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L. Doubts

Arcturus tinha certeza que seu marido havia superestimado demais sua capacidade de manter-se firme naquela missão. Ele próprio havia se superestimado.

Na verdade, até o último dia em casa, por alguns momentos, ele pegou-se duvidando de que aquilo era realmente o certo a se fazer. Por mais que quisesse reparar tudo o que fez, o medo ainda estava ali presente.

Naquela noite antes de tudo começar oficialmente, ele aproveitou os últimos momentos de paz que teria com sua família. Essa era certamente a pior parte, não só ter que se afastar de algumas das pessoas que mais ama, mas também saber que nada seria igual dali em diante.

Por isso, Arcturus agarrou-se firme àquele momento.

Ali no Largo Grimmauld, na mesma casa onde nasceu e cresceu, Arcturus ninava sua filha e cantava para ela, sentado na mesma cadeira de balanço que um dia sua mãe, avó, bisavó e tantas outras antepassadas sentaram, ao lado do mesmo berço em que ele próprio dormiu quando bebê.

A pequena garotinha adormeceu tranquilamente, aninhada nos braços do pai enquanto a voz dele soava tão docemente pelo cômodo com uma canção de ninar em francês, a mesma que ele ouvia seu irmão mais velho cantar para si quando não conseguia dormir. Os finos cabelos loiros brilhavam sob a luz da lua que adentrava a janela, tornando aquela visão ainda mais bela e serena para Arcturus.

Um pequeno sorriso surgiu no rosto dele ao admirá-la após terminar a música, sua mente querendo guardar aquele momento eternamente, pois não ocorreria outra vez tão cedo.

Certamente aquela era uma das coisas que mais sentiria falta. Ela era tão pequena… Seria difícil ter que se afastar durante o ano letivo.

Ele beijou delicadamente a testa da bebê, para então deixá-la no berço com cuidado. Antes de sair, ativou a babá eletrônica, uma das aquisições trouxas da qual não abriria mão para poder ouvir a filha caso acordasse no meio da noite. Obviamente, ele usou magia para aprimorar o alcance e a qualidade do som, mas admirava os trouxas que inventaram aquilo. Era bastante prático, principalmente numa mansão tão grande quanto a Casa Black.

Após verificar os outros dois filhos em seus quartos e deixar o marido lendo uma história para Stella, ele seguiu para o banheiro, onde colocou-se na água morna da banheira e ali permaneceu pela próxima meia hora.

Não conseguia parar de pensar em tudo que enfrentaria a partir do dia seguinte, nem saberia dizer se estava preparado para tal. Encarar toda a atenção que receberia pelo nome Black e por se parecer tanto com Sirius, encarar seus sobrinhos que provavelmente sabiam tudo sobre ele e deviam detestá-lo, encarar Sirius…

Ele suspirou e jogou a cabeça para trás, apoiando na borda da banheira.

Com certeza não estava pronto para encarar Sirius.

— Por um momento pensei que tivesse sido sugado por algum ralo mágico — a voz de seu marido falando em italiano adentrou seus ouvidos.

Archie riu e voltou os olhos para a porta, encontrando o homem escorado no batente pela pequena fresta aberta.

— Não temos ralos mágicos — respondeu no mesmo idioma.

— Tudo nesta casa funciona à base de magia, eu não duvidaria.

— Estou apenas relaxando e refletindo em um longo banho. — Sorriu de canto. — E sim, aceito companhia.

— Muito nervoso para amanhã? — Mattias entrou no cômodo e fechou a porta.

— Você não faz ideia.

— Percebi na sétima vez que você checou as malas.

Archie suspirou e riu, voltando a encarar o teto. Até mesmo ele subestimava o quanto a situação estava o afetando.

— Eu só espero que esses meninos não sejam como o Sirius ou vou estar muito ferrado.

— Acho que será bem pior se eles forem parecidos com você, amor… E me parece que são.

— Eu sei — choramingou e levou as mãos ao rosto. — Deveria ter continuado na Itália.

Logo sentiu a movimentação na água e mãos agarrarem as suas e entrelaçar seus dedos. Ele recolheu as pernas e sentou-se para encarar o marido à sua frente com aquela expressão serena e carinhosa que sempre dirigia a si, ainda com os óculos no rosto.

Arcturus suspirou, encolhendo os ombros.

— Nós já estamos aqui. Não vamos voltar atrás agora.

— Dumbledore sempre poderá chamar o Binns de volta para lecionar.

— Apesar de que ter aulas com um fantasma parece fascinante…

— Acredite, não é.

— Você com certeza vai se sair bem. Howartis não poderia ter um professor melhor.

Hog-warts — Archie corrigiu o marido num tom risonho. — O G é fraco, mas não inexistente, e não precisa de tanta força no fim. Hog-warts. Fala o final bem rápido.

— Hog… Warts — Mattias repetiu pausadamente. — Hogwarts.

Archie sorriu orgulhoso.

— Muito bem.

— Viu? Você é um ótimo professor. Eu que estarei perdendo tendo que aprender com um sem-magia qualquer.

Arcturus riu e soltou as mãos do marido para segurar o rosto dele entre suas mãos enquanto recebia um beijo carinhoso em seus lábios.

— Você também irá se sair muito bem. É um ótimo ouvinte e aluno.

— Então você não precisa se preocupar.

Ele queria muito que fosse tão fácil não se preocupar.

Admirou o rosto entre suas mãos à sua frente, perdido nos olhos claros por trás das lentes de armação dourada. Retirou os óculos dele e os fez flutuarem até a pia antes que caíssem na banheira. Acariciou a bochecha dele com delicadeza, gravando cada mínimo detalhe, ao que emaranhava os macios fios loiro-mel entre seus dedos. Não queria nunca se esquecer daquele rosto ou do olhar apaixonado que sempre direcionava para si. Voltar para ele seria sua força nos próximos meses.

Mattias fez exatamente o mesmo consigo, subindo devagar as mãos por seu corpo, passando por todas as cicatrizes delicadamente até chegar ao seu rosto e seus cabelos úmidos. Conseguia ver que um de seus principais pensamentos no momento também era a falta que sentiria e que aquele era o último momento de paz que teriam juntos.

Arcturus não queria que essa paz acabasse, mas ela já estava fadada ao fim no dia que a Marca em seu braço voltou a ficar mais vívida e decidiu aceitar a proposta de Dumbledore após pedir sua ajuda.

Ele lutou tanto para conquistar aquela paz…

— Acha que eu fiz a escolha certa?

— Acho que eu estar aqui já responde.

— Você ainda estaria mesmo se achasse que estou errado — Archie rebateu. —, porque você é assim. Você me seguiria para o outro lado do mundo até eu perceber o que estou fazendo.

— Nós fazemos nossas próprias escolhas. Eu sempre vou escolher ficar com você, porque sei que sempre fará o certo no fim e tentará reparar até os erros que não são seus… Porque você é assim. Por isso estamos aqui.

— Isso é confiança até demais.

— Não teríamos chegado até aqui se eu não confiasse. — Ele riu. — Mas se quer minha opinião sincera… Sim, você está fazendo o certo.

— Nossa vida nunca mais será igual antes… Esteja ele retornando ou não.

— Eu já aceitei que minha vida seria caótica no dia que decidi me casar com um bruxo, e amo tudo isso.

Archie forçou um fraco sorriso. Ele nunca deixaria de ser grato pelo dia que um belo trouxa italiano trombou consigo em Paris e parou para pedir informação.

— E você não poderia fugir do seu irmão e dos seus sobrinhos para sempre — Mattias prosseguiu. — Você sabe que não.

— Eu ainda não estou pronto para encarar o Sirius de verdade — Archie admitiu e seus olhos marejaram. — Ele com certeza ainda me odeia.

— Problema dele.

— Ele tem motivos suficientes para isso.

— Assim como você tem para se ressentir com ele ainda.

Somente pensar em falar com Sirius já o apavorava. Ouviu do próprio irmão que estava morto para ele, que nunca mais deveria ousar chegar perto dele ou de sua família… Família da qual ele já não fazia mais parte.

Você não é mais o meu irmão, ele disse, com todas as letras. Você está morto para mim, Regulus.

Arcturus guardava aquelas palavras até hoje em seu peito.

— Vocês dois têm muito o que conversar…

— Eu sei… — Uma lágrima escorreu por seu rosto. — Obrigado por estar aqui.

Sempre.

— Vou sentir sua falta — confessou num sussurro e então não conseguiu mais conter as lágrimas. — Não queria deixar você e Pandora sozinhos aqui.

— Nós vamos ficar bem. Temos um simpático elfo para nos ajudar e a missão de arrancar aquele maldito quadro da parede para nos entreter.

Arcturus riu em meio às lágrimas.

— E se a enfermaria precisar de alguns conhecimentos médicos de um trouxa, pode mandar me chamar.

— Está bem.

— E já fiz uma ótima amiga sem-magia e estrangeira como eu para me fazer companhia quando estiver entediado nessa mansão enorme e solitária… Eu vou sobreviver.

— Assim parece que nem vai sentir minha falta.

— Se eu disser que vou, você vai chorar mais ainda e vai desistir de entrar naquele trem.

Arcturus empurrou o marido e virou o rosto avermelhado, logo ouvindo ele gargalhar. Tentou falhamente secar o rosto e abraçou suas pernas em seguida, fungando e evitando olhar para ele com uma expressão emburrada.

Mattias ria e tentava segurar seu rosto, mas ele o afastou.

— Desculpa, amor… — falou, e Archie olhou-o de soslaio. — Mas você sabe que é verdade.

— Odeio você.

— E você sabe que eu vou sentir falta. — Mattias segurou suas mãos e beijou-as carinhosamente. — Vai partir o meu coração ficar tanto tempo longe do meu gatinho emburrado.

— Não sou um gatinho emburrado.

— Você é sim. Meu gatinho emburrado. — Mattias sorriu e abraçou-o, começando a depositar vários beijos em todos os cantos de seu rosto, em seu pescoço e seus lábios.

Archie era fraco demais para isso e então escapou uma risada sincera. Ele abraçou os ombros do outro com força e deixou-se ser puxado para seu colo, aproveitando enquanto ainda podia fazê-lo. Apenas conseguia pensar em como faria falta poder abraçá-lo e ter momentos tranquilos como aquele.

