𝟬𝟮 ㅤ Shells Town
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02 ✴ Cidade das Conchas
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ㅤㅤAs gaivotas cantavam em uníssono, seus gritos misturando-se ao som das ondas que se chocavam contra o cais, como uma canção natural e constante. O sol escaldante de verão parece derreter a cabeça da jovem, alguns fios de cabelos grudados na testa molhada de suor, Yerin ajusta com firmeza as cordas de seu barco, sentindo a textura áspera entre os dedos, dando o último nó antes de se afastar.
Seus passos são firmes, e ecoavam suavemente sobre a madeira molhada, acompanhando o leve balançar causado pelo movimento constante de pessoas ao redor. Shells Town estava abarrotada de embarcações, Riku notou que a cidade parecia ter crescido e se tornado ainda mais agitada desde sua última visita. Ela não sabia ao certo se isso era bom ou ruim.
Enquanto caminhava, sua espada balança ao lado de sua bolsa, produzindo o som metálico familiar que lhe trazia a estranha sensação de conforto. O caminho diante dela era bem conhecido, quase automático para seus pés após tantas vezes de já ter vindo à cidade. Depois de tanto tempo no mar, seu único desejo naquele instante era satisfazer sua sede com algo saboroso. A Yerin suspira levemente, deixando o vento quente acariciar seu rosto ao mesmo tempo que se dirigia à taberna local.
Ao empurrar a pesada porta de madeira, ela observa seu redor de forma vagarosa, a primeira coisa que notou foi que o bar não estava tão cheio quanto ela esperava, considerando que lugares assim costumam ser lotados. No entanto, isso não a incomodou, nem um pouco. A música suave tocava ao fundo, uma melodia agradável, tentando se destacar em meio ao barulho constante do arrastar de canecas, conversas animadas e risadas contagiantes que ecoavam por todo o ambiente.
Ela se aproxima do balcão com passos calmos, sentando num dos muitos bancos vagos, sentindo a madeira fria sob suas pernas, no tempo de seus cotovelos descansarem sobre o suporte que percorria a extensão do balcão. No mesmo instante em que se acomodou, a atendente que estava de costas organizando alguns copos, girou suavemente o corpo para atender o próximo cliente (no caso, ela) e seus olhares se encontraram. Riku não conteve um pequeno sorriso que se formou em seus lábios ao reconhecer o rosto à sua frente.
A mulher para por um momento, retribuindo o sorriso com uma expressão gentil e acolhedora.
⸺ Vejo que as águas lhe trouxeram de volta à cidade. ⸺ Murmurou a mulher, sua voz carregada de tranquilidade.
Riku assentiu, seu sorriso ainda presente, mas agora mais contido.
⸺ É sempre bom rever rostos conhecidos. ⸺ Respondeu, a voz saiu baixa e serena. ⸺ Como as coisas têm andado por aqui, Ririka?
A barman suspirou, levantando os ombros em um gesto de conformidade.
⸺ Como sempre, nada muda muito por aqui. A mesma rotina, as mesmas pessoas, os mesmos problemas. ⸺ Disse ela, apesar do cansaço evidente em seu tom. ⸺ Mas e você, querida? O que vai querer hoje?
Riku passa a mão pelo bolso de sua roupa, tirando algumas notas de berries, colocando-as discretamente sobre o balcão, à vista da barman.
⸺ Só um suco de laranja, apenas. ⸺ Respondeu, observando Ririka pegar as notas, as guardando no bolso do avental.
Ela a serviu, despejando o líquido laranja no copo, empurrando ele até ela.
⸺ Estou por aqui, é só chamar se precisar. ⸺ Ririka pisca para ela antes de voltar aos seus afazeres, sem esperar por resposta.
Riku levou a caneca aos lábios, saboreando com prazer o gosto doce do suco. Começou a observar o movimento do bar, não era particularmente interessante, ela simplesmente observava. Havia muitos marinheiros, provavelmente aproveitando o pouco tempo livre que ainda lhes restava no dia. Isso a lembra de que precisaria passar na base da marinha depois (ou quem sabe no dia seguinte), esse sendo o verdadeiro motivo de estar naquela cidade, infelizmente. Um desconforto fantasma pesa sobre seus ombros só de pensar nisso. Riku não odeia os marinheiros, mas também não gosta deles.
