20. nobody's a picture perfect, but we're worth it
"Ninguém é uma imagem perfeita, mas nós valemos a pena"
- Kelly Clarkson (Dark side)
Sohye foi até a janela do quarto e abriu as cortinas. Tirou o celular do bolso da calça e nele indicavam 17h20min quando o lado "universitária extremamente preocupada com notas" voltou a atingir em cheio.
No mesmo instante em que Jungkook se jogou na cama da amiga e revirou a mochila em busca dos próprios livros, ela foi até a escrivaninha e pegou seu notebook. Sentou-se na cama e abriu os slides do seminário, apertou a setinhas repetidas vezes passando as páginas e ao final, suspirou ao ver que além de Myung, os outros integrantes do grupo não tinham mexido em nada ali. A apresentação seria em algumas semanas e, se ainda não tinham organizado a parte visual para colocar os tópicos que eles mesmo falariam, dificilmente tinham feito a pesquisa ou algo da parte escrita. Ela fez um barulhinho irritado que chamou a atenção do Jeon.
— Problema com o grupo de trabalho de novo? — ele perguntou parando de anotar algo que leu no livro, no caderno.
— Além da Myung os outros dois não fizeram nada, Kookie. Não tem uma vírgula diferente desde a outra vez que abri isso. E eles prometeram fazer até hoje já que não foram à cafeteria quando marcamos — Sohye passou as mãos no rosto. — Um falou que esqueceu, outro disse que teve problema na família e que por isso não conseguiu fazer. Mas a Myung disse que ele não teve nada e que ele mesmo confessou que aquilo era mentira. — ela olhou cansada para o amigo que rolou os olhos concordando. — É um trabalho imenso, e eu estou quase pegando a parte deles para fazer só para evitar confusão. — Sohye reclamou, já sem paciência.
— E além da sua parte, você ainda vai fazer a parte do cara que mentiu para vocês, enquanto você estava fazendo um trabalho que também é dele, Sohye? — Jungkook a perguntou meio indignado. — Você não pode conversar com os professores? Ou sei lá, não pode o tirar do grupo?
— Com o senhor Jung até poderia, mas a Song também está na banca — Jungkook fez careta e enrugou o nariz, em um misto de desespero e pena da amiga. — Exatamente! — ela concordou com o gesto dele. — Eu não quero parecer infantil e pedir a eles para dar uma bronca no coleguinha que não fez o trabalho em grupo, mas se no final ele não ajudar em nada e eu mesma tirar o nome dele, sei que vou me sentir mal também — Sohye expirou pesadamente.
— Não acho justo parte do grupo cagar para o trabalho enquanto você e a outra menina estão se ferrando para fazer as coisas. — Jungkook comentou.
— Eu também não acho — ela sorriu meio triste. — Mas tanto a Song quanto o Jung disseram que tínhamos que aprender a trabalhar em conjunto, e que isso também seria avaliado. Se eu for reclamar, vão zerar o item e isso vai para o meu histórico, tenho certeza. — Jungkook pressionou os lábios concordando com ela. — Eu sei lidar com crianças fazendo pirraça, não com pessoas da minha idade que não sabem cuidar das próprias responsabilidades. — ela pegou o celular e abriu o grupo para ver se eles tinham ao menos se preocupado em dar alguma desculpa. — Não quero ser a chata que fica falando toda hora disso, porque eu sei que todo mundo tem vida fora da faculdade, mas já tem semanas que recebemos o tema e eles nem começaram a pesquisar os tópicos que eu separei. Quanto mais próximo ficar do período de provas, pior vai ser para resolver isso.
— Que merda... — Jungkook respondeu coçando a cabeça, sem pensar em nada que pudesse falar para ajudar a amiga. Sohye riu.
— Desculpa, Kookie, eu sei que estou falando disso toda hora, mas é que estou começando a ficar realmente preocupada.
— Não precisa se desculpar. É que eu de verdade não sei o que eu faria se estivesse no seu lugar. Você é a amiga dos conselhos. Eu sou a parte da dupla que fica com medo de arriscar e precisa do seu empurrão, lembra? — ele fez careta e ela assentiu, rindo.
— Acabo de lembrar que faço faculdade e tenho um monte de problemas para resolver. Acordei do sonho e voltei para realidade. — Sohye se jogou em cima de Jungkook fazendo drama. — Na história o príncipe acorda a Branca de Neve com um beijo, mas parece que o sonho foi depois que o Tae... — Jungkook interrompeu os devaneios da amiga antes que ela fosse longe demais.
— Ei! Sem detalhes, Sohye. Deixa minha mente pura com as lembranças que tenho de você correndo comigo pelo quintal da sua avó. — ele sacudiu a cabeça — Acho que já era... — Sohye riu com o amigo pressionando, com os dedos, o espaço entre os olhos. — De qualquer jeito, seu príncipe está do outro lado da cidade.
— O seu também... — ela falou com um sorriso empolgado. Ele rolou os olhos se levantando para ir até a escrivaninha, o que a fez rolar para a cama. Sohye sorriu olhando para o teto.
— Você é muito chato, vou ligar para a Ga. — resmungou.
— Ah! Liga para Ga, então. Eu não sirvo mais mesmo. — Jungkook falou, o tom parecendo afetado. Sohye se levantou e o abraçou pelos ombros, com ele ainda de costas. — Se não fosse por mim, você nem tinha conhecido o cantor lá.
— Verdade. Você e o Jimin são o melhor casal de cupidos que eu conheço. — ela deu um beijinho na bochecha dele, que fez careta com vergonha. Ele não estava nada acostumado a ser dito como casal e principalmente com o Park. — Obrigada por sempre estar comigo, Kookie.
— Odeio matemática — Yuna resmungou mais uma vez, mudando o olhar para qualquer coisa da cozinha que não fosse o pai ou o caderno a sua frente.
— Você acabou de abrir o caderno, Yuna — Jin falou tranquilo e lhe deu um sorriso paternal.
— Mas eu já sei que vou errar tudo. — ela colocou a mãozinha na bochecha e o encarou — Você não pode mesmo me falar a resposta, papai?
— Não Yuyu, você precisa fazer para entender. — ela rolou os olhos em resposta. Jin puxou a cadeira ao lado da filha para se sentar. — "Sra. Lee tinha oito maçãs e deu seis para o Sr. Dong. Quantas sobraram?" — leu passando a ponta do dedo nas palavras junto para a menina acompanhar.
— Por quê? — Yuna perguntou.
— Por que, o quê? — Jin revidou.
— Por que ela deu as maçãs para ele? Eles são amigos? — a garotinha tentou entender.
— Não sei Yuna, devem ser. — o pai falou, confuso.
— Como você sabe que eles são amigos? — ela prosseguiu o questionário.
— Eu não sei, Yuna.
— Se você não sabe, por que você falou que deviam ser? — Yuna continuou, deixando o pai sem resposta.
— Yuyu, nós só precisamos responder aqui às perguntas, tá? — Jin falou, o cansaço do trabalho falando mais alto. A menina assentiu, mesmo que a contragosto. Ele levantou oito dedos dela — Oito maçãs, menos seis. — ela tocou os dedos no queixo, contando e abaixou os dedos — Quantas ficam?
— Duas.
— Isso mesmo, Yuyu. — ele a parabenizou e a observou anotar a resposta, orgulhoso.
