35. even if I have to use all my strength, I'll stay by your side
"Mesmo que eu tenha que usar toda a minha força, eu ficarei ao seu lado"
- BTS (Anpanman)
sábado, 16h20min
— Taehyung-ah! — Jimin reclamou parando à frente do amigo. Taehyung, que se encontrava jogado no sofá encarando o celular, tirou a unha que roía da boca e encarou o loiro — Você por acaso, só por acaso mesmo, ouviu uma única palavra do que eu disse?
— Hm... O Hobi hyung e a coreografia e... — Jimin rolou os olhos com o amigo gaguejando.
— Você é um péssimo melhor amigo! — se virou, e batendo pé entrou no próprio quarto.
Taehyung suspirou e se levantou, o seguindo a passos lentos. Se encostou no batente da porta e fitou o amigo deitado de barriga pra cima na cama encarando o teto.
— Desculpa. É que eu estou preocupado com a Soso. Desde ontem a tarde que ela não responde minhas mensagens.
— Soso, Soso... — ele resmungou — Você era mais legal antes de ter namorada. — Jimin virou de bruços dando as costas. Taehyung riu.
— Nem vem, Jiminie, essa sua cena de ciúmes não funciona comigo, não. — ele se jogou de costas no espaço vazio da cama, o que fez Jimin quase cair. O loiro o xingou de alguns palavrões. — Fala o que aconteceu dessa vez.
— O que aconteceu dessa vez? O que ta acontecendo há meses, Taehyung. Só isso. Se você prestasse atenção no que eu falo, você saberia. — Taehyung cruzou as mãos em cima da barriga e fitou o ventilador de teto acima da cama. Se perguntou como Jimin não tinha medo daquele negócio cair em cima da cabeça, enquanto estava dormindo.
— Ainda o Jungkook? Vocês ainda não conversaram?
— E ele dá abertura? Eu tento chegar perto e ele foge igual o Superman foge de Kryptonita.
— Kryp o quê? Nossa, você já está falando igual a ele. — Taehyung riu. Jimin ficou em silêncio. O Kim sentiu o ar pesar e se sentou, fitando o amigo — Jiminie...
Ele observou o Park se sentar e encostar as costas na cabeceira da cama e acabou fazendo o mesmo. Taehyung fitou as próprias pernas esticadas e moveu os pés de um lado para o outro. Ouviu Jimin suspirar.
— Tae... É sério. Eu não consigo parar de pensar nessa história. Parece que voltei ser aquele garotinho de 15 anos, todo assustado com medo de tomar um pé na bunda mais uma vez...
— Mas você não falou com o Jungkook daquela vez? Eu não estou entendendo mais nada.
— Eu o chamei para conversar, disse que falei aquilo sem pensar e a única coisa que ele me disse foi "tá tudo bem, Jimin. Tá tudo bem, mesmo". Sendo que não tem nada bem, se ele não olha na minha cara mais, Taehyung!!! — Jimin bateu as pernas na cama, parecendo uma criança fazendo birra. Se o assunto não fosse sério, o Kim não perderia a chance de zoá-lo.
— Já parou para pensar que do mesmo jeito que você tem seus traumas com relacionamentos, o Jungkook pode ter os dele? Porque assim, nas conversas com o pessoal, ninguém nunca trouxe o assunto do Jungkook com alguém. E sei lá, tenho a sensação que ele gosta de você há bastante tempo, o que justifica ele ter ficado chateado com o que você falou...
— Nossa, muito obrigado. Era o que eu precisava ouvir mesmo.
— Jimin, vamos lá — Taehyung disse impaciente e sentou de pernas cruzadas — Você ficar dizendo para o Jungkook que falou sem querer, que não era aquilo que ele entendeu, não vai ajudar em porcaria nenhuma. Que tal você chegar e dizer o que você ta sentindo, mesmo? Diz logo que você gosta dele, cara!
— Aham, e assusto ele de vez — Jimin rolou os olhos.
— Você acha mesmo que o Jungkook faria isso? O Jeon Jungkook que a gente conhece?
Jimin ficou em silêncio encarando o amigo, depois bufou, levou as mãos ao rosto e encostou o corpo na cabeceira novamente.
— Eu tenho medo do que ele vai dizer — resmungou, ainda tampando o rosto. — A última vez que fiz isso com alguém, você sabe o que aconteceu...
— O Jungkook não é aquele babaca, Jiminie — Taehyung falou baixinho, sabendo que o assunto era delicado demais para o outro. — O que aquele cara fez foi cruel. Se ele não queria nada sério com você, tinha que ter aberto o jogo desde o começo e aí cabia a você decidir se ia continuar ou não. Deixar você se envolver sem esclarecer as coisas e depois cair fora do jeito que fez, automaticamente transforma ele num babaca. Coisa que eu acho mesmo que o Jungkook não é.
