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27. you know that I love you, but I'm still learning to love myself

"Vocês sabem que eu amo vocês, mas ainda estou aprendendo a me amar."

- Halsey (Still Learning)

[Este capítulo contém tema sensível que pode gerar gatilhos. Fique a vontade para interromper a leitura caso se sinta incomodado. Priorize sempre sua saúde mental, ok? ♥]

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sexta-feira, 6h

No banheiro, Sohye passou o cinto preto pelos passadores das calças jeans de lavagem clara, ajeitou a gola alta da blusa, também preta, e encarou o próprio reflexo no espelho à sua frente. Acabou abrindo a gaveta do armário da bancada em busca de algum elástico, e o encontrando, separou parte do cabelo o prendendo atrás da cabeça.

Seguiu para fora do cômodo, e após descer as escadas, antes mesmo de chegar à cozinha, ouviu as risadas vindas de lá. Ao parar na porta, avistou o irmão atrás da bancada provavelmente organizando o café da manhã nos potinhos redondos e Taehyung e Yuna, um de cada lado da mesa, rindo um da cara do outro.

— Bom dia, pessoas que já estão de bom humor mesmo antes das 6 — resmungou, se aproximando do namorado, deixando um beijinho em seus cabelos e se sentando ao seu lado, preguiçosamente.

— Bom dia, tia Soso. — Yuna sorriu fofa para ela, conseguindo arrancar um sorriso da tia. — Ah, que bonito seu penteado novo!

— Obrigada, Yuyu. Você gostou? — Sohye perguntou batendo a ponta dos dedos de leve nos fios da franja e a menina assentiu lentamente.

— Se você deixar crescer, nossos cabelos vão ficar iguais, não é? Vai dar maior confusão, vão achar que nós somos a mesma pessoa, tia Soso! Vai ser engraçado — comentou, fazendo os adultos rirem.

— A cada dia que passa eu me surpreendo mais com essa criança. Ela está me ensinando a falar francês, acredita? — Taehyung disse, e Sohye olhou dele para a menina, abrindo a boca em surpresa.

— O papai ajudou também, eu ainda 'to aprendendo. — ela a explicou, envergonhada.

— Da sua idade eu não sabia nem falar coreano direito, Kim Yuna! — Taehyung falou, a fazendo dar risinhos.

— E o que teve na aula de francês de hoje? — Sohye perguntou.

— Eu ensinei o Taetae a falar bom dia e perguntar como a outra pessoa está. Bom dia que é bonjour, e comment allez-vous, que é como vai você. É isso não é, papai? — Yuna olhou para Jin. Ele sorriu orgulhoso e assentiu.

— E ele é um bom aluno? Pode me contar — sussurrou para a sobrinha. Uma mão ao lado da boca e a outra apontando com o polegar para o namorado. A garotinha riu, e mexeu a mãozinha girando o punho de um lado para o outro.

— Peraí! Isso foi um mais ou menos? Que absurdo! — Taehyung reclamou, e Yuna riu.

— Você pode pedir ajuda a tia Sohye, Taetae, ela sabe falar também.

— Não sei não. Mal sei o básico do básico.

— Soube o suficiente para passar a perna na família toda e arrastar eu e o Kookie para o show daqueles meninos lá que você gosta — Jin a dedurou. Taehyung e Yuna olharam para eles curiosos pelo comentário. Sohye encarou o irmão sem acreditar.

— A tia Sohye fazia besteira, papai? — Yuna perguntou, completamente curiosa. O pai sorriu engraçado.

— Seokjin, olha lá o que você vai falar. Eu preciso manter uma reputação com esses dois — Sohye reclamou, encarando o irmão.

— Hm... Essa história a sra. Go não me contou — Taehyung disse, com a sobrancelha arqueada para a namorada.

— Ah, mas eu acho que a halmeoni nem sabe disso — Jin sorriu. — Você vai tomar café com a gente hoje, Soso? — ele mudou de assunto sob os protestos da filha, curiosa para saber mais daquela história. Ele se aproximou da mesa e deixou alguns acompanhamentos no centro dela.

Sohye moveu a cabeça positivamente, respondendo sua pergunta, e o gesto foi o suficiente para Yuna do outro lado, abrir a boca chocada, se esquecendo do assunto anterior.

— É sério mesmo, tia Soso? O papai sempre diz que você não toma café com a gente, porque é parecida com a vovó Haydée e prefere tomar só café ao invés de comer comida.

Sohye tentou disfarçar a expressão dolorida que surgiu em seu rosto, fitando a caneca com o desenho do Panda à frente da menina. Do outro lado da cozinha, Jin pareceu a notar prender a respiração ao ouvir o nome da mãe.

Ao perceber a expressão da tia, os olhinhos de Yuna seguiram até o pai, parado no meio do caminho com os potinhos de arroz na mão. Ao vê-lo com os olhos arregalados, ela levou as duas mãozinhas ao rosto tampando a boca, depois olhou nervosa, para Sohye.

— Desculpa, tia Soso. Eu esqueci e falei da vovó... ai esqueci e falei de novo. Desculpa, desculpa, foi sem querer, não fica triste — ela destrambelhou a falar.

— Tudo bem, não tem problema. Você pode falar da... vovó — Sohye sorriu, tentando parecer tranquila, mas no fundo mesmo, sabia que o sorriso não tinha passado de uma careta esquisita. 

— Mas é que o papai...

— O papai acha melhor nós tomarmos café logo, para não nos atrasarmos, não é mesmo? — Yuna assentiu, voltando a atenção à própria comida.

Jin depositou o prato e a caneca à frente de Sohye, e ela o fitou, sussurando estar tudo bem. O irmão meneou a cabeça rapidamente, parecendo se manter com um pé atrás. Da última vez que ele a comparou à mãe, eles brigaram feio, e Jin não queria discutir com Sohye mais uma vez.

— Você precisa de mais alguma coisa, Taeyeon? — ele mudou de assunto, mais uma vez.

— Não, Jin hyung, obrigado. — Taehyung respondeu educado, não querendo se intrometer no assunto de família.

— Ihhh, acho que nós assustamos o namorado da sua tia, Yuyu... — Jin o provocou, enquanto dava a volta na mesa e se sentava ao lado da filha.

— Ah! Não fica nervoso, não, Taetae. Nós somos meio doidinhos às vezes, mas somos legais. — a menina concluiu, fazendo os três adultos rirem.


12h22min

— Por hoje é isso, pessoal. Antes de saírem, deixem os relatórios impressos sobre minha mesa, por favor.