— Mas, por que tenho que saber isso? — Yuna voltou a perguntar. Jin suspirou.
— Por que é importante. — ele não conseguiu pensar em nada melhor para dizer.
— Quem disse que é importante? Eu não acho. — a menininha retrucou.
— Próxima questão Yuna. "Suk comprou dez balas e depois comprou mais seis. Com quantas ele ficou?" — ele observou ela contar nos dedos e depois parou o olhando. — O que foi?
— Papai, eu não sei. Acabaram meus dedinhos. — ela fez uma carinha triste e ele sorriu, colocando as mãos abertas sobre à mesa — Obrigada — ela sorriu feliz voltando a contar. — Dezesseis.
— Viu? Você é boa em matemática sim — ele elogiou e ela sorriu enquanto escrevia no caderno.
O final de tarde na casa dos Kim estava seguindo tranquilamente. Enquanto Jin tentava ensinar Yuna as tais contas que ela não gostava em nada no primeiro andar, Sohye e Jungkook estavam no segundo pavimento da casa, no quarto da menina, cada um prestando atenção nas suas próprias atividades da faculdade. Enquanto o Jeon digitava algum texto sentado à escrivanhia de Sohye, ela estava deitada na cama, tentando recuperar seu hábito de leitura e aproveitando para estudar também, lendo o livro que contava a história da menina corajosa que levantou a voz e lutou pelo seu direito a educação. A história de Malala. Enquanto lia, Sohye pensava o quanto desejava ser corajosa como ela.
Em determinado momento, a Kim resolveu que iria à cozinha pegar um copo de água e chegou bem no momento em que faltava apenas mais uma questão para a sobrinha terminar as atividades. Ela deu um passo atrás, para não a distrair, voltando para o hall da casa, no mesmo instante que Yuna emburrou a cara novamente.
— Pai eu não aguento mais. — ela ouviu a sobrinha reclamar.
— Falta só mais uma, Yuyu. — Jin tentou, a voz praticamente arrastada.
— Mas eu não quero mais fazer isso — de onde Sohye estava, pode ver os olhinhos dela se encheram de lágrimas. — Eu sempre erro.
— Está tudo bem em não acertar de primeira, Yuna. É assim que nós aprendemos.
— Mas todo mundo da sala acerta logo. Só eu que levo um tempão. — ela continuou.
— Eles devem ter dificuldade em alguma matéria também, tenho certeza — Yuna balançou a cabeça para os lados, negando.
— Eu não quero mais, eu quero assistir desenho. — ela falou, a voz que fazia quando ia começar mais uma birra.
— Yuna... Só falta mais uma. — Jin falou e suspirou cansado depois.
— Eu não quero! — ela aumentou o tom de voz, começando a chorar. Jin a observou calado, sem forças para lidar com uma pirraça naquele momento — Eu não gosto de matemática. — soluçou.
— Yuyu, eu entendo que você está cansada, não precisamos fazer isso agora. Você pode se acalmar e depois nós terminamos a lição, ok? — ele tentou pegar o lápis na mesa para guardar, mas ela empurrou para longe e negou com a cabeça. — Yuna...
— Eu não quero fazer depois! — gritou — Você é um chato e fica me obrigando a fazer isso. Não gosto mais de você! Eu quero ir para casa da minha mãe. — ela desceu da cadeira e correu para fora da cozinha, sequer notando a presença da tia ali. Subiu as escadas chorando e batendo os pezinhos com força no chão. Antes que qualquer um dos dois adultos tivessem alguma reação, eles ouviram a porta do quarto dela bater. Jin passou a mão pelo rosto exausto e Sohye se aproximou.
— Desculpa, eu vim pegar água e acabei vendo a cena. — ela explicou, e forçou um sorriso que saiu sem graça. — Ela deve estar cansada, Jin.
— E eu também — sorriu abatido para irmã. Fechou o caderno e juntou os lápis que estavam sobre a mesa. — Eu já sabia que um dia eu ia ser o ruim da história, mas não estava esperando que acontecesse tão cedo. Pensei que ia ser lá quando ela estivesse na adolescência e começasse a ter vergonha das minhas piadas de tio. — ele tentou brincar, mas a voz saiu triste. — Tudo isso porque esqueci de olhar esse bendito caderno na sexta-feira.
— Você está tendo que resolver um monte de coisas, não se culpa assim. — ela falou se sentando na cadeira ao lado da dele.
— Não Soso, não foi por isso. Eu que estava surtando feito um moleque, porque tinha marcado de sair com o Nam e não queria dar o bolo nele de novo. — ele expirou — Como eu sempre fazia antes. — completou, em um tom mais baixo.
— Eu não acho, Jin. Você faz milhares de coisas, cuida da casa, de mim, da Yuna, da vovó, das duas cafeterias e ainda resolve a parte financeira delas. Você só quis aproveitar o final de semana para sair com alguém que gosta. Quando envolve só você, automaticamente se torna errado?
— Você devia falar isso se olhando no espelho — ele riu fraquinho. Se levantou e colocou as coisas dentro da mochila azul e roxa, largada no chão. — Deve ser coisa de família.
— Eu não tenho dúvidas que é. — Sohye infelizmente teve que concordar.
— Eu acreditei que ia conseguir conciliar tudo isso e ainda ter tempo para me aproximar do Nam de novo, porém, Kim Seokjin continua sendo um idiota e errando com o cara mais legal que ele já conheceu na vida — rolou os olhos e se sentou novamente na cadeira. Parou o olhar em algum ponto da parede contrária.
— Você mesmo disse para Yuna que nós não precisamos acertar sempre. — Sohye comentou.
— A vida não são continhas de matemática, Kim Sohye. — o mais velho revidou.
— Será que não? — ela perguntou, sorrindo sutilmente. O irmão a olhou carinhoso e com um pouquinho de saudades de conseguir enxergar o mundo daquele jeito mais subjetivo do que racional.
— E mesmo se fosse, provavelmente eu iria chorar e deixar algumas questões em branco. — ele deu um sorriso triste para irmã.
— Acho que ninguém tira nota máxima nessa prova, Jinnie.
Eles ficaram em silêncio. Sohye pensando se tinha algum jeito de ajudar ao irmão, Jin se perguntando quando foi que a irmã caçula que chorava por boyband e acreditava que iria se casar com um dos integrantes, se tornou mais realista que ele.
— Quando eu decidi falar sobre isso com a Sunhee, eu pensei que seria o melhor — ele começou. — Ajudar com ela era o mínimo que eu deveria fazer como pai da Yuna. — suspirou. — Estudar sempre foi o sonho da Sunny e eu me senti como o cara que transformou tudo em um pesadelo. — ele se interrompeu e olhou para a irmã. Sohye o observou enquanto ele tentava explicar.
— Eu entendo o que você quer dizer, Jin — ela falou.
— Eu às vezes analiso as coisas e me perguntou se a mãe da Sunny tinha razão e fosse realmente melhor para a Yuna a deixar ser criada por ela. A Sra. Song me encheu a paciência dizendo que eu não ia conseguir cuidar da minha filha, que eu não era capaz de fazer isso. Nunca vi ter a Yuna comigo apenas um dever, eu sempre quis ajudar com ela. E tenho certeza que se dependesse da avó dela, eu não ia a ver nunca mais. — ele suspirou passando a mão no rosto. — E pode soar imaturo da minha parte, mas a ouvir dizer que sou o chato e que prefere ficar com elas me acertou, e em cheio. — murmurou.
