𝐗 ┇ o terrível destino de miraz.
────── CAPÍTULO DEZ
o terrível destino de miraz.
CONFESSADOS OS SEUS sentimentos, Caspian e Eris não tiveram mais do que três ou quatro dias sem conflito. Esses poucos dias foram passados quase completamente nos salões do esconderijo, para as reuniões do Conselho de Guerra, onde a maioria se mostrava ansiosa quanto à resposta telmarina.
A ansiedade se tornou ainda maior quando Eris se transformou em andorinha para espionar o castelo telmarino e encontrou uma multidão de camponeses e soldados assistindo a coroação de Miraz: ele havia finalmente largado seu teatro de Senhor Protetor de Telmar e se autoproclamou seu rei.
Aquilo transtornou Caspian, o que, por sua vez, transtornou Eris também.
Quando não estavam discutindo guerra ou liderando, a narniana e o telmarino começaram a pegar turnos de vigia juntos, onde aproveitavam a privacidade para trocar planos para o futuro. Foi em um destes turnos, pouco antes do meio-dia, que os dois viram um fauno saindo da floresta trotando apressado em direção ao esconderijo.
O príncipe e a feiticeira se entreolharam. Aquele devia ser um dos narnianos que ficavam escondidos na floresta, vigiando. Se estava trotando tão desesperado até os rebeldes, algo estava errado.
— Vou até ele. — Eris avisou, antes de se transformar em uma águia e voar velozmente de encontro ao fauno.
Se transformou de volta à forma humana ainda no ar, pousando no chão sem fazer barulho, encontrando o jovem fauno com um olhar desesperado.
— Os telmarinos estão na floresta. — disse ele, ofegante. — Um exército inteiro. Enorme. Estão há dez minutos daqui. Talvez menos. Montaram acampamento para a liderança mais atrás, mas parecem prontos para atacar.
Ela conseguiu ouvir o som de passos pesados se aproximando ao longe e pela forma que o chão sob seus pés vibrava, aquilo só podia significar que a dimensão do exército era imensa.
— Deuses. — Eris disse, antes de levar a mão até o cinto, onde carregava uma trompa negra, a mesma que usara para chamar os narnianos no saque ao acampamento telmarino. Ela a assoprou com toda a força, o som ressoando por todo o campo, avisando os outros vigias, que imediatamente assopraram de volta.
Logo a feiticeira voltou para a forma de coruja, alcançando o príncipe telmarino.
— Os telmarinos chegaram. — ela avisou, quando pousou em sua forma humana. Precisou se apoiar no rapaz pela tontura que as transformações rápidas lhe causaram. — Chame Glenstorm. Vou até Pedro.
Sem nenhuma crise de ciúmes ao ouvir a menção ao rei, o rapaz beijou o topo da cabeça da feiticeira e correu para o interior do esconderijo, enquanto Eris gritava comandos aos vigias da outra extremidade do esconderijo, antes de adentrar Monte Aslam, indo direto para o salão dos irmãos Pevensie.
Quando chegou, encontrou apenas Edmundo, brincando com sua lanterna distraidamente.
— Ed! — ela o chamou. — Os telmarinos estão chegando. Um exército inteiro. Onde está Pedro?
O amigo se levantou de prontidão:
— Com Lúcia, no grande salão. — o garoto informou, e os dois logo correram para lá.
Encontraram Pedro e Lúcia conversando calmamente, completamente isolados da realidade lá fora.
— Pedro. — Edmundo chamou assim que ele e Eris se aproximaram. — É melhor você vir.
E então o Grande Rei e a Rainha Destemida seguiram a dupla até a entrada do esconderijo, onde encontraram Caspian à sua espera.
— Por Aslam. — Edmundo sussurrou, sem fôlego, ao ver o imenso exército que se aproximava: milhares de homens, todos vestidos com armaduras escuras e brilhantes, marchando em sincronia, com pelo menos seis catapultas à vista.
— Precisamos fazer um plano agora. — disse Eris fazendo todos os olhos próximos se virarem em sua direção. Nem percebeu que Trumpkin, Susana e Cornelius estavam lá também. — As coisas não podem se sair como da última vez.
— Eris está certa. — disse Susana, seu olhar assombrado pela extensão do exército. Ela não via um número de soldados tão grande desde a guerra contra a Feiticeira Branca. A rainha se virou para o irmão mais velho: — Pedro, por favor, me diga que você tem o plano perfeito.
Mas ele não tinha. Pelo menos não aos olhos de Trumpkin.
— Com trinta diabos! — bradou o anão vermelho, quando ele e parte do Conselho de Guerra se reuniu em um salão próximo à entrada do esconderijo, com Caspian e os Pevensie. — Esse é o seu grande plano? Enviar uma garotinha para a parte mais escura da floresta? Sozinha?
Aquele era o plano perfeito de Pedro: iriam atrasar os inimigos, enquanto Lúcia ia até o canto mais antigo da Floresta para encontrar Aslam, por mais insana e improvável que aquela jornada parecesse.
— É nossa única chance. — Pedro replicou.
— E ela não estará sozinha. — acrescentou Susana, ao lado de Lúcia.
Trumpkin se aproximou da menina, o olhar já devastado: — Já não basta o tanto que já morreram?
— Nikabrik era meu amigo. Mas ele perdeu a esperança. — Caça-Trufas interferiu, quando percebeu de que morte o anão dava ênfase. — Rainha Lúcia não. E nem eu.