Jimin bufou, pela milésima vez.
— Mando uma mensagem ou vou lá na casa dele?
— Não é como se você já não tivesse feito as duas coisas, não é? — Taehyung deu uma risadinha.
Jimin apenas assentiu.
Com o assunto terminado, o Kim voltou a atenção ao celular, se perguntando se deveria insistir em mandar mais mensagens ou esperar Sohye o responder. Sua última mensagem tinha sido enviada na quinta a noite e ainda estava sem resposta até a tarde daquele dia. Sohye tinha comentado sobre o aniversário de morte do pai, e ele sabia o quanto aquele momento era difícil para ela, mas não tinha como não se sentir preocupado com todo aquele sumiço.
— Quando nós nos tornamos esses dois bocós que só pensam na dupla infalível, Jeon e Kim? — Jimin comentou. Parecia mais estar pensando alto do que realmente pedindo a opinião do amigo.
— Eu, foi depois que comecei a namorar a Sohye, mas você sempre foi bocó mesmo — Taehyung provocou e se levantou da cama, correndo para fora do quarto. Assim que fechou a porta, ouviu algo batendo do outro lado, provavelmente um travesseiro. Ele riu, seguindo até a cozinha em busca de um copo d'água.
Se sentou em uma das banquetas e fitou a pequena sala de seu apartamento. Por muito tempo foram só ele e Jimin ali. Claro que com visitas regulares de Hobi, Yoongi e Namjoon, mas ainda assim era estranho um sábado de manhã em que Sohye não estivesse saindo de seu quarto com o cabelo bagunçado ou surgindo atrás dele e perguntando o que ele estava fazendo para o almoço.
Taehyung bebericou a água no copo, seguindo com seus pensamentos. Não era somente aqueles dias em específico que a namorada não estava por perto. Da parte dela sempre surgiam imprevistos, desculpas de precisar se dedicar ao TCC, cansaço do trabalho na lanchonete e na escola... Da dele: a preocupação e todo o tempo dedicado ao trabalho, a necessidade de conciliar o horário comercial trabalhando no museu com as noites em que tocava no bar, isso sem esquecer do compromisso que ele tinha com o abrigo de animais...
Era só uma fase mais conturbada entre eles ou apenas a vida adulta se espalhando como uma erva daninha que toma conta de todos os espaços sem permissão?
Taehyung suspirou, empurrando os óculos para mais perto dos olhos. Quando notou que sua mente estava a ponto de vagar para experiências de relacionamentos passados e que não tinham deixado boas memórias, sacudiu a cabeça e se levantou, deixando o copo sobre a pia. Seguiu até ao próprio quarto e se sentou sobre sua cama, puxando o violão para começar a dedilhar. Em poucas horas estaria tocando no bar e nada melhor que conferir mais uma vez a playlist que tinha selecionado para aquela noite ao invés de se afundar em memória dos passado.
Taehyung tocava os primeiros acordes de "She chose me" do Bruno Major quando ouviu Jimin limpar a garganta, chamando sua atenção. Ele mudou o foco do violão e da cifra no celular e encarou o amigo parado na porta de seu quarto. A expressão séria no rosto dele o preocupou.
— Resolvi duas coisas de uma vez. Uma, falei com o Jungkook e duas, descobri notícias da Sohye. — O Kim fez um som com a garganta, como quem o pedia para continuar. — Aparentemente rolou uns estresses ontem na escola das crianças e ela ficou bem mal. O JK não falou direito o que rolou, mas acho que a coisa foi tão feia que ela dormiu na casa dele de ontem pra hoje. Ah, e acho que a treta envolveu o Jin hyung também.
— O Jin hyung? Coisa da escola? — Taehyung inclinou a cabeça e piscou os olhos algumas vezes, pensando — Será que foi com a Yuna?
— Não sei... — Jimin deu de ombros — Perguntei se eles não queriam ir lá no bar pra tentar se distrair. Foi meio sem noção? Completamente. Mas sei lá, não consegui pensar em nada para mudar de assunto na hora.
— E o que ele disse?
— Que ia falar com a Soso, mas que não sabia se ela ia topar. E que não queria deixar ela sozinha em casa.
Taehyung assentiu em silêncio. Sohye já estava com um milhão de preocupações e agora mais essa.
— Vou mandar áudio para a Ga, ela deve saber o que aconteceu.
— Deixa de ser fofoqueiro, Park Jimin!
— Não é ser fofoqueiro, é que eu preciso averiguar o que aconteceu para saber como agir se eles forem ao bar hoje, ué!