Nos últimos anos, aquele fora o seu refúgio. Quando partisse naquele trem, não teria para onde correr, teria de enfrentar seus maiores temores de frente.

— Estarei sempre te esperando — Mattias disse encarando seus olhos e beijou a ponta de seu nariz. — Eu sei que você vai conseguir e logo vai voltar para mim. Acredito em você, Archie.

— Obrigado por me esperar — sussurrou. Aquele agradecimento carregava um peso muito além da situação em que estavam agora, e Mattias sabia.

Ele nunca se arrependeria de esperar, e Arcturus sabia, não apenas por poder ver em sua mente.

— Sempre vou esperar por você.

E agora ali estava Arcturus no primeiro dia, chorando encolhido em seu novo quarto duvidando se realmente conseguiria, pensando apenas no quanto queria voltar para o homem que o esperava em casa e para sua filha caçula que era apenas um bebê tendo de se acostumar a sua ausência.

Já sabia que não seria fácil encarar os sobrinhos, mas não imaginou que seria tanto. Eles despertaram memórias de seu passado, as quais lutou muito para superar e deixar de pensar. Trouxeram à tona toda a culpa que ele sentia por não ter sido forte o bastante para enfrentar sua família antes que fosse tarde demais.

Não havia como reparar seus erros sem encará-los de frente. Ele precisava continuar.

Aquele foi apenas o primeiro dia. Ainda teriam muitos outros pela frente, e ele sequer podia imaginar tudo o que teria de enfrentar por todo aquele ano.

Ele sequer queria imaginar como seria quando tivesse que encarar Sirius outra vez. Já não conseguiu encarar os filhos dele sem desabar em seu quarto.

As palavras dele em seu último encontro durante a guerra ainda estavam vivas em sua mente, ainda dolorosas.

Você não é mais meu irmão. Você está morto para mim”

Por um tempo, Arcturus realmente quis estar. Até que surgiu a esperança em sua vida, uma luz. Um recomeço.

— Papai — a voz de Stella ecoou em seus ouvidos junto ao som das batidas na porta. — Papai, está aí?

— Um momento, Stellina — pediu com a voz falha e fungou enquanto secava as lágrimas em seu rosto. — Luna está com você?

— Não, só a Vênus. Abre a porta.

— Espere só um pouco, eu só… Não vou demorar. Cinco minutos.

Ouviu os passos da filha afastando-se da porta e então seguiu para o banheiro do quarto, apoiando ambas as mãos na pia enquanto respirava fundo. Mordeu o lábio inferior com força e deixou as últimas lágrimas caírem antes de se recompor.

Encarou seu reflexo no espelho, os olhos e o rosto vermelhos de tanto chorar. Lavou o rosto e respirou profundamente, também passando as mãos pelos cabelos volumosos e ajeitando suas roupas. Fez o melhor para recuperar sua aparência para algo mais estável para que a filha não se preocupasse se percebesse que estava chorando.

Quando saiu do quarto, encontrou a filha andando de um lado a outro pelo mezanino brincando com um novelo de lã em suas mãos enquanto Vênus a seguia agitada tentando pular para pegar o novelo. Ela então de repente parou e encarou-o com uma expressão emburrada.

— Está atrasado. Foram seis minutos e dois segundos.

— Desculpa, querida. Eu estava descansando depois de um dia cheio — falou e forçou um fraco sorriso. — Como foram as aulas da tarde?

— Não gostei de Herbologia. — Ela fez uma careta.

— Por que?

— É chato e as luvas pinicam.

— Podemos comprar novas de um material mais confortável. Sprout não vai se importar.

— Ainda vai continuar chato.

— Por enquanto, infelizmente, não podemos escolher e precisamos estudar até as disciplinas que achamos chatas. No sexto ano você vai poder escolher estudar o que quiser.

— Vai demorar muito.

— Eu sei, mas ainda tem muitas outras aulas muito legais. Quer ajuda em alguma tarefa?

— Transfiguração.

— Então pegue seus livros enquanto preparo um chá e um chocolate quente. Mais tarde chamamos a Luna para jantar aqui conosco e escrevemos cartas sobre nosso dia para o seu pai e seu irmão.

Ela concordou com a cabeça e correu até sua mochila, com a gata logo atrás aos seus pés.

Arcturus soltou um longo suspiro e então a seguiu, pronto para uma pausa em sua missão para fazer seu papel de pai, pois nenhuma preocupação deveria ser maior que isso.

***

Alguma coisa dizia a Canis que ele deveria ouvir o irmão e ir embora para o dormitório em vez de seguir Moody, mas a raiva e a curiosidade falaram mais alto naquele momento.

Therion seguiu o irmão, não saindo de seu lado e enlaçando o braço ao dele enquanto passavam pela porta.

A antiga sala de seu pai estava completamente diferente agora. Haviam livros nas prateleiras, porém infinitamente menos que no ano anterior ou como na sala de Arcturus, e em seu lugar estavam vários artefatos da época de auror do professor.

Sobre a escrivaninha havia um grande bisbilhocópio, um pião de vidro para identificar a presença de inimigos. Em uma mesinha estava uma antena para detecção de segredos e mentiras, e em uma parede um espelho que não possuía reflexo e apareciam apenas vultos. Além deles, muitos outros objetos semelhantes lotavam a sala.

Os garotos reconheceram muitos deles de histórias de Lyall sobre algumas de suas aventuras com aurores durante o início da Guerra ou que ele havia ouvido desses colegas no Ministério. Ele era sempre bastante preciso na hora de descrever alguns deles ou mesmo mostrava imagens em livro, alguns ele possuía em casa para segurança.

— Gostaram dos meus detectores de presença das trevas? — perguntou Moody ao vê-los observar a sala.

— Sim — Therion respondeu. — Nosso avô já nos contou de alguns. Aquilo é um Sensor de Segredos, não é?

— Sim, é. Não funciona aqui, claro. Muita interferência com alunos constantemente mentindo, inventando desculpas para seus atrasos ou para não terem feito seus deveres — falou o professor. — Imagino que não esteja falando do seu avô Orion Black nem do trouxa pai de sua mãe.

— Lyall Lupin, nosso avô adotivo. Ele trabalha no Ministério e conhece aurores, já nos contou algumas coisas — Canis explicou. — Provavelmente já o viu no Ministério em algum momento antes de se aposentar.

— Provável. Sentem-se.

Os garotos sentaram-se em duas cadeiras de frente para Moody em uma mesa onde ele dispôs três xícaras. Um bule fumegante flutuando serviu seus chás, e Therion foi o primeiro a logo beber um gole na tentativa de aliviar a dor em sua cabeça.

Além de sua cabeça, ele também começara a sentir um grande desconforto em seu ombro, ainda dolorido de quando foi jogado contra a parede por Malfoy. Porém, aquela dor parecia insignificante em meio àquele caos do seu dia.

— É chá de hibisco?

— Costume antigo meu. Um velho amigo com quem dividi o dormitório na minha era de estudante que já partiu na Guerra sempre servia esse chá todas as tardes, sem falta — disse. — Amigo esse que não está aqui graças a alguém em particular.

O olho bom de Moody encarou os garotos, enquanto o outro continuava a girar na órbita aleatoriamente.

— Archie… — Therion murmurou.

— O mesmo motivo para nossa mãe não estar aqui — Canis comentou baixo e dolorido, contendo as lágrimas que queriam sair para manter a postura.

— Nunca chegaram a prender o Comensal que matou sua mãe, mas tenho plena certeza de quem foi e ele está aproveitando bem a sua liberdade no momento. Se tem algo que detesto mais que bruxos das trevas é um bruxo das trevas covarde.

— Existem muitos por aí.

— Sim, covardes que escaparam das consequências e continuaram suas vidas enquanto outros apodreciam presos. Temos filhos de muitos deles nesta escola.

A expressão de Moody era do mais profundo desprezo e desgosto, como se conseguisse pensar nos nomes de cada Comensal que escapou de suas mãos e continuou livre.

— E inocentes pagaram por algo que não fizeram — Therion falou friamente.

— Está se referindo ao seu pai? Acredita mesmo na inocência dele?

— Sirius é inocente. Ele nunca foi um aliado de Voldemort.

— Diferente do irmão dele — Canis murmurou.

— Muita coragem sua falar o nome do Lorde das Trevas, rapaz. Poucos a tem hoje em dia.

— Ele está morto e era apenas um louco supremacista como seus seguidores. Não tenho porque ter medo de um simples nome — Therion retrucou rapidamente e um brilho curioso surgiu nos olhos do professor. — Não mais, ao menos. Antes nós tínhamos um pouco, tudo que tem nos livros de história sobre ele é terrível e sabíamos que por causa dele nossa mãe não está mais aqui, mas… Não somos mais crianças para ter medo dele. Ele está morto.

— Pois talvez devesse. Ele não era chamado de Lorde das Trevas a toa.

— Não duvidaria que fosse o ego dele falando mais alto — Canis falou e bebeu um gole de chá. — O senhor disse que investigou a morte da minha mãe. Sabemos que Voldemort a queria morta por estragar muitos de seus planos… Sabe como ele conseguiu chegar até ela?

— Ela quem foi até ele por livre e espontânea vontade.

Os gêmeos gelaram, confusos. Sabiam que ela tinha planos para deter, mas ir diretamente ao Voldemort? Impossível.

— Ela estava planejando algo quando saiu de casa naquele dia, mas ela não seria louca de ir até o… — Therion começou a falar.

— Ela foi — Moody interrompeu. — Imprudente demais, claro. Mas, sim, Karina foi pessoalmente atrás dos Comensais e de Voldemort para enfrentá-los diretamente, sem nenhum reforço, totalmente sozinha.

— Ou foi atraída até lá? — Canis indagou.

— Uma teoria esperta, rapaz. — Moody sorriu de canto. — Apenas ela poderia dizer. Infelizmente, para os autores, sua imprudência de ir sozinha sem aviso tornou as investigações bastante complicadas, para a sorte de Voldemort e dos Comensais.

— Arcturus disse a ela para ir até ele, e então a pegaram. Ele disse que precisava de ajuda, e ela foi porque era amiga dele. Ela acreditou nele…

— Canis…

— Estava tudo na carta. Ela disse que iria ajudá-lo… E dias depois estava morta. Não tem outra explicação.

— Carta?

— Ele ainda tem a última carta que ela enviou.

Moody riu baixo.

— Nem todos os Comensais são tão espertos como dizem.

