doce desconfiança /28/
Leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la
William Shakespeare
Desperto com meu corpo mole e cansado enlaurado pela pouca luz da lua atravessando as vidraças, sorrio apreciando o efeito eufônico que me acoberta. Poderia dizer que foi o ácido que tomamos, mas sei que seria só um detalhe da verdade, em suma devo admitir que o real motivo seja ela.
Pigarreio e descarto a emoção virando de lado em busca do cheiro que se tornou a chave de muitas tomadas de decisões. Estendo o meu braço e encontro o vazio dos lençóis, de súbito sento-me olhando o escuro ao meu redor.
As chamas se tornaram brasas na lareira, e a escuridão calorosa me cerca em meio as almofadas, colchas e tapetes que coloquei no chão após o primeiro desmaio dela.
Eu poderia tê-la colocado na cama, porém aqui no chão próximo ao fogo era onde eu queria comê-la por horas seguidas durante o seu sono induzido. O fogo é um dos meus elementos de conexão, pareceu certo manter-me perto dele enquanto reforçava a ligação física forjada há meses atrás, no entanto sei que me resta um desafio:
A mente quebrada dela.
Levanto sentindo os efeitos das rodadas intensas de sexo e também o sentimento estranho quando estamos longe um do outro. Caralho! Eu devo buscar controle
Fito a porta do banheiro entreaberta com a luz acesa, franzo a testa ao reconhecer os ruídos de choro e engasgos saindo do cômodo.
Poppy?
Decido dar passos leves e girar a maçaneta devagar, já que ela está chorando e não espera a minha presença. Porém nem mesmo tendo visto de tudo, eu estaria preparado para a surpresa desagradável que viria.
Aperto o maxilar e fecho os punhos.
Sentada no chão gelado e encostada na banheira feito uma dementada alucinada e nua, está a mulher que me fez ficar possuído a ponto de recitar encantos druidas de dominação enquanto eu trepo, arrancando e engolindo esfomeada o seu próprio cabelo.
A visão é grotesca, já presenciei muita merda que nem ao menos me causou reação, mas isso... Bosta! Feriu o meu âmago. A raiva intensa fervilha nas minhas veias, eu sei porque. Nada deveria ser mais forte do que a conexão, e esse medo gigante que estampa a sua expressão, está nublando o impacto que eu tenho em sua vida.
Ahhh foda! O que essa mulher tem?
Seus dedos finos estão sujos de sangue devido aos ferimentos que está causando a sua cabeça. A única reação fodida que consigo esboçar é fechar meus punhos e retesar meus músculos por causa dessa corrente enraivecida que puxa o pior de dentro de mim.
— Pare agora! — digo trincando os dentes e ainda a observando colocar os últimos fios entre os lábios. — SE VOCÊ NÃO PARAR, SE ARRANCAR MAIS UM FIO DE CABELO... — grito puxando o ar e tentando conter a monstruosidade dentro de mim, na beira, na borda do precipício, e completo quase com um sussurro rouco e tremulo de zanga. — Eu não vou responder por mim.
Seu pescoço vira em minha direção e vejo seus olhos de turmalina praticamente negros devido às suas pupilas dilatadas. Ela emite um som estranho, semelhante a de um animal ferido, e isso me entoja para cacete.
— LEVANTA! — grito fora de mim.
Lágrimas, prantos e sempre lágrimas. Que porra exaustiva! Se fosse outra mulher, se fosse uma puta mentirosa atrás de status...
Essa mulher é uma mistura de tudo que há de tentador com tudo que existe de sufocante. Mas que caralho de confusão eu fui me meter. Ela tem uma mente instável e percebo que a empurro em alta tração através dos meus instintos bestiais.
James está certo, preciso realizar um teste e me distanciar um pouco dessa fome. Ela tem que ser o que defini para ela ser, mas em vista dos fatos, vou entender que porra está fazendo comendo o caralho do cabelo todo da cabeça.