Taehyung suspirou ao ver o amigo dar as costas e voltar ao próprio quarto. Ele encarou o próprio celular sobre a cama e conhecendo Sohye, imaginou logo que ela tinha esquecido de carregar o dela. Não seria a primeira vez que, ao se preocupar com algo, ela se esquecia completamente de carregar o aparelho.
Colocou o violão de lado e se levantou, seguindo para o quarto de Jimin. Encontrou o mesmo terminando de mandar áudio para Gaeul, como tinha dito que faria.
— Ué, eu não era o fofoqueiro? Veio fazer o que aqui? — Jimin provocou. Caminhou até o guarda-roupa para separar o que iria vestir. Jungkook não tinha dado a resposta se eles iriam mesmo, mas o Park estava tão agitado com a possibilidade que era melhor ocupar a mente com alguma coisa.
Taehyung revirou os olhos em resposta, seguindo até a janela. Diferente da vista do seu quarto, que dava para janelas de outro apartamento, a de Jimin dava vista para a rua da fachada principal.
Apoiado no peitoril, observou os poucos carros que passavam lá embaixo. Estava preocupado com Kim Sohye, mas se ela estava com o melhor amigo, entendia que ela estava precisando daquele tempo.
17h
Com um sorriso discreto, Sohye agradeceu a senhora Jeon pela bandeja com frutas, biscoitos e o copo de suco que ela deixou sobre a escrivaninha do filho mais velho. A mulher não estava estranhando a presença dela do nada, não era como se ela e Jungkook não surgissem na casa um do outro de surpresa desde que eram pequenos, mas era óbvio que toda a história do dia anterior já tinha chegado em seus ouvidos.
Por intermédio de Daeho, de Jin, seja lá por quem, a expressão no rosto da mãe de seu melhor amigo não deixava dúvidas que ela sabia o real motivo de Sohye estar ali. De qualquer maneira, Yuri não se demorou muito e logo ela estava sozinha mais uma vez.
Se sentia cansada, tanto fisicamente quanto mentalmente. Ela e Jungkook tinham virado a noite assistindo aos dois documentários da One Direction, como ele prometeu, e apesar dela ter cochilado primeiro, acordou no final do segundo e não conseguiu mais dormir.
Mesmo que se sentisse mais calma, após a conversa com o melhor amigo no carro e até mais tarde em seu quarto, sua mente dava voltas nas mesmas cenas. As imagens de Yuna, Sunhee e Jin na diretoria; a apreensão por parte dos funcionários que eram chamados um por um; ela mesma se sentindo desorientada sobre sua posição naquela história... O sentimento ruim do dia anterior não estava tão forte quanto antes, mas ela ainda se sentia desconfortável com aquelas memórias voltando a todo momento.
Sabia que aquela era uma questão que teria que lidar por algum tempo, mas ainda assim era cansativo.
Ouviu a porta ser aberta novamente e por poucos segundos achou ser Yuri voltando, mas dessa vez era o próprio Jungkook. O rapaz entrou e descansou as costas na porta branca, fitando o nada. Depois mordeu as bochechas fazendo um bico.
O gesto arrancou uma risadinha da Kim.
— Qual a bomba da vez? — Jungkook piscou os olhos lentamente antes de fitar a amiga. Ele suspirou antes de responder.
— Nem é bem uma bomba. Era o Jimin no celular — ele levantou a mão que segurava o aparelho. — Perguntou se eu não queria ir ao bar hoje a noite ver o Taehyung hyung tocar, mas eu sei que era uma desculpa e que ele quer conversar sobre a gente...
Enquanto Jungkook falava, Sohye abriu a boca surpresa ao notar que não falava com Taehyung há dias e depois da confusão toda não sabia nem onde estava o seu próprio celular. Ainda prestando atenção no que o amigo dizia, se levantou e caminhou até o canto do quarto que estava com suas bolsas e ao encontrá-lo, com o carregador, o conectou na tomada.
— E você vai, não vai? Pode ser a chance de vocês resolverem isso logo. — respondeu, se sentando novamente na cadeira.
— Não vou deixar você aqui sozinha, né, Soso?
— Kookie, não — ela o fitou de cara feia. — Eu vim pra cá porque não queria ir pra casa ainda, mas não precisa deixar de cuidar da sua vida por isso.
— Então você topa ir comigo? De apoio moral? — Jungkook forçou um sorriso e Sohye apertou os lábios — Então eu não vou, decidido.
— Você claramente está me usando como desculpa e isso não é justo.
— Tá, tá. Tô usando mesmo, não vou negar — ele se jogou de costas na cama e fitou o teto. — Quero resolver isso mesmo, mas sei lá...
