Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

𝐗𝐕𝐈𝐈𝐈 ┇ provações no peregrino da alvorada.


───────── CAPÍTULO DEZOITO
provações no peregrino da alvorada.

     QUERIDO DIÁRIO,  ESCREVEU Eustáquio Mísero em seu caderno, que estava escondido em suas roupas quando ele caíra naquele mar horrível, e que havia secado milagrosamente apesar da água marinha. Por razões além da minha compreensão, aceitamos um conselho de um louco senil que não se barbeia e desfila por aí com uma camisola. Portanto, voltamos a esta banheira flutuante (o tal do Peregrino da Alvorada) e estamos perdidos em uma tempestade. Sensacional.

— Eustáquio! — cumprimentou Eris, como se a palavra "sensacional", irônica ou não, fosse capaz de invocá-la. Ela segurava uma lamparina, e com a mão livre, precisou se agarrar a uma pilastra, para não cair pelo balançar do navio. — Espero que não esteja muito enjoado pela tempestade. Sempre sinto mal estar com esse tipo de coisa.

Eris era um mistério e tanto para Eustáquio. Todos a encaravam como se ela fosse uma celebridade, e o menino não fazia a mínima ideia do porquê. Ela sequer soava como uma pessoa real: desde que ela tivera sua conversa secreta com o mago de camisola, Coriakin, qualquer coisa parecia deixá-la uma pilha de nervos. Havia assumido uma aparência... Exausta. Além disso, dizia ser uma bruxa, mas ele nunca a vira fazer feitiço algum.

— O que está fazendo aqui? — o Mísero questionou, soando mais grosseiro do que desejava.

— Vim procurar por óleo para a minha lamparina. — respondeu ela, erguendo o objeto, como se tentasse provar o que dizia. — O fogo está quase se apagando, e eu acho que há um feitiço para acalmar esta tempestade no meu livro.

Eustáquio arqueou a sobrancelha: então ela era mesmo uma feiticeira?

— Jura? — questionou ele. — Posso ver você o fazendo?

Eris o encarou, desconfiada, até que seu rosto começou a se abrir em uma expressão contente, e ela acenou com a cabeça.

— Claro. Ainda não fiz feitiço nenhum do livro perto de alguém além de Ed. Ter uma plateia nova será bom. — disse ela, andando pelo cômodo até um armário, onde guardavam alguns suprimentos. De lá, tirou o óleo que precisava, alimentando a chama de sua lamparina.

Então guiou o menino para o piso superior, onde ficava a cabine real. A cabine ficava abaixo do convés, e por isso era possível ouvir os gritos da tripulação, que tentava lidar com a fúria da tempestade.

— Tenho uma pergunta. — o menino disse, enquanto eles atravessavam o corredor. Ela parou e o encarou, à espera de seu questionamento. — Se você é aquilo que você falou... Uma Maga do Mundo Estragado...

— Bruxa do Mundo Imperfeito. — corrigiu a jovem.

— Isso, tanto faz. Se você pode sair transformando a aparência das coisas, porque não se transformou na ilha Felimate?

Eris parecia envergonhada ao responder: — Porque havia muito ferro lá, e eu não consigo me transformar quando estou cercada por ferro.

— Certo, mas e depois? Porque não te vi fazendo nenhuma outra vez?

— Nas outras vezes você não viu porque não estava por perto. — começou a feiticeira. — E sobre transformar as coisas, eu não transformo o mundo ao meu redor porque este não é o Mundo Imperfeito, é Nárnia. Não há nada que precise ser melhor do que já é... Além disso, nenhum músico passa o dia inteiro cantando. Porque um feiticeiro deveria passar o dia inteiro fazendo feitiços?

— Isso soa como uma desculpa. — desafiou o menino.

Eris parou e abriu uma expressão tão rica em sarcasmo que foi impossível não pensar em Edmundo. Então, ergueu a mão esquerda e fez um gesto esquisito, o ar ao seu redor se curvando.