Suas mãos e seus pés tremem, engasga tossindo e cospindo sangue ao tentar me chamar, viro o rosto negando um segundo dessa visão de merda e minha paciência que já havia ido para cú do judas, se distancia em quilômetros.
— Por que está fazendo isso?
— Ah... É... E-é-E-e-U eu...
— Para de gaguejar e me diga agora que porra é essa?!
Sua fisionomia derrotada, excruciante volta a me esmagar, meu corpo está escaldado. Sem me conter me aproximo apertando seu queixo formando uma garra no seu rosto, não perco tempo e conduzo-a pela cabeça escutando seus miados estranhos e a levo para o quarto, jogo-a na poltrona ao lado da lareira, sem mais.
— Comece a dizer, o que está fazendo comendo seu cabelo?
Ela mal consegue abrir os olhos, o rosto está uma sobra de derrota, mas isso não a impede de círcular os braços ao seu redor em um auto-abraço débil. A sua linguagem corporal está se fechando para mim.
— Da-Dale, isso n- não foi nada.
— Nada?
— É..É..é
Bufando, viro-me de costas com as mãos na cintura para não ter que coloca-las sobre o pescoço dela e exigir respostas. Ela está mentindo, está escondendo. Cansei dessa merda! Não vou deixar ela sair dessa, ela me contará tudo e depois de hoje a colocarei no seu devido lugar.
— Você está me escondendo algo, não sou tolo, estou vendo! Não posso lidar com segredos entre nós, porque se você mentir pra mim Poppy, então acabou tudo, entendeu? Irei pedir para que guardem seus pertences e irei envia-la para seu pai.
— NÃO! NÃOOOO!!!
Eu sei que não a enviarei a lugar nenhum, mas como não jogo limpo, usarei as cartas que eu tenho para obter respostas.
— Não??? Não?! Há-há-há. Você não defini minhas ações, e com toda certeza eu cansei dessa lenga, lenga de surtos! E se não fosse o bastante tudo isso, agora está, COMENDO CABELO E DIZENDO QUE NÃO É NADA? ACHA QUE SOU UM IDIOTA?! — me descontrolo, percorrendo os dedos no meu cabelo e absorvendo o suor. Ela chora e estica uma das mãos em minha direção querendo me alcançar, enquanto com a outra ela ainda se abraça querendo manter os cacos de alguma merda que a fragmentou. — Eu odeio mentiras Poppy, o que mais me emputece é a deslealdade, e você tem a minha confiança porque sei que passou por muita merda, então abre a boca e fala AGORA!!!
Engulo em seco, seus berros e sua negação me irrita, transborda dolorosamente na minha alma. Não posso deixar isso continuar mais, preciso cauterizar essa relação descontrolada.
— Tenho a Síndrome de Rapunzel. — ela diz baixinho.
— Não me diga, nem havia reparado que você estava se escalpelando para se alimentar.
— Dale, e-eu e- eu, me desculpa. Eu não que-queria que visse, eu não...
— Aposto que não. Qual é o trauma que está te fazendo comer cabelo, o que a fez se mutilar em busca de uma cura mental?
Seus lábios estão entreabertos e vermelhos, seus olhos emanam uma dor gritante e por segundo tenho o vislumbre da possível garotinha linda que ela já foi. Inúmeras ideias se passam na minha cabeça e tento afastá-las, deve ser uma merda grande e com toda certeza não acho que seria racional absorver esse problema em troca de uma amante de carne e um contrato muito vantajoso.
Ela disseca minha expressão emputecida e preocupada, suas mãos trêmulas beliscam as suas coxas em busca de distração, fazendo sua imagem mais vulnerável e tentadora a qualquer homem que ouse pousar os olhos sobre ela. A ideia de alguém a vendo desse jeito nua e vulnerável ferve meu sangue, mas fecho os olhos jogando tudo isso para o fundo da minha mente e lidando com o problema na minha frente.
