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24. tell me how you do it, how you bring me back, you bring me back to life

"Diga-me como você faz isso, como você me traz de volta, você me traz de volta à vida"

- Sebastián Yatra feat. Isabela Merced (My only one)

quinta-feira, 8h29min

Sohye estava sentada em uma das mesas próximas à janela. Usava fones, mas o olhar perdido deixava claro que não estava muito concentrada na voz dos 5 meninos que ela tanto gostava de ouvir.

Naquela manhã, insistiu em vestir o avental da cafeteria, mas nem sequer conseguiu se concentrar em encher uma caneca de café sem que deixasse transbordar e Jin precisasse a interromper e terminar de atender o cliente.

Falando em Jin, ele a observou de onde estava, enquanto esperava a senhora do outro lado do balcão procurar a carteira na bolsa. O prato a frente de Sohye, com o donut, estava intocado e a caneca com café, cheia até a borda.

Depois da cena de mais cedo, ele conseguiu enxergar que por baixo de todos os sorrisos dos últimos dias, havia uma Sohye muito abalada. Uma Sohye, que sorria o dia todo, mas sempre parecia extremamente cansada ao chegar na cozinha pela manhã por conta da noite anterior mal dormida. Então ele se perguntou se as negações para se unir a eles para a primeira refeição, eram, na verdade, uma espécie de escapatória para que nem ele, nem Yuna percebessem a cara de choro. No impulso, Jin quase se culpou por não ter percebido antes, mas tinha entendido que nem tudo no mundo era culpa dele. A questão era que Sohye tinha aprendido a disfarçar tão bem, que até ela mesma acreditava que estava tudo sob controle.

A senhora a sua frente esticou o cartão de plástico e Jin o segurou educadamente, passando-o logo depois na máquina de pagamento. Depois o rapaz agradeceu inclinando a cabeça, e já pôs outro sorriso no rosto, cumprimentando o próximo rapaz na fila.

Aquela quinta-feira tinha iniciado com um ar triste, a própria cafeteria não estava cheia e os poucos clientes ali só queriam fazer pedidos para viagem e logo saiam.

Tirando Sohye, não haviam mais pessoas ocupando mesas.

Taehyung passou pela porta naquele instante e acenou discretamente para Jin, que fez um movimento com a cabeça, indicando onde Sohye estava. O garoto ao encontra-la, devolveu um sorriso tímido, agradecendo ao mais velho. Ele caminhou devagar e se sentou na cadeira de frente para a namorada. Ela o olhou, ainda meio perdida, e sorriu fraquinho tirando os fones.

— Veio por nosso café ser mais barato? — ela tentou brincar, mas não soou convincente. Taehyung continuou a fitar em silêncio. Sohye deixou os ombros caírem um pouquinho. — O Jin te ligou? — ele afirmou com a cabeça. — Tae, você não precisa fazer isso. Não precisava vir aqui.

— Eu sei. — ele respondeu, segurando a mão dela por cima da mesa. Sohye tentou puxar a dela, mas ele segurou firme. — E é exatamente por saber, que eu estou aqui. Porque eu quero estar aqui. — Sohye assentiu, depois de alguns segundos.

— Obrigada — ela sussurrou.

— Quando é a consulta? — Taehyung perguntou, ainda sem soltar suas mãos, acariciando-a com o polegar.

— Ele marcou para amanhã depois do meu estágio. É no centro.

— Entendi. E o que você acha disso tudo? — Sohye respirou fundo.

— Eu acho que ir até lá não vai deixar isso pior, Tae. Então eu acredito que é melhor tentar. Sei lá, não custa nada — ela sorriu meio triste, dando de ombros.

— Você já está sendo incrível de aceitar ajuda. Eu imagino o quanto é complicado. — Sohye concordou com ele. — Você ainda vai lá em casa? Ou quer deixar para outro dia? Tudo bem se não quiser ir, não se preocupa.

— Eu vou. Se eu for para a minha casa depois da consulta provavelmente vou ficar pensando e me torturando. Eu preciso me distrair. 

— Tudo bem — Taehyung concordou com ela. Depois olhou para o prato na mesa e ele apontou para a comida — Eu não acredito que você vai ignorar essa rosquinha dos Simpsons, Kim Sohye. Isso é quase um pecado! — falou exagerado, e então Sohye riu pela primeira vez naquele dia.

— Você pode comer, se quiser.

— Eu vou fazer melhor: vou pedir outra para te acompanhar, ok? — ele levantou rápido, sem dar tempo dela negar, e seguiu até Jin, que os observava de longe com um sorriso gentil no rosto. Pensava sobre o quanto saber que Sohye podia contar com alguém como Taehyung, o deixava mais tranquilo.

Ela ouviu a típica gargalhada do irmão se espalhar pelo ambiente assim que ele escutou o pedido de Taehyung. Mesmo de longe, ela tinha certeza que era chocolate quente e rosquinha dos Simpsons. Porque Taehyung poderia ser surpreendentemente em outras coisas, mas não em relação àquilo. Ele sempre pedia a mesma coisa.

Jin preparou a bebida e se abaixou pegando na vitrine a tal rosquinha que ele pedia desde a primeira vez que pisou ali.

Sohye sorriu sozinha ao ver aquela interação entre os dois, e agradeceu por ter pessoas como eles em sua vida.

Pessoas que estavam dispostas a ajudar e a ouvir, sem a julgar.      

sexta-feira, 18h19min

A recepcionista avisou a Sohye que ela poderia se sentar e aguardar, porque seria a próxima a ser chamada, e assim ela o fez. Ela sentiu as mãos tremerem e abraçou a mochila em seu colo, em uma tentativa de as fazer parar.

Falar para o irmão e para o namorado que iria em uma consulta psicológica, era totalmente diferente de agora estar a minutos de ser chamada para a tal consulta. Ela nunca tinha feito aquilo, então não sabia o que deveria falar, e como deveria falar.

Ela deveria falar sobre a morte do pai e de toda a história com a mãe? Das preocupações que se tornaram constantes? Da dificuldade que estava tendo para comer e para dormir?

Deveria falar sobre Taehyung e que estar com ele a deixava um pouco mais tranquila?

Sohye mordiscou os lábios inferiores com certa força, mas parou para retribuir o sorriso que recebeu de uma garotinha sentada do outro lado da sala, sacudindo as perninhas no ar, ao lado da mãe. Ela parecia muito com Yuna, e aquilo a fez sorrir mais ainda, se lembrando de como a sobrinha passou parte da noite anterior, e daquela manhã, tentando a tranquilizar em relação à consulta.