Ao anunciar o fim da aula, o professor Jung, juntou os papéis e os bateu sobre o púlpito à frente da turma. A maioria dos alunos, que já esperavam ansiosos pelo fim da aula, apressadamente, desceram os poucos degraus onde ficavam as mesas e cadeiras, e se dirigiram até a mesa do professor, deixando seus trabalhos lá.

— Eu amo esta aula, mas achei que não iria terminar nunca. Estou morrendo de fome! — Hoseok comentou.

Guardou o caderno que usou para anotações, na mochila vermelha, tomada de botons. Mais colorido que eles, só sua blusa de lã, amarela, com manchas rosas e azuis que ele vestia.

— Certeza que ele só se lembrou de acabar a aula, porque deu para ouvir minha barriga roncando lá da frente — Gaeul concordou, em uma careta, ao ficar de pé.

Próximo a eles, na mesa da frente, estavam Jimin e Jungkook. Segundo Gaeul, naquele dia os dois estavam parecendo um par de jarras, ou um casal de drama em um passeio romântico. Claro que o comentário resultou em Jimin sorrindo para o Jeon, e o outro vermelho como um tomate. O loiro vestia moletom cinza, e o moreno, estava com um dos seus milhares em cor preta, e no momento conversavam baixo sobre algum assunto. Do grupo, foram os primeiros a descer e sairem da sala, parando apenas para que o Jeon colocasse o trabalho no local pedido.

Hoseok desceu junto a Sohye e Gaeul, e foi o primeiro dos três a sair pela porta. Sohye, antes de seguir o amigo, colocou a pasta canaleta na mesa do professor, que apenas sorriu educado para ela, voltando a atenção ao livro que lia.

Deveria ser mania de leitor, mas, discretamente, a Kim tentou ler o título na capa, e sorriu envergonhada ao ser pega no flagra, pelo sr. Jung. Ela sorriu sem jeito, logo abaixando a cabeça em educação, e depois seguiu rapidamente para fora da sala.

Gaeul estava atrás dela, mas foi chamada até a mesa do sr. Jung novamente.

Sohye pegou o celular e digitou "Psicologia e Pedagogia, Jean Piaget" no campo de busca, deu enter e guardou o celular. Checaria sobre o assunto mais tarde.

Ela se aproximou dos amigos parados no corredor, esperando.

— Kookie, você sabe o que a Ga está inventando? — ela perguntou ao rapaz de cabelos levemente bagunçados, ao perceber que Gaeul tinha ficado na sala. Jungkook, com as mãos dentro dos bolsos, e mochila nas costas, olhou de volta para a amiga e riu anasalado.

— Eu iria te perguntar exatamente a mesma coisa.

— Então tem alguma coisa, não é? Eu estava começando a achar que era mais uma coisa da minha cabeça.

— Se tem alguma coisa, eu não sei, Soso. Mas se ela não te contou, eu não estou surpreso que ela não me falou nada — ele riu —, a Gaeul sabe que eu não consigo esconder nada de você.

— Eu sei. Mas eu estou preocupada. Da última vez...

— O lance de, junto ao pessoal do DCE, gritar na frente da reitoria? — Jungkook questionou, e Sohye assentiu, os dois pareceram se lembrar do evento que quase resultou em Gaeul sendo expulsa da faculdade — Se ela fizer algo assim de novo, me avisa que eu quero ver — Sohye rolou os olhos e deu um tapinha no braço dele. Jungkook se encolheu enquanto ria.

— Eu estou falando sério, Kookie.

— Eu também — e ele se encolheu de novo, rindo, mas já esperando outro tapa. Sohye só rolou os olhos mais uma vez. — Sendo realista, Soso, o estranho é ela parada sem fazer nada. Tem meses que a Gaeul está quieta e sem se enfiar em pauta nenhuma. Até parece que você não conhece aquela mistura de anão de jardim com pinscher irritado.

— Se ela te ouvir falando isso... — Jungkook encolheu os ombros e enrugou o nariz enquanto sorria. 

— Hobi hyung? — ele o chamou. Hoseok levantou o olhar do celular — Vocês tem conversado bastante, né? 'Tá sabendo de alguma coisa da Gaeul?

Hoseok arregalou mais os olhos, alternou o olhar entre os outros três da forma exagerada que ele sempre fazia quando ficava nervoso.

— Hã?!

— Ele sabe — Jimin entrou na conversa, apontando para o amigo, enquanto olhava na direção de Sohye e Jungkook — Pode falando, Hobi.

— Eu não vou falar nada. Vocês sabem como a Ga, é. 'Tá doido que eu falo. — ele riu nervosamente —. Eu gosto do meu cabelinho e eles estão em jogo — afofou as madeixas castanhas. Sohye não conseguiu deixar de o achar fofo.

— É alguma coisa envolvendo megafones e musiquinhas xingando alguém? — Jungkook perguntou. Desta vez Sohye lhe deu um tapa no braço. Ele esfregou a mão no local, fazendo careta — É alguma coisa que pode ferrar ela?

— Não é nada assim, não. Não vai fazer mal a ninguém. Bom... pelo menos, a quase ninguém — ele deu de ombros. Jimin o encarou boquiaberto.

— Você não está ajudando, hyung — foi Jungkook quem falou.

— Não, gente, relaxa. É algo necessário e importante. — Os três continuaram o encarando, sérios — Caraca, cês acham mesmo que se fosse algo perigoso eu não teria tentado a convencido a deixar para lá? Tá tudo bem, galera. A Gaeul é mais forte do que vocês pensam que ela é.

"A Gaeul é mais forte do que vocês pensam que ela é.". A frase ecoou na cabeça de Sohye. Ela percebeu que, por mais que concordasse com Hoseok sobre aquilo, por Gaeul ter aquele jeito doidinho dela, acabavam a vendo como alguém que precisava de defesa.

Mas realmente, Gaeul sabia se defender muito bem.

Os outros três, que já tinham engatado em outra conversa, falavam sobre a apresentação de dança no final de período. Jimin dizia o quanto estava animado para que Jungkook pudesse os ver no palco, sendo que mal sabia ele que o Jeon já tinha o visto se apresentar várias outras vezes. Ele pensou em comentar, mas a vergonha não o permitiu. Aquela revelação poderia ser deixada para outro espaço e momento, certo?

O loiro continuava explicando um pouco mais sobre as pesquisas e horas praticando a coreografia em que ele e Hoseok tinham criado para a apresentação solo dos dois. Sob os comentários animados de Sohye e outros de Jungkook, o rapaz quase dava pulinhos enquanto dizia que queria muito que eles fossem até o auditório da Escola de Belas Artes para os ver.