— Se sabe que foi ele, por que nunca o prendeu? Por que não prende agora?

— Eu não sou mais auror e nem tenho mais provas. Muito tempo já se passou desde a guerra, não há nada que se possa fazer.

— Como tem tanta certeza de que foi ele se não pode provar? — Therion perguntou.

— Tenho meus motivos para acreditar, mas não acho que seja o momento de mostrá-los.

— Mostre. Não precisa ter pena — insistiu. — Nós aguentamos. Não faz ideia de tudo o que já descobrimos nos últimos meses.

Houve um longo momento de silêncio em que os garotos encararam o ex-auror. Suas mentes estavam bagunçadas, vários pensamentos a cada minuto. Estavam tão confusos com tudo que estava ocorrendo e ao mesmo tempo magoados.

Therion queria muito acreditar que Archie não estava envolvido na morte de sua mãe, mas a reação dele ao questionamento de Canopus fortaleceu aquela dúvida em sua mente. Ele não queria falar nada sobre seu passado, mas um assunto como aquele exigia ao menos uma indignação de sua parte caso não fosse a verdade. Mesmo que não quisesse explicar, poderia simplesmente ter dito que não o fez e fugido dos detalhes. Essa percepção quebrou o coração do garoto.

Lembrou-se de todos os sonhos com a voz de sua mãe desde o ataque de dementadores em Hogsmeade. Ainda sonhava com ela, sabia que Canis também. Ainda guardava entre seus pertences a mesma fotografia dela que carregava desde o primeiro ano em Hogwarts.

Quando descobriram todos os detalhes sobre sua morte ao visitarem seu túmulo, os gêmeos apenas imaginavam o quanto ela sofreu até seu fim apenas para garantir um futuro para eles, mesmo que não soubessem nem de metade de suas motivações. Eles conheciam a história da família Longbottom e não esperavam que algo diferente tivesse ocorrido antes de sua morte. Ao menos esperavam que ela tivesse lutado para voltar para eles.

Eles preferiam acreditar que sim, principalmente Canopus, pois não suportaria a ideia de que ambos os pais preferiram ir salvar o mundo a voltar para ele. Já carregou demais essa dor por Sirius. Sua mãe não poderia ter feito o mesmo.

Mas se foi mesmo Archie… Ela lutaria contra um de seus amigos?

— Se estava investigando, você deve saber tudo. Apenas fale — Canis pediu.

— No momento certo — disse Moody. — Porém, sigam meu conselho: Vigilância constante. Nunca abaixem a guarda. Comensais covardes são as últimas pessoas em quem se deve confiar, pois se traíram o Lorde das Trevas para salvar a própria pele, trairiam qualquer um. Diriam qualquer coisa para se salvar.

— Pode ao menos falar alguma coisa da investigação? Ou… Das vezes que a viu no Ministério.

— Como auror, eu não poderia dar detalhes confidenciais de investigações, sobretudo envolvendo agentes do Ministério…

Os garotos suspiraram, mas um pequeno sorriso de canto surgiu no rosto marcado de cicatrizes de Moody.

— Contudo… Eu já não sou mais um auror. — Um brilho de esperança surgiu nos olhos dos Black. — Sua mãe era extremamente… — Houve mais um momento de silêncio, os garotos ainda mais ansiosos. — Audaciosa e persistente. Poucos conseguiriam um cargo próximo ao mais alto escalão do Ministério logo após a formatura, e ela conseguiu, e se aproveitou disso até demais.

— Ela era assistente do Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia da época, sabemos — Canis comentou.

— Bartemius Crouch.

Moody falou com uma carranca perceptível no rosto, o desprezo transbordando ao falar aquele nome. Os garotos não fizeram uma expressão muito diferente ao ouvir, pois tiveram o desprazer de conhecer o homem durante a Copa Mundial. Ele não parou de acusá-los de ter conjurado a marca.

Quando Therion soube que ele foi o responsável por condenar Sirius sem um julgamento, sua antipatia pelo homem apenas aumentou.

— Vejo que também não compartilham muito apreço por ele.

— Ele é um imbecil desprezível — os gêmeos falaram ao mesmo tempo com uma careta no rosto.

— Concordo. Sempre pensa em si mesmo como o ápice da justiça bruxa, preocupa-se mais com o trabalho que sua própria casa.

— Um trabalho muito mal feito. Vários Comensais livres e inocentes presos — Therion falou. — E o filho era um Comensal. Espero que tenha servido de lição para aquele velho idiota.

— O que sabem sobre o filho do Crouch?

— Que ele era um Comensal da Morte e foi condenado à prisão perpétua pelo próprio pai. Foi tão vergonhoso para o Crouch que ele deixou o cargo.

— E que estudou na mesma época que o Arcturus e nossos pais, embora não fossem tão próximos quanto ele era da pretendente dele, ou dos amigos corvinos.

— Essa aproximação chegou quando ele tornou-se Comensal, claro. Eu mesmo os enfrentei pessoalmente.

— É sério? Como foi? — Canis perguntou curioso.

— Isso é assunto para outro momento. Mas não se enganem sobre Barty Crouch Jr. O pai é um grande responsável pelo fim que ele levou.

— Ele ainda está preso?

— Morreu em Azkaban, como muitos outros prisioneiros. Nem todos suportam a presença constante de dementadores, a força e poder deles de trazer à tona suas piores lembranças e tormentos… — Ele fez uma pausa. — Qualquer um definharia nesse estado.

— Conhecemos bem os efeitos dos dementadores. Fui atacado três vezes por eles — Therion revelou. — Nós… Ainda sofremos as sequelas disso.

— Lamento por isso, garotos. Não é uma experiência que eu desejaria a muitos de meus inimigos.

Therion remexeu-se na cadeira, tocando o ombro. Então mais uma vez bebeu um longo gole de chá. O diálogo não estava tão ruim quanto esperava.

— Já que querem saber mais sobre a morte de sua mãe… Posso dizer que ela talvez preferisse os dementadores. Ela obviamente não passou por coisas boas após sua captura.

Os gêmeos engoliram em seco, temendo o que viesse a seguir.

— Seu pai fez um belo escândalo no Ministério quando ela sumiu… E quando encontrou o corpo dois dias depois também.

— D-dois dias? — Canis indagou.

— Esse foi o tempo que ela ficou com eles. É o que se acredita, ao menos. Seu pai a encontrou num esconderijo recém-abandonado… A Marca das Trevas anunciava a presença recente dos Comensais da Morte.

— Dois dias… Dois dias sendo… Torturada?

Houve um instante de silêncio.

— Não há outras alternativas a se pensar. Tomando um chá com eles não estava.

— E não prenderam ninguém. — Canopus cerrou os punhos, os olhos marejados.

— Nunca chegaram nem perto de descobrir quem fez isso — Therion falou com a voz falha, a lágrima escorrendo por seu rosto.

— Eu compreendo a dor que estão sentindo.

— Nós sabemos o que vai dizer. Não precisa continuar — Canopus o interrompeu. — Que entende, que foi uma tragédia, que essa dor vai passar…

— Não vai. Não vou dizer palavras bonitas. Nem sempre o mundo real vai dizer — Moody rebateu. — A dor por saber que o responsável por nos tirar quem amamos está livre, que quem causou tanto sofrimento a alguém tão importante para nós não sofreu as consequências e que nunca teremos essa pessoa de volta… Eu entendo. A Guerra levou muitas pessoas. Essa dor não vai embora, mas a justiça às vezes ainda poderá ser feita.

Therion buscou a mão do irmão e agarrou-a com força, nenhum deles conseguindo manter a postura ou as lágrimas nos olhos.

***

Quando chegou a hora de ir jantar, os gêmeos não estavam com ânimo algum para isso. Na verdade, ainda estava cada um digerindo aquele dia.

Therion deitou-se na cama de seu dormitório assim que chegou ao cômodo após deitaxarem a sala de Moody e ali pegou no sono, exausto de tudo.

Canopus, no entanto, não foi dormir. Contrariando as ordens médicas de Pomfrey, em vez de descansar, ele foi gastar mais energia. Pegou sua firebolt e seguiu para o campo de quadribol, pois sua cabeça estava cheia demais para enterrar a cabeça em algum livro ou mesmo no diário de sua mãe, e ali ficou pelas horas seguintes.

Quando Therion acordou, o desconforto em seu ombro parecia ainda pior. Ele xingou Draco mentalmente desabotoou sua camisa e deixou a manga cair por seu ombro em frente ao espelho e reparou na marca em seu braço onde ele havia apertado. Logo arrumou-se novamente para ir jantar.

Não queria retornar ao Salão Principal, realmente não queria, mas foi mesmo assim pois a fome o venceu. E quando deixou a Comunal, encontrou Harry no corredor próximo a escadaria que levava às masmorras.

Potter logo percebeu sua expressão ainda pior que naquela manhã.

— Você descansou? Estava esperando vocês, imaginei que ainda estivessem dormindo. Onde está o Canis?

— Um pouco — respondeu. — Canis foi dar uma volta com a vassoura para espairecer. Nós falamos com o Archie de novo…

— Oh! E como foi?

— Nada bem…Combinamos de nos ver agora antes do jantar, mas… Agora só quero jantar e voltar para o dormitório.

— Está tudo bem — Harry falou e tocou seu ombro delicadamente. — Podemos conversar depois.

— Podemos conversar na Torre de Astronomia? — pediu num sussurro, os olhos cansados e suplicantes. Ele precisava disso. Precisa de um pouco de tranquilidade naquele caos de seu dia.

— Claro… — Harry respondeu no mesmo tom. — Como o Canis está?

— Péssimo. Foi tudo um caos. Minha cabeça está explodindo, Canis teve uma ideia para invadir a sala do Arcturus que deu muito errado, fui pedir ajuda a ele, tive que lidar com o imbecil do Malfoy me jogando contra uma maldita parede para me interrogar sobre usar minha legilimencia, achei o Archie, mas não consegui impedir ele de descobrir e voltar pra sala dele, por causa disso acho que ele nunca vai me ajudar com legilimencia, mesmo que eu só tenha ido agora por causa desse plano idiota, eu realmente gostaria da ajuda dele, porque ele convive com isso há muito mais tempo e Sirius cuidava dele, eu vi nas memórias quando treinávamos em casa, então sei que saberia me ajudar, mas agora foi tudo pelos ares. Há uma grande chance de ele ser o Comensal que matou a minha mãe, e eu não queria que isso fosse verdade, ainda não quero, e conversamos com o Moody, ele apenas aumentou as suspeitas, falou como nossa mãe foi diretamente ao Voldemort, que Arcturus pode ter ajudado a atraí-la, que ela… — Therion desabafou de uma vez, sem pausas, falando sem parar enquanto as lágrimas voltavam aos seus olhos, tão rápido que Harry quase não compreendeu, até que ele soluçou e sua voz sumiu.