— Tive pe-pesadelos, eles me deixaram tão a-a-apavorada, não pu-pude resistir.
Vou até a cama e retiro da cabeceira um baseado, ascendendo, dou algumas tragadas buscando me acalmar e sentando na beirada da cama com os cotovelos apoiados, fecho a expressão meditando:, ela odiaria ter que conhecer um mostro agora.
O silencio se estende sobre nós, apenas o uivo do vento lá fora é audível de um jeito desconfortável.
— Da-Dale...
Sua voz gaguejante não me afeta como há minutos atrás, uma nuvem gelada e dormente irradia dentro de mim. Parece que a junção de peças quebradas no qual Poppy Hu Park é, começa a criar as primeiras imagens nesse jogo perigoso no qual me envolvi.
— Não quero mais papo furado, preciso que me conte tudo Poppy! Pode acreditar, estou por menos de um fio, quero respostas. — falo quase rangendo os dentes. — Quem é você? De onde veio? E por que está comendo seu cabelo? Quero desde o começo.
Fungo baforando e deixando a fumaça criar uma sinergia com meu espirito animalesco o deixando anestesiado em benefício da minha racionalidade.
— Abra a boca e conte cada fodido pesadelo para mim! — exijo sem melindres.
Meu corpo ereto cria uma postura ameaçadora e ao mesmo tempo fria ao seu rompante. Ela fica calada, se esperava que eu desistisse se enganou. Percebendo que não deixarei ela escapar, depois do que parece uma eternidade, suspira quase resignada. Vejo seus dedos sobre as coxas, escoriando sem dó e sem piedade a própria pele , mas não me abala. Eu quero a verdade e quero mais que nunca.
Sei meus limites, percebo que ela não é como as outras, afinal eu não iria aturar isso vindo de uma vadia insossa qualquer.
— O que quer saber?
— Eu disse tudo.
— Tudo?
— Sim, e vou facilitar essa merda! Onde você nasceu e quem foram seus pais? Se me escondeu a verdade antes, essa é sua oportunidade, papoula.
Seus olhos me circulam da cabeça aos pés, e respirando fundo, ela fecha as enormes escleras vermelhas, começando a admitir em lentidão para não gaguejar. A visão não me afeta, e sim, atrai, é como se estivesse voltando ao passado e revivendo tudo que colecionou por anos. Sua expressão é sonhadora e não sei o porquê.
— Não, não conheci o meu pai biológico, ele morreu há muitos anos atrás, no meio da gestação da minha mãe.
— Então você mentiu quando disse que não lembrava dos seus pais? — pressiono afiado a sua mentira anterior, se ela fosse uma puta sonsa, seria o fim.
— Eu não lembro deles como as outras pessoas lembram dos seus pais, minha infância foi difícil.
— Difícil?
Ela abre a boca eu a impeço emendando minha fala para que ela se atenha a cronologia dos fatos. Eu sempre busco informações ,e nesse caso, informação significa mais poder sobre ela e sobre esse maldito desejo insano que sinto.
— Não vamos pular as etapas, continue contando sobre seus pais.
Ela se recosta na poltrona e ainda de olhos fechados joga sua cabeça no encosto e suspira como se estivesse abrindo uma caixa de figurinhas recortadas, relatando os momentos que ainda se pegam a sua mente, arranhando as coxas.
— N-não conheci o meu pai, a minha mãe é uma lembrança vaga e quase esquecida na minha me-mente. Eu sou americana, mas não lembro de qual cidade vim. Minha mãe era linda e artistitica, uma fotógrafa... Ela era boa, muito boa — ela diz friccionando o nariz e criando um alerta aos sinais que emana. — Eu a amava demais, além do que qualquer criança poderia, ela era minha mamãe. Mas um dia no porão da nossa casa, eu fui infectada por um vírus forte que deixou-me muito doente, a ponto de não conseguir levantar e muito menos reagir as dores que ca-causava ao meu corpo.
