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sangue & obsessão | part I /50/

Ele tem demônios dentro dos olhos, e eles brincam de forma imprudente com fósforos. Nunca vi faíscas tão bonitas.

Logo depois de acordar percebi que nada foi um pesadelo. Aconteceram abusos, sabe sei lá  quantas vezes  fui abusada por Jiinwoon, sem tirar o fato de que o meu surto também aconteceu, meu Appa, o homem que me tirou daquele orfanato e me deu uma vida cheia de amor está em estado irrecuperável e não posso estar lá para ele. Fui medicada após a minha crise e, em seguida Dale me provou, mostrando o dossiê e as fotos, que não está envolvido no acidente de Appa.

Lembro que mediante aos relatórios médicos o meu pai está em estado vegetativo, e as chances dele acordar voluntariamente são quase nulas, e caso acorde, os traumas e sequelas causados pelo acidente lhe dariam uma vida dependente de tudo e todos. O acidente ocasionou um dano permanente ao pulmão dele, o deixando refém para sempre de um balão de oxigênio. Sem contar que meu appa, meu querido appa...  perdeu um dos olhos com os estilhaços da colisão. Um dos braços teve que ser amputado pelo esmagamento nas ferragens, e possivelmente seus danos cerebrais serão graves para o resto da vida, já que passou por várias cirurgias por causa do traumatismo craniano, e descompressão dos nódulos sanguíneos na áreas afetadas do cérebro. Essas informações tiraram meu chão, e  não pude fazer nada além de sofrer uma tristeza profunda amarrada pelas muralhas deste forte de pedra. A pessoa que tanto amo e me trouxe paz na minha antiga vida miserável, agora se tornou fragmentos de um homem que um dia foi forte e poderoso. Penso: Será que devo acreditar no Dale? Ele disse tantas vezes que arrancaria a cabeça do meu pai e do meu tio e, agora que estamos aqui, essa desgraça miserável acontece?

Quanta coincidência!

Nesses oito dias que se passaram após essas fortes revelações, os segundos, minutos e horas, transcorreram devagar, apáticos, sombrios e tristes. Reflito que se não fosse o meu leão me alimentando eu não teria ingerido nada. A ausência de apetite é grande, mas Dale tem sido paciente e carinhoso, mais do que o habitual. Para quem acredita que sou uma ordinária mentirosa, ele passa horas na banheira cuidando do meu corpo e meus cabelos, depois me veste e me assiste desenhar.  Não tenho dormido mais na cela junto com ele, estamos em seu quarto escuro, mas ao mesmo tempo quentinho, e todas as noites eu choramingo e faço orações deitada em seus braços protetores, até o mundo dos sonhos me capturar.

Sonhos vazios e amargurados.

***

A brisa fresca beija minha pele e balança meus cabelos, o céu finalmente fez questão de se abrir para um azul claro e vivído com poucas nuvens, graças a esse presente de dia, Dale estendeu uma manta grossa de textura gostosa na área gramada da parte interna, está chegando o inverno e com ele os ventos gelados se fazem mais presentes entre os muros desse lugar. De onde estamos posso ver de perto os altos muros e torres que me fazem parecer um pequeno grão de arroz. As marcas dos canhões também estão ao nosso redor e com elas posso imaginar tempos antigos, onde os guerreiros mais brutais eram treinados pela guarda Macay. Penso no diário e no menino que tivera treinamento aqui há alguns anos, e sinto uma dor no peito, ele deve ter a idade do meu leão e fez todas aquelas barbaridades.

Comi muita comida mesmo não aproveitando bem o sabor, Dale preparou uma cesta cheia de pratos que adoro e estou acostumada a comer na Coreia, não pude recusar! Entre elas estão diversas sobremesas de fácil acesso para os chefs do forte; Bigsu, a sobremesa do verão, appa amava muito! Essa informação me deu um nó na garganta antes de comer e por isso deixei o sorvete de lado. Biscoitos Dalgna, feitos de café solúvel, açúcar e leite, muito populares no país onde morava, eu exigi que Dale comesse um, ele recusou como um gato mimado que não gosta de banho, mas quando ameacei não comer mais nada, ele provou mordiscando, quase cospindo. "Quem é que consegue comer mais de um dessa porcaria enjoativa?" ele reclamou xingando e fazendo careta, eu gargalhei alto pela primeira vez em meses, agitando os braços, quase rolando, mas acabei recordando de Samchon, ele odeia a comida europeia e nisso vejo o quanto os dois se detestam em todos os aspectos.