— Então você vai, né?
Antes que Jungkook pudesse responder, eles ouviram batidas na porta e fitaram a madeira pintada de branco. Os adesivos de personagens colados há alguns anos ainda estavam lá, não só porque Jungkook ainda gostava, mas porque ele não tinha conseguido os tirar mesmo.
A mulher baixinha, e que Jungkook tinha herdado a maioria de seus traços, apareceu na abertura. Ela deu um sorriso gentil aos dois.
— Soso, seu irmão está lá embaixo...
Ainda vestida com um dos moletons de Jungkook, Sohye desceu as escadas para o térreo e caminhou a passos lentos em direção a sala de estar muito bem decorada. Parou pelo menos duas vezes no caminho, ainda não se sentindo pronta para conversar com Jin, mas também não tinha como deixar o irmão esperando na sala dos Jeon.
Quando chegou no vão de entrada, o viu sentado com os braços apoiados nas coxas, o corpo inclinado para frente. Como se sentisse sua presença, Jin levantou o rosto e a olhou de volta. As olheiras escuras e os cabelos castanhos-claro, meio bagunçados, eram prova de que não tinha dormido bem também.
Ele se levantou e deu um sorrisinho de lado, meio sem saber como cumprimenta-la.
Naquele instante, Sohye sentiu uma pontada de medo tomar conta dela. Jin era provavelmente a pessoa mais importante da sua vida e a possibilidade dele não a perdoar por não perceber antes o que estava acontecendo com Yuna, a apavorou.
— A Yuyu... — ela começou baixinho.
— Está com a Sunny. Ela dormiu lá em casa ontem e como a Yuna já iria no final de semana para casa da mãe, elas foram hoje pela manhã — Sohye assentiu, em silêncio.
— Jin, eu...
— Não foi sua culpa — ele a interrompeu, mais uma vez, já sabendo do que se tratava. — Eu sinceramente, nem sei se essa história tem mesmo um culpado, Soso...
Eles ficaram em silêncio por um tempo e Sohye respirou fundo antes de continuar: — Eu estava pensando e talvez não tenha sido uma boa ideia eu ter ido morar com você e não ter ficado com a vovó. Acho que eu acabei me intrometendo muito na educação da Yuna. Isso não teria acontecido se eu não estivesse tão perto de vocês.
Jin arregalou um pouquinho os olhos, surpreso. Sendo sincero, aquela era a última coisa que esperava ouvir no momento.
Talvez não tivesse sido uma boa ideia conversar enquanto estavam todos com os nervos a flor da pele.
— Não fala isso, Sohye. Eu me arrependendo de várias coisas que fiz na vida, mas ter ficado com a sua guarda nunca foi uma delas. Eu nunca nem cogitei não ficar responsável por você, Soso.
Ela fitou o mais velho, sem saber o que dizer. Jin, do outro lado, também a encarou, sem mais palavras.
Nos segundos em silêncio, Seokjin notou pela primeira vez que tinha algo diferente no olhar de Sohye. Algo que talvez ele não tivesse percebido antes. Os olhos cansados da irmã diziam, praticamente gritavam, que ela já tinha lidado com tantas coisas na vida, que há tempos já não era mais aquela menininha que na primeira oportunidade o pedia ajuda com a lição de casa ou com qualquer outra coisa.
Até aquele momento, era difícil para Seokjin aceitar que Sohye já não era mais aquela criança indefesa que na primeira oportunidade correria para seu colo. Que esperava que o irmão mais velho sempre tivesse as respostas para todas as perguntas do mundo.
Ele não as tinha naquela época e nem agora, de qualquer forma.
— A Sunny insistiu para que eu viesse ver como você estava e eu fiquei indeciso se era uma boa ideia ou se eu estaria sendo precipitado. Acabei concordando porque de alguma forma precisava te dizer que eu não acho que isso seja culpa sua — ele suspirou profundamente, esfregando a mão na testa, demonstrando cansaço. — Você fez o que dava e estava dentro do seu possível, como tia da Yuna. E eu não sei nem se isso chegar ao ponto que chegou foi falha minha e da Sunny, ou de mais alguém. Nós conversamos a manhã inteira e ainda não chegamos a lugar algum.
— Não acho que vocês falharam em nada com a Yuna. — Sohye sorriu fraquinho. — Eu acho que eu não deveria ter dito aquilo que ela disse para as outras crianças...
— Que ela não era menor que ninguém por um boletim de escola? E onde está o erro nisso, Sohye? — Jin a encarou, sério. — Sabe-se lá há quanto tempo a Yuyu estava passando por essa situação. E apesar de tudo eu estou orgulhoso dela ter se defendido dessa maneira, tentando dialogar com o outro lado e não atacando ou fazendo algo ruim. Ninguém poderia imaginar que ela se posicionar iria resultar em uma violência como a que aconteceu.
