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LII. I solemnly swear that I am up to no good

Aviso: Se esta é a segunda notificação que está recebendo, estou respostando o capítulo depois de apagar porque acabei mudando o título e Wattpad sempre buga os comentários!

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Therion achava muitíssimo injusto que Malfoy tivesse visto uma memória da sua mãe e ele não. Saber que ela ajudou a esfregar na cara dele o quão podre era sua família foi um grande alívio para compensar.

Depois que a irritação e a indignação passaram, ele pôde tentar vê-la por si mesmo. Não foi fácil, nem rápido. Não entendiam as regras para que aquilo funcionasse. Nem mesmo Harry, que mencionou ter visto uma memória do próprio Voldemort no diário dele, conseguia entender exatamente.

Quando Canis chegou na ala hospitalar despejando tantas informações de uma vez, quase não conseguiu acompanhar. O irmão desabou em seus braços, enquanto Harry observava o diário, que diferente do que ocorreu com Malfoy, não fechou-se em suas mãos.

— Só Canis e eu devíamos poder abrir, você não é da família da nossa mãe — Therion disse confuso.

— E-eu... Eu vi ele fechar na mão do Malfoy assim que ele pegou...

— Ela teoricamente era minha madrinha. Será que isso conta? — Harry supôs. — Ela morreu antes de eu nasceu, mas... Bom, a magia as vezes tem regras estranhas e específicas. Apadrinhamento também pode contar como família... Certo?

— Tecnicamente, sim... Conte de novo, Canis. Devagar.

Canopus respirou fundo e relatou tudo mais uma vez, a voz um pouco falha e o rosto molhado. Havia apenas eles na ala hospitalar no momento.

— Eu só estava pensando em mostrar para aquele idiota que a família dele era uma merda e ali estava uma prova, ele tentou ver o diário de novo, seguramos juntos e de repente... Estávamos na Sala de Poções vinte anos atrás.

— O diário de Tom Riddle falava comigo.

— O diário com certeza não falou comigo. Seria ótimo se mamãe pudesse conversar conosco através dele, na verdade, mas... Era só uma lembrança.

— Ele me mostrou a memória sobre a morte da Murta intencionalmente, acho... Pode ter algo nesse sentido. Talvez não para tentar trazer alguém de volta a vida por uma memória, mas... Ah, não sei! Faz sentido na minha cabeça.

Eles voltaram a analisar o diário, os três. Demorou muito, mas eles conseguiram cair na memória. As lágrimas de Therion vieram tão rápido quanto as do irmão. Tudo aconteceu exatamente como antes.

Potter também conseguiu ver a memória, e seus olhos brilharam ao ver o pai mais jovem tão parecido consigo quando estava no segundo ano. Como Canis, ele e Therion tentaram tocar os pais, sem sucesso.

— O Sirius não ia chamá-la mesmo de "sangue-ruim"... Ia? — Harry indagou desconcertado.

— Se afastar dos ideais da família não deve ter sido tão fácil assim — Therion falou com a voz embargada e fungou.

O gêmeo mais novo sorriu bobo em meio as lágrimas ao ver a mãe junto de Remus. Já havia visto muitas fotos do pai quando mais novo, principalmente na casa do avô. Ainda conseguia ver muito dele ali.

E, claro, a semelhança dele e do irmão com o seu tio também era surpreendente.

Após isso, Therion desabou de vez nos braços do irmão ali na ala hospitalar. Eles quase foram pegos por Madame Pomfrey, porém Harry foi rápido em esconder-se debaixo de sua capa de invisibilidade junto de Canis, e ele disse à medibruxa que suas lágrimas eram de dor pelo ombro e por isso ainda estava acordado.

O resultado foi ganhar mais uma poção para dor que, como efeito colateral, o fez capotar de sono. Ele realmente estava com dor, então não foi de todo ruim. Canopus e Harry continuaram ali, ambos adormecendo escondidos sob a capa sentados ao seu lado.

Eles escreveram cartas para Remus e Sirius ao acordarem, e Canis e Harry levaram até o corujal. Canopus quis também se certificar de que Potter não estava tentando revelar a Sirius sobre Arcturus.

Therion foi liberado para o dormitório ao amanhecer e recusou-se a ir para o Salão Principal na hora do café da manhã. Não queria precisar aturar as vozes em sua cabeça tão cedo.

Então, os gêmeos resolveram ir buscar a refeição diretamente com os elfos na cozinha e comer na Torre de Astronomia junto de Harry enquanto conversavam sobre o diário e a memória que viram.

— Por que Remus nunca falou sobre essa Hadria? Ele disse que meu pai, Sirius e Pettigrew se transformaram em animagos por causa dele, não falou de outra lobisomem.

— Eles provavelmente não sabiam — Canopus deduziu. — Falaram que papai expulsou eles da Casa dos Gritos de manhã, provavelmente foi para não verem ela. Considerando a família de merda dela, com certeza não permitiria que mais ninguém soubesse.

— Ela deve ter feito papai prometer nunca contar. Provavelmente só ele, Arcturus e a nossa mãe sabiam além dos Malfoy.

— E aquela provavelmente foi a primeira lua cheia dela transformada.

Harry e Therion franziram o cenho, confusos.

— Como tem tanta certeza? — Potter perguntou.

— Essa memória é da primeira lua cheia depois do recesso de Páscoa, e eles disseram que ajudaram o meu pai antes disso sem nenhum problema, então ela não estava na Casa dos Gritos. Houve uma lua cheia durante o recesso, que foi exatamente quando a avó do Malfoy foi morta por um lobisomem.

— Como você sabe?

— Ele me contou quando foi a nossa casa. A avó dele foi morta por um lobisomem durante as férias de Páscoa no último ano do pai dele.

— Então o lobisomem que a matou, mordeu a Hadria na mesma noite — Therion supôs. — A única outra opção seria ela ter sido transformada na última lua cheia antes das férias e quando chegou o recesso, matou a própria mãe enquanto estava transformada.

— Mas ela já estava em Hogwarts e só havia um lobisomem por aqui naquela época, então isso está fora de cogitação.

— Isso justificaria ele ter tanto medo de nos machucar...

— Você conhece o papai. Se ele tivesse mordido alguém, provavelmente pediria ele mesmo pra sair de Hogwarts e ser preso. Ele... Ele não suportaria conviver com isso, você sabe. Ele mal conseguia olhar pra mim sem se preocupar com cada passo que eu dava durante as férias só por alguns arranhões.

— Mas por que um lobisomem atacaria a família Malfoy? — Harry perguntou.

— Não sabemos como, nem onde, mas eu chutaria que pelo mesmo motivo que o  meu pai foi mordido. Já viram como os Malfoy pensam sobre lobisomens e não tem medo de expor... Foi o que o vovô fez.

— Remus disse que foi uma vingança contra o pai dele, mas nunca explicou porquê...

— Nosso avô tinha um pensamento bem diferente sobre a licantropia antes — Therion quem explicou. — Ele prendeu um lobisomem chamado Fenrir Greyback. Alguns estavam se aliando ao Voldemort e muitos ataques estavam ocorrendo. Vovô disse algumas coisas... Nada legais sobre licantropos, e ele ouviu. Ninguém acreditou que Greyback realmente fosse um lobisomem, acharam que vovô estava louco e não esperaram a lua cheia para comprovar, soltaram ele antes. Então, quando a lua cheia chegou...

— Invadiu o quarto do nosso pai e o atacou no meio da noite enquanto ele dormia. Faltavam dois meses para o aniversário de cinco anos dele na época — Canopus completou. — Vovô ainda se sente culpado por isso. Ele percebeu que, sim, existiam lobisomens maldosos e nojentos como Greyback, mas muitos... Boa parte deles são apenas vítimas como nosso pai foi, seja por um lobisomem filho da puta que transformou por pura maldade ou porque teve o azar de encontrar um na lua cheia.

— Mas se lobisomens não tem consciência na lua cheia, como ele atacaria o Remus por livre vontade?

— Convivência em matilha, talvez, isso ajuda. Nós já conhecemos uma... Nem todos os lobisomens encontram matilhas — Therion explicou. — Papai se recusou a entrar em uma por nossa causa. Greyback sempre transitava entre as comunidades de lobisomens e papai não queria acabar encontrando ele e correr o risco de que nos transformasse também.

— Tivemos o desprazer de dar de cara com ele, na verdade — Canopus revelou. —, quando moramos numa comunidade de lobisomens.

— Sério? — Harry arregalou os olhos.

— Papai estava desempregado, não tinha mais nem um mísero galeão no bolso... Uma amiga licantropa nos acolheu na casa dela por umas semanas. Era nossa última alternativa para ele não precisar pedir ajuda ao vovô de novo, ele detesta incomodá-lo.

— Greyback apareceu lá durante nossa estadia. Bom... Papai nos pegou, fez as malas e aparatou de lá. Foi a primeira vez que o vimos tão... Apavorado. Agora, parando pra pensar... Desde essa época eu já tinha os sinais da legilimência.

Therion ficou pensativo, lembrando-se de alguns flashes daquela época. Ele e o irmão eram pequenos, mas ainda se recordavam de muitas coisas. Ele lembrava vividamente da expressão de pavor no rosto do pai naquele dia, de um jeito que nunca havia visto.

Ele conseguiu sentir todo o medo do pai. Pensava que era ele próprio que havia ficado assustado, pois Greyback nunca fez questão de esconder suas garras ou as presas fora da lua cheia, mas agora entendia. Sabia que o pai estava assustado, mas agora compreendia a dimensão do quanto ele conseguiu captar.

Foi uma das primeiras vezes que sentiu sua cabeça doer tanto que parecia que iria explodir. Lembrava-se de chorar muito.

Lembrava-se de ver Remus chorar quando já estavam longe. Apertava os dois com força nos braços e chorava tanto que ele e Canis choraram junto. Eles voltaram para a casa de Lyall, mas não ficaram por muito tempo, porque ele e Remus tiveram uma briga feia da qual não se lembrava bem, apenas de ouvi-los gritar e ver o pai arrumar as malas mais uma vez chorando quase tanto quanto quando chegou lá.

Não tinham para onde ir. Remus apenas vagou pela noite que ventava muito, chorando, carregando a ele e Canopus adormecidos no colo, por mais difícil que fosse com todas as suas coisas. Uma senhora trouxa até mesmo aproximou-se deles preocupada ao ver seu estado quando ele desabou sentado em um banco de uma praça.

Para a sorte deles, ela era dona de uma pousada e deixou-os ficar com um quarto. Remus havia inventado alguma história nem tão mentirosa, mas obviamente exagerada, sobre ser pai solteiro e estar desempregado e ter sido despejado de sua casa e jogado na rua depois de não pagar o aluguel com seus dois filhos. Ele trabalhou lá em troca de um quarto pra eles, comida e um pouco de dinheiro. Faxineiro, camareiro, consertando coisas quebradas... Tudo que fosse preciso.

Toda lua cheia, Remus deixava-os no quarto e dizia que faria algum serviço para conseguir mais dinheiro. A neta da dona do lugar ia verificar como estavam até ele voltar pela manhã, deixar o cartão de "Não perturbe" na maçaneta e cuidar dos seus ferimentos, para depois fazer uma ótima atuação sobre estar resfriado e ter uma saúde muito frágil e por isso ser tão difícil arranjar emprego.

Therion se lembrava muito dessa época porque, em várias noites, encontrou Remus chorando. Ele sempre colocava um sorriso no rosto e secava as lágrimas para disfarçar depois. Foi uma época difícil.

E também porque, mesmo difícil, foi o mais perto de uma vida normal não mágica que tiveram. Eram apenas uma trágica família trouxa. Um viúvo e seus dois filhos. Aquele provavelmente foi o melhor emprego que Remus teve antes da joalheria, pois logo começaram a surgir as leis que limitariam o trabalho de licantropos em locais trouxas e os outros hóspedes notavam como ele sempre parecia ter novos machucados e as vezes voltava com sangue em sua roupa.

Precisaram fugir, como sempre. Enquanto durou, foi até que muito bom.

Ninguém conhecia Sirius Black e se lembrava imediatamente dele ao verem seus rostos ou ouvirem seus nomes.

— Não é recomendado aparatar com crianças pequenas, mas papai estava apavorado demais pra isso. Tentaram chamar ele para uma das matilhas que vivia por ali, e ele recusou. Nunca mais chegamos perto de outra comunidade de lobisomens — Canopus concluiu a história. — Depois disso fomos pra casa do vovô, depois uma pensão, depois pra um vilarejo na Escócia, Irlanda, casa do vovô de novo, um vilarejo bruxo de Gales, Irlanda mais uma vez... O de sempre.

— A vida de vocês foi realmente... Agitada.

— Por isso somos fluentes em todas as outras línguas britânicas. Papai sempre fez o possível para que, apesar das mudanças, tudo parecesse bom. É ruim não conseguir fazer amigos e ficar num lugar por muito tempo, mas... Nós tínhamos ele — Therion sorriu fraco.

Não era uma vida que muitos chamariam de perfeita, mas era perfeita pra eles. Iriam para onde Remus fosse, porque é onde o lar deles estaria.