Eles se calaram a ouvir a porta da sala se abrir, e a Park passar por ela, se aproximando.

— Ok gente, o que vocês estavam falando de mim? Quero fofocar também. 

— Estávamos tentando descobrir qual é o plano infalível, da vez — Sohye jogou, sem demorar muito. Gaeul apertou os lábios.

— Ok. Retiro o que disse. Vamos almoçar, porque estou me tremendo de fome — ela segurou no braço de Sohye, a puxando em direção ao restaurante universitário, sendo seguida pelos outros.

— Amiga, eu entendo. Juro mesmo que entendo você ser essa boa alma, defensora dos pobres e oprimidos, que ajuda antes de julgar, que luta bravamente para não ser injusta, mas eu acho que dessa vez é perda total do seu tempo. — Gaeul disse de forma exagerada.

Colocando a bandeja sobre a mesa, se sentou ao lado de Hoseok. Do outro lado da mesa, estavam Sohye, Jungkook e Jimin, e ela observou a Kim suspirar pesadamente.

— Mas o que 'tá rolando? — Hoseok perguntou curioso, já dando a primeira colheirada em seu almoço.

— A Sohye pegou um grupo bosta no seminário final da outra matéria que a gente faz com o professor Jung — Gaeul explicou ao rapaz.

— Não diz isso, Ga. A Myung é uma ótima pessoa, ela me ajudou bastante.

— Não fez mais que a obrigação, como integrante do grupo — Gaeul reclamou. Sohye a encarou de cara feia. — Ok, desculpa. Esse comentário foi meio desnecessário.

— Mas e o resto do grupo? — Jimin entrou na conversa. Sohye deixou os ombros caírem, suspirando.

— Eles fizeram uma parte bem pequena até agora. Para falar a verdade, a Myung ainda precisou arrumar coisa que fizeram errado. Eu marquei uma reunião para tentar os ajudar com a parte da apresentação, porque sei lá, eles podem ter alguma dificuldade. E mesmo que não seja isso, pelo menos vão ter feito alguma coisa, e também vão acabar estudando sobre o assunto enquanto mexem nisso.

— Só que — Jungkook acrescentou —, os dois caras são conhecidos pelo curso inteiro como os que cagam para tudo. Eles não entregam os trabalhos, pagam outras pessoas para escrever os relatórios, reprovam várias vezes nas matérias, entram em grupos para serem carregados nas costas. Etc, etc.

Jimin, deu um sorriso compreendedor para Sohye.

— Nossa, Soso. Espero que você consiga resolver isso.

— Obrigada, Jimin. — ela sorriu para ele.

— Eu ainda acho que isso foi coisa da Song para te ferrar — Gaeul resmungou. Depois levou uma porção de kimchi à boca, o mastigando.

— Mas qual motivo ela teria para isso, Ga? Eu tive uma aula com ela e eram mais de 60 pessoas na mesma turma. Ela nem deve saber quem eu sou.

— Ou ela pode ter visto seu boletim e achado que colocar eles no seu grupo, fosse os ajudar a tomar jeito — Jungkook tentou. A Park o olhou, arqueando a sobrancelha.

— Du.vi.do.

— Não é porque você não foi com a cara dela, que ela é uma pessoa ruim, Gaeul. — Jungkook comentou a encarando também.

— Ah não. Vem aí o bom samaritano: Jeon, o "Justo". Até hoje não engoli a história de que ela não sabia das falcatruas do reitor sendo secretária dele naquela época — o retrucou.

— Vocês podem, por favor, não brigar na hora da comida? — Sohye olhou cansada, para os amigos e eles apenas ficaram em silêncio, voltando a atenção às bandejas.

O silêncio não durou mais que 2 minutos.

— E vocês dois, hm? — Hoseok usou os jeotgarak para apontar de Jimin para Jungkook, e depois voltar para o loiro.

Jungkook, que tinha acabado de encher a boca de arroz, olhou para o Jung, confuso. Ele levou alguns segundos para compreender a pergunta, engoliu a porção de comida e sentiu o rosto começar a esquentar.

— Hobi?! — Jimin cerrou com força o maxilar e arregalou os olhos.

— O quê? Eu preciso saber em que nível vocês estão para acompanhar direito a história. Até ontem eu estava quase colocando a Sohye e o Taehyung um de frente para o outro e explicando que eles se gostavam, mais um pouco eu pisco e estão comprando um apartamento juntos. Daqui a pouco você e o JK...

— Aham, agora ela já vai passar o feriado com a família dele até — Gaeul o interrompeu para acrescentar. Sohye arregalou os olhos.

— O Taehyung te chamou para ir visitar os pais dele? Uau, ele nunca fez isso. Sabe quanto tempo a gente pede para ir conhecer o sítio, fazenda, sei lá o que os pais dele tem? Muito tempo mesmo — Hobi praticamente se debruçou sobre a mesa, para atirar as perguntas à Sohye.

— Ai, é incrível como o foco sempre volta para mim — ela apoiou o cotovelo na mesa, fechando os olhos, e passando a mão no rosto.

— Como assim?! Aquele filho da mãe não me falou nada! — Jimin ralhou ao lado de Jungkook. — E depois fica me chamando de soulmate. Não sei que soul é esse que não conta nada para o mate — ele completou irritado, fazendo Jungkook sorrir, achando fofo o bico que ele estava fazendo.

— Não foi planejado, ele só me perguntou se eu queria ir porque entramos no assunto. E eu nem sei se vou aceitar.

Sohye sentiu os quatro pares de olhos a encararem, incrédulos.

— Como assim você não sabe se vai aceitar? — Gaeul.

— É o quê? — Hoseok.

— Hein? — Jimin.

Jungkook foi o único a fitar a Kim em silêncio.

— Eu não sei. Não sei se devo ir. Tem anos que o Tae não vê a família, não acho que seria legal eu aparecer lá com ele depois de tanto tempo que ele não vê os pais.

— Mas se ele mesmo te convidou, eu acho que não tem problema nenhum. Você não está indo de penetra, Soso. — Hoseok comentou.

— E eu acho que seria uma ótima oportunidade para você respirar um pouco de ar puro, de esquecer os problemas daqui... — Gaeul tentou também.

— A mãe dele é um amor, Sohye. Tenho certeza que você vai adorar ela, e ela também vai amar você. — Jimin, comentou, sorrindo para a Kim.

Ela lhe deu um sorriso discreto, quase sentindo o estômago revirar de nervoso ao pensar em se encontrar com a mãe de Taehyung. Mas antes que pudesse se entregar aos pensamentos conflituosos, Gaeul abriu a boca para soltar mais uma de suas pérolas.

