que voltasse ao normal mais tarde, pois ele provavelmente surtaria caso contrário.
Já estava aturando muitas coisas mudando em sua vida e indo por água abaixo com seus planos para aquele ano. Tudo estava cada vez mais inconstante.
Ele não estava gostando nada disso.
Durante a aula de Trato das Criaturas Mágicas, para piorar seu dia, ele feriu uma das mãos com os explosivins, a qual agora estava enfaixada com uma atadura.
Na aula de Adivinhação, a professora colocou-os em duplas para analisar os mapas astrais uns dos outros. Mais uma vez, ele ficou sozinho e restou apenas realizar a tarefa com Malfoy.
Seria um ótimo momento para tentar melhorar seu dia provocando o garoto para ter alguma normalidade. Porém, Draco apenas ficou calado e evitou olhar para ele ainda mais que o normal.
Malfoy continuava fugindo, como no ano anterior e Black estava profundamente confuso, talvez até irritado por um lado.
Ora, não foi ele que quase o beijou naquela dispensa e naquela maldita biblioteca. E ele não estava imaginando coisas. Sabia que não estava.
E céus… Canopus precisaria estar muito desesperado para querer que isso acontecesse. Ainda bem que não estava.
Embora pensar que o último beijo que deu em Elliot fosse talvez ser o último de toda sua vida caso tudo desse muito errado no Ministério fosse bastante deprimente e destruísse completamente todas as suas expectativas para aquele ano. Havia prometido a Elliot que tentaria ter um bom ano também, mas era bastante complicado com metade da escola o odiando ainda mais que antes e tudo ruindo ao seu redor.
E definitivamente não conseguiria beijar alguém sendo odiado. Os planos de festejar e sair com vários outros garotos já estavam indo por água abaixo.
O maldito universo sequer o permitia ser um adolescente gay cheio de hormônios. Isso era frustrante!
Bom, ele ainda era, só não poderia tirar proveito disso nem mesmo para evitar o estresse, como fazia nas férias indo até Elliot para evitar Sirius em casa.
Para piorar sua vida tão frustrante e deprimente ultimamente e seu dia terrível, naquela detenção, Snape colocou-o para limpar um dos banheiros. E claro, deixou Draco apenas sentado supervisionando tudo enquanto precisava apenas escrever em um pergaminho os efeitos de uma poção qualquer.
E daquela vez, Malfoy não se prestou a trazer água ou oferecer qualquer tipo de ajuda.
— Se amanhã eu tiver que fazer todo o trabalho duro mais uma vez enquanto você só fica sentado aí fazendo nada, eu vou jogar o caldeirão do seu maldito padrinho na cabeça dele e na sua também — resmungou bufando enquanto deslizava o esfregão pelo chão.
— Tente. Amanhã será meu último dia de detenção. E você esqueceu de limpar ali perto daquela cabine.
— Cala a boca!
— Você quem iniciou o diálogo. — Draco deu de ombros. — E eu estou fazendo uma tarefa também.
— Muito difícil escrever em um pergaminho, não é mesmo?
— Pare de reclamar e faça o seu trabalho, Black!
— Se eu já não estivesse acabando, iria considerar seriamente a opção de usar Imperius.
Assim que Canopus disse aquilo, algumas torneiras explodiram e a água encharcou todo o banheiro, além do próprio Black. Draco não conteve uma risada.
— MURTA! — ele gritou.
— Não foi a fantasma — Draco falou.
E então, eles ouviram uma risada bastante conhecida. Canopus respirou fundo.
— Pirraça, pensei que estivéssemos de bem.
O poltergeist apenas continuou a rir e foi embora. Canopus proferiu vários xingamentos em inglês, irlandês e galês que já ouviu o pai e o avô exclamarem em momentos de frustração.
— Nunca confie em um Poltergeist, Black. — Draco pegou sua varinha. — Reparo.
As torneiras pararam de jorrar água e se consertaram. Draco guardou a varinha e voltou a escrever no pergaminho.
Canopus bufou enquanto precisava recomeçar seu trabalho. Porém, na metade do caminho, ele parou, cansado.
— Eu não vou limpar tudo de novo sozinho.