— Voltando ao diário... Acho que vamos ficar com a opção de que algum Malfoy falou merda pra um lobisomem e Hadria pagou por isso. Ela com certeza não era como o resto da família e deve ter sofrido muito com eles.

— Algumas coisas fazem muito mais sentido agora. As cicatrizes nas fotos, as vezes que mamãe mencionou aqui que Hadria não pôde ir a Hogsmeade porque estava com muitas dores, ela quase sempre estava na ala hospitalar…

— Se ela vivia com um medalhão de prata bem no pescoço, dificilmente ficaria afastada da ala hospitalar mesmo longe da lua cheia. Provavelmente era a intenção.

— E Malfoy agora está usando ele. Uma pena que não o machuque também — Harry resmungou. — Não estou dizendo que é legal ver lobisomens sofrendo sendo queimados por prata, mas o Malfoy eu realmente não sentiria pena nenhuma.

— Que outras memórias será que mamãe pode ter guardado aqui? Deve ter mais que isso.

— Adoraria saber — Canopus suspirou. — Não vi aquele brilho de novo em nenhuma página.

— Então, mamãe, onde quer que a senhora esteja… Que tal mais um sinal de ajuda aqui? — Therion falou folheando o diário.

— Eu já falei isso, mas quando eu estava com o diário de Tom Riddle, eu literalmente falei com ele, e ele tentou usar a memória para retornar… Realmente não dá pra, sei lá, tentar escrever e ver se responde?

— Por mais que eu adorasse a ideia de ter a minha mãe de volta, não acho que essa seja a intenção. Isso me parece magia das trevas, ela não usaria.

— Será que alguma das coisas dos meus pais que Sirius me deu dá pra ver memórias também? — Harry ficou pensativo enquanto mexia no pingente do colar que usava, o mesmo que ganhou de aniversário do Therion. — Seria bom ver mais deles pessoalmente… Mesmo sendo uma memória. Vou tentar com o caderno do meu pai.

— Talvez. Se descobrirmos como exatamente conseguimos ver a memória, podemos tentar — Canis falou para o amigo. — Se não tiver, mas mamãe colocou outras memórias aqui, mais alguma deve ter o Tio James e até a Tia Lily, elas eram amigas.

— Vamos tentar aqui. Tem uma foto dela com a Tia Lily em Hogsmeade no terceiro ano.

Therion encarou a página, mas nada mudou. Deu leves batidas com os dedos, até mesmo enterrou o rosto no diário como se quisesse entrar nele, porém nada aconteceu. Bufou frustrado.

— Acho que enfiar a cara no diário não vai funcionar, Therry — Canis disse.

— Não me diga, gênio — resmungou em resposta e fechou brutalmente o caderno, jogando para o irmão. — Se houver outra memória aí dentro e na próxima você conseguir com o Malfoy de novo antes de mim, eu não responderei pelos meus atos.

— Vamos esperar uma resposta do papai, talvez ele saiba algo.

— Ou Sirius deve saber — Harry disse.

— Deve ter alguma coisa sobre memórias na biblioteca. Vamos procurar.

— E depois ainda temos detenção — Therion lembrou.

Canopus bufou. Se ele já não tinha apreço pelo tio antes, agora muito menos. Arcturus anunciou sua detenção para Snape, que ficou extremamente satisfeito em já iniciar o ano colocando-o para limpar e organizar armários e ingredientes de poções.

Harry e Therion cumpririam sua detenção com Flitwick, sob ordem de McGonagall, e Snape concordou em separar os gêmeos nas detenções. Malfoy também iria, mas Snape interviu, como Diretor da Sonserina, para ficar responsável pela detenção dele.

Therion e Harry poderiam ficar juntos na detenção e provavelmente dar alguma escapada para ficarem aos beijos como faziam em casa, enquanto Canopus teria que aturar mais horas ao lado de Draco. Para o gêmeo mais velho, isso era altamente injusto e torturante.

— Quem sabe depois do balde de água fria Malfoy não fique mais tolerável pelos próximos dias.

— Assim espero. Ele provavelmente agora deve estar chorando na cama por causa do avô e por descobrir que sua família é formada por um bando imbecis preconceituosos… Não que isso seja uma surpresa, ele teve a quem puxar — Canopus resmungou.

— Onde será que essa tia dele está?

— Apenas Arcturus sabe. Eles ainda tem contato, aparentemente. Sinto pena dela pela família merda que a trata como se não existisse, mas se tem contato com ele, não me inspira tanta confiança assim, a menos que tenha caído em algum papinho vitimista dele.

— Ele salvou a minha vida.

— Ele matou a nossa mãe, que por um acaso era para ser sua madrinha... E aparentemente o universo mágico decidiu que realmente é, já que você pode pegar o diário.

— Eu sei… — Harry suspirou. — O que vamos fazer em relação a ele agora?

— Nada — Therion quem respondeu. — Em um único dia, isso já nos causou muitos problemas e dores de cabeça. Vamos manter o plano de esperar até a audiência.

— E planejar uma despedida memorável — Canis completou. — Você vai nos ajudar, Prongs.

— Bem… Somos Marotos, não é? — Potter sorriu fraco.

Mais tarde naquele dia, os garotos foram para suas detenções. Harry e Therion foram para a sala de Feitiços, onde não apenas ajudaram o professor a reparar materiais danificados por feitiços errados dos alunos durante a semana e polir seus troféus de duelista, mas também tiveram que escrever um longo pergaminho listando feitiços e azarações permitidos e proibidos em torneios de duelos.

Eles sabiam que o professor havia sido um grande duelista no passado, e ele era bastante rigoroso sobre não aceitar duelos entre alunos fora da sala de duelos, muito menos de forma violenta sem o mínimo respeito às regras do meio. Não chamariam o que ocorreu com Malfoy de duelo, mas não agradou de qualquer maneira.

Sentados lado a lado enquanto escreviam com suas penas, suas mãos estavam unidas debaixo do tampo da mesa. Nesse momento, Therion agradecia muito a sua genética por nascer canhoto, como percebeu que Sirius também era, deixando sua mão direita livre para tocar sutilmente a esquerda de Harry antes de segurarem uma à outra.

Um gesto extremamente simples, mas que trazia um grande conforto para ambos.

Quando o professor foi chamado e precisou retirar-se da sala por alguns minutos, deixando-os a sós na grande e espaçosa sala, Potter não demorou a largar sua pena.

— Você… Está bem?

— Não tanto quanto gostaria, mas… Ainda de pé — admitiu, deixando a pena de lado para encarar os olhos verdes tão preocupados. — Vai ser difícil ter um bom ano.

— Mas vamos fazer o que pudermos para realizar isso. É o primeiro ano que, aparentemente, ninguém quer me matar, então já começamos bem. E sobre tudo o que falam de você e do Canis… Deixei clara a mensagem que não vou aceitar fácil.

Therion riu baixo e beijou a bochecha de Harry.

— Deixou, sim.

— Ainda recebo alertas sobre o risco de ser amigo de vocês. Alguns ontem chegaram a perguntar o porquê defender você do Malfoy. Isso é irritante pra caralho.

Harry detestava tantas pessoas se metendo em sua vida. Estar, literalmente, nos livros de História do mundo bruxo lhe rendia muita atenção e pessoas querendo ditar suas escolhas para "preservar sua segurança".

Isso tudo por ser apenas amigo dos filhos de um suposto assassino que estão tendo sua imagem manchada pelo Ministério. Não queria imaginar o que diriam se soubessem os sentimentos que nutria por um deles.

— E o que você respondeu? — Therion indagou num tom mais baixo com um olhar indecifrável.

— Para cuidarem das próprias vidas — respondeu.

Provavelmente precisaria usar algumas daquelas azarações que estava listando se aquilo continuasse por muito mais tempo, mas não teria medo de usar.

Therion continuou encarando Harry, conseguindo sentir toda aquela preocupação e carinho vindo dele. Além disso, havia sentindo o receio e dúvida pelo que aconteceria se descobrissem o que quer que estivesse acontecendo.

Apertou a mão dele com força, sem dizer mais nada.

Ele entendia Potter, daria a ele o tempo que precisasse para entender a si mesmo e o que eles tinham, o que poderiam ter, estar pronto para um passo maior. Contudo, ainda era… Torturante.

Conseguir perceber alguns dos receios de Harry era ainda pior e deixava-o com mais medo.

Queria apenas poder agarrá-lo no meio de todos e gritar para o mundo algum dia que Harry Potter era seu namorado, e aguardava ansiosamente por esse dia.

Por enquanto, ao menos, quando estavam sozinhos, poderia tentar ignorar tudo. Ele tinha Harry ali consigo, sem mais preocupações além de estarem juntos.

Harry aproximou o rosto do seu, e Black pousou a mão livre no rosto dele quando seus lábios estavam colados um no outro. Um breve selar apenas.

Contudo, Therion não permitiu que Potter se afastasse muito, enterrando a mão nos volumosos cabelos rebeldes e puxando-o para perto enquanto olhava em seus olhos.

— Therry... — A voz dele saiu baixa.

Harry esqueceu-se completamente o que queria dizer, pois Black não permitiu que falasse ao juntar suas bocas mais uma vez. Isso se repetiu até Flitwick retornar, e eles voltarem a escrever nos pergaminhos.

Therion afastou-se e voltou a escrever com enorme naturalidade quando a porta foi aberta, enquanto Harry ainda precisou raciocinar por alguns instantes.

Nas masmorras, quando Canopus chegou para sua detenção, Draco já estava lá conversando com Snape. Pela expressão do professor, não estava sendo amigável, e ver justo Snape direcionar aquele olhar de reprovação para Malfoy trouxe algum ânimo para o Black.

Algo de bom veio daquela detenção. Guardaria aquele momento na memória com muito gosto.

— Não falaremos mais sobre este assunto, Draco. Seu pai lhe disse para nunca mais citar o nome dela por um motivo — Snape esbravejou, impaciente.

— Eu não tenho o direito de querer entender sobre a minha própria família? Não me importa se ela já não faz mais parte, eu merecia saber. Eu entendo muito bem o mal que seria expor o que ela era, mas não há motivo para esconder isso de mim!

— Nada sobre Hadria importa mais. Deixe-a continuar nas sombras como o monstro que é.

— Eu estudei a história da família de ponta a ponta, sei de absolutamente tudo que já foi feito. Como meus pais e meu avô esperam que eu seja o próximo Senhor Malfoy se me escondem segredos da família?

— Seu pai disse para esquecer isso, então esqueça, Draco — Snape falou firme. — Ele já está decepcionado o bastante por saber que está de detenção logo após o primeiro dia. Não o contrarie ainda mais.

Draco calou-se imediatamente. Canopus percebeu de longe ele encolher os ombros e abaixar a cabeça, a postura completamente diferente de momentos antes quando discutia com o professor.

Observou curioso e intrigado, e não demorou para Malfoy voltar o rosto para ele. Imediatamente voltou a sua postura de sempre.

— Atrasado, Black — Snape disse.

— Foram só cinco minutos — Canopus retrucou após olhar para seu relógio.

— Adicionarei mais dez a sua detenção pela falta de pontualidade.

— Ah, porra! Só pode estar brincando.

— Vinte minutos.

— Mas…

— Quer uma hora a mais, Black?

Canopus bufou e ficou em silêncio, caminhando a passos pesados até a mesa do professor. Como já esperava, suas ordens eram limpar os armários empoeirados, organizar os frascos de ingredientes de poções, agora também com o adicional de limpar a sala inteira e revisar todo o estoque da despensa.

E, claro, estava proibido de usar feitiços para agilizar as tarefas. Uma particularidade das detenções de Snape, principalmente para aqueles que assumidamente não são sangue-puro.

Enquanto isso, Malfoy apenas iria auxiliar enquanto Snape avaliava as poções entregues pelos alunos nas aulas do dia anterior. Black pensou muito em questionar, mas não o fez, pois não gostaria de ficar ali até a hora do jantar.

Seriam duas semanas muito torturantes.

Canopus passou a maior parte do tempo com uma expressão emburrada e impaciente no rosto, e Draco também permaneceu em silêncio. Por vezes olhavam na direção um do outro, sem falar nada.

Black suspirou pesadamente, exausto. Por ser uma sábado, não usava seu uniforme. Retirou o casaco que vestia, um dos que ganhara do pai quando começou o surto de crescimento no inverno que o fez perder metade das roupas, e usou o tecido para secar o suor de seu rosto. Amarrou-o na cintura depois e prendeu os cabelos com sua varinha, pois a sala estava extremamente abafada e o esforço para limpar aquela enorme sala não ajudava.

Seguiu para a última parte da limpeza, mentalmente xingando todas as gerações Malfoy, Black e Snape por ter que fazer tudo aquilo sozinho enquanto Draco continuava tranquilamente sentado ao lado do professor quase sem precisar mover um músculo.

Voltou-se para a mesa de Snape ao terminar e encontrou o olhar de Malfoy, que o encarava de longe enquanto o professor estava com a atenção presa em um pergaminho. Continuou de cara fechada, e Draco rapidamente desviou o olhar e coçou a nuca.

— Terminei.

— Ainda falta o estoque.

Canopus bufou.

— Posso ao menos beber uma água antes?

— Quando terminar a detenção.