Me retesei e voltei a comer os bolinhos de arroz, medrosa, porque há três dias fiz algo que talvez não devesse ter feito. Movida pela tristeza e a ideia de perder appa pra sempre, percebi enquanto bisbilhotava Dale o telefone em cima da mesa do seu escritório, então enquanto ele se exercitava na academia cedinho, entrei lá e quebrei a cabeça para me lembrar do número secreto do titio, eu precisava mandar notícias, digitei com os dedos trêmulos, errei o número duas vezes, e na terceira, quando atendeu meu coração pulou no peito torcendo para ser o certo, roia as unhas quando escutei sua voz, estava com tanto medo de ser flagrada e tão preocupada ao mesmo tempo que comecei a chorar, me debulhei. Ele perguntou se era eu, perguntou onde eu estava, mas a única palavra que saiu dos meus lábios como um murmúrio dolorido por nossa perda foi:

— Sam-Samchon...— o soluço em forma de lamento era uma expressão da minha dor por todo esse desengano que acometeu as nossas vidas.

Mesmo com sua palavras rápidas em coreano, eu tive que desligar porque ouvi um barulho vindo do corredor. Não consegui avisá-lo que estava bem, não consegui dizer para ele que não precisava machucar a minha cunhada e podia soltá-la. Me escondi atrás das cortinas pesadas e assim que os funcionários passaram pelo corredor saí e fechei a porta, me arrependi imediatamente. Titio poderia ligar de volta e Dale não iria ficar nada feliz. Foi uma estupidez.

Tomo um gole de água da garrafa voltando colocá-la no cesto, sinto braços me puxando e ficamos assim por alguns minutos, aproveitando essa pausa no tempo, a linda e magnífica tarde solitária. Um alcatraz passa voando no céu e estico o melhor dos meus sorrisos. Encostada no meu leão, no seu colo, sentindo sua respiração calma e suas mãos grandes pousadas na minha barriga desejei que o momento durasse pra sempre, mas meu desejo não foi concedido; Dale beijou meus ombros nus, sua boca macia me causou uma série de arrepios, suas mãos desceram para a bainha da minha blusa sem alças azul clara e foram, lentamente, até a minha saia longa de cetim, dedos atrevidos levantaram o tecido, tremi e me contrai quando os dedos grossos tocaram minha boceta por dentro da calcinha, não fizemos sexo desde que cortou meus cabelos e isso faz mais de cinco semanas atrás, então, nos últimos dias, tenho sentido um tesão absurdo, no entanto, me nego às suas tentativas de sexo.

Gemo com seus quatro dedos massageando minha entrada para frente e para trás em um ritmo gostoso, fico mole, minha respiração pesa, ele rosna baixinho em meu ouvido soltando safadezas, sua ereção intensamente dura está abaixo do meu bumbum, penso no que podemos fazer mais tarde. Sua palma quente fecha no meu pescoço, deslizando o nariz na minha nuca, entre os cabelos, sussura com uma voz que transmite desejo, prazer, luxúria:

Você está tão linda assim, fique molhada para mim...

Mmmm — é o som que sou capaz de emitir fechando minhas coxas no seu braço num extinto sensível, arqueio meu pescoço para poder alertá-lo: — Dale, algum guarda ou criado pode nos ver...

— Deixe eles verem. Não me importo, você ficaria surpresa com as coisas que já viram, Papoula.

Ele me pune explorando suavemente meu sexo, sua grande barba arranha meu pescoço e quando seus dedos alcançam meu clitóris, cravo às unhas em seu braço e mordo os lábios quase cedendo, mas a dor em meu peito é mais forte que qualquer coisa e sempre entra sorrateira, então eu o faço parar, segurando sua mão grossa que está emoldurada por uma linda aliança no dedo anelar, ponho-me de frente para ele, endireitando às costas para encarar a sua expressão fechada.