— É, Soso. E se realmente der ruim no final, é só você me mandar uma mensagem que eu vou ficar esperando o Kim com um kit de cabelereiro na rodoviária. Salvei várias referências nas minhas pastas do pinterest e vou adorar praticar — disse, arrancando risadas dos amigos.




13h15min

— E aí, decidiu se vai apresentar sua proposta na reunião? — Namjoon perguntou a Taehyung, bebericando do chá.

Naquele dia os dois almoçavam na loja de conveniencia, como era de costume. Taehyung usava uma camisa branca de mangas longas com um suéter verde musgo por cima. Na cabeça uma boina de aba curta, marrom. O rapaz assentiu, mastigando uma porção de arroz.

— A Sohye está me ajudando com os slides. — Namjoon arqueou a sobrancelha, surpreso.

— Uau. O que o amor não faz, hein? — o rapaz de camiseta branca e casaco azul marinho, brincou. Taehyung deu de ombros.

— Eu deixei escapar que deixaria para lá e ela teimou que iria me ajudar. E a Sohye é extremamente teimosa. Não adianta falar nada depois que ela enfia uma coisa na cabeça.

— Conheço outra pessoa assim também... — Namjoon arqueou as sobrancelhas, encarando a comida que ele mexia com os jeotgarak. Taehyung fez careta quando entendeu que ele se referia a ele — Acho que não é teimosia, Taehyung. O nome é foco.

— Pode ser. Mas ela me fez entender que realmente o "não" eu já tenho, não custa nada tentar. E fora que você já viu a cara que ela faz dando bronca? Me lembra minhas professoras da época da escola — Taehyung comentou, fazendo o amigo rir.

— Vocês se dão bem, não é? — Taehyung deixou um sorriso aparecer em seu rosto e assentiu. — Fico feliz por vocês. Pelos dois. A Sohye é uma ótima pessoa, é legal saber que você está com alguém como ela.

Eles ficaram em silêncio e voltaram a comer. Foi Taehyung quem voltar a falar.

— Você acha que nós ficaríamos juntos se tivéssemos nos conhecido antes? Sabe, quando você e o Jin namoraram da primeira vez.

— Duvido que ele ia deixar — Namjoon riu alto. — Ela estava no ensino médio quando eu o conheci, Tae. Se você falasse um oi para a Sohye naquela época, o Jin correria atrás de você com uma colher de pau.

— Sabe o que é mais estranho? É eu conseguir imaginar perfeitamente o Jin hyung fazendo isso — Taehyung mexeu o indicador no alto e riu junto com o mais velho. Ele voltou a olhar para a comida — Você e a Soso eram amigos?

— Hm... mais ou menos — Namjoon apoiou o polegar em uma bochecha, e esfregou o indicador na outra, parecendo pensar. — Eu a via uma vez ou outra quando ia até a casa do Jin. Algumas vezes quando víamos filmes e séries ele a chamava, em outras nós só brincávamos com a Yuna no chão da sala. Ela ficava boa parte do tempo trancada no quarto estudando para o vestibular.

— Ela era muito diferente de agora?

— Ela era bem diferente, Tae — Namjoon sorriu, quase triste. — Na realidade, eu não os conheci em uma fase boa para os Kim. Eu fiquei surpreso quando vi vocês no bar, semana passada, ela pareceu tão... leve. Bem diferente de como eu lembrava.

— Sério? — Taehyung piscou algumas vezes, olhando o amigo. — Por quê?

— A Sohye era meio fechada naquela época. Ela só falava quando era muito necessário, ou quando alguém perguntava algo. Eu lembro que ela só era muito amiga do... — "Jungkook?", Taehyung perguntou — ... isso! Jungkook. Onde um ia, o outro estava também.

— Eles são bem amigos mesmo. Acho o JK um cara legal.

— Então, ela socializava mais quando ele estava por perto. O Jin diz que ela não era assim antes, que falava sem parar. — Namjoon pareceu pensar — Eu não sei muito sobre, mas sei que eles perderam o pai muito novos, acho que foi câncer. Tem a situação com a mãe também... enfim. O Jin ficou responsável pela Sohye, mas logo depois veio a Yuna. Eu acho que foi uma enxurrada de coisas que exigiram muito dos dois, não sei se eu teria aguentado isso tudo, como eles. Nós, eu e o Jin, ficamos pouco tempo juntos por isso. Eu senti que não era um momento bom para obrigar ele a tentar começar um relacionamento. 

— Meu Deus, Joonie, eu não fazia ideia... Eu achei que vocês tinham brigado, sei lá.  

— Não foi — Namjoon sorriu meio triste ao se lembrar. — Nenhum dos dois queria realmente terminar, mas realmente estava impossível continuar. Dava para ver o quanto estava fazendo mais mal do que bem. O Jin disfarçava melhor. Sempre que eu tocava no assunto ele mudava de assunto ou contava uma piada.

— Que merda deve ser terminar quando os dois ainda se gostam.

— É... mas acho que agora, apesar de ainda doer, as coisas não estão mais tão recentes — ele encarou um ponto na mesa, parecendo pensar. — A sra. Go, falou que a Soso ficou péssima com tudo o que aconteceu. Que ela mudou completamente depois disso e jogou todas as energias dela nos estudos. Eu de verdade não sei como ela aguentou tudo, tão nova, e não perdeu a cabeça, Tae.

Taehyung ficou em silêncio, pensando. A cada dia que passava, ele achava Sohye mais incrível, e vendo o que todos ao seu redor diziam sobre ela, ele tinha cada vez mais certeza de que estava certo. 

— O Jin sempre me contava como ela era antes, mas era tão dificil de imaginar. Meu cérebro tinha um bloqueio imenso de conseguir imaginar a Sohye fugindo de madrugada para ir para shows com o Jungkook, por exemplo. — ele deixou escapar uma risada, que contagiou Taehyung. — Isso até eu ver vocês no último sábado. Aquela devia ser a Sohye que o Jin tanto falava. Ela conversou a noite inteira com a gente, pareceu realmente se divertir.

— Acho que agora eu entendo o Jin hyung ser meio protetor. Depois disso tudo, eu ia encher o saco do cara que quisesse namorar minha irmã mais nova.

— Ele gosta de você — Namjoon riu, com a cara que Taehyung fez quando o ouviu falar aquilo. Sohye tinha falado o mesmo, mas ainda era difícil aceitar. — Relacionamentos nunca vão ser só flores, não adianta eu te dizer o contrário. Mas a única coisa que você precisa fazer, é se esforçar para, tanto você quanto a Sohye, se sentirem bem com o que vocês estão construindo, Tae. E segundo o que o Jin me fala, vocês vêm fazendo isso bem.