— Jin, eu tenho certeza que ela só falou isso porque está estressada. Nós nos comparamos com outras pessoas a todo momento, e não é diferente com ela só porque ela é criança. Deve ser complicado ver os amiguinhos aprendendo tão rápido e ela não ter essa facilidade também — Sohye explicou o fitando. — Ela acabou de vir da casa da avó e não leva a lição para fazer lá. É óbvio que é muito mais divertido poder ficar o tempo todo com todo mundo a agradando sempre, ao invés de ter que cumprir obrigações. — ela respirou antes de continuar — Não estou dizendo que a unnie esteja fazendo algo errado, porque ela não está! É mais que normal que ela queira relaxar com a filha nos finais de semana depois da semana tumultuada que ela tem. A diferença é que a maior parcela da criação da Yuna, é responsabilidade sua e por isso entendo completamente que você se sinta culpado por ter se esquecido de olhar o caderno. Você fica mais tempo com ela, mas isso não significa que você tenha que se culpar por fazer outras coisas além disso. Eu não acho justo você deixar de viver outras partes da sua vida, porque tem uma filha, Jin.
— Ela é a minha prioridade, Sohye. — Jin falou, passando a mão no rosto, os olhos fechados.
— Mas você também tem que ser sua própria prioridade, tá? Se você não estiver bem, como vai conseguir dar o seu melhor a ela? E um dia a Yuna vai crescer, provavelmente vai sair de casa e ter a vida dela. E você vai sentar e vai ficar olhando para parede quando isso acontecer? — Sohye o questionou, mais direta do que antes.
— Meu Deus, eu não quero nem pensar nela crescendo e saindo de casa para morar sozinha. Eu já estou sofrendo sabendo que logo você vai querer sair daqui e ter sua vida também — ele fez careta olhando de canto de olho e Sohye sorriu para o irmão. — Eu só tenho muito medo de não ser o pai que ela merece, medo de não dar conta de tudo, e de algum dia todo meu esforço não ser o suficiente e ela não me querer por perto mais — Sohye assentiu o entendendo.
Eles se encararam por um tempo e os dois sorriram meio tristes. Mesmo sem proferir uma única palavra, tanto Sohye quanto Seokjin sabiam que tinham se lembrado ao mesmo tempo, da mãe. Sohye sentiu aquela sensação esquisita que tomava conta dela toda vez que pensava sobre o assunto, voltar. Ela se perguntou se algum dia saberia conviver com ela ou se algum dia deixaria de aparecer.
— Você não é como ela — Sohye falou, tomando coragem de tocar no assunto.
— O problema, é que toda vez que paro para pensar na situação, eu acredito mais ainda que fomos nós dois que nos afastamos dela. E por isso tenho medo de algo acontecer e a Yuna se afastar de mim também. — Sohye o olhou, um pouco sem saber o que dizer. — Você lembra quando o resto da família veio no sepultamento do papai? — ela encarou a mesa e sentiu a garganta travar. Sohye não gostava nem um pouco de lembrar daquilo. — Eu sei que já te falei isso antes, mas você já pensou em conversar com ela sobre como ela se sentiu naquele dia? Foi um momento tão complicado, que nós três não falamos sobre o que tinha acontecido. Do mesmo jeito que nós dois demoramos tanto a conversar sobre isso, porque mesmo depois de anos, ainda dói — ele suspirou — Antes de ser nossa mãe, ela é uma pessoa, Sohye, e também tem sentimentos. Não deve ter sido nada fácil largar tudo no país natal, vir morar em um lugar novo e no final perder um grande amor sem poder fazer nada. Nós ficamos mal sim, mas eu não consigo nem imaginar como deve ter sido para ela. Você realmente nunca teve curiosidade em saber como ela está agora? — Seokjin fez a pergunta em um tom quase desesperado. Ele já tinha tentando tantas vezes convencer Sohye a falar com a mãe, que depois de tanto tempo sem conseguir, já estava quase desistindo.
Ele queria conseguir explicar a irmã caçula aquele sentimento de ter medo de não conseguir ser a base para outra pessoa tão importante, quanto um filho. De sentir que a culpa de tudo o que estava acontecendo na vida de pessoas que amava, era dele. De em um momento do caos, a ficha cair e perceber que não tinha mais como retroceder e mudar o que já tinha acontecido.
Mas ele sabia que não tinha como, porque ele mesmo só passou a entender quando sentiu aquilo na pele.
Jin tinha passado por uma situação complicada, mas estava no lugar que ele conhecia como lar, onde tinha o apoio das pessoas em que sempre teve como família. Apesar de Haydée ter se adaptado a Coreia do Sul, pelo marido e pelos dois filhos, as raízes dela não eram dali. E é nos momentos complicados que nós nos entendemos como pessoas e vemos que pertencer e habitar um lugar, são coisas completamente diferentes.
Do fundo do coração, Kim Seokjin esperava que Kim Sohye não vivesse nada parecido na vida dela. Jin nem era do tipo de irmão que ficava o tempo todo a rondando e a controlando, mas desde que se tornou responsável por Sohye, ele não queria falhar com ela, da mesma forma que não queria falhar com Yuna. Ele já tinha vivido os dois lados da história e não queria que nenhuma das duas passasse pelo mesmo.
Ele não queria que nada nem ninguém, quebrasse o coração da filha e nem da irmãzinha mais nova.
— Desculpa, Jinnie — Sohye sussurrou meio abalada, sem conseguir pensar muito bem —, já pensei e nada faz sentido para mim, ainda. — ela falou ainda relutante, a certeza se tornando dúvida. Ele balançou a cabeça, para cima e para baixo, respeitando o tempo dela. Sohye suspirou alto. — Incrível como sempre voltamos para esse assunto, independente do que estejamos conversando. — ela sorriu meio triste.
— Acho que é porque apesar de tudo, ela ainda é muito importante para nós dois, Soso. Ela faz parte da nossa história e do que somos hoje — Jin falou e ela não se moveu, continuando a encarar a mesa. Eles ficaram um tempo em silêncio, cada um digerindo o assunto da sua maneira.
Sohye foi a primeira a se levantar, indo em busca de um pouco de água para ver se ele tirava aquela sensação de engasgo da garganta. Ela bebeu o líquido com calma, a cabeça sem parar de pensar no assunto. Aquela era a segunda conversa que tinha com o irmão, mas sem dúvidas essa tinha a atingido muito mais que a primeira. O tom dela a fez se sentir um pouco egoísta de não ter tentado ver o outro lado da história antes. De só ter pensado nela como a filha que tinha sido deixada para trás e que sofreu duas perdas tão repentinas.
E o pior disso é que ela sabia que só poderia entender o outro ponto de vista, se tomasse coragem de procurar a mãe.
— Yuyu, sou eu. — Jin anunciou, batendo na porta — Posso entrar para conversar?
— Eu não quero falar com você! — eles ouviram o grito do outro lado da porta. Jin suspirou, visivelmente cansado, sem saber mais o que fazer. Sohye apertou o ombro do irmão de leve.
— Tenta descansar, Jinnie. Toma um banho e depois você vem aqui. Vou tentar falar com ela enquanto isso. — ela falou, pegando com cuidado a mochila da mão do irmão. Ele aceitou a proposta e andou em direção ao próprio quarto entrando nele depois. Sohye foi até a porta com as letrinhas coloridas que formavam o nome da sobrinha e bateu de leve. — Yuna, sou eu, tia Sohye. Posso entrar?