Ele só queria um pouco de paz agora.

Toda aquela história estava sendo demais para sua mente. Apenas queria ter um ano bom com seu irmão e Harry, mas aquilo parecia impossível para eles. Quando tudo parecia ir bem, logo desmoronava.

— Hey, calma. Eu estou aqui. — Harry o abraçou.

Therion não disse mais nada, somente choramingou e gemeu dolorido com o abraço forte.

— Vamos jantar, depois vamos descansar um pouco na Comunal e nos encontramos na Torre depois do toque de recolher, okay?

— O-okay… Ah… — Therion retribuiu o abraço, mas sentiu uma dor latejante em seu ombro.

— Hey… Dor de cabeça?

Therion negou com a cabeça enquanto se afastavam, tocando o ombro. Harry tocou o lugar levemente e foi então que ele se tocou sobre algo que o Black disse em meio a todo aquele caos descrito.

— O que você falou sobre o Malfoy?

— Encontrei com ele enquanto procurava o Arcturus. Ele me puxou para um corredor para discutir comigo porque sem querer acabei entrando na mente dele nas aulas…

— Você falou algo sobre te jogar contra uma parede? Me diz que isso foi metafórico, Therion.

Therion deixou a manga direita da capa escorregar por seu braço e arregaçou a manga da camisa social branca do uniforme até onde Malfoy havia agarrado seu braço. Havia um leve hematoma no local, mas o pior de tudo era o estado de seu ombro, Harry notou. Parecia estranho…

— Falou com o Canis?

— E eu tive tempo para pensar em falar? Antes nem estava doendo tanto quanto agora. Não sabia que aquele idiota era tão forte, foi no Canis que ele bateu ano passado.

Potter tocou com um pouco mais de firmeza, e o Black gemeu de dor no mesmo instante. Ele logo reconheceu qual era o problema.

— Malfoy bateu em você?! — Harry perguntou exasperado, o fogo ardendo em seus olhos. 

— Não… Ele só me agarrou pelo braço e… Vou falar com a Madame Pomfrey depois do jantar, não se preocupe.

Potter não conseguia ouvir mais nada. Ele cerrou os punhos, furioso, e virou-se para seguir caminho em direção ao Salão Principal a passos duros. Ele havia acabado de ver Malfoy passar por aquela direção junto de Zabini e Nott, há poucos minutos.

Therion seguiu-o rapidamente, resmungando pela dor. Com a adrenalina esgotada, ficava cada vez pior. Ele voltou a xingar Malfoy em sua mente.

Avistaram o garoto em meio aos amigos na porta do Salão Principal. Ele estava quieto ao lado de Astoria e Blaise enquanto Pansy, Daphne e Nott discutiam sobre algo.

— Será que podem parar de discutir bobagens para irmos jantar? — Draco falou num tom entediado e impaciente.

— MALFOY! — Harry gritou.

Draco revirou os olhos e bufou, olhando na direção de Potter e observando ele se aproximar rapidamente com uma expressão furiosa com a varinha em punho ao lado de Therion.

— O que foi agora, Potter?

Depulso!

Malfoy foi jogado contra a parede. Ele grunhiu dolorido e encarou Potter confuso, rapidamente pegando sua varinha enquanto outros alunos observavam surpresos e começavam a se reunir. O garoto ficou de pé com uma expressão irritada.

— Que merda você está fazendo, Potter?

— Eu quem te pergunto! — exclamou Harry. — Que merda você pensava que estava fazendo quando machucou o Therion?

— Eu não fiz nada com a cópia ambulante do Canopus, idiota. Ele quem ficou invadindo minha mente — esbravejou irritado.

— Como se houvesse alguma coisa nessa sua cabeça oca para se preocupar tanto com isso.

— Você não sabe de nada, Potter!

— Você que não sabe! Ele não sabe controlar ainda e já teve um dia difícil o bastante, aí vem você se achando no direito de machucar ele!

— Eu só conversei com ele.

— ELE ESTÁ COM A PORRA DE UM HEMATOMA E VOCÊ QUASE DESCOLOCOU O OMBRO DELE, PORRA! ISSO É CONVERSAR?

Draco franziu o cenho.

— Não exagere, Potter! Ou o pequeno Black é uma bonequinha de porcelana indefesa que se quebra fácil?

— Cala a merda da boca, Malfoy! — Therion quem rebateu. — Eu não vou ficar meses chorando por isso pedindo ao meu pai para te executar por isso.

— Peça desculpas — Harry pediu.

— O quê?!

— Peça desculpas ao Therion, AGORA! — Apontou a varinha para Malfoy.

— Não tenho porque me desculpar. Pare de dar chilique e querer chamar a atenção.

— Peça agora ou eu não respondo pelo próximo feitiço que irei lançar.

Draco gargalhou. Uma risada alta que foi acompanhada por Crabbe e Goyle assistindo próximos e logo por Theodore, Pansy e Daphne também.

— Acha mesmo que isso me assusta, Potter?

— Quer mesmo testar?

— Vamos lá, então! Mostre sua coragem da Grifinória.

Expulso!

— Protego! — Draco protegeu-se do feitiço.

— PEÇA DESCULPAS, AGORA!

— Nem pensar.

— Flipe…

Expelliarmus!

A varinha de Harry voou de sua mão. Malfoy sorriu satisfeito.

Flipendo! — Foi a vez de Harry voar até a parede oposta.

Therion sacou sua varinha.

— Expuls…

Expelliarmus! — A varinha do Black também voou. — Deveria pedir ao seu irmão para te ensinar alguns truques sem varinha.

Therion então grunhiu furioso e avançou contra Malfoy, esquecendo-se completamente da dor em seu ombro. Por muito pouco Draco desviou de um soco.

— Agora entendo porque o chapéu ficou onze minutos na sua cabeça. Quem sabe devesse ter te mandado para a mesma casa do Potter.

— Seria ótimo não precisar dividir o quarto com um mimado asqueroso como você!

Black puxou-o pela capa e deu uma joelhada em seu estômago, exatamente como viu em algum dos filmes de ação que viu durante as férias.

Malfoy ofegou, sem ar, e caiu de joelhos. Ele apertou a varinha em sua mão, respirando ofegante. Black respirava fundo e rápido, os olhos faiscando de raiva enquanto o encarava. Ficou de pé com dificuldade ao mesmo tempo que Harry, e quando Therion partiu para cima mais uma vez, ele agarrou seu braço ferido para se defender e o empurrou com toda a força restante, logo voltando a cair sobre um de seus joelhos ainda buscando ar, enquanto o garoto rolou no chão.

Therion grunhiu mais alto, sentindo uma dor agora muito maior.

Harry pegou sua varinha de volta e apontou para Malfoy.

— Perdeu sua chance de se desculpar, Malfoy.

— Eu tenho… Muito mais treino que você, Potter. Com meu pai, com meu avô… Não perca seu tempo — Draco retrucou com dificuldade. — Diferente de você, eu tenho uma família bruxa de verdade para me ensinar.

Harry não usou sua varinha. Em menos de um minuto, seu punho acertou o rosto de Malfoy.

Draco olhou-o com ainda mais raiva, o sangue escorrendo de seu nariz.

— Não preciso de magia para quebrar a cara de alguém com minhas próprias mãos — Harry falou. — Devia ter pedido ao seu avô para te ensinar isso antes de morrer.

— Não abra sua boca para falar do meu avô.

— Não vou gastar minha saliva para falar mais de mais algum supremacista imbecil da sua família. Machuque o Therion outra vez e não vai ter magia no mundo que te salve, Malfoy.

Harry virou-se na direção de Therion e seguiu até ele.

Draco cerrou os punhos,  de respiração ofegante, sentindo aquela raiva do momento crescer com toda a força dentro de si. Ele avançou contra as costas de Potter.

— ATAQUE PELAS COSTAS É COISA PARA COVARDES! — uma voz ecoou alto da entrada do saguão.

Na entrada do castelo, Canopus ajeitava as roupas enquanto adentrava o saguão com a vassoura em sua mão, sentindo-se ainda exausto, mas um pouco mais relaxado. Limpou como pôde a lama de suas vestes com sua varinha, até que avistou a movimentação no Salão Principal.

Aproximou-se rapidamente e a primeira coisa que avistou foi o irmão ao lado de Harry segurando o braço direito, ambos olhando estáticos para algo enquanto as risadas ecoavam de Rony e outros alunos.

— O que… Antares?!

Canopus notou a doninha sendo agitada de um lado a outro e então largada no chão. O animal correu para longe das pessoas, em sua direção.

— Um ataque pelas costas é corvade, nojento! Não torne a fazer isso! — Moody disse agitando a varinha.

— Ei! Não o machuque! — esbravejou.

Ele correu e pegou a doninha, que escalou agitada seu braço e encolheu-se em seu ombro, tremendo assustado. Tentou tirá-lo de seu ombro, mas ele havia prendido as pequenas garras em sua capa com força, sem querer soltar.

— Hey, calma, garoto — falou com cuidado, soltando as patas de suas roupas. — Que merda tá acontecendo aqui?

— Canis! — Therion exclamou e se aproximou.

Canopus tirou a doninha de seu ombro, o animal ainda tremendo bastante assustado e agitado. Analisou-o com cuidado e rapidamente percebeu algo.

Aquela não era a sua doninha.

— Esse aqui não é o Antares.

— Você vê alguma diferença? — Harry arqueou a sobrancelha.

— É o Malfoy! Moody transfigurou ele!

— PROFESSOR MOODY! — A voz de McGonagall exclamou de algum lugar. — Este animal não é mesmo um aluno, é?!

— Claro que é!

Canopus franziu o cenho, confuso, enquanto aninhava a doninha ao peito e já logo sentia as garras mais uma vez se prendendo em suas roupas. Observou novamente, era uma doninha branca exatamente como Antares, mas ele conseguia diferenciar o formato dos olhos e do corpo. Sua doninha era um pouco menor e com pelos mais curtos.

