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𝐗𝐗𝐈 ┇ serpentes malignas e arpões.


─── CAPÍTULO VINTE E UM
serpentes malignas e arpões.

     QUANTO MAIS O Peregrino Alvorada se aproximava da terrível Ilha Negra, maior era o temor que crescia no interior de Eris.

Sem sequer se dar conta, a feiticeira levou sua mão a de Caspian, em busca de coragem. O rei entrelaçou seus dedos e beijou o topo da cabeça de sua noiva, enquanto a tripulação encarava o horizonte, sem saber exatamente o que esperar de seu destino.

— O que vocês acham que tem lá dentro? — questionou Tavros, forçando seus olhos negros e oblíquos a enxergarem o horizonte, oculto pela neblina escura que envolvia a ilha.

— Seus piores pesadelos. — responde Edmundo.

— Seus desejos mais sombrios. — murmurou Caspian, sua mão apertando a de Eris.

— Maldade pura. — concluiu lorde Drinian, antes de deixar o leme para se aproximar do minotauro. — Tavros, abra o arsenal.

— Como quiser, milorde. — respondeu o ser, se afastando logo em seguida.

— Arqueiros! — gritou o capitão. — A postos!

Os arqueiros obedeceram de imediato, e Eris não pôde deixar de pensar em Susana. Sua ajuda seria muito útil em um momento como aquele.

Enquanto Tavros e lorde Dumas gritavam ordens complementares, Caspian se virou para Edmundo: — Vamos nos preparar.

Logo o grupo se separou, e Eris e Lúcia desceu para sua cabine para se trocar. A artesã já vestia sua usual camisa de algodão, enfiada para dentro da calça, e calçava suas melhores botas, então retirou seu casaco e o substituiu por uma armadura de couro, com ombreiras simples de bronze. Caspian havia mandado fazer todas as armaduras da tripulação daqueles materiais, para que o ferro não interferisse nos feitiços artesãos de Eris.

A feiticeira deu uma armadura parecida para Lúcia vestir no lugar de seu colete de marujo, achando injusto que a amiga vestisse uma roupa comum quando todos se vestiam para a batalha.

Repetindo em pensamento todos os feitiços importantes que ela havia aprendido no Livro, a rainha prendeu seu cabelo em uma trança firme, para que não a atrapalhasse na hora da ação, e então se encarou no espelho.

A figura que a encarava de volta não parecia a mesma mulher que embarcara naquela viagem, há quase um ano. Parecia uma versão mais cansada e evoluída de si mesma. Mais corajosa também.

Vai dar tudo certo vai dar tudo certo vai dar tudo certo, ela sussurrava a si mesma. Ela temia tanto que algo acontecesse a Caspian. E se algo terrível lhe acontecesse, e ela o perdesse para sempre? E a tripulação? E os Pevensie? O que aconteceria se eles morressem naquele mundo.

— Lu... — chamou a feiticeira, quando as duas já estavam prontas. — Se as coisas acabarem hoje, saiba que eu sou imensamente feliz por tê-la conhecido.

Abraçando a mais velha, Lúcia disse: — As coisas não acabarão hoje. Confie em mim... E eu também sou feliz por conhecê-la.

As duas se separaram, e Eris adentrou a cabine secundária rapidamente para se despedir de Gael, antes das duas rainhas narnianas deixarem o cômodo para seguir seu próprio caminho até o restante da tripulação.

Edmundo e Caspian esperavam por elas na escada que os levava até o convés, ambos vestindo armaduras parecidas com a de Eris.

— Prontos? — perguntou ela, tentando parecer confiante.

— Prontos. — respondeu o Pevensie. Ele encarou a feiticeira com certa tensão, e parecia querer dizer alguma coisa, mas hesitou. Eris imediatamente entendeu que, assim como ela fizera com Lúcia, Edmundo queria se despedir, para caso o desfecho das coisas não fosse o desejado.

A feiticeira sorriu docemente para o amigo, e disse: — Eu sou muito grata por tê-lo aqui comigo, Ed.