Ela ouviu um resmungo vindo de dentro do quarto e decidiu arriscar que aquilo era uma espécie de sim. Com isso, abriu a porta devagar e entrou no ambiente. Encontrou Yuna deitada entre vários brinquedos, que nitidamente foram espalhados no momento da pirraça. Tinha o rostinho virado para a direção contrária de onde a tia estava e não fez menção de se virar para ela. Sohye suspirou e se aproximou, colocou a mochila ao lado da cama montessori e se sentou perto dali também. Ela encolheu as pernas e apoiou o queixo nos joelhos observando Yuna ainda soluçando. De certa forma, poderia soar exagero pensar dessa maneira, mas ela se enxergou na sobrinha. Talvez a mágoa que guardava em relação a mãe, hoje não passasse de birra pelas coisas não terem saído como ela esperava.
— Por que você está deitada no chão? — Sohye perguntou, iniciando um assunto, mas também curiosa.
— Porque quero dormir aqui. E nem você, nem o papai vai me mandar para cama porque...
— ... porque nós não mandamos em você. — Sohye falou com ela. Aquela tinha sido a frase mais ouvida naquela casa, naquela semana. Ela sabia que apesar da idade, Yuna também tinha o direito de não gostar que mandassem nela, assim como a própria tia também não gostava.
— É. — Yuna resmungou, ainda de costas. — E eu não gosto de matemática. Nem adianta falar nada.
— Eu também não gostava, Yuyu. — Sohye falou sorrindo. Elas ficaram em silêncio e algum tempo depois a menina se virou para a mais velha, coçando o olho com uma das mãos.
— Não? — Sohye negou com um sorriso singelo no rosto, enquanto se lembrava que ela também não era muito fã de números na idade da sobrinha. Talvez ainda não fosse, mas foi obrigada a aprender a conviver com eles, pelo menos. — Mas você é tão inteligente, tia.
— Não ser boa em uma coisa não me faz menos inteligente, Yuyu. O mesmo é com você e qualquer outra pessoa. — Sohye explicou, enquanto esticava as pernas no chão. — Eu sei planejar bem, sei cuidar de crianças também, mas não sou tão boa com surpresas ou em adivinhar o que as outras pessoas estão sentindo se elas não me falarem. Mas todo dia eu tento melhorar essas coisas um pouquinho. — falou e Yuna a olhou atenta, prestando atenção. — Números podem ser complicados, mas eles são importantes e por isso você vai precisar se acostumar com eles. Por mais que não pareçam nada divertidos para você, como não eram para mim, nós precisamos aprender a usá-los. — Yuna se sentou para a olhar.
— Todo mundo da minha sala já aprendeu, tia, menos eu. — ela fez beicinho, abraçando os joelhos.
— Você não precisa aprender tudo da mesma maneira que as outras crianças da sua sala. Você sabe dançar muito bem, e nem todo mundo de lá sabe também. Lembra que você ajudou seus coleguinhas com os passos de jungle boogie na festa de ontem? — ela questionou.
— É, mas aquilo foi só na festa. Eu não preciso fazer prova de dançar, mas de matemática sim — ela fechou a carinha de novo, cruzando os braços. — Eu acho que eu já nasci burra mesmo — resmungou. Sohye a olhou surpresa. A frase da criança a tirou completamente da áurea pedagógica, e a fez ser puxada completamente ao seu eu, apenas de tia. Nunca tinha escutado Yuna falando daquele jeito, nem parecia ser algo que a garotinha pensaria. Seria mentira dizer que o coração dela não doeu ao ouvir aquilo.
— Alguém te falou isso? — Sohye perguntou, tentando não parecer abalada, e a menina levou alguns segundos a encarando antes de balançar a cabeça para os lados negando. Clássico de Kim Yuna quando estava escondendo alguma coisa. A tia relevou, mas pensou até em alertar as outras professoras para prestar melhor atenção nos assuntos das crianças.
— Eu só não quero que o papai tenha vergonha de mim — ela falou tristinha, crescendo mais ainda em Sohye, a questão de se aquilo era ou não coisa somente da cabecinha dela.
Se fosse apenas uma frase de outra criança, ela e as outras professoras poderiam conversar com todos os alunos sobre isso, mas se não fosse, talvez Sohye não pudesse fazer nada. E era aquela preocupação de não poder controlar as coisas que a deixava com as palmas das mãos suando e o coração batendo acelerado.
— Yuyu, o seu pai te ama mais do que tudo neste mundo. — contou para a menina. Tentou afastar a preocupação que tomou conta de seus pensamentos, mas Sohye não conseguia esconder que ainda estava surpresa de Yuna estar se questionando sobre aquilo. — Você é a coisa mais importante da vida dele.
— Tia Sohye... — ela falou secando as bochechas com as costas da mão, um sorrisinho sapeca aparecendo no rosto — eu não sou uma coisa, eu sou uma pessoa. — o comentário da criança fez Sohye deixar um sorriso escapar, admirada com a esperteza dela.
— Verdade, você é uma pessoa — ela se aproximou da menina a puxando para o seu colo, em um abraço — uma pessoa bem pequenininha, mas ainda assim, é uma pessoa — encheu ela de beijinhos no rosto e Yuna gargalhou tentando se esquivar.
— Ai, tia, você é tão bobinha — ela riu de Sohye, ainda deitada em seu colo.
— Você quer que a sua tia bobinha te ajude a terminar a lição de casa agora? — Yuna concordou e se levantou. Foi até a mochila, pegou o caderno e o estojo e voltou para perto de Sohye, deitando de barriga no chão. Sohye abriu o caderno na última página e também se deitou ao lado dela.
— Só falta uma — Yuna explicou mostrando qual era. Ela apoiou o rostinho na mão. — É de multiplicar. Eu não gosto nada dessas, tia. As outras é só contar no dedo, quando é dessa, fico toda confusa. — suspirou. Sohye sorriu e sentiu falta de quando suas preocupações eram apenas aquelas continhas. Mesmo assim, entendia que aquela no momento, era uma preocupação real para a menina, por isso ela, como professora e tia, não deveria agir como se não fosse nada de mais.
— "Kwan foi em uma floricultura para comprar flores para dar para Sarang. Ele comprou cinco flores e depois comprou mais cinco. Quantas flores ele comprou?" — Sohye leu devagar, com Yuna repetindo baixinho ao mesmo tempo. Ela olhou para a sobrinha esperando alguma reação, mas a menina continuou olhando para o caderno sem expressão. Sohye pegou um lápis e desenhou dois bonequinhos e uma casinha no canto da folha. — Esse é o Kwan, essa é a Sarang. Aqui é a floricultura. — apontou para cada desenho. — Agora você faz as flores. — Entregou o lápis para Yuna.
— Tia, por que tenho que saber quantas flores ele comprou para ela se eu nem conheço eles? — Yuna perguntou realmente confusa. Sohye quis rir, mas se conteve. Apesar de tudo, aquilo fazia certo sentido.
— Você é de humanas, com certeza — Yuna continuou a encarar a tia sem entender o que era ser de humanas. — Ok, nós podemos mudar o nome deles, não vai fazer diferença. Qual o nome você quer dar para os bonequinhos, então? — questionou a criança que levou um tempo pensando.
