7. I think I've found my way home
"Eu acho que encontrei meu caminho pra casa"
- Savage Garden (I knew I loved you)
sexta-feira, 9h
— Sabe o que ele respondeu, Sohye? "Obrigado, bro". — Gaeul falou de forma exagerada enquanto engrossava a voz, na tentativa, fracassada, de imitar o amigo. No final da frase, comeu mais uma porção daqueles biscoitos fedorentos que ela adorava — Bro, Sohye. Você tem noção que o Jungkook falou isso para o garoto que ele tem um tombo monstruoso há mais de 3 anos? — Gaeul perguntou indignada. Sohye riu com o exagero da amiga e Jungkook revirou os olhos sendo o alvo de Gaeul novamente — O Jimin foi super fofo dizendo que mandaria mensagem para saber como chegar aqui e ele manda um "Vlw, Bro" — ela fez um hang loose sacudindo a mão e recostou as costas no encosto da cadeira.
Sohye apenas ria olhando de um lado para o outro vendo até onde aquilo iria. Era incrível como Jungkook e Gaeul estavam sempre um provocando o outro, mas não se separavam por nada. No caso, como Gaeul estava sempre provocando Jungkook e aquilo não parecia afetar sua paciência. Ele devia ser treinado todo dia com os dois irmãos mais novos.
— O que você queria que eu falasse, Gaeul? — Jungkook perguntou acabando com o monólogo da menina de cabelos longos — Nós estávamos no meio da sala com os amigos dele e você queria que eu chamasse ele de que? Baby? — completou.
— Jk, não coloca a culpa na gente não, tá? Porque se eu te conheço bem, poderiam estar os dois sozinhos em um quarto que você ia mandar uma dessa e completar com um joinha — ela mostrou o polegar que já estava laranja do tempero do salgadinho.
— Tá, tá — Jungkook falou encerrando o assunto e encarou o celular — Eles já estão chegando — o garoto disse enquanto olhava ao redor, procurando os dois pela área das lanchonetes. Quando os viu, acenou para que os dois pudessem os encontrar. — Quieta, Gaeul — falou entredentes sorrindo e a amiga respondeu com um "rum" fazendo cara feia.
Logo Park e Jung estavam ocupando a mesma mesa que eles e era incrível como Gaeul e Hoseok sempre tinham assuntos em comum e pareciam melhores amigos. Jung já tinha dito até que a adotaria como irmã mais nova se pudesse. Daquela vez o assunto era de algum episódio de algum dorama que os dois assistiam.
Ainda faltavam 30 minutos para o início da aula e Sohye resolveu puxar assunto com Jimin porque Jungkook, como diria Jin, parecia estar com formiga na cueca de tanto que se mexia na cadeira incomodado com o silêncio entre os três.
— Vocês conseguiram falar com o professor Jung? — a menina direcionou a pergunta a Jimin.
— Conseguimos sim — ele sorriu fofo — Ele me pareceu muito legal. Disse que nunca teve alunos de outros cursos interessados na aula dele e que era só a gente avisar quando chegasse, porque queria nos conhecer. — Sohye assentiu e sorriu feliz porque teve aquela ideia.
— Ele é um dos melhores professores do Departamento de Educação. Tem uma outra disciplina dele, que elas fazem — indicou Gaeul e Sohye — que em período de inscrição rola até briga para conseguir vaga — Jungkook completou e Sohye riu concordando.
Ela se lembrou do primeiro dia de aula de Conhecimentos Gerais que elas por pouco não ficaram sem lugares porque a sala estava cheia com pessoas pedindo para que ele abrisse mais vagas. No fim, os alunos que excediam o limite no sistema tiveram que aceitar o destino de ter aula com a professora Song e deixar a sala. Sohye olhou de relance para Jungkook que parecia ter avançado 2 casas no "fator conseguir ficar perto da crush sem ter um ataque de nervoso", já que não estava vermelho e não tinha gaguejado em nenhuma palavra.
— Eu nunca tinha pensado sobre isso de assistir aulas de outros cursos como ouvinte — Jimin falou e Hoseok e Gaeul passaram a participar do assunto — Nós damos aulas em um galpão no centro, mas é só para adultos — E eu e o Hobi sempre conversamos sobre dar aulas para crianças, mas nosso curso só tem matérias teóricas sobre estrutura corporal infantil e tal. Nada sobre como lidar com elas na real. — Jungkook encarava Jimin falando com um olhar tão encantado que Sohye poderia ver aquela cena em um filme de comédia romântica.