— Eu acabei de limpar essa sala inteira sozinho enquanto Malfoy mal levantou um dedo. Estou exausto e com sede.

— Despensa, Black. Agora.

Canopus olhou para o professor com raiva faiscando de seus olhos, mas não disse mais nada. Não queria arranjar ainda mais problemas, apenas ir embora dali o mais rápido possível para poder voltar à biblioteca.

Pegou uma pena e um pergaminho e seguiu até a despensa a passos pesados. Enquanto fazia toda a contagem, esperava que Flitwick estivesse passando alguma tarefa igualmente exaustiva e entediante para Harry e Therion para sentir-se um pouco melhor.

Quando viu Draco adentrar o local, revirou os olhos e cruzou os braços.

— O que você quer? Apreciar enquanto faço todo o trabalho duro e você fica aí parado por ser o aluno protegido do Snape? Espero que tenha se divertido com isso.

— Eu queria estar aqui de detenção tanto quanto você, Black.

— Não estaria se não tivesse machucado o meu irmão.

— Não tenho culpa se sua cópia barata é tão frágil. Nem fiz nada, só mandei que parasse de entrar na minha cabeça. Ele e Potter, sim, me atacaram com violência.

— Você deve ter sido muito gentil quase deslocando o braço dele — Canopus falou num tom irônico. — Não deveria estar ajudando Snape a tirar pontos de outras Casas por errar um grau da temperatura de preparo de uma poção?

— Ele saiu para resolver um problema com outro aluno da Sonserina — respondeu. — E quer que você limpe aqui também e estou garantindo que o trabalho está sendo feito.

Canopus bufou irritado.

— Que tal você fazer alguma coisa? Também está aqui de detenção.

Draco pegou um frasco de poção vazio numa prateleira, virou-se e saiu. Canopus deixou o queixo cair e revirou os olhos. Não podia esperar algo vindo de Malfoy.

No entanto, para sua surpresa, Malfoy retornou e lhe estendeu um copo com água.

Encarou-o confuso, arqueando a sobrancelha surpreso.

— O que está fazendo?

— Você estava reclamando de sede. Isso aqui, caso sua visão esteja pior do que diz, é água. Garanto que, dessa vez, não está envenenada.

— Se estiver, faça muito bom proveito da cela do Sirius em Azkaban depois que meu irmão te lançar mais feitiços do que você vai poder contar. Ele quem está com o Mapa hoje e você será o principal suspeito. — Pegou o copo e bebeu de uma vez, e Draco revirou os olhos.

— E isso aqui é uma pena de repetição. — Ergueu uma pena.

— Por que você tem uma pena de repetição?

— É bastante útil quando se tem muitas coisas para estudar. — Deu de ombros. — Vai poupar nosso tempo. Vou ficar aqui até você terminar e irei repetir tudo enquanto limpa para garantir que não vai roubá-la igual fez com meu medalhão.

— O medalhão de prata que seu avô fez a filha lobisomem usar por anos e está bem no seu pescoço?

Draco não respondeu àquela clara provocação e pegou o copo vazio de volta. Transfigurou o copo de volta em um frasco de poção e colocou-o no lugar de onde havia pego.

Canopus agitou sua varinha para deixar o pergaminho pairando no ar, e viu Draco levar a ponta da pena a boca antes de colocá-la para escrever tudo o que estava na despensa enquanto ele limpava as prateleiras e dizia tudo o que havia ali. Malfoy pegou uma cadeira e sentou-se à porta, cruzando os braços e repetindo o que a pena deveria anotar.

Não disseram mais nenhuma palavra um para o outro até que Black terminasse, apenas uma grande lista de ingredientes, e Draco ficou atento para o caso de Snape retornar. A pena realmente agilizou o trabalho, escrevendo sozinha à medida que Canis arrumava tudo.

— Agora, sim, terminei — disse e pegou a pena e o pergaminho, que estava encantado para ter a sua caligrafia. — Única vantagem é que pude verificar se tem todos os ingredientes que Therion precisa para fazer mais polissuco pro Sirius. Poupará o trabalho de precisar escapar para comprar na J. Pippin em Hogsmeade.

— Você está realmente me contando um plano de furtar ingredientes para seu irmão fazer poção polissuco para um criminoso se esconder do Ministério?

— Estou.

— Eu posso muito bem denunciar quando Snape voltar.

— E eu posso dizer que o aluno protegido dele gentilmente me deu um copo d'água e usou uma pena de repetição para agilizar muito o meu trabalho. — Canopus sorriu de canto e devolveu a pena ao Malfoy. — Posso até aumentar um pouquinho a história e contar como você me ajudou a limpar tudo. Não vai querer continuar decepcionando seu querido papai ajudando um simples mestiço na detenção, não é?

Draco cerrou os punhos e ficou de pé. O ar travesso e provocativo do Black estava ali, os olhos deixando bem claro que sabia perfeitamente bem como estava usando suas palavras.

— Vai se ferrar, Black.

— Vejo que temos um acordo. Agora, o que você sabe sobre guardar memórias?

— Por quê quer saber?

— Você não demorou nem um minuto para entender que estávamos em uma memória no diário. Harry já viu acontecer no diário de Voldemort que certamente foi o seu pai, um fiel seguidor, quem deu um jeito de colocar na escola no segundo ano — disse. — Você com certeza deve saber alguma mínima coisa. Tenho certeza que seus pais te ensinam magia em casa também.

— E por que acha que vou responder? — indagou num tom frio e impaciente. — Por pena de você por estar tão desesperado para descobrir mais sobre a mamãe morta que sequer conheceu? Eu tenho meus próprios problemas para resolver, não me envolva nos seus.

Draco virou-se para ir embora.

Coloportus.

A porta se fechou. Quando Draco tentou abri-la, percebeu que estava trancada. Bufou e revirou os olhos, pegando sua varinha.

Aloho

Expelliarmus.

— Mas que merda, Black! — xingou e virou-se novamente para ele, que agora estava com sua varinha. — Devolva minha varinha.

— Ah, você não dizia que era tão poderoso quanto eu? Tentar usar Alohomora sem varinha — caçoou.

— Se existia alguma mínima vontade de querer fazer algo para te ajudar, agora ela acabou. Devolva a minha varinha e me deixe sair.

— Só conte o que sabe.

— Não. Pergunte ao seu papai lobisomem, ou melhor, ao foragido que traiu o próprio sangue para se casar com uma sangue-ruim e ter você e sua cópia.

Canopus avançou na direção de Malfoy, a expressão fechada.

— Vai perguntar de novo ao seu papai Comensal da Morte sobre a irmãzinha que ele finge que nunca existiu e esconde até de você?

Draco não respondeu. A resposta era mais que óbvia. Não poderia insistir nesse assunto com seu pai sem a chance de irritá-lo. Não gostava nem um pouco de como seu pai ficava quando estava irritado.

— Se disser algo que me ajude a entender como aquela memória funciona, quem sabe eu encontre alguma resposta para você.

— Quanta gentileza da sua parte querer me ajudar — Draco forçou um sorriso irônico.

— Você é realmente insuportável, mas eu nunca escondi o que penso sobre a sua família e qualquer oportunidade que tiver de continuar a te dizer o quanto ela é terrível e inescrupulosa, usarei essa chance. E aquela memória já foi o bastante para ver que a Hadria foi mais uma vítima dessa ideologia deturpada de vocês — Canopus prosseguiu. — Se não fosse por mim, você nem saberia que ela existe.

Draco detestava admitir que Canopus estava certo, mas ele estava, ao menos, sobre a parte de nunca esconder o que pensa e que nunca saberia que tinha mais uma tia se não fosse por ele.

Ela era um lobisomem e, aparentemente, segundo a carta endereçada a Arcturus que recebeu do Black, casou-se com uma mulher e isso pareciam motivos plausíveis o suficiente para ela ser deserdada da família. Contudo, Draco queria entender mais. Ele sabia sobre todos os renegados das famílias Black e Rosier por conta de seus avós maternos, lembrados sempre apenas como um exemplo a não ser seguido, mas ainda apagados totalmente da história da família. Por que não sabia nada sobre a irmã de seu pai?

Se Draco honraria o legado de sua família, precisava conhecê-lo.

— Eu posso tentar te ajudar com a memória, se me deixar ver tudo que sua mãe sabia sobre ela.

— Acordo fechado. E então?

Draco deu um passo para trás, afastando-as do Black, e cruzou os braços, suspirando.

Isso com certeza era uma péssima ideia.

— O que eu sei é que pegar uma memória e jogá-la numa penseira é muito mais simples que guardá-la em um objeto que não seja um frasco de cristal. É um encantamento muito antigo, muitos bruxos usavam para… Bom, memórias póstumas, seja sobre sua vida para um ente querido ou algum segredo. No caso do diário de Voldemort, o segredo para abrir a Câmara Secreta. Eu não sabia que tinha uma memória ali, só a parte da Câmara e presumo que a memória seja sobre isso.

— A memória era sobre a morte da Murta-que-geme, na verdade, pelo que Harry disse. Teve a ver com isso, com a Câmara, de qualquer forma — explicou e deu de ombros. — É magia das trevas?

— Não, só antiga. Eu não deveria contar a você, mas já que estamos aqui… — Draco suspirou e segurou o pingente do medalhão. — Supostamente, o primeiro Malfoy a chegar a Grã-Bretanha guardou memórias sobre a origem da família no medalhão, que é sempre passado ao longo das gerações, mas o conhecimento de como ele fez isso e como acessar a memória se perdeu com o tempo junto ao costume de guardá-las em objetos.

— Supostamente?

— É uma história muito antiga na família, tanta que nem sabemos se é realmente verdade, mas o medalhão ainda é nosso símbolo e representa o nosso legado.

— Um legado bastante duvidoso.

— Provavelmente, só vamos encontrar alguma coisa na Seção Reservada. — Draco ignorou o último comentário.

— Isso já é bastante útil.

Canopus estendeu a varinha de Draco para ele. Quando Malfoy avançou para pegá-la, ele afastou e ergueu no alto, exatamente como fez com o medalhão em sua casa.

— Eu já te contei tudo o que eu sei. O que mais você quer?

— Só mais uma coisa — falou firmemente. — Não volte a chamar minha mãe de "sangue-ruim", muito menos a Merliah ou até a Hermione.

— Está bem. — Draco revirou os olhos.

— Estou falando sério. Ela era uma bruxa talentosa. A magia dela não surgiu do nada, todos os nascidos-trouxas têm um ancestral bruxo em algum lugar da árvore genealógica. Ser um ancestral distante não a tornava inferior, ou a Liah, ou a Hermione, ou qualquer outro.

— Tudo bem, Black. Não preciso de uma aula de genética.

— Na verdade, vocês supremacistas as vezes parece que precisam. E pare de se referir sempre ao meu pai apenas por sua licantropia. O nome dele é Remus Lupin.

— Só se você parar de ficar chamando meu pai de Comensal da Morte em todos os cantos.

— É o que ele é.

— E o seu é um lobisomem.

Canopus suspirou e assentiu com a cabeça.

— Tudo bem.

— Deixe-me adivinhar, terei que chamar seu querido papai criminoso de Sr. Sirius Black.

— Foda-se como chama o Sirius, mas apreciaria se não me lembrasse o tempo inteiro que ele é meu pai.

— Tudo bem, acho que o espelho já faz um bom trabalho em te lembrar isso todos os dias, principalmente agora que seu cabelo está enorme.

Infelizmente, ele estava certo.

Canopus bufou e usou novamente a varinha para prender os cabelo, deixando-a sustentando o coque entre os fios negros enquanto a franja ainda caía pelo rosto. Cruzou os braços e continuou a encarar Malfoy, que olhava-o atentamente.

Ele havia comentado sobre seu cabelo, mas o dele também não estava exatamente com um grande novo corte como no início do ano letivo anterior. Estava longe de estar compridos como os seus que já estavam quase tocando os ombros, não chegava perto de estar do comprimento nem dos cabelos de Harry, mas os fios platinados estavam, de fato, maiores que o costume desde a Copa Mundial. Julgava que esteve preocupado demais com a morte do avô nos últimos dias para pensar em cortar.

— Até que combina com você. Ajuda na sua imagem de louco impaciente que lançaria um Cruciatus na primeira pessoa que te irritasse — Malfoy continuou a provocar.

— Você está me irritando bastante.

— Você não teria essa ousadia aqui e agora.

— Será? — Canopus riu e arqueou a sobrancelha em desafio, descruzando os braços para girar a varinha de Malfoy entre os dedos.

Draco não moveu um músculo. Black deu um passo à frente.

— O seu cabelo também está precisando de um corte. Ou vai deixar crescer para ficar igual ao seu pai?

— Não tive tempo de cortar. Agora, devolva minha varinha.

— Não.

— Vai se foder, Canopus!

— Está bravo, Dragãozinho? — Sorriu provocativo.

— Estou. Devolva minha varinha, Black!

— Está bem aqui. Venha pegar. — Deu de ombros e estendeu a varinha.

Draco avançou furioso em sua direção. Black deu um passo para o lado e a escondeu atrás de si, rindo.  Quando Malfoy tentou novamente, mais uma vez desviou, deixando-o mais irritado. Gargalhou na vez que o outro acabou esbarrando em uma prateleira.