— Pode ser Taetae e Soso? — ela sorriu sapeca e Sohye riu com a ideia.
— Por que eu não estou nada surpresa com isso? — ela perguntou para sobrinha que deu de ombros ainda sorrindo. — 'Tá bom, pode ser. — ela voltou apontar para o caderno — Então, Taetae foi na floricultura e comprou cinco flores. — ela começou e esperou a menina desenhar as flores em cima da casinha — Depois ele voltou lá, pela segunda vez, e comprou outras cinco também. — acrescentou as cinco. — E aí? — Sohye perguntou. Observou a menina bater a pontinha do lápis em cada bolinha contando baixinho.
— Ele comprou cinco flores, duas vezes. Então ele comprou dez flores para a Soso? — Yuna falou e Sohye sorriu a parabenizando. — Caramba! Que fácil... — ela falou anotando a resposta no espaço em branco, fazendo a tia rir. — Acho que o Taetae gosta mesmo da Soso, não é? Dez flores, são muitas flores. — falou enquanto deitava de barriga para cima, fitando a tia com um sorriso arteiro. Sohye a encarou, sorrindo também. Aquela natureza de fazer piada e transformar tudo em algo leve, ela sabia bem de onde vinha.
— Você é igualzinha ao Jinnie — a tia falou, ajeitando o cabelo da sobrinha. Yuna sorriu em resposta e se sentou. Juntou os materiais e colocou na mochila de novo. — Ei, falando nele... acho que seu pai ficou chateado com o que você disse lá na cozinha. — Sohye trouxe o assunto a tona, se sentando para a olhar.
— O que eu disse? Que eu não queria fazer a lição? — Yuna perguntou, a expressão confusa de verdade.
— Que você não gosta dele. — Sohye pontuou. A menina fez beicinho, parecendo pensar.
— Eu não queria dizer isso. Foi a matemática que me deixou nervosa. — ela tentou se explicar para a tia.
— Eu entendo que você ficou estressada, mas é bom pensar um pouquinho antes de falar desse jeito. Certas coisas podem deixar as pessoas que amamos tristes. — Yuna concordou, balançando a cabeça.
— É... vou pedir desculpas para ele. — ela falou e Sohye lhe abraçou e deu um beijinho na bochecha. — Ai tia Soso, você está muito grudenta hoje.
— Que? — ela abriu a boca surpresa — Você gostava tanto de ficar abraçadinha comigo, o que está acontecendo?
— É que eu já estou no Jardim III. Sou gande agora, tia — ela explicou como se fosse óbvio.
— Poxa! Então tá, senhorita grande! — Sohye falou levantando as mãos como quem se rendia. Depois fez bico a olhando.
— Ah! Tia Soso — ela falou e abraçou Sohye lhe dando um beijinho na bochecha. — Não fica triste não, tá? Eu sou gande, mas ainda sou a Yuyu e eu gosto muito de você — pareceu pensar —, e gosto muito do papai também. Podemos ir lá falar com ele? — Sohye assentiu.
— Eu acho que ele vai ficar bem feliz se você for lá.
Ela deu a mãozinha a Sohye e as duas seguiram até a porta do quarto de Jin. Depois que Sohye bateu, elas esperaram um tempo até ouvir o irmão falar lá de dentro, que elas poderiam entrar. Yuna foi a que entrou primeiro e parou no meio do caminho olhando o pai sentado na cama, secando o cabelo com uma toalha. Sohye encostou a mão nas costas dela, como quem a incentivava a falar e ela voltou a andar.
— Papai... — Jin a olhou e a esperou continuar — Fiquei destressada por causa da lição. Hoje tinha muita coisa e é difícil às vezes, aí fiquei nervosa. Mas a tia Soso já me ajudou. — ela falou tudo muito rápido. Se aproximou do pai e subiu na cama, lhe deu um beijinho na mão. — Desculpa, tá? Eu não quero que você fique triste. Você é meio bobão às vezes, mas é o melhor pai do mundo, mesmo assim — Seokjin respirou meio esquisito e apertou os lábios. Assentiu para a menina, como quem dizia entender. — Sua orelha está ficando vermelha... você está chorando? Tia Sohye, você disse que ele ia ficar feliz! — a menina se virou para a tia, esperando uma explicação coerente.
— Ei, sua tia tem razão. Eu to feliz mesmo. — ele respondeu, antes que a irmã pudesse responder e Yuna sorriu de orelha a orelha o olhando.
— Eu te amo, tá bom? — ela o abraçou pelo pescoço. Jin correspondeu ao abraço e fez carinho no cabelo dela depositando um beijo ali. Sorriu para a irmã, ainda parada na porta, como quem agradecia e ela lhe sorriu de volta. Sohye se sentia bem de ver os dois se acertando, mesmo que por dentro, aquilo tenha a atingido um pouquinho. Porque era tão mais fácil para as crianças, voltar atrás, pedir desculpas e falar o que realmente sentiam?
— Você terminou a lição? — Jin perguntou se afastando de Yuna para a olhar. Ela assentiu.
— Era para saber quantas flores o Taetae deu para a Soso. E foram dez. — ela explicou para o pai abrindo as duas mãozinhas na frente do rosto. Ele fez uma cara engraçada olhando da filha para a irmã.
— Foi ideia dela — Sohye apontou para a sobrinha que riu. — Vejo vocês no jantar. — se despediu, e deu tchau para os dois, correndo em direção ao próprio quarto.
5h10min
Sohye abriu os olhos meio de repente, com o quarto ainda escuro. Ela levou bastante tempo para conseguir embarcar em um sono naquela noite, a mente inquieta. Pensava sobre a conversa com Yuna e a desconfiança de que havia alguém falando aquelas coisas para a menina. Sobre as coisas da faculdade e como faria para resolver aquilo, e por último o assunto com o irmão e o quanto ele ficava sobrecarregado, ao mesmo tempo, em que ela pensava se tinha algum jeito de o ajudar com aquilo também.
Quando pensou que não tinha mais o que seu cérebro pudesse se ocupar, se lembrou da questão sobre tentar falar com a mãe. Não era como se ela nunca tivesse tentado ligar para a progenitora para conversar, mas é que Sohye se sentia fraca demais para lidar com aquilo e sempre desistia antes mesmo de completar a chamada. A única vez em que Haydée foi mais rápida e atendeu a ligação, Sohye desligou se arrependendo profundamente depois.
Por um lado ela não queria mais ter que conviver com aquela situação e, por outro, não sabia como ajeita-la. Sohye tinha perdido o pai bem cedo e sentia falta dele, sentia a perda da mãe também, mas eram dois contextos que não haviam comparação cabíveis. A morte do pai mesmo com todos os tratamentos, se tornou algo inevitável e fora do controle deles. A situação com mãe era totalmente diferente e de certa forma, Sohye tinha controle sobre aquilo. Ela estava ali, por mais que do outro lado do mundo e não se mostrando tão presente como antes. Talvez Seokjin tivesse razão e foram eles quem se afastaram de Haydée. Pelo menos ele tinha percebido aquilo rápido e tinha procurado por ela. Mas e Sohye? Será que ainda dava tempo?