Tremia muito e o pequeno peito movia-se rápido, sinal de respiração frágil. Muito medo. Aquele não podia ser realmente Malfoy.

Mas então olhou ao redor e viu todos os amigos dele, mesmo ele ali.

Uma garota se aproximou, e ele reconheceu como a irmã mais nova de Daphne.

— Merlin… Draco, você ainda consegue nos entender? — ela perguntou.

— É realmente o Malfoy?!

— Professora, ele transformou o Draco naquele furão ali! — Nott exclamou.

— É uma doninha! Furões têm o dobro do tamanho e um rabo maior e mais peludo — Canopus corrigiu.

— Foda-se o animal! Ele transformou meu amigo nisso aí!

Então Arcturus aproximou-se ao lado de Stella. A garota rapidamente tampou os ouvidos e escondeu-se atrás do pai, que tocou seus ombros carinhosamente e puxou-a para seus braços enquanto tentava entender o que estava ocorrendo e seguia até a vice-diretora.

Enquanto Minerva discutia com Moody sobre como não se deve usar transfiguração como punição para alunos, Canopus voltou a analisar a doninha, tentando enxergar algum traço de Malfoy ali. Ele fez cócegas na barriga do bichinho, que então mordeu o seu dedo.

— Ai! É realmente o Malfoy.

Draco guinchou e encolheu-se, fazendo vários guinchados. Canis ouvia o mesmo barulho quando Antares chorava por acabar preso sem querer em alguma gaveta ou atrás de algum móvel enquanto explorava a casa.

— Por que Moody o transformou?

— Ele tentou me atacar por trás enquanto estávamos brigando.

— Brigando pelo quê dessa vez?

— Ele machucou o Therry! — Harry exclamou apontando para o braço de Therion.

— O quê?!

— Nós usamos detenções, Prof. Moody. Detenções! Ou falamos com o diretor da Casa — Minerva esbravejou. — Você não pode transformar um aluno para puni-lo.

A mulher então aproximou-se e agitou sua varinha. Ouviu-se um estampido e Draco foi transformado de volta. Como estava nos braços de Canopus, o peso repentino de sua forma habitual os fez ir ao chão e ele caiu sobre o Black.

Canis resmungou e xingou vários palavrões. Draco apoiou-se em suas mãos com dificuldade, respirando muito rápido e ofegante, buscando ar com quase desespero, seu rosto vermelho e os cabelos completamente bagunçados. Seus olhos rapidamente buscaram os do Black.

— Devia ter te deixado naquela forma por ter machucado meu irmão. Sai de cima de mim! — Canis empurrou-o para o lado e ambos sentaram-se no chão.

Astoria, Pansy e Theodore ajoelharam-se ao lado de Draco, que levara a mão ao peito. Seus olhos estavam arregalados e marejados, e ele não parava de respirar fundo em busca de ar. Começou a tatear ao redor em busca de sua varinha.

Canopus mantinha uma expressão fechada, mas então franziu o cenho.

— Você já está de volta, Malfoy. Calma! 

— Eu… Não…

Arcturus foi até eles rapidamente e também ajoelhou-se ao lado de Draco. Ele pegou sua varinha e pressionou no peito de Malfoy, murmurando algumas palavras que fizeram um brilho amarelado surgir.

— Respire fundo… Devagar… — falou baixo e com calma. Draco assim o fez. —  Está tudo bem agora. Vamos para a ala hospitalar por precaução.

Malfoy apenas assentiu com a cabeça, e Archie ajudou-o a ficar de pé.

— Black, leve seu irmão à ala hospitalar também — McGonagall disse a Canopus. — E você, Sr. Potter, conversaremos mais tarde em minha sala sobre os pontos que perderá junto a ele e Malfoy após eu conversar com Snape.

— Mas foi ele quem começou!

— Não importa. O restante, vão todos para o Salão Principal jantar. Se querem assistir a duelos, juntem-se ao clube. Vamos, andem!

A multidão começou a se dispersar para dentro do salão com um grande alvoroço com todos falando sobre o ocorrido.

***

Sessenta pontos perdidos e duas semanas de detenção. Draco, Therion e Harry não ficaram nem um pouco felizes com isso.

Therion ficaria na ala hospitalar ainda pelo resto da noite a mando de Madame Pomfrey e estaria liberado pela manhã, mas claro que Harry tratou de pegar sua capa da invisibilidade e ir vê-lo após o toque de recolher. Não foram para a torre de Astronomia, mas Potter ainda abraçou Black e deixou que ele desabafasse tudo sobre antes da briga com Malfoy e então deitasse em seu ombro para dormir.

Draco foi liberado na hora do toque de recolher, e ele foi direto para o dormitório e tomou um longo banho. Ele não conseguiu dormir bem, a experiência de ser transformado em um animal foi assustadora.

No momento, inicialmente foi confuso, não conseguia entender o que estava acontecendo. Nem sabia direito o que o guiava, mas a sensação foi estranha e ele não queria repetir.

Foi bastante satisfatório descobrir que Dumbledore repreendeu Moody pelo que fez. A parte ruim foi que, passado o susto, seus amigos não o deixaram mais em paz com isso, nem Canopus.

Como se já não bastasse o luto em que estava, agora seria alvo de humilhações pelo resto da vida.

— Uma pena que te transformaram de volta, Antares iria gostar da companhia — Black comentou enquanto acariciava sua doninha em seus braços.

— Ele já tem um cachorro como dono para acompanhá-lo — rebateu.

— Você foi uma doninha muito fofa — Blaise caçoou rindo. — Vou te comprar uma de Natal.

— Nem ouse! Eu não quero mais ouvir uma palavra sobre isso. Vão dormir.

— Boa noite, doninha — Theodore disse ao deitar-se em sua cama, e Malfoy fuzilou-o com os olhos.

Os outros três garotos riram. Blaise também ajeitou-se em sua cama e fechou as cortinas, assim como Nott, e Draco agarrou as da sua e fez o mesmo após pegar um pergaminho, uma pena e um livro de apoio.

Ali ele escreveu uma carta para sua mãe e outra para seu pai, usando sua varinha para iluminar, em ambas descrevendo o que Moody fez. Porém, na endereçada a sua mãe ele divagou mais sobre como foi a primeira noite e que ainda pensava no avô. Pensou muito se deveria dizer sobre o retorno de seu primo Regulus Arcturus Black, agora apenas Arcturus e com um sobrenome de casado, porém decidiu não o fazer, como o próprio lhe pediu na ala hospitalar.

Eles não conversaram muito, mas Draco revelou que sabia quem era, e ele pediu que não contasse a seus pais. Pensou muito em não acatar ao pedido, mas optou por esperar.

Quando terminou, guardou-as em sua cômoda para enviar de manhã. E então, deitou-se em sua cama na esperança de ao menos ter uma noite tranquila.

Contudo, ele obviamente não teve, pois sequer conseguiu pregar os olhos. Sua mente estava lotada. Pensava no traumatizante evento de ser transformado em doninha, em seu avô, em ter tornado a sentir aquele sufocamento em seu peito e na garganta.

Draco sempre odiava quando acontecia.

Derramou suas lágrimas da noite, claro. Era o único momento em que ele poderia se permitir chorar. Como na noite anterior, apenas chorou encolhido apertando forte o medalhão em sua mão.

Ele pegou seu diário e começou a escrever para tentar esvaziar um pouco sua mente, isso sempre ajudava. Infelizmente, não fez o sono chegar, mas aliviou um pouco.

Então, já em plena madrugada, Malfoy saiu de sua cama e pegou um de seus livros de romance que trouxe de casa, sem deixar o diário de lado, e saiu do quarto, descendo para a Comunal. Apesar do horário, ainda encontrou alguém lá.

E encontrá-lo não foi surpresa alguma para ele.

— Desde quando você usa óculos? — indagou confuso.

Canopus ergueu o rosto num salto pela chegada repentina, encarando Malfoy através dos óculos em seu rosto. Ele estava sentado no parapeito da enorme janela com as pernas encolhidas, um livro aberto em suas mãos e o diário de sua mãe no colo junto de Antares.

Era uma visão nova e totalmente diferente, mas Draco não saberia descrever como ao certo. Combinava com ele de um jeito inesperado, principalmente naquela forma relaxada com seu pijama e um livro em mãos. Talvez parecesse ainda mais bonito.

Oh, ele com certeza não deveria pensar em como Canopus ficava lindo de óculos.

Draco manteve sua postura, ignorando os pensamentos que vieram a sua mente.

— A miopia do Potter é contagiosa?

— Se fosse, eu precisaria deles para dar qualquer passo — retrucou. — O que faz aqui? Mantendo os hábitos noturnos de uma doninha selvagem?

— Você não é o único que pode fazer uma leitura noturna quando não consegue dormir.

— Contanto que não atrapalhe a minha, fique à vontade. — Estendeu a mão para o espaço à sua frente ainda restante na janela.

Draco pensou em ir para outro canto, a comunal era enorme, mas ele sentou-se ali e abriu o seu livro, que era em francês. Começou sua leitura, mas não conseguiu não olhar para o Black lendo a frente, com o rosto tão molhado de lágrimas quanto o seu.

Não perguntou sobre isso. Ele não contaria, e Draco não queria saber, não importava.

— De verdade… Por que está usando óculos?

— Para conseguir enxergar o livro. Nunca viu óculos de leitura?

— Só estou surpreso que use.

— Já está pensando em como vai me zoar por ter algum grau de miopia? Fique à vontade, tenho muito o que dizer sobre você também, Doninha — Canis rebateu.

Draco encarou-o com uma expressão séria, sendo encarado de volta. Black também percebeu os rastros que manchavam seu rosto, iguais a noite anterior, mas dessa vez não questionou porque chorava.

— Não está tão terrível.

— Oh… Acredito que esse seja o máximo de um elogio que você pode dizer a alguém, então, obrigado. Sei que ainda estou bonito.

— Nem tanto — Draco mentiu.

— Você era uma doninha fofa. Deveria continuar naquela forma, seria muito mais suportável.

— Você poderia ficar na forma de cachorro. Não teria que te aturar nas aulas.

Draco voltou sua atenção para seu livro outra vez. Canopus fez o mesmo. O silêncio instaurou-se entre eles, mas, surpreendentemente, longe de ser desconfortável.