Penso no relatório que Verlak me deu, e relembro que ela não tem nenhuma doença permanente, provavelmente ela contraiu alguma doença derivada de pragas urbanas. Esse tipo de merda sempre debilita suas vítimas.
— Virus ou bactéria?
— Não sei, mas de uma coisa eu sei, essa praga acabou comigo e com minha mãe.
— Sua mãe também ficou doente?
— Sim, muito. E no final ela morreu e me deixou sozinha, somente mi-minha tia pode me ajudar.
— Você têm uma tia? — pergunto intrigado e receoso de uma possível adversária na atenção da minha amante.
— Tinha. Ela também morreu.
— Como ela morreu?
— Pelo o que eu soube de um amigo da minha mãe, ela estava no lugar errado e na hora errada.
— Assassinada?
— Eu não sei... — suspira e uma lagrima rola por seu rosto. — Mas durante muito tempo ela me ajudou e inclusive cuidou de mim enquanto estava doente.
— Foi ela que levou você para a Coreia, ou foi sua mãe? Como foi?
— Não m-me lembro muito como cheguei na Coreia, mas... Foi divertido, nós fomos à lojas, e comemos tanta coisa diferente. Porém, esqueci boa parte devido aos efeitos da doença. Mas aparentemente minha tia me levou, já que era apaixonada pelo país. O vírus tomou lembranças importantes, e depois o lu-luto camuflou a outra parte.
— Tudo bem, e o orfanato, como foi parar lá?
— Uma senhorinha muito gentil, viu que eu estava perdida e cuido-dou de mim em seu restaurante no centro do Rio Han. Fiquei lá por um tempo, ela cuidava tão bem de mim, mas não ti-tinha muitas condições pá-para me criar, aí Dona Choi apareceu e levou-me para seu orfanato de meninas.
— Continue.
— Shoi era muito religiosa e tinha, tinha uma palmatória, várias delas... Eu, eu era a única di-diferente, e ficava num quartinho minúsculo que tinha goteiras. Era tão fedorento e lotado de o-outras garotas... Shoi me deu um, um nome chamado Gaeun. Ela me torturava e costumava humilhar-me na frente das meninas... Eu não aprendia coreano então...
— Então? Diga.
— U-u-uma vê-vez... Ela enfiou a palmatória no meu bumbum, tão fundo, tão rápido, que eu gritava e sangrava tanto, e ela ria "Hihihihi recite o Nam-myoho-renge-kyo, recite dez vezes sua oegug-ui suja!!!" Ela também mandou eu beijar os seus pés cascudos no final do ato, e me... Me lambeu...
Poppy engasga em pranto, o reconhecimento escabroso me faz entender do porquê da sua resistência no sexo anal, mordo o lábio inferior e tenho mais certeza que se o cuzão do Hu Park não tivesse a matado, eu iria atrás da velha lascada só para esfolar a cara dela e enterrá-la viva. A tristeza anuviase profundamente na face de Poppy, pressiono o lábio sentindo essa transmissão tão deplorável. Sou fascinado pelo medo, mas não é esse o tipo de medo que eu desfruto nela. Necessito da vontade de escoimar, depurar e limpar ela por completo, para só então efetuar minhas vontades.
— Quero que olhe para mim, abra os olhos e continue me contando sua história...
— Não Dale, eu não...
— Essa é sua última chance! Prossiga!
Trago o baseado observando ela bater os cílios lutando contra a dor, e então nos encaramos. Existe tensão em ambos os olhares nestes segundos, deve ser a droga, mas sei que vai mais além. Busco a verdade, e vê-la quase no reflexo de suas íris é erogeno em todos os sentidos. Porque é exatamente esta sinceridade e esse tremor que me atrai em uma mulher, porém, ela engole e esse elo se rompe quando abre a boca e todas suas palavras emitidas me deixam cismado.