— Fora que a gente não convive muito com crianças então não tem muito como saber o que fazer. E os pais costumam assistir às aulas, não é? Já imagino uma mãe gritando e puxando minha orelha porque xinguei perto do filho dela — Hoseok falou fazendo os outros rirem.
— Posso emprestar meu irmão se quiserem — Jungkook falou brincando, mas com um fundo de verdade — Sério, eu não sei como cabe tanta coreografia de kpop na cabeça de uma criança — ele disse e fez o loiro rir junto com ele.
— E a Yuna — Sohye falou rápido, o que soou engraçado — pelo amor de Deus, eu não aguento mais ela gritando comigo porque eu sempre erro os passos — Sohye fez bico com os lábios e todo mundo na mesa riu — Ela é minha sobrinha e eles têm a mesma idade — explicou aos dois que não os conheciam.
— E eles são tipo "melhores amigos para sempre" então se aceitar um, o outro vai de brinde também — Jungkook falou e foi a vez de Jimin achar ele fofo.
— Sério? — o dançarino loiro falou visivelmente animado — Nós podemos marcar um dia mesmo se vocês quiserem — Hoseok concordou com o amigo, também gostando da ideia.
— Só que assim, a Yuna não para um segundo — Sohye falou tentando os preparar para a batalha que iriam enfrentar — e junto com o Daeho é pior porque quando você acha que eles vão parar porque cansaram, eles se revezam para te fazer surtar — Jungkook assentiu concordando com a melhor amiga.
— Nós topamos — Hoseok disse convicto que aquela era uma oportunidade e tanto, o que fez suas covinhas aparecerem. Sohye sentiu que tinha se apaixonado um pouquinho pela personalidade dele e sentiu um pouco de vergonha. Mas logo ela entenderia que todos se apaixonavam por Jung Hoseok e ninguém estava isento disso.
Quando eles chegaram na sala, Hoseok e Jimin pararam para cumprimentar o professor enquanto os outros três foram se acomodar na mesa de costume. Gaeul que ocupava a cadeira do meio, sentou na lateral bloqueando a passagem de Jungkook, o que o obrigou a sentar na mesa de trás sozinho. Sohye riu com a cena e a cara que o amigo fez, visivelmente nervoso com a ideia de sentar-se sozinho com o Park.
Assim que os dois alunos ouvintes se aproximaram, a menina que usava um casaco de tactel amarelo e azul 2 vezes maior que o tamanho dela, pulou para a cadeira do meio e chamou Hoseok para mostrar alguma coisa no celular. Ele sorriu e claramente sabia que aquilo era um pretexto para deixar os outros dois sozinhos.
Sohye pegou o próprio celular com a desculpa de quem iria checar as horas, mas na verdade era para ver se havia alguma mensagem de Taehyung. Ela se sentiu a versão boba, dela mesma, que no ensino médio esperava uma mensagem do carinha bonitinho que ela tinha dado o primeiro beijo. Só que ali, nada tinha rolado além de montar espetinhos de tofu com tomate.
— Ah, Sohye! — ela ouviu Jimin falar na mesa de trás e ele se aproximou dela completando em um tom mais baixo — O Taetae esqueceu de pagar a conta do celular, por isso não te mandou mensagem ainda — Sohye assentiu sem graça se perguntando se estava tão na cara assim, mas antes que pudesse falar alguma coisa o professor anunciou o início da aula.
Aquele dia estava terminando um tanto quanto diferente, o que deixou Sohye um pouco preocupada com o fato de acabar se esquecendo de fazer alguma coisa. Ela ficou mais tempo na escolinha para organizar os trabalhinhos das crianças em envelopes decorados com o nome delas, já que logo encerraria o primeiro bimestre e os papéis seriam entregues aos pais. Yuna tinha ido para casa com Gaeul e ficaria com ela até Seokjin a buscar na casa da amiga.