— Muito menos eu. — disse Eris, recebendo alguns olhares surpresos. Ela quase nunca falava do Leão, por mas que tivesse se mostrado inabalável quanto às suas crenças sobre a volta dos Antigos Reis e Rainhas, tantas semanas atrás. — Sou uma bruxa. Meus sonhos sempre têm significados, e venho sonhando com Aslam muito frequentemente. Nesta última noite, sonhei com ele rugindo para o Rio Beruna. Isso quer dizer alguma coisa. Sei que sim.
Os nativos de Nárnia absorveram as palavras da feiticeira com esperança: conheciam magia o suficiente para saber que o sonho de uma bruxa tinha quase o mesmo valor que ver com seus próprios olhos. Todo feiticeiro tinha um pouco de clarividência dentro de si.
Assim, Ripchip puxou o florete de sua bainha, o levando até o peito, quando disse:
— Por Aslam.
Muitos o seguiram naquela frase que soava quase como uma oração para o povo de Nárnia, o que deu um olhar de certeza a Pedro, que assentiu com a cabeça para Lúcia, dando seu apoio em sua jornada.
Percebendo que não tinha como mudar a cabeça da menina, Trumpkin suspirou:
— Então eu vou com você. — anunciou ele.
— Não. — disse Lúcia, serena, tocando o ombro de seu Caro Amiguinho com afeto. — Susana me leva até onde for possível. Precisamos de você aqui.
— Precisamos segurar os telmarinos até que Lúcia e Susana voltem. — disse Pedro.
— Se me permite... — Caspian chamou a atenção de todos. Estava sentado no degrau de entrada do salão com Cornelius ao seu lado e encarou o tutor, antes de se levantar: — Miraz talvez seja um tirano e um assassino, mas como rei, ele é sujeito a algumas tradições de seu povo. E há uma que pode nos dar algum tempo.
MEIA HORA MAIS tarde, o rei Edmundo caminhava calmamente até o posto de comando do exército inimigo, acompanhado por Glenstorm e um gigante, além de uma águia de olhos inteligentes pousada sobre seu ombro.
O estranho grupo adentrou o acampamento sem impedimentos, apesar dos olhares hostis que os soldados lançavam, enquanto afiavam suas armas ou descansavam, esperando o conflito iminente acontecer.
Ao alcançar até a tenda principal, o rei deu um sorriso travesso para os soldados que guardavam a entrada, e disse:
— Tenho uma mensagem a entregar para o seu líder.
— Você pode entrar. O rei está à sua espera. — um dos soldados disse, antes de lançar um olhar de desprezo ao centauro e o gigante que acompanhavam o garoto. — Mas as aberrações ficam.
Edmundo o repreendeu com um olhar feio e a águia grasnou para o homem, que deu um passo para longe.
Mesmo assim, Edmundo e o pássaro adentraram a tenda, onde Miraz e seu gabinete se reunia para planejar o ataque.
Ao verem o adolescente vestido de armadura, alguns homens reuniram seus papéis, escondendo seus planos, e todos se sentaram à mesa em forma de U. Apenas Lorde Glozelle ficou de pé, ao lado da saída da tenda, como se pretendesse segurar o garoto caso ele roubasse alguma coisa. Ninguém poderia culpá-lo, levando em consideração o olhar naturalmente ladino que Edmundo carregava.
Antes que ele dissesse alguma coisa, a águia saiu de seu ombro, e se transformou em uma jovem, vestida com um corpete de couro por cima de uma túnica de cota de malha prateada, luvas também de couro e saia verde de um tecido parecido com veludo, que imediatamente trazia a lembrança do musgo das árvores na floresta. Tinha uma espada prateada presa ao cinto, além de uma trompa negra pendurada por uma tira de couro que atravessava o peito.
Os homens a encararam perplexos, e Eris sorriu para eles, o sorriso tão questionável quanto o de seu acompanhante, e então disse:
— Saudações ao Senhor Protetor e seu gabinete. — começou, a voz neutra, apesar do desprezo especial que sentia pela maioria daqueles homens, principalmente pelo assassino do pai de Caspian. — Sou a emissária provisória do Grande Rei Pedro e este é Edmundo, o Justo. Trazemos uma mensagem do Grande Rei.
— Então é verdade que a tutelada de Cornelius é uma bruxa ardilosa. — disse Lorde Sopespian, o primeiro dos três lordes de confiança de Miraz. Ele era o que Eris mais desprezava: tinha um sorriso maldoso e sempre a encarava como se quisesse tomar alguma coisa dela. — E pensar que nosso povo a acolheu com tanta bondade, para que você nos traísse.
— Ora, milorde, e eu aqui pensando que me acolheram pelo trabalho gratuito... O senhor me mima com tantas surpresas. — Eris respondeu, sem alterar seu sorriso, que era a mistura perfeita de formalidade e mordacidade. Ela se virou para Miraz: — Podemos entregar a mensagem do nosso líder?
Miraz acenou com a cabeça, e Edmundo logo tratou de desenrolar o pergaminho que carregava preso ao cinto.
— "Eu, Pedro, por graça de Aslam, por eleição, por direito e conquista — estreou a leitura. —, Grande Rei de Nárnia, Senhor de Cair Paravel, e Imperador das Ilhas Solitárias, para evitar derramamento de sangue, venho por esta desafiar o usurpador Miraz para um combate individual no campo de batalha. A luta deverá ser até a morte. A recompensa será a completa rendição."