Bom, a maioria.
⸺ Uma garrafa para mim, e para o meu amigo, ele teve um dia difícil.
Riku observa discretamente de relance o novo cliente que se sentara ao seu lado, as palmas dele pressionadas sobre a madeira enquanto Ririka lhe servia duas garrafas geladas de cerveja. Algo familiar nele chama sua atenção, se dá conta de que era aquele mesmo homem que encontrara não faz muitos dias no santuário (talvez, um ou dois dias atrás).
Ela é boa em guardar os rostos das pessoas na memória ― algo irônico, considerando que mal consegue lembrar do próprio passado. O saco depositado na cadeira ao lado dele também chamava atenção, e não deixava dúvidas, algo perturbadoramente claro para quem prestasse atenção, é visível, tem um corpo de alguém ali dentro. Não era difícil deduzir que ele era um caçador de piratas.
O Caçador de Piratas, Roronoa Zoro.
Encostado no balcão, pelo canto dos olhos, ele percebe que há algum olhar sobre si. Mas não demonstra qualquer reação imediata. Em vez disso, continua relaxado, Zoro vira o rosto na direção da Yerin.
⸺ Você. ⸺ Seus olhares se fixaram um no outro, os olhos dele a percorrem de cima a baixo, sem qualquer esforço em disfarçar, com a ousadia de quem não se importava se estava sendo invasivo ou não (e ele não se importa).
O espadachim não é alguém que se lembra dos rostos das vítimas que foram cortadas por suas lâminas, nenhum rosto em geral, eram detalhes insignificantes e não faz muita questão de recordá-los. Entretanto, por algum motivo que ele não conseguia entender, ele se lembra dela, (mesmo que só tenha a visto, uma única vez em sua vida).
⸺ Está me seguindo, por acaso? ⸺ A voz grave dele soou arrogante, com as sobrancelhas ligeiramente arqueadas, provocando-a.
⸺ Não diga bobagens. ⸺ Ela rebate, não esboçando nenhuma reação, não gostando daquela insinuação. Os olhos cerrados em aborrecimento. ⸺ Diria que isso seria meramente uma coincidência.
Zoro não se dá ao trabalho de responder, mas há um esboço fantasma de um sorriso mínimo em sua boca quando leva a garrafa a boca e bebe do líquido alcoólico que tem dentro enquanto copia a mesma gesto da jovem, mirando o movimento da taberna. Riku nota a menina que espiava por trás do balcão (ele também nota). A garotinha ri, antes de sair correndo e voltar alguns minutos depois até eles com um prato nas mãos.
⸺ O que é isso? ⸺ Zoro pergunta, fitando a comida no prato.
⸺ Onigiris. Para você. ⸺ Ela responde ele, seu sorriso ficando largo quando direcionou os olhos para figura conhecida de Riku. ⸺ Você também pode comer, se quiser.
Ela nega gentilmente.
⸺ Você que os fez, Rika? ⸺ Yerin pousou a mão na cabeça da criança, dando tapinhas suaves. Rika assentiu com um aceno alegre.
Zoro observa essa interação cuidadosamente.
⸺E essa coisa marrom aí?
⸺ Chocolate. Deixa tudo mais gostoso.
Ririka chama a filha, que, ao se virar para ir até a mãe, acaba esbarrando em um homem loiro. Riku já sabe quem ele é, para seu desgosto. Algumas coisas parecem nunca mudar, ela pensa, deixando a caneca vazia de suco sobre o balcão enquanto o som do prato caindo reverbera pelo ar, e o bar subitamente mergulha no silêncio. Todos os olhares se voltam para a possível cena que iria se desenrolar.
⸺ Sua garota estúpida, sua animal! ⸺ Helmeppo vocifera com desgosto, o rosto contorcido em uma expressão de desprezo. Ele pisoteia os bolinhos de arroz caídos no chão. ⸺ Não olha por onde anda? Tá cega?
Yerin fica rígida. Seu maxilar trava levemente quando ouviu sua amiga, com uma voz hesitante, pedir que a filha se desculpasse.
⸺ Desculpa. Eu... eu sinto muito. ⸺ As palavras saíram com dificuldade dos lábios de Rika, sua voz trêmula, seus olhos permanecem arregalados, ainda assustada pela reação dele.
⸺ Eu... eu sinto muito. ⸺ O loiro debocha, imitando-a com exagero e escárnio. ⸺ Da próxima vez, não vou ser tão bonzinho.
⸺ Você derrubou a minha comida. ⸺ A voz de Zoro corta o momento, ainda apoiado na madeira de maneira desleixada. Ele observava a cena com olhos semicerrados. Lentamente, ele se abaixa, pegando um pedaço amassado do bolinho no chão. Sem se importar com a sujeira, o colocou na palma da mão antes de jogá-lo na boca.
Helmeppo o olha com nojo, mas Zoro não se importa com o desdém. Mastigou o bolinho e murmurou em aprovação, virando a cabeça levemente na direção da menina:
⸺ Delicioso.
Rika esboça um pequeno sorriso, que logo é acompanhado por um semelhante no rosto de Yerin. Zoro se levantou, pegando o prato do chão, ele recolhe os restos dos bolinhos, os coloca de volta no prato antes de deixá-lo sobre o balcão.
⸺ Agora é a sua vez. Coma um. E peça desculpas para a menina.
O marinheiro ri.
⸺ Você sabe quem eu sou? ⸺ Ele dá um passo à frente, o rosto agora a poucos centímetros do espadachim, o olhar carregado de superioridade.
A atitude faz Riku soltar um murmúrio de desaprovação, baixo, mas não o suficiente para passar despercebido. Isso chama a atenção do marinheiro, que volta os olhos para ela, agora brilhando com uma raiva exagerada, dirigindo a palavra a ela:
⸺ O que você disse?
⸺ Eu disse que você é um idiota. ⸺ A resposta de Riku vem rápida. Não há hesitação ou receio em sua voz, mesmo sabendo exatamente quem ele é.
⸺ E um marinheiro imbecil, com um cabelo ridículo. ⸺ Zoro acrescenta. Seus olhos o avaliam rapidamente, dos pés à cabeça, antes de se virar com para alcançar a caneca de cerveja que havia deixado de lado.
O loiro range os dentes enquanto tira a espada da bainha, movendo-se com a arrogância típica de quem acredita ter algo a provar. As sobrancelhas de Riku se erguem. Como alguém tão patético poderia ser filho do Capitão Morgan?
Mas a diversão dura pouco. Ο ambiente começa a pesar, Riku percebe que a situação está saindo de controle e, com um gesto cuidadoso, pousa as mãos nos ombros de Rika. Com um toque firme, porém gentil, ela a puxa para mais perto de si e começa a recuar, as afastando da confusão.
⸺ Eu não faria isso. ⸺ A voz de Zoro, é baixa. Não é um pedido, tampouco um simples aviso, é uma ameaça, perigosamente disfarçada.
Helmeppo sorri, claramente subestimando o caçador de recompensas. Ele ergue o queixo, como se tentasse compensar sua falta de habilidade com excesso de confiança.
⸺ Vamos lá, seu durão. Três espadas? ⸺ Ele provoca, jogando a cabeça para trás em uma risada exagerada que ecoa pela taberna. Seus olhos percorrem o local, garantindo que todos estejam olhando. ⸺ Só preciso de uma.
⸺ Ah, é? ⸺ Zoro ergue uma sobrancelha. ⸺ Tudo bem. Mas isso vai ter um preço.
Helmeppo não pensa duas vezes antes de avançar, a espada erguida em um movimento desajeitado. A lâmina segue direto para Zoro, que sequer se dá ao trabalho de sacar sua espada. Ele bloqueia o golpe com o punho de uma das lâminas que carrega e, em um movimento rápido e certeiro, acerta um golpe direto no rosto do loiro. Helmeppo cai com um baque, gemendo de dor enquanto rasteja para longe, como o covarde que é.
Os marinheiros, que até então observavam de braços cruzados, decidem que é hora de intervir. Eles avançam em direção ao espadachim. Enquanto isso, Riku pega a menina nos braços, apertando-a contra o corpo no tempo em que se move rapidamente para longe da briga. Seus passos são largos, seus olhos vasculham a taberna até encontrar a mãe dela, que espera com o rosto pálido.
⸺ Pegue-a. Saiam daqui. Agora.
Riku entrega a menina para sua mãe, que a segura com toda a força que tem. A mulher não diz nada, apenas balança a cabeça, pressionando a filha contra o peito enquanto se afasta. Zoro empurra um banco com força, o barulho ecoando pelo bar, e o chuta sem hesitar, fazendo um marinheiro tropeçar e cair desajeitado no chão com um baque pesado.
Antes que outro pudesse reagir, o caçador de recompensas já se movia. Ele desvia facilmente de um ataque apressado, agarrando o agressor pelo colarinho e batendo sua cabeça contra o balcão com força suficiente para fazer a madeira ranger. O homem cai inconsciente, enquanto Zoro se ergue como se aquilo não tivesse exigido nenhum esforço.
Yerin observa a cena com atenção. Ela se move para os fundos, ficando perto de uma mesa onde um jovem de chapéu de palha está sentado (que parecia entretido demais na briga). Não era sua intenção se envolver, estava satisfeita em apenas assistir. Zoro, por sua vez, retorna ao balcão com a mesma calma despreocupada de antes.
Ele pega sua caneca de álcool e esvazia o conteúdo restante em um único gole. Com um movimento rápido, ele lança a caneca vazia diretamente contra o estômago de um marinheiro que avançava contra ele, fazendo o homem cambalear para trás com um grunhido de dor.
Helmeppo tenta mais uma vez, desajeitado como sempre, balançando sua espada em um ataque desordenado. A lâmina atinge o balcão, mas fica presa na madeira, incapaz de seguir seu curso. Zoro, indiferente, agarra o pulso de outro marinheiro que vinha por trás e o empurra contra mais um que se aproximava, criando uma colisão desastrosa. Sem parar, ele usa o punho de sua espada para acertar a cabeça de um dos homens contra um pilar, derrubando o outro no chão com um chute preciso.
A espada de Zoro permanecia em sua bainha. Ele não havia levantado a lâmina sequer uma vez durante toda a briga. Talvez fosse uma escolha deliberada. Ele não queria derramar sangue nem causar mais destruição do que o necessário.
Seus olhos encontram os de Riku por um breve momento. Há algo intenso naquele olhar, uma troca silenciosa que dura apenas um segundo antes que ele volte a se concentrar em seus adversários. Mesmo cercado por marinheiros, Zoro desvia de cada ataque com facilidade quase irritante, empurrando e derrubando os homens com a mesma destreza calculada.
Um último marinheiro tenta agarrá-lo pelas costas, mas Zoro o levanta com um único movimento e o joga por cima do balcão, como se ele fosse um saco de batatas. Quando o homem aterrissa com um som abafado do outro lado, nenhum outro ousa se aproximar. O bar finalmente mergulha em silêncio, interrompido apenas pelos gemidos dos marinheiros feridos. Apesar do caos, não havia um único corte. Zoro fez questão de não transformar aquela luta em algo fatal.
Restava apenas Helmeppo.
Sem cerimônias, Zoro o agarra pelo colarinho de sua roupa espalhafatosa, erguendo-o com facilidade e o jogando contra o balcão. Helmeppo, indefeso, não conseguia mais manter sua pose de valentia. Ele olha para Zoro com medo estampado no rosto, completamente ciente de sua humilhação.
⸺ Não saque a sua espada a menos que esteja pronto pra usar.
⸺ Não me mata, por favor. ⸺ Ele implora, tremendo nas mãos do caçador. ⸺ O meu pápi pode te dar qualquer coisa que quiser.
⸺ Quem é o seu pai?
⸺ O Capitão Morgan. ⸺ Riku ouve o homem dizer. ⸺ Ele é o responsável por essa base da Marinha.
Zoro suspira, desviando o olhar (mais uma vez) momentaneamente para Riku, antes de voltar sua atenção para o rosto patético do loiro.
⸺ Ele me deve uma grana.
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Riku termina de ajeitar a última cadeira no lugar, murmurando para si mesma, satisfeita com o resultado. Passou as mãos na roupa, tentando limpar o pó invisível, enquanto admirava o trabalho bem feito. Após o caos da briga e a desordem que ficou para trás, coube a ela fechar o local. Quando Ririka voltou, a jovem já estava limpando o lugar, decidiu apenas ajudá-la a finalizar o trabalho.
Riku caminhou até o balcão e deu a volta, parando ao lado da barman, que secava os últimos copos com movimentos firmes. A luz amarelada das luminárias jogava sombras nas paredes, tornando o ambiente mais aconchegante. A mulher mais velha ergueu os olhos quando percebeu sua aproximação.
⸺ Está tudo no seu devido lugar. ⸺ Disse Riku, entrelaçando as mãos atrás das costas.
Ririka olhou para ela com um sorriso caloroso, o brilho da gratidão evidente nos olhos escuros.
⸺ Agradeço por tudo o que fez hoje, querida. Sem você, teria sido impossível colocar essa bagunça em ordem.
Riku deu de ombros, desviando o olhar para a janela, onde a paisagem da noite começava a se revelar.
⸺ Não precisa agradecer. Fico feliz em ajudar. ⸺ Seu tom era simples, mas sincero. Seus olhos cinzentos desviaram por um instante, fixando-se na paisagem lá fora, onde a escuridão da noite começava a dominar. ⸺ Agora está tarde. Preciso ir.
⸺ Por que não dorme na minha casa enquanto estiver na ilha? ⸺ Sugeriu a mãe de Rika, a preocupação evidente na sua voz. ⸺ É o mínimo que posso fazer para retribuir.
A jovem balançou a cabeça suavemente.
⸺ Agradeço, mas não. Gosto de dormir ao ar livre, já me acostumei com o balanço dos barcos. ⸺ Havia leveza na forma como falou, mas seus olhos cinzentos não deixavam espaço para discussão. ⸺ E, por favor, não insista.
Ririka suspirou, percebendo que não conseguiria mudar a opinião da jovem. Guardou o copo no lugar, e sem dizer nada, inclinou-se sobre Riku, segurando delicadamente o rosto dela com as duas mãos. Depositando um beijo maternal em sua testa, o gesto carregado de afeto.
⸺ Teimosa como um touro ⸺ Indaga, com um sorriso resignado. ⸺ Mas vá. E lembre-se: as portas estarão sempre abertas para você, quando quiser voltar.
Riku acenou com a cabeça em agradecimento silencioso. Seus passos ecoam pelo chão enquanto se dirigia à saída, sem olhar para trás. A noite já havia caído por completo, e a cidade parecia encantadora sob a luz fraca das lanternas das casas. As ruas estavam silenciosas, os moradores recolhidos em suas casas, preparando-se para um novo dia. Riku respira fundo, sentindo o ar fresco da noite, e seguindo seu caminho até a baixada.
Shells Town é calma à noite. Ela gosta disso.
O alívio percorre o corpo de Yerin como uma onda quente e acolhedora assim que cruzou a entrada de sua casa flutuante, o barco que ela carinhosamente chamava de lar. Os músculos tensos relaxaram, e um suspiro escapou de seus lábios, adentrando ao pequeno cômodo, ela se joga no acolchoado macio que ficava no canto, deixando-se afundar no conforto que ele oferecia. Seus cabelos se espalharam pelo travesseiro, formando uma moldura de fios ao redor de seu rosto cansado.
Não deveria, mas acabou pensando no caçador de cabelos verdes. Faziam horas desde a última vez que o vira, mas parecia muito mais. Onde estaria ele agora? O que estaria fazendo? A pergunta ecoa em sua cabeça. A Yerin balança a cabeça, determinada a não se perder em pensamentos sobre alguém que não conhecia. A madrugada prometia ser longa, e tudo o que ela deseja era uma noite de sono tranquila.
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