O relógio marcava 19h quando ela terminou de empacotar tudo e colocar em sacolinhas com decoração inspirada no outono. Sohye saiu da escola se despedindo apenas do segurança e da diretora que ainda estavam lá, mas também prontos para irem embora. As ruas ainda estavam cheias, então apesar de não estar acostumada a passar ali naquele horário, ela não teve problema em chegar ao ponto de ônibus sozinha.
Preferiu mudar a rota naquele dia, mesmo que levasse mais tempo para chegar em casa, porque com toda certeza o metrô estaria tão lotado quanto uma lata de sardinha e Sohye estava extremamente cansada para ainda ter que passar por aquilo.
Em poucos minutos seu ônibus chegou e ela se sentou em um banco qualquer. Pegou o celular para ligar para o irmão para avisar que já estava a caminho, mas o aparelho apagou sem aviso, indicando que a bateria tinha chegado ao fim. Ela suspirou fechando os olhos e encostou a cabeça na janela. Era por isso que Sohye odiava mudar seus planos. E já que nem música ela poderia ouvir nos 40 minutos que ainda tinha dentro do transporte público, torceu para não pegarem um engarrafamento no caminho.
— Moça — Sohye abriu os olhos devagar e levou um tempo até entender onde estava. Ela encarou o senhor de cabelos grisalhos que a olhava preocupado — Acho que você passou do seu ponto — Sohye suspirou, percebendo que ainda estava na condução e que em vez de 40 minutos, ela tinha levado mais de uma hora ali — Fica tranquila, o ônibus sai em 10 minutos e te deixo lá — ela curvou a cabeça agradecendo ao senhor que sorriu educado, e desceu do ônibus para provavelmente falar algo com o despachante.
Sohye se ajeitou no banco e sentiu pontadas de dor nas costas, porque tinha dormido toda torta. Ela estava com fome, cansada e com dor. Queria se auto consolar pensando que era comum passar do ponto de ônibus dormindo e que quase todo mundo já passou por aquela situação, mas ela não conseguiu deixar de se sentir idiota. Tinha fechado a semana com chave de ouro e cadeado de diamante. Pelo menos era sexta-feira e poderia dormir até um pouco mais tarde no dia seguinte. Ela já se imaginava chegando em casa, tomando um banho quente de banheira, comendo alguma coisa leve e se jogando na cama para apagar e só acordar no outro dia.
Ela deu graças aos céus quando o motorista voltou e algumas pessoas entraram junto com ele no ônibus. Logo ela estava fazendo o caminho de volta. Seriam 30 minutos que ela teria que lutar com o cansaço, porque se dormisse e perdesse o ponto de novo, se tornaria a piada do ano entre os amigos e o irmão.
Quando Sohye desceu na esquina de casa, andou quase que se arrastando pela calçada e torceu para que o irmão tivesse feito alguma comida que valesse a pena perder minutos de sono, porque se dependesse dela, cairia na cama do jeito que estava.
Ela pegou a chave na bolsa, encaixou na fechadura do portão e depois de passar por ele, e sem querer o fechar com uma batida que saiu mais forte que o normal, fez o mesmo com a porta que dava para o interior da casa, essa fechando com mais cuidado. Yuna que provavelmente tinha escutado o barulho do portão, apareceu correndo no hall da casa, vestida com seu kigurumi do disfarce de monstro da Boo, de Monstros SA.
— Tia Sohye! — ela abraçou a mulher pelas pernas em um gesto quase desesperado, enquanto a mais velha tentava tirar os sapatos sem ter que se abaixar. As duas quase caíram uma por cima da outra no chão. A mulher abaixou e deu um beijinho na bochecha da sobrinha — Nós achamos que você tinha fugido, quase liguei para a bisa para pedir socorro — Sohye riu com a frase da menininha, porque era mais esperado que ela dissesse que quase tinha ligado para a polícia e não para uma senhorinha de mais de 70 anos de idade.
— O que houve? Fiquei preocupado, seu número só dava fora de área. Gaeul já ligou duas vezes e Jungkook três — Seokjin apareceu no vão que dava para cozinha segurando um balde de pipoca e vestindo seu kigurumi do Sulley, também de Monstros SA. "Noite do filme em família" Sohye pensou, e por pouco não fez uma careta. Ela amava as noites de sexta-feira que eles decidiam ver filme, mas aquele era um dia atípico e ela só sentia as costas latejarem.