O olhar de Miraz era tão calmo e irônico quanto era na noite em que Caspian, Eris e os Pevensie invadiram seu quarto.
— Diga-me, príncipe Edmundo... — ele começou.
— Rei. — corrigiu Ed.
— Como? — o telmarino perguntou, parecendo confuso.
— É Rei Edmundo, na verdade. Mas apenas "Rei". Pedro quem é o Grande Rei... — ele encarou Miraz e Sopespian, que não pareciam convencidos.
— Veja bem, Senhor Protetor — Eris começou, com um falso tom educativo. Mesmo sabendo da coroação, se negava a chamar Miraz de rei. —, em Nárnia um irmão não precisa matar o outro para se tornar rei. Todos governam juntos.
O silêncio que recaiu sobre a tenda era cortante: Edmundo arregalou os olhos para Eris, e os lordes arregalaram os olhos para seu líder, que precisou se esforçar para não perder a expressão de despreocupação.
— Por que arriscaríamos aceitar tal proposta quando nosso exército poderia acabar com vocês ao anoitecer? — questionou Miraz, escolhendo ignorar a narniana.
Edmundo e Eris se encararam, ambos ainda performando incrível tranquilidade, assim como o usurpador telmarino, que estava blefando. Pelas leis de seu próprio povo, ele tinha que aceitar o duelo, e o fato dele acreditar que os emissários à sua frente não sabiam disso tornava tudo aquilo muito mais interessante.
— Vocês já não subestimaram nossos números antes? — questionou o Rei Justo, encarando vários dos homens ao seu redor. — Digo, semanas atrás os narnianos estavam extintos para vocês.
— E estarão extintos novamente. — Miraz garantiu.
— Então há pouco a temer. — retrucou Edmundo, tranquilo.
O líder de Telmar gargalhou alto: — Isso não é uma questão de coragem.
— Então por que está recusando uma luta de espada contra alguém com a metade da sua idade? — questionou Edmundo, arrancando uma risadinha cúmplice da feiticeira ao seu lado.
Os lordes encararam Miraz, que parecia próximo de perder o controle.
— Eu não disse que recusava. — falou ele.
— Terá nosso apoio, Vossa Majestade. — interviu Lorde Gregoire, lançando um olhar a Sopespian antes de Miraz se virar para ele. — Qualquer que for sua decisão.
Lorde Sopespian acrescentou: — Senhor, nossa vantagem militar nos dá motivos para evitar o que poderia ser...
Antes que ele pudesse concluir o comentário, Miraz puxou sua espada e se levantou, irado.
— Não evitarei nada! — exclamou ele.
Ninguém além de Eris achou a expressão de Sopespian incrivelmente forçada, quando ele tentou se defender:
— Eu estava apenas mostrando que o meu senhor está nos seus direitos de recusar.
— Sua Majestade nunca recusaria. — se intrometeu Glozelle, atrás de Eris e Edmundo. — Ele saboreia a chance de mostrar ao seu povo a coragem do novo rei.
A dupla narniana lançou um olhar a Glozelle, antes de Miraz lhes apontar a espada. Eris ergueu a mão para fazer um feitiço, a fim de defender Edmundo, mas o amigo a impediu, sua mão indo até o antebraço da feiticeira.
— Vocês — Miraz disse ao rei, indiferente às vontades de Eris. —, assegurem-se de que a espada de seu rei seja tão afiada quanto a caneta.
— Não se preocupe, milorde. — disse Eris. Seu olhar era tão feroz que quem a encarasse se sentiria diante de um animal selvagem. Talvez tenha sido por isso que tantos lordes tenham desviado o olhar. — Afiarei a lâmina de meu rei com as minhas próprias garras.
E então, com uma fraca reverência, Edmundo e ela se retiraram da tenda, o ar ao redor de Eris ondulando de excitação. Parecia pronta para puxar sua espada e duelar contra qualquer um que a desafiasse e todos pareciam sentir isso, porque enquanto ela atravessava o acampamento os homens simplesmente desviavam de seu caminho, como se fosse uma rota inviável.
— Diabos, como eu detesto aqueles homens! — exclamou Eris, quando o grupo se afastou do acampamento, voltando para o esconderijo em Monte Aslam. Glestorm e o Gigante ficaram um pouco atrás da dupla, para o caso de algum soldado telmarino ameaçar suas vidas. — Esse Lorde Sopespian... Eu não poderia desprezar alguém mais...
— Quem é esse? — perguntou Ed.
— O homem sentado ao lado de Miraz, que me chamou de bruxa ardilosa. — explicou a feiticeira. — Você pode achar Miraz um homem sem honra, mas ele não se compara à Sopespian... E a forma como ele e lorde Gregoire falaram... Não sei, tinha alguma coisa por trás de tudo aquilo. Confie no que digo: depois de tantos anos espionando cortesãos, consigo ver uma intriga de corte muito antes dela ser revelada.
— Eu confio. — afirmou Edmundo. — E aquilo que você disse sobre em Nárnia um irmão não precisar matar o outro para virar rei?
— Miraz matou o pai de Caspian, você não sabia? E iria matá-lo também, para pegar o trono. Foi por causa disso que nós fugimos. Ele mandou soldados atirarem nele durante o sono, mas Cornelius o salvou.