— Eu que não farei isso — Draco disse. — Já tenho minha tarefa.
— Você está aí sentado escrevendo na porra de um pergaminho! Eu estou limpando esse banheiro enorme e Snape confiscou minha varinha porque você disse que usei magia ontem.
— E ele confiscou minha pena de repetição rápida porque você disse que te emprestei.
— Eu avisei. Você fica de boca fechada, eu também fico. Aposto que ele adoraria saber sobre nossa aventura na Seção Reservada.
— Se você falar qualquer coisa, vai prejudicar você mesmo. E sua palavra não vale mais que a minha.
— Acho que você está perdendo um pouco da sua credibilidade, Dragãozinho. Onde está sua pena de repetição mesmo? — Canis provocou, e Draco bufou e revirou os olhos.
— Cale a boca e faça seu trabalho.
— Não, acho que vou continuar falando, porque já que vai ficar aí sem fazer porra nenhuma, me ouvir é o mínimo.
— Cale-se ou eu farei isso.
Canopus sorriu ladino. Ele não perderia a chance de continuar provocando.
— Você quase fez isso de um jeito bastante curioso na biblioteca, Dragãozinho.
— Não faço ideia do que você está falando.
— Você está fugindo o quanto pôde nessas últimas duas semanas exatamente como ano passado sempre que tento falar disso, então acho que sabe.
— Não, eu não sei.
— Você disse que não saberia seu eu não dissesse, estou dizendo. Não me diga que estava mesmo ansioso para repetir a festa da Sonserina. Eu sei que sou irresistível e você não tem opções, mas…
— E quem disse que não? — Malfoy arqueou a sobrancelha.
— Não me diga que enfim beijou a Parkinson?
— Claro que não! — exclamou e fez uma pausa. — A Pansy não, não que seja da sua conta.
— Então investiu em alguma outra opção que te aturaria? Não são muitas.
— Considerando que a maioria da escola te quer em Azkaban e seu namorado trouxa está a quilômetros daqui, são mais que as suas.
— Na verdade, agora é ex-namorado, e pode incluí-lo na sua lista de pessoas que você não deve falar resumindo apenas ao que é.
Draco revirou os olhos.
— E minhas opções realmente estão meio escassas agora, mas ainda prefiro beber a água desse banheiro a beijar você.
— E eu prefiro limpar esse banheiro.
— Ora! Por que não disse antes?
Canopus exibiu um largo sorriso e foi até Malfoy, tirando a pena e o pergaminho de suas mãos e entregando o esfregão, puxando-o do banco para ficar de pé.
— Eu termino esse resumo por você. Já fiz metade do trabalho.
— Eu não vou limpar. Esse trabalho é seu.
— Eu sei que você nunca deve ter limpado algo na vida, mas sempre há uma primeira vez.
— Eu não vou fazer isso.
— Acho que terei que fazer um grande sacrifício, então.
— Snape mandou você limpar, então faça.
— Nós dois estamos de detenção, justo cada um fazer uma parte. Então, termine… Ou vai preferir me beijar?
— Você é um… V-você… O quê?! — Draco exclamou e embolou-se com as palavras ao perceber o que o outro havia dito. Suas bochechas imediatamente ficaram vermelhas e suas mãos apertaram o esfregão com força.
Canopus cruzou os braços e sorriu de canto, inclinando levemente seu corpo para frente, alguns fios de cabelo caindo por seu rosto úmido pela água anteriormente. Havia encontrado o meio de se livrar de seus problemas.
E irritar Draco, que tem sido um ótimo passatempo. Quem sabe consiga até arrancar aquele maldito apelido de novo.
— Você disse que preferia limpar esse banheiro a me beijar.
— Isso não significa que vou fazer qualquer um dos dois.
— Você tem as duas opções bem aqui. Seria realmente terrível te beijar, mas seria um sacrifício que me disporia a fazer.
Draco comprimiu os lábios, respirando fundo. Não sabia exatamente o que sentir com tal frase e qualquer coisa que tenha passado por sua mente agora parecia uma péssima ideia.
A voz de seu avô gritava em sua mente. O medalhão pesava em seu pescoço. Sem desvios.