— Eu só quero ver ela bem, Joonie — ele comentou, o olhar meio perdido, enquanto com os jeotgarak brincava com os legumes na marmita. — É louco pensar isso, mas o sorriso da Sohye se tornou uma das minhas coisa favoritas neste mundo. A gargalhada dela... parece que eu ganhei na loteria toda vez que ela ri. — ele falou meio abobalhado. Namjoon sorriu.

— Tsc, tsc... é, Taetae, ferrou. Está apaixonado mesmo — Namjoon o zoou e ele sorriu envergonhado.

— É... acho que estou mesmo — ele riu, sem graça, sob o olhar singelo que Namjoon depositava nele.

Taehyung estalou a língua observando Namjoon bebericar o chá em seu copo térmico.

— E você e o Jin? 'Tão bem? — Namjoon apertou os lábios, e inclinou a cabeça para um dos lados.

— Nós dois estamos bem. Mas... ele falou para a Yuna, não é? Parece que ela não curtiu muito a ideia — ele fez careta.

— Ah, eu presenciei a cena — Taehyung mordeu os lábios inferiores, parcialmente, se lembrando de Yuna gritando no meio da cozinha da casa dos Kim.

— Ele quer marcar de eu ir lá, mas eu não sei. Eu acho que pode ser meio cedo — coçou a nuca.

— Ela me encheu de perguntas sobre você, Joonie. Está curiosa e preocupada de você não gostar dela.

Namjoon franziu o cenho e abriu a boca.

— Como que eu não vou gostar da Yuna? Aliás, como alguém pode não gostar daquela criaturinha? É muito mais fácil ela não gostar de mim.

— Não é? Eu falei isso para ela. É humanamente impossível não gostar daquela criança! — ele bateu uma palma na outra depois de falar.

— Você acharia muito abuso se eu dar a ideia para o Jin de você e a Soso participarem disso também? Acho que pode parecer menos formal e ela pode se sentir mais confortável se vocês dois estiverem lá.

— Por mim, tudo bem, Joonie. Acho que a Sohye também topa, posso falar com ela se você quiser.

O mais velho assentiu em resposta e eles voltaram a comer. Taehyung voltou logo a se direcionar ao amigo.

— Joonie... — o outro levantou o olhar para o olhar — Também é humanamente impossível não gostar de você.

Namjoon sorriu, os lábios em uma linha, fazendo as covinhas aparecerem.

— Obrigado, Tae.

Taehyung sorriu também.

— Você lembra quando você puxou aquela eletiva de escultura, mesmo sendo no período de TCC, só para eu não ter que fazer a disciplina sozinho?

— Não foi por isso, eu gosto de modelar...

— Você quebrou todas as esculturas que fez, Joonie. Sério, não precisa mais mentir para eu não me sentir culpado — ele debochou do mais velho. Os dois riram. — Na verdade culpa é a última coisa que eu sinto quando lembro disso. Sou muito grato por você ter me apoiado na faculdade, eu não sei se teria conseguido sem você.

— Claro que conseguiria, você é muito bom no que faz, Taehyung.

— Posso ser, mas não diminui a importância que você teve na minha vida naquele momento. Eu achei que quando mudasse de curso iria me sentir menos o patinho feio, mas levou um bom tempo para eu entender que eu não preciso me encaixar em lugar nenhum. Eu só preciso ser eu mesmo.

— E é justamente isso que te torna tão especial. — Namjoon apertou de leve o ombro do mais novo. — Não foi só você que saiu ganhando com a nossa amizade, Tae. Você me lembra todo dia que vale a pena lutar pelo o que a gente ama. Independente dos obstáculos que aparecerem no caminho.

— Você está falando da arte ou do Jin hyung?

— Pode ser pela arte ou pelo Jin, mas posso estar falando da Sohye, também — Namjoon deu de ombros fazendo o outro sorrir.


15h10min

Sohye estava parada ao lado do escorregador infantil, ajudando uma das crianças de sua turma a subir, mais uma vez, nos degraus. Ela fitou a garotinha de óculos e duas tranças laterais se sentar no alto e escorregar dando risadas agudas e contagiantes. Assim que as botinhas tocaram no chão, ela correu dando a volta no brinquedo, segurou na mão da professora e repetiu o gesto novamente.

Se perguntou o porquê deles pareciam gostar tanto do escorregador, já que parando para pensar, era uma brincadeira que durava poucos segundos e não tinha nada de inovador. Mas para a Kim, também tinha algo de super interessante no fato das crianças não se importarem de algo parecer chato para outra pessoa e simplesmente repetir várias vezes a mesma coisa, apenas pelo prazer de se sentir feliz.

Após subir e descer mais algumas 5 vezes, a garotinha correu para o outro lado do pátio infantil, para se juntar a outras crianças que estavam brincando de roda.

Sohye olhou ao redor, para ver se havia outra coisa em que pudesse auxiliar e acabou sendo surpresa por Inho, correndo e parando a sua frente. Como de praxe, ele sempre lhe dava uma flor, mas daquela vez lhe esticou uma folhinha laranja.

— Eu não consegui achar florzinha nenhuma hoje, tia Sohye, mas eu achei essa folha bonita e quis trazer para você — ao ouvir aquilo, ela sorriu e se agachou a sua frente. O menino sorriu com as bochechinhas vermelhas, provavelmente de tanto correr de um lado para o outro.

— Ela é realmente muito bonita, Inho. Vou coloca-la no livro que estou lendo agora. Muito obrigada. — ela olhou a folhinha que a criança depositou em sua palma aberta. Depois, com a outra, ajeitou a franja curtinha na testa dele.

— Deve ser legal mudar assim, não é? — ele comentou, fitando a mão da professora. Sohye franziu a testa, sem entender de primeira — As árvores.

— Como assim?

— Assim, um dia elas estão cheinhas de flores, no outro com um monte de folhas verdinhas. Aí depois as folhas ficam amarelas, secam, e caem e a árvore fica vazia. Mas depois cresce tudo de novo! — concluiu, empolgado. Sohye abriu mais um sorriso.

— A natureza é assim mesmo. As plantinhas passam por esses ciclos, e elas mudam com as estações. — "ahhh" ela sorriu ao ver a carinha de surpreso dele — E o que você acha mais legal no ciclo das árvores e das estações, Inho? — perguntou curiosa.

— Eu acho, que o mais legal é que elas fazem todas essas coisas, sem ter medo do que vão falar. Elas nem ligam se as pessoas não vão gostar delas de folhinhas verdes ou amarelas, ou sem nenhuma — sorriu fofo. — Você não acha, tia Sohye?