Alguma pequena vingança queria ter por todo o trabalho que teve sozinho.

Porém, sua alegria se esvaiu quando Draco praticamente rosnou de raiva, um grunhido alto e frutado, e avançou mais rápido contra si e antes que pudesse desviar agarrou a gola de sua camisa e empurrou-o contra uma estante.

Canopus grunhiu de dor imediatamente, sentindo aquela dor latente que enfim havia deixado seu corpo há dias retornar e se alastrar por suas costas. Uma porção de plantas para poções caiu em sua cabeça.

Ele empurrou Malfoy e avançou para fugir, mas ele não o soltava. Então, eles tropeçam e se bateram contra outras prateleiras antes de irem ao chão juntos, tudo tão rápido que mal puderam perceber.

Foi exatamente como no ano anterior, com a diferença de que Malfoy caiu sobre Black em torno de vários frascos quebrados e ingredientes de poções. Tentou levantar afobado sem muito sucesso.

Suas bocas não acabaram juntas como anteriormente, mas foi por muito pouco quando a tentativa falha de Malfoy de se erguer o fez cair novo. Porém, seus reflexos foram mais rápidos e não havia neve para vacilar seu apoio.

Um silêncio extremamente desconfortável pairou no local por alguns instantes, o único som sendo o de suas respirações ofegantes. As mãos de Malfoy apoiadas no chão de cada lado de Canopus, os rostos tão próximos que podiam sentir os narizes roçando e a respiração batendo contra a pele um do outro.

— Porra, Malfoy... Eu tive um trabalhão pra limpar isso aqui!

— Não aconteceria se você parasse de ser irritante.

— Aliás, já faz um bom tempo que você não me chama pessoalmente de "Estrelinha irritante", então começo a duvidar que realmente ache isso.

— Cale a boca.

Draco agarrou a varinha que ainda estava na mão de Canopus, puxando-a, mas ele não soltou.

— Vou ter que quebrar sua mão para soltar?

— Não sei se você teria tanta ousadia.

— Eu teria quebrado a cara do seu amiguinho Potter se não fosse por Moody, e você não gostaria de ver. Solte ou eu...

— Vai fazer isso comigo? Acho que você meio que já fez quase derrubando uma prateleira na minha cabeça!

Canopus riu, de nervoso e descrença. Ele estaria preso ali por mais uma hora inteira para arrumar tudo aquilo e, como se não bastasse isso, tinha agora Malfoy caído sobre ele. Não conseguia acreditar nisso.

Draco bufou irritado, encarando-o furiosamente. Para sua surpresa, então, Canis soltou a varinha, mas ainda mantendo aquele olhar audacioso no rosto que ele tanto odiava.

Não afastou-se. Respirava fundo, o rosto bastante vermelho, a raiva ainda queimando dentro de si, mas se esvaindo aos poucos.

— Sábia escolha.

— Eu não pretendia ficar com ela por uma semana inteira, diferente do que você fez com a minha — Canis retrucou.

— Salvando a sua pele, idiota. Aliás, por mais que você negue, nós já estamos quites.

— Não estamos.

— Estamos sim.

— Estaremos quando eu disser.

— E quando pretende fazer isso? Eu salvei a sua vida e tive problemas por isso!

— Veremos como será até eu enfim ser expulso naquela audiência, você ainda pode ajudar mais a buscar informações pro diário. Começando com vindo comigo a biblioteca depois da detenção.

— Para quê?

— Ficarmos quites com você ajudando. Já começou muito bem me derrubando de novo. Ainda bem que não me beijou outra vez.

Draco engoliu em seco, mas não tentou erguer-se novamente ao apoiar a mão que segurava a varinha no chão. Um passo em falso e seus lábios estariam contra os de Canopus novamente, assim como no ano passado... Só que um pouco invertidos.

— Seria realmente terrível. Agradeça que sou mais ágil que você — provocou para tentar esconder o constrangimento.

— Se fosse, seria um apanhador melhor, Dragãozinho.

— Cala a boca, Black.

Canopus não admitiria em voz alta nem sob Imperius, mas, no fundo, esperava outra coisa no lugar de "Black" naquela fala. Era um apelido irritante, mas já vinha tornando-se um costume.

Era algo... Constante. Gostava de coisas constantes em sua vida.

E ele realmente era uma estrela. A mais brilhante.

Apoiou os cotovelos no chão na intenção de se levantar, mas o pouco que conseguiu erguer do corpo não apenas foi dolorido como quase fez o que dizia acontecer de tão próximos que estavam. Seus lábios apenas não tocaram os de Malfoy porque ele recuou.

Entretanto, não recuou tanto quanto deveria.

Os olhos prenderam-se um ao outro, as respirações pesadas, nenhuma palavra sendo dita.

Canopus percebeu que havia um pequeno corte no rosto de Draco, mas era praticamente insignificante. Os fios platinados caíam sobre os olhos claros, que não se desviaram dos azuis-acinzentados.

Malfoy engoliu em seco mais uma vez, sentindo sua mente viajar naquele momento. Desviou seu olhar com o rosto ainda mais vermelho, descendo pelo rosto do Black sentindo o corpo ainda mais tenso e o coração quase saindo pela boca.

Não. Não. Ele não faria isso. Ele não queria isso.

Três segundos contados de olhares trocados e lábios a milímetros de distância, mas que nunca chegaram a se tocar de fato, pois o som de passos ecoou nos ouvidos de Malfoy.

Canopus sentiu sua mente completamente confusa naqueles instantes, até repentinamente Draco empurrá-lo e pular de cima dele no instante em que a porta foi aberta.

— O que está acontecendo aqui? — Snape esbravejou irritado.

***

Harry e Therion estavam na biblioteca há mais de uma hora esperando Canopus enquanto voltavam a ler sobre memórias nos livros que encontraram.

Todos diziam praticamente as mesmas coisas, então Potter não demorou a desistir da sua parte da leitura e pegar seu caderno para começar a rabiscar a partir de sua própria lembrança a imagem do pai, de Sirius e de Karina mais novos daquela memória para aguardar o amigo, ignorando propositalmente a presença de Pettigrew na cena. Black ainda continuava lendo atentamente e a fazer anotações em um pergaminho, porém acabou por bufar impaciente ao olhar para o relógio pela demora do irmão e abandonou a pena e o livro.

Therion pegou o Mapa do Maroto de seu bolso e abriu para procurar pelo irmão. Harry abandonou seu desenho para olhar o mapa também.

— Espero que ele no mínimo esteja socando a cara do Malfoy para demorar tanto — comentou o Black ao ver o nome de Canopus junto ao de Draco na despensa de Snape.

— Conhecendo as detenções do Snape, não duvidaria que tivesse trancado eles ali por mais tempo só por respirarem alto demais e atrapalhar sua concentração.

— Se fosse só o Canis, provavelmente.

— Malfoy com certeza conseguiria irritar até o Snape.

— Verdade — concordou.

Demorou mais um tempo até ver os dois nomes saindo do local e indo até o de Snape, para então sair definitivamente das masmorras.

— Por que aquele imbecil está vindo também?

— Pedir para apanhar mais, talvez — Harry respondeu num tom seco.

Após um tempo, avistaram os dois adentrando a biblioteca, discutindo por algo.

Draco tentou seguir por outro caminho, mas Canopus agarrou seu braço e começou a puxá-lo em direção a mesa. Ele revirou os olhos e bufou, puxando o braço do aperto brutalmente ao chegarem e cruzando os braços com uma feição emburrada.

— Desculpa a demora, Snape me prendeu por mais tempo por culpa desse idiota.

— Minha culpa? Você quem roubou minha varinha!

— Você que me empurrou contra aquela prateleira como se estivesse tentando me derrubar da vassoura num jogo de quadribol e derrubamos tudo!

— Porque você não queria me devolver!

— Por que você está aqui, Malfoy? — Therion questionou com irritação.

Draco não respondeu.

— Por duas coisinhas. Primeiro… — Canopus disse e então olhou para Malfoy.

Houve um grande silêncio em que ninguém disse nada.

— Vamos lá, Dragãozinho.

— Eu não vou fazer isso.

— Se quer as memórias sobre a sua tia, vai fazer sim.

— Eu estava quieto, no meu canto, e esse dois vieram me atacar.

— Você machucou o Therry primeiro. Vamos, peça desculpas ou vou falar pro Snape que você me ajudou e vai ganhar mais tempo de detenção na segunda.

Draco bufou e passou as mãos pelo rosto, balançando a cabeça.

Harry e Therion arquearam a sobrancelha e se encararam por uns instantes, então voltando a olhar para Canopus e Draco a sua frente. O gêmeo mais velho estava com ambas as mãos apoiadas na cintura com expressão de grande satisfação em seu rosto enquanto aguardava Malfoy falar.

Obviamente, o outro Black e Potter não acreditavam nem um pouco que conseguiriam arrancar um pedido de desculpas de Malfoy.

Draco mais uma vez olhou na direção de Canopus, que continuou com a mesma expressão e então ergueu o pulso para dar toques no relógio com os dedos. Ele continuava com um visível tédio e descrença no rosto, mas voltou-se para os outros dois.

— Me desculpe.

— Oh, meu Deus! Você conhece essas palavras? — caçoou Harry.

— Repita, por favor. Não ouvi bem — Therion pediu.

— Eu não vou dizer isso de novo.

— Diga — Canopus ordenou.

Draco fechou os olhos por alguns instantes, refletindo no que ele estava se metendo.

— Me desculpe — repetiu e abriu olhos. —, Therion — completou. — Isso não está sendo dirigido a você, Potter. Você realmente mereceu aqueles feitiços.

— Droga! Por um momento pensei que houvesse alguma consciência dentro de você, Malfoy.

Draco o ignorou.

— Não medi minha força quando confrontei você — admitiu. Não era uma mentira. —, mas você invadiu minha mente, então, eu ainda estava no meu total direito de me irritar. Se fizer isso de novo, não pedirei desculpas na próxima.

— Já é alguma coisa.

— Viu só, Dragãozinho? Não foi tão difícil! — Canopus falou e jogou o braço sobre os ombros de Malfoy. — Continue assim e você até parecerá uma pessoa minimamente legal.

— Odeio você, Black. Tire suas patas sujas de mim! — Draco empurrou-o para longe e afastou-se de braços cruzados, virando o rosto enquanto suas bochechas e orelhas ficavam avermelhadas.

— E qual é a segunda coisa? — Therion perguntou.

— Ele tem uma informação útil sobre o diário da mamãe — respondeu Canis.

Isso realmente chamou a atenção de Therion.

— E é verdade?

— Se não for, podemos jogá-lo no lago.

— Eu te disse tudo o que sabia!

— Os livros que precisamos estão na Seção Reservada — Canopus prosseguiu. — Então, precisaremos de um plano para entrar lá.

— Eu já entrei no primeiro ano. Qual é o livro? — Harry falou.

— Eu não sei — Draco respondeu.

— Isso não torna sua informação confiável, Malfoy — Therion disse.

— Eu não sei o nome do livro, okay? O que sei é que tudo que estiver nessa biblioteca serão apenas informações básicas de memórias. A magia do diário da sua mãe é antiga e informações sobre magias muito antigas estão na Seção Reservada.

— E por isso, você virá conosco procurar.

— Eu não me lembro de concordar com essa parte.

— Nós conseguimos dar conta sem ele — Harry falou ao amigo. — Quanto mais longe estiver de nós, melhor.

— Digo o mesmo quanto a você, Potter.

— Therry e eu provavelmente estaremos em Azkaban no final do mês, então o seu presente de despedida para nós será esse.

— Será um grande alívio me livrar de vocês. Mas se formos pegos, direi que um de vocês lançou a Maldição Imperius em mim e adiantar suas idas para Azkaban.

— Ótimo! Agora, sente-se para montarmos o plano.

Canopus sentou-se de frente para o irmão na mesa. Draco continuou de pé de braços cruzados.

— Vocês não podem simplesmente me contar no dormitório?

— Não — os gêmeos responderam em uníssono.

Malfoy bufou e sentou-se ao lado dele. Um quarteto bastante improvável e que atraiu olhares.

— Isso é uma péssima ideia — Harry disse. — Podemos chamar Rony e Hermione.

— De grifinório nesta missão já basta você, Harry. Será nós quatro.

No fim, todos acabaram concordando, alguns mais a contragosto que outros.

Harry revelou como entrou no primeiro ano, mas que não sabia se havia aumentado a segurança desde aquele dia. Eles verificaram e, sim, estava mais seguro agora com correntes e um cadeado que não abria com Alohomora.

— Só vai abrir com a chave. Está encantada para não abrir com feitiços — Draco falou enquanto se afastavam.

— E onde fica? — Harry perguntou.

— Com a bibliotecária. Não me pergunte onde.

— O mais lógico seria a mesa dela — Canopus falou. — Viremos hoje a noite, então.

— Hoje?!

— Não podemos perder tempo, Dragãozinho. Menos de um mês para sermos presos, lembra?

Durante o jantar mais tarde, novamente os gêmeos se recusaram a ir para o Salão Principal e apenas buscaram sua comida na cozinha com os elfos, que ficaram felizes em atender seus pedidos. Porém, daquela vez, não foram para a Torre de Astronomia e sim para o dormitório da Sonserina, inclusive Harry.