Ele soltou uma das mãos do esfregão e pousou-a na cintura, ainda segurando o objeto com a outra e apoiando-se nele. Exatamente como aprendeu com sua família, escondeu rapidamente todas a confusão de emoções que sentia e vestiu sua máscara de indiferença, retribuindo ao garoto um sorriso de lado enquanto o encarava.
— Está realmente tão desesperado assim para beijar alguém depois de terminar com seu namoradinho, Black? — riu baixo. — Não esperava que você fosse tão carente.
Canopus torceu o rosto em uma leve careta.
— Não sou carente.
— Não é o que está parecendo.
— Estou apenas tentando ser justo aqui, Dragãozinho. — Ele rapidamente voltou para seu maldito sorriso provocativo. — E então?
— Eu não vou limpar esse banheiro.
— Acho que você realmente está ansioso para repetir ano passado. Não te culpo. Tudo bem, faço esse sacrifício. Vai me derrubar de novo ou já não precisa mais dessa formalidade?
Canopus deu um passo à frente. Draco congelou e não ousou se afastar.
Malfoy encarou os olhos de Black, que até mesmo na luz de um maldito banheiro conseguiam manter aquele belo aspecto que paraciam possuir todas as estrelas. Seu olhar desceu inconsciente então para o maldito sorriso.
— Para início de conversa, nas duas vezes que caímos, a culpa foi toda sua.
— Não, nas duas você quem me derrubou.
— Não, foi você sendo insuportável como sempre. — Voltou a encarar os olhos do outro.
— Você não costuma colaborar muito sempre sendo tão irritante.
— Você só está aqui por irritar seu querido tio, caso não se lembre, Black. E ultimamente, você tem sido realmente irritante.
— Que tal acabarmos logo com isso?
— Mudando de assunto, Canopus? — Draco inclinou levemente a cabeça.
— Acho que você quem está, Dragãozinho — Canopus fez o mesmo e deu mais um passo à frente. — Eu sempre posso denunciar nossa pequena invasão. Provavelmente já não vou estar aqui depois da audiência, não me importo de mais uma detenção.
— Confia tanto assim que vai ser expulso?
— Por mais que tenha sido por um motivo muito justo, ainda fiz por livre e espontânea vontade. Eu realmente não quero passar um dos meus últimos dias aqui limpando um banheiro.
Draco respirou fundo, sua cabeça martelando as possibilidades do que poderia e do que deveria fazer. Seu dever seria, talvez, ir até seu padrinho e dizer que Canopus estava atrapalhando e fazê-lo ganhar um tempo a mais ali.
Mas ele não ia fazer isso.
— Acha mesmo que vou limpar isso aqui?
— Você disse claramente que preferia fazer isso. E você ainda está em dívida comigo, e eu faço tudo sozinho nessas últimas semanas, você poderia fazer sua parte pelo menos uma vez na vida, que não necessariamente é o que Snape diz.
O silêncio pairou entre eles por alguns instantes, mas a mente de Draco estava uma verdadeira bagunça. Tudo o que seu avô e seu pai lhe diziam sobre seguir o legado, fazer o que um Malfoy deve fazer. Ele realmente tentou, estava tentando muito.
Porra! Ele teve um beijo horrível com uma garota por causa disso.
Canopus tinha plena ciência de que Draco não o beijaria. Estava apenas provocando para conseguir o que queria. E se não conseguisse, eles estarem discutindo já era um ponto a favor.
Algo de volta a normalidade.
— Quanto mais demorar, menos tempo terá para limpar, Dragãozinho.
— Cala a boca, Estrelinha.
Draco largou o esfregão e agarrou a gola da camisa de Canopus. Black por um milissegundo pensou que ele o jogaria no chão ou contra a parede.
Em vez disso, ele o beijou.
Enquanto o baque do esfregão batendo contra chão ecoava em seus ouvidos, seus lábios eram colados um ao outro, e Canopus descruzou os braços e soltou o pergaminho e a pena que segurava em surpresa, os olhos arregalados. Sua mente se estagnou por alguns instantes, processando o que estava acontecendo.