Ainda abaixada na frente dele, Sohye piscou os olhos tentando assimilar. Aquela resposta, não estava nem próxima de algo que ela estava esperando ouvir. Sohye poderia afirmar, como qualquer outra pessoa, que ele não fazia ideia do que estava falando, mas talvez, no fundo, aquele garotinho soubesse bem o poder daquelas palavras.

As crianças sempre sabem das coisas.

— Eu também acho — e de leve, bateu a ponta do indicador no narizinho de botão do menino.

— Você é a minha professora favorita, sabia?

— Ah, é? E isso é porque eu deixo vocês mexerem com tinta toda semana? — ela o encarou, em uma expressão brincalhona. O menininho riu.

— Também. Mas é mais porque você sempre ouve a gente antes de dizer para ficarmos quietos.

Daquela vez, Sohye não soube o que responder. Após alguns segundos, ela apenas sorriu, surpresa e afetada, e quando sentiu os olhos começarem a arder, indícios das lágrimas começarem a chegar, se levantou olhando ao longe.

— Que tal você voltar a brincar? Ainda faltam alguns minutinhos para acabar o intervalo — ajeitou as madeixas dele, disfarçando o fungar de nariz. Inho assentiu e correu para o meio do pátio, se juntando aos outros coleguinhas.

Sohye passou a mão em uma das bochechas, secando a gota que conseguiu escapar e rolar por seu rosto. Sorriu sozinha, ao pensar que ela que tentava ao máximo não se entregar às lágrimas, estava agora chorando por qualquer coisinha.

Talvez fosse o efeito de se permitir sentir.

— O útero coçou, não é? Esse moleque é muito fofo mesmo — assustada, Sohye se virou para o lado, dando de cara com Gaeul saindo sabe-se lá de onde.

— Fugiu da sala de novo? Você vai acabar perdendo o estágio.

— Não digo pelas crianças, porque eu vou morrer de saudade delas, mas se for para me livrar da nossa chefe, eu aceito — fez piada. Sohye deu um sorriso discreto.

— Você viu a Yuna? — a Kim perguntou.

Gaeul virou o rosto, parecendo procurar, e então apontou para um ponto do pátio. Sentadinha, em um dos bancos coloridos, Yuna observava as outras crianças brincarem. Do seu lado, Daeho, parecia falar sem parar, as vezes arrancando risadinhas dela.

— Ué... Por que eles não estão brincando? — Gaeul questionou, passando a encarar Sohye. 

A Kim chegou a se mover, pensando em ir até a criança, mas bastou correr um pouco o olhar, para ver a diretora da escola conversando algo com uma das professoras, bem próxima à Yuna e Daeho. Ela deu de ombros, respondendo a amiga.

— Eu vou lá ver o que aconteceu. A Choi não pode brigar comigo porque fui falar com eles. — Gaeul, comentou, depois de perceber o que Sohye tinha visto.

— Ela vai te dar uma chamada por estar aqui sendo que o intervalo da sua turma já acabou.

— Sendo a ótima diretora que ela é, nem deve saber de que turma eu sou. Relaxa, que vou lá ver o que está acontecendo. — ela apertou de leve o ombro da amiga.

— Obrigada, Ga — sorriu agradecida.


19h16min

Sentada no banco do ônibus, observando a paisagem de uma Incheon em início de noite passar pela janela, Sohye pensava nos assuntos que renderam na sessão de terapia. Não, ela não tinha falado nada sobre a situação com a mãe ou a preocupação com Yuna, ainda não se sentia pronta para falar sobre questões familiares com o psicólogo. Daquela vez ela apenas descreveu seu dia: sobre a entrega do trabalho e no quanto ela se sentiu empolgada por pesquisar aquele tema, e sobre a conversa com o pequeno Inho. Em como as palavras dele lhe impactaram, tanto pelo assunto ter servido como um lembrete de que não deveria se preocupar 100% do tempo sobre o que achavam ou deixavam de achar dela, como também, por chegar a conclusão de que observando ele falar sobre as árvores, teve vontade de criar um plano de aula baseado naquele assunto.

Então ela começou a falar ao terapeuta, como queria aproveitar aquela curiosidade natural das crianças, para apresentar questões que os ajudassem a elaborar hipóteses e encontrar suas próprias respostas. Da vontade de estimular o desenvolvimento do senso crítico que eles já tinham e que era podado por aquele sistema educacional que, para ela, era tão antigo e que não se encaixava mais no mundo atual.

Comentou sobre a conversa com o namorado e em como ele lhe deu força para tentar se aprofundar no método. De como ficou feliz de o explicar um pouquinho sobre aquela maneira de ensinar que ela estava tão encantada.

Sohye se sentiu empolgada ao se imaginar atuando com o método Construtivista. E enquanto explicava para o psicólogo, percebeu que realmente, era como ela queria trabalhar.

Mas o problema chegou no momento em que o especialista a perguntou o que a impedia de fazer aquilo, de seguir aquele sonho, e a primeira palavra que veio em sua mente, foi, medo.

Então ela ficou em silêncio, e se manteve daquele jeito no resto do tempo daquela sessão.

Sentiu o coração acelerar, as mãos suarem, depois os dedos tremerem. Automaticamente fincou as unhas nas palmas e até quis rir, de nervoso, ao se sentir patética ao estar prestes a ter uma crise na frente do psicólogo. Ele poderia achar que ela não estava evoluindo no tratamento. De que ela não estava levando a sério as dicas que ele lhe passou. Sohye só sentiu um medo estranho e tentou ao máximo encontrar um significado para ele.

Pelo menos, naquele momento, ela não conseguiu encontrar uma explicação, mas seu cérebro não parou por nenhum segundo sequer.

Medo de falhar? Medo de se arrepender? Medo dos comentários negativos que poderia ouvir?

Por que para ela era tão fácil incentivar Taehyung, Gaeul, Jungkook, Jin, e até mesmo Yuna, a correr atrás do que eles tinham como sonhos, mas era tão difícil de acreditar que ela mesma era capaz de correr atrás dos seus?

Sohye sorriu meio triste ao sentir o coração e a respiração se acalmarem, à medida que rapaz à sua frente contava até dez com ela e simulava, pacientemente, a maneira que ela deveria respirar.

Ainda abria e fechava os dedos, quando chegou à conclusão que antes de querer apresentar aquele método educacional a outras pessoas, talvez devesse tentar aprender um pouco mais com ele.

Talvez fosse melhor compreender que mais importante que o resultado final, era entender que o principal aprendizado estava nas tentativas, nos erros e acertos, e não, principalmente, no objetivo final.