Cada um estava focado na própria leitura, imerso nos livros, a presença alheia sendo quase insignificante.

Porém, a calmaria teve fim quando Malfoy sentiu algo peludo passando por seus pés. Ele pulou de susto e então viu Antares agarrar-se a sua perna e começar a subir para seu colo. Pegou a doninha e colocou-a no chão, mas ela não demorou a novamente subir até ele.

— Canopus, tire essa coisa daqui!

— Ele só está reconhecendo o ambiente. Não vai te morder.

— Está me atrapalhando, tire ele daqui!

Canopus revirou os olhos e pegou a doninha, acariciando seu queixo com leveza.

— Eu sei que ele parece uma ótima doninha para você ficar amigo, mas ele não é. É uma doninha inimiga.

— Pare com isso!

— Estou falando com a minha doninha, não com você — rebateu aninhando Antares em seu peito. — E o que está lendo? Um livro sobre a pureza do seu sangue ou sobre como virar uma doninha outra vez?

— Não te interessa, Black.

— Antares, pode ir fazer seu reconhecimento. — Soltou o animal, e ele foi até Draco outra vez.

— Black!

— Vejamos…

Canis tentou pegar o livro das mãos de Malfoy, mas ele imediatamente abraçou o objeto com força, apertando contra o peito.

— Sai daqui!

— O que foi? Não quer compartilhar sua leitura?

— Não.

— Está lendo algo que sua nobre família não aprovaria?

— Não, só não é algo que seja da sua conta. E tire essa doninha de cima de mim!

— Posso ver esse aqui, então? Você sabe que eu adoro livros.

Canopus pegou o caderno caído ao lado de Malfoy rapidamente, e ele arregalou os olhos e tentou pegar de volta, mas ergueu para o alto e afastou-se, ficando de pé.

— Me devolve!

— Pensei que não tivesse tanto amor pelos livros quanto eu, Dragãozinho. — Canis sorriu de lado.

Obviamente ele estava apenas querendo provocar. Após um dia caótico, seria divertido descontar um pouco provocando Malfoy já que não tinha seu irmão ali por perto para passar o tempo.

— É o meu diário, Black. Devolva! — Draco exclamou irritado.

— Você realmente tem um diário? — Arqueou a sobrancelha e então analisou o caderno de capa de couro.

— Eu te disse que tinha, e é pessoal.

Draco alcançou-o e agarrou o diário, apertando-o contra o peito junto ao livro enquanto olhava para o Black com raiva e respirando fundo e rápido. Definitivamente não queria que ninguém visse o que escrevia, muito menos ele.

Não apenas por ser coisas extremamente pessoais. Tinha certeza que o Black não o deixaria em paz se soubesse das poesias que escrevia ali às vezes ou os desenhos que fazia. Nem mesmo seus pais sabiam sobre isso ou seus amigos, era algo apenas seu.

Seus sentimentos, sua mente.

— Eu não ia ler. Sua vida com certeza é patética e desinteressante.

— Você não sabe absolutamente nada sobre mim ou a minha vida — retrucou secamente. — Você pensa que sabe tudo, mas não entende e nunca vai entender nada sobre mim ou a minha família, porque você é filho de um maldito traidor de sangue que estava em Azkaban com uma sangue-ruim e cresceu tendo uma vida miserável com um irmão idiota e um lobisomem.

— Não ouse abrir sua boca suja para falar da minha mãe, meu pai ou meu irmão. Minha mãe tinha sangue trouxa, mas era uma bruxa muito mais digna do que qualquer um da sua família sonha em ser. Ela só não está viva por causa de bruxos como vocês que se acham superiores por causa de uma ideologia estúpida! — Canopus rebateu imediatamente, exasperado. Seus olhos rapidamente marejaram.

— Vai chorar com saudades da mamãe agora, Black?

— Eu aposto que você estava até há pouco chorando na sua cama por causa do seu avô, não é?

— Eu conhecia ele, então ao menos tenho o que sentir falta.

Canopus abriu a boca para falar, mas nada disse. Ele apenas comprimiu os lábios. Draco sabia que aquelas palavras eram duras e afiadas como facas, mas ele precisava dizer.

O silêncio agora não era mais tão confortável. Era denso e pesado, quase sufocante.

Draco pensou seriamente em dar meia volta e retornar para seu quarto, mas então ouviu Canopus falar.

— Conhecia?

— O que você está dizendo agora? — Franziu o cenho.

— Realmente conhecia o seu avô? Ou melhor… Você realmente conhece a sua família?

— É claro que…

Draco se interrompeu. Não concluiu o que iria dizer.

Sem desviar os olhos, Canopus avançou em sua direção. Ele não se afastou, apenas respirou fundo e observou ele abaixar-se para pegar algo do chão e então parar bem a sua frente.

Black estendeu uma fotografia. A cópia que ele havia feito no dia que foi a sua casa.

Draco abriu seu diário e percebeu que a foto havia caído dele, onde manteve guardada nos últimos dias.

— Realmente conhece? — insistiu Canopus num tom mais baixo e firme.

— Você descobriu alguma coisa sobre a Hadria? — perguntou receoso.

— Descobri.

— Eu vi ela… No velório do meu avô. Parecia mais velha, mas tenho certeza que era. Não consegui falar com ela, ela sumiu depois de ir para algum lugar com meu pai. Ele… Ele ficou estranho de repente e mau-humorado o resto do dia.

— Ela provavelmente acabou com sua grande satisfação de enfim herdar tudo que era somente dele por direito.

— Como assim?

— Se ela estava no velório, então um dos meus palpites estava certo.

— Chega de rodeios, Black!

Canis riu com escárnio.

— Você realmente não sabe nada nem sobre sua própria família. — Jogou a fotografia para Malfoy e afastou-se, pegando o diário de sua mãe.

Draco apertou a foto em sua mão e encarou Canopus sério, impaciente. A curiosidade crescia dentro de seu peito junto a raiva por Black não falar de uma vez.

— Me diga logo.

— Tem uma página bem interessante aqui no diário da minha mãe. Ela escreveu principalmente coisas a partir do terceiro ano dela, mas encontrei uma parte que ela fala especificamente sobre um dia no segundo ano depois da páscoa, a primeira vez que ela se aproximou de Hadria. Dia que também ganhou uma detenção diretamente do irmão mais velho dela, que era o Monitor-Chefe.

— E daí?

— Você deve saber quem era o Monitor-Chefe no início de 1973.

— O que isso tem a ver?

— Você realmente não é tão esperto quanto diz ser.

— É o ano que minha avó morreu, meus pais não falaram muito sobre esse período de Hogwarts e… E…

Oh Salazar. Não. Não. Não.

Draco mais uma vez se interrompeu.

— Você acha que realmente conhece sua família, mas nem sabia que o seu pai tem uma irmã.

— Ele não tem.

A cabeça de Draco pareceu girar. Canopus estava definitivamente maluco e querendo apenas provocar e brincar consigo, não havia outra justificativa.

— Tenho provas o bastante para dizer que, sim, ele tem.

— Você está mentindo sobre o que está escrito aí. Me deixe ver!

Draco pegou o diário das mãos de Canopus. Black imediatamente exclamou irritado, porém sequer teve tempo de dar muita atenção a isso, pois o caderno imediatamente fechou-se sozinho nas mãos de Malfoy com o fecho brilhando em um tom azulado.

Malfoy franziu o cenho confuso e tentou abrir o fecho, sem sucesso.

Canopus agarrou o caderno, mas Draco não soltou, ambos segurando-o juntos.

— Devolve, isso era da minha mãe.

— Ela trancou o diário com magia de sangue familiar?! — indagou surpreso, sem soltar.

— Sim, só Therion e eu podemos abrir. Tire as patas dele.

— Isso é magia antiga e poderosa, a mesma do meu medalhão. Como ela conseguiu isso?

— Surpreso que uma nascida-trouxa seja talentosa o bastante para fazer magias antigas? — Puxou o diário com raiva e abriu novamente naquela página. — Pois acredite, minha mãe era uma bruxa incrível. E pode ler bem aqui exatamente o que eu falei.

— Essa página está brilhando.

Canopus franziu o cenho e observou a página. Ela realmente parecia brilhar na escuridão. Draco, receoso, aproximou-se e segurou o caderno para analisar a página, junto do Black.

Então, ambos apenas sentiram um grande puxão em seus corpos, como se tivessem sido agarrados e jogados em outro lugar. Para Malfoy, a sensação foi semelhante à do vira-tempo.

E de repente, eles não estavam mais na comunal da Sonserina.

Eles olharam ao redor confusos, percebendo que estavam em uma sala de aula, mais especificamente, a sala de Poções. A sala estava cheia de alunos da Corvinal e da Lufa-lufa não parecendo ter mais que doze ou treze anos,  mas Snape não estava lá.

Eles engoliram em seco, porém ninguém pareceu notar a chegada repentina deles. Na verdade, estavam todos concentrados em seus caldeirões ferventes enquanto um homem baixo e gorducho analisava a poção de uma mesa.

Havia algo de estranho no ar que fazia tudo apesar de fiel a realidade não parecer… Real.

— Excelente, Srta. Radcliffe. Excelente! A senhorita tem demonstrado um trabalho magnífico.

— Obrigada, Prof. Slughorn — respondeu uma garota com forte sotaque irlandês.

Canopus congelou, sentindo um nó em sua garganta.

Ali estava ela. Os cabelos acastanhados caindo pelos ombros, os olhos cor-de-mel quase dourados contra a luz, o uniforme azul de sua Casa. Estava ao lado de um garoto que compartilhava muitas semelhanças consigo, mas ao mesmo tempo muitas diferenças também, a começar pelos olhos azuis como safiras.

Mamãe… — A voz de Canopus saiu falha, quase inaudível.

Draco olhou para ele. Uma lágrima escorria por seu rosto enquanto encarava em choque a cena à sua frente. Ele tentou tocá-la, mas sua mão atravessou-a como se fosse fumaça.

— É uma memória, Canopus. Ela não está aqui de verdade — falou.

— Uma memória? Como viemos parar aqui?

— Eu não sei, mas sei que Slughorn foi professor de Poções em Hogwarts antes de Snape. Isso é uma visão do passado.

Os dois observaram surpresos a imagem dos irmãos Radcliffe a sua frente. Os reconheciam rapidamente da fotografia com Remus e Hadria, mas estavam um pouco mais novos nesta ocasião. Não faziam ideia de como estavam acessando uma memória passada de uma aula de Karina.

A maior suspeita de ambos, obviamente, foi o diário.

— O diário nos trouxe aqui.

— Como? — Canis perguntou.

— Isso eu já não sei. Geralmente se usa uma Penseira para isso.

— Estão todos dispensados. Lembrem-se que nossa prova se aproxima, então dediquem-se nos próximos dias.

Canopus e Draco apenas observaram Karina começar a conversar em irlandês com o garoto ao seu lado enquanto arrumavam suas coisas para sair.

— O que estão dizendo? — Malfoy perguntou. — Não sei falar irlandês.

— Eles estão indo para a ala hospitalar ver o meu pai. Noite passada foi lua cheia… Tio Killian está chateado porque ele não deixou ninguém ir até a Casa dos Gritos essa manhã e o expulsou de lá, e seu pai ainda foi encher o saco e dar detenção pra ele.

— Sério, Black? Vai começar a implicar com meu pai até vendo uma memória da sua mãe?

— Estou apenas traduzindo.

Os irmãos começaram a seguir a turma que deixava a sala, porém pararam.

— O senhor não, Sr. Radcliffe. Temos uma detenção para cumprir — o professor chamou.

— Deixaria ir ver meu amigo na ala hospitalar, por favor? Prometo ser rápido e voltaria para a detenção — Killian suplicou.

— Detenção após a aula, Radcliffe. Aguardaremos seus amigos para que eu passe a tarefa de vocês.

— Mas meu amigo está muito muito doente, Professor. Ele sempre fica mais feliz quando nos vê e precisaríamos ajudá-lo.

— Só um pouquinho, Professor — Karina pediu.

— A senhorita está livre para ir, seu irmão fica. Infelizmente, não posso fazer mais nada.

— Essa detenção é injusta. Malfoy sempre persegue nós nascidos-trouxas! — Killian rebateu.

— Seus amigos Black, Potter e Pettigrew não são nascidos-trouxas. Não faça acusações precipitadas, meu caro.

Diabhal fionn fola dúr.

— Tenho a impressão que isso não foi um elogio — Draco comentou.

— Ele está basicamente chamando seu pai de demônio loiro maldito e estúpido… Uma ótima descrição para sua família.

Draco suspirou e revirou os olhos. Ainda queria entender por que diabos estavam vendo a mãe do Black provavelmente no segundo ou terceiro ano em uma aula de Poções.

Depois de falar com a irmã, Killian voltou até a mesa em que estava a passos duros e sentou-se emburrado e de braços cruzados. Karina saiu da sala, e Canopus correu atrás dela. Malfoy não viu outra escolha a não ser também ir atrás.

Hogwarts parecia exatamente a mesma. Vários alunos saindo de suas últimas aulas pela tarde e seguindo para as comunais, o jardim ou o pátio.

— Radcliffe, espera!

Karina revirou os olhos, mas não parou de andar.

— Karina, ei! Não está nos ouvindo?

Ela então parou de repente e virou-se para trás. Draco e Canopus viram três garotos aproximarem-se correndo.

— Como seu irmão e Potter estão…?

— Não é o meu irmão e Harry, é Sirius e Tio James.

— Esse é literalmente você dois anos atrás.

— Eu já ouvi demais o quanto me pareço com o Sirius, obrigado. Não preciso que você reforce isso.

Draco observou quase desacreditado Sirius, muito mais novo do que quando o viu na Casa dos Gritos, correr ao lado de uma versão de Potter sem a cicatriz e sem os olhos verdes.

— Killian está à espera na sala de Slughorn para a detenção.

— Espera… Um segundo — James falou, recuperando o fôlego e apoiando as mãos nos joelhos. — Viemos correndo… Da sala de Feitiços… Díos mio! Acho que batemos nosso recorde.

Ela encarou os três garotos com uma expressão neutra no rosto. Além de Potter e Black, Pettigrew também estava ali recuperando o fôlego pela corrida.

— Estou à espera.

— Você vai ver o Remus? — Sirius perguntou.

— Estava a caminho da ala hospitalar até vocês atrapalharem.

— Será que pode perguntar a ele por que expulsou a gente daquele jeito da Casa hoje de manhã?

— Vocês foram lá depois de ter pedido para não ir. Queriam flores?

— Nós só queríamos ajudar! — James exclamou. — Você já sabe há mais tempo e sempre ia com o Killian. Só queríamos ajudar igual fizemos antes da Páscoa.

— Vocês deixaram ele ainda mais envergonhado e desconfortável! Isso é ajudar?

— Ainda estamos lidando com o fato de ele ser… Er… — Sirius começou a falar e gesticulou com as mãos, parecendo sem saber o que dizer. — Eu fiquei nervoso!

— Você mostrou exatamente o porquê ele quis esconder que tinha licantropia. Você nem consegue falar o que ele é. Isso já é difícil o bastante para ele, Black! Com certeza é incapaz de perceber isso já que só se importa consigo mesmo e sua família idiota!

— Você teve a quem puxar — Draco murmurou para Canopus.

— Ele é meu amigo! Você não pode falar nada sobre mim ou minha família, você é só uma sangu…

— Sirius, nós já conversamos sobre isso! Não pode falar essa palavra! — James repreendeu o amigo.

— Desculpa, eu…

— Vão para a detenção antes que me envolvam nos problemas de vocês.

Karina virou-se para ir embora, mas os três colocaram-se à frente dela.

— Perdoe o Sirius, ele… A família dele é uma merda e ensinou algumas coisas muito erradas, mas ele realmente se preocupa com o Remus. Todos nós nos preocupamos!

— A detenção vai acabar muito tarde, Madame Pomfrey não gosta de visitas noturnas. Pode só ver se ele está bem? — Peter pronunciou-se pela primeira vez.

— Era exatamente o que iria fazer, porque eu me preocupo com ele.

— Pode vir falar conosco sobre como ele está? Por favor — James pediu unindo as mãos para suplicar. — Não quero ir com minha capa ainda. Depois de hoje de manhã, acho que só pioraria tudo e nós realmente queremos estar bem com ele. Ele é nosso melhor amigo!

— Eu irei falar ao Killian quando acabar a detenção. Vocês iriam estar lá. Satisfeitos?

— Certo! Ótimo! Nós só queremos saber se ele está bem e se podemos vê-lo amanhã de manhã bem cedo.

— Okay. Será que poderiam sair?

Eles saíram da frente dela.

— Orbigada.

— Ah, Karina… — Sirius chamou.

— O quê?

— Se ver o meu irmão, pode dizer a ele para vir falar conosco? Não o vi o dia inteiro. Ele sempre está com a Pandora.

— Está bem.

Ela seguiu o caminho até a ala hospitalar. Canopus apenas seguiu sem dizer mais nada, não tirando os olhos de sua mãe, e Draco apenas conseguia pensar como a forma de agir deles era muito parecida.

Eles chegaram à ala hospitalar e não demoraram a avistar Lupin mais jovem deitado em uma maca envolto em ataduras com vários ferimentos no corpo, exatamente como Canopus e Therion estavam após toda a confusão na Casa dos Gritos. Foi impossível para Malfoy não se recordar daquele dia.

A atenção deles, no entanto, foi para a maca ao lado. Ali estava uma garota muito pálida com algumas ataduras nos braços. Seus cabelos loiros extremamente claros estavam bagunçados, os olhos azuis também muito claros, exatamente como os de Draco, encaravam o nada, perdidos e opacos, com olheiras profundas e vermelhos de tanto derramar lágrimas, as quais ainda eram visíveis em seu rosto. Era possível ver cicatrizes e marcas semelhantes a queimaduras em seu pescoço.

Era Hadria. Mais nova que na foto, mas era ela.

Ao lado dela, sentado em um banco, estava outro garoto muito parecido com o Black. Arcturus, logo pensaram, segurando o grande exemplar de Animais Fantásticos e Onde Habitam.

— Karrie! Você… — Remus exclamou, mas então gemeu dolorido enquanto ajeitava-se na maca.

— Eu respeitei seu pedido e de não ir até você de manhã, mas eu ainda te visitarei aqui na ala hospitalar — Karina sorriu docemente para ele. Seu tom para falar com Lupin era muito mais amigável que o usado com Black, Potter e Pettigrew. — E sei que Killian e aqueles seus amigos foram. Eles ganharam uma detenção na volta quando foram pegos pelo Malfoy.

Remus suspirou e balançou a cabeça, levando as mãos ao rosto.

— Como você está?

— Bem, na medida do possível. Foi uma noite difícil… Não vou ser liberado tão cedo.

Karina voltou-se para a maca ao lado, confusa.

— O que houve com seus braços, Malfoy?

Hadria encolheu-se e afagou os próprios braços, não olhando para ela. Draco observou paralisado, sem conseguir mover nem um músculo.

— Eu disse que ela era da sua família — Canis murmurou.

Draco não disse nada, tentando processar aquilo.

— Isso não é da sua conta — disse o jovem Black.

— Acidente com a vassoura — Hadria murmurou baixo. — E crise alérgica. Nada demais.

— Ela… Pegou uma das vassouras da aula de vôo com o Regulus e caiu perto do Salgueiro — Remus falou. — Já tinha acordado doente e perdeu o controle. Acontece com primeiranistas ainda aprendendo a voar.

— Seu irmão é apanhador. Pensei que tivesse te ensinado a voar. — Karina franziu o cenho, mas a garota apenas deu de ombros. — Seu irmão está te procurando, Regulus. Ele quer te ver quando acabar a detenção com Slughorn.

Arcturus não esboçou nenhuma reação, apenas olhou para a amiga na maca.

— Verei ele depois, Haddy. Sirius está sempre de detenção.

— Aliás, eles estão doidos por causa de hoje de manhã.

— Acho que exagerei um pouco… — Remus encolheu os ombros. — Gritei com eles. Não queria, mas… Eu falei para eles não virem! Eles não podiam e não queriam ir embora. E-eu… Eles vão me detestar por isso.

— Não necessitaria ficar assim, Remmy. Se não entenderem, a culpa é toda toda deles. Você tem o direito de se chatear por desrespeitar seu pedido.

Karina tocou o ombro de Remus com cuidado. Ele suspirou, ainda cabisbaixo.

Tá brón orm — Remus murmurou.