Até que seus olhos se fecharam lentamente, o corpo relaxando e inconscientemente inclinando-se mais para frente ao que era puxado pelo outro, as mãos pousando sobre os braços dele, mas não o afastando.
O corpo de Draco relaxou junto ao dele, um ar de suspiro escapando por suas narinas, as mãos ainda apertando o tecido entre os dedos. Seu coração batia tão forte que parecia que pularia do peito e borboletas se agitavam em seu estômago, e agitaram-se ainda mais ao sentir as mãos que estavam em seus braços cair sobre sua cintura.
Ah, Merlin… Ele estava muito ferrado.
Daphne que o perdoasse, mas o beijo que tiveram havia sido realmente terrível. Nada como ele imaginou que seria.
Draco queria, queria muito, que tivesse sido bom, mas não foi.
Aquele ali era bom. Por mais caótica que a situação fosse, mexeu em alguma coisa dentro dele. Isso certamente seria sua ruína.
Seu avô também teria que perdoá-lo por aquilo. Por aquele pequeno e possivelmente catastrófico desvio do caminho que deveria seguir.
Canopus, bem… Ele não sabia exatamente o que pensar ou sentir.
Não mentiu exatamente sobre ser um sacrifício que se disporia, ele já estava na pior de qualquer forma. Não é como se Draco fosse feio, só apenas irritantemente insuportável. Mas pensava que nunca aconteceria.
Definitivamente, não esperava.
Porém, também não rejeitou. Sua mente, por um breve momento, esqueceu-se que ali era Draco Malfoy. Talvez algo semelhante ao que sentiu na primeira vez, a surpresa dando local a completa penumbra em sua cabeça antes de cair a ficha sobre o que estava acontecendo.
A ficha demorou um pouco mais para cair daquela vez, principalmente quando sentiu as mãos alheias soltando sua roupa e segurando seu rosto.
Agiu inconscientemente, seu corpo seguindo por si só de forma natural ao após longos segundos de lábios colados mover levemente sua boca sobre a dele, novamente inclinando-se em sua direção. E Draco suspirou mais uma vez.
E foi então que a ficha caiu.
Apesar de parecer um longo tempo, na realidade não foi. Mais longo que o primeiro, de fato, mas todo aquele momento não durou mais que um minuto.
Um longo minuto. E então Draco se afastou.
Ele ofegou como se tivesse o beijado por longos incessantes minutos, embora tivesse sido o oposto. Suas mãos pousaram no peito de Black e o empurraram, seus pés caminhando para trás.
Eles se encararam em completo silêncio, exatamente como na primeira vez.
Canopus estava paralisado, encarando Malfoy em total confusão.
— V-você… Você realmente me beijou?!
Draco estava mais corado do que jamais esteve em toda sua vida, o rosto encarando Black em igual surpresa. Ele engoliu em seco e recompôs sua postura, tentando respirar fundo.
— Fiz minha parte. Agora faça a sua.
Draco pegou o pergaminho e a pena do chão e então partiu rapidamente para fora do local.
Canis continuou paralisado, exatamente onde Malfoy o deixou, encarando de queixo caído o caminho por onde foi embora. Não sabia o que dizer, o que pensar.
— Mas que porra…?
———————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
TERMINANDO COM UM DOS MOMENTOS MAIS AGUARDADOS DO LEGACYVERSE SIM HEHEHEHEHE
O QUE ACHARAM? 🤭🤭
Não ia acontecer tão cedo, mas o momento foi muito propício... E vai ajudar MUITO no desenvolvimento de outras coisinhas rsrsrs
Como acham que Draco vai estar depois? Como mais o Canis vai reagir?
Ia ser mais romântico, mas... Ser apocalíptico e repentino combina mais com eles agora.
Próximo capítulo eu finalizo as confusões dos gêmeos antes da audiência, realmente não deu pra colocar tudo aqui e achei que esse seria o momento perfeito de finalizar o capítulo.
Deerwolf uns amores como sempre, no próximo teremos mais deles. Hoje foi o dia de Stardragon porque sei que vocês sofreram muito com a falta deles nas férias.
O que aguardam para o próximo capítulo e a despedida dos gêmeos de Hogwarts?
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro