LIII. Long way
A confusão na mente de Sirius já havia começado muito antes de ter as garras de uma lobisomem em seu pescoço e a ex pretendente a noiva de seu irmão aparecer.
Começou no momento que despachou as corujas de volta com as cartas para os filhos e o afilhado. Ele ficou longos minutos encarando a janela mesmo após as aves sumirem no horizonte, paralisado, pensando em tudo e nada ao mesmo tempo.
Nem mesmo trocou de roupa para tirar o pijama de seu corpo. Voltou diretamente para a cama e deitou-se abraçado a um travesseiro, os olhos desfocados na direção da mesa de cabeceira. Pensou nas cartas, em Karina, no diário. Também não pensou em absolutamente nada. Estava completamente desconexo da realidade.
Uma hora se passou.
Duas horas.
Três horas.
Sirius não se moveu. Continuou abraçado ao travesseiro da mesma forma.
Na quarta hora, a primeira lágrima veio, silenciosa e dolorida.
Ele não almoçou.
Quando a ficha caiu outra vez, mais lágrimas vieram. A ideia de que Karina realmente não esperava voltar viva e por isso deixou memórias literais era dolorosa. Muito dolorosa.
Sirius sempre dizia que não deixaria algo acontecer com ela, mas ele não cumpriu isso. Ela sabia que ele não conseguiria, não é?
Ele não conseguiria salvá-la. Ele não conseguiu.
Como não salvou Regulus. Como não salvou James e Lily.
Foi quando o primeiro grito de dor veio junto a um Sirius transtornado.
A dor extravasou por cada um de seus poros, cada fio de voz que saiu de sua boca.
Ele desmoronou completamente, como as ruínas que ele estava desde que perdeu tudo, desde que foi preso. Não estava pensando, seu corpo não respondia mais aos seus comandos.
Ele jogou o travesseiro para o outro lado do quarto. Suas mãos puxaram os próprios cabelos enquanto chorava. As luzes já apagadas piscaram. Objetos voaram das cômodas.
A magia tão instável quanto suas emoções.
Sirius saiu do quarto e rumou para o escritório. Lá, ele ficou parado, apenas encarando o local e lembrando-se de todo o tempo que Karina passou ali.
Ele conseguia vê-la trabalhar naquela mesa rodeada de livros. E então essa imagem era substituída pela visão de seu corpo caído. Via ela sorrir quando levava algo para que comesse enquanto trabalhava. E então via o rosto desacordado e sem vida em seus braços.
Não saberia dizer exatamente o que fez. Sua mente não estava trabalhando direito. Não sabia o que procurava quando abriu as gavetas, ou quantos livros caíram quando ele desabou contra uma estante e foi ao chão.
E então, mais uma vez seu corpo agiu por conta própria. Ele voltou para o quarto e revirou gavetas e o guarda-roupa, ainda tão instável que quebrou uma das portas. Vestiu roupas de Remus largas demais para seu corpo atual.
Ele pegou o restante de poção polissuco e bebeu um gole. Pegou o dinheiro trouxa que Remus guardava e guardou no bolso.
Quando percebeu, já estava parado em frente a uma floricultura. Comprou um grande buquê de violetas e seguiu para o cemitério.
E então, ali estava, mais uma vez em frente ao túmulo dela.
Deixou as flores e sentou-se no chão, as lágrimas caindo sem cessar. A lembrança do velório o invadiu no mesmo instante, o momento que deixou flores sobre o caixão que fora enterrado.
O mesmo sentimento de culpa assolava seu peito.
— O que você pretendia, hm? — perguntou. — Por que você saiu sozinha se sabia que não voltaria?
Obviamente, não houve resposta. Tudo o que restava para Sirius eram questionamentos lançados ao vento.
— O que eu poderia ter feito?
Sirius se perguntava aquilo desde o dia que a encontrou. O que poderia ter sido diferente? O que aconteceria se ele tivesse ficado em casa naquele dia?
— Eu sinto sua falta... Theo e Canis sentem sua falta — disse e soluçou. — Eu realmente tive alguma chance de poder te salvar?
Não gostava de pensava naquela possibilidade.
Na possibilidade de que não havia nada que ele pudesse ter feito. Isso não era tranquilizante, deixava-o pior.
Nenhuma de suas dúvidas seriam respondidas, mas gostaria muitos de sentir que elas ao menos foram ouvidas, onde quer que ela estivesse.
Ele encolheu-se contra a lápide, envolvido nas memórias dolorosas em sua mente, na culpa, confusão. Não percebeu o tempo passar, tampouco importou-se quando o efeito da poção polissuco acabou e ele voltou a sua aparência habitual.
Estava apenas existindo ali naquele cemitério, atormentado por dores e pesadelos.
Quando Remus chegou, Sirius ainda estava perdido demais. Quando ele começou a duelar com Killian, ele não conseguiu fazer nada.
Não conseguia se mover. Não conseguia pensar. Apenas continuava ali, anestesiado do mundo, as palavras de Killian em sua mente.
Ele não salvou ela. Não salvou James, nem Lily. Ele não fez nada.
Um fio de consciência surgiu no momento que viu Remus agarrar o pescoço de Killian, mas ainda não conseguiu se mover.
Ele ouviu um som atrás de si, e então alguém agarrou-o por trás e, de repente, haviam garras ameaçando cortar seu pescoço.
Foi tudo muito rápido. Muito caótico.
Quando Hadria e Mary chegaram, ele ainda não entendia o acontecia. Mal poderia dizer onde estava, o que estava fazendo ali.
Sirius apenas... Estava ali.
Quando foi largado por Yvaine, ele desabou no chão mais uma vez. Remus correu em sua direção, puxando-o para seus braços, mas ele não se moveu pelos minutos seguintes.
Lupin segurou seu rosto entre as mãos, acariciando com grande preocupação, o rosto quase tão molhado pelas lágrimas quanto o seu. Sirius fechou os olhos ao sentir os lábios de Remus pressionados contra sua bochecha e então tinham suas testas unidas, ainda sem dizer uma única palavra. Apenas deixou sua cabeça recair sobre o ombro do outro, ouvindo todo o diálogo ao redor com fortes braços apertando-o como se pudesse desaparecer a qualquer momento.
Sirius sentia que poderia desaparecer. Alguém se importaria se isso acontecesse?
Os olhos captaram as duas mulheres recolhendo suas garras, as unhas voltando ao tamanho habitual do mesmo modo que já vira Remus fazer raras vezes quando mais novo e ficava extremamente irritado ou estressado.
Não entendia o que Hadria fazia ali. Não entendia o que Mary fazia ali. Não entendia nada, nem sabia se queria entender.
Ele queria apenas continuar no calor dos braços de Remus.
— Muito bem — Hadria falou e respirou fundo. — Agora, que merda estava acontecendo aqui?
— Ele estava tentando matar o meu marido, e eu apenas retribuí.
— Ter deixado Killian vir sozinho foi uma péssima ideia — Mary comentou.
— Você sabia que ele estava vivo? — Remus indagou exasperado. — V-vocês… O que vocês fazem aqui? Quando voltaram?
— Há algumas semanas, resolvendo assuntos.
— E eu não perderia o enterro do meu pai por nada — Hadria falou e apoiou ambas as mãos na cintura. — Falei na última vez que o vi que só voltaria a pisar na Mansão Malfoy no velório dele. Cumpri minha palavra.
— Na verdade, não faz tanto tempo que reencontramos o Killian. A filha dele é a melhor amiga do filho de um amigo.
— E elas também não fizeram questão de me contar sobre minha irmã. Eu realmente não fiz uma boa escolha de amigos — Killian comentou enquanto caminhava em direção a esposa, recuperando seu fôlego, as mãos passando pelo pescoço ainda com marcas das mãos de Remus.
— Nós já tivemos essa conversa. O que você fez? Remus nunca te atacaria sem você ter feito algo.
— Nada!
— Ele ia chamar os aurores — Remus falou.
Mary e Hadria ofegaram surpresas e olharam irritadas para Radcliffe.
— Se a Karina estivesse aqui, ela iria te dar um belo puxão de orelha por sequer pensar nisso — Hadria vociferou e avançou na direção dele.
— Ela não está exatamente por causa dele.
— Você ouviu alguma coisa do que te falamos? Ela estava lutando pelo bem da vida e futuro dos filhos dela!
— Melhor parar aí, Hadria. — Yvaine colocou-se à frente do marido antes que Hadria chegasse até ele.
Mary pousou as mãos nos ombros da esposa para mantê-la onde estava e acalmá-la, embora ainda olhasse irritada para o casal a frente.
— Você vai ficar com sua boca fechada, Killian. Não vou deixar que estrague tudo. Sirius não fez absolutamente nada além de tentar proteger a Karina o quanto pôde, mas ele também não podia controlar tudo que ela fazia.
— Ela era sua irmã, mas parece que você não a conhecia de verdade — Hadria falou impaciente. — Se conhecesse, saberia que nada a impediria de lutar.
— Lutar contra o lado que você estava, aliás, não é?
— Killian, cuidado com o que fala — Mary alertou.
— Mas estava, não é? Ela, Regulus… Aliás, que tal igualarmos a situação. — Killian olhou para Remus e Sirius. — Tenho grandes novidades.
— Yvaine, cuide dele ou eu cuido.
Yvaine respirou fundo e agarrou o braço de Killian, lançando-lhe um olhar de alerta. Sirius e Remus não compreenderam exatamente, estava tudo extremamente confuso.
— Isso não é assunto para hoje, Killian — Hadria disse e voltou-se para Black e Lupin. — Vamos voltar para sua casa. Não vai ser bom para Sirius continuar aqui.
— Vamos conversar lá, eu prometo — Mary completou.
Remus respirou fundo, assentindo com a cabeça.
Sirius continuava exatamente o mesmo, jogado aos braços de Lupin, apenas observando a situação em silêncio. Mary ajudou Remus a colocá-lo de pé, ele ainda totalmente absorto de tudo. Os olhos do Black focaram em Macdonald, para então voltar-se para Hadria.
Lupin estava tão confuso quanto ele parecia estar. Do nada, duas amigas com quem ele não falava há séculos haviam retornado. Tudo estava voltando e isso deixaria qualquer um maluco.
Porém, o foco dele agora estava em Sirius.
Mary emprestou sua capa para cobrir Sirius e impedir que ele fosse visto.
Quando retornaram, Black ainda não disse nem uma única palavra. Remus e Hadria levaram-no para o quarto, enquanto Mary começava a discutir com Killian no andar inferior. Deixaram-no na cama e a primeira coisa que ele fez foi puxar um travesseiro e abraçá-lo com força.
Seus olhos vagaram brevemente pelo quarto em completo caos antes de voltar-se para Lupin. Ele encolheu os ombros, sentindo-se culpado pela bagunça que fez em seu descontrole.
Remus afastou os cabelos de seu rosto, colocando os fios atrás de sua orelha.
— Você quem fez isso, não foi? — indagou num tom calmo, longe de ser acusatório, regado de preocupação.
Sirius assentiu com a cabeça.
— Desculpa… — Essa foi a primeira palavra que ele disse em um longo tempo.
— Não precisa se desculpar, está tudo bem.
Remus abraçou seus ombros e beijou sua testa, afagando suas costas delicadamente.
— Precisa descansar. Eu vou conversar com eles e logo volto para ficar com você.
Sirius apenas assentiu mais uma vez.
— Nós realmente temos muito o que conversar. — Remus voltou os olhos para Hadria.
— Teríamos menos se você não tivesse parado de responder as cartas. Você se isolou quase tanto quanto o Killian, talvez até mais, na verdade.
— Estava ocupado tentando sobreviver sozinho com duas crianças.
— E teríamos ajudado, mas entendo. Cada um seguiu seu caminho depois da guerra.
— Vamos descer e conversar sobre esses caminhos.
Remus respirou fundo e olhou para Sirius uma última vez. Beijou sua bochecha, prometendo voltar o mais rápido possível.
E os dois saíram. Deixar Sirius era a última coisa que Remus queria agora, mas ele com certeza não o deixaria no meio de toda aquela confusão. O que ele mais precisava mesmo era descansar.
Sirius permaneceu deitado abraçado ao travesseiro com o olhar sem foco, exatamente como naquela manhã. Agora, no entanto, havia o adicional de todas as palavras de Killian para si apenas reafirmando toda aquela culpa que ele mesmo já sentia.
Como ele não salvou Karina, não salvou James, nem Lily, ou mesmo Regulus… Todos se foram sem que pudesse fazer algo.
Ele teria continuado em casa naquele dia se soubesse que não veria mais Karina quando voltasse. Teria ficado e tentado impedi-la de sair, por mais difícil que fosse mantê-la parada. Teria aproveitado mais seus últimos momentos juntos.
As lágrimas voltaram silenciosas. A única imagem em sua mente era a de Karina morta em seus braços.
Não conseguiu pensar em seu sorriso, em seus olhos ou como sempre parecia ter uma resposta pronta para tudo — e se não houvesse, procuraria. Apenas a pior lembrança estava ali, como se houvesse um dementador nas suas costas sugando todas as memórias bonitas e felizes.
Será que ele realmente a fez feliz em algum momento? Ou isso era apenas sua mente tentando enganar a si mesma para não aceitar a verdade?
Ele queria tanto poder voltar e aproveitar cada último instante… Ou impedir que aqueles fossem os últimos.
Karina havia sido o seu primeiro grande amor, e Sirius a amou até o último instante.
Uma batida na porta chamou a atenção de Sirius após um tempo, mas ele não se moveu.
— Eles já foram? — perguntou num tom baixo e falho.
— Ainda não. Remus nos convidou para jantar, será uma longa noite.
Sirius ergueu a cabeça ao perceber que não era Remus. Encontrou a mulher de cabelos platinados parada à porta olhando-o com grande serenidade. Ela adentrou o cômodo calmamente e parou em frente à cama, postura perfeita e mãos pousadas na cintura.
Muito tempo se passou desde a última vez que a viu. Ao mesmo tempo que parecia a mesma, também estava muito diferente. De todo jeito, a semelhança com o irmão ainda era irritante para o Black, e logo percebeu como igualmente o sobrinho lembrava a ela.
— Ah… Malfoy. — Suspirou.
— Macdonald, agora — corrigiu. — Teoricamente, já não era mais Malfoy nem durante a guerra.
— Pensei que fosse Remus… Onde ele está?
— Terminando uma longa conversa.
— E o que você quer?
— Verificar você, Remus está preocupado. Conversar…
— Não tenho o que conversar com você.
Sirius voltou a deitar a cabeça e suspirou. Porém, Hadria não foi embora.
Ela pegou sua varinha e começou a agitá-la, consertando o armário quebrado e fazendo as roupas jogadas voltarem ao seu lugar, assim como todo o resto, arrumando a bagunça feita por Sirius. Ele franziu o cenho, confuso, então sentindo a cama afundar atrás de si. Virou-se e encontrou-a sentada ao seu lado.
Sirius sentou-se também, sem soltar o travesseiro, e secou o rosto molhado.
— O que você quer?
— Também preciso de repouso, foi um dia cansativo — respondeu ela. — E falar com você. Você está precisando de um pouco de companhia.
— A menos que seja o Remus, não quero companhia.
— Terá que esperar um pouco e se contentar comigo.
— Nós nunca fomos amigos, muito menos conversamos com frequência.
— Sem ressentimentos. Vamos virar a página. — Ela sorriu fraco. — Muitas coisas mudaram.
— Sim. Na última vez que te vi, você estava casada com um Comensal da Morte e grávida.
— Apenas uma dessas coisas está diferente agora.
Sirius franziu o cenho por alguns instantes, então abaixou os olhos para a barriga da mulher, então de volta para seu rosto.
— Você está grávida?
— Estou no primeiro mês ainda. Não precisa me parabenizar.
Sirius não pretendia parabenizar, de qualquer forma.
Ele mexeu-se inquieto, uma sensação de estranheza no peito em meio aos instantes de silêncio que se seguiu. Não teve muitas conversas com Hadria e muitas das que teve não acabaram bem.
Talvez tivesse exagerado algumas vezes, afinal, assim como ele, ela não tinha culpa da família em que nasceu. Porém, de todo jeito, ela nunca lhe transmitiu confiança nem era muito gentil também, então era um desgosto mútuo entre eles. Ela era muito mais próxima de seu irmão.
Por isso, inclusive, Walburga a escolheu como principal pretendente para Regulus. Chegou a cogitar ser para ele próprio, para o grande horror de Sirius, mas tanto ela quanto Abraxas perceberam a parceria que existia entre ela e Regulus e concordaram que provavelmente teria mais sucesso.
Talvez, apenas talvez, Sirius tivesse nutrido um pequeno ressentimento por ela por ser em quem seu irmão buscava consolo muitas vezes em Hogwarts. Ou por ela conseguir ser amiga de Karina muito antes dele mesmo vindo de uma família tão terrível quanto a sua e, ao menos para ele, não parecer ser tão diferente deles.
Mesmo quando ela deu a Ordem informações importantes, ele ainda não se permitiu confiar totalmente.
Ela tinha razão sobre muito tempo ter se passado. E se ela estava casada com Mary agora, muito mudou. No mínimo, devia ser mais tolerável. Sabia que não conseguiria fazer ela sair dali.
Aprendeu com seu irmão — e também seus filhos — o quanto sonserinos podem ser irritantemente teimosos e insistentes.
Suspirou novamente.
— Um pouco tarde para prestar meus pêsames?
— Depende pelo quê seria — ela respondeu. — Por meus falecidos marido e filho? Sim, está um pouco atrasado.
— Na verdade, eu fiquei feliz em ter um comensal a menos no mundo, meus pêsames seria pelo próprio casamento em si. Regulus era definitivamente uma opção muito melhor.
— Meu pai não queria esperar muito para se livrar de mim. Me entregou de bandeja para sua melhor opção viável além dos Black que pareceu disposta… Um dos piores dias da minha vida. Imagino que não sinta muito por ele.
— Ele ainda foi tarde.
— Eu sei. Mary abriu uma exceção e bebemos champanhe depois do funeral. — Ela sorriu.
— Mas, sobre seu filho… Eu tenho dois e não suportaria perder nenhum deles.
— Enquanto isso, meu irmão não poderia ter ficado mais feliz pelo filho dele ser o único herdeiro... Meu filho era uma ameaça a seus planos de ser o único a controlar a fortuna Malfoy e não deixar uma lobisomem chegar perto dela.
— Ele é um filho da puta.
— Sinto pena do meu sobrinho. Ele não tem culpa de ter pais horríveis.
— Meus filhos gostam tanto dele quanto eu de você.
Hadria riu.
— Vejamos… Pêsames por eu estar grávida tendo licantropia? O medibruxo que me consultei no St. Mungus essa semana com certeza sentiu.
— Remus me disse que tinham crianças lobisomens nas comunidades que ele visitou, então… Só sei que não deve ser fácil.
— Eu tenho Poção do Acônito e minha esposa é animaga, facilita bastante, e eu já fiz parte de uma matilha. Tudo indica que será bem tranquilo dessa vez. Minha querida cunhada perdeu muito mais teoricamente saudável.
— Acho que eu estava apenas tentando ser educado.
— Agradeço a tentativa. É um ótimo começo.
Mais uma vez, alguns instantes de silêncio.
— Realmente sinto muito por Azkaban. Infelizmente, minha palavra não foi o bastante — ela disse.
— Você depôs ao meu favor? — Sirius arregalou os olhos.
— Eu tentei… Não deu certo. Defendendo você, eu poderia entregar muitos Comensais, então… Meu irmão deu um jeito e ainda fez um ótimo trabalho para terminar de apagar minha existência. Não foi tão difícil já que eles me escondiam de tudo depois que fui mordida. Mentir tanto e confundir mentes até todos acreditarem que ou nunca existi ou já estava morta.
Sirius piscou, desconcertado, voltando o olhar para a parede oposta. Nunca imaginaria que logo Hadria tentaria defendê-lo, mas ela obviamente saberia que ele nunca foi aliado de Voldemort, afinal, ela estava no lado dele durante a guerra. Intimamente ligada aos Comensais da Morte e participando de muitas reuniões.
Entregou muitos planos deles, mas ainda estava daquele lado.
— E para sua infelicidade, garantir que você não era um Comensal não te impediria de ter explodido aquela rua e matado aquelas pessoas. Na verdade, essa foi a sua condenação oficial. A história de Voldemort é apenas uma grande e errônea interpretação e dedução que se espalhou.
— Você… — Sirius respirou fundo, comprimindo os lábios. — Obrigado por tentar.
— No começo Remus também não queria acreditar, mas… Eu percebi que com o tempo ele acabou aceitando isso. Depois ele parou de responder minhas cartas… Eu também não estava no meu melhor momento.
— Não o culpo por isso. Tudo estava contra mim… — Deu de ombros. — Você e Remus… É por isso que vocês eram próximos em Hogwarts? Por causa da licantropia?
— É…
— Eu nunca entendi… Mas agora tudo faz muito sentido.
Sirius sempre questionou o que Remus tanto via para ser amigável com ela. Não entendia muito seu irmão, mas eles eram amigos de infância e da mesma Casa — fora os pais praticamente já os considerarem noivos —, então era até compreensível.
Agora tudo fazia sentido e algumas outras coisas também estavam claras em sua mente. Ele não era mais um adolescente, mesmo tendo perdido boa parte de sua juventude em Azkaban. Os dois, no fim, estavam no mesmo barco, sofrendo em suas casas com seus próprios problemas, mas nunca enxergaram isso. Sirius, ao menos, não permitiu-se ver, cego pelo próprio orgulho, ciúme e arrogância.
Refletindo bem, Hadria supostamente possuía uma saúde tão frágil quanto Remus dizia ter desde que entrou em Hogwarts. Quando Remus passava o dia inteiro na biblioteca em semanas de lua cheia para fugir dos corredores barulhentos por conta da audição sensível, ela muitas vezes estava lá, além de Karina e Regulus. As peças começavam a se encaixar.
— A Karina sabia?
— Você ainda pergunta? Ela descobriu sobre o Remus muito antes de você e seus amigos.
Sirius quase deixou um pequeno sorriso surgir. Quase.
— Quando você…?
Hadria desviou o olhar, abraçando o próprio corpo. Sirius soube que pegou em um ponto delicado, também era assim com Remus. Ele sempre desviava o olhar e ficava acanhado ao lembrar-se da noite em que foi mordido.
Até hoje ele ainda tinha pesadelos sempre que a lua cheia de aproximava e quase não dormia. Eles passaram boas horas da noite acordados juntos abraçados na última que passou, ambos atormentados por pesadelos.
— Esquece. Não é um assunto legal, eu sei.
— Não, tudo bem. — Hadria respirou fundo. — Acho que vai ser bom colocarmos o assunto em dia.
Ela jogou a cabeça para trás, apoiando na cabeceira e olhando para o teto, pensativa.
— Onze anos. Recesso de Páscoa do meu primeiro ano.
— Foi quando a sua mãe…
— Agora entende porque nunca disseram a ninguém como ela morreu. — Ela virou o rosto para Sirius.
— Mas que merda... — Sirius xingou e suspirou.
— Nós duas fomos atacadas nos terrenos da Mansão Malfoy. Eu saí à noite para ver os pavões no jardim, estava entediada. Meu pai estava resolvendo assuntos políticos, Lucius estava bajulando a Narcisa enquanto ela conversava com a mamãe… Você deve lembrar o quanto ela aprovava o namoro dos dois e estava ansiosa para que se casassem.
— Lembro. Ela quem convidou a Narcisa para passar a Páscoa lá naquele ano, Tia Druella comentou.
— Estava me sentindo meio… Deslocada, ali. Estar com os pavões sempre me animava, eu amava eles. — Ela sorriu fraco, nostálgica, porém não demorou para o sorriso sumir. — Um deles não estava com os outros. Já havia anoitecido, era para eles estarem todos juntos. Comecei a procurar pelo jardim. Minha mãe veio me chamar para entrar, mas eu insisti em ir atrás dele. Eu entrei em um dos labirintos do jardim para procurar, ela veio atrás de mim… E então…
Ela fez uma longa pausa, mais uma vez olhando para o teto.
— Ele a atacou primeiro. Eu tentei fugir, corri e gritei chamando o meu irmão, mas… Ele me alcançou.
— Ah, Hadria… Eu… — Sirius não sabia o que dizer. Um "sinto muito" não parecia o bastante, e também tinha certeza de que ela já devia estar cansada de ouvir.
Ele sentiu o mesmo embrulho no estômago de quando Remus contou sobre o dia do seu ataque no segundo ano, depois que descobriram sobre sua licantropia. Ela falava com a mesma dor em sua voz, como se revivesse aquele momento; a mesma expressão de quem estava se contendo para não cair em lágrimas pela lembrança que ele tinha toda vez que mencionava o ocorrido.
— Usei meu medalhão de prata para queimar ele e fugir, foi quando Lucius me encontrou e o espantou. Conseguiram curar meus ferimentos, mas minha mãe… — ela prosseguiu. — Lucius sempre disse que foi culpa minha. Que se eu não tivesse saído, não tivesse insistido em ir atrás daquele maldito pavão, nossa mãe ainda estaria viva.
— Não foi culpa sua.
— Demorei muito tempo para aceitar isso…
— Me surpreende que ele também não tenha jogado a culpa nos pavões. Ele ainda os têm.
— Porque meu pai só os comprou porque ela amava pavões, quando eles ainda eram noivos. Os pavões são símbolo dos Selwyn, a família dela. Ele fazia absolutamente qualquer coisa por ela. Entre as famílias puro-sangue dos Sagrados 28 a maioria das relações são muito políticas e pautadas em manter a pureza, mas os meus pais… Eu sei que eles realmente se amavam, do jeito deles, e foi conveniente para suas famílias.
— Meus pais só se casaram para manter a pureza de sangue e tinham mais amantes do que membros na nossa árvore genealógica, e olha que ela é enorme, então… Não é algo que exatamente vou entender.
— Eu sei. Acho que por isso minha mãe gostava tanto da Narcisa. Provavelmente a única pessoa que Lucius amava quase tanto quanto a si mesmo e nosso nome… E ela, claro. Lucius a idolatrava quase tanto quanto nosso pai.
Sirius resgatou em sua mente as memórias que tinha de Elmeera Malfoy. Ela não era muito diferente de sua tia Druella ou até de sua mãe, ao que parecia. Talvez mais próxima de ser como Druella que Walburga, igualmente supremacista e arrogante, mas ainda não tão fanática e psicótica.
Já houve uma época em que ele talvez pudesse dizer que amava sua mãe e faria de tudo para dar orgulho a ela. Não durou muito após perceber que nada do que ela fazia era realmente para o seu bem, que aquilo não era um amor recíproco.
— Minha vida se tornou um inferno depois que ela se foi, principalmente em casa. Apenas Hogwarts me trazia um pouco de paz.
— Eu sei bem o que é isso — Sirius admitiu. Era o que ele sentia durante toda sua adolescência até fugir de casa. — Mas um lobisomem não apareceria do nada na propriedade dos Malfoy, apareceria?
— Ah, não. Não foi um simples acidente.
Ela afagou o braço, como se sentisse um grande desconforto. Então, ergueu a manga de sua blusa preta até acima do cotovelo, estendendo o braço. Entre as muitas cicatrizes de arranhões e marcas de correntes que marcavam a pele pálida, uma familiar se destacava.
Uma grande marca de dentes de uma mordida, uma cicatriz muito antiga, exatamente como a que Remus também carregava no braço.
— Foi o Greyback quem me mordeu.
— Porra…
— Minha mãe e eu pagamos pelos erros do meu irmão. Nem ele nem Voldemort estavam felizes com o Lucius — explicou. — Nunca soube o que ele fez, mas esse foi o preço. Atacaram onde mais doeria. O amor por nossa mãe… E a honra da família.
— Espero que alguém já tenha estraçalhado esse lobo filho da puta.
— Infelizmente, acho difícil. Mas não custa nada ter esperança. — Ela deu de ombros. — Minha primeira transformação foi em Hogwarts. Karina descobriu na manhã seguinte quando foi visitar o Remus na ala hospitalar.
— Ah… O dia que o Remus gritou conosco e nos expulsou da Casa dos Gritos.
— É, eu ouvi tudo. Fiz ele prometer que não contaria para vocês.
— Ele realmente cumpriu… Mas, sabe… Nós estávamos ajudando ele. Quando viramos animagos. Você poderia vir conosco se soubéssemos.
— Remus sugeriu isso na época, mas… Bom, meu pai foi bem específico quanto a me manter na linha. Ser o que sou já era uma vergonha, então era meu dever não decepcioná-los ainda mais e honrar o legado que eu já estava manchando. — Ela olhou para Sirius novamente com um pequeno sorriso forçado. — Pessoas demais já estavam sabendo. Eu tinha na minha cabeça que deveria seguir o que diziam, tive medo que ficassem ainda mais bravos comigo se descobrissem. E-eu… Eu precisava ser o que se esperava de um Malfoy. Isso acho que você consegue entender.
Sirius comprimiu os lábios e desviou o olhar. Sim, ele entendia muito bem. Isso talvez fosse algo compartilhado por sua família e todos os seus amigos supremacistas. Criar seus filhos para serem bonecos que seguiam o que ordenassem, para proteger um nome e um legado.
Agora, definitivamente, possuía um novo olhar sobre Hadria.
— Assim como meu irmão, eu deveria honrar o futuro dos Malfoy. Sem desvios… — ela riu baixo. — Olha onde estou agora.
— Me desculpe.
— Pelo quê? — Ela franziu o cenho.
— Eu te achava uma insuportável como seu irmão. Sempre te vi apenas como mais uma que era igual aos pais supremacistas, como Bellatrix e Narcisa, como seu irmão… Acho que eu devia ter confiado mais no julgamento do Remus e Karina e tentado ver além disso.
— Não precisa pedir desculpas. Eu entendo. Como falei, somos adultos agora, podemos deixar isso de lado. Eu também não era exatamente um doce com você… Embora você realmente não fosse nada agradável quando estava com Potter.
Sirius suspirou. Ela estendeu a mão para ele.
— Que tal amigos agora?
— Acho um pouco cedo para isso.
— Conhecidos que compartilham uma triste história de vida?
Sirius encarou-a de cenho franzido, refletindo por alguns instantes. Hesitante, ele segurou a mão dela.
— Certo, podemos parar de falar de mim, por enquanto. Quer desabafar um pouco?
Ele soltou a mão dela e respirou fundo, pensando sobre sua manhã agitada e toda aquela confusão.
— Você acha que Killian está certo?
— Ele só está na fase de negação e raiva. Está descontando a própria culpa por não estar aqui em você.
— Mas eu realmente não salvei ela… Nem James e Lily… Nem Regulus…
Hadria comprimiu os lábios e desviou o olhar. Ela ficou em silêncio por alguns segundos, unindo as mãos uma à outra sobre seu colo. Sua expressão era quase indecifrável.
— Karina sabia que não haveria chance quando escolheu ir até Voldemort. Não podíamos fazer nada.
— Se eu tivesse chegado mais cedo…
— Eu entendo sua culpa, Sirius. Pensei exatamente a mesma coisa por muito tempo… Nós dois tentamos, mas não é nossa culpa não termos conseguido.
— Você estava lá, não estava? — Sirius perguntou. Ele havia feito a mesma pergunta anos atrás no funeral, mas dessa vez não havia raiva em sua voz, apenas tristeza e compreensão.
— Na hora exata que ela morreu? Não. Eu não estava mentindo quando disse isso.
— Mas viu ela.
— Eu corri para lá quando soube. Vai acreditar se eu disser que ela me pediu para não fazer nada?
— A essa altura do campeonato… Não duvido.
— Ótimo, porque foi exatamente o que ela disse. Obviamente, eu não quis ouvir… Não que tenha adiantado. Evan me tirou de lá e me trancou no quarto sem minha varinha com um feitiço anti aparatação, e Barty ficou de guarda na porta com ele. E digamos que o estresse também não me fez muito bem, então… Eu realmente estava mal no velório, tanto emocional quanto fisicamente.
— Acho que por isso eu realmente devo pedir desculpas.
— Aceito suas desculpas. Cara… Eu realmente estava quase desmaiando de dor naquele dia.
— Estava?
— Imagine algo como ter um dragão se revirando dentro de você enquanto esmaga e queima seus órgãos.
— Parece terrível — Sirius fez uma careta.
— E ainda aguentei mais três meses e meio.
— Queria poder me desculpar com o Reggie… — Sirius admitiu.
Mais uma vez, Hadria evitou encarar Sirius por alguns instantes.
— Realmente queria? — ela perguntou num tom mais baixo.
— Eu sei que exagerei um pouco.
— Disse que ele estava morto pra você.
— E agora ele realmente está. As palavras são poderosas. — Sirius suspirou e apoiou o queixo sobre os joelhos, voltando o olhar para a parede à sua frente. — Eu só… Estava com muita raiva. Talvez ainda esteja. Mas ele era meu irmão… Eu devia ter me esforçado mais.
— Ele pediu ajuda.
— Como falei, estava com raiva… E me pareceu muito tarde para isso. Talvez realmente fosse.
Sirius fez uma longa pausa e fechou os olhos, lembrando-se do olhar de dor e desespero do irmão na última vez que o viu, o quanto estava perdido e ele não se permitiu ver.
— Também era verdade que você não sabe se foi ele?
— Sim, era. Eu resolvi largar tudo naquele momento, e ele também. Sendo ele quem matou ou não, ele sentiu e se arrependeu.
— Eu sinto falta dele.
— Sente?
— Acho que sinto desde o dia que ele me mostrou aquela maldita marca… — confessou e mais lágrimas escorreram por seu rosto. — Eu nunca consigo fazer algo certo. Porra… Meu próprio filho não confia em mim!
— Nem tudo está no seu controle.
— Eu… E-eu… Eu só queria minha vida de volta, que tudo fosse diferente. Tudo deu errado, e mesmo fora de Azkaban, tudo continua dando errado e eu não posso fazer nada. Remus está arriscando a vida dele por mim! Querem mandar os meus filhos para Azkaban por minha causa! E eu… Eu só estou aqui escondido como um covarde.
Sirius desabou novamente. Ele enterrou o rosto no travesseiro e chorou. Sequer saber de onde ainda conseguia tirar lágrimas após o grande rio que saiu de seus olhos durante todo o dia.
Ele sentiu uma mão afagando suas costas, mas não deu importância. Hadria não disse nada, apenas ficou ali e deixou Sirius chorar, estando ali.
Ele abraçava o travesseiro com força, querendo que fosse Remus ali, ao mesmo tempo que não queria que ele o visse tão quebrado. Sirius estava quebrado. Destruído em vários pedacinhos que nem aqueles meses de relativa paz, apesar dos percalços, foi capaz de reconstruir.
Era lua por lua, de fato. Porém, ninguém sabia quantas luas seriam necessárias para ele estar inteiro outra vez.
Se algum dia estaria inteiro novamente.
— Eu sei que não posso dizer nada que vá apagar tudo que está sentindo, não é algo fácil de superar. A culpa por todas as tragédias, o sentimento de impotência… — Hadria enfim falou, após longos minutos. — Mas posso te dizer que há muito mais pessoas ao seu lado do que imagina, Sirius. Estamos aqui para ajudar.
— Por que você me ajudaria?
— Porque eu sei muito bem como é estar destruída depois de tudo que vivemos e precisar de ajuda para seguir em frente. E posso prometer que Mary fará de tudo para salvar seus filhos dessa armadilha do Ministério, e nós vamos dar um jeito de provar a todos que você é inocente.
Sirius ergueu o rosto encharcado pelas lágrimas.
— Acha mesmo que algum dia o Ministério vai me deixar em paz? Deixar a minha família em paz?
— Ah, eles vão. E eles vão ter que ouvir bastante sobre o quanto estão errados. — Ela sorriu fraco. — Enquanto isso, está tudo bem chorar. Não é bom ficar guardando tudo.
Sirius continuou chorando por um tempo, até secar seu rosto e fungar, olhando para a mulher ao lado.
— Obrigado — sussurrou.
— Não precisa agradecer.
Sirius respirou fundo, tentando se recompor.
— E então… Você e Mary.
— Voltamos a falar de mim?
— Eu fiquei doze anos preso, não tem muito o que falar de mim e não entendo como é possível vocês estarem juntas.
— Muitos anos reconstruindo minha vida até chegar a isso. Nós trocamos algumas cartas depois da guerra, mas começamos a nos aproximar de verdade quando decidi me mudar para a Austrália para um estágio quando estava me tormando magizoologista. Ela estava vivendo lá desde que tudo acabou por aqui. Saímos algumas vezes, começamos a dividir um apartamento, depois… Já estávamos nos casando.
— E agora vão ter um bebê.
— Nosso segundo bebê, na verdade. Já temos uma filha de quatro anos, a Amy. E pretendo que a relação de irmãos dos meus filhos seja bem melhor do que as nossas foram.
— Me orgulho de muitas coisas sobre meus filhos… A união deles com certeza é uma delas. Onde está sua filha?
— Na casa dos padrinhos dela. Estávamos lá com a Yvaine, até ela sentir que o marido estava em perigo por causa do elo de conexão na aliança de casamento. Eu imaginei que alguma coisa havia dado muito errado na visita do Killian ao Remus.
— Eu… Não consigo me lembrar o que aconteceu no cemitério, não com detalhes pelo menos. Estava meio… Fora de órbita.
— Eu entendo. Isso acontecia muito comigo. Não consigo nem lembrar de muitas coisas que aconteceram durante a guerra, na verdade. Tudo parece um sonho distante.
É assim que Sirius se sentia sobre toda a sua vida, como se tudo fosse um grande sonho, ou pesadelo a depender do momento. Uma grande confusão de acontecimentos que ele sequer conseguia pensar como exatamente começou, apenas de quando já estava tudo desmoronando.
— Remus não usou as garras também, usou? Lembro vagamente de ver você usar.
— Você sabe que ele não gosta, acho que isso não mudou… Mas talvez tenha chegado bem perto.
— Ah… — Sim, Sirius sabia que ele não gostava. — Você disse que é magizoologista?
— Sim. — Hadria sorriu largo. — Especialista em dragões, principalmente, mas tenho muitas outras criaturas. Costumo trabalhar na Romênia durante o verão.
— Não sei porquê estou surpreso.
— E Mary é advogada, tanto no mundo trouxa quanto no bruxo. Ela será a advogada dos seus filhos e a sua também.
— Minha?
— Eu disse que faríamos de tudo para provar ao Ministério que você não fez nada. Ela vai entrar com um processo de revisão de sentença.
Sirius estava seriamente surpreso com isso, mas ainda sentiu uma faísca em seu coração. Era bom saber que tinha mais pessoas ao seu lado, que acreditavam em sua inocência.
Não seria fácil provar, mas nada parecia fácil. Nem mesmo fugir de Azkaban foi fácil. Ele nadou por dois dias para chegar à costa.
As esperanças não eram grandes, mas ainda estavam ali. Ele só esperava que ninguém fosse ainda mais prejudicado por sua causa. Já bastava toda a perseguição com seus filhos. Não suportava pensar em como aqueles malditos aurores e outros no Ministério estavam dispostos a usar duas crianças só para capturá-lo.
Se fosse preciso, Sirius preferia se deixar ser capturado outra vez a permitir que seus filhos coloquem um único pé em Azkaban ou continuem sofrendo aquela perseguição do Ministério.
— Como vocês ficaram sabendo sobre a audiência?
— Contatos. — Hadria deu de ombros. — Além de que isso saiu no Profeta Diário. Posso usar seu banheiro? Estou me sentindo muito enjoada.
— Claro.
A mulher ficou de pé e apoiou-se na cômoda, um pouco tonta, antes de seguir até o banheiro. Sirius fez uma careta ao ouvir ela vomitar, sentindo um pequeno déjà vu de quando ouvia Karina com enjoos pela manhã quando estava grávida.
Quando ela voltou, deitou-se na cama com ambas as mãos na barriga.
— Espero que façam bastante comida para esse jantar.
— Fique deitada. Ajudava a Karina com os enjôos.
— Oh, está preocupado. Estamos evoluindo.
— Apenas uma dica. Não somos melhores amigos nem nada.
Ela riu, e Sirius também deitou-se, ao lado dela.
Mais tarde, Remus adentrou o quarto junto de Mary. Sirius logo sentou-se e segurou a mão dele, enquanto ele levava outra a seu rosto.
— Como você está?
— Melhor — respondeu. Não estava bem, mas estava melhor que antes. — Tive uma longa conversa com minha ex-quase-cunhada.
— Fico feliz que não tenham duelado ou tentado matar um ao outro.
— Sirius até que é legal quando quer — Hadria comentou, ainda deitada.
— Ainda posso lançar um feitiço em você.
— Ei! Eu estou grávida!
— Muito bom que estejam se entendendo. Vamos jantar — Mary falou e segurou as mãos da esposa, puxando-a delicadamente para se sentar. — Muito enjoada?
— Sempre estou — lamentou Hadria.
— Acho que devo os parabéns a vocês.
— Não até ele ou ela nascer e completar no mínimo cinco anos.
— Obrigada, Remmy. Ignore ela, os hormônios a deixam mais pessimista do que já é normalmente.
Hadria ficou de pé apoiando-se na esposa e não a soltou.
— Vamos jantar, tudo bem? — Remus disse.
Sirius assentiu com a cabeça e ficou de pé também, apoiado em Remus. Eles saíram do quarto e seguiram até a sala de jantar, que já estava posta com muito mais comida que o normal. Sentaram-se juntos um ao lado do outro, de frente às duas mulheres.
Killian e Yvaine estavam ao lado delas, ele com uma expressão não muito feliz, mas visivelmente mais calmo, os olhos vermelhos denunciando as lágrimas derramadas. Ele encarou Sirius por alguns instantes, mas não disse nada.
Hadria e Yvaine serviram-se de grandes porções de carne. Sirius somente então deixou-se perceber o quão faminto estava, pois não havia almoçado naquele dia.
— Certo, então. Sirius, não se preocupe, Killian não fará nada — Mary começou a falar. — Conseguimos acalmá-lo e fazê-lo entender minimamente as escolhas da irmã e que jogar a responsabilidade em você é tolice.
— Tolice foram as escolhas delas.
— Killian. — Yvaine lançou-lhe um olhar sério, e ele suspirou.
— O principal ponto para conversarmos será o meu trabalho de advogada. Nosso primeiro foco será a audiência dos seus filhos no fim do mês — Mary prosseguiu. — Já estou a par da situação e Remus me deu mais alguns detalhes. Está claro o objetivo do Ministério, por isso meu primeiro pedido é, não faça nada.
— O quê? — Sirius franziu o cenho.
— Eu te conheço, Sirius. Eu sei que com certeza está preocupado com seus filhos, mas precisamos de cuidado. Você não pode fazer algo por impulso.
Sirius encolheu os ombros.
— Não pretendia vir falar com vocês até ter todo um caso montado, mas já que surgiu a oportunidade, vamos ao que temos. É bastante claro que o Ministério pretendo usá-los para te atrair, mas ainda não sabemos exatamente como. Estou esperando informações da Tonks.
— A Tonks?
— Estou usando todos os meios que posso, inclusive informações privilegiadas de alguém de dentro. Ela vai informar tudo que conseguir descobrir.
— Existe uma brecha na lei que permite o uso de magia por menores e na frente de trouxas em casos de emergência — Remus comentou.
— Essa será uma dos meus principais argumentos, mas não será o bastante porque não foi apenas o uso de magia, mas como ela foi direcionada aos trouxas e como ainda usaram das próprias mãos para atacá-los. Vão alegar a ida de um deles para o St. Mungus, com certeza.
— Ela me disse que eu vou depor.
— Eu quero ir também. Posso usar polissuco.
— Eles estão se preparando para o caso de você invadir a audiência, Black — Killian retrucou. — A segurança deles estará muito mais forte. Eles não estão de brincadeira.
— Já enganei eles uma vez.
— Enganar os aurores na sua casa é uma coisa, entrar no Ministério disfarçado é completamente diferente — Mary falou. — A fiscalização das visitas já é bastante controlada. Nesse dia estará muito pior.
— Não vou deixar meus filhos sozinhos.
— Eu posso tentar ver se encontro um jeito de facilitar sua entrada, mas ainda será muito arriscado. Por enquanto, vamos contar com o depoimento do Remus.
— Harry estava lá também, ele pode depor.
— Remus mencionou, com certeza ele vai depor. O nome dele é importante, pode ajudar. Como falei, ainda estou montando o caso e vocês talvez possam me ajudar. Algum deles usou um estuporante, isso certamente vai ter um grande peso e precisamos de uma boa justificativa para isso.
— Foi o Canis — Remus disse. — Ele… Ele estava tentando se defender, não tem muito o que dizer. Quando ele está com medo, essa é a forma dele de se proteger.
— Infelizmente, talvez não seja o bastante.
— Dizer que ele quase lançou um Cruciatus em mim em Hogwarts não ajudaria, não é?
Sirius comeu em silêncio após essa frase, lembrando-se daqueles momentos. Como o filho estava com tanto medo e raiva dele. Antes dos outros chegarem na Casa dos Gritos, ele o prendeu com um feitiço justamente porque ele estava tão descontrolado que os feitiços saíam quase naturalmente, alguns sem que ele sequer erguesse a varinha.
Pensou em si próprio mais cedo, tão descontrolado que a magia simplesmente explodia sem seu controle. Porém, ainda foi diferente, apesar de semelhante. A de Canis era muito mais direta a razão de seu descontrole e autodefensiva, enquanto a sua era caótica e destruiu tudo ao redor.
— Você não mencionou isso, Remus.
— Como eu falei… Reação dele ao medo… E a raiva também. — Remus encolheu os ombros abaixando o olhar. — Ele ainda não sabia que Sirius era inocente e o ano deles foi horrível, então… Na verdade, mesmo entendendo o que ele sentia, ainda fico surpreso que ele tenha quase usado uma Maldição Imperdoável. E também houve o porão há um tempo, Sirius ficou sufocado… Foi total descontrole. Ele tinha acabado de encontrar um bicho papão que tinha tomado a forma do…
Remus fez uma pausa e olhou para Sirius. Black comprimiu os lábios com força, tentando não voltar a chorar. Lupin segurou sua mão.
— Ele ainda está se adaptando à volta de Sirius, não está sendo fácil. Sirius entrou lá logo depois, e ele… Ele é só uma criança que estava apavorado e cansado. Therion também ficou bastante abalado na aula sobre bichos-papões e nem conseguiu usar o feitiço. Foi magia defensiva, ele até criou um escudo em volta dele. Ele sempre fazia isso inconscientemente quando era pequeno e estava assustado.
— Está me dizendo que ele é o bicho-papão dos meus sobrinhos e continua aqui?! — Killian indagou exaltado.
— O medo e os bicho-papões são muito mais complexos do que você pensa, Killian — Hadria interviu.
— Eles cresceram ouvindo coisas horríveis sobre o Sirius, sentiram falta dele por doze anos. Não é tão simples, Killian. O do Therion, inclusive, mudou.
— Eu nunca faria mal ao meu filho, e você não faz ideia de como é saber que ele sente medo de mim — Sirius decidiu falar com a voz dolorida. — Eu amo eles mais que tudo.
Um clima tenso instalou-se na mesa. Yvaine afagou as costas do marido, enquanto Remus apertava a mão de Sirius para confortá-lo.
— Entendo que deve ser difícil, Sirius — Mary falou compreensiva. — Mas, me diga… Ele falou propriamente algum feitiço ou…
— Não. Eu só senti de repente a garganta seca e não consegui mais respirar quando ele disse que não queria me ouvir e que queria que eu fosse embora, que queria o Remus… E aí veio o escudo.
— Foi mais ou menos como você deixou o quarto daquele jeito — Hadria falou. Sirius assentiu. — Magia está ligada às emoções. Meu pai sempre tentou ensinar a mim e ao Lucius a controlar as nossas para evitar explosões mágicas… "Um Malfoy emotivo é como uma bomba", ele dizia. Meu irmão destruiu toda nossa sala de estar com a morte da nossa mãe.
— Meu filho não é como seu irmão — Remus disse num tom mais frio e firme.
— O que quero dizer, é que já temos uma opção de defesa aí.
— Magia involuntária — Sirius murmurou, compreendendo o raciocínio. — Alegar que ele teve uma explosão de magia por como a situação o abalou.
— Remus, existe algum outro momento que não envolva o Sirius que mostre que os gêmeos tenham uma magia, digamos… Muito instável?
— Eles sempre foram instáveis com magia, mas eu os ensinei a controlar. Eles estão indo bem... Na maior parte do tempo, pelo menos. E nunca houve nada nesse nível antes.
— Mas ainda pode alegar que eles sempre foram suscetíveis a magias involuntárias, não pode? — Mary perguntou.
— Poderia, mas...
— Ele disse que não percebeu quando lançou o estuporante neles. Não é uma mentira. Realmente foi só… Uma explosão — Sirius falou.
— Então vamos dizer que nossos filhos não possuem nenhum controle sobre a própria magia? — Remus encarou Sirius. — Isso pode só piorar as coisas!
— Ou pode dar certo...
— Não diremos total descontrole, apenas que situações de estresse provocam magia com mais facilidade que em outros bruxos. Isso pode acontecer.
E com isso posso dizer que tirá-los de Hogwarts apenas os impediria de aprender a controlar melhor sua magia. Esse é o objetivo de Hogwarts. Entende?
Remus ainda não parecia gostar tanto da ideia, mas acabou assentindo.
— Olha… É um ótimo avanço. Okay, okay, isso é bom.
A mente de Mary parecia estar a todo vapor, trabalhando numa solução.
— Temos uma boa chance, mas ainda vamos precisar estar prontos para qualquer carta na manga que o Ministério possa ter. Por sorte, os garotos que atacaram eles não estarão na audiência, isso ajuda a colocar a narrativa a nosso favor.
— Nós nem sabemos como podemos agradecer por tudo que está fazendo, Mary — Remus falou.
— Não precisa agradecer, Remus. É o meu trabalho fazer com que a devida justiça seja feita, e aqueles meninos não merecem o destino que o Ministério quer dar a eles.
— Eu não diria que o Ministério Francês é um grande exemplo de honestidade, mas… — Yvaine começou a falar.
— Yvaine!
— Você sabe que não, Killian. Mas… O britânico é uma grande bagunça.
— Nós realmente temos muito o que melhorar — Mary concordou. — Já estaremos fazendo nossa parte provando o quanto o sistema de justiça na guerra foi extremamente falho. O seu caso será um pouco mais complicado, Sirius, por isso vamos devagar. Já falamos com alguns amigos da Hadria de comunidades de lobisomem para ficarem atentos caso avistem Peter. Ele provavelmente vai se esconder em áreas mais afastadas agora.
— O que ainda não entendi é… Como você ficou sabendo de tantas coisas antes de sequer falar conosco? — Remus perguntou desconfiado.
— Contatos. Ah, e falei com Dumbledore também. Ele me disse tudo o que Sirius contou sobre Peter. E no dia que eu conseguir uma audiência de verdade para o Sirius, ele estará do nosso lado. Ele sabe que o depoimento dele dizendo que o Sirius era o Fiel do Segredo de James e Lily ajudou na condenação e quer se redimir por isso.
— Mary quer até chamar a Minerva para depor ao seu favor — Hadria falou com animação. — Eu nunca vi ela trabalhar tanto para um caso, mal consegue dormir.
— Minerva é a Diretora da Grifinória e Vice-diretora de Hogwarts, ela conhecia Sirius… Quanto mais pessoas puderem atestar que ele é uma boa pessoa, melhor será. Mas primeiro, preciso conseguir uma audiência e não será fácil. O Ministério não volta atrás em decisões, por isso não posso prometer que isso acontecerá tão cedo.
— Acho que já estou acostumado com a espera. — Sirius deu de ombros.
— Mas eu vou conseguir, okay? Eu vou fazer de tudo para isso. Até lá… Seja discreto.
— Serei.
— Vamos conversar mais até a audiência. Vou tentar dar um jeito de visitar Hogwarts para falar com os garotos. Infelizmente, as visitas a Hogsmeade só começam em outubro, então não posso usar isso.
— Se você conversar com Dumbledore, ele deve permitir, não? Se ele está ajudando…
— Já irei cuidar disso. Espero que eles ao menos se mantenham na linha até a audiência, criar um caos nível Marotos em Hogwarts não vai ajudar na imagem deles.
— Eles receberam uma detenção no primeiro dia de aula por irritar o novo professor de História da Magia e se meterem em uma briga com o Draco… — Remus comentou comprimindo os lábios.
— Normal. Louise recebeu uma na primeira semana no primeiro ano em Beuxbatons — Yvaine falou dando de ombros e levando um grande pedaço de carne à boca.
— Eu vi o Draco usando o medalhão da família no velório do meu pai. Se ele ouviu o mesmo que ouvi quando o recebeu, tenho suspeitas de como acabaram brigando — Hadria comentou com um suspiro.
— Eu fui professor dele, então… É, seu irmão criou bem ele para ser um Malfoy. Ele nunca se deu muito bem com os meninos, mas… Não acho que seja um garoto ruim. Ele ajudou Sirius a fugir, nos alertou sobre a batida depois de ouvir o Ministro comentar com Lucius no Ministério, ajudou o Canis durante o ataque na Copa… Ele só tem o azar de conviver naquela família, assim como você era.
— Eu imagino… Lucius lutou muito para ter um filho que fosse o único grande herdeiro Malfoy, não é difícil prever como ele o criaria.
— Narcisa também não deve ter ensinado muitas gentilezas a ele — Sirius murmurou.
— Todas as famílias bruxas britânicas são terríveis assim ou apenas tive o azar de só conhecer membros das piores?
— As supremacistas, são. — Sirius continuou a comer, mas olhou curioso para a mulher. — Desculpa perguntar, mas é impressão minha ou você tem…
Sirius abriu a boca e indicou os dentes caninos, também usando os indicadores para insinuar presas. Yvaine riu e sorriu largo, exibindo seus dentes caninos grandes e bem afiados.
— Sim, eu tenho. São lindas, não é?
— Isso não é algo da sua conta, Black — Killian resmungou.
— Ah, tudo bem, mon amour. Ele não deve conhecer muitos licantropos com presas — Yvaine disse de modo descontraído. — Alguns de nós tem presas na forma humana também além das garras. Toda a minha família tem.
— Toda a sua família…?
— Meu pai, minha mãe, meus irmãos, meus avós…
— Toda a sua família tem licantropia? — Remus questionou surpreso.
— Sim.
— Você já nasceu com licantropia…
— Quarta geração da família. Não sei bem a lógica para alguns terem presas e outros não, meu pai já nasceu e tem, minha mãe foi mordida e também tem, a mãe dela, minha avó, também foi mordida e não tem, você e Hadria não tem… Só sei que a maioria são os nascidos licantropos e existem exceções como a minha mãe.
— Eu tinha uma amiga que nasceu com licantropia que conheci durante a guerra, que vivia numa comunidade. Ela tinha presas também.
— Eu cresci em uma comunidade de lobisomens. Foi como conheci o Killian. Ele foi um dos bruxos voluntários que nos ajudava. Entrou no Ministério trabalhando na campanha de preservação das comunidades da França! Graças a ele conseguimos leis de proteção equiparadas às veelas.
— Foi um trabalho de muitas pessoas, ma lune.
— Muito seu também!
Killian olhou então para seu prato, parecendo repentinamente muito interessado em seu jantar.
— Um dos projetos de Cooperação Internacional dele é conseguir levar leis de proteção para outros países. Está tendo sucesso em alguns… Aqui na Inglaterra acho que nem tanto.
— Eles criam cada vez mais leis que nos impedem de arranjar um bom emprego, então não acho que isso vai mudar tão cedo por aqui… Mas é um feito realmente incrível, Killian — Remus disse.
Killian não disse nada, mas ergueu o rosto de seu prato. O clima em relação a ele ainda estava um tanto tenso, mas ele realmente parecia menos nervoso que mais cedo.
— Vocês… Vão continuar aqui até quando?
— Killian vai voltar para a França amanhã. Levamos a Louise hoje até a chave de portal para a escola, e ele precisa voltar para o trabalho. Mas eu vou curtir umas boas férias por aqui — Yvaine comentou.
— Nós duas vamos voltar a morar por aqui por um bom tempo — Hadria disse referindo-se a si e Mary. — Vou precisar ir para a Romênia em novembro, mas voltarei logo.
— Eu voltarei para a audiência — Killian falou, firme. — E nenhum de vocês irá impedir de ir e conhecer meus sobrinhos.
— Eu não pensava em impedir — Remus rebateu rapidamente. — Só… Tenha cautela. Vai ser um momento delicado para eles.
— Eu sei. Terei.
As conversas seguintes foram um pouco mais desconexas. Mary voltaria a falar sobre a audiência futuramente, quando fosse preparar Remus para depor e caso recebesse informações relevantes sobre o que mais o Ministério planejava. Ela e Hadria começaram a falar mais de sua vida nos últimos anos.
Killian comentou pouco sobre a sua, mas Yvaine estava bastante imersa na conversa e falou sobre a comunidade em que cresceu na França. Foi quase um momento comum e pacífico.
Sirius não interagiu muito, deixando isso para Remus. Em outros tempos, seria o completo oposto, afinal, Black sempre foi o mais extrovertido e comunicativo. Porém, naquele momento, ele não estava com muito ânimo para isso.
Mary e Hadria escolheram ficar mais um pouco, para falar mais com Remus. Killian e Yvaine decidiram ir embora, porém, antes Sirius optou por fazer algo que talvez apenas o deixasse caindo em prantos novamente.
Ele chamou Killian para conversar no escritório de Karina. Remus obviamente pareceu preocupado com a ideia, mas não os seguiu quando Sirius o encarou no fundo dos olhos e implorou por isso.
Ele precisava fazer isso.
O escritório ainda estava uma bagunça. Sirius começou a recolher os livros um por um e colocá-los de volta no lugar.
— O que você quer, Black?
— Ela passava a maior parte do tempo aqui — foi a primeira coisa que Sirius murmurou, os ombros encolhidos, enquanto guardava os livros no lugar.
Killian ficou em silêncio, encarando-o seriamente, como se ainda quisesse chamar os aurores a qualquer segundo.
— Trabalhando, pesquisando… — continuou. — Alguns livros estão faltando porque os meninos levaram para ler em Hogwarts, mas são todos dela. Ela entrava de cabeça em todos eles procurando um jeito de acabar com a guerra.
— Eu não quero ouvir sobre como ela se meteu nessa história toda.
— Ela montou esse escritório com todos esses livros para lembrar do escritório da sua mãe em casa. Sentava aqui com aqueles óculos e passava horas inteiras. Eu vinha trazer algo para ela comer e ver como ela estava e sempre a encontrava lendo, claramente exausta, mas sem querer desistir. Algumas vezes ela até caía no sono aqui mesmo e eu a levava nos braços para o quarto.
Falar tudo aquilo era nostálgico para Sirius, ao mesmo tempo que doloroso. Era como se pudesse ver tudo acontecendo na sua frente mais uma vez. Estar ali era sempre como poder sentir-se próximo dela.
— Nossa mãe nos dava aulas no escritório para ajudar no dever de casa… E nos deixava ler algum livro enquanto ela trabalhava — Killian murmurou, sentindo um nó na garganta. — Passávamos a maior parte do dia lá quando não estávamos na escola.
— Ela me contou… Ela sentia falta de casa, mas não queria voltar até ter certeza que tudo tinha acabado e queríamos estar perto dos nossos amigos para criar nossos filhos.
Sirius respirou fundo.
— Ela fez muitas coisas, e eu com certeza não sei muitas delas. Ela entendia coisas que outros pareciam não entender, descobria coisas que não deveria… E isso custou caro… — E as lágrimas voltaram. — Eu queria ter salvo ela. Eu juro que queria.
— Eu realmente realmente não teria cabeça de ouvir desculpas agora. — Killian virou-se para ir embora.
— Eu amava a Karina! — Sirius exclamou e virou-se para Killian, e ele parou. — Você pode não acreditar, mas eu realmente amei ela.
— Eu sei mais do que imagina.
— E eu sei que não ter chegado a tempo sempre será uma das maiores dores da minha vida. Eu cheguei e ela já estava morta. Segurei ela, tentei todos os feitiços possíveis e nada adiantou.
— Por que fala tudo isso? — Killian virou-se novamente para Black.
— Porque eu preciso e vou explodir se não disser, e não quero isso — respondeu. — Eu queria poder mudar tudo o que aconteceu, mas não posso. Pode me culpar por não chegar a tempo para salvá-la, mas fiz de tudo para protegê-la e fazer ela feliz.
Sirius fechou os olhos com força e respirou fundo, procurando forças para continuar a falar.
— E sei que não é por mim nem por entender que você não vai chamar os aurores agora.
— Nisso você está totalmente certo.
— Mas agradeço por isso. E saiba que… Ela sentia sua falta. — Abriu os olhos outra vez. — Ela ainda tinha esperança que você voltaria.
— Ela podia ter me dito isso.
— Alguns desentendimentos entre irmãos são mais difíceis do que parecem… Ela sentia sua falta, mas também estava magoada por você não ter ficado.
— Eu preferia poupar minha vida e sanidade. E se ela não tivesse preferido ficar com você…
— Eu nunca pedi que ela fizesse isso, e ela com certeza não ficou por mim. Ela quis ficar — Sirius o interrompeu rapidamente. — Ela escolheu lutar, e eu não poderia impedi-la. Karina… Ninguém conseguiria pará-la.
— Claro que não…
Killian suspirou. Ele olhou ao redor do escritório e começou a caminhar por ele, aproximando-se da escrivaninha e das estantes de livros que rodeavam quase toda a sala.
Sirius voltou a guardar os livros no lugar. Ele viu o homem pegar um dos que ele acabara de colocar na prateleira, um brilho diferente em seus olhos. Era um livro antigo escrito em irlandês.
— Ainda estava com ela…
— Esse livro?
— Era da minha mãe. Ela lia para nós antes de dormirmos — explicou. — São contos infantis que já estão na família há gerações. Eu narrei todos para Louise. Tem até um parecido com algo que vimos num livro de contos bruxos…
— Algumas de nossas histórias se misturaram com o tempo.
Killian folheou o livro e então franziu o cenho de repente. Tirou dali um envelope endereçado a ele entre as páginas, quase como Sirius havia escondido o pedaço de pergaminho para Remus em Hogwarts. Uma carta.
— O que é isso?
— Parece uma carta… Mas não sabia que estava aí — Sirius disse, confuso.
Killian abriu a carta e começou a ler, em silêncio. Ele escorou-se na escrivaninha. À medida que lia, em total silêncio, as lágrimas surgiam e começavam a cair.
Sirius estava curioso, muito curioso, mas não perguntou nada.
Killian desabou em lágrimas, suas mãos tremendo. Um soluço alto escapou de sua garganta. Quando terminou de ler, deixou a carta sobre a escrivaninha e comprimiu os lábios, inutilmente secando o rosto.
— Eu juro que não sabia que estava aí.
— E-ela… Ela sabia que eu voltaria e encontraria o livro. E-ela… — ele não conseguia formular as palavras. — Escreveu isso.
— Acho que ela não queria perder a chance de se despedir… — Sirius sussurrou, uma lágrima também escorrendo por seu rosto.
Claro que não. Ela fez questão de se despedir de todos, mesmo que não deixasse exatamente claro. Sirius percebeu apenas depois.
Ela não conseguia deixar de surpreender.
— Ainda estou com raiva de você.
— Eu sei…
— E não pedirei perdão pelo soco.
— Não esperava isso. Já estava esperando outro agora…
— Remus provavelmente enfiaria as garras dele no meu pescoço… E eu prometi a Yvaine que iria ouvir tudo que disserem e me acalmar.
— Remus nunca usa as garras.
— Pode ter certeza que ele quase usou enquanto quase quebrava minha traquéia.
— Sua esposa parecia ainda mais disposta a rasgar minha garganta.
— Ela é mesmo incrível… Karina gostaria de conhecê-la, e de conhecer a Louise.
— Mesmo magoado, você a chamou de Louise…
— O nome que escolhi para minha filha não é da sua conta.
Sirius comprimiu os lábios, guardando os livros restantes e respirando fundo.
— O nome do meio do Therion é Regulus — revelou. — Entendo porque escolheu Louise.
Killian não disse nada.
— Dizem que raiva é uma das fases do luto… Você só pôde vivê-lo agora, então… Por isso não espero que não tenha raiva — Sirius continuou. — Eu também tive… Foi o que me afastou ainda mais do meu irmão, e no fim… Falhei em salvá-lo também.
Killian cerrou os punhos, parecendo estar se contendo para não falar alguma coisa.
— Não falhou.
— Esse é um discurso que já ouvi muito e gosto de ouvir tanto quanto você de ouvir sobre a Karina.
— Seu irmão fez as escolhas dele.
— Sua irmã também… Embora não entendamos a maioria delas.
Killian fechou os olhos e levou as mãos ao rosto, escorando-se na escrivaninha. Sirius percebeu que ele estava tentando falhamente conter o choro e apenas continuou ali, como Hadria estava consigo mais cedo.
Talvez conversar com ela tenha sido parte da motivação para falar com Killian. Hadria esteve mais com Regulus nos últimos momentos, ele esteve com Karina.
Mas em todos os casos, Killian era o único que não pôde ter seu luto até então. Se Sirius ainda pensava e sofria… O que mais esperar dele?
— Eu sei que você está ouvindo, Ma lune.
Yvaine abriu a porta de repente. Ao ver o marido chorando, ela rapidamente foi até ele, e ele a abraçou com força.
Remus apareceu à porta receoso. Sirius não perdeu tempo em ir até ele e o abraçou tão forte quanto Killian o fez com a esposa. Ele beijou sua testa e acariciou seus cabelos do jeito que apenas ele sabia fazer.
— Está tudo bem? — perguntou.
Sirius respirou fundo e apenas assentiu com a cabeça, apertando os braços ao redor da cintura de Remus com ainda mais força.
— Vocês vão me deixar emotiva. Quero uma abraço também, amor — Hadria choramingou, atingida pelos hormônios.
Mary riu e lhe deu um beijo rápido nos lábios, então a abraçando também.
Killian não quis ficar mais tempo. Nem Remus nem Sirius fizeram questão de perguntar sobre a carta. Por mais curiosos que estivessem, era algo apenas deles. Killian era quem mais precisava saber o que havia ali, as últimas palavras da irmã para ele.
Não ficaria tudo bem e fácil de repente, mas foi um passo dado.
***
Sirius deveria estar acostumado a ficar sozinho após tantos anos solitário em sua cela em Azkaban, mas ele não estava.
Depois que começou a ficar escondido em sua casa com a presença constante dos filhos, do afilhado e de Remus, agora ele se encontrava sedento pela presença de alguém. Toda vez que ele ficava sozinho sua mente voltava para Azkaban, a sensação fria de solidão consumindo sua mente.
Remus estava trabalhando no momento, então Sirius estava sozinho mais uma vez. Ele já havia caminhado por todos os cômodos, tocado piano, até sua velha guitarra. Já havia vasculhado todos os armários e devorou alguns pacotes de biscoitos enquanto assistia televisão, leu um dos livros que ganhou de presente. Ainda faltavam algumas horas para Lupin retornar, mas ele não sabia mais o que fazer.
Isso acontecia todos os dias. Duas semanas haviam se passado desde que os garotos foram para Hogwarts e Sirius não poderia sentir-se mais solitário.
Até mesmo treinar seus feitiços sem varinha já havia feito, era até bom para extravasar.
Hadria e Mary ainda não voltaram para mais uma visita. Não havia mais nada que pudesse fazer além de esperar.
— Agora entendo porque você ficava tão ansiosa para sair de casa — ele murmurou sentado no chão em um canto do escritório.
Aquele era um de seus refúgios naquelas semanas. Apenas ficava ali encolhido no chão afundando em lembranças, falando como se Karina pudesse ouvir.
Agora a entendia bem. Quando ela estava grávida e foi obrigada a se afastar das missões da Ordem da Fênix e ficar escondida em casa para sua própria segurança, a todo momento ela implorava por algo para fazer. Por isso sempre ficava naquele escritório trabalhando, já que não poderia sair de casa. Sempre lendo e pesquisando sobre magias que seriam úteis na guerra.
Ela também detestava ficar sozinha, por isso sempre que ele precisava sair para missões Remus vinha fazer companhia a ela até que retornasse.
Claro que a presença de Remus também era para impedi-la de mais uma vez ter a ideia maluca de sair para se infiltrar numa reunião de Comensais grávida com uma barriga cada vez maior. Talvez fosse a principal razão para Sirius nunca mais tê-la deixado sozinha até os gêmeos nascerem.
E sentia-se muito mais tranquilo para sair sabendo que Lupin estava ali. Chegou um momento que ele estava praticamente morando ali com eles de tanto tempo que ficava.
— Estou sentindo falta dos meninos, tivemos tão pouco tempo… — continuou a falar. — Eles não vão voltar no Natal por causa do baile, mas vão na Páscoa. Pode ser bom, não é? Eles podem sentir falta de mim… Mesmo que um pouquinho.
Poderia ser um sonho muito ilusório, mas Sirius esperava que, mesmo no fundo, apenas um pouquinho, os filhos ficassem felizes em vê-lo no recesso. Esperava poder abraçar os dois com força. Abraçar Harry.
Antes que Sirius pudesse perceber, ele já estava chorando. De novo.
Não era a primeira vez, nem seria a última. É o que ele mais tem feito nos últimos treze anos. É o que tem feito nas últimas noites.
Ele sempre tinha pesadelos, mas desde que passou em frente a sua antiga casa não parava de se lembrar de tudo de ruim que passou ali. Todas as vezes que ouviu seus pais brigando. Todas as vezes que eles gritaram consigo. Todas as vezes que sua mãe usou maldições para castigá-lo. Todas as vezes que ele protegeu Regulus de ser castigado e assumiu toda a culpa por algo que ele tenha feito.
Ele tentou focar em lembranças boas, mesmo que fossem poucas, mas elas pareciam não existir. Mal conseguia se lembrar de seu Tio Alphard, o único conforto que ele tinha naquela família além do irmão, apenas da dor que sentiu quando ele morreu.
E claro, seu irmão. Pensou muito nele desde que decidiu contar mais aos gêmeos sobre, e depois do caos de duas semanas atrás, e não conseguia parar de se lembrar da última vez que o viu. O olhar de dor nos olhos dele ao ouvi-lo dizer que não o considerava mais seu irmão e que estava morto para si.
Sirius se arrependia de muitas coisas e essa era com certeza uma delas.
— Sirius?
Black foi tirado de seus pensamentos ao ouvir a voz de Remus. Não havia percebido o tempo passar.
Ele ficou de pé rapidamente e secou suas lágrimas, saindo do escritório. Encontrou Remus parado na entrada da cozinha de cenho franzido e olhar preocupado, temendo que tivesse saído de novo, e viu sua expressão suavizar imediatamente ao vê-lo e um leve sorriso surgir em seu rosto.
— Oi, Moony — cumprimentou e forçou um fraco sorriso, caminhando até ele e beijando seu rosto. — Como foi hoje?
— Oi, Pads. Desculpa a demora, eu… — Remus parou de falar assim que encarou Sirius, assumindo uma expressão preocupada. — Hey… Está tudo bem?
Lupin segurou o rosto do Black e acariciou a bochecha molhada pelas lágrimas, vendo mais uma escorrer lentamente dos olhos acinzentados.
— Senti sua falta… — Sirius sussurrou.
Ele abraçou Remus e enterrou o rosto em seu ombro e foi retribuído imediatamente.
Remus apertou-o com força por entre seus braços e levou uma das mãos até os cabelos escuros, começando a acariciá-lo. Não disse nada, pois não era preciso. Sabia que era disso que Sirius precisava, sentir que ele estava ali.