Os psicólogos são pessoas boazinhas que querem ajudar a gente a entender os nossos pensamentos, ela disse a tia.

E antes que Sohye voltasse a pensar que não sabia o que fazer naquele momento, ela ouviu a porta ao seu lado ser aberta e seu nome ser chamado.

Kim Sohye ultrapassou a porta da clínica e sentiu o vento gelado bater em seu rosto. Se encolheu puxando as abas da jaqueta parka uma por cima da outra, na tentativa de se aquecer, e olhou para o nada, sem se mexer nenhum centímetro sequer.

Ela não estava mal, mas também não estava bem.

Estava confusa.

A conversa tinha começado com algumas perguntas básicas sobre sua rotina, mas em determinado momento, Sohye viu sua própria fala caminhando para coisas que ela sempre fazia questão de jogar um pano por cima e fingir que não existiam. E para ela, falar daquelas coisas era como cutucar um machucado sensível que no mais leve encostar, voltava a sangrar.

Sohye se surpreendeu com o pedido de licença vindo da mulher que algum tempo antes também esperava atendimento, e saiu do caminho, deixando que ela e a filha passassem e descessem os poucos degraus.

Um pouco afastada, a garotinha sorriu para ela e sacudiu a mãozinha em um aceno, antes de se virar e voltar a olhar para o caminho que a mãe a conduzia.

Sohye respirou fundo mais uma vez, e decidiu fazer o mesmo. Antes que pudesse passar pelo portão, se surpreendeu ao ver uma silhueta conhecida sentada em um banco no pequeno jardim da clínica. Taehyung parecia concentrado em algo no celular, e apertava os lábios e vez ou outra empurrava os óculos para perto dos olhos.

Ela caminhou devagar até ele, e se sentou ao seu lado. O Kim levantou o olhar em sua direção.

— Vem sempre aqui? — Sohye perguntou, o observando guardar o aparelho no bolso interno do sobretudo de camurça.

— Soube que uma garota incrível me faria essa pergunta neste exato momento e resolvi vir aqui tentar a sorte — ele falou sendo bobo e Sohye rolou os olhos, meio sorrindo também. 

— Então quer dizer que você prevê o futuro, Kim? — ela perguntou e ele sorriu.

Taehyung a puxou delicadamente para perto, e encostou a boca em seus cabelos, deixando um beijo ali. Ela correspondeu ao abraço, deixando o rosto encostado em seu peito, aproveitando para se esquentar e para sentir o cheiro de canela do perfume dele.

— Fiz mal de ter vindo? Não queria invadir seu espaço — Sohye balançou a cabeça de um lado para o outro, os braços ainda ao redor do namorado, por baixo do casaco.

— Eu não estava esperando, mas gostei da surpresa. — ela falou baixinho, de olhos fechados.

— Como foi lá?

— Foi estranho — ela foi sincera, fazendo careta e desfazendo o abraço. Sohye olhou para algum ponto na calçada sem exatamente focar nele — Eu estou acostumada a ouvir as pessoas falando sobre elas, não ao contrário. Sei lá, acho que eu nunca falei tanto de mim mesma em toda minha vida. — Taehyung assentiu, se virando para ela e apoiando o cotovelo no encosto do banco.

— Eu imagino como foi, mas com o tempo você se acostuma. Fiz terapia na época da faculdade e também estranhei no começo. Mas em pouco tempo eu já falava tanto que passava da hora. Às vezes eu achava que a terapeuta ia me expulsar da sala dela — eles riram.

— Eu fiquei contando os minutos para acabar — ela disse com a expressão meio tristinha. Sohye sabia que não se acostumaria com aquilo da noite para o dia, mas estava disposta a continuar com as sessões. Ela sabia que eram necessárias.

— Não está com frio? — Taehyung perguntou ao vê-la encolhida sob a jaqueta que usava. Ela parecia sempre errar o casaco quando o dia esfriava.

— Morrendo — Sohye respondeu, franzindo o nariz. Taehyung tirou o próprio lenço do pescoço e enrolou nela, prendendo as pontas uma em cada lado. Ela até negaria, mas já começava a tremer, então aceitou em silêncio.

— Vou chamar um carro para irmos embora. — ele pegou o celular, depois checou o céu — Apesar de a outra vez ter sido bem romântico correr no meio daquele temporal, prefiro ser romântico em casa, no quentinho do meu apartamento, com uma boa caneca de chocolate quente e um cobertor — ela riu ao ouvi-lo falar.

Enquanto esperava ele mexer no aplicativo, aproximou o corpo ao dele e deitou a cabeça em seu ombro, fechando os olhos. Sentiu Taehyung a envolver com um dos braços, os dedos longos acariciando-lhe o ombro esquerdo.

Sohye abriu os olhos e encarou a rua, se lembrando da consulta. Além das dicas de como agir quando tivesse alguma crise de ansiedade, o psicólogo tinha a pedido para que sempre que acontecesse, que ela tentasse se concentrar na própria respiração e no que estava acontecendo no presente. Quando o ouviu dizer aquilo, controlou a vontade de rolar os olhos, porque era um dos clichês que ela mais tinha ouvido na vida. Mas que, no fundo, ela sabia que ele tinha razão.

Ela respirou fundo enquanto olhava para o jardim onde estavam, com as árvores e arbustos de folhas bem alaranjadas, e pouco tempo depois, ouviu Taehyung resmungar pela demora da resposta no celular. Os dedos que antes estavam apoiados no ombro dela, agora estavam brincando com os fios do seu cabelo.

Tê-lo em sua vida era uma das preocupações que mais surgia em sua mente quando ela pensava no seu futuro. Mas ali, percebeu que realmente não tinha como controlar tudo o que aconteceria nos próximos meses ou anos. Sohye decidiu então, que queria se concentrar naquele momento em que estavam juntos.

Ela queria viver o que estava sentindo por Taehyung, agora.

Sohye tinha noção de que não seria tão rápido que ela teria total controle dos sentimentos de ansiedade, sabia também que se tivesse tomado aquela decisão antes, as coisas estariam bem diferentes. Mas o que importava era que ela estava buscando ajuda, mesmo que depois de muito tempo. Seria um caminho longo a percorrer, mas estava disposta a tentar.

E tentar já é um grande passo para quem tem tanto medo de mudanças.

— Tae... — ela chamou, meio de repente.

— Hm? — ele a observou se afastar e dobrar uma das pernas no banco, ficando de frente para ele.