A circunstância também não era parecida, mas a Kim pensou no quanto Taehyung falava com carinho do pai, apesar deles não se darem tão bem quanto antes. A fala do menino unida a pergunta de Jin naquela tarde, lhe deram a sensação de que ela estava perdendo a chance de ter a mãe por ali, mesmo que remotamente e não tão acessível quanto em outra época. Mesmo que não fossem tão próximas quanto antes, talvez fizesse bem tentar uma entender o lado da outra.
Aquilo começou a incomodar Sohye demais. Bem mais do que antes.
Ela se virou na cama e notou o vazio. Jungkook não estava lá. Sohye pegou o celular na mesa de cabeceira e estranhou o amigo não estar deitado àquela hora. Ele, que tinha o sono pesado e nunca levantava no meio da noite, ou cedo daquela maneira, parecia já estar de pé.
Desceu da cama e saiu do quarto, estranhando também o fato das luzes da casa em sua maioria já estarem acesas. Sohye sentiu a preocupação chegar, o coração acelerando com a possibilidade de algo ruim ter acontecido. Correu em direção a cozinha quando ouviu vozes vindas de lá. Ela parou e suspirou ao encontrar Jungkook sentado à mesa, comendo alguma coisa tranquilamente e Jin encostado na bancada, uma mão segurando uma caneca e o outro braço segurando Yuna, que tinha o rosto deitado em seu ombro.
— O que aconteceu? — Sohye perguntou ainda preocupada, se sentando ao lado do amigo.
— A Yuyu teve pesadelo e acordou chorando. — Jungkook disse e deu uma mordida na torrada com ovo.
— E você ouviu lá do quarto? — Sohye questionou fazendo Jungkook assentir enquanto mastigava — Nossa, eu não ouvi nada. — ela comentou surpresa. Se até Jungkook que dormia feito uma pedra havia escutado, ela devia estar esgotada, mesmo tendo dormido boa parte do dia anterior.
— Você estava cansada, Soso. Vocês foram dormir tarde fazendo as coisas da faculdade. — o irmão respondeu colocando uma caneca com chá na frente dela. Ela sentiu o rosto esquentar e encarou as próprias mãos. Até tinha dormido bastante no sábado, mas tinha passado boa parte da noite acordada com Taehyung e aquilo também deveria ter descontrolado sua rotina. Sentiu Jungkook a encarando e quando olhou na direção dele, o garoto lhe mandou um beijinho parecendo saber exatamente o que a amiga pensava. Ele recebeu um pisão no pé como resposta e se contorceu em silêncio. — E já passou, não é Yuyu? — Jin perguntou dando um beijinho na cabeça da filha que concordou.
— Desculpa, eu não ouvi mesmo.
— Sohye, está tudo bem — Jin apertou de leve o ombro dela.
— Ok... — ela aceitou, bebericando o chá. — E você já está comendo a essa hora, garoto? — provocou Jungkook que deu de ombros, dando mais uma mordida no pão.
— Ele está em fase de crescimento, não é Kookie? Vai ser sempre o bebê do Jin hyung — Seokjin bagunçou o cabelo dele que revirou os olhos fazendo Sohye e Yuna rirem.
8h15min
O Kim saiu da estação de metrô e caminhou em direção a cafeteria de Jin. Nos fones de ouvido tocavam, Yesterday Everyday Always, da Tatiana Manaois, e ele balançava a cabeça no ritmo da música enquanto andava. O sol passava por entre as poucas árvores que haviam ali e deixava tudo com cores bonitas e vivas. O céu estava azul e apesar de o tempo estar um pouquinho mais quente que na última semana, ainda fazia certo frio. Ele tinha trocado algumas mensagens com Sohye e depois dela o informar que Yuna não estava muito bem naquela manhã, o que explicava a voz preocupada da própria Kim, ele decidiu sair mais cedo de casa para passar lá.
Taehyung sorriu ao avistar Sohye abaixada ao lado de Yuna, as duas olhando para um arbusto com as folhas meio alaranjadas à frente do estabelecimento de Seokjin. A mais velha apontou para a planta e falou alguma coisa para a menininha de sobretudo vermelho e sapatinhos pretos. Yuna assentiu ainda olhando para onde a tia apontou.
Ele parou de andar para observar a cena. Yuna olhou para o chão, apontou para algumas folhinhas ali e Sohye bateu palmas para a menina a parabenizando por algo. A garotinha deu um sorrisinho, mas logo se virou para tia falando alguma coisa e a mulher assentiu e se levantou, a pegando no colo. Ela caminhou de volta para a cafeteria, mas parou ao ver Taehyung.
— Olha quem está vindo ali, Yuyu — Taehyung ouviu Sohye falar enquanto se aproximava e colocava os fones no bolso do sobretudo marrom. Yuna, que tinha o rostinho deitado no ombro da tia, se virou para olhar na direção do garoto.
— Oi, Taetae — ela falou abrindo um sorriso meio tímido, mas ainda sim feliz. Sohye abriu um sorriso também, ao ver a sobrinha um pouquinho melhor. Yuna ainda estava quietinha e uma hora ou outra, ainda choramingava e grudava em Jin. O pai não teve coragem de a mandar para escola naquela manhã, e Sohye tinha conseguido a distrair por alguns minutos enquanto ele se virava em dois para cuidar da cafeteria sozinho.
— Uau, Soso, você está tão bonita hoje. Será que estou apaixonado? — Taehyung falou alto, de repente, provocando e surpreendendo Sohye. Yuna levou a mão na frente da boca rindo um pouquinho com a cara de vergonha que a tia fez.
— Estou bonita só hoje, Taehyung? — Sohye franziu a testa para ele, entrando na brincadeira. Taehyung olhou para Yuna, forçando um sorriso e arregalando os olhos de forma engraçada, como quem tinha sido pego de surpresa. A garotinha deixou escapar uma risada contagiante.
— Não. Você está linda sempre, mas é que hoje está ainda mais. — ele se explicou, sorrindo para ela. Sohye o olhou por um tempo e passou a mão, que não segurava Yuna, pela cintura de Taehyung o abraçando. Ele a abraçou de volta e deu um beijinho no alto da cabeça. Yuna colocou as duas mãozinhas na frente da boca, olhando surpresa de um para o outro.
— Taetae... — ela chamou no instante que os dois desfizeram o abraço. Colocou a mãozinha ao lado da boca — Você fez aquilo que eu te perguntei? — sussurrou. Taehyung fez cara de confuso — O segredo que eu te perguntei aquele dia... — ela resmungou, rolando os olhinhos e o Kim abriu a boca e fez "ah!" se lembrando do que se tratava. Ele olhou para Sohye, que os olhava sem entender nada.
— Não sei, pergunta para sua tia — ele deu de ombros.
— Como? Eu nem sei o que vocês estão falando. — Sohye olhou para eles, ainda confusa.
— Pode perguntar o segredo para ela também? — Yuna perguntou e Taehyung concordou. Ela assentiu e aproximou a boca do ouvido da tia — Vocês são namoradinhos agora? — indagou. A mulher abriu a boca surpresa e olhou para Taehyung que levou a mão a frente da sua, disfarçando o riso com uma tosse.
— Foi isso o que você perguntou para ele na webcam? — Yuna assentiu. — E você aproveitou para jogar a responsabilidade para mim agora, Kim? — Sohye perguntou olhando para ele, que deu de ombros. Yuna continuou a encararando, os olhinhos com expectativas, esperando a resposta. — Vocês formaram um complô contra mim, é isso?