Sohye ficou quieta, até concordando com ele, mas era dificil se desvincilhar do sentimento de que ela tinha sua parcela de culpa ali. A velha história de ser mais rigorosa quando a cobrança é consigo mesma.
Por sua vez, Jin suspirou, a conhecendo o suficiente para saber que, apesar de entender o seu lado, Sohye não tinha aceitado completamente o que ele falou.
— Você não precisa voltar para casa agora, mas preciso que você entenda que ela sempre vai ser sua casa também. Você ir morar comigo e com a Yuna, nunca foi uma questão. De um jeito nada tradicional, nós somos a nossa família. E nada vai mudar isso.
18h25min
Taehyung abriu a porta de madeira e vidro que dava para o interior do bar e acenou discretamente para os funcionários que já circulavam por ele. Alguns colocavam as mesas nos lugares, enquanto outros varriam e passavam pano nos móveis e no chão.
Apesar de estar ali em quase todas os finais de semana, gostava da sensação de conforto que o lugar o passava toda vez que cruzava a porta da frente.
O Kim seguiu direto até o pequeno palco que havia no local, já que tinha se atrasado ajudando Jimin a decidir com que roupa iria. Tinha certeza que o melhor amigo passaria pela porta com uma roupa completamente diferente da que ele o viu vestido antes de sair de casa, mas pelo menos dessa vez deixaria para lá porque sabia o quanto ele estava tenso de encontrar com Jungkook.
Taehyung estava saindo de casa quando o rapaz confirmou sua presença e a de Sohye no grupo que tinham no aplicativo de mensagem, e aquilo resultou em Gaeul, Hobi e Yoongi decidirem passar lá também. Já tinha um tempo em que não se reuniam em grupo e algo o dizia que seria bom para todos se reencontrarem.
Ele ajeitou o microfone na frente da banqueta mais ou menos no centro do palco, ligou os fios necessários no violão e começou a ensaiar. Deu uma risada tímida quando ouviu os gritinhos e palmas vindas dos outros funcionários quando o ouviram cantar a primeira estrofe de "Fallin' all in you" de Shawn Mendes.
19h45min
Enquanto Jungkook segurava a porta do bar para que Sohye passasse, ela ajeitou a parka verde que usava por cima de uma das milhares camisetas pretas do melhor amigo. Estava um pouquinho larga, mas Sohye nem estava com cabeça para se preocupar com aquilo. Jungkook até tentou ver se a mãe tinha alguma roupa que pudesse emprestar para a garota, mas todas eram formais demais para uma ida ao bar para encontrar os amigos.
Sohye enfiou as mãos nos bolsos e assim que ouviu a voz do namorado soar do outro lado do ambiente, correu o olhar pelo lugar em busca de Taehyung. Sorriu ao vê-lo de olhos fechados, concentrado demais em cantar e tocar "Forever", do Lewis Capaldi. Naquele momento percebeu o quanto sentia saudades dele e o quanto estavam afastados nos últimos dias.
O período em que ela ficou parada o observando pareceu uma eternidade, mas foi só o tempo de Jungkook procurar pelos amigos e a guiar até onde estavam. Gaeul, de blusa de gola alta listrada e touca vermelha, foi a primeira a vê-los e se levantou assim que chegaram à mesa. Ela pulou no pescoço de Sohye e deu alguns pulinhos abraçada à amiga. O álcool provavelmente já tinha subido à cabeça e logo ela estaria falando algumas asneiras.
Sohye riu fraquinho. Gaeul não tinha mesmo jeito.
Como eles sempre faziam quando iam ver Taehyung tocar, juntaram duas mesas quadradas em um local que desse para ver o palco. Sohye sentou entre Jungkook e Gaeul, ao lado da Park estava Hobi, depois Yoongi, Jimin, e a roda fechava com Jungkook. Se Jin e Namjoon estivessem também, provavelmente estariam mais apertados no espaço, mas Sohye não esperava que o irmão fosse aparecer naquela noite. Ela mesma só decidiu ir porque um, não queria que Jungkook adiasse a tal conversa com Jimin por causa dela, e dois, porque apesar da intimidade com a família, os outros Jeon também não estariam em casa e ela não achava educado ficar lá sozinha.
Assim que se sentaram, um garçom foi a mesa e tanto ela quanto Jungkook pediram duas garrafas de água. Ela porque não estava com clima para nenhuma bebida e ele por estar dirigindo.