É impossível não admirar sua beleza resplandecente à luz do dia, seus olhos amarelos brilhantes como o sol, e igualmente difícil de se encarar, olham para mim como se algo fosse digno e belo demais para ser contemplando, o rubor sobe em minhas bochechas. Sua barba, sobrancelhas e cabelos ruivos são da cor de um cobre escuro e profundo, e seus lábios carnudos, esses, me deixam perdida por um segundo.

Deixo o espaço íntimo entre nós ainda mais curto, poucos centímetros separam seu nariz do meu, seus lábios dos meus, desenho círculos invisíveis em seu peito escondido pela blusa vermelha de algodão, estou triste, magoada, mas posso sentir o fogo do meu amor por ele arder. Crio coragem e digo com o máximo de delicadaza possível, a garganta sensível e a boca seca:

— Eu gosto muito daqui — minto — mas quando vamos voltar? Tenho saudades do castelo das rosas e o de Invernnes... — a pergunta escondida, a qual queria perguntar de fato era " Eu suporto esse lugar, mas quando vamos ir embora para eu ver meu Appa antes que não tenha mais nem corpo para poder me despedir? "

Afastando um cacho da frente dos meus olhos, como se lesse a verdadeira intenção da pergunta, ele responde inespressivo:

— Só depois que tiver a cabeça do seu tio nas minhas mãos, acredito que esse dia está proximo, mas até lá vai ficar exilada aqui neste forte.

Mordo o lábio, o dia lindo se fechou totalmente em um piscar, se de repente caísse um vendável não acharia estranho. A furia varreu meus bons sentimentos e propagou-se no meu rosto uma expressão dura. Levanto em um arroubo abandonando ele e o piquenique com pisadas firmes na grama, ignorando seus chamados, corro descalça indo na direção da morada sem saber onde ir, fazendo força nos joelhos para não cair e vocalizar a indignação enquanto trânsito pelos corredores e escadarias para me alojar em qualquer canto escuro. Meus olhos transbordam, tenho vontade de berrar, me atirar da sacada e bater a cabeça nas rochas do mar. Não suporto ser fraca, odeio ser uma garota boba e chorona nesse lugar horrível! Odeio o que aconteceu comigo e com papai!

Ouço gritos próximos, rudes e zangados, não sei se correu atrás de mim, porém Dale me alcança ao chegar na porta do seu quarto, onde dividimos a mesma cama fria banhada de desconfianças. Ele me puxa pelo cotevelo, abre a porta me jogando para dentro e a fecha num CRASH

— O que deu em você, perdeu a sanidade? Devo chamar um psiquiatra?

— VOCÊ NÃO VAI MATAR O MEU TIO!!! EU VOU TE ODIAR PARA SEMPRE SE MACHUCA-LO, ELES SÃO A ÚNICA FAMÍLIA QUE EU TIVE NESSA VIDA E NINGUÉM VAI TIRAR ISSO DE MIM, NEM MESMO VOCÊ DALE!

Grito elevando a voz e apontando o dedo em riste na cara do homem com o triplo do meu peso e o dobro do meu tamanho. Enfurecida, jogo as mãos para o alto, mandando as consequências para o inferno.

Em um pico de adrenalina esperada, Dale me segura pelos braços e me encurrala contra a parede, nossas respirações se misturam, raiva e desespero. Suor e olhos raivosos.

— Eu sou sua única família! VOCÊ SÓ PRECISA DE MIM! Esqueceu tão rápido assim? Pois mesmo que seja essa ordinária, SAFADA que é, vou te fazer lembrar rapidinho a quem pertence, você é minha! MINHA, PORRA! — Ele esbraveja.

Faço que não, roçando a cabeça no papel de parede, tentando a todo custo me soltar do seu aperto doloroso, explodo erguendo o olhar:

— Não Dale, você pode ser meu marido, mas... MAS.. NUNCA VAI TIRAR DO MEU CORAÇÃO APPA E SAMCHON!  VO-VO-VOCÊ ESTÁ SENDO MAL COMIGO E, NÃO ENTENDE QUE OS DOIS SÓ QUEREM O MEU BEM!!! MEU SAMCHON SÓ QUER O MEU BEM!!!!  — Grito a plenos pulmões em seu rosto que está a centímetros do meu. Ele arregala os olhos e segundos que parecem horas formam algo palpável entre nós.