— Responde ela logo, tia Sohye — Taehyung falou, também curioso para saber o que ela diria sobre a pergunta. Sohye continuou o encarando com a boca entreaberta, pensando no que responder. Sentiu o rosto começando a ficar vermelho pelo clima constrangedor que se iniciou e ela não sabia se sorria feliz e aceitava aquilo como um pedido indireto de namoro, ou se o xingava por ter a colocado naquela situação na frente da criança em seu colo.
— Eu... não sei? — Sohye falou confusa, encarando Taehyung que a olhava com um sorriso. — Eu acho que sim? — ele sorriu, concordando com a cabeça depois. Sohye rolou os olhos sem acreditar que ele realmente tinha feito aquilo.
— Vocês são bem doidinhos — a criança falou os fazendo rir com ela. Sohye lhe deu um beijinho no rosto e ela limpou fazendo careta. Ela já era gande, mas a tia parecia não entender aquilo.
— Yuyu, eu estava vindo para cá e passei em frente a uma livraria e vi uma coisa que me lembrou você — Taehyung falou chamando atenção da menina. Ele tirou uma embalagem de dentro da bolsa tira colo e entregou a ela. Yuna abriu a boca e arregalou os olhinhos ao observar o embrulho.
— Um presente! É para mim? — ela perguntou surpresa. Taehyung assentiu, sorrindo.
— Como que se diz mesmo? — Sohye perguntou a garotinha.
— Obrigada — sorriu envergonhada para o rapaz. Ela enfiou os dedinhos no papel o rasgando de uma vez só e deu gritinhos quando viu a capa do livrinho de colorir. Sohye riu com a empolgação dela.
— Gostou? — ele perguntou.
— Eu adorei, Taetae! — ela gritou no colo da tia e abraçou o livro, fazendo Sohye rir mais ainda. — Tia Sohye, olha! É dos Ursos sem curso! — virou a capa para a tia que assentiu para ela — E vem com... — parou para contar os gizes coloridos na frente — Dez cores! — ela gritou mais alto ainda. Os adultos riram sem graça ao ver que as pessoas que passavam por ali os olhavam. — Obrigada, Taetae. Você é o namorado mais legal do mundo para a tia mais legal do mundo! — continuou a gritar e Sohye a observou com um sorriso. Se fosse outro dia, até falaria para não fazer escândalo daquele jeito, mas naquele momento, nem se importou. — Posso mostrar para o papai? — Yuna perguntou a Sohye que concordou e a colocou no chão. Ela abraçou Taehyung pelas pernas rapidinho, agradecendo mais uma vez o presente e correu em direção a cafeteria. Encostou a testa no vidro gritando Jin, mas quando o pai não apareceu, empurrou a porta e entrou. Sohye, com um sorriso no rosto, ficou um tempo olhando a sobrinha. Enquanto isso, o Kim a olhava se encantando com o carinho que Sohye deixava claro sentir por ela.
— Obrigada — ela virou para Taehyung com um sorriso sincero no rosto. Se aproximou e o abraçou pela cintura, encostando o rosto no peitoral do rapaz. Taehyung a envolveu com os braços também apoiando o rosto nos cabelos dela. A garota já tinha explicado parte da situação a ele, mas a surpresa com o livro não tinha sido apenas para Yuna, porque ela também não estava esperando por ela. Sohye não sabia se era emoção por toda a situação, mas ela se sentiu muito grata por ele ter arrancado sorrisos da pequena Yuna quando nem ela, Jungkook ou Jin conseguiram fazer.
— Vocês descobriram exatamente o que aconteceu? — Taehyung a segurou pelos braços, a observando com cuidado. Não era só Yuna que parecia abalada com alguma coisa. Sohye balançou o rosto para os lados.
— Jin falou que ela acordou chorando e chamando por ele, pediu várias vezes para não a deixar sozinha, provavelmente teve algum pesadelo. Ela está grudada nele a manhã toda. — Sohye suspirou. — Não sei, Tae, ela falou umas coisas que me preocuparam. E eu não tenho muita certeza do que pode ter acontecido, apesar de desconfiar. — Sohye pressionou os lábios. Taehyung a olhou com preocupação, porque queria a acalmar, mas teve medo de falar alguma besteira, daquelas que ele sempre falava, e só piorar a situação.
— Você quer conversar? — ele perguntou. Sohye negou com o rosto. Taehyung entendia que ela não tinha obrigação nenhuma de falar se não estava se sentindo confortável, mas queria que ela soubesse que podia contar com ele. — Se precisar...
— Eu sei — ela sorriu. — Só não quero parecer intrometida demais. Ela é minha sobrinha, não minha filha. Ajudo a cuidar da Yuna, mas tenho receio de parecer que estou me metendo demais na criação dela. — Sohye falou e o garoto assentiu. Ele a observou por um tempo, tentando ver se havia algum resquício de que fosse realmente só aquilo, e não Sohye querendo resolver tudo sozinha de novo, como o próprio Seokjin tinha o avisado. — Enfim, obrigada. Pelo sorriso que deu, ela adorou o presente. — mudou de assunto.
— Não precisa agradecer, Soso. Me importo com ela também — ele falou e a segurou pelas bochechas depois. — Vou ficar devendo um livro, mas que tal você também sorrir um daqueles sorrisos bonitos que só você sabe dar? — ele sugeriu. Sohye rolou os olhos e resmungou para ele parar de bobeira. Ele sorriu e encostou a testa na dela. — Você não vai conseguir controlar tudo nessa vida, Kim Sohye. E talvez essa seja a graça de viver. — ela respirou cansada quando ele se afastou. Depois concordou balançando a cabeça para cima e para baixo.
Sohye ficou com o olhar perdido por um tempo antes de voltar a olhar para Taehyung. Se colocou na ponta dos pés, envolveu o pescoço dele com os braços e com carinho, pressionou seus lábios gentilmente nos dele. Ela não sentiu vontade de aprofundar o beijo, como eles tinham feito em boa parte do último final de semana. Daquela vez o gesto foi quase o jeitinho que ela encontrou de demonstrar que ele estar ali naquele momento, era de alguma forma, significativo para ela. E, Taehyung, entendeu.
— Oi... eca. — Taehyung e Sohye se separaram ao ouvir a voz infantil resmungar próxima a eles. Ela ficou envergonhada ao ver a sobrinha os encarando, ele empurrou os óculos para perto dos olhos, compartilhando do sentimento. Serem pegos por Yuna era muito mais constrangedor do que tinha sido serem pegos por Jimin. — Taetae, meu pai pediu para avisar que seu cabelo está muito bonito hoje e ele queria saber onde você corta. — ela falou inocente, sem saber da real história por trás daquela frase. Sohye riu olhando para o garoto, enquanto Taehyung arregalou os olhos, ajeitando a franja depois ao ver Jin parado na porta da cafeteria os encarando com um sorriso divertido. — E ele falou também para eu perguntar se você tem tempo para tomar chocolate quente comigo e a tia Sohye antes de ir trabalhar.
Se Taehyung realmente acreditou que ele iria conseguir terminar seu chocolate quente daquela manhã, se enganou e muito. O rapaz tentou bebericar a bebida sem se atrapalhar e queimar a língua, mas antes que ele pudesse levar a caneca mais uma vez à boca, Yuna já tinha pulado para seu colo o fazendo colorir com ela as páginas do presente dado por ele mesmo. A menininha tagarelava e coloria os ursinhos empolgada, e ele até tentou, mais algumas vezes, levar a caneca à boca, mas acabou desistindo quando Yuna levantou a mão para mostrar uma das cores do giz e quase derrubou a bebida no suéter dele.