— Perdi muito peso durante esse tempo, apanhando, sendo obrigada a obedecê-la, fazia de tudo para aguentar e não me matar, até que um dia Appa chegou e... Ele iluminou minha vida, Dale. Ele me ajudou, me levou para uma casa grande e confortável e me tratou feito sua própria filha. Não foi fácil no começo, eu não me costumava, mas ele é um excelente Appa. Lembro que com a ajuda de sumchon, fui medicada e passei a ganhar peso e esperança, aprendi muitas coisas e conheci todos da família. As mulheres do nosso clã, gostam de mim e se dedicaram a me ajudar também, conheci lugares lindos...
— Todos da família? — pergunto em tom desconfiado.
— Bom, não sou muito próxima delas como sou com Appa e titio, mas sim. As vezes me divirto com as afilhadas de Appa.
— Poppy, vou te perguntar uma última coisa, e quero que seja completamente sincera, eu não vou me irritar.
— Tá... — Ela tenta sorrir fracassando e pendendo a cabeça.
Me levanto e pego uma toalha pequena de flanela no banheiro, molho na pia e pego a maleta de curativos. Aproximo-me, e vendo sua pele eriçar, a fito intensamente. Mesmo se negando e gemendo ao encostar o pano no seu ferimento, a prendo no meu agarre. Suspiro forte pelo nariz e mantenho seu rosto quase colado ao meu, encarando-me, olhos nos olhos.
— Eu acredito em você, acredito na médica a senhora Davidson, mas preciso que me diga. Você teve um namorado? Um homem já lhe feriu? Te tocou como eu te toco?
— Dale eu...
— Apenas me responda. A verdade é o que eu quero, minha papoula.
Ela se aperta na poltrona, sinto suas pernas se contraírem e com uma das mãos rompo o seu ato de coçar as coxas e entrelaço nossos dedos, nos entrosando, formando um único corpo. Curvo-me diante dela e me enlevo neste encanto faceiro que independente de sua resposta irei consequentemente agarrá-la e beijá-la, demonstrando a porra do tesão e dos sentimentos confusos que me circulam. Eu sei... terei que lutar contra essa vontade, mas a conexão está se esparramando no meu sangue, eu nunca experienciei tal gana. Seus olhos amendoados cintilam e se espremem em lágrimas, a dor afiada sobe pelo meu peito, meu hálito força sua boca se abrir, existe zanga, existe furor porque eu esperava a maldita resposta, a verdade dolorosa que posso absorver, mas ela me surpreende e deixa um gosto confuso e desconfiado nos meus lábios.
— Não, não Dale... Eu nunca. Nenhum homem me machucou ou me tocou além de você.... Eu juro.
— Seu pai, nunca lhe apresentou a pretendentes?
Ela balança a testa encostando-a na minha.
— Sim, mas... Ele sabe quem eu sou, sabe que eu não tinha condições para namorar, eu nem ao menos pensava nisso, até que você apareceu...
— Quais eram os pretendentes?
— Havia muitos soldados, mas tinha um importante, um kaikai (contador) da máfia. Eu sabia que iria me casar com ele, talvez, mas eu sinceramente não tinha esperança de me livrar das minhas síndromes, e Appa nunca me pressionou.
— Essa é toda verdade? Você não teve nenhum problema depois de estar com seu pai? Você tem amigas e é bem tratada por todos? Já teve pretendentes e nunca se preocupou com isso? Sua única fonte de dor foi a morte da sua mãe e tia e, principalmente o orfanato?
Ela faz que sim derrubando às lágrimas e sorrindo.
— Me diga! — grunho, exigindo a retidão e a transparência que só a verdade absoluta pode me nutrir.
Seu peito impunsiona um choro amargo e cheio de dor.
— A verdade Poppy, me diga agora! — dou um grito ensurdecedor, sinto sua garganta travada — Eu preciso saber!
— Appa deu uma vi-vida para mim! Essa é a verda-dade, eu vivi o pior horror no orfanato Dale... Mas nenhum homem me ma-machucou, só você me tocou, só você me namorou, só você, por favor, só você....
Solto o aperto do pano e volto a estacar a ferida do seu coro cabeludo. Aperto mais nossos dedos cruzados, seus olhos estão mais leves, embora ainda exista dor e tormenta. Existe um amargor pungente me possuindo, não estou saciado, mas quero acreditar nela, preciso acreditar nela, e para fugir das dúvidas e receios colo nossos lábios em um beijo mordaz. Experimento o sabor das suas lágrimas verídicas, ou falsas, emaranhadas na sua língua doce. Sinto seus batimentos através do pulso latejante no seu pescoço, e continuo explorando sua boca a inclinando contra a poltrona de couro. Quero entrar em sua alma e devorar toda sua vida, todos seus pensamentos e todo seu sangue, marcá-la nas suas entranhas para que jamais esqueça da minha posse. Ao mesmo tempo, meus músculos querem travar e aperta-lá até lhe quebrar os ossos.
Mordisco sua boca, minha mão tateia em sua pele, não em busca de sexo, e sim na busca de algo mais infinito e duradouro. Quero emoldurar essa lembrança e, desejo ver a confiança de que está me dizendo a veracidade, só que não... Não posso ter certeza, eu acredito, acredito verdadeiramente nela, mas meu instinto pela primeira vez em toda minha vida parece querer me trair, me enganar...
— É a verdade?
Ela faz que sim respirando ofegante.
— A-a verdade. — afirma solene.
A pego no meu colo soltando o pano, suas pernas entrelaçam nos meus quadris, aperto sua bunda e a levo para cama ainda nessa doce osculação.
Deito-a no colchão fresco que obtém o aroma do nosso corpo, e termino de fazer o curativo na sua nuca, aproveitando para perguntar que tipo de pesadelo ela teve. Ela me diz em tom distante, ter visto Shoi e as coisas que ela fizera com ela, então por um minuto inteiro ficamos em silêncio, apenas nos olhamos, analiso ela deitada e nua, e sei que ouvi-la, não foi o suficiente.
Ela fecha os olhos quando encosto meus lábios no canto dos seus. Esperando curiosa o que viria.
— Dale, você vai dormir comigo?
— Não.
— Mas eu...
— Tenho muito trabalho para fazer agora, você vai dormir e relaxar sozinha.
Ela concorda num jesto de cabeça, depósito um selinho em seu pescoço quente e marcado por minhas mordidas. Por fim, não resistindo, agarro seu rosto me despedindo, brincando com seus lábios e aumentando o contato profundo em um beijo carregado. Os seus lábios são macios de sentir, e eu poderia passar a noite inteira me alimentando disso, mas preciso desencavar essa história a fundo.
Deslizo a mão boba que estava na sua cintura até as maçãs do rosto e sussurro no pé da sua orelha:
— Esqueça essa droga, se concentre no que faremos, boa noite Papoula.
Ela faz beicinho, mas não me comove. Antes de sair do quarto pego a escultura de leão levando comigo para o escritório.
Vou até o meu quarto e visto uma cueca e um roupão azul aveludado, sem mais delongas caminho para o meu escritório com a peça pesado e cheia de significado entre as mãos.
Sei que algo está errado, e não seria considerado o melhor dentre os Ovates se não sentisse algo mais obscuro além da superfície.
Penso na sua narrativa, e a sensação cresce no meu peito anunciando que se ela me trair a desgraça cairá não só sobre ela, mas se estenderá por todos aos seu redor e que um dia chegou a conhecer.
Já tentei algumas vezes cria ligações temporárias com possíveis amantes de carne, mas infelizmente, eram putas fracas e sem aptidão ou gosto para coisas mais tenebrosas e sensações prazerosamente quase extracorpórea.
Quando vi Poppy, senti o puxão da necessidade física, e seu espirito acuado praticamente lambeu a fera devoradora que escondo de quase todos, de cima a baixo. Ela tem algo, que nem mesmo eu consigo definir, e isso me fode demais! Inclusive a minha leitura sobre ela.