— Eu acho que... — Sohye começou, mas logo se interrompeu fazendo careta. Era tão mais fácil pensar que falar o que estava sentindo, ela sorriu envergonhada por ter começado. Ele sorriu meio confuso, sem entender.

— O que foi? — Taehyung perguntou. Ela balançou a cabeça para os lados.

Sohye o examinou com o olhar, parecendo querer gravar cada detalhe de seu rosto, e o Kim se sentiu envergonhado, porque não se lembrava dela ter o encarado por tanto tempo assim. A mulher sempre desviava o olhar quando notava que ele tinha a descoberto, mas ali ela parecia não ligar. Ele achava os olhos dela muito bonitos — só para lembrar —, e vê-la o observando daquele jeito, o fez sentir o coração bater meio esquisito.

— Eu gosto quando você empurra os óculos para perto dos olhos quando fica nervoso, do jeito que acabou de fazer.

— Eu não faço isso quando estou nervoso. E eu não estou nervoso. — ele falou rápido e franziu a testa, o que a fez sorrir. Sohye segurou a mão dele, entrelaçando os dedos e tentando aproveitar o simples toque delas. Ela pensou o quanto aquele gesto dizia tanto sobre os dois, já que desde o primeiro dia foi daquele jeito.

— Você estar aqui comigo, significa muito — Sohye falou, girando o pulso e vendo o quanto a mão dele parecia grande ao redor da dela. O olhou, e Taehyung sorria, as bochechas avermelhadas, que não dava para saber se eram de frio ou de vergonha. Ela sorriu também.

— Kim Sohye — ele anunciou e ela esperou ele continuar. Taehyung se aproximou e sussurrou: — Eu te beijaria aqui e agora, se a nossa carona não fosse chegar em um minuto.

— Hm... — ela pareceu pensar —, acho que em um minuto dá para fazer bastante coisa. — sussurrou de volta.

— Uau. Eu estou chocado com esse comentário. — ele arregalou os olhos, a fazendo inclinar a cabeça para trás e gargalhar. — Primeiro aquilo lá na sala da sua casa, agora isso. O que mais você tem para me contar? — Sohye deu de ombros e ele balançou a cabeça de um lado para o outro. Era muito mais fácil ser ela mesma quando estava só com Taehyung.

— O que mais você quer ouvir, Kim Taehyung? — ela lhe segurou pelo braço, mais uma vez se encolhendo de frio.

— Muitas coisas. Mas acho que não precisamos ter pressa. — ele sorriu, sentindo o coração bater na garganta. A cada dia que passava ele tinha mais certeza de que o que os dois sentiam era grande demais para acabar do nada. — Não tem um dia que eu não me surpreenda com você, Sohye. — ele falou baixinho, olhando as mãos dela ainda segurando em seu braço, os dedos entrelaçados.

— É muito bom ter essa informação, Kim. — ela sorriu o fitando — Porque agora sei que estamos quites quando se trata de surpresas.

19h23min

Quando Taehyung digitou a senha na fechadura digital e a porta se abriu, Sohye pulou para dentro do apartamento esfregando as mãos uma nas outras. Ele entrou logo depois, tirou os sapatos com os próprios pés, e enquanto a namorada tirava a jaqueta e o lenço e os pendurava no cabideiro, correu até a outro lado da cozinha, na área de serviço, para ligar o aquecedor.

— Acho que eles ainda não chegaram — Taehyung comentou sobre o silêncio na casa, largando o celular na bancada da cozinha e se juntando novamente a Sohye no hall. Ela colocou as botas no canto junto da mochila, enquanto o namorado pendurou o sobretudo ao lado de sua jaqueta. Sohye observou Taehyung de calça social, blusa branca de mangas longas e meias, mexer no relógio em seu pulso parecendo distraído — O que você quer comer? — ele perguntou, depois de colocar o objeto no bolso. Foi até o banheiro, indo até o lavatório para lavar a mãos.

— Você vai comprar ou vai cozinhar?

— Digamos que hoje eu estou inspirado, então eu mesmo vou preparar o nosso jantar.

— Hm... Pode ser arroz frito com kimchi? — Sohye perguntou, depois de pensar um tempinho. Taehyung assentiu e voltou para a cozinha, sendo seguido por ela. Enquanto ele procurava os ingredientes nos armários, o celular vibrou sobre a bancada de pedra escura e ele precisou parar a busca para atender.

— Oi, Jiminie. Você está no viva-voz e a Sohye está aqui — ele anunciou, voltando até a pia para lavar as mãos mais uma vez.

— Você precisa avisar que eu estou aqui? — ela perguntou baixinho observando o namorado colocar a água para ferver.

— Claro que sim. É o Jiminie. Sabe se lá o que ele vai falar. — ele a fez rir.

Eu estou te ouvindo, Kim Taehyung! — o garoto ralhou, do outro lado da linha. — Oi, Soso. — ele falou educado, Taehyung resmungou o imitando. Os papéis tinham se invertido.

— Oi, Jimin. Está tudo bem? — perguntou. Sentada em uma das banquetas, descansou a bochecha em uma das mãos com o cotovelo apoiado na pedra fria.

Tá sim. Vim encontrar o JK no trabalho, mas ele teve que ficar até tarde dando uma prova de segunda chamada para alguma criança. Não sei, na real não entendi. Acho que foi isso o que ele falou. — Jimin riu, fazendo Sohye rir também — Ainda estou aqui esper... Ah, ele apareceu. Oi. — ele falou a última frase em um tom completamente diferente. Sohye ouviu a voz do melhor amigo vinda do outro lado também.

— Vocês vêm de carro? — Taehyung perguntou se aproximando do celular e de Sohye. Do lado de cá, antes que os garotos pudessem responder, eles ouviram um barulho alto de trovão, seguido alguns segundos depois, de barulho de chuva. Taehyung e Sohye se encararam, ao ouvirem uma série de xingamentos — Jiminie? Tudo bem? — Seguiu-se mais som de chuva e vento forte, barulho de duas portas de carro batendo e mais alguns  palavrões. Para finalizar, risos.

Oi, Taetae — ele ouviu Jimin falar, meio esbaforido — Estamos indo de carro sim. E sim, está tudo bem. O estacionamento aqui não é coberto e pegamos chuva. Tirando o fato do Jungkook estar parecendo um frango molhado, a gente tá bem. — eles ouviram o Jeon reclamar com o comentário e Jimin rir.

Você também está molhado, Jimin.