Eustáquio não tinha certeza do que aconteceu: seus olhos doeram como se ele tivesse encarado o Sol, e quando se deu conta, viu a si mesmo no lugar de Eris: ela havia assumido a sua aparência.

Que sensação horrível ele sentira: como se sua mente tivesse dado um nó, como se a realidade tentasse lhe convencer de que ele estivera enganado aquele tempo todo.

— Isso parece uma desculpa para você? — questionou a feiticeira então, usando a sua voz, a sua aparência, e Eustáquio abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer.

Então Eris (ou ele, ou Eris-sendo-ele, ou ele-sendo-Eris) gargalhou, uma gargalhada cheia de divertimento que Eustáquio nunca dera na vida, e quando o menino se deu conta, ela já estava de volta a sua aparência, e sua mente havia dado um outro nó.

— A dor de cabeça passa logo. — garantiu a rainha, como se aquilo não fosse nada demais, enquanto Eustáquio sentia a queimação por trás dos olhos, um dos efeitos de observar um feitiço artesão acontecendo diante dos seus olhos.

— Então... Essa — ele apontou para Eris. —, não é a sua aparência de verdade?

Eris o encarou quase ofendida: — É óbvio que sim! Eu digo, claro que eu passei parte da infância sobre outra forma, mas essa sou eu de verdade.

— Qual a outra forma?

A artesã sorriu: — Um pardal.

Então eles adentraram sua luxuosa cabine real, e o Mísero observou contrariado o conforto que a rainha tinha, enquanto ele tinha que dormir em uma rede perto daquele irritante rato Ripchip.

Indiferente aos pensamentos do menino, Eris cruzou sua cabine, indo até uma mesa sob uma janela redonda, onde estava um livro imenso. Eustáquio se aproximou, curioso pela aparência do livro. Ele tinha a capa de ferro, cheia de letras em alto relevo por ela espalhadas. Também era fechado por uma tranca, mas não tinha onde colocar a chave.

A feiticeira se inclinou sobre o livro e assoprou sua capa como se ela estivesse quente. Imediatamente, Eustáquio viu as letras se movendo, formando o título: O Livro de Feitiços. A tranca do livro se abriu, e Eris começou a folheá-lo.

O menino a encarou, observando sua expressão de concentração. Percebeu que Eris tinha algumas olheiras, coisa que ela não tinha antes da ilha de Coriakin. Ele considerou perguntar o que lhe tirava o sono, mas o livro parecia mais importante no momento.

Eles pararam em uma página que dizia "feitiço infalível para virar aquela que você sempre julgou ser a mais bela", e perceberam que a página ao lado dela, onde deveria estar escrito o feitiço, havia sido arrancada. Eris arqueou a sobrancelha, curiosa, mas logo passou a página, procurando pelo feitiço que realmente lhe importava.

Eustáquio observou que o livro não tinha uma divisão muito clara. Se ele tivesse escrito o livro, teria o separado em sessões: primeiro feitiços da natureza, então feitiços para mudar a aparência das coisas, e então feitiços de...

— Encontrei! — exclamou Eris, interrompendo os pensamentos do menino.

Ele encarou a página: ela era adornada por desenhos de nuvens escuras e raios de um lado, e então de um céu limpo e sol brilhante do outro, e seu título dizia: "feitiço para acalmar uma tempestade". Parecia estranhamente específico, mas ele supôs que a intenção do livro fosse oferecer feitiços úteis mesmo.

— E agora? — questionou o Mísero.

— Agora eu recito o feitiço. — disse ela. Ela respirou fundo, como se procurasse concentração, e Eustáquio, deu um passo para trás, imaginando que dar-lhe espaço ajudaria. Eris encarou a página do livro, e então recitou: — Que da fúria dessa tempestade, eu encontre a calma de uma garoa. Torne os ventos que me assustam em uma doce brisa boa.