Ahhh porra Poppy!
Eu sou um homem de gostos cruéis, mas com um único lema:
Nunca me traia, e assim manterá a cabeça sobre o corpo.
Porém, sempre tem um infeliz me testando e indo conversar com o submundo de jeito antecipado. Sei que são poucos iniciados que restaram entre nós, mas ter essa percepção de danos e quebra somente a mente e espirito de alguém, sempre me favoreceu por toda a vida. Neste momento, estou preso nessa merda de vértice do desejo interrupto, do qual não consigo ver além dos círculos iniciais das mentiras ou ocultação.
Eu sinto a diferença no meu interior papoula, mas a minha essência perversa está nublando a minha percepção. Preciso abrir minha mente e estudar mais os meus passos e decisões. Não quero perder o controle e manchar o templo com novos sacrifícios...
Entro pelas grandes portes de madeira, e vejo o meu escritório obscuro, talvez um dos cômodos mais escuros do castelo. Tranco a porta de mogno e sento-me na poltrona de espaldar alto colocando a escultura a minha frente, na mesa do escritório que esta devidamente arrumada. Relaxo vislumbrando as estantes atoladas de livros, e admiro as pinturas que dispõem da história e legado Macay. O espaço opulento decorado em vidro, couro e madeira nobre. A mesa a minha frente retém apenas pastas necessárias do meu trabalho e a tecnologia de ponta presente. Penso que de fato tenho muito trabalho, os eventos estão chegando e não posso me dar ao luxo de focar meu tempo inteiramente à Poppy.
Suspiro percebendo que os olhos de rubi do Leão brilham no escuro e até me faz sentir observado por um momento.
Não me foda Poppy, não me foda.
Estar longe dela me faz pensar mais claro no momento. Eu acredito nela, não obstante, precisará muito mais que palavras para me sentir completamente seguro. Abro o macbook e entro em contato com Verlak, faremos uma pesquisa profunda em cima da vida inteira de Poppy até os seus 23 anos de idade, será o trabalho mais importante. Nada vai escapar de mim!
— Eu não vou descansar até escavar toda sua vida, papoula rubra.
Ouço um barulho na porta e vejo a sombra do meu assistente ganhar forma no batente.
— Milorde seus convidados começaram a chegar. O senhor deseja o dejejum aqui, ou na sala de interseção das suas dependências com as da Lady Hu Park?
Olho para o relógio, o dia de ontem passou feito um raio, através dos surtos e sexo alucinógenos que compartilhamos.
— O Marques já chegou?
— Sim, senhor. Ele e sua filha foram os primeiros.
— Perfeito. Sirva o cafe aqui.
— Sim, Milorde.
desfiro minha decisão mais sabia no momento:
— Preciso que pegue os meus pertences e os mude para a ala leste.
— Irei providenciar agora mesmo. Deseja os últimos quartos, para que possam ficar em Suites compartilhadas?
— Não! — afirmo seco, digitando em meu computador e negando meus olhos a qualquer lugar além do e-mail exigente ao Verlak. — Você entendeu o que eu pedi?
— Sim, vossa graça. — ele diz se virando e logo depois retorna — Desculpe, milorde, o Barão e a baronesa também já chegaram no castelo.
— Aqueles dois.... onde estão estalados?
— No corredor de hospedes da ala Leste.
— Bom, já pode se retirar.
Ouço a porta sendo fechada e por fim, encerro o email que estava escrevendo e envio. Fecho o MacBook, e levanto da poltrona em direção a janela. O tempo está levemente ensolarado, contrastando com minha vibração.
— Ah Papoula... a partir de agora, eu estarei colocando as coisas no lugar e todos os meus olhos estarãofocados em você. E para isso, colocarei a linda papoula em seu devido vaso. No qual uma amante de carne ferve o sangue, mas não perturba a mente. Vou amputar essa sensação sufocante...
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