— 'To brincando, bobinho — o Park falou, e dava para imaginar o sorriso no rosto dele só pela voz. Sohye e Taehyung se encararam com olhares divertidos.

— Olha, vocês podem se agarrar depois que desligar o telefone, tá? Mas nós ainda estamos ouvindo. — Taehyung reclamou, Sohye o encarou — E agora a Sohye está me encarando com aquele olhar dela de professora chamando atenção do aluno que fez besteira. Não se surpreendam se quando chegarem eu estiver sentado no cantinho do pensamento. — Sohye arqueou a sobrancelha e ele voltou para perto do fogão com um sorriso no rosto.

Eu tenho medo desse olhar até hoje — Jungkook comentou, fazendo a Kim desviar o olhar para celular e abrir a boca sem acreditar.

— Lembre-se que vamos nos encontrar daqui a pouco, Jeon Jungkook.

Viu? Nem estou olhando para ela e já fiquei nervoso só dela ter me chamado pelo nome. Nos vemos no cantinho do pensamento, Taehyung hyung — ela rolou os olhos, ouvindo os três rirem.

Querem que leve alguma coisa? 'Tá. De preferência falem que não, porque eu não quero sair na chuva e me molhar mais. Só falei por educação mesmo. — Jimin comentou, eles ouviram Jungkook rir.

— Não precisa Jiminie, vou cozinhar hoje.

Óh céus! Essa foi a melhor coisa que eu ouvi hoje. Você não, JK? Eu já disse que te amo hoje, Taetae? — Taehyung olhou para Sohye de canto de olho, ela prendeu o riso o olhando de volta.

— Não comemora antes da hora, vocês dois vão lavar a louça — Taehyung respondeu.

Ouviram Jimin bufar e se despedir. Ao ouvir a gargalhada de Jungkook antes da ligação se encerrar, Kim Sohye sorriu com saudades do amigo. Tinha um tempo que não se viam e não tinham se encontrado na aula daquela manhã, porque ela não foi.

Sim, era quase um evento histórico Kim Sohye decidindo faltar aula, mas ela não estava se sentindo bem então acabou aceitando a ideia — depois, claro, de vários áudios de Gaeul e de Jungkook a falando para voltar a dormir, porque fariam anotação de tudo o que tivesse de matéria.

Sohye observou Taehyung ir até à geladeira atrás de kimchi e depois voltar até a frente do fogão para colocar o arroz na panela.

— A louça não é sempre minha? Me sinto uma inútil sem fazer nada — Sohye reclamou. Taehyung se virou, a olhando por cima do ombro.

— Quer me ajudar com a comida? — ele perguntou. Ela balançou a cabeça para os lados rapidamente, o fazendo rir, voltando a atenção ao jantar. — Pode arrumar a mesa se quiser. — Sohye assentiu uma vez e pulou da banqueta, seguindo em direção do armário onde ficavam os talheres e pratos.

Sohye colocou o último copo na mesa, bem no instante que a campainha do apartamento tocou. Taehyung da cozinha, franziu a testa, tentando imaginar quem poderia ser. Não dava tempo de ser Jimin e Jungkook ainda e o amigo não tocaria a campainha ao chegar na própria casa.

— Soso? Você atende, por favor? Se eu parar de mexer aqui vai queimar.

A Kim seguiu até a porta, e ao abri-la se surpreendeu com a mulher loira que ela já tinha visto algumas vezes ali. Usava calças jeans, suéter felpudo branco e os cabelos desciam em ondas até acima dos seios. Ela lhe sorriu e Sohye fez o mesmo.

— Oi, Sohye! Como você está? — ela falou, aumentando o sorriso ainda mais. Sohye a olhou confusa, como ela sabia seu nome? — Minha nossa, você é mais bonita ainda, assim de perto... Hm... O Taehyung está?

Sohye inclinou um pouco a cabeça, meio abobalhada, sem entender o que tinha acontecido ali. Ficou envergonhada ao se lembrar do elogio tão repentino, mas assentiu respondendo à pergunta. Sentiu uma mão nas costas e olhou de soslaio para trás.

— Soso, seu irmão no telefone — Taehyung lhe entregou o celular. Antes mesmo de o levar até a orelha, ela já ouvia a voz de Jin — Ah, oi! — um Taehyung animado cumprimentou a loira, enquanto Sohye lhe deu um sorriso educado e entrou novamente seguindo em direção a sala.

Liguei para o Taeyeon, porque seu celular deu fora de área. E aí? Tudo bem? Como foi? — Jin disparou do outro lado, preocupado.

— Ah, meu celular descarregou. Foi tranquilo, Jin — Sohye respondeu, ouvindo o barulho da TV ao fundo. Ela não precisava prestar muita atenção para saber que eles assistiam Toy Story mais uma vez. 

É a tia Sohye? Me deixa falar com ela? — ouviu a voz de Yuna se aproximar.

Espera um minutinho, Yuyu. Você se sentiu bem com o psicólogo que te atendeu, Soso? Sabe que pode trocar para outro se não gostar, não é?

— Foi tudo bem, Jinnie. Mesmo. Acho que ainda é cedo para eu saber se quero trocar.

Pai... — Sohye ouviu a voz inquieta da sobrinha e sorriu.

Meu Deus Yuna, espera um minuto.

Eu to com saudades dela.

Vocês se viram hoje de manhã. — Seokjin falou.

Mas eu to com saudades!  — Yuna retrucou.

Você é muito impaciente, isso sim. — Seokjin falou, provavelmente olhando para a filha — Soso, vou passar para o baby shark. — ela ouviu Yuna rir do outro lado e riu também.

Tia Soso? Como foi lá? Você desenhou? — ela também encheu a tia de perguntas.

— Oi, Yuyu. Não meu amor, eu não desenhei. A minha consulta é pouquinho diferente da sua. — "ah" a ouviu exclamar.

Você já entendeu seus pensamentos?

— Ainda não, e acho que vai levar um tempinho para isso acontecer.

Ah... É coisa de adulto, não é? O papai e a mamãe também não entenderam os deles ainda. Acho que é porque vocês fazem um monte de coisas e tem muitos pensamentos na cabeça.

— É... eu acho que é sim — Sohye se encantou mais um pouquinho como a simplicidade da fala dela fazia tanto sentido.

Fica calma, tá? Eu vou ter paciência com vocês, prometo.

— Obrigada, Yuyu. É importante para mim, ouvir isso.

De nada tia. Aff... o papai tá pedindo o telefone. Dá oi pro Taetae e pro Mickey, tá? Beijo. Tchau. Te amo.

— Pode deixar. — Sohye riu. — Também amo você, Yuyu.

Ela ouviu os dois falarem alguma coisa do outro lado da linha antes do irmão voltar ao telefone. Jin se despediu dela e pediu para que ligasse se acontecesse alguma coisa. Ela o tranquilizou e disse que ele poderia descansar, porque ia ficar tudo bem.

Após desligar a ligação, Sohye foi até a cozinha, e encostou a lateral do corpo em uma das bancadas, observando Taehyung já concentrado em preparar o jantar novamente.

— Yuna mandou oi para você e para o Mike — ela provocou, e "Mickey" ele a corrigiu — Mickey, Tae. — ela lhe deu língua.

— Você conhece a vizinha? — Taehyung perguntou, mudando de assunto.

— Então... eu sempre tive a impressão que a conhecia de algum lugar, mas não sei exatamente de onde. Depois de hoje, cheguei a conclusão que minha memória é péssima.

— Será que não é daqui? — Taehyung questionou e ela negou com a cabeça.

— Eu acho que não. Eu senti que a conhecia já na primeira vez que a encontrei no elevador.

— Pode ser que Jiminie tenha comentado de você. Ele conhece e fala com o prédio todo. — Taehyung riu, mexendo os ingredientes na frigideira — Nós nos mudamos para cá na mesma época em que a Hana e a namorada dela, e semana passada foi a primeira vez que a cumprimentei — ele comentou, adicionando o arroz. O cheiro que parecia tomar conta da cozinha, ficou 3 vezes melhor. Sohye ouviu o estômago roncar e tentou não se concentrar na fome, porque sempre que fazia isso, ela se transformava em enjoo e ela desistia de comer.

— Hm... Realmente eu não me lembro de ninguém com esse nome.

— Elas querem ajudar no abrigo, amanhã vou as levar lá para apresentar ao pessoal. Quer ir também?

— Eu estava pensando em aproveitar que estou aqui e ir lá na minha avó. Tem muito tempo que não a vejo. Vou no abrigo em uma próxima vez, tudo bem?

— Claro, Soso. Acho que vou passar lá com você antes de ir, tem séculos que não vejo a Sra. Go também. Ela vai me xingar tanto quando me ver, mas depois vai me encher de comida. Não vejo a hora! — eles riram, os dois sabendo que as chances daquilo acontecer eram realmente altas, principalmente quando se tratava da matriarca dos Kim.

— Você vai passar em casa antes de ir para o bar? — Sohye perguntou e ele balançou a cabeça, girando o botão do fogão para o desligar. Ele tampou a frigideira e ela o abraçou pela cintura, enquanto o olhava agora de frente. — Tudo bem se eu me arrumar aqui?

— Então você vai me ver tocar amanhã? — Sohye balançou a cabeça em um sim — Algum pedido especial? — sorriu divertido, ela negou, também sorrindo. Taehyung a beijou na testa, depois na ponta do nariz. Depois deu vários beijos no rosto da namorada, a fazendo gargalhar e se inclinar. Ele a segurou antes que ela caísse no chão, mas não parou com o mini ataque.

Sohye ainda estava encolhida, tentando se esquivar dele e dos beijinhos no pescoço, quando o barulho da porta de entrada sendo destrancada os chamou atenção, mas Taehyung não fez menção de a soltar ou parar. Antes que qualquer um dos dois falassem algo, Jimin anunciou sua chegada.

— Que pouca vergonha é essa na minha cozinha? — ele falou escandaloso, fazendo Sohye ficar de pé de novo e esconder o rosto no peito de Taehyung, sem ter muito para onde correr. Jimin os empurrou para o lado, ocupou o espaço a frente do fogão e abriu a frigideira para olhar o que tinha dentro — Caramba, o que você preparou? Que cheiro bom!

— Tira a mão suja das minhas panelas! — Taehyung reclamou, olhando o amigo de cara feia. Sohye desfez o abraço, rindo ao ver o namorado o empurrar da frente do fogão. O loiro ria parecendo se divertir. — Meu Deus, Jimin você acabou de chegar da rua! Vai lavar essas mãos!

— Kookie! — Sohye exclamou quando viu o amigo sorrindo quieto, encostado no vão da entrada da cozinha.

Ela se aproximou e o abraçou — ou melhor, pulou nele —, e Jungkook riu surpreso, retribuindo o abraço, enquanto tentava equilibrar na mão a sacola com livros que carregava e amiga fazendo peso para o outro lado. Quando se separaram, ele a encarou abrindo um pouco mais os olhos e mordendo as bochechas, o jeito silencioso dele perguntar se ela estava bem. Sohye assentiu com a cabeça, lhe dando um sorriso gentil e ele fez o mesmo. Eles tinham tantas maneiras de se comunicar somente com o olhar, que já faziam no automático.

No fundo, Taehyung e Jimin continuavam a discutir e só pararam quando notaram que Sohye e Jungkook os olhavam em silêncio, esperando até quando aquilo duraria.

— Cada vergonha que você me faz passar, Kim Taehyung — Jimin resmungou, passando entre os dois, sem olhar para trás.

— O que? — Taehyung perguntou indignado — Vocês viram quem começou, não viram?

— Não vou me meter — Jungkook falou, seguindo atrás de Jimin para a sala. Taehyung parou o olhar na direção de Sohye, erguendo as sobrancelhas. Ela balançou a cabeça de um lado para o outro. Ele abriu mais boca, mais indignado ainda. — Você vai ficar do lado dele?

— Não vou ficar do lado de ninguém. Vou ficar do lado da comida. Vamos jantar? — Sohye lhe deu um beijinho na bochecha, o puxando para perto do fogão de novo. 

20h38min

Eles ainda estavam sentados no chão, a mesa antes ocupada por talheres e pratos, agora estava vazia. Jimin e Jungkook de costas para cozinha, Taehyung e Sohye do outro lado, encostados em um dos sofás.

— Quer ser minha dupla, Jungkook? — Taehyung perguntou, quando Jimin abriu a caixa do jogo em cima da mesa de centro. Ele parou o movimento encarando o amigo.

— Pode ser — Jungkook respondeu, fazendo um toque de mão com ele que mais pareceu uma coreografia, terminando os dois levantando as mãos para o alto. Sohye e Jimin olharam para os dois e depois se encararam sem saber de onde tinha saído aquilo.

— O quê? Por quê? — Jimin questionou, confuso, espalhando as peças sobre o tabuleiro.

— Gente, eu que vou fazer dupla com o Kookie — Sohye anunciou, como se fosse óbvio.

— Vocês não se uniram contra mim da outra vez? Podem se unir novamente! — Taehyung provocou, apontando dela para Jimin e vice-versa.

— Tae, eu só estava tentando não perder o jogo. — Sohye explicou, olhando para ele.

— Ué, mas vocês já foram parceiros de jogo uma vez, podem ser de novo — ele retrucou. Sohye o encarou com um olhar que gritava "isso é sério, mesmo?".

— Não era para jogar em casal? — Jimin disse, sem perceber. Depois encarou Jungkook com os olhos meio assustados, com medo de ter falado demais. O garoto ao notar o nervosismo dele apenas negou com a cabeça e lhe deu um sorrisinho, apertando de leve o joelho de Jimin. Este pareceu relaxar os ombros, e acabou sorrindo sozinho depois.

— Da última vez você me enrolou e ficou do lado dele. — Taehyung falou para Sohye, ignorando os outros dois.

— Taehyung, eu não te enrolei — ela devolveu, falando pausadamente.

Taehyung? É assim então? Não é Tae, nem Kim. É Taehyung? — ele arregalou os olhos fazendo drama.  — Tá bom então, Kim Sohye.

— Você é muito teimoso às vezes, sabia? É pior que as crianças da escola fazendo birra. E os meus alunos têm 5 anos, Taehyung. 5 anos. — Sohye abriu a mão, o mostrando o 5.

— Você está me chamando de infantil? — ele continuou. Ela o encarou por algum tempo, mas acabou rindo da bobeira dele, sem conseguir manter a cara de raiva. — Eu estou falando sério — franziu a testa.

— Aham — ela o segurou pelas bochechas, com uma mão.

— É sério, Sohye.

— Ta, tá, se resolvam aí. — Jungkook comentou ajudando Jimin a arrumar o jogo na mesa.

— Não vou passar minha noite de sexta vendo vocês terem DR, mas não vou mesmo! Sério, o quarto é logo ali — Jimin apontou para a porta do quarto de Taehyung. Jungkook se uniu a ele para rir dos outros dois se encarando de sobrancelhas franzidas, mas que pareciam a ponto de se beijar a qualquer momento.

— Ok. Eu faço o sacrifício de jogar com ela — Taehyung falou, apertando de leve a bochecha da namorada. Sohye rolou os olhos e empurrou sua mão.

— Você que deveria me agradecer por eu te deixar ser minha dupla.

O jogo era somente para distrair, mas como todo bom jogo entre amigos, em pouco tempo, o caos estava instaurado na sala. Bendita foi a hora em que o Park teve a ideia de pegar os jogos de tabuleiros em seu quarto. Se eles tivessem ficado com o plano anterior de assistir filme, talvez o único barulho fosse Taehyung falando com a TV ou Jungkook reclamando de coisas do filme que não faziam sentido nas histórias das HQs.

Sohye e Jungkook já tinha discutido no mínimo umas 3 vezes, Jimin e Taehyung se xingado outras 4. Taehyung já tinha falado mais de uma vez que iria parar de jogar, mas quando chegava sua vez, jogava os dados e andava o pino.

Sohye já tinha até apostado um pacote de jujubas com Jimin e Jungkook se meteu dizendo que se eles começassem a apostar coisas, perderia o espírito saudável de só passar o tempo entre amigos.

Sohye falou que ele estava com inveja, porque estava perdendo.

E ele estava perdendo mesmo. E feio.

O Jeon estava com menos da metade de dinheiro que tinha começado, e mesmo Jimin inventando um empréstimo — coisa que nem existia nas regras originais do jogo! —, ele continuava ficando sem as notinhas coloridas de papel.

Azar ou falta de habilidade? Ninguém sabia.

— Minha propriedade, Kookie! Você tem que pagar aluguel — Sohye falou, assim que Jungkook parou o pino depois de contar os espaços do tabuleiro. Ele a olhou, perdido.

— Mas eu acabei de hipotecar um terreno e ainda estou na mesma merda! Assim já vou ficar sem dinheiro de novo e o jogo acabou de começar.

— Você pode fazer outro empréstimo com o banco — Jimin sorriu para Jungkook.

— Você é o banco, Jimin. — Jungkook revirou os olhos — Esse jogo não faz sentido nenhum. Vocês estão cagando várias regras novas. Encheram para jogar em dupla e mesmo assim parece que só vocês dois estão ganhando — reclamou.

— Eu avisei — Taehyung resmungou, olhando de canto de olho.

— Eu inventei um empréstimo para te ajudar, Jk — Jimin reclamou, o achando um mal-agradecido. — Você é a minha dupla, a gente precisa se apoiar.

— O nome disso é roubar — Taehyung resmungou de novo, dessa vez ganhou um tapinha no braço, dado pela namorada. Ele revirou os olhos.

— Não é porque vocês não entendem como funciona, que não faz sentido — Sohye falou, e Jimin concordou com ela. — Estamos tentando ajudar, mas não dá para fazer milagre.

— A Soso tem razão. O jogo é uma representação da vida real. Vocês dois que precisam aprender a administrar as finanças como adultos. — Jimin falou, dando de ombros, Sohye assentiu. Jungkook balançou a cabeça para os lados, sem acreditar. Ele encarou Taehyung.

— Tá vendo? Eles são assim. Não dá para confiar. — Taehyung exclamou, pendendo a cabeça para o lado, como se fosse o único com razão ali. Sohye deu outro tapinha no braço dele, o que o fez rir e esfregar o local.

— Park Jimin e Kim Sohye: confie na vida, mas não no jogo — Jungkook deu razão ao Kim que assentiu. Jimin o encarou de cara feia, mas foi só Jungkook sorrir envergonhado, franzindo o nariz e mostrando os dentes da frente, que ele sorriu junto. 

Sohye chegou a abrir a boca para responder ao amigo, mas acabou sorrindo com eles.

Ela gostava de ver como Jungkook parecia feliz com Jimin. Só ela sabia o quanto o amigo carregou a crush pelo Park desde as primeiras semanas deles na faculdade.

03h14min

Sohye sentiu a consciência voltar, mas não abriu os olhos. Já sabia que aquele era o momento, no meio da noite, em que os pensamentos ruins vinham a tona e que não conseguia mais voltar a dormir.

Se encolheu entre os lençóis, e ao sentir o cheiro de amêndoas com canela, se lembrou que não estava em casa. Ela se virou na cama, em busca de Taehyung, mas se surpreendeu ao não encontrar o namorado ali.