Potter, claro, escondido sob sua capa de invisibilidade, seguiu os amigos até o quarto deles, onde fecharam a porta. E ele fez questão de sentar-se na cama de Malfoy para fazer sua refeição, uma vez que estava dentro daquele plano deles. Lhe pareceu justo.

Canopus soltou um rato vivo pelo quarto que conseguira com Hagrid e deixou que Antares o caçasse para ser sua diversão noturna e seu jantar. Ele ficou observando atentamente a doninha caçar o animal pelo cômodo e atacar, então arrastando seu alimento para debaixo da cama de Canis, onde estava montado seu habitat reserva.

— Isso é nojento — Harry reclamou com uma careta.

— Isso se chama cadeia alimentar. É bastante gratificante de se ver enquanto Pettigrew continuar a solta.

— Devia ter petrificado aquele rato sujo — Therion murmurou num tom seco.

— Temos mesmo que levar a outra doninha conosco para a Seção Reservada?

— Ele sabe mais sobre memórias que nós três, então, sim. E culpa dele por sempre se meter em nossa vida, agora não tem mais volta.

— E pensando bem, se algo der errado, podemos jogar toda a culpa nele — Therion comentou. — Ainda podemos sempre ameaçar expor que ele nos ajudou com o Bicuço. Malfoy adora a imagem que tem.

— Ele realmente odeia a ideia de decepcionar o papai supremacista. E a Maldição Imperius é sempre uma opção.

— É a maldição que obriga as pessoas a fazer o que você quiser, não é?

— Precisamente, Prongs.

— Se já estivermos mesmo condenados, usar uma maldição no Malfoy não vai fazer diferença pra mim.

— Isso não é algo gentil a se dizer sobre alguém que você supostamente precisa da ajuda, Black — a voz de Draco ecoou pelo quarto e Therion pulou de susto.

— Virou fantasma agora, porra?! — esbravejou com as mãos no peito.

— Saia da minha cama, Potter! O que pensa que está fazendo no meu quarto?

— É o quarto dos meus amigos e eu estou comendo. — Harry não moveu um músculo.

Malfoy bufou e revirou os olhos, avançando para sua cama. Ele empurrou Harry com força, e o garoto agilmente conseguiu ainda ficar de pé e não cair com seu jantar. Começou rapidamente a agitar sua varinha para livrar-se de todas as migalhas que Potter deixou.

— Por que não estão no salão?

— Se você fosse legilimente, com certeza não iria querer.

— Não preciso ser. Tem dias que realmente é muito barulhento e quase insuportável — admitiu Malfoy com uma leve careta no rosto. —, hoje chegou perto. Mas, sinceramente, estão agindo igual o seu tio. Ele não apareceu para o jantar hoje de novo e tenho quase certeza que é para não encarar vocês.

— Ele também é legilimente — Therion justificou.

— E daí? — Canopus disse ao mesmo tempo enquanto levava a comida à boca.

— E também, deram falta de vocês em todas as refeições. Isso é bastante suspeito.

— Foda-se. O que você faz aqui? — Harry retrucou com a boca cheia, comendo tranquilamente de pé.

— É o meu quarto, você quem não deveria estar aqui.

— Bom, já que está aqui, podemos repassar o plano — Canopus disse.

— E se eu resolver mudar de ideia e não ir?

— Você não tem essa opção. Agora, senta e escuta.

Draco bufou e sentou-se em sua cama.

Canopus repassou todo o plano para eles sobre o caminho que pegariam até a biblioteca para evitar o zelador e para pegar a chave da Seção Reservada na mesa da bibliotecária para então ir em busca do livro — qualquer que seja ele. Enquanto ele contava sua ideia de como despistar Filch caso fossem pegos, Draco pegou o restante dos chocolates que recebeu da mãe pelo correio coruja, que nunca faltou um dia mesmo com uma detenção, e começou a comer como sua sobremesa.

— É só entrar lá. Precisa mesmo de um plano elaborado?

— Sou precavido, Dragãozinho. Meu pai escapou de muitas detenções por seus planos bem pensados nos mínimos detalhes.

Canis ficou de pé e deixou seu prato vazio na mesa de cabeceira, então caminhando até a cama de Draco e sentando-se ao seu lado para pegar um dos chocolates.

— Ei! Saia, são meus, Black!

— É só um chocolate.

— Vá buscar sua própria sobremesa. Minha mãe enviou para mim.

— Therion, entre na mente dele.

— Não dá, ele está bloqueando — Therion lamentou.

— Para o seu azar, meu padrinho me ensinou oclumência muito bem — Draco vangloriou-se.

— Você tem um? — Canopus franziu o cenho.

— Você estava limpando a sala dele mais cedo. — Malfoy deu uma grande mordida em seu chocolate.

Os outros três encararam-no surpresos com a informação e xingaram em uníssono. Tudo fazia muito mais sentido agora.

Estava justificada a óbvia preferência de Snape por Draco durante as aulas. Malfoy sempre fora um grande bajulador, mas Snape sempre elogiava suas poções, dava mais pontos quando ele respondia às perguntas e fingia não ver nada do que ele fazia. Aquela discussão que Canopus presenciou foi um momento raro de se ver entre eles.

— Por isso você é o aluno protegido. Puro nepotismo! — Therion resmungou. — Minhas poções são muito melhores que as suas.

— Eu sou um ótimo aluno, como pode ver em outras disciplinas. Ele apenas sabe reconhecer isso.

— Considerando a merda de família que você tem, não deveria estar surpreso — Harry comentou.

— Quando penso que não pode piorar… Nem o seu padrinho presta. Sua família é realmente uma merda completa, Malfoy.

— Será que pode parar de xingar minha família?

— Não. — Canopus sorriu e deu uma mordida no chocolate na mão de Malfoy. — Hmm… É ótimo.

Draco encarou-o irritado e deu-lhe um empurrão, mas o Black apenas jogou-se no colchão, rindo.

— Saia já da minha cama!

— Estamos em um plano conjunto aqui, justo você compartilhar a sobremesa.

— Não. São meus chocolates.

— Eu pago por eles. Dinheiro não me falta mais.

— Não — Malfoy continuou a negar. — Saia e volte a falar desse seu maldito plano.

— Meu maravilhoso plano.

Canopus tentou dar mais uma mordida rápida, mas Malfoy rapidamente colocou a ponta de sua varinha no pescoço dele e continuou a comer. Ele bufou, mas ainda não saiu.

— Espero que se engasgue. — Ergueu o dedo médio.

Draco apenas ignorou.

Harry sentou-se ao lado de Therion com seu prato quase vazio. O Black mais novo pegou seu guardanapo e começou a limpar o molho que escorreu da boca de Potter, que olhou-o surpreso por alguns instantes, então sorrindo fraco e envergonhado.

— Tudo resolvido. Vamos apenas esperar, então — disse olhando para Harry. — Mas acho que agora é uma boa hora para roubar os ingredientes da sala de Snape. Me empresta sua capa? Só por precaução.

— Eu vou com você.

— Não. Você vai terminar de comer bem aqui. Malfoy vem comigo.

— Eu não vou a lugar nenhum — Draco rapidamente negou.

— É o seu padrinho. Você vem. Já está nessa conosco.

Malfoy bufou frustrado, e Harry fechou a cara. Não gostou nem um pouco da ideia, mas ainda emprestou sua capa, e Canopus juntou-se a ele na própria cama para vigiar tudo pelo Mapa do Maroto.

Therion pegou seu espelho de dois sentidos e guardou no bolso.

— Malfoy — Potter chamou quando ele estava prestes a sair. — Se ele voltar com um arranhão, vou te deixar o restante do nosso tempo de detenção na ala hospitalar.

— Eu sei me defender, Mini Prongs. — Therion falou revirando os olhos, mas um pequeno sorriso de canto despontou por seus lábios, por um lado satisfeito e gostando de ouvir isso.

— Eu sei, mas estou apenas deixando ele bem avisado para caso pense em tentar qualquer coisa.

— Suas ameaças não me assustam, Potter — Draco riu.

— Pois deveriam.

— Sem gracinhas, Malfoy.

— Subam na minha cama de novo, e verão quem precisa temer aqui — respondeu num tom ameaçador com uma expressão fria.

Therion saiu do quarto junto de Draco. Alguns alunos dos últimos anos já estavam de volta à Comunal, mas não deram atenção a eles.

Não disseram nada durante o trajeto até a sala de Poções, e Malfoy quem abriu a porta, por segurança, fechando-a logo em seguida. Havia uma poção sendo preparada na mesa do professor, porém, eles não deram importância.

Black seguiu até a despensa e abriu a bolsa que levara para guardar os ingredientes, começando a procurar por eles enquanto o outro ficava parado a porta atento.

As primeiras palavras de Draco vieram apenas para falar onde estavam alguns dos ingredientes.

— Chifres de bicórnio à direita, duas prateleiras acima — disse. — Pele de ararambóia fica mais abaixo.

Therion pegou os ingredientes ditos e então deu mais uma olhada nas prateleiras. Ele pegou dois frascos com pelos brancos etiquetados. Uma das etiquetas dizia "retirado durante hibernação". Devolveu o outro ao lugar e tirou um frasco vazio da bolsa, onde despejou um pouco do conteúdo do que havia pego antes de colocá-lo de volta.

Era um grande estoque que ele não poderia perder a oportunidade de explorar.

Draco franziu o cenho, enquanto o garoto partiu para pegar outro frasco, dessa vez para pegar um líquido avermelhado.

— Você não precisa de pelos de urso polar para fazer poção polissuco.

— Não é para polissuco.

— Você veio aqui pegar ingredientes para poção polissuco!

— Não posso desperdiçar uma oportunidade de conseguir ingredientes difíceis e raros. Eu não vou encontrar veneno de seringal em qualquer loja de poções, venenos são caros! — falou despejando líquido em outro frasco vazio.

— Para quê você precisa disso? Agora vocês vão querer envenenar alguém? Estão tão ansiosos assim para irem para Azkaban?

— Venenos não servem apenas para matar. Seu padrinho é pocionista, devia saber disso.

— Eu sei, mas não consigo imaginar outro uso para vocês.

Therion revirou os olhos.

— Onde tem pelos de cavalo do lago?

— A esquerda, perto das escamas de grindylow.

Black pegou-os e também guardou um pouco consigo, então continuando a analisar as prateleiras e pegar mais ingredientes.

— Certo, hm… Não teria leite aqui, teria?

— Aqui não é uma despensa de cozinha.

— Consigo na cozinha com os elfos, então. Mas deve ter mais alguma coisa útil aqui.

Therion continuou a procurar, Draco suspirou, passando as mãos pelo rosto e pensando que deveria ter continuado a negar ou ao menos retornado com Canopus. Ele era bem mais objetivo e não faria daquela missão uma ida às compras de uma loja de poções.

Black não conseguia ver aquele pensamento, claro. Draco havia fechado completamente sua mente para que ele não visse mais nada.

Começou a pensar nas poções que conhecia, tentando lembrar alguma que levasse leite. Aquele foi um pedido bem estranho.

A última vez que viu o padrinho usar leite em uma poção fora em seu primeiro ano, depois da detenção na floresta. Draco começou a ter muitos pesadelos com aquela noite, tantos que uma noite até mesmo chegou a fugir de seu dormitório para bater na porta de seus aposentos no castelo. Depois do ataque daquele lobo, foi a primeira vez em anos que voltara a sentir aquele aperto sufocante no peito em que não conseguia mais respirar. Severus lhe fez uma poção naquele ano, uma que ele assistiu o preparo completo.

— Leite, pelos de uso polar e cavalo do lago, veneno… Quer fazer uma Dreamhose?

— Parabéns, Sherlock.

— O que diabos é Sherlock?

— Você nunca leu um livro trouxa na vida, leu? — Therion encarou-o e arqueou a sobrancelha.

— Claro que não. Por que leria?

— Esquece. Sim, quero fazer uma Poção Sem Sonhos. Canis e eu merecemos pelo menos uma noite tranquila até essa maldita audiência.

— Para ter uma noite sem sonhos, primeiramente você precisa dormir. Esse não é o forte do seu irmão.

— E por que você acha que ele não dorme, seu idiota? — Therion ralhou irritado. — Você pode dormir tranquilamente com seu pijama de seda horrível abraçado ao travesseiro, porque sabe que sua família está bem vivendo a vida de merda de vocês. Agora, no máximo chora um pouco pelo luto por seu avô, não julgo, mas você ainda consegue pregar os olhos. Nós quase não dormimos há um ano inteiro, Canis principalmente.

— Não fale do que você não sabe, Black.

— Falo sobre o que vejo. Seu pai era um maldito Comensal da Morte, não tenho a menor dúvida de que ele matou muito mais pessoas do que acusam Sirius, mas sua vida continua perfeita.

— Perfeita? O meu avô acabou de morrer e suas últimas palavras para mim foram para honrar o nome da nossa família e seguir o seu legado, mas aqui estou eu com duas semanas de detenção por sua culpa e obrigado a ajudar nas suas ideias malucas.

— Você escolheu isso no momento que entrou no túnel do Salgueiro Lutador e nos ajudou a libertar Sirius e Bicuço. Canis também não te pediu para salvá-lo na Copa Mundial. Nós ainda estamos te mostrando segredos da sua família… Ainda está no lucro — vociferou e pegou mais ingredientes. — E enquanto vocês se safaram mais uma vez na Copa, eu não posso nem ir comprar a porcaria de uma cerveja amanteigada no Três Vassouras sem que me olhem como o filho de um assassino que supostamente o ajudou em um ataque e nem deveria estar livre.

— Ele estar lá foi uma péssima ideia, para início de conversa. Muito disso não aconteceria se não tivessem levado um foragido para um dos maiores eventos do Mundo Bruxo.

— Eu sei! — Therion voltou-se para Malfoy com uma expressão fechada. Porém, apesar do rosto claramente irritado, seus olhos eram extremamente expressivos, assim como os do irmão. Havia muita dor misturada aquela raiva. — Foi arriscado? Foi, e foi ideia minha, mas eu só estava tentando ajudá-lo a ter um pouco da liberdade que lutou tanto para conseguir de volta. Ele ficou doze anos preso por algo que não fez. O seu pai pode andar por aí apesar de todos os seus crimes e aproveitar sua liberdade… Por que o meu que não fez absolutamente nada não poderia ter o mesmo direito?

Draco engoliu em seco e respirou fundo, pensativo. Ele sabe de muitas coisas que seu pai fez, Lucius nunca escondeu, porém sempre justificou seus atos. Para ele, todas as justificativas pareciam justas.

Continuar a lutar pelo bem do Mundo Bruxo e do legado da família. Isso era o que Voldemort fazia e por isso ele o seguiu, os ideais dele estavam atrelados ao que sua família almejava. Aqueles contra não entendiam a realidade.

— Você vê as ações do meu pai como erradas, mas ele estava apenas lutando pelo que acredita. O bem da nossa família, do Mundo Bruxo… O seu pai traiu a própria família.

— Porque ele percebeu o mal que ela fazia. Bem do Mundo Bruxo? A minha mãe lutou pelo bem do Mundo Bruxo e morreu nas mãos de pessoas como a da sua família. — Therion cerrou os punhos, sentindo a raiva apenas crescer dentro de si.

A cada palavra que saía da boca de Malfoy, apenas queria socá-lo até que se calasse. A fúria presente em seus olhos enquanto a voz de sua mãe ecoava em sua mente com as últimas palavras dela para si, a lembrança mais vívida que tinha dela e esteve presente em todos os seus sonhos e pesadelos. Como ela falava como se tivesse certeza que não voltaria.

— Não fale que seu pai estava fazendo um bem, porque ele não estava. Pessoas como ele, como Pettigrew, como Arcturus… Eles tiraram os meus pais de mim e do Canis! E nós tivemos muita sorte de ainda ter um bom pai para nos criar ou estaríamos condenados com a mãe do Sirius e seríamos dois imbecis como você.

— Talvez se tivessem crescido com ela não fossem tão idiotas e irritantes.. E talvez ela não estivesse tão louca a ponto de morrer literalmente definhando de solidão.

— Sirius não me deixava ver memórias sobre ela quando estava me ajudando a treinar a legilimência, mas o pouco que já vi sem querer e saber que ela era o bicho-papão dele já diz muita coisa. Ela mereceu morrer sozinha.

— Ele é o bicho-papão do seu irmão, caso tenha esquecido. E, pelo que me lembre, o seu também.

— Não é mais… Não o meu, pelo menos… — Therion rebateu, mas abaixou o volume na última frase. Engoliu em seco ao lembrar-se da grande crise que o irmão teve no porão por causa do seu bicho-papão, como a magia dele ficou tão instável que estava ferindo Sirius… Quem sabe o que teria acontecido se ele não tivesse conseguido parar e Remus chegasse.

Naquele momento, Therion não sabia se ficava preocupado ou sentia medo.

Aquele também foi o dia em que teve uma conversa profunda e sincera com Sirius pela primeira vez, o ponto de partida para se aproximarem. Quando ele lhe revelou sobre sua legilimência, sobre a mãe, sobre o irmão e a origem de seu nome… 

Canopus havia lhe contado enquanto se preparavam para ir à estação sobre a conversa que ele próprio teve com Sirius. Pôde sentir que aquilo fez bem ao irmão, mas que também não era o bastante. Ainda precisava de muito mais para iniciar uma aproximação de fato com ele. Duvidava que se encontrassem mais um bicho-papão agora mesmo ele assumiria uma forma diferente.

Therion ainda não sabia exatamente o que sentir sobre Sirius, apenas sabia que não era mais como antes e completamente diferente do irmão.

— Isso não importa! Nós ficamos muito melhores longe da Walburga Black e toda essa coisa de supremacia. E se isso significaria também crescer perto de você… Estamos realmente bem melhores.

— Merlin… Vocês seriam meus amigos de infância. Isso é realmente terrível de se pensar.

— Talvez você fosse menos insuportável se seus pais e seu avô tivessem sido presos na Guerra e você fosse criado por sua querida titia que é um lobisomem assim como o meu pai.

— Eu provavelmente seria criado pelo meu padrinho.

— Nesse caso, você continuaria igualmente imbecil. Talvez até mais.

— Cala a boca e vamos embora, Black. Já pegou coisas demais, Snape vai desconfiar.

— Aliás, já que Snape é seu padrinho, por que não chama ele pelo nome?

— Porque estamos na escola. Ele é estritamente profissional e me deixaria de detenção.

— Ele é realmente um pé no saco.

— Vamos embora.

— Tudo bem. Já não aguento ficar mais cinco minutos sozinho com você sem querer te dar um soco.

Draco revirou os olhos, e eles saíram.

— Canis, Harry, o corredor está livre? — Therion perguntou pelo espelho.

Draco fechou o estoque, porém paralisou quando ouviu passos se aproximando. Ele sabia reconhecer os passos do padrinho tão bem quanto o de seus pais.

— Snape! Ele está na porta! — Harry exclamou.

— Merda!

— Pegue a capa.

Therion rapidamente pegou a capa de invisibilidade e cobriu-se com ela junto de Draco, no instante em que a porta se abriu. Eles nunca haviam estado tão perto um do outro como naquele momento, mas a adrenalina não deixou-os pensar no quão desconfortável seria.

Observaram parados Snape acender as luzes e seguir até o caldeirão que fervia em sua mesa. Ele olhou para o relógio ao lado e então encarou a poção por um minuto inteiro até começar a mexer.

Therion deu um passo devagar e depois outro, puxando Draco consigo, em direção a porta, mas Malfoy agarrou seu braço com força e o impediu de continuar. Ele mordeu o lábio para sufocar um grande resmungo, pois era o mesmo que havia ferido no dia anterior.

Black encarou o outro irritado e apenas apontou na direção da porta. Malfoy balançou a cabeça negativamente.

Draco conteve um suspiro, pois não deveria fazer barulho, e então abaixou suas barreiras mentais e fez Therion encará-lo, apontando para a própria cabeça. O Black franziu o cenho confuso por alguns instantes antes de entender.

Therion fechou os olhos e concentrou-se, como fazia com Sirius. Ele então começou a sentir. Apreensão, nervosismo, frustração, irritação. Isso era tudo que Draco sentia. Sentimentos levam a pensamentos. Draco estava irritado com ele.

Um idiota inconsequente. Deveriam continuar parados para não serem descobertos. Snape veria a porta.

Therion apontou para o professor e tentou sinalizar que ele estava distraído com a poção, porém Draco logo pensou que não seria o bastante. Qualquer mínimo barulho em falso deles chamaria a atenção dele.

O garoto Black naquele momento queria muito que Draco também fosse legilimente apenas para conseguir externar seus pensamentos com mais facilidade. Encarou a mesa do professor, que agora escrevia em um pergaminho.

Eles precisariam de uma distração boa ou algo que tirasse Snape da sala.

Draco pensou em como era uma situação terrível e que até Antares seria mais útil no momento.

Therion bufou e abriu a boca para reclamar, mas Draco imediatamente tampou com a mão, começando a xingá-lo de todos os nomes possíveis mentalmente. Ele fechou a cara ao conseguir captar aqueles pensamentos e mordeu a mão do garoto com força.

Malfoy tampou a própria boca para não gritar, pensando seriamente em lançar uma maldição no Black e entregá-lo, dizendo ao padrinho que fora obrigado a estar ali. Ainda não havia bloqueado a mente de volta, então, obviamente, Therion viu isso e encarou-o furioso.

Therion agarrou o braço de Draco e puxou-o para perto da mesa com cuidado para analisar que poção estava sendo preparada. Observou os ingredientes dispostos e a forma como mexia o líquido no caldeirão.

Draco pareceu entender, pois também estava analisando tudo. Conseguiu sentir o cheiro de alguns ingredientes de aroma bastante característico misturados no caldeirão.

Eles tiveram, então, a mesma dedução sobre a poção, mas ideias diferentes para conseguir escapar.

Afastaram-se devagar até o canto mais distante da sala, com cuidado em cada passo. Eles suspiraram, com os olhos ainda presos no professor.

— Precisamos pegar os olhos de salamandra da mesa dele para que vá buscar mais na despensa e possamos fugir — Draco sussurrou o mais baixo que pôde.

— E se em vez de apenas pegar, jogarmos eles no caldeirão junto com os ferrões de gira-gira e a pena de Fium? — Therion sugeriu no mesmo volume.

Draco arregalou os olhos.

— Isso vai causar uma explosão.

— Essa é a ideia. — Sorriu largo. — E ele não só vai estar distraído com a bagunça, como vai precisar pegar vários ingredientes de novo na despensa.

— Não, só pegar o próximo ingrediente essencial é bem mais seguro.

— E menos divertido, além de que não sabemos quando ele começou, então ele pode só precisar adicionar ou daqui cinco minutos ou duas horas. Vamos pelo menos plano.

— É um plano idiota e arriscado.

— É genial.

Draco não conseguiu fazer o Black mudar de ideia e apenas xingou-o em pensamento, sem medo que ele percebesse.

Therion esperou uma oportunidade. Quando Snape dobrou o pergaminho que escrevia e virou-se para pegar um envelope de carta, jogou no caldeirão os ingredientes que citou junto de Malfoy no caldeirão.

Eles afastaram-se rapidamente, tropeçando em uma mesa de aluno no caminho. Ambos congelaram, enquanto Snape olhava na direção deles de cenho franzido.

Não se moveram, apenas observando atentos a fumaça começando a se formar e sair do caldeirão. Draco fechou os olhos com força e tampou os ouvidos com as mãos, enquanto Therion apenas protegeu os ouvidos com um sorriso travesso no rosto e observou o estrago ser feito.

Como planejado, o caldeirão explodiu e causou uma grande bagunça. Snape, completamente sujo de restos da poção, xingava alto e confuso, olhando ao redor da sala.

Therion tampou sua boca com ambas as mãos para esconder uma risada, enquanto Draco puxava-o para a porta. Assim que Snape adentrou a despensa, eles saíram dali, tiraram a capa e começaram a correr.

Black começou a gargalhar, arrependendo-se de não ter chamado Harry para ir consigo realmente. Teria sido muito bom.

— Você é maluco! — Draco exclamou.

— Confesse que foi engraçado.

— A minha ideia ainda foi melhor.

— Mas admite que foi hilário ver ele sem entender nada.

Draco revirou os olhos enquanto corria atrás dele, mas riu baixo.

Eles retornaram para o dormitório. Assim que passaram pela porta, Draco fechou-a e Therion jogou a bolsa em sua cama. Harry imediatamente ficou de pé e aproximou-se dele, segurando-o pelos ombros.

— Você está bem?

— Essa foi por pouco. Está tudo bem? — Canopus falou para o irmão, indo até ele e ficando ao seu lado.

— Estou bem, mas por pouco não fomos pegos.

— Muito obrigado pela consideração por mim — Draco disse sarcástico enquanto aproximava-se deles.

— Ainda bem que levamos a capa ou estaríamos ainda mais encrencados. Pensei seriamente em me esconder sozinho e deixar o Malfoy se virar sozinho com o Snape, ele me irritou demais.

— Será que podemos estabelecer uma coisa aqui?

— Que é, Malfoy? — Harry indagou impaciente.

— Eu realmente não queria me meter nos problemas de vocês, já tenho o bastante para lidar sozinho — começou a falar. Canopus abriu a boca para reclamar, mas Malfoy ergueu o indicador próximo aos lábios dele com uma expressão séria, e ele calou-se imediatamente. — Porém, já que estou aqui, parem de agir como se eu não estivesse ouvindo. Vocês fazem isso desde a detenção no primeiro ano e é irritante.

— Não é como se nós nos importássemos com você de qualquer forma.

— Eu tampouco me importo com vocês. E, de todo modo, fiz um acordo com esse Black. — Apontou para Canopus. — Não devo nada a vocês dois, então não me importaria de jogar toda a responsabilidade em suas mãos se isso der errado.

— E ficaria sem suas informações se fizesse isso — Canopus falou agarrando a mão de Malfoy que apontava para si e afastando-a. — Meu irmão e meu melhor amigo estão inclusos em tudo.