Que coisa mais ridícula, pensou Eustáquio. O Livro de Feitiços deveria ter sido feito pelo pior poeta do mundo. Talvez ele precisasse de algumas aulas de literatura inglesa... Mas então o navio finalmente parou de balançar, e a chuva se tornou imediatamente suave, o céu se abrindo como se as nuvens estivessem sendo assopradas para longe.

Os dois se encararam, Eris soltando uma risada satisfeita, suas olheiras quase desaparecendo pela sua expressão contente.

Eustáquio abriu um pequeno sorriso. Talvez — talvez — ele tenha entendido o porquê da jovem lhe passar aquela imagem de "celebridade". Ela era mesmo cativante. E bem, usara um livro mágico para acabar com uma tempestade. Existia algo de especial na forma que ela fizera tudo aquilo.

— Sabe de uma coisa? — começou o garoto. — Desisto de não acreditar em você.

           

           

     NO FINAL DAQUELA mesma semana, Lúcia vivenciou o contrário de seu primo Eustáquio: enquanto o menino finalmente cedia aos encantos da Grande Rainha Eris, a Pevensie era sufocada por eles.

Tudo começou com uma situação vergonhosa que Lúcia não havia contado a ninguém: quando estivera na ilha de Coriakin, os tontópodes tinham a sequestrado para que ela adentrasse a mansão do mago e lesse no Livro de Feitiços um encanto que anulasse a invisibilidade de seus sequestradores.

Quando ela folheou o livro, encontrou uma página com um feitiço pelo qual ansiava sem saber: o "feitiço infalível para virar aquela que você sempre julgou ser a mais bela". Na página ao lado, havia uma pintura onde era possível enxergar a si mesmo com a aparência que você acreditasse ser a mais bonita de todas.

E Lúcia se enxergou como Eris.

Ela entendia bem o porquê: havia um pedaço da Pevensie, um pedaço que ela tentava esconder de si mesma, que sentia inveja de garotas como Eris e Susana. Ter chegado ao Peregrino da Alvorada e encontrado Eris naquela vida perfeita fez com que aquela inveja crescesse junto à sua admiração.

A artesã era maravilhosa. Bonita, engraçada, poderosa, livre. Livre de um jeito que ninguém mais conseguiria ser.

Pedro se encantara por ela imediatamente, Edmundo a exaltava como se ela guardasse consigo os segredos do universo, metade da tripulação a tratava não como uma rainha, mas como uma deusa. Até mesmo os mercadores de escravos usaram sua beleza para descrevê-la.

E Caspian... Ele arrancaria o Sol do céu se Eris dissesse que preferia o escuro. Os dois estavam juntos há anos, e toda vez que o telmarino a via, era possível vê-lo se apaixonando pela noiva novamente.

Lúcia queria aquilo.

Queria ser vista como mais do que uma garota boba. Queria que alguém tão incrível quanto Caspian olhasse para ela como ele olhava para Eris, e queria ser livre e selvagem e poderosa como a feiticeira era. Queria tudo aquilo.

Então, ainda na mansão de Coriakin, antes que ela pudesse fazer o feitiço de visibilidade, a Pevensie arrancou a página do livro para si, impulsionada por aqueles pensamentos, por aquela inveja que não lhe era comum, e, dias mais tardes ela não aguentou mais evitar, e decidiu que faria o feitiço.

No meio da noite, ela se sentou sobre a cama do quarto que Eris cedera a ela, e que agora dividia com Gael, e resgatou a página que escondia consigo desde a ilha. Após puxar uma respiração profunda, a garota começou a ler:

Transforme tudo direito, me torne o ser perfeito. Cílios e lábios sem defeito. Faça-me ela, que é tão mais bela do que eu tão singela. — a menina leu o feitiço, mas não sentiu nada mudando em si. Será que ela havia conseguido? Será que ela era tão linda quanto Eris e Susana?

Lúcia se ergueu da cama, indo até o espelho da cabine e o encarando em busca de mudanças. Viu seu corpo se alongando, sua pele assumindo um belíssimo tom de oliva, seus cabelos castanhos escurecendo e crescendo, sua camisola de algodão claro se transformando em um vestido vermelho e dourado, até que seu reflexo não era mais só seu, era de Eris.