Mesmo com a leve tensão que estava entre Jimin e Jungkook, e o pouquinho do desconforto que Sohye ainda sentia com os últimos acontecimentos, os amigos dividiram a atenção em uma conversa descontraída e em cantar com Taehyung. Gaeul, apesar de estar mais animada do que já era o costume — como se isso fosse possível! —, ainda deu uma olhadinha para Sohye e lhe direcionou um sorriso de "tá tudo bem?", e a Kim assentiu de leve e devolveu um sorriso tão discreto quanto o da amiga.
Quando Taehyung disse ser a última música dele naquela noite, os sons de desaprovação das pessoas foram substituídos por aplausos e gritinhos animados, assim que ele começou a tocar Lost Stars, do Adam Levine. Sohye sorriu porque ele sempre comentava que os anos passavam, mas todo mundo amava quando ele tocava aquela.
Enquanto Yoongi e Hobi cantarolavam abraçados, olhando em direção ao palco, Jungkook se balançava de um lado para o outro, cantando baixinho e de olhos fechados, completamente levado pelo som. Todos no grupo de amigos já sabiam o quanto ele amava aquela música, e ela se perguntou se teria dedo de Jimin naquela história, já que o loiro, do outro lado do rapaz, o fitava com um sorrisinho nos lábios e com o olhar completamente encantado.
Gaeul, que assim como Sohye, observava os dois, compartilhou um olhar com a amiga, fazendo uma expressão fofa e corações com dedos logo depois. Sohye riu, porque pelo menos não foi a única que percebeu.
As duas compartilharam mais uma risada porque quando Taehyung finalizou a música, Jungkook abriu os olhos e se juntou ao restante das pessoas para aplaudir, resultando em Jimin mudando de expressão rapidamente e se ajeitando na cadeira para bater palmas também.
Só aqueles dois não percebiam o quanto estavam um apaixonado pelo outro, não era possível!
Após se despedir do público e deixar a música ambiente por conta de uma playlist que aos poucos saia pelas caixas de som espalhadas pelo bar, Taehyung desceu do palco, depois de guardar seu violão no case, e seguiu em direção a mesa dos amigos.
Colocou a alça da capa do instrumento por cima do ombro e parou atrás da cadeira de Sohye, abraçando a namorada por cima dos ombros. Ela inclinou a cabeça para o olhar e deu um sorrisinho quando Taehyung deixou um beijinho em sua testa.
— Ótima escolha de música pra fechar a noite, Taetae — Jimin falou, enquanto o Kim terminava de puxar uma cadeira para se sentar ao lado de Sohye. Ele fitou o amigo por longos segundos, apenas piscando os olhos.
— Ah! É! Sabia que foi um pedido especial, Jiminie? — Taehyung atuou. Muito mal por sinal.
— Um pedido especial? É mesmo, Taetae? — Jimin devolveu, conseguindo ser pior que o outro.
— Caralho, vocês dois como atores iriam passar fome — Yoongi resmungou, levando a garrafa de soju na boca logo depois. Hoseok deu um risinho e nem se deu ao trabalho de chamar atenção do namorado, porque concordava.
— A famosa atuação de centavos — Gaeul completou, arrancando risada de todos na mesa, inclusive de Jungkook, que só com os comentários dos amigos se tocou do que tinha acontecido.
O rapaz sentiu o rosto ruborizar e desviou o olhar do Park, levando a garrafa de água nos lábios. No mesmo momento, Jimin passou a mão nervosamente nos fios loiros, os jogando para trás.
20h40min
Sohye caminhava em silêncio ao lado de Taehyung. Com as mãos dentro dos bolsos da parka, ora encarava os coturnos nos pés, ora observava as pessoas ao redor deles. O parque central, aquele próximo ao bar e que Tae a levou assim que se conheceram, estava cheio e ainda com as decorações para o chuseok.
Sentiu um pouquinho de inveja. As pessoas pareciam muito felizes e Sohye sorriu fraquinho, pensando no quanto deveria estar destoando do lugar.
— Achei que não fosse vir hoje — Taehyung comentou.
Ela levantou o olhar e o fitou. Ele parecia tenso, também com as mãos nos bolsos e olhando ao longe, sem estar realmente prestando atenção em algo com o olhar.
— Você já sabe, né? — perguntou de uma vez. Taehyung assentiu lentamente, em resposta. As fofocas corriam e mesmo os amigos tentando disfarçar, ela sentiu no ar que todos já sabiam do acontecido com Yuna — Desculpa não ter respondido suas mensagens. Aconteceram tantas coisas que eu nem lembrei da existência do meu celular.