— Meu celular descarregou e esqueci a bateria portátil em casa — a menina explicou.
— Eu sei que você já é maior de idade, Soso — o irmão disse — Só que ainda sim eu sou o responsável por você e fiquei preocupado. Não faz mais isso, ok? — Seokjin assentiu olhando para a irmã que mais parecia um zumbi.
Ok que era complicado levar o irmão a sério enquanto ele vestia um pijama do Sulley, mas assim sim ele estava certo. Mas não demorou muito para que o Jin brincalhão voltasse: — Parece que você saiu daquele clipe do Michael Jackson — os dois riram juntos.
— E você parece um monstro — a mais nova brincou e ele gargalhou com a falha tentativa dela de ser engraçada.
— Era essa a intenção desde o princípio — Jin rebateu. Sohye adorava como o irmão sempre conseguia melhorar o clima com suas piadas, independente do quão ruim fosse a situação. Yuna pegou o balde de pipoca da mão do pai e foi para sala, ignorando os dois já que não entendeu nenhuma das referências e só achou o pai e a tia muito esquisitos — Vai tomar um banho, Mike Wazowski, porque se depender da Boo, nós vamos ver Toy Story com ela repetindo as falas pela quinquagésima vez — Sohye riu sozinha porque o estágio de cansaço dela era tão grande, que ela nem sabia que número ordinal era aquele — E eu não quero ficar com ódio do meu filme favorito, Sohye — falou, dessa vez realmente sério.
— Me diz que não tem só pipoca para comer — ela fez bico com os lábios e o irmão meneou a cabeça, realmente com pena do estado da irmãzinha mais nova. Ele pensou em lhe chamar a atenção sobre precisar descansar direito, mas tudo o que ela precisava era de banho, comida e talvez um cafuné. E por enquanto a única coisa que ele poderia fazer era espalhar o cabelo dela e ela entender aquilo como um "se cuida bobona".
— Yuna me fez pedir pizza — ele ouviu Sohye dizer "graças a Deus" enquanto seguia até o andar de cima.
Ela colocou o celular para carregar na tomada perto da cômoda e foi até o guarda-roupas, pegando roupas íntimas limpas e o kigurumi verde. Sohye entrou no banheiro e olhou triste para a banheira, porque sabia que se entrasse nela, dormiria embaixo d'água e sairia com a pele toda enrugada dali. Ela tomou uma ducha rápida, se vestiu e voltou para o quarto.
Antes de secar o cabelo, pegou o celular e abriu o grupo que tinha com os dois amigos. Depois de ler as 68 mensagens cheias de preocupação, os respondeu com um áudio explicando tudo o que tinha acontecido. Jungkook enviou uma mensagem pedindo para que ela tomasse cuidado da próxima vez e que não se esquecesse de carregar o celular, seguido de uma figurinha do Con secando as lágrimas do Muzi. Gaeul por sua vez, mandou um áudio de 6 minutos que poderiam ser resumidos em "eu vou te socar até você aprender a não esquecer de carregar o celular e deixar todo mundo desesperado" e Sohye mandou uma figurinha do Frodo fazendo coração com os braços.
Sohye desceu até o térreo e foi até a sala, as luzes já estavam apagadas e a única iluminação era a da TV ligada, em pause, esperando para começar a reproduzir a animação. Sohye ouviu o estômago roncar com o cheiro de pizza e da pipoca e sentiu a boca salivar. Assim que chegou na sala encontrou a mesa de centro praticamente grudada no rack da TV, e com o espaço que ficou, Jin já tinha arrumado colchonetes e vários travesseiros que possivelmente os dois juntaram da casa inteira. Sohye já se via dormindo ali mesmo, sem se dar ao trabalho de subir até seu quarto.
Eles se sentaram nos colchonetes e lancharam assistindo o filme escolhido. O da vez foi Hotel Transilvânia, com direito a Yuna coreografando a música final na frente da TV, usando o controle remoto de microfone. Depois tentou convencer o pai cortar franja nela como a da personagem principal e Jin tentou explicar que a bisa, a avó e a mãe dela iam raspar o cabelo dele se ele fizesse aquilo. Eles emendaram com o 2, mas Sohye não aguentou chegar nem em metade do filme, dormindo ali na sala mesmo, com a cabeça apoiada nas pernas do irmão que mexia em seu cabelo lhe fazendo cafuné.