— Por Aslam... — o jovem rei murmurou, e Eris assentiu com a cabeça.
— Pois é.
Andaram em silêncio durante cinco minutos, até Ed se virar para a amiga, com um olhar curiosos, como se tivesse se lembrado de algo que precisava perguntar.
— Sobre Caspian... — começou. — O que aconteceu entre vocês dois?
Eris precisou conter um sorriso, quando deu de ombros e resolveu: — Não muito.
— Você é uma ótima espiã, mas não sabe mentir para mim. Associo isso à minha presença arrebatadora. — o amigo comentou.
— Pois associe a outra coisa, então. — replicou Eris, e o Pevensie lhe fez uma careta.
— Com eu ia dizer, você dormiu umas vinte horas...
— Não foi tudo isso. — interrompeu a garota.
— Certo, você dormiu umas dezenove horas e acordou como se tivesse tomado uma pílula anti-problemas com garotos. Deu o pé na bunda do meu irmão e depois sumiu com Caspian... E aí, quando voltaram, agiram como se nada tivesse acontecido.
— Eu não dei o pé na bunda do seu irmão, que coisa mais grosseira! Só deixei claro a natureza dos meus sentimentos. E não sei o que é uma "pílula", mas se existisse tal coisa, que resolve problemas com garotos, eu seria a primeira a tomar. — falou Eris. — E você o primeiro a sumir.
Edmundo riu: — Certo, certo, já não está mais aqui quem falou.
Mas então um minuto se passou e ele permaneceu encarando a amiga.
— Ah, por Aslam, como você é chato. — reclamou Eris. Ela tomou uma respiração, antes de decidir confiar em Edmundo. — Caspian e eu declaramos nossos sentimentos um pelo outro.
— Bem, já era hora. — disse Ed.
Eris riu: — Suponho que sim... Enfim, digamos apenas que ele usou algumas palavras que deixaram a entender que ele quer que eu me case com ele.
Edmundo arregalou os olhos:
— Sério? Que palavras foram essas?
— "Quero que você se case comigo". — a feiticeira disse, e o amigo engasgou com a própria saliva.
— Você está brincando? — o Pevensie questionou, despois de conseguir parar de tossir, e a garota negou com a cabeça. — O que você respondeu?
— Disse que ele só obterá uma resposta quando e se vencermos essa guerra. E ele disse que atravessaria o continente em busca de um novo exército, se aquilo ajudasse nas nossas chances. — contou ela, e Ed riu. — Por favor, não conte ao seu irmão.
Não é como se ela sentisse algo romântico por Pedro, mas o garoto estava liderando o atual lado perdedor de uma guerra. Sua cabeça devia estar uma bagunça, e Eris não queria contribuir, mesmo que, desde que deixara claro a natureza de seus sentimentos, o convívio entre eles estivesse até melhor, como se agora o garoto não sentisse necessidade de impressioná-la.
— Minha boca é um túmulo, mestre-espiã. — Edmundo prometeu.
— Espero mesmo que seja. — disse Eris.
Então os dois chegaram até o esconderijo, onde Pedro esperava por eles, já vestido com sua armadura de guerra, e todo o humor que faiscava entre o dupla se apagou.
— Majestade. — ela o chamou, despertando-o de seus pensamentos. — Miraz aceitou seu desafio.
O garoto acenou com a cabeça, parecendo tenso, e Eris tocou seu ombro em suporte.
— Confio em você e confio em sua habilidade. — disse ela.
O rei apertou a mão sobre seu ombro afeição: — Queria me ver como você me vê.
— Pelos deuses, não. Você ficaria tão metido. — Eris brincou. — Lúcia e Susana já foram?
Pedro acenou com a cabeça.
— E Caspian também sumiu. Acho que foi atrás delas, para caso houvesse soldados telmarinos.— disse ele, e então lançou um olhar para Eris, como se tentasse descobrir qual sua reação.
— Bem, se ele não está aqui — começou Eris, tentando evitar a preocupação. —, é melhor que Ed e eu o acompanhemos.
O trio esperou pela chegada de Miraz com uma ansiedade preocupada, Eris tentando manter a calma, repetindo em sua cabeça que iria ficar tudo bem. Águia, corvo, coruja, urso, grifo... A artesã tentava pensar em cada um dos seres que poderia se transformar no campo de batalha.
Quando um fauno finalmente os encontrou e avisou que Miraz e seus homens já haviam chegado, o trio se entreolhou, nervoso.
— Pronto? — perguntou a feiticeira à Pedro.
O garoto assentiu com a cabeça, nervoso, e brincou:
— Se você me ver ganhando este duelo, há uma remota chance de aceitar um pedido de casamento meu?
Edmundo e Eris se entreolharam, ambos conectados pelo pensamento de que aquela não era a primeira proposta matrimonial que ela recebia, então a feiticeira disse:
— Concentre-se no duelo, majestade.
E então Ed e ela flanquearam Pedro do esconderijo até o campo de batalha, no exterior de Monte Aslam, onde encontraram Miraz sentado em um trono improvisado, cercado por seus lordes de maior confiança: Glozelle, Sopespian e Gregoire.
Sem nem sequer se dar conta, Eris apertou o braço da armadura do Grande Rei, como se quisesse dar-lhe apoio. Temia por seu futuro, e temia pelo futuro de Nárnia acima de tudo, caso as coisas não saíssem como o planejado.