A garota não tinha imaginado que, ao querer ser tão bela quanto a artesã, ela se tornaria a artesã.

De repente, Lúcia conseguiu ouvir o som de uma música típica narniana vindo do interior do espelho, e levou a mão até sua superfície, o empurrando como uma porta. Ela fez o certo, pois o espelho se abriu, a levando até um lugar que não via há mais de um ano: o pátio do Castelo de Telmar, justamente no dia em que narnianos e telmarino se uniram para comemorar a coroação de Caspian e Eris.

— Tenho o prazer de anunciar a Grande Rainha de Nárnia! — uma voz disse assim que Lúcia adentrou o pátio, em um sotaque telmarino fácil de reconhecer.

O lugar explodiu em palmas, todos parando para observar a jovem, elogiando-a pelo sue poder e beleza. Lúcia sorriu, tímida pela atenção, quando Caspian e Pedro surgiram para acompanhá-la, cada um lhe estendendo o braço para que ela o segurasse. Ela aceitou os dois, um de cada lado.

— Está estonteante hoje. — elogiou Pedro, seu olhar encantado como sempre.

— Como sempre está. Não é de se admirar que ela tenha partido seu coração. — comentou Caspian, e os dois riram, como se aquela não fosse uma coisa terrível de se dizer. — Vejam, Susana e Edmundo chegaram!

Os dois cumprimentaram os outros Pevensie, que se aproximaram sorridentes.

— Por Aslam, como você está linda! — Susana a elogiou, contente como se visse uma velha amiga. — Deveríamos dar uma volta mais tarde. Tem dezenas de rapazes telmarinos loucos para vê-la.

— Eris não precisa disso, tem dois obcecados por ela logo aqui. — brincou Ed, e todos riram. — Como é bom estarmos todos juntos. Os antigos e novos reis e rainhas de Nárnia!

O grupo concordou, absolutamente ignorante ao fato de que aquela era Lúcia, não Eris.

— Espera, mas e eu? — questionou ela, e todos a encararam, confusos. — Ahn... Cadê a Lúcia?

— Lúcia? — questionou Susana, confusa. — Lúcia nunca voltou para Nárnia conosco.

— Ela já não era importante o suficiente para voltar. — comentou Pedro, tranquilo. — Não quando tínhamos Eris por aqui.

— Exatamente. — confirmou Edmundo.

— Isso não tem graça alguma. — Lúcia disse, exasperada. — Eu estou bem aqui com vocês!

— Sim, Eris, você está aqui. — Caspian confirmou, rindo como se aquela fosse uma piada entre os dois. — Você é a Rainha Artesã de Nárnia. É claro que está aqui conosco.

Todos concordaram, indiferentes ao desespero da garota, que crescia cada vez mais em seu interior. O que ela tinha feito?

E então, os fogos de artifício que haviam sido separados especialmente para comemorar a coroação da rainha Eris explodiram no céu, seu brilho tão ofuscante que Lúcia precisou levar as mãos aos olhos. Quando os retirou, estava de volta à cabine do Peregrino da Alvorada.

Temendo que ainda estivesse presa à forma de Eris, Lúcia encarou o espelho e viu, aliviada, que era ela mesma novamente. Mas tinha algo a mais: junto ao seu reflexo, era possível ver Aslam.

— Lúcia. — o Leão a chamou, sua voz carregando uma decepção que chegava a doer no peito da garota.

— Aslam. — disse ela, e então se virou para trás, procurando-o em sua cabine, apenas para se dar conta de que ele era uma visão restrita àquele espelho.

— O que você foi fazer, criança? — questionou ele, quando Lúcia o encarou no interior do espelho novamente.

— Eu não sei. — respondeu. — Foi horrível.

— Mas foi escolha sua. — devolveu o Leão.