— Não tem problema, Soso. Eu imaginei. — ele apertou os lábios. Depois indicou com uma das mãos um banco vazio, a poucos metros de onde estavam. Entendendo o gesto, Sohye apenas seguiu ao lado do rapaz e se sentaram.
— O Kookie estava querendo me usar como desculpa para fugir do Jimin, então acabei vindo com ele. Eu iria te mandar mensagem mais tarde, de qualquer jeito. Não é justo e nem certo eu te ignorar só porque não estou me sentindo bem. — suspirou, observando um casal ao longe. Os dois andavam de mãos dadas e dividiram algum lanche comprado em uma das barraquinhas decoradas.
Tanto ela quanto Taehyung se lembraram da primeira vez que foram ali e como a situação agora era completamente diferente.
Os dois sentiram saudades daquele dia. Não estavam brigados nem nada do tipo, mas era inevitável a sensação de que tinha algo estranho.
— Como vocês estão? — Sohye olhou o namorado — Você, Jin hyung, Yuna... Vocês três.
— Conversei com o Jin hoje mais cedo e nós não brigamos, mas acho que ninguém está bem ainda. E não vi a Yuna depois do que aconteceu. — deu de ombros e suspirou mais uma vez. Depois encarou as mãos no colo. — Eu estou com uma sensação esquisita de que não estou mais onde deveria estar, sabe?
Taehyung encarou Sohye por alguns segundos tentando a entender. Depois, tirou as próprias mãos do bolso de seu casaco para segurar as dela. Ele acariciou os dedos longos da namorada por um tempo, até perceber o corpo dela começar a tremer de levinho. Quando levantou o olhar mais uma vez, encontrou Sohye de olhos fechados, lutando com as lágrimas.
— Pode parecer completamente sem nexo Tae, mas eu sinto que tudo começou a desandar quando meu pai... — ela respirou fundo, abrindo os olhos e encarando o carinho que ele fazia em sua mão. — E parece uma piada de muito mal gosto ter acontecido tudo isso com a Yuna justo na sexta... Não sei ,Tae. Eu sei que o Jin ficou com a minha guarda porque ele é meu irmão, mas eu não acho que foi justo com ele, sabe? Ele mal tinha começado a construir a própria vida e teve que carregar o peso de praticamente tudo sozinho. Perder o pai, terminar de me criar, criar a própria filha... — ela fungou. — Sem perceber eu acabei me responsabilizando pela Yuna também porque eu nunca achei justo ele carregar tudo isso sozinho, mas eu acho que em algum momento eu passei dos limites. Educar a Yuyu não é responsabilidade minha.
— Você ama os dois, Sohye. Tanto a Yuyu quanto o Jin hyung. — respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. Era Sohye quem falava bonito, não ele. — Eu não faço ideia como foi para você ver seu irmão lidar com toda a pressão jogada para cima dele, mas você tentou ajudar como podia. Você era praticamente uma criança quando tudo aconteceu e nem teve a chance de viver sem as preocupações que as pessoas dessa idade vivem. Você também foi obrigada a crescer antes da hora, Soso...
Dessa vez Sohye apenas assentiu porque simplesmente não aguentava mais se fazer de forte. Ela se sentia quebrada em pedacinhos por dentro e Taehyung já sabia melhor do que ninguém que ela não estava bem, não tinha mais porque tentar esconder.
— Eu acho que tá na hora de eu seguir minha vida, sabe? Mas não quero que o Jin ache que eu estou chateada com ele, principalmente porque eu sou muito grata por tudo o que fez por mim... — Sohye inclinou a cabeça levemente para trás, tentando segurar as lágrimas que não paravam de querer descer.
— Você seguir sua vida não significa que vai deixar de amar eles, Soso. — Taehyung ajeitou uma mecha que caiu na lateral do rosto dela, quando ela o olhou. — Você vai sair de casa?
— Eu queria que as coisas se resolvessem assim, tipo em um dorama — ela riu desgostosa, abaixando a cabeça. Taehyung sorriu fraquinho para ela, porque entendia. — O dinheiro do estágio não vai dar para arcar com contas, aluguel, comida e com as parcelas que faltam da faculdade. Preciso pelo menos esperar até acabar a faculdade e começar a trabalhar mesmo, para me mudar.
— Você sabe que se quiser pode ficar lá em casa, não é? O Jiminie adora você e...
— Eu não acho que essa seja a melhor solução no momento, Tae. — o interrompeu lentamente, sem querer parecer grossa. — E eu tenho medo de que atropelar as coisas e pular direto para esse passo de morar juntos, acabe nos afastando... — mais. Foi como ela pensou em terminar a frase, mas preferiu não o fazer.
Taehyung assentiu, concordando. Dividir a responsabilidade de uma casa era sem sombra de dúvidas algo que gerava muito estresse. Ele com Jimin, sendo amigos, já era difícil, imagina se ele e Sohye, com todas as questões que já os afligiam naquele momento, adicionassem toda a dor de cabeça de dividir o mesmo teto.
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, as mãos ainda trocando um carinho silencioso.
— Sabe do que você precisa? — Taehyung perguntou, do nada, e Sohye o olhou curiosa — Um hotteok! — sorriu quadrado, arqueando as sobrancelhas.
A fala tão inesperada conseguiu arrancar risos dela. Estava há tanto tempo sem ver o namorado, que tinha se esquecido que aquelas ações de surpresa eram comuns se tratando de Kim Taehyung.
Ele se levantou, esticou a mão na direção de Sohye e ela a aceitou, também ficando de pé.
— Lembra que você me trouxe aqui, assim que nos conhecemos? — perguntou baixinho, enquanto caminhavam, dessa vez com as mãos dadas.
— E você achou que eu estava invadindo uma propriedade privada, não é? O que você pensava de mim, hein, Kim Sohye? — Ele fez uma careta exagerada, fazendo Sohye rir.
Ela sentiu as bochechas esquentarem, envergonhada, e se lembrou de como naquela época, apesar de gostar do rapaz desde o primeiro momento, ainda relutou em aceitar o que estava sentindo por Taehyung. Seu foco era a faculdade, trabalho, e só.
Pensou em como a curiosidade dele nas primeiras conversas, querendo a conhecer melhor, tinha a aproximado novamente de algumas coisas que tinha deixado de lado, como ler seus livros e ouvir suas músicas. Apesar da sua rotina estar complicada, ela agora conseguia encaixar aquelas coisinhas que melhoravam seu humor, nem que fosse por pouco tempo.
Kim Taehyung entrar em sua vida tinha não só melhorado seu dia a dia, mas também tinha ajudado Sohye a olhar com calma para dentro dela mesma. Começar a tentar parar um pouco de querer controlar tudo e só aceitar que algumas coisas da vida vinham e precisávamos lidar com elas. E que, mesmo se sentindo perdida no meio daquela avalanche, ainda é importante ter momentos para se reconectar com quem você é.
Sohye observou o entusiasmo do namorado ao fazer os pedidos à senhora da barraca de lanches e sorriu. Se lembrou de minutos antes estar observando os casais felizes caminhando pelo mesmo lugar, se sentindo desconfortável por não estar tão presente quanto gostaria, e entendeu que o que os dois tinham era diferente. Não no sentido de que o que os outros casais sentiam era mais ou menos importante, mas porque o que eles compartilhavam, da maneira deles, era importante para os dois.
E isso bastava.
— Que foi? — ele perguntou, entregando o lanche para ela. Sohye balançou a cabeça de um lado para o outro, com um sorrisinho nos lábios.
— Nada... — e mordeu o hotteok.
Na verdade, não era bem aquela resposta, né, Kim Sohye?
Aquilo era tudo.
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Oiii, como estão? Espero que bem ♥
Depois de um capítulo gigante e meio complicado, quis que esse próximo fosse um pouquinho mais leve. Acho que nossa tia Sohye merecia um rolêzinho com os amigos e com o Tae.
Ainda têm algumas coisas para ela resolver, mas a vida é sobre isso, né? Todo dia a gente aprende a lidar com alguma coisa nova e a Learning é basicamente sobre isso ♥
Queria aproveitar para deixar pra vocês também uma história que comecei tem um tempinho já (quase 3 anos, para ser mais exata) e que por muito tempo eu procrastinei trazer aqui para a plataforma porque não sei, acho que estava numa fase muito grande de insegurança com minha escrita. Estava em um momento esquisito de não conseguir me conectar comigo mesma e com o que eu queria passar para minhas histórias.
De alguma forma, por algum motivo, tinha colocado na minha cabeça que só postaria quando finalizasse e quando ficasse 100% satisfeita, mas percebi que isso nunca vai acontecer. Têm vezes que o momento certo simplesmente não existe e somos nós que o fazemos ser o certo. Então sei lá, queria compartilhar ela com vocês agora.
A Blue & Grey não será tão longa quanto a Learning, mas ela já tem vários capítulos que são menores, prontos. Vou aproveitar isso para ir postando e finalizando ela com calma. Espero que gostem dela também ♥ Já está disponível lá no meu perfil e a playlist (ainda em construção) também já está na minha bio.
Isso não quer dizer que a Learning vai parar, ok? O próximo capítulo do meu bebê também já está sendo escrito!!!
É isso, nos vemos logo!
Abraços coloridos, Polly ♥
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