Lupin percebeu como a falta dos meninos estava afetando Sirius, como estava abalado desde o dia que o encontrou aos pés do túmulo de Karina. Estava muito mais cabisbaixo e carente. Muitas vezes quando voltava do trabalho o encontrava abatido como quem estivesse chorando. Já o encontrou chorando uma vez.
Isso partia seu coração, mas tudo o que poderia fazer no momento era estar ali por ele. Para Sirius, isso era o suficiente.
As mãos do Black que estavam na cintura de Lupin subiram para seu rosto, e ele fechou os olhos ao sentir a carícia ali, então unindo suas testa quando sentiu os braços dele rodeando seus ombros.
— Também senti sua falta hoje — sussurrou de volta para Sirius e abraçou sua cintura.
Sirius sorriu fraco.
— Desculpa a demora. Recebi meu pagamento da semana e fui ao Gringots. Parei para comprar nosso jantar no caminho.
— O que comprou?
— Pizza. Um colega que trabalha na joalheria me recomendou uma ótima pizzaria ali perto e disse que vai passar um filme ótimo na televisão hoje. Pensei em assistirmos durante o jantar.
— Com bastante queijo?
— Pedi para não pouparem queijo. — Remus sorriu e beijou a testa de Sirius, então se afastando. — E também comprei refrigerante e chocolate…
Lupin seguiu até às sacolas de compras sobre a mesa. Sirius o seguiu e viu que ele tinha feito grandes compras, pois em três dias seria a lua cheia. Como seria em início de semana, Remus preferiu trabalhar, ao menos, até aquela sexta-feira, e Richard adiantou em um dia seu salário para a semana que ficaria afastado se recuperando.
Um lado de Sirius ficava feliz em ter Remus por perto por toda aquela semana.
Mais tarde, logo estavam os dois abraçados no sofá assistindo televisão enquanto comiam a pizza, cobertos por um cobertor. Não falaram muito, atentos ao filme que passava.
Era um momento tranquilo e de paz. O braço esquerdo de Remus rodeando os ombros de Sirius, o direito de Black abraçando sua cintura, os dois sentados saboreando o jantar. Eles comeram alguns chocolates depois, principalmente Remus, claro.
Remus já amava chocolates naturalmente. Em semanas de lua cheia, era impossível não vê-lo devorar, no mínimo, duas barras por dia.
Quando terminaram de comer, eles acabaram deitados juntos. Sirius acomodou-se sobre o peito de Remus, os olhos fixos na tela enquanto sentia as carícias em seu cabelo. Se ele fechasse os olhos, poderia imaginar que aquele era apenas mais um dia comum de suas vidas juntos que ele sonhou.
Os dois aproveitando um filme abraçados no sofá depois de um dia exaustivo no trabalho. Sem estar escondido naquela casa. Sem audiências previstas para dali alguns dias. Seus filhos e seu afilhado estavam bem, apenas curtindo a adolescência e estudando. Eles sendo um simples casal de bruxos num vilarejo remoto.
Mas eles não eram isso.
Era um sonho distante que lhe foi roubado.
Sirius enterrou o rosto no pescoço de Remus e apertou seus braços ao redor dele com força. Lupin apertou-o de volta.
— Quer ir para o quarto? — Remus perguntou num tom baixo.
Sirius negou com a cabeça e apertou-o com mais força.
— Só quero continuar aqui — sussurrou.
Era bom estar ali nos braços de Remus. Era quente e seguro. Não queria nunca mais sair dali.
— Sirius… Está tudo bem?
— Estou só… Pensando.
— Em quê?
— Gostaria que esse fosse só um dia normal.
— É um dia normal.
— Um dia normal numa vida tranquila que não tivemos — explicou. — Sem problemas com Ministério. Os meninos apenas estudando e nós dois aqui, tendo um momento a sós depois de um dia de trabalho e uma semana exaustiva.
— Os meninos receberam mais três detenções, então eles com certeza estão tendo uma semana exaustiva.
Sirius riu baixo. Ele ajeitou-se no sofá até estar sentado sobre o colo de Remus, que também ajeitou a postura e pousou as mãos em sua cintura. Afastou os fios loiro-escuros do rosto dele, acariciando delicadamente as cicatrizes.
— Seguir uma lua de cada vez é mais difícil do que parece…
— Eu sei… — Remus suspirou.
— É muito egoísmo da minha parte estar feliz que você não vai precisar trabalhar essa semana? — perguntou num tom baixo. — Porque vou te ter a semana inteira comigo…
— Não sei dizer… Mas também gosto de ter mais tempo com você.
Sirius aproximou mais seu rosto do de Remus, os olhos claros ansiosos.
— Podemos só por esses dias… Não pensar nesse caos?
— O que quer dizer?
— Ser só… Nós. Você e eu tendo uma vida juntos antes de precisar voltar aos caos com a audiência se aproximando — disse. — Aproveitar o tempo que temos.
Remus sorriu fraco, compreendendo o que ele queria. Então beijou sua testa e assentiu com a cabeça.
Sirius sorriu de volta.
— Podemos ir para a sorveteria como você sugeriu amanhã? Só… Preciso de um pouco de ar fresco em um momento que eu esteja pensando bem nas minhas ações.
— Claro.
— Como um encontro?
— É… Como um encontro… E podemos comprar alguns sorvetes a mais para mais uma sessão de filmes.
— Gosto da ideia.
Sirius levou uma das mãos até os cabelos de Remus, admirando o rosto dele. Aquele rosto tão belo. Os olhos que encaravam os seus com tanto carinho e amor.
Sirius sabia que olhava para ele da mesma forma, porque era exatamente o que sentia.
Pensar em sair com Remus, mesmo que obviamente sob disfarce, com o mínimo de normalidade, era bom. Trazia conforto. Um pequeno passo para a vida que tanto ansiava.
A vida ao lado dele.
Lua por lua, certo?
— Se estivéssemos naquela vida, eu te beijaria agora — Sirius sussurrou.
Os olhos de Remus brilharam, o coração quase falhando uma batida ao que acelerava exponencialmente, as mãos apertando a cintura do Black com um pouco mais de força.
Os lábios se roçaram, mas não chegaram a se juntar de fato. Os olhos estavam fixos um no outro, ansiosos, mas ao mesmo tempo incertos. O calor crescia, porém nada fizeram.
A hora ainda chegaria.
No dia seguinte, como combinado, eles saíram.
O dia parecia querer cooperar com eles, pois apesar de já estarem praticamente no outono e dando adeus definitivamente ao verão, foi um dia de sol e calor.
Sirius bebeu Poção Polissuco e vestiu roupas de Remus, pois lhe serviam melhor naquele corpo mais alto e forte, porém fez questão de usar uma de suas antigas jaquetas, a maior que tinha.
Ele respirou fundo ao sair pela porta, sentindo o sol bater em seu rosto. Caminhou ao lado de Remus, apreciando as pessoas pela rua. Amigos conversavam às portas das casas, crianças brincavam pela rua, comércios estavam abertos.
A praça principal estava repleta de crianças e jovens, muitos entrando e saindo da sorveteria. Quando adentraram o estabelecimento, Sirius rapidamente admirou a grande variedade de sabores.
Ele pegou para si uma grande taça com três bolas de sorvete, cada uma de um sabor diferente, não poupando na cobertura e nos confeitos.
— Como vão os garotos, Black? — o sorveteiro perguntou. — Não ouço falar deles desde que brigaram com o menino Jake e seu bando.
Sirius franziu o cenho.
— Eles estão bem. Estão na escola agora — Remus respondeu. — Colégio interno na Escócia. Devem voltar para casa na Páscoa.
Sirius apenas observou a breve conversa de Lupin com o homem antes de seguirem para uma mesa afastada do balcão e outras mesas para que pudessem conversar a vontade sem muito risco de serem ouvidos.
— Black? — questionou arqueando a sobrancelha com um sorriso de canto.
— Bom, ele já tinha visto os meninos antes de mim, então presumiu que eu fosse o Sr. Black, assim como Elliot… Preferi poupar o tempo de explicar e evitar mais perguntas — explicou. — Ele me reconheceu de quando vivemos aqui antes, mas eu nunca tinha me apresentado e eu sempre estava com os gêmeos também então… — Deu de ombros. — Não fez perguntas sobre você, mas se te visse sem disfarce com certeza reconheceria daquela época.
— Me permite provar do seu sorvete, Senhor Remus Black?
Remus riu e permitiu que Sirius pegasse uma colherada. Era de chocolate, obviamente.
Se tivessem a vida que tanto sonhava, aquela seria uma realidade, Sirius pensou. Bom, talvez ele quem mudasse o seu próprio. Sirius Lupin soava muito bem também.
O anel escondido no fundo falso da mesa de cabeceira que havia comprado quando ele saiu naquela última missão antes de tudo acontecer ainda estava lá. Sirius presumiu que Remus nunca o encontrou, e também não fez questão de mencionar o tirá-lo do lugar.
Algum dia, ele seria útil.
Algum dia.
Remus admirou com um sorriso leve Sirius saborear seu sorvete distraidamente com gosto, como fazia quando iam a sorveteria Fortescue no Beco Diagonal no verão na época de Hogwarts.
Ele parecia bem em respirar um pouco de ar fresco. Era levemente estranho vê-lo com outro rosto, principalmente por ser um rosto que ele via muitas vezes no trabalho, mas sabia que era a única forma e que por trás da aparência de Anthony estava Sirius e se apegava a isso. Ainda era ele ali.
E cumpriria o que disse de não pensarem em outros problemas dos arredores agora.
— Que lugar gostaria de ir no seu aniversário?
— Hm?
— Eu disse que sairíamos no seu aniversário. Será… O próximo encontro.
Sirius exibiu um sincero sorriso, bobo e sonhador.
— Podemos ir ao cinema?
— Seria bom. Faz bastante tempo desde a última vez.
— Ainda lembro da primeira vez que fomos. Sua mãe nos levou no verão antes do nosso terceiro ano! Tio Alphard me encobriu no dia e disse que tinha me levado a um passeio.
— Você quis assistir todos os filmes que estavam em cartaz depois.
— Eu pedi ao Tio Alphard para me levar depois. Ele me levou algumas vezes com Regulus. Minha mãe nunca soube para onde realmente íamos, ele dizia que era alguma exposição do Museu de Artes Mágicas ou uma ida a Fortescue por causa do calor.
— Você me mandou muitas cartas sobre os filmes que assistiram.
— Enviei? — Sirius franziu o cenho confuso.
Ele tentou se lembrar. Sempre mandava muitas cartas para os amigos nas férias e com certeza contaria sobre ir ao cinema com o tio, mas não se lembrava de fazer muito isso. Na verdade, as lembranças desses passeios com o tio eram um pouco vagas.
Sabia que era uma de suas maiores alegrias das férias. Seu pequeno segredo com o tio, pois sua mãe surtaria se soubesse que estava indo a um lugar trouxa assistir coisas feitas por trouxas.
Quais filmes eles tinham assistido mesmo?
Remus percebeu o olhar de Sirius ficar perdido e pensativo repentinamente, e isso o preocupou.
— Sim… Enviou.
— Não me lembro disso.
Remus suspirou, entendendo o que acontecia.
— Você sempre enviava uma descrevendo mais da metade do filme e falando como se divertiu, que gostava mais ainda quando Regulus ia junto porque ele parecia mais alegre do que em casa.
— Ele sempre era mais alegre fora de casa…
— Uma vez fomos nós três com meus pais e seu tio… Lembra?
Sirius buscou em sua memória. Ele precisou se esforçar para lembrar dos detalhes. Lembrava do tio inventar alguma mentira para sua mãe e que eles foram para o apartamento dele e trocaram suas roupas por vestes trouxas que ele havia comprado.
Também lembrava que Remus estava muito bonito naquele dia.
— Você estava usando um suéter azul. Estava lindo.
As bochechas de Remus coraram.
— Lembra da roupa que eu usava?
— Acho que é uma das poucas coisas que lembro… E você tinha cortado o cabelo.
— Você também.