— Se eu vou estar aqui, exijo pelo menos ser visto e ouvido.

— Está bem, Dragãozinho. Justo.

Draco suspirou. Seus olhos então pararam na mão de Canopus ainda segurando a sua e soltou-se bruscamente, dando dois passos para trás e cruzando os braços. Therion franziu o cenho, e Malfoy percebeu a atenção dele. Voltou a usar sua oclumência imediatamente para que ele não visse mais nada que passasse por sua cabeça.

O Black mais novo não viu muito, mas foi confuso. A mente e as emoções de Draco estavam ainda mais caóticas e bagunçadas que as de Harry.

— Conseguiram tudo?

— Sim — Therion respondeu e balançou a cabeça, partindo para sua cama. — Vou começar a preparar amanhã de manhã.

— Vai preparar a poção aqui no quarto? — Draco perguntou.

— E correr o risco de você, Nott ou Zabini mexer em alguma coisa e estragar tudo? Nem pensar! Além de que também Antares pode acabar comendo alguma coisa sem querer.

— Nem quero minha doninha doente por causa de uma poção para o Sirius. — Canis beijou a cabeça do animal e começou a acariciá-lo distraidamente.

— Vou preparar na Casa dos Gritos. Está vazia, podemos usá-la como quisermos. Esse mês, ela será minha estação de poções.

— Agora, vamos apenas esperar o toque de recolher para irmos à Seção Reservada.

— Vocês precisam ouvir o que fizemos para distrair o Snape e sair da sala! — Therion exclamou e voltou a rir, começando a contar tudo.

***

Os quatro reuniram-se pontualmente em frente à entrada do salão comunal da Sonserina, todos vestindo casacos sobre seus pijamas e com varinhas em punho. O quarteto mais improvável de Hogwarts.

Se alguém dissesse a Draco um ano antes que ele estaria saindo no meio da noite para invadir a Seção Reservada com os gêmeos Black e Harry Potter, ele diria que a pessoa estava alucinando. Porém, ali estava ele esgueirando-se sorrateiramente pelos corredores com eles.

Quando chegaram à biblioteca, haviam dois monitores conversando na entrada. A Monitora-Chefe do ano, uma aluna da Lufa-lufa, junto de um dos monitores da Corvinal, e ela parecia dar algum tipo de instrução a ele, que balançou a cabeça antes de seguir pelo lado oposto ao dela.

Eles observaram sorrateiramente, escondidos contra a parede de um corredor próximo.

— Por que eles fazem ronda na frente da biblioteca? — Harry perguntou num tom baixo.

— Para o caso de algum idiota resolver invadir ela no meio da noite, talvez — Draco rebateu impaciente.

— Está se incluindo nisso? — Therion retrucou.

— Eles já foram. Vamos! — Canis chamou e saiu a frente ao lado do irmão.

Draco e Harry os seguiram, e eles entraram na biblioteca. Porém, assim que o fizeram, correram para se esconder atrás de uma estante ao ver a bibliotecária caminhando por ali.

— O que ela faz aqui ainda?! — Therion indagou.

— Ela não estava aqui a essa hora no primeiro ano — comentou Harry.

— Hoje ela está. O que vamos fazer? Não vai dar para nós quatro ficarmos sob a capa! — Draco questionou.

— Improvisar. — Canopus olhou ao redor, pensativo. — Dois distraem usando a capa, dois pegam a chave.

— Vamos ser pegos!

— Vamos dar um jeito. Só precisamos fazer ela ir para longe da mesa… Devia ter pedido ao vovô para me ensinar o Feitiço de Desilusão. — Canis suspirou. — Mas vamos dar um jeito. Therion e eu…

— Eu não vou ficar com o Malfoy — Harry imediatamente negou e enlaçou o braço ao de Therion.

Canopus e Draco reviraram os olhos ao mesmo tempo.

Black respirou fundo e começou a observar a biblioteca, buscando um local para atrair a bibliotecária e por onde se esconder até lá. Sua mente começou a trabalhar e traçar um plano alternativo rapidamente.

Não havia muitas formas de se criar uma distração numa situação como aquela em uma biblioteca.

— Vamos atraí-la para alguma seção longe daqui.

— Seção de Esportes Mágicos. Ela fica longe da mesa e da Seção Reservada, vai nos dar tempo de entrar — Draco sugeriu.

Canopus franziu o cenho, pensativo. Uau, era realmente uma boa ideia.

— É um ótimo lugar.

— Eu vou com o Therry usando a capa, então.

— Damos um jeito de atrair ela até lá e que fique por pelo menos uns minutos.

— Okay. Malfoy e eu pegamos a chave quando ela se afastar, e vocês voltam assim que ela lá.

Todos concordam.

Harry cobriu a si e Therion com a capa de invisibilidade, e eles se afastaram da estante devagar. Canopus tateou o ar a frente e teve certeza de que eles já haviam saído, então olhou para Draco.

— Atrás de mim, sem fazer barulho.

— Eu sei, não quero ser pego, seu idiota!

Canopus então abaixou-se e caminhou devagar, agachado, por entre as estantes menores próximas às mesas, sendo seguido por Draco. Então sentou-se no chão, escorado a uma delas, espiando discretamente e aguardando o irmão e Harry fazerem algo. Malfoy sentou-se ao seu lado, respirando fundo.

Therion e Harry seguiram até a seção de livros sobre Esportes Mágicos, retirando a capa ao chegarem. Não havia nada além de mesas e cadeiras para os alunos lerem e prateleiras lotadas de livros.

— Se derrubarmos essa estante, qual a chance de acontecer um efeito dominó e destruirmos a biblioteca inteira? — Harry questionou.

Therion analisou a estante e as outras próximas a ela. Era uma boa ideia, mas Harry estava certo, poderia gerar um estrago maior que o necessário.

— Bem grande, mas acho que não será preciso tanto. Podemos derrubar só os livros e as cadeiras. Ela provavelmente vai pensar que foi o Pirraça.

— Assim esperou.

Harry afastou-se com ele. Então apontou a varinha para as cadeiras e murmurou um feitiço de levitação, e Therion finalizou com um movimento de puxão na varinha que fez as cadeiras serem jogadas com força no chão com um estrondo, chegando a quebrar algumas.

Therion olhou para o mapa e observou o nome da bibliotecária movendo-se na direção deles.

— Pirraça! É você outra vez?

Assim que viram ela seguir por um corredor de prateleiras, Canopus e Draco saíram de onde estavam, agachados e a passos cuidadosos. Chegaram até a mesa da bibliotecária e começaram a abrir as gavetas.

Malfoy agarrou uma chave prateada.

— Peguei a chave! — disse.

Canopus sorriu.

Eles seguiram juntos até o portão que levava a Seção Reservada, e Draco abriu o cadeado rapidamente.

Na seção de Esportes Mágicos, Therion agitou sua varinha e murmurou um feitiço, então fazendo o movimento de um puxão que derrubou algumas prateleiras inteiras de livros no chão. Escondeu-se sob a capa junto de Potter rapidamente, e aguardaram juntos até verem a mulher de cabelos grisalhos adentrar aquela seção.

— Que bagunça! Quem está aí? Pirraça!

Black e Potter saíram rapidamente, desviando da mulher e seguindo para a Seção Reservada. Encontraram Canopus e Draco abrindo o portão e entraram rapidamente em seguida, e Malfoy fechou-o novamente para não levantar suspeitas.

Eles adentraram mais a seção, respirando fundo.

— Conseguimos! — Therion comemorou.

— Precisavam fazer tanto barulho? O que fizeram? — Draco questionou.

— Derrubamos livros e algumas cadeiras. Precisávamos atrair ela, não haviam muitas opções.

— Por sorte, ela pensa que foi o Pirraça. Vamos continuar antes que desconfie do contrário — Harry completou.

— Certo. Procurem qualquer livro que pareça ter informações sobre memórias — Canopus falou.

Eles começaram a procurar, analisando os exemplares nas prateleiras. Os que chamavam a atenção deles, eles pegavam para verificar o sumário antes de colocar de volta ou guardar consigo, em geral a primeira opção.

Levou um tempo para encontrarem algo. Eles desceram as escadas que levava para outra parte daquela seção, onde continuaram a buscar até Malfoy pegar um livro de capa dura azul escuro com entalhes prateados, o títulos destacado em torno de espirais desenhados. Os Segredos das Magias da Mente.

— Esse aqui.

— Tem certeza? — Canis indagou.

— Tenho. Aqui diz que tem capítulos sobre memórias.

Canopus pegou o livro e analisou-o antes de guardá-lo. Harry encontrou outro que pareceu útil. Desceram ainda mais na seção, e Therion admirou um livro de capa escura.

As Artes Mais Tenebrosas… Sua família e Voldemort com certeza adorariam esse aqui, Malfoy.

— Tinha um exemplar desse na minha casa, na verdade. Meu pai disse que roubaram durante uma reunião — Draco revelou.

— Uma reunião de Comensais? — Canopus supôs.

— Você sabe a resposta. Me admira ter isso em Hogwarts.

— Por isso está na Seção Reservada — Harry disse. — Acham que ainda vamos encontrar alguma coisa? Não lembrava que aqui era tão grande.

— Vamos só dar mais uma olhada por aqui. Depois voltamos. — Canopus olhou para seu relógio. Já passava das uma da manhã.

Eles analisaram cada prateleira de livros. Draco pegou mais um e entregou a Canis antes de decidirem encerrar as buscas. Três livros era algo bom e poderia ser útil.

— Como vamos passar os quatro sem sermos vistos? Precisamos de outra distração? — indagou Draco.

— Nosso principal objetivo com a distração foi tirar ela da mesa para pegar a chave. Acho que podemos nos esgueirar até a saída — Canis disse.

— Não podemos ficar com a chave.

— Quem disse? — Therion arqueou a sobrancelha. — Vão provavelmente pensar que perderam sem querer.

— E com ela, poderemos voltar caso precisemos. Não vão saber que fomos nós.

Então, eles ouviram uma risada alta e bastante conhecida junto ao som de livros caindo. Os quatro congelaram e voltaram os olhos para o poltergeist que pairava a frente deles.

— Mais crianças levadas invadindo a Seção Reservada para serem apanhadas! — ele cantarolou, rindo.

— Pirraça, nem pense nisso! — Therion exclamou.

— Eu vou contar! Eu vou contar! Eu vou contar!

— Não vai, não! — Harry disse.

— Vou, sim! Crianças levadas na Seção Reservada! Crianças levadas na Seção Reservada!

O poltergeist saiu voando gritando e cantarolando. Os garotos correram o mais rápido possível, sem nem pensar duas vezes, subindo as escadas e seguindo até o portão. Draco pegou a chave, afobado.

— Abre logo! — Canopus apressou batendo no ombro de Malfoy, o que o fez derrubar a chave. — Merda, Malfoy!

— Pare de ficar me apressando assim!

— Accio — Therion convocou a chave.

Ele passou o braço pela grade, tentando encaixar o cadeado quase tão afobado quanto Malfoy.

— Essa porcaria não quer entrar!

Harry afastou Therion e pegou a chave. Ele conseguiu encaixar a chave e destrancar o cadeado, então tirando as correntes rapidamente. Abriram o portão e correram para fora até atrás de uma estante.

Ouviram a bibliotecária e Pirraça. Logo viram o poltergeist voando sobre as prateleiras.

— Estão aqui! Estão aqui! Crianças levadas para serem apanhadas!

Os quatro xingaram o poltergeist.

— Plano de fuga. Vamos! — Canopus exclamou.

Potter cobriu-se com sua capa. Eles correram em direção a saída no momento em que os monitores de plantão da ronda entraram na biblioteca. Therion e Harry esconderam-se no corredor de livros de História da Magia, Draco no de Poções e Canopus de Herbologia.

Canopus saiu de seu esconderijo sorrateiramente para espiar onde estavam os monitores, pois o Mapa estava com seu irmão. De repente, sentiu-se ser puxado até um canto e jogado contra uma estante e percebeu ser Malfoy.

— O que você…?

— Shh! Fique quieto! — Draco sussurrou e tampou sua boca com a mão. — Tem um monitor passando por aqui. Quer ser pego?

Eles ficaram em silêncio, ouvindo passos vindo de onde Canopus estava instantes antes.

Draco concentrou-se nos sons dos passos enquanto tentava controlar sua respiração. Puxou Canopus para outro canto mais afastado e colocou-o contra outras estante, fechando os olhos com força e esperando que as pessoas fossem embora.

Quando abriu os olhos novamente, encontrou os do Black abertos encarando-o, sua mão ainda sobre a boca dele.

Eles ficaram em silêncio, os olhos fixos um no outro como acontecera vezes demais nos últimos dois dias para a sanidade de Malfoy. Sua outra  mão agarrava o casaco do Black, o peito rente ao dele.

Seus corações estavam acelerados pela adrenalina, uma tensão diferente no ar.

— Sem… Barulho… — sussurrou pausadamente enquanto afastava sua mão da boca do Black, e ela então juntou-se a outra agarrando o tecido do casaco.