Quando Sohye acordou no dia seguinte, se viu perdida em meio a vários travesseiros e almofadas. Uma luz fraca passava por detrás de uma das cortinas da janela e ela imaginou que possivelmente Seokjin já tinha ido para a cafeteria e Yuna para a casa da mãe. Sentou-se e viu que o relógio que tinha a foto de Yuna como plano de fundo, marcava 9h56min. Aquilo deveria ser o mais tarde que Sohye tinha se levantado em meses.
Depois de tomar coragem, se levantou e foi até o quarto, não sem antes tropeçar em uma almofada e quase cair no chão. Tirou o celular do carregador e da tomada e desceu novamente, ligando a cafeteira depois. Sentou-se em uma banqueta na cozinha e encontrou um pacote de jujubas em formato de ursinhos, com um papelzinho grampeado. Nele estava escrito "Bom dia" na caligrafia não tão bonita assim do irmão mais velho, com direito a desenhos da sobrinha ao redor. Ela sorriu com o gesto e decidiu que comeria o doce mais tarde.
Sohye abriu o aplicativo de mensagens e viu que tinham a adicionado a um grupo. Nele reconheceu o número de Gaeul e de Jungkook, e mais outros 5 que não estavam nomeados. O grupo tinha alguns minutos de criado, mas já haviam várias mensagens e ela se perguntou como já tinham conversado tanto em tão pouco tempo. Sohye voltou até as primeiras mensagens, tentou ler para se inteirar do que se tratava o assunto, e viu que quem tinha o criado, foi Park Jimin. Jungkook adicionando as duas amigas depois.
pkjimin criou o grupo.
kookie te adicionou.
kookie adicionou parkgae.
Tinham vários assuntos sendo trocados ali e ela levou um tempo até entender o que estava acontecendo. Focou no fato de que o loiro havia criado o grupo para convidar os amigos para a noite no bar que Taehyung cantava. Ela notou que Gaeul e Jungkook se faziam de bestas, não falando que já sabiam onde era o local e ela decidiu que não seria ela a comentar sobre.
Sohye deixou o celular de lado por alguns minutos e foi até a cafeteira pegando a xícara com café sem açúcar, bebeu um gole com vontade, e fez careta depois. Ela pegou o celular novamente e já haviam mais 20 mensagens trocadas entre Jimin, Hoseok e Gaeul que planejavam chegar mais cedo para aproveitar o karaokê ao máximo, antes de Taehyung subir no palco com o violão e se tornar o centro das atenções.
Ela descobriu que o menino cantava lá em dois sábados do mês, já que nos outros fins de semana o espaço era de um grupo de música. O susto veio quando a notificação de mensagem de um número desconhecido apareceu na parte superior da tela do celular e ela notou que era o próprio.
"V: Oi, Sohye do metrô 🚇.
Não sei se sabe quem sou.
Tivemos alguns problemas técnicos e não consegui te enviar mensagem antes 😁.
Que Kim Yuna esteja errada e que você tenha esquecido que eu existo e não tenha esperado a mensagem por muito tempo.
Mas já pode lembrar de mim agora, tá?
Te vejo hoje a noite?"
Sohye sorriu sozinha com os emojis, com os sinais de pontuação a cada final de frase e com o fato delas serem divididas em vários balões ao invés dele digitar tudo de uma vez. Aquilo a irritaria se fosse outra pessoa ou outra situação, mas estranhamente aquilo não tinha acontecido. Ela ficou alguns minutos parada sem saber o que responder, principalmente porque sabia que Taehyung ainda estava online.
Respirou fundo antes de bater os dedos nas teclas do teclado:
"Kim Sohye: Olá, Taehyung. Sinto dizer, mas princesa Yuna, do reino dos Kim, está sempre certa e dessa vez não foi diferente. E não, não vou precisar me lembrar de você, porque não o esqueci. E sim, nos vemos hoje a noite."
Ela enviou a mensagem e depois se arrependeu porque achou que estava formal demais.
Mas seria um tanto quanto estranho apagar e digitar tudo de novo e enviar um emoji sozinho também ficaria esquisito. Sohye acabou decidindo enviar a figurinha do Frodo fazendo coração com os braços porque ela sempre era ótima para encerrar conversas.