Faltavam 2 pontos de ônibus para ela estar mais próxima da rua de casa, quando sentiu o celular vibrar no bolso de seu casaco. Ao desbloquear a tela, e abrir o aplicativo de mensagens, sorriu com a imagem do irmão e da sobrinha, vestidos com os pijamas favoritos. Os dois tinha os dedos levantados em forma de "v" e Yuna sorria de forma em que ficasse em evidência os dentes meio crescidos na parte da frente.

"A noite do filme precisou ter uma sessão extra porque a nossa Boo me informou que nós esquecemos do aniversário do NamNam.". Era a legenda escrita por Seokjin.

Sohye sorriu mais uma vez e guardou o celular novamente no bolso. Por fim, se levantou, e puxou a cordinha, fazendo sinal para o motorista parar no próximo ponto.


Assim que a Kim destrancou a porta de casa e entrou, tirou as botas e pendurou o casaco no cabideiro, se assustou dando um passo para trás. Quase foi atropelada por Yuna correndo da sala até a cozinha, enquanto gargalhava sozinha de alguma coisa e carregava o coala de pelúcia embaixo do braço.

Ela ouviu a voz do irmão vinda do lado esquerdo da casa e seguiu até lá. Ao chegar na cozinha, o viu, assim como a filha, com seu famoso kigurumi, enquanto despejava marshmallows em um recipiente circular. Yuna pulava do lado dele, tentando ver o que tinha dentro da vasilha, e Sohye entendeu que aquilo era felicidade demais para ser apenas empolgação. Já devia ter mais açúcar circulando no corpinho de menos de um metro e meio daquela criança do que em toda a Fantástica Fábrica de Chocolate.

— Espero que o remédio de verme de vocês esteja em dia — Sohye falou, chamando atenção do homem. Jin levantou o olhar ao ouvir a voz da irmã e fez careta.

— Verme... — Yuna repetiu, dando risadinhas. Nenhum dos outros dois entendeu o motivo do riso, mas tanto Jin quanto Sohye imaginaram ser alguma piada interna dela e de Daeho. Era a cara do menino falar aquelas coisas. — Tia Soso, tem tanta comida gostosa lá na sala, tanta! — ela gritou, abrindo os bracinhos.

— Você está bem? É febre? Você sabe que ela vai ficar pulando a noite toda, não é? — Sohye levou a mão à testa do irmão, no momento em que ele passou por ela. Jin desviou de Sohye enquanto Yuna pulava ao seu lado, tentando alcançar os doces em suas mãos.

— Eu já estou arrependido, Sohye, shiu, não piora a minha situação — ele reclamou. No momento seguinte, Yuna segurou na borda da vasilha a puxando para baixo — Meu Deus, Yuna, você vai comer tudo antes do filme!

— Não vou nada — resmungou se jogando no sofá, de bracinhos cruzados e carinha emburrada, mastigando o único doce que conseguiu pegar.

Sohye observou Seokjin colocar o pote na mesinha de centro, encostada no rack. Próximo ao local, agora ocupado pelo pote com marshmallow, haviam jujubas, chocolates, cupcakes, e algumas porções de pirulitos, espalhados pelo tampo.

Torceu para não passar o fim de semana sentada na privada, com dor de barriga.

— Fui até o mercado depois do trabalho para comprar essas coisas e ela ainda me responde, vê se pode? — Seokjin reclamou. — Melhor tomar seu banho e se trocar, Mike. Acho que consigo domar a monstrinha por mais 10 minutos antes dela devorar tudo. Inclusive suas jujubas. — se referiu agora a irmã.

Ela assentiu uma vez e seguiu em direção ao quarto.

— Ai papai, eu não sou monstrinha. Eu já te disse, que eu sou criança com pijama de monstrinha... — Sohye ainda ouviu a garotinha explicar demonstrando cansaço.

Já vestida com a vestimenta exigida para a noite em família, e deitada de barriga para cima sobre a cama, Sohye respondeu as últimas mensagens que haviam em seu celular. Agradeceu Gaeul pela tentativa, mesmo ela dizendo que Yuna tinha desconversado quando ela se aproximou e perguntou porque não estava brincando. Jungkook, que por algum milagre, ficou sabendo da mesa na sala de estar cheia de doces e pediu para Sohye separar alguns para ele. Confirmou no grupo do seminário se estava tudo certo para eles se encontrarem na manhã seguinte, na cafeteria do irmão.

Por fim, abriu o chat com o namorado e selecionou a câmera frontal. Esticou a mão segurando o aparelho, para cima, enquanto com a outra fazia um "v". Ela sorriu, tentando parecer fofa, com as bochechas cheinhas e os olhos quase fechadinhos.


sohye: Eis a sua oportunidade de mudar de ideia sobre o Sulley ser seu favorito. |19:49

kim: pegou pesado, Soso, assim não vale. |19:52

como foi seu dia? |19:52

sohye: Kkkkk. |19:53

Foi tudo bem, Tae. Entreguei aquele artigo, foi tranquilo na escola com as crianças e a consulta hoje também foi produtiva (?) Não sei é essa a palavra, mas sinto como se tivesse dado alguns passos à frente, então acho que a terapia está funcionando. |19:55

kim: viu? você disse que achava estar demorando para dar resultados, mas cada um tem um tempo de lidar com essas coisas. |19:56

sohye: Ah! Yuna inventou que hoje é aniversário da NamNam e parece que meu irmão assaltou a loja de doces para fazer vontade dela. Acho que ele está se sentindo culpado com a choradeira do começo da semana, porque ela mesma me disse que ele estava reclamando que ela estava comendo muito açúcar. |19:59

kim: doces? se tiver chocolate, guarda um para mim? |19:59

conversei com o Joonie hoje e acho que ele até está ansioso para o tal jantar, mas está preocupado da Yuyu não gostar dele. |20:00

ele perguntou se nós dois podíamos participar e eu disse que por mim tudo bem. |20:00

pra você, tudo bem? |20:01

sohye: Aham. Eu vou estar em casa de qualquer maneira. Eles já marcaram alguma data? |20:02

kim: não que eu saiba, mas provavelmente deve ser depois do feriado. |20:05

sohye: Okay, você me avisa antes para eu me planejar? Eu preciso descer, daqui a pouco a Yuna aparece aqui reclamando. Nos falamos mais tarde? |20:06

kim: pra colocar na planilha, não é? eu imaginei haha |20:06

nos falamos sim, também preciso ir agora. |20:06

jimin disse que quer conversar comigo. |20:07

você precisava ver a cara que ele fez, soso. |20:07

me deu medo, mas vou ver o que é, porque não tenho escolha. |20:07

se eu não aparecer mais, a culpa é dele. |20:07

você tem nosso endereço. |20:08

sohye: Estava demorando o seu drama da noite, não é? Imagino o que ele queira falar, mas já adianto que foi culpa da Gaeul. A língua dela não cabe dentro da boca. |20:10

Beijos. |20:10


Sohye se levantou da cama e seguiu para fora do quarto. A tempo de dar de cara com Yuna terminando de subir as escadas.