O garoto assentiu e os dois se abraçaram com força. Quando se separaram, Ed trocou um olhar com sua irmã, antes dela dizer:

— Vamos subir primeiro.

Então deixaram os dois noivos a sós, o som das ondas e a movimentação da tripulação acima deles os lembrando de que tinham pouco tempo.

O telmarino levou sua mão ao pulso da feiticeira com cuidado, seu polegar passeando pela base de sua palma, até que disse:

— Por favor, tome cuidado lá em cima. Não posso e nem seria louco em impedi-la de se arriscar, mas tome cuidado.

Eris assentiu com a cabeça: — Tomarei. E peço que faça o mesmo.

Caspian sorriu para ela, um sorriso melancólico que não lhe era comum, e se inclinou para beijá-la, as mãos de Eris tocando seu rosto com certa aflição, o medo daquele poder ser o último beijo dos dois invadindo seu peito.

— Amo você, mestre-espiã. — disse ele quando se afastaram.

— Também amo você, príncipe Caspian. — falou a feiticeira, e segurou a sua mão enquanto subiam para o convés do Peregrino da Alvorada.

Toda a tripulação do Peregrino estava lá reunida, e o Grande Rei de Nárnia aproveitou aquele momento para dar seu último encorajamento para o grupo:

— Não importa o que acontecerá aqui — começou ele, próximo ao leme. —, cada alma diante de mim mereceu seu lugar nesta tripulação. Chegamos até aqui juntos; enfrentamos perigo atrás de perigo juntos. E iremos enfrentar mais um destes perigos juntos novamente. Então, eu lhes digo que agora não é hora de cair na tentação do medo. Sejam fortes e não se rendam. Nosso mundo e nossas vidas dependem disso. Pensem nas almas que viemos salvar. Pensem em Aslam... Pensem em Nárnia.

Sem esperar por resposta, Caspian abaixou a cabeça para retornar até o seu lugar, quando Eris sacou sua espada prateada, a mesma que empunhara durante toda a guerra de Telmar, e disse:

— Por Nárnia!

Um a um, os tripulantes do Peregrino da Alvorada repetiram seu gesto, apontando suas espadas e arcos e balestras para o alto e ecoando:

— Por Nárnia!

E então o navio adentrou o nevoeiro.



     A NÉVOA VERDE alcançou o convés em questão de minutos, se dividindo em várias, e cada pedaço dela assumindo a forma do medo de um dos tripulantes.

Desde que descobrira sobre como a Névoa funcionava, Eris nunca tinha conseguido imaginar o que iria atormentá-la. Seria Jadis? Seria Miraz? O que poderia lhe causar tormento?

Até que a Névoa se aproximou dela e tomou forma: uma mulher jovem, de cabelos longos, lábios volumosos... A feiticeira congelou no lugar, porque, a primeira vista, pensou que fosse ela mesma. De todas as formas que a Névoa poderia assumir, fora a própria Rainha Artesã  que ela escolhera.

Mas então se deu conta de que não era ela: era sua mãe, Vivienne.

— Eris. — começou ela, sua voz doce e melódica, como a rainha se lembrava de ser em sua infância. — Venha comigo, passarinha. — pediu ela, e parecia haver tanto amor em suas palavras. Eris sentia falta daquilo. — Venha comigo, e então nós vamos viver juntos, eu, você e seu pai.

A feiticeira fechou os olhos e respirou fundo. Não caria em tentação, por mais que a ideia de ver sua mãe novamente e seu pai pela primeira vez pudesse lhe cativar.

Ela contou até dez e, quando abriu os olhos, a Névoa havia desaparecido.

Logo a rainha se aproximou dos Pevensie, para conferir se estavam bem, e então lançou um olhar na direção do leme, onde estava Caspian. Os olhos dos dois se encontraram, e o rapaz fez um gesto com a cabeça, mostrando que estava bem, apesar do olhar atormentado. Eris fez o mesmo.

Pouco a pouco, as ilusões criadas para o restante da tripulação se desfizeram, e o navio pôde avançar. Quando se aproximavam de uma enorme rocha, a poucos metros da Ilha Negra, ouviram um grito arrastado:

— Voltem! — era uma voz masculina. — Se afastem!