— Minha mãe. Ela não gostava que eu deixasse o cabelo crescer…
— Nós assistimos um desenho naquele dia. Robin Hood — Remus voltou logo ao assunto do filme. — Você lembra que meu pai foi amigo do seu tio quando eles estudaram em Hogwarts, certo? Ele tinha pedido uma sugestão de filme para levar você e Regulus para assistirem, meu pai sugeriu esse porque já tinha planejado com minha mãe me levar para ver e acabamos indo todos no mesmo dia. Hadria também foi porque Regulus insistiu.
— Regulus estava feliz… — Sirius sorriu fraco com uma lembrança o atingindo.
Por isso era tão difícil lembrar, pois era uma das mais felizes lembranças que tinha da época. Ele tinha ficado um pouco enciumado de Regulus querer chamar amigos para algo que era apenas deles e do tio, mas isso mudou ao ver como o irmão estava feliz. O enorme sorriso tão difícil de ver nas férias em casa estava ali.
E depois da conversa que teve com Hadria, entendia mais ainda porque o irmão insistiu em levá-la no dia. Ela já havia sido mordida e sua família começado a isolá-la do mundo. Ele havia sido o primeiro a saber, e o primeiro a apoiá-la. Regulus só queria fazer a amiga se sentir bem.
— Hadria ficou tagarelando com ele sobre o filme até o dia seguinte.
— É… Ela amou ver um filme inteiro só com animais — Remus riu. — O que mais gostaria de fazer?
— Não sei bem… É difícil pensar.
— Temos templo para planejar até lá.
— Mas vamos sair de novo no seu aniversário também, não vamos?
— Podemos ver isso.
— Nós ficamos em casa com os gêmeos na última vez. Eles fizeram uma bagunça enquanto fazíamos o bolo.
— Oh céus… Nem sei como eles subiram naquele piano — Remus riu com a lembrança, e Sirius o acompanhou.
As lembranças do dia vieram. Os dois juntos na cozinha. Tiraram os olhos dos garotos por alguns minutos e eles estavam quase caindo de cima do piano. Depois, eles se sujaram com a cobertura e ainda fizeram questão de sujar os pais também colocando as mãozinhas nos rostos deles.
— E nos sujaram de cobertura.
— Eles estavam mesmo agitados naquele dia.
— Estavam felizes de comemorar seu aniversário, Moony!
Sirius deixou seus olhos recaírem no colar no pescoço de Remus, o mesmo que dera a ele no mencionado dia.
— Você ainda usa seu presente.
— É… Raramente tiro. — Remus segurou o pingente entre os dedos e abaixou o olhar, o rosto corado.
E Sirius com certeza se lembrava do que mais aconteceu naquele dia. A noite, quando os gêmeos já estavam dormindo e os dois estavam sozinhos na sala de estar, conversando com uma garrafa de Whisky de Fogo e David Bowie tocando na vitrola.
E ele sabia que Remus tinha pensado na mesma coisa.
— Nem mesmo quando eu…
— Não. E agora, com certeza tenho muito mais motivos para continuar usando — Remus falou.
Ele estendeu a mão discretamente por baixo da mesa. Sirius percebeu e segurou a mão dele ali, sorrindo fraco.
No dia seguinte, Remus reservou o dia para uma faxina na casa. E eles o fizeram juntos com a vitrola tocando em volume alto os velhos álbuns de rock de Sirius que ele disse que os gêmeos sempre adoraram ouvir. Black insistiu em fazer a maior parte do esforço, pois sabia como às vésperas de luas cheias deixavam Lupin mais frágil.
Naquela manhã, receberam uma carta de Therion dizendo que ele, o irmão, Harry e Merliah haviam pego mais uma detenção no dia anterior por serem flagrados fora da cama no meio da noite com o que chamaram de "pequenas invenções que estavam ajudando os gêmeos Weasley a testar". Ele também disse que o processo para a preparação da poção polissuco estava próximo de acabar e que deveria enviá-la em breve.
Canis enviou uma para Remus que o fez rir por algum motivo.
— O que ele disse?
— Apenas surtos de um adolescente cheio de hormônios. Por que crescem tão rápido? — respondeu. — E vida amorosa complicada parece ser de família.
— Percebi quando Harry James Potter me disse que estava apaixonado pelo meu filho que curiosamente se chama Regulus.
Eles riram baixo.
Enquanto limpavam a casa, chegou um momento em que eles começaram a dançar juntos na sala. Sorrisos e risadas sinceras estamparam seus rostos, os dois cantando e suas vozes ecoando pela residência.
Sirius apertou os braços ao redor da cintura de Remus e beijou seu pescoço, e todos os pêlos de Lupin se arrepiaram. Eles sorriram bobos, continuando a dançar agarrados.
Como prometido, não falaram ou pensaram muito em problemas, apenas curtiram um dia juntos, como o que um casal, e não precisavam de beijos calorosos para isso, por mais que o desejo existisse.
Com a casa limpa e ambos cansados, eles repousaram no sofá com chocolates e bebidas, daquela vez Remus deitado sobre o peito de Sirius enquanto conversavam, muito sendo Lupin falando sobre seu trabalho e coisas que ouvia dos colegas sobre clientes.
Aquela noite foi um pouco diferente. Os olhares um para o outro muito mais fixos, as carícias um pouco mais intensas, beijos despejados em seus rostos e pescoços enquanto o diálogo seguia para lembranças da época de Hogwarts, lembranças felizes de aventuras pelos corredores.
Porém, quando foram dormir, um pouco do caos retornou. Remus acordou em prantos e ofegante após um de seus pesadelos típicos de véspera de lua cheia, as lembranças da noite de seu ataque mais vívidas em sua mente.
E como nas noites anteriores quando o mesmo ocorreu, Sirius acolheu-o em seus braços.
Sirius não hesitou em beijar cada uma das cicatrizes sobre o rosto de Remus, em seu ombro, em seus braços e mãos. Lupin apenas fechou os olhos e entregou-se àquele carinho sincero, permitindo-se ser vulnerável naqueles braços, pois sabia que estaria seguro ali.
Eles dormiram abraçados como em todas as noites. De manhã, nenhum deles quis levantar da cama. Assim como foram dormir, eles ficaram ali nos braços um do outro, entregues aos carinhos que transmitiam todo o amor sem seus corações que era reconstruído pouco a pouco das ruínas que se tornaram.
E eles saíram de sua bolha de carinho apenas quando visitas chegaram.
— Alguma novidade? — Remus perguntou, encarando as mulheres à sua frente.
— Apenas muito trabalho sendo feito, mas não estamos aqui para isso. Hoje é lua cheia — Mary respondeu.
— Eu sei. Por isso mesmo estou surpreso.
— Viemos te fazer companhia — Hadria falou, sentada no sofá com as mãos sobre a barriga, que ainda não havia começado a crescer. — Por isso trouxemos a Yvaine também.
— Eu cresci em uma matilha, posso dizer que passar a lua cheia em grupo é sempre melhor — Yvaine falou, parecendo muito animada.
Remus olhou para Sirius, que apenas deu de ombros.
— Qual sua forma animaga, Mary? — Sirius perguntou.
— Algo muito Grifinória! — Hadria quem respondeu.
O grupo partiu para a floresta na saída do vilarejo quando o sol se pôs e a lua começou a surgir.
Sirius assumiu sua forma animaga de cachorro e ficou próximo de Remus durante a transformação. Quando olhou para a direção em que Hadria se transformou, ele avistou-a em sua nova forma, uma grande loba de pelos muito claros, assim como seus cabelos da forma humana.
E onde deveria estar Mary, agora estava uma leoa forte e feroz, com garras quase tão afiadas quanto as da esposa.
Yvaine foi a primeira a uivar e começar a correr. Remus tinha sua total consciência graças a sua poção e olhou para Padfoot e as outras duas antes de a seguirem.
Seria mentira dizer que não foi divertido ou confortável para Remus estar acompanhado de pessoas como ele.
Sirius e Mary apostaram uma corrida. Padfoot perdeu vergonhosamente.
Entre todos, Yvaine era certamente a mais agitada. Ela corria com alegria e parecia até decepcionada quando pareciam não conseguir acompanhar tão bem o ritmo dela. Era possível perceber o quanto ela se sentia muito mais confortável naquela forma que Remus e Hadria, e muito provavelmente o fato de já ter nascido com licantropia seja uma razão.
De manhã, estavam todos exaustos. Yvaine capotou no sofá assim que chegaram em casa, praticamente sem arranhões, fora os feitos pelos muitos galhos e arbustos que esbarrou.
Apesar de conscientes, Remus e Hadria ainda tiveram alguns leves arranhões feitos por eles próprios enquanto se transformavam.
Mary e Hadria foram para o banheiro da casa, enquanto Remus e Sirius foram para o de seu quarto, onde tomaram banho juntos na banheira como na última vez. Lupin repousou com as costas contra o peito de Black, sentindo os beijos em suas cicatrizes.
— Foi… Diferente.
— Você gostou? — Sirius perguntou.
— Me lembrou um pouco das luas cheias em Hogwarts… Quando ficávamos correndo pela Floresta Proibida ou explorando os arredores.
— Você sempre queria ficar mais tempo sozinho na Casa dos Gritos pela manhã para ver a Hadria, não é?
— É… Eu precisava ver como ela estava. Eu era a única pessoa que realmente entendia o que ela estava passando, sabe? Ela precisava de mim.
— Tantas coisas fazem sentido agora…
— Estou feliz por ela e Mary. É muito bom que ela não esteve sozinha todo esse tempo.
— Diferente de você…
Sirius apertou Remus com um pouco mais de força, ouvindo um resmungo de dor em resposta.
— Desculpa…
— Tudo bem… — Remus suspirou. — Não importa como estive. Agora estou com você de novo.
— E eu vou continuar aqui — Sirius sussurrou e beijou o ombro de Remus.
Eles se vestiram ali no banheiro mesmo, Remus vestindo apenas uma calça para Sirius cuidar de seus ferimentos no peito.
No quarto, encontraram Hadria sentada sobre a cama vestindo uma calça folgada e um top enquanto Mary fazia um curativo em seu braço machucado. Remus sentou-se ao lado da amiga, e Sirius logo começou a também fazer curativos nele.
— Admita, Remmy. É ótimo ter alguém cuidando de nós.
— Realmente, é… — Remus admitiu.
— Está ouvindo isso, Sirius? Acho que estou maluca. Eles admitindo que gostam de ajuda!
— Estou, Mary. É surpreendente.
Hadria e Remus reviraram os olhos.
Hadria apoiou-se na esposa e levou a mão à boca. Mary rapidamente levou-a para resolver seus enjôos matinais antes de devolvê-la à cama com cuidado.
— Vamos deixar os lobinhos descansarem e preparar um grande café da manhã — Mary falou para Sirius.
— Vamos.
Mary deixou um beijo sobre a testa da esposa e outro em sua barriga quando ela deitou-se e fechou os olhos, então deixando o quarto.
Sirius deixou um beijo na testa de Remus também, fazendo com que ele se deitasse também em seguida.
— Agora, é a sua vez de descansar.
Remus sorriu fraco e fechou os olhos.
Sirius afastou-se, porém ainda parou para observar Remus antes de sair. Admirou-o deitado com o rosto exausto, mas sereno, os cabelos espalhados contra o travesseiro.
Era uma visão linda, como um paraíso. Seu paraíso.
Ainda havia realmente um longo caminho a percorrer, mas ele sabia exatamente onde queria terminar.
———————————
Olá, meus amores!
Tudo bem?
E voltamos com um capítulo inteirinho praticamente só na visão do Sirius.
Tentei mostrar um pouco de como ele ainda sente muitos efeitos de Azkaban, afinal foi mais de uma década e não se fica totalmente bem do dia pra noite. E também tivemos momentinhos dos nossos Wolfstar sendo fofinhos 🥺
E Hadria apareceu oficialmente! O que acharam de descobrir mais sobre ela? Algumas coisas ainda estão em aberto sobre ela... Teorias? 👀
Mary muito diva vai advogar lindamente e colocar o Ministério abaixo!
Próximo capítulo já voltamos com os gêmeos. O que aguardam da nossa dupla criando o caos em Hogwarts? Rsrsrsrs
Em breve retorno com mais!
Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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