— Eu estou sendo mal com você? — diz baixo indignado e sorrindo, dentes brilhantes, puro escárnio. —  Não viu nada ainda... Você assistirá todas as torturas, cada seção, tudo que farei com aquele ser desprezível, o infeliz do Kang até teve sorte...

— NÃO OFENDA! — Grito descontrolada, a voz falhando e a beira de cometer uma loucura. — Appa não está aqui para se defender! Tiraram isso dele, tiraram isso dele! — engasgo em prantos — Chega!!! Você não vai matar Samchon, não quero que fale essas coisas porque eu amo ele, a-amo ele, AMO, e, acima de tudo ele acredita em mim! Nunca vai nos entender... — confesso, sentindo fios do meu cabelo grudando na nuca. Estou fora do eixo. Tremendo.

Dale abre a boca, franzindo a testa e soltando meus braços que formam as marcas vermelhas onde seus dedos pressionavam, sua reação de choque e surpresa é tão atraente e convincente que por mais que o calor infernal entre nós atinja temperaturas incontroláveis, por mais que eu sinta as veias saltando junto nas minhas têmporas, enxergo a acidez subindo em um cerrar de dentes diabólicos, seus olhos semicerram como se revelar outra vez que amo titio fosse o crime mais perverso que eu poderia cometer nesta vida, e cometi muitas vezes seguidas, os punhos dele fecham como se contendo para não me esmurrar.

— O que esse fracassado filho de uma puta tem? DIGA! Porque eu não consigo entender... por que trocaria a nossa atração e elo..., caralho, para trepar com aquele porco fodido e a manada inteira dele?! Ele não é a metade do que sou! FOI POR UMA VAGABUNDA DESSA QUE ME APAIXONEI?!

Meus dentes trincados reverberam o miserável desconforto preso em minha garganta em ganidos misturados ao choro. Não sou forte, tampouco violenta, Dale poderia me nocautear com um soco fraco se quisesse, sempre fui magra e muitas vezes desnutrida, mas minha mão treme e queima como se resgatasse toda a força do meu núcleo. Após essa humilhação, desfiro, sem pensar, uma bofetada na cara dele.

SLAP!

O som entra na minha alma e não consigo parar, agir por conta própria, desfiro outra e mais outra, soltando um berro potente. Não sei quantas bofetadas dei em seu face, mas sei que seu rosto sequer moveu, apesar de ficar vermelho, mas seu peito sobe e desce anunciando nesta respiração ofegante que minha cota de erros terminou aqui. Fecho os olhos, os cílios molhados me incomodando, não enxergando nada além de vermelho. Merda! Viro o rosto de lado esperando-o retribuir a bofetada, não é o que acontece, pois ele soca a parede e se afasta, de imediato abro os olhos e vejo a marca vermelha de sangue dos punhos dele no papel de parede ao meu lado. Ele estourou suas juntas e socou um pouco longe do meu rosto, expulsado a selvageria de dentro de sí. Arrependida, estico a mão para alcançá-lo e implorar por perdão.

— Dal...

Ele me empurra de volta a parede com força. Levo a mão ao peito ouvindo o meu coração esmagando em batidas frenéticas. Não não, Roselyn, não, eu perdi a cabeça, agi feito uma fera!

Eu não sou assim.

Ele solta os meus braços como se me tocar fosse a pior coisa do mundo. Observo-o tirar a blusa vermelha e jogá-la para o canto mais afastado do quarto ficando apenas com a calça confortável, suas costas musculosas e o tórax perfeito tem aquelas cicatrizes que antes notei acentuadas.

De-desculpa... — falo ainda meio desconectada da realidade.

Ele me ignora, caminha até o lado oposto do quarto e fica em frente a uma estante antiga feita de madeira vermelha e pequenas portas de vidro contendo taças incrustadas de diamantes, esmeraldas, rubis e ametistas. Objetos e livros  encadernados em ordem de cores vermelho, marrom, preto e branco se empilham nas portas inferiores com ex-libris e emblemas distintos nas capas duras, reconheço algus símbolos celtas também, Dale abre uma das portas pegando um molho de chaves, depois, destranca a última gaveta, não vejo o tipo de relíquia que apanha de um tecido, seu corpo encobre minha visão por um minuto.