Sohye abriu os olhos, os piscando com dificuldade e observou, pela janela, a chuva ainda cair do lado de fora. Depois se sentou de forma preguiçosa, e o encontrou sentado, de costas para ela, à escrivaninha.

E ele estava ali desde antes dela se deitar.

Sohye pegou seu celular, sobre a mesa de cabeceira, e se surpreendeu ao ver que eram mais de 3 horas da manhã. Ela o chamou, mas Taehyung não pareceu ouvir. Sohye desceu da cama, e se encolheu ao sentir o piso de madeira em uma temperatura mais baixa.

Ela parou a frente dele e sorriu carinhosa. Taehyung estava com o cotovelo apoiado na mesa, a bochecha apoiada na mão, cochilando. Foi ali que Sohye entendeu o sentimento do garoto toda vez que a dizia para parar um pouco e descansar.

Tirou os headphones delicadamente, mas o rapaz acordou em um susto e ficou a encarando, com o olhar meio perdido. Sohye colocou o aparelho em cima da mesa e o olhou esfregar as mãos nos olhos, por baixo das lentes dos óculos, como quem tentava acordar.

— Eu estava vendo um video... — ele falou meio sonolento.

— Não estava nada. Estava dormindo. — ela sorriu.

Taehyung juntou os lábios em um bico, sem saber o que a responder, porque ela tinha razão. Ele girou a cadeira de frente para ela, a segurou pela cintura e a puxou devagar para seu colo. Deu um beijo no ombro de Sohye, por cima da camiseta larga que ela tinha pegado emprestada com ele. Taehyung respirou fundo, claramente cansado.

— É do trabalho? — Sohye o questionou, olhando para a tela do notebook. A janela do Youtube aberta em um vídeo de tutorial.

— Uhum. — ele respondeu, a testa encostada onde poucos segundos antes tinha encostado os lábios. — Quero adiantar umas coisas, não sei quanto tempo vou demorar. Pode voltar a deitar, Soso — ele falou baixo.

Sohye se virou para Taehyung com uma das sobrancelhas arqueadas. Ele a encarou, sem entender muito bem quando ela passou um dos braços por trás do pescoço do namorado, passando a olhá-lo de frente, a lateral do rosto iluminada pela luz do notebook.

— Alguém que eu gosto muito, um dia me disse que tudo bem dormir um pouquinho mais no final de semana. — Sohye falou baixinho, mexendo nas ondas bagunçadas do cabelo dele. Taehyung sorriu, envergonhado, sabendo bem quem era o autor daquela frase.

— Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, eles disseram. — ele fez careta.

— Nesse tempo que fiz estágio, aprendi que é muito mais fácil ensinar dando exemplos do que só falando... — Taehyung riu pelo nariz e assentiu. Ela tinha ganhado mais uma vez quando se tratava de argumentos.

— Eu só estou um pouco preocupado.

— Com a apresentação? — Sohye perguntou e ele concordou.

Taehyung tinha aproveitado o caminho de volta, para a contar sobre toda a conversa com Namjoon e o quanto o amigo tinha o incentivado a tentar mostrar suas ideias ao chefe. O mais velho tinha até conseguido criar uma espécie de "espaço" para que todos os funcionários pudessem apresentar suas propostas, o que daria a Taehyung a chance de mostrar a dele também.

Mas ele ainda estava com medo de arriscar.

— Tae, a sua ideia é incrível. Eu não tenho dúvidas que vão gostar dela. — ela parou a mão na bochecha dele, a acariciando apenas com o polegar.

— Pode ser, Soso. Mas eu não sei fazer isso. — Sohye ergueu uma das sobrancelhas confusa. — Apresentar.

— Você tem vergonha? Mas você se apresenta no bar...

— Não, não é isso. — ele balançou a cabeça rápido — Eu não sei organizar essas coisas. Nem imagino como seja mexer nesses negócios que o Jonnie falou. — ele fez mais uma careta, meio envergonhado.

— Eu sei fazer e posso te explicar como mexer no programa, Tae. Era só ter me falado.

— Ah, Sohye, não acho que você precise se incomodar com isso. Não é nada de mais. 

— Taehyung. Olha para mim. — falou séria. Ele levou algum tempo para o fazer. — Você é meu namorado. Eu quero te ajudar. O que tem de errado nisso?

— Não teria nada de errado em você me ajudar, se já não tivesse mais um monte de questões reais para resolver.

— Que? — ela o encarou com uma expressão confusa — Taehyung, por que te auxiliar não se encaixaria como uma questão real na minha vida? Nós estamos juntos nessa, lembra? Se permita ser ajudado, por favor?

— Você tirou o dia hoje para usar meus argumentos contra mim, não é? — ele riu pelo nariz, levemente indignado.

— Eu tirei o dia hoje para usar eles ao seu favor — ela devolveu, no mesmo tom. — É só que você já tem um monte de coisa para resolver amanhã e dificilmente vai conseguir se concentrar em algo tão importante assim a essa hora. Eu te ajudo com isso em outro dia, pode ser? — ela o segurou pelas bochechas, tentando o fazer a olhar.

— Eu só resolvi mexer nisso agora, porque não acho que valha a pena perder momentos com a minha namorada e meus amigos por coisas assim. Não é como se eu fosse fazer isso sempre. — ele segurou as mãos dela, as afastando de seu rosto.

— Por coisas assim? Taehyung... — Sohye retrucou, confusa, mas ele a interrompeu.

— Por que estamos discutindo isso, mesmo? — Taehyung a questionou, franzindo a testa — Essa apresentação nem é algo tão importante assim.

— Claro que é importante. Você vai ter oportunidade de mostrar uma proposta de melhoria para o seu ambiente de trabalho. — ela o interrompeu, sem paciência. Ele fechou a expressão e Sohye segurou os próprios cabelos com uma das mãos. — Sério, eu não estou te entendendo, Taehyung. Que saco.

— Ok, Sohye — ele desistiu, ao ver que ela realmente não ia ceder.

— Não tem nada "ok". Você está mentindo para eu parar de falar. — ela desceu do colo dele, voltando em direção à cama. Sohye se enfiou embaixo dos edredons e respirou fundo enquanto encarava a janela.

Eles tinham discutido mesmo?

Taehyung suspirou e fechou o notebook. Nem que quisesse, iria conseguir se concentrar em alguma coisa. Tanto pelo sono e o cansaço, quanto por saber que Sohye estava a pouco metros dele e claramente chateada.