Canopus não disse nada. O único som que ouviam eram as vozes distantes e passos dos monitores e suas respirações. E, como sempre ocorria quando se encaravam por tempo demais, os olhos de Draco acabaram cedendo, e ele desviou-os com as bochechas e orelhas avermelhadas.

Eles não poderiam ficar muito mais tempo ali, mas precisavam ser cuidadosos.

Um lado da mente de Draco gritava para ele se afastar de uma vez, o lado que sabia que deveria cumprir o que disse ao avô, que nada do que estava fazendo ou que começava a sentir era certo; ao mesmo tempo, outro lado queria apenas continuar ali.

Ele entrou naquele trem com a ideia certa de que obedeceria ao primeiro lado, que naquele ano ele seria tudo o que sua família esperava dele e mais. Porém, o ano letivo mal havia começado e já estava falhando miseravelmente.

Ele era tão fraco…

Enquanto isso, Canopus não sabia bem o que pensar. A adrenalina corria rápido por seu corpo, a tensão pela possibilidade de serem pegos e muito provavelmente aquela posição traria ideias bastante comprometedoras.

Seria uma boa desculpa para não assumir que roubaram livros, se eles não fossem da mesma Casa e não fosse a noite.

— Acho que podemos ir e… — Canopus começou a sussurrar, e Draco voltou os olhos para ele novamente.

Não concluiu sua frase.

Draco comprimiu os lábios, a cabeça a mil.

O que eu estou fazendo? O que eu estou fazendo?

Eles estavam em uma situação crítica, podendo ser flagrados a qualquer instante e ganhar mais uma detenção, mas ele só conseguia pensar no brilho daqueles malditos olhos de Canopus. Suas mãos apertaram o casaco do outro com mais força, puxando ao mesmo tempo que pressionava-o contra as prateleiras de livros. Sentia toda a adrenalina em seu corpo, nublando seus pensamentos.

Isso era exatamente o que seu pai sempre lhe ensinou a não fazer. Nunca devia deixar suas emoções mexerem tanto com sua cabeça, não poderia sentir tanto.

E para piorar, Canopus sorriu de canto. Aquele maldito sorriso travesso enquanto arqueação a sobrancelha.

— O que foi, Dragãozinho? Com medo? — indagou num sussurro. — Não confia nos meus planos?

— Nem um pouco.

— Nem um pouco de medo ou confiança nos meus planos?

— Cale a boca.

— Temos que ir.

— Por favor, só cale a boca — Draco ordenou.

Canopus calou-se imediatamente. Seus rostos estavam muito mais próximos agora, só não mais que no dia que seus lábios estavam colados por um grande acidente.

Ele não conseguiu se impedir de admirar os olhos tão claros, a mente completamente nublada. Nem conseguiu impedir os seus próprios olhos de descer pelo rosto de Malfoy.

Os narizes roçaram um ao outro.

Draco se odiou por tudo o que passou em sua cabeça naquele momento e pelo que queria fazer.

E talvez tivesse feito aquilo, algo que se arrependeria pelo resto do ano, provavelmente pelo resto da sua vida, se não tivesse ouvido a maldita risada daquele poltergeist.

— Eu vou contar! Crianças levadas no fundo da biblioteca! Eu vou contar!

— Pirraça! — Draco e Canopus exclamaram irritados ao mesmo tempo enquanto se afastavam bruscamente um do outro.

— Eu vou…

— Mais uma palavra, e eu vou chamar o Barão Sangrento — Canopus ameaçou.

O poltergeist pareceu estremecer.

— Não vai, não!

— Eu sou sonserino. Ele com certeza vai me ouvir e dar uma lição em você. Então, nunca estivemos aqui.

Draco balançou a cabeça, voltando a si e respirando fundo.

— O Barão ajuda os bruxos de sua Casa, e ele não vai gostar nem um pouco de saber que você encrencou conosco — disse.

— Se perguntarem, você estava aprontando aqui. Boca fechada ou lide com o fantasma da Sonserina. Não vai ousar arriscar, vai?

Isso assustou o poltergeist.

— Sem crianças levadas na biblioteca! Sem crianças na biblioteca! — ele saiu cantarolando.

Draco e Canopus suspiraram ao mesmo tempo, então encarando um ao outro.

— Eu estou imaginando coisas ou você estava prestes a…

— Vamos logo — Draco interrompeu e saiu andando.

Ele seguiu sorrateiramente por entre os corredores de livros em direção à saída. A porta estava aberta, mas sem ninguém por ali. Espiou o caminho antes de tentar seguir.

— Canopus, não! — Draco tentou alertar.

Porém, foi tarde.

Canopus tentou correr e bateu-se contra um dos monitores e derrubou os livros, e Malfoy imediatamente escondeu-se atrás de uma estante menor. Ele imediatamente apontou a varinha, ao mesmo tempo que tinha outra varinha apontada para si.

— Parado aí!

— Você derrubou meus livros, então, caso não se importe — Canopus falou com naturalidade e abaixou-se rapidamente para pegar os livros, abraçando-os contra o peito ao erguer-se novamente, sem deixar de apontar a varinha para o monitor.

Encarou o monitor por alguns instantes, imediatamente o reconhecendo.

Precisou pensar rápido em como escapar disso e assim o fez, já tendo todas as suas próximas frases bem formuladas em sua mente.

— Roubando livros da biblioteca à noite, Black?

— Nós fomos vizinhos e amigos por meses quando éramos crianças, não precisamos de formalidades. Como vai, Will? Muito tempo que não nos falamos, não? — Canis exibiu seu sorriso e inclinou levemente a cabeça, usando todo o charme Black que sabia que possuía.

O garoto de cabelos cor de cobre a frente era mais alto e mais encorpado, trajando um uniforme da Corvinal com a insígnia de monitor no peito. Apontava a varinha para o Black, mas retribuiu o sorriso com gentileza.

— Olá, Canis! Você e o seu irmão têm criado uma bela fama pelos corredores.

— Isso é um pouco chato, na verdade. Preferia ser reconhecido por minhas grandes habilidades de quadribol ou em magia — respondeu. — Fico feliz que ainda me reconhece, mas quase não nos vimos desde que entrei em Hogwarts. Vai me dizer que acredita que eu sou uma pequena cria das trevas?

— Você não é mais tão pequeno — riu. — Realmente não acho que o garotinho que me disse que eu era o garoto mais lindo do mundo ajudaria a organizar um ataque num evento de quadribol.

— Eu não estava brincando naquele dia. Foi muito deselegante da sua parte rir e achar tão engraçado uma declaração tão sincera.

— Me desculpe por isso. Onde está seu irmão? Vocês nunca estão sozinhos.

— Hoje, eu estou.

— Infelizmente, acho que você vai ganhar mais uma detenção. Vou chamar a Madame Pince e os outros monitores.

— Vocês monitores não dormem, não?

— Nós do sexto e sétimo ano precisamos nos revezar nas rondas noturnas depois do toque de recolher para o caso de algum aluno querer dar um passeio fora de hora… Ou roubar livros da biblioteca.

— Que tal você deixar essa passar em nome da nossa velha amizade? — Canis disse abaixando sua varinha e aproximando-se do monitor.

O garoto suspirou.

— Eu tenho uma função a cumprir.

— Por favor, Will. Você sabe que eu sempre amei ter livros novos para ler, hm? — Usou um tom suplicante, segurando a mão do outro que estava com a varinha e abaixando. — Estava sem sono e já li todos que tenho no malão.

— Poderia esperar até amanhã de manhã ou simplesmente reler os seus.

— Minha mãe era corvina, então tecnicamente sou metade corvino. Um pouco de compaixão por alguém com o sangue da sua Casa. — Caminhou distraidamente, fazendo o outro rodar para seguí-lo e ficar de costas para onde Draco estava e a porta. — Um presente de despedida antes de eu ser expulso e provavelmente nunca mais te ver.

— A coisa da audiência é verdade?

— É… Eu e meu namorado trouxa tivemos uns probleminhas com uns garotos trouxas babacas. Talvez eu tenha extrapolado um pouquinho.

— Um pouquinho?

— Um pouquinho. — Soltou a mão do outro para sinalizar com o indicador e o polegar, semicerrando levemente os olhos, mas sem tirar o sorriso de seu rosto ou afastar-se. — Você me conhece.

Agitou a mão para sinalizar para Malfoy aproveitar a deixa para sair e disfarçou fazendo uma magia com a varinha para deixar os livros flutuando para usá-la para prender os cabelos, então logo abraçando-os de volta em seguida.

Olhou para os corredores de estantes atrás de si e então de volta para o monitor à sua frente, voltando a inclinar a cabeça com um sorriso encantador e um olhar inocente.

— Eu prometo que na próxima vez pego os livros com mais antecedência — disse.

— Que livros pegou?

— Isso realmente importa? — suspirou. — Eu só queria algo novo para ler. Essa biblioteca é enorme, tem muitos que ainda não vi. Você é um corvino, deve entender.

— Hmm… É, eu entendo.

— Pode dizer que era o Pirraça fazendo bagunça como sempre, tenho certeza que vão acreditar.

— Canis…

— Eu senti sua falta quando veio pra Hogwarts, sabia? Infelizmente, saí de Gales antes das suas férias.

— Sentiu?

— Sempre foi difícil fazer amigos se mudando com tanta frequência, e você não fugiu quando descobriu meu sobrenome. Por favor, Willy…

Will suspirou, negando com a cabeça.

— Você é realmente um sonserino nato, Canopus Black.

Canopus sorriu satisfeito.

— Vá para seu dormitório, rápido. Se alguém te ver…

— Eu não te vi e nem sei seu nome — interrompeu e completou rapidamente. — Obrigado, Will.

— Já estão vindo, rápido.

— Vou ficar te devendo uma.

— Tente não se meter em mais encrenca.

Canopus apenas riu e beijou a bochecha do garoto, que olhou-o surpreso, então piscando pra ele e correndo para fora da biblioteca, seguindo o caminho planejado para o caso de alguma coisa dar errado. Correu por vários corredores até a entrada de uma passagem secreta que conheceu pelo Mapa.

Encontrou Therion, Harry e Draco de volta nas masmorras, os quatro reunidos. Foi por muito pouco, mas a missão havia sido cumprida.

— Eu quero esganar aquele poltergeist — Harry falou irritado. — Essa foi quase!

— Vou ter que começar a inserir alternativas nos meus planos para quando o Pirraça resolver brincar de ferrar todo mundo — Canis rebateu. — Tive sorte que o monitor que me pegou foi o Will.

— Quem?

— Will Chapman. Sexto ano, monitor da Corvinal. Lembra do nosso vizinho de quando moramos em Gales quando tínhamos nove anos que te falei na última lua cheia?

— O garoto que você teve uma paixonite?!

— E resolveu flertar no meio de uma fuga — Draco comentou cruzando os braços.

— Eu estava salvando nossa pele, Malfoy. Se não fosse por mim, estaríamos conversando com seu querido padrinho, e ele provavelmente enviando uma carta para o seu pai.

Draco não queria nem imaginar se isso acontecesse.

— Bom, pegamos os livros. Missão cumprida — Therion disse. — Nada mal, Malfoy. Só precisa ser um pouquinho mais amigável e terá um bom futuro nas detenções conosco.

— Eu não quero me meter em mais nenhuma encrenca de vocês.

— Vou começar a ler agora.

— E eu vou começar a fazer a poção de manhã bem cedo.

— Então já podemos voltar ao dormitório? — Draco perguntou.

— Sim.

— Então, até segunda. Não pretendo ver a cara de nenhum de vocês amanhã.

Draco virou-se e foi embora para a comunal, sem dizer mais nada. Os outros três suspiraram, exaustos.

— Vejo vocês de manhã, então. Café da manhã na Torre de Astronomia de novo?

— Casa dos Gritos — Therion respondeu. — Vou estar fazendo a poção.

— Certo. Boa noite, então.

— Boa noite, Prongs.

— Boa noite, Hazz.

Therion aproximou-se de Harry e deu-lhe um selinho rápido para se despedir. Não tinha que se importar com a presença do irmão, ele já sabia de tudo, afinal.

Potter sorriu enquanto se afastava. Os três disseram ao mesmo tempo antes de ele ir:

Malfeito feito.

————————

Olá, meus amores!
Tudo bem?

Voltamos ainda um pouco mais rápido que o de costume!

Um capítulo bem grande com o Draco sendo incluso nas peripécias dos Mini Marotos e dois momentos de surto de Stardragon para compensar as longas férias sem nada deles. Mais surtos estão por vir!

E Deerwolf também, fofos como sempre. Será que ainda vai demorar para eles se assumirem para toda Hogwarts? 🤭

O que vocês aguardam por vir nos próximos capítulos?

Não esqueçam de comentar bastante!!

LEGACY CHEGOU ÀS 250K DE LEITURAS!! MUITO OBRIGADA MESMO A TODOS VOCÊS QUE ACOMPANHAM. POSSO NÃO CONSEGUIR RESPONDER TODOS OS COMENTÁRIOS, MAS VEJO TODOS, AMO MUITO VOCÊS E SEMPRE TENTO INTERAGIR BASTANTE LÁ NO TWITTER (ME RECUSO A CHAMAR DE X)!!
OBRIGADA, AMO VOCÊS 🥰😘

Em breve retorno com mais!

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋

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