Burra, burra, tola e burra! Sim Poppy foi uma tolice.

Respiro com dificuldade, cansada desse embate. Embasbacada, piscando inúmeras vezes para ter certeza vejo-o empunhar uma adaga dourada.

Dale o que vai fazer...?

Sem responder, ele anda até a parede na frente da cama, ocupada pela pintura enorme feita a óleo que retrata o próprio Forte de pedras no meio do oceano violento. Nas últimas noites, ao deitar, me pegava fitando a pintura que instiga segredos revividos por um efeito efervescente nos traços característicos.

Engulo em seco, o medo volta, pronto! Agora meu marido vai me matar e esconder meu corpo! Baita morte hein Poppy! Dale manuseia o quadro para o lado esquerdo, exatamente, da mesma forma que fez ao invadir o quarto que eu estava no castelo de Edimburgo, tive medo dos seus olhos amarelos tão similares aos de Fargus, foi a primeira vez que nos beijamos e logo viramos amigos. E tal qual a primeira vez percebo a passagem secreta, uma porta preta comum, todavia essa tem a maçaneta esculpida em formato de caveira.

Prendo a respiração, arrepios percorrem minha espinha, a energia que emana desta área não é nada boa! Desejo correr, entretanto meus pés parecem âncoras no chão e uma pontada na bexiga me avisa que não vou aguentar muito mais tempo.

O leão destranca a porta secreta jogando o molho de chaves no bolso, não vejo nada além de paredes estreitas e o escuro.

O que é isso? — pergunto com as pernas e mãos tremendo. Seus passos são duros até mim, meus olhos percorrem o amarelo cruel das sua íris e correm para a adaga e a passagem ao mesmo tempo. Essa não...

— Não haverá mais empecilhos, seremos nós dois para sempre, vamos conhecer um ao outro de verdade.

Excluindo cortesia, gestos delicados e o mínimo de cuidado, o leão possesso me arrasta pelo braço, tento me soltar batendo os pés, em vão, ele consegue me levar apertando-me aos gritos para além da escuridão dentro da passagem.

Emudecida, optei pelo silêncio, seguindo seus passos e tropeçando, teria arrebentando meu rosto no chão se Dale não tivesse segurado-me pelo pulso. Invadimos cada vez mais a escuridão, estamos longe da fresta de luz que é a porta por onde entramos. Imagino os tipos de monstros que se escondem nestas paredes tão afuniladas e de uma atmosfera tão densa. Posso jurar que besouros ou aranhas gigantescas e famintas estão esperando em suas teias para nos devorar, quero coçar e arrancar minha pele pálida em tamanha agonia.

Estou horrizada, lágrimas rolam por minhas bochechas, mas Dale se matem inflexível.

— Para o-onde esta-estamos indo...? — pergunto pela milésima vez.

— Estamos indo selar nosso destino para sempre, esperei demais, verdades irão surgir depois disso. — replicou.

Enventualmente, julgando que estou atrapalhando, soltou meu pulso jogado-me por cima dos seus ombros fortes. Soltei a respiração e apertei os lábios salgados por lágrimas.

Começamos descer lances e mais lances de escadas iluminadas por tochas tremeluzentes. Reparo que o os degraus também como as paredes são rochosos, a temperatura é tão alta que meus cabelos passam a umedecer, parece que estamos descendo para uma caverna.

O único som audível além dos passos pesados ​​das botas e da respiração constante de Dale é o meu desespero.
Involuntariamente, bato meus punhos em suas costas, balanço as pernas e imploro que me coloque no chão, mas ele é implacável. A certa altura chegamos ao fim da escadaria e passamos por portas duplas medievais com aldravas em forma de leões que rangiram ao serem abertas.

O que congela meu sangue e mortifica meu espirito abatido é o corredor pelo qual seguimos, a pouca luz que se infiltra vem dos buracos e rachaduras, é notório que esta parte é a mais antiga do forte e não passou por reformas, não é o lugar mais aconcelhavel para claustrofóbicos, o mais apavorante é que li a respeito dessas estruturas na biblioteca.

— Por que?!! ESTAMOS NUMA, NUMA CATACUMBA!