Ele também encarou a janela do quarto e a chuva parecia estar mais leve que antes. Bem diferente do clima que se instaurou ali dentro.

— Eu sou um babaca — o Kim falou depois de algum tempo de silêncio. Sohye continuou na mesma posição. — Não foi legal ter falado essas coisas em meio a tudo o que você está vivendo. Foi muita irresponsabilidade minha.

Ela continuou em silêncio e ele respirou fundo. Taehyung se aproximou da cama e se sentou no chão de pernas cruzadas, interrompendo a visão dela para a janela. Sohye o encarou, o olhar realmente triste.

— Eu também não deveria ter falado com você como se você devesse me obedecer. Isso também não foi legal. — Sohye o respondeu, falando baixinho.

— Eu não consigo entender porque estamos brigando. Isso não tem nada a ver com nós dois, Sohye. É só uma apresentação, não é como se fosse a coisa mais importante do mundo. — ele suspirou, cansado.

— É isso que está me incomodando. Você não para de dizer que não é importante. — ela rolou os olhos.

— E não é mesmo, Soso. — ele replicou. Sohye respirou fundo se sentando na cama. Ela deu alguns tapinhas a sua frente e ele se levantou do chão e sentou ali também.

— Tae, se você não acreditar em você mesmo, ninguém vai fazer isso por você. — Sohye falou, sendo direta, e o Kim a encarou de volta sem conseguir dizer nada. — Quando se trata de alguma coisa que a gente acredita, nada é pequeno. Se você acha que dá para mudar a situação do museu, fazer a arte chegar em mais pessoas, é só isso o que importa para começar. Não adianta de nada eu ou o Namjoon acreditarmos que você consegue, se você mesmo não acha que é possível.

— Eu não sei se consigo chegar no meu chefe e falar que tenho uma ideia melhor que a dele. Nunca fiz nada assim antes, Sohye.

— E, porque você nunca fez isso antes, não vale a pena tentar?

— Eu já gastei muito do meu tempo tentando, Soso. — ele sorriu meio triste — Eu já quis ser cantor, viajar o mundo e mais um monte de coisas. Só que chega uma hora que a gente precisa crescer. Não foi fácil conseguir o emprego e só de pensar na possibilidade de o perder...

— Tae, sonho não se trata só de coisas que parecem grandes para os outros, como viajar o mundo ou sei lá o que. Sonho se trata do que somos neste universo, da nossa personalidade, do que nós achamos que vale a pena gastar nossa energia. — ela o fitou — Você quer que a arte seja mais acessível, não é? Já pensou na quantidade de pessoas que não conhecem nada sobre o assunto, que vão poder ter acesso a isso se você apresentar a sua ideia?

— Vários funcionários também vão apresentar suas ideias.

— E daí? — Sohye deu de ombros e levantou as mãos as balançando — Sério, e daí que outras pessoas vão apresentar também, Tae? Porque o que eles pensam é mais importante do que o que você pensa? Quem decidiu isso? Elas vão lá defender algo em que elas acreditam com unhas e dentes. E você? E a sua ideia? Quem vai a defender por você?

Taehyung ficou em silêncio. Sohye também.

— Eu entendi o que você quer dizer — ele respondeu, depois de algum tempo olhando para o nada.

— Eu não sei se eu deveria ter me intrometido, mas eu não consigo ver você tratando isso dessa forma. O que você quer fazer, não é algo pequeno, Kim. É algo imenso. — ela colocou a mão sobre a dele, apoiada na cama — Eu sei o que é ter medo de fazer algo diferente. Eu realmente sei. — Sohye fez careta, o que o fez sorrir também — Mas não deixa o mundo diminuir quem você é, Taehyung. Você é uma pessoa maravilhosa e eu sinto aqui dentro de mim que o que aquele lugar precisava para começar a mudar, era você.

Ele sorriu envergonhado, mas assentiu olhando para a janela, mais uma vez. A chuva tinha parado. Sohye o fitou com carinho durante todos os minutos em que ele pareceu perdido em pensamentos.

— Eu posso deitar aqui, ou devo puxar o colchonete de baixo da cama? — ele perguntou, o olhar parando no rosto da namorada.

— Eu acho que está muito frio para dormir sozinha aqui em cima. — Sohye argumentou, sorrindo. Ele assentiu concordando.

Sohye esperou ele colocar os óculos na mesa de cabeceira e se deitar ao seu lado, para então deitar a cabeça em seu peito e se aconchegar nele.

— Nós vamos conseguir resolver isso tudo, você vai ver. — ela falou baixo, enquanto ouvia o coração dele bater.

Talvez aquilo tenha sido mais para ela mesma do que para ele.

— Nós vamos mesmo, Soso. — ele acariciou os cabelos dela — E no final, se alguém perguntar, podemos falar que nós demo tudo de si e viramo o jogo. — finalizou.

Mais Kim Taehyung que isso: impossível.

Sohye fechou os olhos, e riu sem acreditar que ele tinha mesmo falado aquilo depois de toda a conversa dos dois.

— Meu Deus, Taehyung. Você é ridículo! — ela falou, ainda rindo. Ele sorriu também, porque adorava a ver daquele jeito. Feliz.

— Ué, se não fosse por mim você nem entenderia a referência. — ele deu de ombros e ela balançou a cabeça.

— Eu já disse que você é ridículo, hoje?

— Não tem nem dois minutos. — ele revidou e Sohye sorriu. Ela o abraçou, se encolhendo ao seu lado.

Taehyung ajeitou o edredom e a abraçou de volta. Depois de dar um beijo em sua testa, acariciou seus cabelos até que ela enfim dormisse.

Ele não demorou a pegar no sono também.

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Oi ♥

Aos poucos estou conseguindo voltar ao ritmo das postagens e tenho certeza que logo volta a ser um por semana, como antes.

Esse capítulo foi sem dúvidas um dos que eu mais gostei de escrever. Tanto pela presença do Jimin e do Jungkook que são peças importantíssimas nesta história, quanto pelo crescimento da Soso e do Tae e do relacionamento deles.

Queria agradecer mais uma vez pelo tanto de amor que a Learning recebe de vocês, significa muito para mim. Ela marca minha volta para o mundo da escrita e a cada dia que passa eu tenho mais certeza que voltar foi uma das melhores decisões que tomei.

Queria dar boas vindas a quem acabou de chegar e dizer que é uma honra ter vocês por aqui também. Eu espero que vivam a Learning junto comigo e com quem já está aqui há um tempinho ♥


Se cuidem.

Beijos, Polly.

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