Atrás do rei usurpador, o imenso exército de Telmar vibrava por seu líder, perturbando a narniana profundamente. Como Caspian faria para que aqueles homens o seguissem, caso retomasse o trono?
Quando o trio parou em frente a Miraz, o homem sussurrou alguma coisa para Glozelle, que assentiu seriamente.
Vendo Eris ao lado do Grande Rei Pedro, Miraz disse: — Temos uma condição a mais para aceitar o duelo.
— Qual é? — questionou Pedro.
Ele apontou para a feiticeira com sua espada, e respondeu: — Se eu ganhar, reclamo posse da bruxa.
Por alguns segundos, ninguém disse nada, o trio narniano absolutamente chocado com a ousadia do usurpador, até o Grande Rei negar com a cabeça com veemência.
— Isso não é negociável. — disse ele, enquanto Edmundo se punha ao lado da feiticeira, segurando sua mão enluvada como se estivesse pronto para tirá-la dali.
Lorde Sopespian deu um passo à frente:
— Na verdade, é sim. A bruxa se infiltrou no nosso castelo e espionou nosso povo durante anos. Se aproveitou de nossa hospitalidade e traiu nossa confiança. Deve pagar segundo nossas regras.
A garota entendeu o que eles queriam dela. Não era morte. Era seu serviço como espiã. Os telmarinos tinham o costume de fazer seus inimigos pessoais pagarem com serviços que só eles podiam oferecer. Com ela não seria diferente.
— Você veio até aqui porque aceitou os meus termos. — disse Pedro. — Entregar Eris não estava neles. Ela é uma pessoa, não um objeto.
— Ela não é exatamente uma pessoa. — retrucou lorde Sopespian, e por um momento o Grande Rei pareceu considerar convocá-lo para um duelo também.
Por mais humilhante que aquilo fosse, a feiticeira sabia que Pedro não conseguiria o duelo contra Miraz se não aceitasse. E se não houvesse duelo, não conseguiriam obter tempo para Lúcia. Por isso, a garota se pôs ao lado do rei, sua mão sobre o ombro da armadura, e disse:
— Aceitamos o termo. — sua voz saiu com menos firmeza do que esperava, como se seu corpo não quisesse falar aquilo. — Se o Grande Rei Pedro perder, vocês poderão me fazer pagar pela traição.
Pedro lhe lançou um olhar que dizia o quão disposto estava a rejeitar aquilo, mas ela negou com a cabeça.
— Não temo pelo meu futuro. — disse baixinho, para que apenas ele pudesse ouvir. — Por que sei que ganhará. E porque nenhum homem jamais conseguirá controlar uma artesã. Eles teriam que me acorrentar para me fazer obedecê-los, e se assim fizessem, meus poderes seriam anulados.
Pedro falou tão baixo quanto ela: — Mesmo assim, você tem certeza? Esse é um risco muito grande.
Eu sei. Eris pensou. Estou com medo e estive com medo desde que deixei o castelo de Telmar com Caspian. Às vezes penso que não conseguirei suportar mais nada...
— É um risco bem pequeno, na verdade. — foi o que ela respondeu, entretanto, com um sorriso que resplandecia confiança. — Porque você ganhará esse duelo.
Então lorde Gregoire se aproximou do grupo, e entregou dois grossos braceletes a lorde Sopespian, que abriu um sorriso maldoso para a feiticeira. Aqueles eram braceletes de ferro.
Ela sabia que os narnianos conheciam lendas sobre o ferro, mas não sabia que os telmarinos também sabiam disso. Deviam ter mexido nas inscrições de Cornelius, se deu conta.
— Quer fazer as honras? — questionou Sopespian, erguendo os objetos a sua frente como se fosse um prêmio.
— Para quê isso? — questionou Ed.
— Para que ela não possa trapacear. — explicou lorde Gregoire, sério. — Ferro é um presente dos deuses contra a bruxaria.
O olhar que Edmundo e Pedro lançaram à feiticeira deixava claro que eles estavam dispostos a ir contra aquilo, mas tudo o que ela fez foi reforçar seu sorriso sereno e se aproximar dos lordes.
Retirou suas luvas sem mudar a expressão de calma nem por um momento, e esticou os braços para lorde Sopespian, que fechou os braceletes férreos ao redor de seus pulsos. Quando os fechou, Eris se deu conta de que eles tinham trancas, e foi difícil disfarçar o desespero que brilhou por trás de seus olhos.
A sensação que a atravessava era a de que ficara subitamente menor. Não se sentia fraca, mas sua magia parecia... Confusa. Não exatamente uma sensação física, era uma certeza absoluta de que não conseguiria fazer um feitiço nem se usasse todas suas forças.
— Mal posso esperar por todas as coisas que você fará por nós. — sussurrou Sopespian, para que apenas Eris pudesse ouvir, e ela lhe deu uma expressão azeda.
Com uma postura ereta que dizia que nada daquilo tinha lhe afetado, Eris caminhou de volta aos seus aliados e lançou um olhar confirmativo a Edmundo, que acenou com a cabeça, tenso, e estendeu a bainha de sua espada ao Grande Rei, que pegou a arma, fazendo os narnianos gritarem por ele, enquanto Miraz dizia algo hostil para Sopespian e Gregoire, antes de colocar seu elmo, moldado como um temível rosto humano e ir até o círculo de batalha, onde Pedro lhe aguardava.
— Ainda há tempo para se renderem. — disse Miraz ao garoto, enquanto ambos tentavam se cercar.
Pedro o encarou, o olhar penetrante: — Sintam-se livres para isso.
Miraz tentou dar um passo para avançar na direção do garoto, mas este desviou, e ambos continuaram se cercando.
— Você quer mesmo seguir com isso, criança? Quantos você acha que precisam morrer para o trono? — questionou o inimigo.
— Apenas um. — respondeu o rei de Nárnia, antes de abaixar a frente de seu elmo e atacar o oponente, os gritos da multidão narniana e telmarina se tornando ensurdecedores.
O garoto, que há mil anos atrás fora um dos mais épicos guerreiros de Nárnia, estava usando todas suas forças para conseguir se manter ao nível do adversário. Quando Eris menos esperava, Miraz aplicou um golpe tão forte sobre o rapaz que arrancou seu elmo, e ele logo retribuiu com um corte profundo de sua lâmina na perna do oponente.
A mestre-espiã parecia ser a única a ter percebido o olhar emergencial que Miraz lançou para seus lordes, Glozelle o respondendo com um negar de cabeça.
Ele quer que matem Pedro, caso ele esteja para vencer, sua mente treinada para a espionagem se deu conta, principalmente por Glozelle carregar uma besta já armada em suas mãos. E o fato de que nenhum dos lordes o obedecera podia significar alguma coisa, que a garota ainda não compreendia.
Aquele pensamento a distraiu da batalha por poucos segundos, e, quando sua atenção se estabeleceu novamente, Pedro estava caído no chão, o pé de Miraz pisando no escudo preso ao braço do rapaz, quase o torcendo.
Eris ouviu Edmundo soltar uma exalação profunda, e só naquele momento se deu conta de que o amigo havia envolvido seus ombros com o braço, como se estivesse pronto para se jogar sobre o corpo da garota caso alguém tentasse atacá-la. Mesmo sem Eris ter demonstrado, Ed sabia que ela se sentia indefesa com a ausência de sua magia.
Foi uma das primeiras vezes naquela guerra que alguém além de Caspian se preocupou em protegê-la sem que estivesse sendo atacada.
Com o braço livre, Pedro deferiu um golpe contra o oponente, o desequilibrando e fazendo tirar seu pé sobre escudo do garoto, que girou no chão antes que Miraz conseguisse cortar sua garganta, e usou sua espada para se defender quando o telmairno deferiu um, e então dois golpes contra ele.
O coração de Eris parecia pronto para sair pela boca a qualquer momento, e ela precisou lutar para não afundar sua cabeça no ombro de Edmundo para se isolar daquilo. Precisava mostrar a Pedro que estava lá por ele.
Então o rei de Nárnia aplicou um golpe com a parte achatada de sua lâmina sobre o escudo do oponente, tão forte que o derrubou, fazendo os narnianos vibrarem enquanto Pedro se levantava.
Miraz conseguiu se erguer também, tonto, e os dois continuariam aquele duelo com a pouca energia que lhes sobrara, se Caspian não tivesse aparecido a cavalo no campo de batalha levando Susana consigo.
— Sua majestade precisa de um descanso? — Eris pôde ouvir Miraz questionar a Pedro, que tinha uma expressão de dor em sua face, não muito diferente de como o telmarino deveria estar sob aquela máscara de ferro.
Pedro arquejou, antes de falar: — Cinco minutos?
— Três! — respondeu Miraz, como se não precisasse daqueles minutos tanto quanto o rapaz, e os dois logo se afastaram, cada um caminhando fracamente até seus respectivos aliados.
Edmundo e Eris correram para ajudar Pedro, que mancava, a andar, e o rapaz aceitou a ajuda da dupla com humildade, indo se encontrar com Susana e Caspian, que haviam entregado seu cavalo para um fauno, e agora se punham ao lado de Glenstorm, na entrada do círculo de batalha.
O príncipe de Telmar precisou se conter para não correr até Eris. Não conseguira se despedir dela quando a mesma fora com Edmundo entregar o recado de Pedro aos inimigos, e tivera medo de um dos dois morrerem em alguma batalha imprevista.
— Lúcia? — perguntou Pedro, ofegante, quando se soltou de Ed e Eris, que correram para conseguir alguma coisa para ajudar na recuperação do rei.
— Ela conseguiu passar... — respondeu Susana. — Com uma ajudinha.
— Obrigada. — o Pevensie mais velho disse, e o príncipe telmarino sorriu suavemente para ele. Depois do que acontecera com a Feiticeira Branca, alguma força misteriosa levou os dois a pararem de discutir, e Caspian começava a ver o aliado poderoso que o garoto era.
— Bem — começou o rapaz, lançando um olhar de relance a Miraz. —, você estava ocupado.
Pedro acenou com a cabeça, antes de se virar para a irmã:
— É melhor você ir lá para cima. — orientou ele, indicando a parte externa do esconderijo, onde antes ficavam os vigias, e que no momento tinha uma fileira de arqueiros, com as flechas já em riste. — Não acredito que os telmarinos cumprirão com a palavra.
A garota encarou o imenso exército inimigo à distância, antes de abraçar o irmão, que gemeu de dor.
— Desculpe.
— Tudo bem. — a voz do rei era quase um sussurro de cansaço, o que preocupou Caspian. Seu destino e o destino de toda Nárnia dependia de sua força no duelo.