Não é nada bonita como a primeira que visitamos no castelo das rosas, não há monumentos, esta é crua, semelhante a filmes de terror antigos com um cheiro acre e mórbido. Se eu tocasse nas rochas tenho certeza que cortaria as mãos e as encheria de fuligem. Passamos por arcos altos, revelando paredõens de ossadas, isso mesmo, paredes de ossos, todos os tipos cravados nelas, crânios amarelados e ferruginosos pelo decorrer do tempo nos circulam. Arranho Dale, esperando ansiosamente sairmos daqui enquanto experimento essa sensação fúnebre e paralisante do tormento de almas inclimentes que rogaram na vida e na morte em busca de liberdade.

Os túneis ramificam-se em várias saídas com placas informativas, continuamos, até chegarmos à grande sala no centro da catacumba. Tento olhar para ao teto, mas por causa da posição que estou, não vejo nada além de uma terrível bocarra negra. Parados na cripta privada, analiso o poder dos portões de ferro quadriculados com alavancas que protegem a tumba vultosa de marmore claro.

Dale me coloca no chão, fico tonta sentido o chão irregular do lugar. Desejo com todas as forças que meu corpo tenso relaxe, afasto os cachos molhados do rosto e fico parada, nem por minha vida medíocre eu gostaria de me perder em um desses corredores funestos marcados por mortes e terror. Pergunto-me se era daqui que escutava os alaridos na minha cela? Mas não faz sentido, afinal meu marido tem uma catacumba cheia de mortos embaixo do quarto! Isso daria um filme e tanto! 

Agarro o tecido da minha saia longa, pensando seriamente em me curvar aos pés dele e pedir desculpas para que ele possa me tirar daqui. Ele, por sua vez, não demonstra um pingo de medo e em silêncio acende as velas dos candelabros que ladeiam a cripta.

A luz se espalha, sempre bem-vinda, mas ainda assim dando um aspecto fantasmagórico à um ambiente como esse cheio de esculturas de ossos. Se Dale não fosse tão bonito quanto é, poderia até chamá-lo de espírito zombeteiro. 

Sugo o ar denso tendo calafrios, mesmo estando quente, ainda com medo, os bicos dos meus seios endurecem vendo o contorno de luz bruxuleante oferecendo aos músculos cheios e definidos do meu marido um tom bronzeado. O bolso de sua calça está pesado sustentando uma adaga com punhal de ouro maciço, desvio meu olhar suplicando:

Tenho muito medo! Por favor, por favor... Vamos voltar para o quarto?

As chamas das velas sambam nas suas Íris amarelas mais vivas e fatais do que jamais foram.

— Vai sair, garanto, quando expor quem você é! Durante esse tempo, vai ser minha, toda, por completo, absolutamente e incondicionalmente minha! Em retribuição, vou lhe mostrar cada detalhe de quem eu sou! Irá conhecer em definitivo a quem você pertence.

Ele encurta nosso espaço, medindo meu corpo dos pés a cabeça e abrindo a fivela do cinto, tirando-o. Me encontro em pura inércia, pavor e sufocamento.

— Sob os osssos dos meus antepassados vou lhe possuir Papoula, até que não aguente mais e eu possa te conhecer por dentro!

Evito o contato visual, o queixo tremendo para mais um desabar, abro a boca para falar, mas não consigo. Não, ninguém ama Siena, ninguém merece conhecê-la. Como Fargus disse naquela viagem?! "Jesus Cristo, você é um pedaço de merda garota..." Ninguém sabe quem é Siena e preciso manter isso assim! Toda vida me trasmutei para tentar melhorar se não por Appa, agora por Dale e por que eu o deixaria ver... NÃO! Mas sinto agora, com todo esse medo vindo das profundezas que estou a beira de  desmoronar na frente do meu leão.

— Vamos nos unir no sangue! Depois que descobrir quem sou, nunca mais vai pensar e atrever a se esconder ou imaginar a vida sem mim!

— Quero ir embora, por favor... irrompo chorosa, suplicante sentindo mais uma pontada na bexiga pelo medo desencadeado. Antes que eu faça um movimento e tirando a bainha de couro que escondia a lâmina límpida e afiada da adaga, Dale aperta um dos meus braços com a palma da mão virada para cima.