— Aslam, eu não escolhi tudo aquilo. — ela se defendeu. — Eu só queria ser bonita como Eris e Susana... Só isso.

— Você desejou ser outra pessoa, desejou que ela assumisse o seu papel, então ela o fez.

A garota suspirou, envergonhada: — Aslam, eu me arrependo tanto.

— Você duvida do seu valor. — disse ele. — Não fuja de quem você é.

Então um trovão ribombou pela cabine, e a Rainha Valente acordou em sua cama, seu coração batendo forte contra o peito.

Ela percebeu a folha do Livro de Feitiços sobre seu cobertor e, sem pensar duas vezes, a amassou com toda força do mundo e a jogou para longe.

Isso não é o suficiente, pensou ela. Deveria queimar aquela folha para que ninguém passasse por aquilo. Infelizmente, sua cabine não tinha uma lareira, mas a de Eris tinha.

Hesitou um pouco, antes de deixar sua cama e ir até a porta que separava sua cabine da cabine da artesã, mas o terror daquele pesadelo se fez maior, e ela logo bateu na porta com delicadeza, torcendo para que ela estivesse acordada.

Em uma questão de segundos, a porta se abriu, revelando uma jovem com cabelo amassado e olheiras, muito diferente da Eris que Lúcia imaginou quando fizera o feitiço.

A Pevensie havia se esquecido do quão exausta a artesã vinha se mostrando nos últimos dias. Edmundo havia comentado que Eris não desgrudava mais do livro que Coriakin tinha lhe dado ("parece que Eris arrumou um namorado novo, não é, Caspian?", o garoto havia provocado o telmarino), tentando desvendar cada um de seus feitiços, e aquilo parecia estar lhe tirando algumas horas de sono. Ou todas elas.

— Está tudo bem, Lu? — perguntou a feiticeira, a voz baixa para não acordar Gael.

— Está... — respondeu Lúcia, se abaixando para pegar o bolo de papel que ela fizera. — Só preciso usar sua lareira.

A rainha observou o pedaço de papel, mas nada disse. Apenas deu espaço para que Pevensie passasse, e fechou a porta sem fazer barulho algum.

Lúcia foi direto até a lareira, temendo que, se demorasse muito para queimar aquela página, perdesse a coragem. Então jogou o papel no fogo, o observando queimar.

— Suponho que este fosse o "feitiço infalível para se tornar a mais bela". — comentou Eris, quando a folha virou cinzas. Lúcia se virou para ela, curiosa.

— Como você sabe?

— Eu vi a folha faltando no livro de feitiços. — respondeu Eris, apontando para o livro de capa de ferro que repousava sobre sua mesa. — Venho o estudando sempre que posso.

— É por isso que está com as olheiras? — questionou Lúcia, e tão logo as tais olheiras haviam sumido do rosto da artesã. Usar magia para fazer com que ninguém se preocupasse com seu estado era a cara de Eris, pensou a Pevensie. — Está passando as noites em claro estudando o livro?

— Na verdade, estou passando as noites em claro evitando ter pesadelos. — revelou a feiticeira, sua voz carregando certa tristeza.

— Sinto muito, deve ser horrível. — disse Lúcia.

— Não se preocupe. Todos estamos sendo testados, e meus sonhos ruins não são o meu teste. — ela apontou para o Livro de Feitiços. — Aquele é o meu teste... E acredito que você acabou de passar pelo seu.

Lúcia assentiu com a cabeça, envergonhada.

— Sim... Eu queria ser bonita como você, e acabei me metendo em uma confusão terrível por isso. — admitiu.

Eris a encarou com um olhar surpreso: — Você está falando sério?

— Eu sei que parece bobagem, mas é sério para mim... Não sei, parece que nenhum garoto me olha da forma como Caspian olha para você, ou como alguns rapazes olham para Susana. Eu só queria ser bonita o suficiente... Me sentir vista.