De qualquer maneira, enquanto a caneca dele e a da menina estavam pela metade, a de Sohye estava intocada e ainda cheia de café. A Kim tinha se perdido em pensamentos, encarando a cidade pela janela. Encontrar Sohye perdida dentro das próprias ideias era mais que comum, mas daquela vez, a angústia também estava presente dentro dela. O grupo de seminário da faculdade, a preocupação com Yuna e o assunto envolvendo a mãe não lhe saiam da cabeça. Por mais que o primeiro ela só pudesse solucionar quando os colegas aparecessem, e a situação de Yuna estivesse momentaneamente resolvida, o último tópico tinha lhe dominado completamente.
Fazia anos em que ela não trocava uma palavra com a mãe. Anos que ela não sabia nada da vida dela. Haydée tinha se tornado para Sohye uma repleta desconhecida.
Por muito e muito tempo, ela a teve como melhor amiga, daquelas que saiam juntas e conversavam sobre tudo, e pensar sobre aquilo a fez se sentir no mínimo estranha ao ver a que ponto chegou a situação entre as duas. Sohye se lembrou do irmão a perguntando se não tinha curiosidade em saber como ela estava, e ela encarou o celular sobre a mesa, se lembrando da última ligação que ela tinha feito. Ela tinha sim vontade de saber como ela estava e a possibilidade de a ligar novamente correu-lhe os pensamentos, mas logo afastou a ideia. Seria mais uma vez em que ela desligaria antes mesmo da mãe atender. Sohye voltou a olhar pela janela e se questionou se Haydée ainda tinha interesse em saber como ela estava ou se havia desistido depois dos esquivos da filha.
Por mais que Sohye negasse, no fundo ela tinha vontade de saber como a mãe estava. Se ela usava as mesmas roupas de antes, se ainda ouvia Beatles nas tardes de domingo e se o cabelo ainda era aquele cacheado longo e esvoaçado ou se ela enfim tinha criado coragem de os cortar curtinho como sempre falou que faria. Sohye queria saber como ela estava, só talvez não soubesse como a procurar depois daquele tempo todo.
Ela observou a sobrinha brincando com o Kim e ela teve vontade de saber o que Haydée diria dele. Se ela ainda tivesse aquele jeitinho meio exagerado e escandaloso que incomodava tanto as pessoas que não vibravam na mesma frequência que ela, Sohye tinha certeza que ela ficaria jogada na cama de seu quarto, falando por horas a fio, do quanto ele era bonito, tinha um aura mais bonita ainda e a lembrava Eddie Vedder. Diria também que se ela mesma fosse mais nova o pediria em namoro, e se ele aceitasse, fugiria com ele em uma motocicleta, rumo ao desconhecido. Provavelmente terminaria dizendo que já que ela não podia fazer aquilo, que a filha fizesse em seu lugar, porque queria o melhor para ela.
Mas aquela era a Haydée que Sohye conhecia, e as pessoas mudam. Às vezes muito, e em outras vezes, nem tanto assim. A própria Kim se sentia completamente diferente da menina de 15 anos que viu o mundo desabar sobre a própria cabeça.
Talvez fosse a maturidade a levando a pensar de forma diferente, já que há 7 anos, tudo o que ela acreditava era que a mãe tinha os abandonado para voltar a ter uma vida melhor do outro lado do mundo enquanto eles teriam que lidar com a dor da perda. Hoje, Sohye começava a querer entender o que tinha levado Haydée a fazer aquilo e perceber que certas coisas não poderiam ser esquecidas com o tempo ou com a distância. E um lado dela, começou a acreditar que talvez a partida tão repentina, não fosse somente culpa da mãe. E que além de Haydée, todo mundo tivesse sua parcela de responsabilidade naquela separação.
No momento em que a ferida se abre, é mais comodo jogar toda a culpa em apenas uma pessoa, do que aceitar que não foi somente um lado da história que sofreu. Sohye percebeu que não era só ela que tinha o direito de se sentir perdida e triste com a perda do pai e que talvez fosse hora de pararem de achar que só porque alguém se torna mãe, não tem o direito de cair também. Tanto Haydée quanto Sohye tinham decidido se afastar e fingir que nada tinha acontecido, mas aquilo não fez diminuir a dor. Na verdade, Sohye chegou a conclusão que fazer aquilo só tinha feito doer ainda mais.
Se surpreendeu com a risada de Yuna e observou a menina tirar os óculos de Taehyung e colocar no próprio rosto. Ela gargalhou, arregalando os olhinhos, provavelmente vendo tudo embaçado e achando graça daquilo. O rapaz sorriu olhando para a menina, enquanto ela encarou a tia semicerrando os olhos tentando focar no rosto dela. Sohye também sorriu com a cena e depois passou o olhar a Taehyung, que já a olhava, mas com um sorriso de quem tinha notado que a garota parecia estar em qualquer outro lugar do mundo, menos a poucos centímetros de distância dele.
Ela se lembrou dele compartilhando sobre a própria infância e sobre a família com tanto detalhe e carinho. E por mais que ele já conhecesse Seokjin, Yuna e a Sra. Go, parte de Sohye queria que ele conhecesse um pouquinho sobre outra pessoa da família. Porque ela mesma tinha contado a ele sobre o seu pai, sobre o irmão, os Jeon, os avós e sobre Yuna, mas eles nunca pararam para conversar sobre a relação dela com a mãe.
A questão era que falar sobre aquilo com Jin era menos difícil, porque ele já sabia da história toda. Falar sobre Haydée para Taehyung, resultaria nela ter que reviver em voz alta toda a dor que foi perder o pai para uma doença e duas semanas depois ver a mãe ir embora para o outro lado do mundo sem explicar o porquê. Falar sobre aquilo, seria ela tendo que mostrar para ele que tinha um lado egoísta e orgulhoso, e que não era totalmente aquela pessoa tão adorável e admirável assim que ele achava que ela era.
E ela não sabia se estava pronta para aquilo.
Kim Sohye não sabia se queria começar a compartilhar momentos que não fossem apenas de sorrisos, com Kim Taehyung.
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Oi ♥ Tia Polly voltou haha
Como vocês estão?
Eu dei um sumidinha aqui da plataforma, não é? Tive algumas questões pessoais que acabaram tomando muito do meu tempo, mas acredito que as próximas semanas serão mais tranquilas e espero aos poucos voltar com as atualizações semanais.
Obrigada por todo o carinho e pelas mensagens que recebi durante esses dias, foram muito especiais e me deram um pouco de luz e energia. Muito obrigada por isso!
Nesse capítulo teve mais do Jin e da Sohye, teve um pouquinho da relação do Kookie com a família Kim (que era algo que eu não via a hora de começar a aparecer haha) e teve um pouquinho da Soso se questionando sobre o "nível" do relacionamento com o Tae.
Um passo de cada vez, mas será que ela está pronta para dar mais um passo com ele?
Ah! Learning ainda tem muita coisa para acontecer então podem ficar tranquilas, não sofram por antecipação, porque ainda vai ter muito da Soso, do Tae e toda a galera aqui ♥
Se cuidem!!!
Beijinhos, Polly ♥
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