— Na, na... O o quê?

Gaguejo, perdendo as palavras, o choque cruza meu rosto enquanto ele, de repente, devora minha boca num beijo ardente e raivoso, mordendo e provando meus lábios, tento afastá-lo, mas sem sucesso, espero, a punhalada. 
Não sai do jeito que eu esperava, estava me despedaçando, cedendo ao beijo quando uma fisgada lancinante perfura minha mão, recuo gritando, ele me solta e vejo o líquido vermelho pegajoso escorrendo do corte vertical na palma da mão.

Abalada, os joelhos fracos, vendo meu sangue gotejar no concreto numa dor pungente, nem percebo de imediato que Dale esticou a proporia mão e fez o mesmo corte.

Mil perguntas espalhadas na minha cabeça, perguntas que ele não responderia, antes que possa agir tão tola e estúpida quanto antes, seus dedos ensanguentados se entrelaçam com os  meus, deixo meu choro não só de medo quanto de sofrimento vazar até que sua boca rouba meu fôlego.

Me acuando num canto solidificado da sala sombria com caveiras nos observando tão perto, meus olhos reviram e se perdem no escuro, seu beijo revive um tesão avassalador e desumano, não entendo porque sinto minha calcinha ficar molhada, mas sei que só ele é capaz de fazer isso em um lugar deveras inviolável. Não compreendo, é mais forte que eu,  acompanho seus movimentos com paixão.

Gemo, excitada, o clima parecia quente antes disso, agora está pegado fogo.

Desgrudando nossas bocas, sorrindo de canto ele diz:

Ah minha doce esposinha mentirosa, essa adaga em minhas mãos é um artefato ancestral, a lâmina é afiada como as sombras que nos envolvem.

— Dale... — começo hiperventilr buscando ar, sufocando nestes sentimentos estranhos — Não entendo...

— Preciso saber como é sua alma Poppy, estou arriscando tudo até revelar os meus demônios, minha alma atormentada por coisas que ninguém, exceto você, conseguirá lidar...

Meus olhos, provavelmente vermelhos e inchados, escorrem, embaçam, em respirações curtas e abafadas. Meus lábios tremem em solucinhos ao escutar a voz de Roselyn.

Aceite a dor, a fome, a desgraça, o desespero e o elo infinito junto ao seu berserker. Deixe o carvalho florescer...A dor da sua alma o chama, como a escuridão e horror que habita nele te  seduz.

Estou ficando louca!

Dale aperta nossas mãos entrelaçadas pingando sangue e começa falar palavras incompreensíveis.

— "Leis na gaothan a sguabas air falbh dìomhaireachdan an dorchadais, leis na freumhaichean a tha ag eadar-fhighe ann an doimhneachd na talmhainn dubh, tha mi a' gairm d 'anam ri taobh m' anam, mo chearcall foirfe.  ( "Pelos ventos que varrem os segredos da escuridão, pelas raízes que se entrelaçam nas profundezas da terra negra, eu chamo sua alma junto a minha, meu circulo perfeito")

Milhares de sensações macabras penetram por meu corpo, e nesse momento, sinto coisas que nenhuma pessoa boa deveria sentir. 

Erguendo o olhar para sua boca escuto as palavras ressoam com uma intensidade assombrosa, cada sílaba tece um fio invisível que liga o nosso destino.

— Le fuil mar m' fhianuis, agus anaman ceangailte ann an cuthach na sìorruidheachd, tha mi a' tairgse mo theisteas, mo bhi, air son a' chomh-cheangail a tha dol thairis air crìochaibh an duine. ( "Com sangue como testemunha, e almas entrelaçadas na loucura da eternidade, eu ofereço minha essência, meu ser, para a fusão que transcende os limites do humano.")

A dor na palma da minha mão presa à sua é pungente, em silêncio, engolindo as lágrimas, fico hipnotizada por suas pupilas, parecem maiores e a cripta mais opressiva.

Lambo os lábios sentindo o gosto do sangue, mesmo sabendo que não os cortei. A boca dele ainda sobre a minha recia sua fala mais semelhante a um canto para as criaturas que habita na escuridão.