 — Quem está aí? — perguntou Edmundo.

Caspian, ao lado do capitão Drinian, gritou: — Não temos medo de vocês!

— Nem eu de vocês! — devolveu a voz.

Sem esperar que outra pessoa agisse, Edmundo ligou sua lanterna — para Eris, aquele objeto era tão mágico quanto um feitiço de iluminação — e a apontou na direção de seu interlocutor.

Era um homem mais velho, de longos cabelos e barba grisalhos, vestindo farrapos. Eris conseguia ver a loucura em seus olhos.

— Vão embora! — gritou ele novamente, antes de erguer sua espada na direção do navio, como se pudesse lutar com todos nele.

— A sétima espada. — Eris se deu conta.

— Lorde Rupe! — o Grande Rei disse então, se aproximando da amurada para falar com o homem.

— Você não manda em mim! — berrou o homem, e parecia mais estar falando com vozes dentro de sua cabeça do que com qualquer um daqueles tripulantes. A artesã sentiu um arrepio ao imaginar o que acontecia com a mente de alguém que passava anos cercado pela Névoa.

— Não o ataquem. — Eris deu a ordem, enquanto Caspian se punha ao seu lado. Sem nem perceber, ele levou a mão às costas de sua noiva, como que para conferir se ela estava bem. — Vamos trazê-lo a bordo.

Mas não precisaram: antes que um dos marujos pudessem fazer alguma coisa, ou Eris pudesse proferir um feitiço de levitação, Eustáquio, o Dragão, surgiu da escuridão, agarrando o lorde com suas patas e o levando até o convés, onde o largou sem muito cuidado — quem iria culpá-lo? O pobre homem não parava de se contorcer.

— Fiquem longe de mim, seus demônios! — gritou Rupe para quem pudesse ouvir, usando sua espada para cortar o ar ao seu redor, fazendo com que todos se afastassem para não serem cortados.

— Se acalme, lorde Rupe. — disse Eris, usando sua voz mais suave. — Nós não estamos aqui para feri-lo. Viemos deter o mal da Ilha Negra. — o homem finalmente se virou para ela, e a rainha se sentiu segura para continuar. — Eu sou a rainha Eris, e este é o seu rei, Caspian Décimo, da linhagem de Telmar.

— Caspian? — ecoou o lorde, e então encarou o rapaz com surpresa nos olhos. Se aproximou e tocou seu rosto como se não pudesse acreditar. — Milorde... Se parece tanto com seu pai! Mas  senhor não deveria ter vindo! Não há como sair daqui! — ele se virou para os outros tripulantes. — Rápido! Deem meia volta antes que seja tarde demais!

— Já temos a espada! — disse Ed. — Vamos logo!

— Dê meia volta, Drinian. — pediu Caspian, e o capitão pareceu contente em obedecê-lo, correndo para o leme.

Eris precisou se segurar para não suspirar de alívio. Existia alguma coisa naquele lugar que lhe lembrava a Feiticeira Branca, e depois de tantos pesadelos com ela, a última coisa que a artesã desejava era vê-la se materializando diante de si.

— Majestade! — gritou lorde Rupe para o telmarino, quando ele começou a seguir o capitão. — Não deixem que eles saibam seus medos! Não pensem neles, se não eles vão virar realidade!

Mas é claro que, assim que lorde Rupe falou a palavra "medo", Eris e Edmundo já haviam pensado nos seus.

— Ah, por Aslam... — murmurou a rainha, ela e seu amigo se encarando.

— O que vocês pensaram? — perguntou Lúcia, enquanto ela e Caspian se voltavam para a dupla. — Eris, o que você pensou?

— Desculpa! — foi tudo o que Eris disse, quando Névoa Verde apareceu sobre a popa do navio, materializando uma das poucas coisas que a Rainha Artesã realmente temia: a Feiticeira Branca.

Era estranho temer alguém que ela havia derrotado: quando estavam em Monte Aslam e Eris fora enfeitiçada por Jadis, derrotá-la não lhe pareceu muito difícil. Mas após a guerra contra Telmar, um temor estranho começou a dominar seu coração: de repente, ela acordava no meio da noite por pesadelos terríveis com a feiticeira, lembrava-se subitamente das histórias que Ed lhe contara, e vez ou outra um arrepio gélido lhe subia as costas só de pensar em seu nome.

Ao mesmo tempo que Jadis se materializava, Edmundo se aproximava da amurada, apenas para ver barbatanas enormes emergindo das águas, e então sumindo novamente, segundos antes do navio balançar com força, quase virando. A tripulação escorregou pelo convés, parando do lado mais baixo da embarcação, e Eris lutou para se por de pé, ajudando Lúcia a se levantar também.

Aqueles eram os medos pensados por Eris e Ed: uma feiticeira maligna e uma serpente marinha. Perfeito.

— De todos os medos, vocês tinham que pensar nesses? — disse Caspian à noiva, quando ela conseguiu se agarrar à amurada, enquanto lorde Rupe gritava, agitado, sobre o fim eminente.

— Você quer discutir sobre isso justo agora? — retrucou Eris, e o navio balançou novamente.

— Não dá para mudar a forma da serpente? — questionou Edmundo.

— Seres amaldiçoados não contam, eu não tenho o poder de Aslam! — respondeu Eris.

— Está debaixo do barco! — berrou lorde Drinian, e foi quando Lúcia viu a pobre Gael deslizando pelo convés, parando contra a amurada mais baixa.

A cabeça da serpente marinha emergiu no mesmo momento que Lúcia gritava o nome da menina, e só os deuses sabem o que teria lhe acontecido, se Eris não tivesse conjurado um feitiço de levitação, que puxou a menina para os braços da Pevensie em questão de segundos.

Então, Eustáquio apareceu, com Ripchip pousado sobre sua cabeça, gritando palavras de encorajamento, e logo o menino-dragão cuspiu fogo contra o tenebroso ser. Infelizmente, Eris não tinha tempo de assistir o desfecho daquilo: precisava enfrentar Jadis.

— Edmundo! — gritou a artesã. — Cuide do seu medo, eu cuidarei do meu!

E lançou um último olhar para Caspian, antes de se transformar em uma águia e voar até a plataforma de madeira da popa, voltando para sua forma humana diante da Feiticeira Branca.

— Minha velha amiga. — começou Jadis, com desprezo. — Parece que você andou treinando.

Ela ergueu as mãos, e, ao seu lado, Fome, um dos seres sombrios que tentaram reavivá-la anos atrás durante a guerra contra Telmar, se materializou. A criatura ergueu uma de suas mãos, que empunhava a lança de gelo de Jadis, e a entregou para sua mestre.

Um arrepio subiu pela espinha de Eris, mas ela invocou confiança, ao dizer:

— Genioso. Posso tentar? — ela puxou o fôlego, antes de murmurar o mesmo feitiço de iluminação que havia usado quando cruzava a ilha de Ramandu.

Instintivamente, usando seu dom nato para a transfiguração, ela transformou o globo incandescente de luz que surgia sobre sua mão em uma espada feita de luz pura.

Sem esperar por resposta — o erro dos heróis é esperar pela reação de seus vilões —, a jovem rainha apontou a espada na direção de Fome, e não hesitou por um segundo em atravessar o corpo daquele ser feito de trevas com sua luz, fazendo com que ela virasse pó pela segunda vez.

Jadis arqueou de ódio, e antes que ela ou Eris pudessem agir, o navio balançou fortemente. Se a artesã pudesse se virar de costas para sua oponente, teria visto lorde Rupe, em um de seus surtos de insanidade, agarrando o leme do navio para fazê-lo dar meia volta, segundos depois de ter jogado sua espada — a única coisa que o grupo precisava para impedir a mal da Névoa — contra o corpo de Eustáquio, que voou para longe do navio, grunhindo de dor.

A Feiticeira Branca parecia se deliciar com aquele caos, fortalecida por ele, antes de apontar sua lança na direção de Eris, a transformando em rocha na mesma lentidão dolorosa que acontecia em seus pesadelos.

— Você é fraca, e sua magia é inútil contra mim. Não pode salvar seus amigos em Felimate, não pôde salvar Eustáquio, não pôde transformar a serpente, e não pode me destruir!

Aquilo a atingiu. Desde Felimate, as coisas estavam desandando para Eris, ela não podia negar. Mas ela não podia pensar naquilo: precisava fazer alguma coisa para parar de se transformar em pedra. Se ela não tivesse magia, teria virado uma estátua maciça em questão de segundos.

Jadis seguiu:

— Pensou ter me destruído naquela guerra, e eu voltei para os seus pesadelos. Eu me alimento dos seus medos. Você nunca conseguirá me derrotar, porque você não é forte o suficiente.

Você não é forte o suficiente. Aquelas palavras ecoaram pelos ossos de Eris, e ela percebeu que aquele era o seu medo. Não Jadis, mas a materialização de sua maior insegurança: não ser uma feiticeira poderosa o suficiente. A jovem artesã desprezava a Feiticeira Branca, mas ansiava pela imensidão de seu poder, e aquilo a consumia. Era aquilo que a perseguia em seus pesadelos e lhe causava arrepios.

Durante toda a viagem, Eris lamentara e lamentara por não ser útil, por sua magia não ser o suficiente, e a Ilha Negra se alimentava daquela insegurança.

E era apenas uma insegurança. Não era a verdade. Não poderia ser, porque ela passara anos transitando entre humanos e narnianos sem nunca falhar. Porque ela lutou na Batalha de Beruna sem precisar de seus poderes. Porque ela não hesitou em embarcar em uma viagem até o Fim do Mundo, porque ela havia mapeado as estrelas e se transformado em seres inimagináveis e aprendido cada um dos encantos do Livro de Feitiços.

Porque ela não desistira.

— Você nunca será uma rainha de verdade, porque é fraca. Eu sei disso, Aslam sabe disso, até o seu reizinho sabe. — Jadis continuou, indiferente à epifania de sua inimiga, cujas pernas terminavam de se transformar em pedra. — Está na hora de você saber também.

Uma calma cálida cresceu pelo peito da artesã, alimentada pela sua nova descoberta: ela era o suficiente.

— Você está enganada. — Eris respondeu, e foi como se o mundo ao seu redor se silenciasse para que ela pudesse ouvir suas próprias palavras. Seu corpo começou a voltar ao seu estado normal, e ela ergueu sua espada de luz, antes de prosseguir: — Eu sou Eris, a Artesã, a Última Esperança, a Grande Rainha de Nárnia. Foi Aslam quem me concedeu este título, mas foi eu quem o conquistei. Não pela minha magia, mas pela minha coragem. E ela me torna mais poderosa e digna do que você um dia poderia sonhar em ser.

E, quando ela cravou sua lâmina contra Jadis, a arma explodiu em uma luz tão forte, tão ardente, que se expandiu, consumindo a Feiticeira Branca com seu brilho, até que Eris fosse a única feiticeira entre a tripulação do Peregrino da Alvorada.

Queria ter tempo para cantar a sua vitória, para repetir o seu discurso para si mesma uma, duas, três vezes, mas sentiu o navio tombando novamente, a serpente marinha enrolando sua cauda ao redor da embarcação, pronta para afundá-la.

— Caspian! — gritou a feiticeira. O navio tremeu, água se espalhando pelo convés, fazendo com que parte da tripulação escorregasse. Eris se transformou em pássaro, voando até o leme onde estava o telmarino, e voltou para a forma humana, exausta pelo uso da magia. — Caspian, as rochas!

O rapaz entendeu de imediato, e se virou para Ed: — Edmundo! Vamos atrair a serpente até as rochas e esmagá-la!

— Vire a bombordo, que eu levarei ela até a proa! — orientou o Pevensie, e Caspian obedeceu.

Eris ajudou o noivo a girar o leme, enquanto o amigo corria pelo navio, indo até a cabeça do dragão da proa, usando a luz de sua lanterna para atrair a serpente. A rainha observou o momento em que o ser sombrio arrancou a ponta da figura da proa com os dentes, Edmundo escapando por pouco.

— Arqueiros! — berrou lorde Drinian.

Uma chuva de flechas voou contra a serpente, mas foi apenas uma das flechas da aljava de Susana, atirada por Lúcia, que pôde realizar o serviço. Sua ponta atingiu a cabeça da serpente, abaixo de seu olho, e aquele foi o momento ideal que Caspian precisava para a serpente contra a rocha.

O impacto fez todo o navio balançar, Edmundo escorregando da proa e caindo no convés. Eris correu até o amigo.

— Está bem? — perguntou ela, estendendo-lhe a mão para ajudá-lo a se levantar.

Ele a aceitou e se levantou: — Estou... Jadis?

— Eu a detive. — assegurou Eris orgulhosa. — Com um discurso genial e feitiços de luz... Foi estranhamente fácil.

— Mas é claro que foi. — devolveu Edmund, e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a serpente ressurgiu, se erguendo sobre o navio e abrindo suas entranhas de forma ameaçadora.

Eris não pensou duas vezes: invocou um feitiço de fogo, mas a água apagou as chamas que começavam a nascer quase imediatamente. Ela tentava fazer o feitiço de iluminação novamente, ignorando a dor que surgia em sua cabeça pela exaustão, quando a serpente avançou na direção de Edmundo e ela, e eles teriam virado comida, se Caspian não tivesse pulado com tudo sobre eles, os derrubando no chão.

O telmarino foi o primeiro a se erguer, agarrando uma espada caída no chão e a deferindo contra o corpo do animal, arrancando a ponta de uma de suas barbatanas, que se dissolveu assim que se separou do corpo.

— Dá para matar. — disse o Grande Rei, esperançoso, mas, no chão, sua noiva parecia ainda em choque pela quase morte, pelos pensamentos que a atingiram junto à serpente.

— Caspian! — chamou ela, enquanto tentava se levantar, tonta, ao mesmo tempo que o noivo berrava ordens para os marujos, algo sobre arpões. — Caspian!

— Está machucada? — berrou o noivo de volta, esquecendo o caos ao seu redor para dar-lhe atenção enquanto o navio balançava violentamente pelo movimento das águas. Eris negou com a cabeça, então o Grande Rei se virou para Edmundo e gritou: — Suba em um dos mastros! Vamos puxar a serpente para que você possa matá-la!

Ignorando aquela conversa essencial para a morte do monstro marinho, Eris continuou:

— Diabos, Caspian, me escuta! — ela berrou por cima do som caótico que envolvia o convés, e o noivo se virou para ela assustado. — Case-se comigo!

O telmarino encarou a feiticeira como se não tivesse ouvido direito, seu olhar parecendo perguntar: você bateu a cabeça?, e por isso a feiticeira repetiu:

— Casa comigo, Caspian Décimo!

— De todos os momentos, você escolheu agora? — berrou Caspian, escorregando pelo convés quando a serpente agarrou uma das velas do navio. 

— Se não agora, quando?

— Senhor! — chamou um dos marujos, jogando um arpão para o rei, que o agarrou no ar, se posicionando entre os tripulantes, antes de se voltar para sua noiva, que correu para tomar o arpão do marujo ao lado de Caspian. O pobre marujo nem hesitou em entregar-lhe a arma.

— Você tem certeza? — perguntou o rei, a voz rouca de tanto gritar, antes de se virar para seus homens: — Lançar arpões!

— Tenho! — respondeu Eris, e então os arpões foram atirados, cada um acertando seu alvo, que soltou um grunhido alto, se contorcendo de dor.

— Puxem a cabeça para baixo! — orientou Caspian, antes de gritar: — Lorde Drinian! Case a gente!

O lorde, que puxava a corda de seu arpão no fim da fila de homens, cuspiu um pouco de água marinha, antes de dizer:

— Estou ocupado aqui, majestades!

— Pelos deuses, Drinian, não me tire a paciência! Case a gente! — insistiu a feiticeira, encharcada pela água marinha que era espirrada no convés, seus braços ardendo pelo esforço físico.

— Tudo bem, milady! — respondeu o lorde então, enquanto, lá em cima, Edmundo avançava para conseguir decapitar a enorme serpente, sendo impedido pela Névoa, que retornava na forma de um de seus medos. — Estamos aqui reunidos...

— Pula essa parte! — a artesã berrou, antes de recitar um feitiço de levitação na intenção de atrair o monstro marinho para mais perto. Infelizmente, não teve quase efeito nenhum; o animal era pesado demais, poderoso demais. Seu estoque de feitiços vinha acabando, e sua magia também.

— Certo! Eris, você aceita este homem como seu legítimo marido? — perguntou Drinian, ainda puxando a corda do arpão, lutando para se manter de pé sobre o chão molhado.

— Eu aceito! — berrou Eris, segurando a corda com força.

— Caspian, você aceita esta mulher como sua legítima esposa?

— Puxem mais os arpões! — berrou Caspian para os marujos, sem desviar os olhos da feiticeira, e então disse: — Aceito!

— Eu, com o poder em mim investido como o capitão deste navio, vos declaro... — começou Drinian, e antes que pudesse terminar, um pedaço de madeira do navio se soltou, voando pelo convés e atingindo os marujos que seguravam os arpões, levando os soberanos e o capitão para o chão junto a eles.

Acima deles, uma luz, azul como a das espadas na Ilha de Ramandu, brilhou: era a lâmina que Edmundo empunhava contra a serpente, que abria a boca para agarrar o garoto.

Eris suspirou de alívio, porque sabia que, se a espada do Pevensie brilhava como as Sete Espadas, então queria dizer que, de alguma forma, as Sete haviam sido reunidas na mesa de Aslam.

Ninguém ali sabia no momento, mas a loucura de lorde Rupe foi a salvação do grupo, pois quando ele atirou a espada contra Eustáquio, o menino-dragão pôde voar de volta à Ilha de Ramandu, onde encontrara o único ser capaz de quebrar seu feitiço: Aslam.

E depois de encontrar Aslam, as coisas tendiam a ficar mais fáceis.

O Rei Justo cravou sua espada contra o céu da boca da serpente, raios coloridos surgindo e atingindo o corpo do terrível animal, que grunhiu, se contorcendo antes de cair de volta para o mar. As águas se moveram com o peso do animal, balançando o navio e derrubando mais de seus tripulantes.

Caspian se esforçou para levantar, afastando o cabelo molhado do rosto, um pouco tonto, antes de estender a mão para Eris, que a aceitou e se ergueu também, tão ensopada de água marinha quanto ele. Os dois se encararam, amor sincero por trás de seus olhos, e então o telmarino se virou para Drinian:

— Tudo certo, capitão! Pode terminar!

As nuvens escuras que escondiam o céu começaram a se afastar, quando o capitão se pôs de pé e, tomando um fôlego, terminou:

— Eu, com o poder em mim investido, vos declaro marido e mulher. Rei Caspian, pode beijar a noiva.

Com o céu já limpo, a luz do sol brilhando contra o casco do Peregrino da Alvorada, Caspian se virou para Eris, envolveu sua cintura com o braço direito, a mão esquerda tocando seu queixo com certo louvor, e a beijou.

E aquela seria a história que os dois contariam, anos no futuro, a qualquer um que perguntasse ao casal como foi o casamento dos dois.

Mas quase ninguém acreditaria.



── NOTAS.

UM.    ︴assoem os sinos, o casamento aconteceu!  qualquer semelhança com o casamento de will turner e elizabeth swan de piratas do caribe é mera coincidência!

DOIS.    ︴espero que tenha gostado do capítulo e nos vemos no capítulo final de last hope (inclusive, aqui a gente já tem intimidade o suficiente para eu falar que é pra vcs me encherem de biscoitos lá pq sou uma autora carente!!!)💕 até lá!

©︎DEVILEVIE, 2022.
────── evie.

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