— Tome cuidado. — pediu Susana, antes de se afastar.
Edmundo, que havia voltado com Eris, encarou os narnianos na entrada do esconderijo, e sem mudar de expressão, disse ao irmão: — Continue sorrindo.
Com uma habilidade de atuação melhor do que a de sua mestre-espiã, o rapaz abriu um sorriso resplandecente, e ergueu a espada em direção aos súditos, que gritaram animados.
A feiticeira usou o momento para se por ao lado de Caspian, que beijou o topo de sua cabeça, antes de perceber os braceletes de ferro ao redor de seus pulsos. Eles tinham trancas, como se fossem algemas sem correntes.
— O que fizeram com você? — perguntou o rapaz, preocupado.
Se ele não a conhecesse tão bem, não teria notado o brilho de desespero por trás de seus olhos. Tinha medo de não conseguir se libertar dos braceletes, mas não admitiria aquilo perto de Pedro e Edmundo enquanto aquele duelo não chegasse ao fim.
— Os lordes temiam que eu trapaceasse. — ela falou, sua voz saindo fraca, como se a presença de Caspian finalmente tivesse desarmado todo o porte de coragem que ela vinha performando. — Sopespian está com as chaves.
Então o rapaz segurou os dois pulsos da feiticeira com delicadeza, beijando a palma de sua mão esquerda, e então direita, arrancando um sorriso derretido de Eris.
— Sou uma guerreira melhor do que aparento. E todo bom gatuno sabe arrombar trancas. — disse ela, tentando voltar para trás de sua máscara de inabalável.
Caspian riu, antes de enlaçar sua cintura, o que a fez corar. Mas então ela pareceu se lembrar de alguma coisa, e encarou Pedro, preocupada.
— Não se preocupe. — disse o rei. — Eu já sabia.
Eris poderia dar um milhão de respostas surpresas, mas o que disse foi:
— Seu braço está esquisito. — como artesã, ela tinha uma visão apurada para a anatomia humana, e logo percebera que o braço que carregava o escuro do rapaz estava mais baixo do que estivera quando ela o ajudara a montar sua armadura. E ele não o usara desde que Miraz pisara sobre seu escudo.
— Acho que está deslocado. — admitiu o rapaz, e logo Edmundo se pôs a segurar o irmão, para que a feiticeira pudesse realocar seu braço.
— O que você acha que acontece lá em casa quando se morre aqui? — o rei questionou Edmundo, que o encarou, tenso. Os dois trocaram um olhar por um momento que poderia ter durado segundos ou anos, e então Pedro prosseguiu: — Sabe, você sempre esteve ao meu lado e eu nunca...
Edmundo encarou a amiga, desesperado: não queria ouvir aquilo, não queria ter aquela sensação de que seu irmão morreria, então, meio desesperada, Eris realocou o braço do rapaz com toda a força, antes que ele pudesse continuar o monólogo, fazendo-o gemer de dor.
— Deixa para depois. — disse Edmundo, lançando um olhar de gratidão à feiticeira, antes de pegar a espada e o escudo de Pedro, e entregá-los.
Quando Ed lhe estendeu o elmo, Pedro negou, antes de se virar para Eris, com um olhar divertido:
— Tem certeza que não consideraria o meu pedido? — perguntou ele.
— Quem sabe? — riu a garota. — Talvez seja um bom incentivo.
— Que pedido? — questionou o príncipe telmarino.
— Me casar com a sua namorada caso eu ganhe o duelo. — respondeu Pedro, com um olhar malicioso. Caspian entrou na brincadeira, lançando um olhar para Miraz, e então para Pedro.
— Posso assumir a batalha de aqui em diante, se você quiser. — brincou, evitando citar que ele mesmo já havia feito um pedido, mas o rei não pôde responder. Miraz já voltava para o campo de batalha.
— Acredito em você. — Eris disse a Pedro, depositando um beijo no rosto do rapaz com afeição, antes dele se afastar e ir até o centro do círculo de batalha.
Se pondo ao lado de Caspian, que lhe enlaçou a cintura, Eris segurou a mão de Edmundo com força, e o trio observou silenciosamente seu rei e o inimigo voltarem ao duelo.
O conflito foi tão rápido que mal dava para acompanhar. Lâminas se chocavam, e então escudos, e lâminas novamente, até que Miraz derrubou o oponente, que se defendeu de um ataque de espada, antes de usar as pernas para derrubar o telmarino.
Os dois se levantaram, ofegantes, e quando Miraz tentou deferir um golpe contra o ombro de Pedro, o rapaz usou a oportunidade para desarmá-lo, jogando sua espada longe e aplicando golpe atrás de golpe contra o escudo do inimigo, que se defendeu cheio de ódio, até usar o escudo para atacar o rapaz, que acabou largando a própria espada também.
Quando Miraz tentou atacá-lo com a peça redonda de metal, Pedro o segurou com as duas mãos, o erguendo e girando o corpo rapidamente, torcendo ambos os braços de Miraz, que não queria largar o escudo, atrás de suas costas.
É o fim, pensou Eris, mas então Miraz conseguiu se soltar, dando uma cotovelada no oponente, e recuperou sua espada. Pedro desviou uma, e então duas vezes, e depois usou o antebraço de sua armadura para se defender da lâmina, até usar o segundo livre que Miraz lhe dera para aplicar um soco forte sobre seu joelho, justamente no ferimento que ele lhe causara no começo do duelo.