— Não diga isso. Você é linda, e mesmo assim beleza não é tudo. Precisa encontrar alguém que veja o quão incrível, inteligente e corajosa você é. Se não encontrou algum admirador, então só quer dizer que ainda não surgiu alguém capaz de enxergar todas essas qualidades em você.

— Mas você já tinha Caspian na minha idade, e Susana parece ter muito mais do que um admirador. — Lúcia retrucou. — E Pedro não se encantou por você à primeira vista?

— Ter Caspian na minha vida nunca foi uma questão de beleza. Foi sorte, um milagre ou um presente. Nos conhecemos muito antes de ele entender o que era beleza ou o contrário disso. — contou Eris. — E Susana e você não são a mesma pessoa.

— Mas e Pedro? Ele também era encantado por você. — insistiu Lúcia.

— Por Aslam, Lúcia. — disse a artesã. — Eu apareci para ele voando em forma de uma ave régia e me transformei em humana diante dos olhos dele. Estranho seria se ele não se encantasse.

— Certo, você tem um bom argumento. — Lúcia disse, divertida, e Eris sorriu para ela.

— Só... Não compare a Susana e eu, certo? Somos pessoas diferentes, e temos nossos próprios defeitos e inseguranças. Lembre-se do que Coriakin disse: todos nós seremos testados. E se seremos testados, quer dizer que temos inseguranças e medos e ambições. Olha só para mim: você acha que se minha vida fosse só beleza e romance, eu estaria cansada desse jeito? Ninguém é só o que você consegue ver, Lu.

— Você está certa. — admitiu a Pevensie, pensando em todas as inseguranças que Eris vinha enfrentando desde que falhara em seus feitiços na ilha Felimate. E no quão obcecada pelo Livro de Feitiços ela vinha se mostrando desde que deixaram Coriakin, como se ele fosse sua única forma de se redimir. Devia ser horrível sentir a necessidade que ela sentia de se redimir por um erro que só havia machucado ela mesma.

Quando Lúcia vira Eris se transformando em todos aqueles seres fantásticos na Revolução Narniana, pensou no quão difícil deveria ser administrar todo aquele poder. Agora, vendo tudo o que ela vinha passando por causa daquele paradoxo de ferro e artesãos, pensava no quão difícil deveria ser ter tanto poder e ainda sim sentir que necessitava de mais.

Indiferente às observações da garota, a artesã disse: — E eu sinto muito por fazê-la se sentir desta forma. Gostaria que você se visse com os meus olhos ao menos uma vez. Dos antigos reis e rainhas de Nárnia, você sempre foi quem eu mais admirei, desde a infância. Foi você quem encontrou Nárnia, foi você quem salvou Aslam, foi você quem o encontrou e nos ajudou a vencer a guerra contra Telmar. Nárnia tem sorte de tê-la aqui.

A Pevensie sorriu: — Obrigada, Eris.

A feiticeira retribuiu seu sorriso, antes de dizer: — O que acha de irmos ver Caspian e Ed? Temo que eles também estejam tendo pesadelos.

Ela não estava errada.

Enquanto Lúcia e Eris conversavam, Caspian mergulhou em um sonho terrível, do tipo que era tão horrivelmente incômodo que o fazia se esquecer de que aquela não era a realidade. Nele, o jovem observava Caspian IX, seu pai, sentado em uma mesa no Quarto Real do castelo de Telmar, conversando e tomando vinho com seu irmão, Miraz.

De alguma forma, o jovem tinha certeza de que o cálice de seu pai fora envenenado por seu tio. Ele tentava avisá-lo, alertá-lo da traição do irmão, do futuro horrível que o aguardaria se ele tomasse aquele vinho, mas sua voz não era ouvida.

— Pai — ele tentava dizer — não confie nele, ele deseja te matar!

Não importava o quão alto Caspian tentava falar, seu pai não escutava. Ele passou minutos desesperadores usando todo o ar dos seus pulmões para gritar, sua garganta ardendo pelo esforço, mas suas palavras soavam tão baixas que facilmente se misturavam aos sons do ambiente: o vento, os passos de criados nos corredores, qualquer coisa a qual ninguém dava a mínima.