Mas também se arrependeu porque ficou totalmente fora de contexto.
Ela suspirou, desistindo, e colocou o celular na bancada. Terminou de tomar seu café, lavou sua caneca favorita na pia e secou as mãos. O celular vibrou fazendo barulho contra o granito da bancada e quando ela abriu o aplicativo para ver a resposta de Taehyung, sorriu.
Ele tinha a respondido com uma figurinha do Ryan segurando coraçõezinhos nas mãos.
•
Taehyung leu pela décima vez a mensagem no celular sentado em sua cama, abraçado a Michelangelo. O sorriso de orelha a orelha no rosto era sinal de que ele mal podia acreditar nas palavras enviadas do outro lado. Ele se encostou nos travesseiros a frente da cabeceira da cama e abriu a foto de perfil de Sohye. A menina sorria feliz e tinha metade do rosto pintado com tintas coloridas e que formavam metade de uma borboleta.
Colocou a tartaruga de lado na cama e se levantou, foi até a escrivaninha, pegou o notebook e voltou para cama. Abriu o aparelho e sorriu olhando o pedacinho de papel amassado que Yuna tinha lhe entregado às pressas no dia anterior no metrô.
Segundo a criança, a tia tinha ficado no estágio até mais tarde e por isso não estava com elas, e sem que Gaeul visse, ela enfiou na mão dele, o papelzinho com a letrinha ainda um pouco tremida. E ele ficou o resto do caminho tentando decifrar o que era aquilo, mas sem sucesso já que continuava sem fazer ideia.
Assim que chegou em casa e digitou o "1D" no campo de pesquisa do navegador, viu que se tratava na verdade da abreviação do nome de um grupo internacional. Ele não conhecia muita coisa, mas já tinha ouvido algumas músicas e sabiam alguns nomes já que o melhor amigo, vulgo Park Jimin, era super fã deles e já tinha saído uma vez do país para ir em um show.
Taehyung tinha ficado boa parte da noite se perguntando o porquê da criança ter lhe entregado aquele papel, até decidir olhar o perfil de Sohye no Facebook. A conta era trancada, assim como todas as outras redes sociais dela, mas haviam algumas postagens públicas um pouco mais antigas. E foi nelas que ele acabou encontrando milhares de fotos de capa dos garotos e vários compartilhamentos de vídeos deles do canal do Youtube.
Ele riu sozinho quando percebeu o quanto aquela garotinha banguela era esperta.
Passado parte da noite e da madrugada pesquisando alguma música deles que ele pudesse praticar até a noite do dia seguinte, ele tinha escolhido aprender uma que tinha vários comentários de algumas pessoas que devido o ano da postagem, com toda certeza eram adolescentes na época. Todos elogiavam e diziam o quanto aquela música era bonita. E Taehyung apesar de não ser muito fã de boybands, tinha que concordar que a música era realmente muito bonita.
Talvez ele agradecesse a Kim Yuna depois com uma porção de doces.
Crianças gostavam de doces, não é? Ele pelo menos lembrava que adorava quando tinha a idade dela.
O rapaz pegou a case com o violão ao lado da cama e depois de retirar o instrumento de lá, voltou a dedilhar a música, prestando atenção se ainda se lembrava dos acordes e fazendo algumas alterações básicas para que o tom se encaixasse melhor na sua voz. Taehyung nunca tinha ficado tão nervoso com uma apresentação. Primeiro porque ele nunca escolhia as músicas de um dia para o outro e segundo porque ele não sabia se Sohye entenderia o motivo dele fazer aquilo.
Nem ele mesmo sabia qual era o motivo de estar fazendo aquilo.
Eram 13h quando Park Jimin ultrapassou a porta do quarto do amigo e o chamou para almoçar. Pela roupa que usava, Taehyung imaginou que ele estivesse acabado de chegar de uma sessão de aulas de dança que ele dava aos sábados de manhã. Com a fome que Jimin estava, arriscou fazer macarrão para o almoço dos dois já que seria algo rápido.