— Ah não. Eu subi a toa? — ela deixou os ombrinhos cairem.

— O nome disso é preguiça, Yuna?

— Tia, eu já tenho 6 anos. Eu estou cansada!

— Ai, coitadinha. A idosa de 6 anos quer colo? — Sohye perguntou. Ela gargalhou quando viu a cara sofrida que Yuna fez, esticando os bracinhos em sua direção.

Se abaixou, a puxando do chão, mas fez careta sentindo as costas fazerem um barulho estranho.

— Meu Deus, você está muito pesada, Yuna — reclamou, já descendo os degraus.

— Eu acho que você é que está velha, tia Sohye... — Yuna disse com um sorrisinho arteiro no rosto, quando elas chegaram no hall. Sohye virou o rosto na direção dela.

— É sério, isso? Jin?! — ela chamou o irmão quando chegou na sala.

Sentado no chão, confortavelmente, com as costas encostadas no sofá e um dos joelhos dobrados, ele apontava o controle para a TV quando se virou para ela.

— Você ouviu isso? Sua filha acabou de me chamar de velha! — Jin abriu a boca pronto para chamar a atenção da filha, mas acabou rindo da cara que Yuna fazia. — Eu não tenho moral nenhuma nesta casa, incrível!

Colocou a garotinha no chão, e se sentou ao lado do irmão.

— É porque assim... os anos passaram e... — Sohye o encarou de boca aberta, lhe dando um tapinha no braço. Jin riu, se encolhendo na direção contrária.

— Você é 10 anos mais velho que eu. Eu não sei o que você está falando, Jin!

— Óh, consegui salvar para você — ele pegou um pacote de jujubas de ursinhos ao seu lado e jogou na direção da irmã. Ela o pegou no ar.

— Idiota... — resmungou, fazendo Jin rir. Sohye abriu o pacote de doces, jogando uma na boca.

Fazia tanto tempo que ela não comia seu doce favorito! Se sentiu adorável!

— Vem cá... O NamNam já não fez aniversário este ano? — perguntou a Jin que corria pelos filmes na TV. Ele piscou algumas vezes e inclinou a cabeça para o lado, parecendo pensar. Junto com Sohye, encarou Yuna na frente da mesa de doces, enfiando um marshmallow atrás do outro na boca. Ela os olhou de volta e sorriu, ainda de boca cheia.

Sohye gargalhou quando Jin a puxou para perto.

— Em sua defesa, o que tem a dizer, Kim Yuna? — ele a deitou sobre a perna dobradas no chão, e a garotinha o encarou querendo rir. 

— É que na terra dos coalas se faz aniversário várias vezes no ano — tentou explicar.

— Ah, claro. Isso faz sentido para você, Sohye? — Jin encarou a irmã, que apenas jogava mais jujubas na boca e ria dos dois. Sohye deu de ombros. — E cadê o NamNam? Perdeu o aniversariante? — Jin a questionou. Yuna mastigou o doce e engoliu, parecendo pensar. Depois levou as mãozinhas na cabeça.

— Você não o levou para a cozinha?— Sohye perguntou. Ela sorriu, se levantou, e começou a correr até lá.

— Por favor, anda devagar, Yuna — Jin falou mais alto. Ele fitou a filha diminuir o ritmo de forma exagerada, arrastando os pézinhos não chão. Depois fechou os olhos e tombou a cabeça para trás, a descansando sobre o encosto do sofá. 

— Está se sentindo culpado?

Ao ouvir a irmã perguntar, abriu os olhos e se virou para a olhar.

— Dá para notar? — sorriu forçado. Sohye assentiu, jogando mais jujubas na boca. — Acho que em parte, pode ser culpa, mas hoje quando ela comentou sobre ter muito tempo que não fazemos nada só nós três, eu tive que concordar. Achei que a noite do filme seria uma ótima desculpa.

— Também estava sentindo falta das noites de filme em família. — ela sorriu — Você está bem?

Ele sorriu, balançando a cabeça de cima para baixo. Dava para ver no olhar de Jin que ele realmente parecia mais leve. Ela apostava todas as fichas que aquilo tinha a ver com um outro Kim, de covinhas e sorriso fácil.

— Como foi a consulta? — Jin perguntou de volta.

— Foi produtiva — Sohye sorriu. Jin assentiu, sem entender muito bem, mas não perguntou mais sobre.

— Sabe que pode contar comigo, não sabe? — Jin a questionou e ela balançou a cabeça.

— Obrigada, Jinnie — ela falou baixinho, depois foi puxada para um abraço e apenas encaixou o queixo no ombro de Jin, aceitando o carinho. Ele tinha o mesmo cheirinho do sabonete de Yuna. De olhos fechados, Sohye sorriu, pensando o quanto era a cara do irmão passar a usar o mesmo shampoo da filha por preguiça de procurar por outro durante as compras.

— Eu posso abraçar também? — Sohye se afastou do irmão, ao ouvir a vozinha próxima a eles. Ela e Jin olharam para a garotinha abraçada ao coala de pelúcia, e assentiram, sorrindo. Yuna sorriu também e se jogou em cima deles.

Jin se encolheu um pouco e reclamou dela ter batido o joelho na barriga dele, mas acabou rindo e deixando um beijinho na cabeça da filha.

Aquela seria uma noite feliz na casa da família Kim.


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Oi, tudo bem?

Dessa vez não demorei tanto, não é? Fiquei feliz desta atualização ter saído logo na semana seguinte, porque estava com medo de não conseguir recuperar o ritmo de escrita daqui. Esse capítulo me fez sentir mais forte a energia da Learning (que eu estava com MUITO medo de ter perdido), me contem aí se vocês acham isso também ou se é surto meu haha

Não sei se consigo repetir mais uma postagem já na próxima semana, mas prometo que vou tentar, ok?

Espero que tenham gostado.

Obrigada pelo carinho e pelos comentários lindos que deixaram por aqui. É importante saber como a Learning está chegando à vocês. Fico toda bobinha os lendo e fiquei emocionada demais com os últimos ♥

Fiquem bem e se cuidem, viu?


Abraços coloridos, Polly ♥

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