— Remmy…

— ... Ach ní féidir leat teacht i ndáiríre.  Le do thoil… — Remus suplicou. — Ní fhéadfadh aon duine dul ann.

Tuigim — Karina respondeu.

— Ele disse que realmente não podem ir a Casa dos Gritos. Está se desculpando por isso, mas… Ele realmente não queria ninguém lá — Canopus traduziu.

— Óbvio que não. Lembra o que ele fez com você?

— Ele não está falando sobre isso… Acho que entendi mais uma coisa.

Antes que Draco pudesse questionar, a porta da ala hospitalar se abriu. Ele gelou mais uma vez.

— Papai…?

Agus tháinig an diabhal… — Karina murmurou olhando mortalmente para Lucius.

Um Lucius Malfoy no auge dos seus dezoito anos aproximou-se a passos firmes, vestido em seu uniforme devidamente alinhado e com o emblema de Monitor-Chefe na roupa. Os cabelos platinados estavam na altura dos ombros nessa época, já começando a tomar forma do tamanho atual tão marcante.

Haviam olheiras abaixo de seus olhos, e ele mantinha uma expressão dura em seu rosto, de um jeito que Draco nunca viu a não ser após o velório de seu avô, nem mesmo nos dias mais exaustos e mau-humorados dele. Ele não parecia bem, na verdade, lembrava-o um pouco a si mesmo sempre que se via no espelho desde a morte de Abraxas.

Então caiu a ficha para ele. Estavam logo após a Páscoa… Logo após a morte de sua avó.

— Onde está Madame Pomfrey?

— Lucie… Você veio! — Hadria exclamou e desabou em lágrimas.

Draco observou paralisado a garota levantar-se da maca e abraçar Lucius com força. Ele viu o rosto do pai enrijecer ainda mais, sem retribuir o gesto da garota, apenas continuar parado e levar a mão ao bolso, tirando de lá o mesmo objeto que estava em seu pescoço.

Ele agarrou os braços dela e afastou-a de si, e ela continuou a chorar.

— Não encoste em mim.

— Eu esperei você hoje — ela choramingou. — E-eu… Aah!

Ela começou a grunhir de dor e desceu o olhar para a mão de Lucius em seu braço, a qual ainda segurava o medalhão. Afastou-se das mãos dele, afagando o local avermelhado.

— Está machucando ela! — Arcturus exclamou.

— Você deixou cair o medalhão essa noite — Lucius disse estendendo o medalhão para ela. O medalhão dos Malfoy.

Hadria deu um passo para trás, encarando o objeto fixamente. Ela engoliu em seco e olhou na direção de Karina e Remus, então novamente para Lucius. Hesitante, ela pegou o medalhão.

— O-obrigado.

— Não pode dar isso a ela! — Remus exclamou e saiu de sua maca. Karina segurou-o para não cair. — Solte isso, Hadria.

— Minha irmã não recebe ordens de um monstro mestiço, Lupin. Volte para sua maca ou sairá dela direto para a detenção.

Draco arregalou os olhos, sem acreditar. Olhou na direção de Canopus, que apenas assistia a cena, e olhou-o de volta com um leve sorriso irônico. Não precisou falar nada para entender o que ele queria dizer. Era possível ver a satisfação em seu rosto.

Foi como se alguém tivesse o tirado de seu corpo. Não conseguia prestar atenção no que ocorria ao seu redor, apenas olhar desacreditado na direção do pai e se perguntar: por que ele nunca lhe contou nada disso?

Por que esconder de todos?

— Não fale assim com o Remus — Karina esbravejou.

— Calada, Radcliffe. Ou quer acompanhar seu irmão e os amigos dele?

— Ainda bem que você já vai se formar, porque Hogwarts estaria perdida com um Monitor-Chefe tão estúpido. Não pode falar desse jeito com o Remus apenas por causa de um maldito broche na sua roupa.

— Hogwarts já está perdida por aceitar sangues-ruins como você e mestiços imundos. Os dois já estão de detenção.

— Pois eu vou com muito prazer. Sinto pena da Hadria por ter que morar com um irmão tão.

— Karina — Remus murmurou e a interrompeu antes que continuasse, porém ela ainda murmurou alguns xingamentos em irlandês

Lucius olhou para Radcliffe furioso, mas não disse mais nada a ela.

— Papai te deu isso para se lembrar do legado do nosso nome. Não o perca e continue estragando mais do que já está fazendo — ele falou firme. — Falarei com Pomfrey sobre o quão terrível você está para relatar a ele e para não te deixar sair daqui até sumir com essas marcas.

— Lucius… Por favor…

Lucius virou-se e seguiu até a porta ao final da enfermaria, onde bateu e foi atendido pela medibruxa. Disse algumas palavras e adentrou a sala.

Remus caminhou mancando até Hadria e segurou a mão dela, tentando pegar o medalhão. Ela não soltou o objeto, continuando a chorar.

— Hadria, solte.

— Não posso…

— Isso está te machucando. Ele não está aqui, solte.

Ela soltou de repente, e o medalhão caiu no chão com um barulho que ecoou ao redor deles. A mão dela estava vermelha e com algumas bolhas, como uma queimadura de segundo grau.

Remus a abraçou, enquanto Arcturus pegava o medalhão do chão.

Canopus e Draco observaram a cena, sem reação, assim como a própria Karina. Hadria, que devia ter apenas onze anos, talvez doze se já tiver feito aniversário, se desmanchava em lágrimas nos braços de Lupin, ambos com suas ataduras ensanguentadas e com muitas cicatrizes.

Karina então aproximou-se deles e tocou o ombro de Remus.

— Remmy, você precisa descansar… — ela disse. — Vocês dois precisam.

Com muito esforço, ela conseguiu convencer Remus a voltar para a maca, e então ajudou Hadria junto de Arcturus.

— Me dê isso, Regulus.

— Não.

— Por favor.

— Isso é dela.

— Você vai continuar ao lado dela e vai machucá-la se continuar segurando isso.

O garoto encarou Radcliffe hesitante e desconfiado, mas entregou o medalhão, então segurando a mão da amiga. Hadria esticou-se e tentou pegar o medalhão de volta, mas Karina afastou-o erguendo para o alto.

— Vou deixar isso sobre a mesa. Aos seus olhos, mas bem longe de você. — Ela deixou o medalhão sobre a mesa de cabeceira com várias poções ao lado da maca.

— Se você contar para alguém que ela… — Arcturus começou a dizer num tom ameaçador.

— Eu não vou contar a ninguém. Você também não contou sobre o Remus nem para seu irmão, não é? — Karina respondeu e sorriu fraco, então olhando para Hadria após pegar um lenço da mesa. — Posso ser uma nascida-trouxa, mas ainda posso te ajudar… Pelo menos um pouquinho.

Hadria olhou para Remus, e Lupin assentiu com a cabeça, exibindo um sorriso de conforto. Então voltou os olhos para Karina, que secou seu rosto molhado com o lenço.

— Obrigada, Radcliffe.

— Pode me chamar da Karina. Posso te chamar só de Hadria?

Hadrian assentiu com a cabeça, exibindo o seu primeiro sorriso.

E então a imagem se desfez, e Draco e Canopus sentiram novamente um puxão e caíram no chão, de volta a comunal da Sonserina, exatamente onde estavam.

Um longo silêncio instaurou-se sobre eles. Malfoy não disse uma única palavra, nem mesmo quando Antares subiu em seu colo. Encarava o nada, em estado de choque.

Não conseguia acreditar no que havia visto.

— Como eu disse… Nem você conhece sua família — Canopus murmurou.

— M-mas… Eu saberia! Não tem fotos dela em nenhum lugar, o nome não está na nossa árvore genealógica… Por que meu pai esconderia… Por que meu avô esconderia uma filha?! Isso não faz sentido!

— Sua família fez um belo esforço para apagá-la e manter o nome que tanto veneram.

— Mas… Por quê?

— Você não percebeu? Você… Você realmente não percebeu, Draco?

Draco engoliu em seco, processando tudo o que viu e ouviu. Como seu pai reagiu, como o medalhão pareceu queimar a pele de Hadria como brasa…

E então ele lembrou das palavras de seu avô.

Seu medalhão também o protegerá deles.

A prata queima e os enfraquece.

— O medalhão queimou ela… Ele é feito de prata. Ela… Ela tinha…

Draco respirou fundo.

— Ela tinha licantropia.

— E sua família finge que ela não existe por isso. Vocês são realmente uns imbecis loucos e obcecados por status de sangue — Black falou num tom seco e irritado, olhando seriamente para Draco.

Canopus tirou de dentro do diário de sua mãe a carta que roubou do quarto de Arcturus e entregou a Draco.

— Pegue. Você tem mais direito a ver isso do que eu.

Draco pegou o pergaminho com receio e observou Canopus ficar de pé e ajeitar os óculos no rosto.

— Se souber algo sobre como diabos vimos essa memória, pode me falar depois. Contarei como seu agradecimento por te ajudar a ver mais do quão podre é a sua família. Acho que vai querer ficar sozinho agora, porque é o que eu quero.

Canopus pegou seu livro e Antares, então saiu dali, indo embora da sala comunal sem se importar com o horário. Pegou o Mapa do Maroto do bolso para fugir do zelador e seguiu em direção a ala hospitalar, deixando as lágrimas caírem por seu rosto livremente mais uma vez, sem acreditar que havia visto o rosto de sua mãe tão de perto além de sonhos e fotos.

Draco continuou onde estava, paralisado, estático, encarando a carta que Black lhe entregou. E para sua infelicidade, Canopus possuía uma certa razão.

Ele não conhecia sua família tanto quanto imaginava.

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Olá, meus amores!
Tudo bem?

Grandes revelações nesse capítulo! 🤭🤭
Draco acaba de descobrir que tem mais uma titia hehe muitos acertaram nessa teoria.

Mais teorias sobre ela? 👀

E presenteei vocês no início com um pequeno POV do Archie para não só conhecerem um pouco dele com seu amado marido, mas também um pouco de suas motivações e como ele está se sentindo sobre tudo o que está acontecendo. Gostaram?
Me digam o que aguardam por aí!

E sobre o diário... Teorias? Rsrs

Espero que tenham gostado desse capítulo! Não esqueçam de comentar bastante!

Em breve retorno com mais. Próximo capítulo será totalmente focado nos Wolfstar enquanto a bagunça corre solta em Hogwarts.

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 👋😘

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