Ok que o mais velho acabou se empolgando um pouquinho quando se tratou de sal, mas nada que o suco de laranja que Taehyung tinha feito para acompanhar não resolvesse. Eles se sentaram na bancada estilo americana, um de frente para o outro. Tinha um tempinho que os dois não tiravam um tempo só os dois como quando mais novos e foi a chance de lembrarem porque se chamavam de melhores amigos.
— Viu que todo mundo confirmou ir no bar hoje? Só o Nam que disse que tem um compromisso, mas disse que vai na próxima sem falta — Jimin disse ao amigo, enrolando o macarrão no garfo — Não sei como não tive essa ideia antes, eu sou um gênio! — ele se exibiu e Taehyung riu.
— Eles são legais — falou dando um gole no suco — Acredita que eu só falei com a Sohye porque a sobrinha dela é uma criança extremamente sociável e puxou assunto no metrô? — Taehyung comentou, quase que pensando alto, colocando a mão no queixo — Eu fico chocado como uma coisinha que não tem nem uma década de vida pode ser tão esperta. É como se eles enxergassem coisas que nós deixamos de ver quando crescemos — Jimin riu com o jeitinho do amigo. Às vezes Taehyung parecia ser uma criança dando os primeiros passos e descobrindo o mundo aos pouquinhos, mas em outras ele era tão maduro e inteligente que Jimin se sentia até pequeno perto dele. E dessa vez ele não se referia a altura.
— Kim Yuna? — o loiro que tinha parte do cabelo amarrado colocou a franja para trás da orelha. Taehyung o olhou confuso, não se lembrava de ter comentado antes sobre a menina — Sohye falou um monte sobre ela ontem, antes da aula que eu e Hobi fomos assistir com eles. Agora Hoseok hyung não para de dizer que está no curso errado — Jimin riu lembrando da cara que o amigo saiu da sala de aula — Inclusive ficamos de marcar um dia para dar aula de dança para ela e para o Daeho, irmãozinho do Jk. — Taehyung soltou um "ah" entendendo.
— E você e o Jungkook, hm? — Taehyung comentou. Observou o amigo sorrir sem graça e logo depois colocar a mão na frente do rosto escondendo o sorriso involuntário que surgiu ali — Ah, sério? — o moreno bateu palmas de forma exagerada sem acreditar e as bochechas levemente avermelhadas de Jimin o denunciaram mais ainda — Já rolou alguma coisa? — perguntou enchendo a boca de macarrão e kimchi. Ele precisava agradecer a Sra. Park por sempre lembrar de mandar kimchi para eles.
— Nada, Taetae. E eu nem sei se ele gosta de beijar meninos — o Park meneou a cabeça e disse sem graça. Taehyung sabia que Jimin era do tipo que não durava em relacionamentos porque era intenso demais. O rapaz embarcava rápido e era conhecido entre os amigos por sempre ser o que dava o primeiro passo quando gostava de alguém e em mais alguns dias já tinha terminado antes mesmo de ter alguma coisa mais séria. E nem era por mal, Jimin tinha medo de ter qualquer coisa sólida com alguém porque tinha medo de ser abandonado e ter seu coração partido. Taehyung estava preocupado não só com ele, mas também com os sentimentos do amigo de Sohye já que Jungkook parecia alguém legal demais para Jimin fugir depois de se envolver. E Taehyung não podia mentir que não estava surpreso dele ainda estar indo com calma com o rapaz — Ele é bem tímido e é justamente isso que faz ele ser fofo pra caralho — Jimin disse e bufou irritado no final, fazendo Taehyung rir — Ai Taetae eu não sei o que fazer — ele segurou os cabelos, apoiando os cotovelos na bancada escura.
— Park Jimin — Taehyung o chamou e Jimin levantou o olhar para o amigo — Você está apaixonado? — ele despejou sem pensar muito, Jimin fez careta.
— Eu não sei — o loiro falou e seguido deu um grito se sacudindo, Taehyung riu de novo, porque Jimin sempre dizia estar apaixonado e nunca durava muito tempo. Daquela vez parecia realmente ser diferente — Eu estou com medo de machucar ele, entende? Porque eu sempre acabo fugindo quando as coisas ficam sérias demais. E com ele é diferente e eu não quero fugir — ele suspirou triste.
— Mas não é porque você sempre se joga de cabeça nos primeiros minutos do primeiro tempo? — Jimin fez cara de confuso com a referência a futebol. Taehyung sacudiu as duas mãos e tentou melhorar a explicação — Sabe quando você quer muito impressionar em uma apresentação e coloca todas as suas energias nos primeiros minutos e no resto da música você acaba se cansando e não entregando o seu melhor? — Jimin assentiu, entendendo onde Taehyung queria chegar — Será que não é isso? — perguntou — Por que não tenta ir devagar com ele? Sei lá, aproveite para conhecê-lo, ver o que ele gosta de fazer, onde gosta de ir. E bem, se ele gosta de beijar meninos — Jimin riu com a cara de Taehyung que dizia que aquilo era o mais óbvio das coisas que ele precisava descobrir — Se não rolar nada, pelo menos vocês podem terminar no final sendo amigos. Você não precisa ter pressa todo o tempo Jimin, Jungkook não vai fugir — Taehyung disse.
— Pior que as chances dele fugir de vergonha são altas sim — Jimin riu nervoso e Taehyung sorriu para o amigo — Eu vou com calma dessa vez — Taehyung concordou dando força para Jimin. Esperou para ver se o menino ia falar mais alguma coisa e como se iniciou um silêncio, voltou a comer o macarrão salgado, porém delicioso porque foi feito com carinho — E você? — Jimin arqueou as sobrancelhas como quem perguntava por perguntar. Taehyung o encarou esperando que ele continuasse — a Sohye — completou.
— O que que tem? — ele continuou enchendo a boca de macarrão, voltando a olhar para o prato.
— Como "O que que tem?" — repetiu a resposta do outro — Taehyung eu não sou idiota — Jimin disse sem paciência. Ele tinha acabado de contar para o melhor amigo que estava idiotamente apaixonado por Jeon Jungkook e ele ia ficar escondendo as histórias dele com a melhor amiga do dito cujo? — Eu ainda não estava bêbado quando vi vocês na cozinha — finalizou dando uma garfada na comida em seu prato. Jimin fez careta sentindo o sal e bebeu do suco. Taehyung sorriu com a boca fechada, as bochechas infladas de comida.
— Não aconteceu nada na cozinha — Taehyung disse depois de engolir e não era mentira. Não era porque ele não queria contar para Jimin o que estava sentindo, ele queria e muito, conversar com o amigo sobre o fato de não conseguir parar de pensar na menina de cabelos curtinhos, jardineira e all star colorido. Mas sabia também que o amigo estava mais próximo de Sohye do que ele e o conhecia o suficiente para saber que ele tentaria "ajudar". E ele não tinha aprendido aquela música em 5 horas para colocar tudo a perder com algum plano do cupido Park Jimin!
— Eu vou enfiar sua cabeça nessa panela de macarrão — Jimin brincou apontando para a panela entre eles, mas Taehyung sabia que no fundo ele estava magoado de verdade e aquilo doeu nele. Suspirou desistindo.
— Tá, Jiminie — respirou fundo — Vamos dizer que talvez eu esteja gostando dela — falou quase em um sussurro. Jimin arregalou os olhos e abriu a boca — Não, você não precisa ajudar em nada. Vai ser do meu jeito — Taehyung completou e Jimin revirou os olhos.
— Se fosse em outra época talvez eu até tentasse te ajudar Taetae, mas eu estou sem saber até que rumo dar para a minha própria vida — ele falou e os dois riram — Eu, Park Jimin, sem saber como lidar com um carinha — ele suspirou — Ok que o carinha é fofo e bonito, e cheiroso, e canta bem, e leva jeito com edição de vídeos, é fluente em inglês e — ele fez questão de enfatizar a letra — é super educado e não um macho babaca como metade dos que eu enfiei na minha vida. — e mudou de assunto completamente quando se lembrou de outra coisa, o que fez Taehyung se perder um pouco — Eu achei um vídeo do curso onde ele trabalha — Jimin levantou rapidamente e foi até a mochila jogada no chão da sala para pegar o celular — É ele tocando violão e cantando em inglês com uma turminha de crianças. — voltou para perto do amigo procurando o vídeo no celular.
— Jiminie-shi — Taehyung o chamou e o outro devolveu um "hm" sem o olhar — Você está fodidamente apaixonado.
— Eu sei, Taetae — Jimin olhou o celular suspirando.
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