Nada pode ser mais surpreendente quando Dale começa a rasgar o tecido fino da minha blusa e a saia, me despindo brutalmente, olho para todos os lados, não consigo me mover, não consigo empurrá-lo, estou presa, sem saída e além do medo, eu sei que ele me faria pagar caro caso o desafiasse novamente.

Praticamente nua. Ele diz que se eu o amo, repetirei essas palavras. Estou com muito medo, mas depois que pronunciadas, é como se meus lábios, língua e voz tivessem vontade própria. E as palavras ecoam sem hesitação:

Tha mi mionnachadh dìlseachd dhut ann an dorchadas, ann am bàs agus ann an trom-inntinn. Biodh ar n-anaman nan slabhraidhean, biodh ar n-osnaichean mar aon, ged a tha cuthach gar cuairteachadh mar anart ( "Juro-te lealdade na escuridão, na morte e na obsessão. Que nossas almas sejam correntes, que nossos suspiros sejam um só, mesmo que a loucura nos envolva como uma mortalha.")

À medida que o ritual desconhecido avança para o discurso profundo, um assobio macabro retumba nas proximidades, as chamas dos candelabros tremeluzem parecendo que espectros famintos por nossa entrega bailam uma música fulminante ao nosso redor, balanço a cabeça afastando esse pensamento.

Ficamos a mera distantancia um do outro, cara a cara, nossas mãos ainda unidas, Dale com sua outra mão pega a minha que está suada e tremula e coloca pressionando a sua grande e calejada mão sobre meus seios expostos.

— Gabhaibh, a fheachdan dorcha, ris an aonadh mì-naomh seo a tha a' dol an aghaidh laghan nàdair. Bheir an dàn dhuinn fianais air ar n-obsession gealtach, agus gun glèidh na reultan dìomhair ar dìchill shiorruidh. ("Aceite, oh, forças sombrias, essa união profana que desafia as leis da natureza. Que o destino seja testemunha de nossa obsessão insana, e que as estrelas guardem o segredo de nossa paixão eternamente condenada.")

Eu ouço seu coração batendo próximo ao meu. Porém, algo diferente acontece, e além do meu coração e o seu, ouço outra batida, é mais rápida e distinta.

Minha boca se abre em choque, o que poderia ser?

***

Posso estar errada, mas seus olhos de leão, sua essência completa, contêm dor e angústia, não apenas a habitual raiva louca.

— É hora de ver como somos por completo.

Confusa, procuro respostas em seu rosto.

— Não entendo Dale, o que foi isso?

Ele ri, mas não há humor em seu tom.

— Não foi Poppy, e sim, será... agora vamos formalizar nossa união de sangue. Conhecerá de uma vez por todas meu verdadeiro eu, além do que sou por fora. E saberei quem é a verdadeira Poppy Macay...

Ele aperta meu queixo e solta minha mão, caminhando em direção ao túmulo de mármore com entalhes e uma frase num idioma diferente gravada ali. Dale afasta a tampa pesada, ecoando um estrondo oco, a tampa que cobria o túmulo não deve ter sido movida por anos.

Ninguém precisa dizer quem está na tumba, eu reconheço. Minha amiga imaginária, linda como uma fada, jaze ali com seu algoz e amante por décadas e décadas. Meu braço dolorido é puxado e meu corpo colocado de frente a furna espaçosa, engulo em seco, constatando que os ossos espalhados nos mantos e trajes estão desgastados, são de outra época onde o amor e a loucura eram os balizadores de seu relacionamento.

Com os olhos arregalados, suspirando,  questiono Dale sem usar palavras.

— Foi aqui que eles descansaram, aqui que Aidan quis viver além da eternidade com sua esposa. Ele quis descansar sabendo que seus inimigos ainda estavam abaixo dele.

— Mas e a cripta do castelo das rosas? A cripta que ela pediu e desenhou para ele?

— Um presente, uma promessa, no entanto, vou lhe possuir agora sobre a essência dos meus antepassados, e sentindo como você é em cada detalhe...

Sua afirmativa congela-me e rouba minha força vital, e nesse istante tenho a impressão fulminante que estou perdida, e quem está a beira de tomar forma depois de tanto tempo é ela, a garotinha machucada em mim, Siena...

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