— Descanso. — pediu Miraz, enquanto caía de joelhos diante do Grande Rei, a multidão narniana gritando pela possibilidade de vitória.
— Agora não é hora para cavalheirismos, Pedro! — berrou Edmundo ao irmão, sua mão apertando a de Eris fortemente, quando percebeu que ele hesitava.
De repente todos ficaram em silêncio, sentindo que o fim de algum dos dois líderes estava próximo, e então Pedro se virou de costas para o oponente, pronto para ir até seus aliados, quando Miraz recuperou sua espada no chão, pronto para apunhalá-lo pelas costas, como um covarde.
— Pedro! — gritou Eris, e o garoto se virou um segundo antes de Miraz conseguir matá-lo, tomando sua espada em um movimento veloz, e empurrando sua ponta sob o braço de Miraz, onde não havia proteção de sua armadura, e o rei usurpador soltou um berro de dor.
O Pevensie ergueu a espada, o encarando com um olhar duro, mas não desferiu nenhum golpe.
— Qual é o problema, garoto? — questionou Miraz. — Covarde demais para tirar uma vida?
Pedro abaixou a espada: — Não sou eu quem deve tirá-la. — e então se virou para Caspian, estendendo o cabo da espada em sua direção.
O rapaz encarou Eris, que soltou a mão de Edmundo para tocar seu rosto com cuidado, os braceletes férreos escorregando por seus pulsos.
— Não importa o que você decidir fazer. — falou ela. — Desde que esteja tomando uma atitude digna de Caspian Décimo, não de Miraz.
O príncipe assentiu, segurando as mãos da garota sobre seu rosto.
— Te amo. — sussurrou ela, e o rapaz sentiu como se seu coração pudesse se desfazer ali mesmo. Era a primeira vez que ela demonstrava afeto romântico diante de um público.
Caspian beijou as mãos da garota que amava, antes de se afastar dela e pegar a arma de Pedro, sua expressão passando de amor à fúria em um segundo.
Ajoelhado diante de Caspian, Miraz riu.
— Então esse tempo todo, você estava sob o feitiço daquela bruxa? — questionou ele, gargalhando, mas Caspian nem sequer piscou. Apenas colocou a ponta da espada próxima ao queixo do tio, pronto para cortar seu pescoço. — Disposto a matar seu tio diante da própria amante... Talvez, apesar de tudo, você tenha os requisitos de um rei telmarino.
O príncipe tremeu de tanto esforço. Queria acabar com a vida daquele homem vil, mas aquele não era Caspian. Não era aquela visão de si que ele queria deixar para Eris, ou para ninguém. Não era um assassino que ele queria encarar no espelho.
Seu tio abaixou a cabeça para Caspian, pronto para receber a sua morte, ciente de que a merecia, e o príncipe ergueu a espaça com as duas mãos, e soltou um grito de fúria tão alto que reverberou por seus ossos, antes de cravar a espada no chão entre os dois.
Miraz encarou, chocado, os olhos lacrimejados do sobrinho, quando este disse: — Não sou como você. — ele largou o cabo da espada e aprumou as costas. — Fique com sua vida. Mas eu estarei dando aos narnianos seu reino de volta.
Ele lançou um olhar para os três lordes de Miraz, antes de se virar para voltar para seus aliados.
Era como se os narnianos tivessem ouvido com clareza as palavras que ele dirigiu a Miraz, porque todos gritaram e vibraram pelo rapaz.
Caspian nem sequer pensou. Alcançou Eris e a beijou com tanto fervor que quem estava ao redor mal conseguiu desviar os olhos.
— Bem, acho que ela não vai aceitar seu pedido. — brincou Edmundo com Pedro, tentando desviar a atenção do casal, e o irmão riu.
— Quem sabe em outra vida? — comentou ele.
Ouvindo aquilo, Eris riu com seus lábios sobre os de Caspian, e os separou, abraçando o rapaz com força.
Tudo poderia ter sido perfeito, se, enquanto Eris estivesse naquele abraço, com seu rosto virado na direção de Miraz e o de Caspian na direção dos narnianos, ela não tivesse visto lorde Sopespian ajudando seu rei a se levantar e então apunhalar a costela de Miraz com uma flecha, fazendo-o arquejar alto.
Eris soltou Caspian como se tivesse levado um choque, e tanto o rapaz quanto os Pevensie seguiram seu olhar, observando, sem reação, Miraz cair sobre a terra, morto.
Como um ator profissional, Sopespian se virou, com uma expressão chocada para os narnianos, e encarando os arqueiros, gritou:
— Traição! — sua voz reverberou pelo campo. — Eles atiraram nele! — ele arrancou a espada que Caspian cravou no chão, e a apontou para seu exército: — Eles assassinaram nosso rei!
Foi quando a verdadeira batalha começou.
── NOTAS.
UM. ︴desculpa pelo capítulo enoooorme! este é o maior capítulo da história até agora, mais de seis mil e oitocentas palavras, meu deus. originalmente eu havia dividido ele em dois, mas aí a parte um da fic ficaria com treze capítulos, e doze é meu número da sorte, kkkkkk.
DOIS. ︴espero que estejam gostando! comente o quanto quiser e deixe uma estrelinha aqui 🌟💕
©︎DEVILEVIE, 2021.
────── evie.
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