Então tudo o que ele pôde fazer, com os olhos úmidos pelas lágrimas e o corpo rígido pela angústia, foi observar o próprio pai tomar seu cálice envenenado, enquanto Miraz o encarava com um prazer maligno.

Ele ficou lá, no Quarto Real, invisível e impotente, observando a terrível morte de seu pai, até que sentiu uma força invisível apertando seu ombro, e seu corpo começou a se aquecer de dentro para fora, derretendo sua angústia até que ela desaparecesse, e ele fosse capaz de acordar.

— Caspian? — ele ouviu uma voz chamá-lo, quando retomou a consciência. Era Eris, seu rosto carregando a mesma expressão de preocupação que ele havia lhe concedido quando era ela quem sonhava na ilha de Coriakin. — Foi só um pesadelo, querido, está tudo bem.

O rapaz demorou um tempo para falar alguma coisa, mas pôde perceber que Edmundo e Lúcia também estavam de pé, ambos com suas próprias expressões aflitas. O Pevensie mais velho tinha uma espada em sua mão, como se estivesse pronto para um combate.

— Consegue se mexer? — perguntou Eris, sua mão tocando seu peito, sobre o coração.

— Sim. — disse ele finalmente, antes de se sentar na rede sobre a qual vinha dormindo desde que cedera sua cabine à feiticeira. — O que estão fazendo aqui?

A pergunta era dirigida a dupla de rainhas, que não dormiam naquele piso.

— Perdemos o sono. — respondeu Lúcia, mas parecia haver algo por trás daquilo.

— Já até sei. — disse Ed. — São pesadelos, não são? Ou estamos enlouquecendo. Ou estão brincando com nossas mentes.

— Não duvidaria dessa possibilidade. — comentou Eris. Ela parecia tão exausta, percebeu Caspian. Parecia exausta desde a ilha de Coriakin. — Só vim ver se estavam todos bem. Precisam de alguma coisa?

— Não. — respondeu respondeu o amigo e então emendou: — E você? Precisa de alguma coisa?

A artesã balançou a cabeça negativamente, e Ed conseguiu sentir certa tristeza em seu olhar. Não ousou perguntar o que a incomodava. Com Eris as coisas funcionavam daquela forma: se ela guardava algo para si, não existiria nada no mundo que a faria compartilhar seus pensamentos se não vontade própria.

— Só preciso dormir um pouco. — disse ela, por fim, antes de se virar para Caspian. — Me acompanha até a cabine?

Os dois se encararam por alguns segundos, antes do jovem rei soltar um "aah" de compreensão, e deixar sua rede, dando um "boa noite" aos dois Pevensie e subindo as escadas para o piso superior com a rainha.

Obviamente, ele não voltou, e Edmundo até considerou fazer algum comentário maldoso com o casal no dia seguinte, mas se lembrou do quão aterrorizada Eris parecia ao ter tido aquele pesadelo na ilha de Coriakin, de como seus olhos estavam vidrados e úmidos pelas lágrimas, de seu corpo congelado, da expressão aterrorizada, e logo se deu conta de que ela não devia mesmo dormir sozinha.

Como ela suporta esses sonhos terríveis?, Ed se perguntou.

              

             

── NOTAS.

UM.    ︴olá, pessoal! eu tinha ficado um pouco insegura em mudar essa cena em que a lúcia faz o feitiço, mas realmente acho que faz sentido ela se sentir insegura na sua convivência com a eris, que está mais próxima dela e que parece ter a vida perfeita. espero que vocês tenham gostado das coisas desse jeito!

DOIS.    ︴last hope está com 2K de votos!! obrigada obrigada obigada! ❤❤

TRÊS.    ︴me contem o que estão achando e deixem suas estrelinhas 🌟 até o próximo capítulo 💕

©︎DEVILEVIE, 2022.
────── evie.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro