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𝐕 ┇ caspian duela com o grande rei.


────────  CAPÍTULO CINCO
caspian duela com o grande rei.

     PEDRO PEVENSIE ESTAVA exausto.

Após ter vivido uma década e meia em Nárnia para retornar ao mundo humano como um adolescente sem importância, a mente do garoto estava uma bagunça. E as coisas não melhoraram quando, ao retornar ao reino de Aslam, ele descobriu que o seu ano na Inglaterra significava mais de um milênio na floresta.

Apesar de toda aquela loucura cansativa já durar cerca de três semanas, o jovem simplesmente não conseguia dormir. Principalmente depois de ter visto o acampamento de seus novos inimigos, os telmarinos.

Assim, quando ele viu sua irmã mais nova, Lúcia, se levantar para caminhar até a floresta, procurando pelo leão que eles conheceram mil anos atrás, ele já estava pronto para se levantar e ir buscá-la.

— Aslam? — ele escutou sua irmã chamar, ao ouvir uma movimentação poucos metros perto dela, e Pedro só teve tempo de puxá-la para se esconder atrás das pedras, tampando sua boca, quando um grupo de minotauros apareceram.

O garoto não se esqueceu daqueles seres vis. Lutou muito bem contra eles na guerra da Feiticeira Branca e ainda se recordava de sua crueldade. Ele encarou a irmã, colocando o indicador sobre a boca, em sinal de silêncio, e se levantou, pegando sua espada, pronto para se envolver em uma luta em busca de respostas.

Mas alguém o notou antes dos minoutauros.

Era um telmarino. Talvez um pouco mais velho do que Pedro, de pele cor de oliva, cabelo escuro e colete de soldado. Ele calçava uma única luva de couro na mão esquerda e carregava uma espada tão afiada quanto a do Grande Rei, coisa que ele pôde muito bem observar quando o rapaz deferiu um ataque.

O Pevensie se defendeu com facilidade, antes de partir para a ofensiva, o som do choque entre as duas lâminas ecoando pela floresta. Quando ele conseguiu desarmar o oponente, a confiança o deixou um pouco relapso e ele foi surpreendido quando, ao tentar um ataque mais ousado, o telmarino se abaixou e a espada do rei se chocou contra uma árvore, ficando presa lá. O jovem logo lhe derrubou com um chute no peito.

Enquanto seu inimigo tentava arrancar a espada do tronco e tomá-la para si, Pedro pegou uma pedra do chão e não teria hesitado em golpeá-lo, se sua irmã não tivesse gritado.

— Parem! — Lúcia gritou e o irmão congelou no lugar, enquanto o outro rapaz se virava para ver quem era a dona da voz.

Logo o garoto se viu cercado por outros narnianos: faunos, minotauros, anões, centauros e animais.

Foi então que ele se deu conta: aquele rapaz era o príncipe de quem o anão Trumpkin — que os Pevensie haviam conhecido ao salvá-lo de soldados de Telmar — havia falado. O que devia ter assoprado a trompa, chamando os quatro irmãos e reunindo narnianos.

— Príncipe Caspian? — Pedro perguntou.

O rapaz o encarou, desconfiado: — Sim. E quem é você?

— Pedro! — uma voz feminina, a de Susana, o chamou, antes que ele pudesse responder, e o rei se virou para ver seus outros irmãos, acompanhados por Trumpkin, se aproximarem.

Caspian pareceu ter finalmente se dado conta da importância de seu oponente, porque encarou as inscrições da espada que tomou dele, e depois o olhou, abismado.

— Grande Rei Pedro?

— Acredito que você nos chamou. — o garoto disse, o olhar sério demais para um adolescente da sua idade.

— Sim, mas... — Caspian observou os outros Pevensie rapidamente. — Pensei que fossem mais velhos.

Pedro fez menção a ir embora: — Se quiser, nós podemos voltar daqui a alguns anos.

— Não, está tudo bem. — o príncipe telmarino assegurou. — Vocês só não são exatamente o que eu esperava.

O rapaz encarou os Pevensie, recebendo um sorriso tímido de Susana e um olhar desconfiado de Edmundo.

— Vocês também não são o que nós esperávamos. — disse o moreno, atrevido.

Pedro percebeu que o irmão encarava os minotauros e anões, que estavam entre centauros e faunos como se fossem amigos, e logo um texugo se aproximou.

— Um inimigo em comum une até mesmo os inimigos de longa data. — explicou ele.

— Esperávamos ansiosamente pelo seu retorno, Soberano. — um rato carregando um florete e um anel com uma pena vermelha em uma das orelhas, como uma versão animal de um mosqueteiro, disse, se aproximando. — Nossos corações e espadas estão a seu serviço.

Antes que mais alguém pudesse dizer alguma coisa, uma águia enorme mergulhou do céu, grasnando alto. No mesmo momento, o príncipe telmarino ergueu o braço esquerdo sem sequer desviar o olhar dos Pevensie e a ave pousou no antebraço de sua luva de couro, como se fosse treinada.

Era um pássaro de olhos inteligentes e penas reluzentes, que encarou Caspian com o que parecia curiosidade. Tudo o que o rapaz fez foi abrir um sorriso suave, do tipo que nós lançamos às pessoas que gostamos muito, e então disse:

— Não se preocupe. Estamos entre amigos.

A ave pareceu compreendê-lo, porque saiu de seu braço e foi como se, em apenas um segundo ou dois, sua imagem tivesse se distorcido, virado um borrão, e o animal se transformou em uma linda garota humana, que pousou graciosamente sobre o chão.

Ela tinha uma postura que exalava poder e selvageria, como uma fera presa sob a forma humana, e o olhar que lançou à Pedro poderia ser tanto ameaçador quanto contemplativo. O olhar que ele lançou de volta, entretanto, fora definitivamente contemplativo, porque ela era linda.

Carregava traços parecidos com o dos telmarinos: pele cor de oliva, olhos e cabelos escuros. Seus fios estavam presos em uma trança única que começava do topo da cabeça e vestia uma camisa de algodão branco sob um colete de couro escuro com gola de cota de malha prateada, além de saia e luvas marrns.

Ela parecia tensa com a presença dos quatro desconhecidos, mas então viu o anão vermelho entre eles e seus olhos brilharam de alegria.

— Trumpkin! — exclamou, indo até ele e o abraçando com afeição. O anão parecia contente em vê-la também, embora afeto não fosse exatamente sua especialidade. — Estou tão feliz em vê-lo vivo!

— O mesmo serve para você, passarinha. — disse, antes da jovem se voltar para os antigos reis e rainhas.

Seus olhos tentavam compará-los com as antigas lendas e histórias e, quando viu que os três jovens perto do anão e o quarto próximo do príncipe telmarino batiam com a descrição, arregalou os olhos e se virou para Caspian, como se apenas ele pudesse lhe confirmar a verdade.

O rapaz acenou levemente para ela, lhe dando um olhar significativo, ambos se comunicando em uma linguagem muda que só quem tem intimidade é fluente, e a jovem logo fez uma reverência profunda para os Antigos Reis e Rainhas.

— Majestades. — cumprimentou ela. Sua voz passou de afetuosa para austera, o que tornava a tentativa de saber como ela se sentia quase impossível. Se sentia raiva ou admiração, Pedro não descobriria tão cedo. — Sou a mestre-espiã do seu exército. É uma honra tê-los conosco.

— Bem, — Pedro começou. —  pelo menos sabemos que alguns de vocês sabem usar uma espada.

A jovem o encarou, séria: — Todos treinamos muito nos últimos tempos. Estamos reunindo o seu exército desde que a trompa foi assoprada.

— Ótimo, porque nós precisaremos de todas as espadas que podermos ter. — Pedro retrucou, com um sorriso, e Caspian se aproximou.

— Então provavelmente você vai querer a sua de volta. — disse, seu tom o desafiando a entender se ele se gabava ou apenas tecia um comentário inocente. Ele estendeu a espada ao seu dono, seus olhos sobre a garota.

Pedro a aceitou, colocando-a de volta em sua bainha.

— É melhor irmos para um lugar mais seguro, majestade. — sugeriu a mestre-espiã e todos concordaram, se reunindo para voltar para seu esconderijo.

Pedro começou a andar ao lado dos irmãos, quando se deu conta de que ainda não sabia o nome da garota. Ele se virou para perguntar seu nome a ela, bem a tempo de vê-la tocando o queixo do príncipe Caspian, no lugar onde o Pevensie o atingira com o cabo da espada.

— Ele te machucou? — perguntou ao rapaz, que sorriu, colocando sua mão sobre a dela.

— Não. — jurou ele, beijando sua palma com ternura, antes de apoiar a mão da garota em seu braço para os dois começarem a caminhar lado a lado.

— Se estiver doendo pode me dizer. Não precisa ter vergonha. — ela insistiu. — Posso fazer uma mistura de ervas para você quando chegarmos ao acampamento.

Foi aí que Pedro se deu conta de que, de todos os anos em que ele viveu em Nárnia e na Inglaterra, ele nunca teve aquele afeto com ninguém. Teve muitas pessoas por quem sentira afeto em seus dois mundos, mas não daquela forma.

— Ei. — o Pevensie nem se deu conta de quando chamou a garota, que conversava baixinho com Caspian.

— Sim, majestade? — ela perguntou.

— Ainda não sei o seu nome. — comentou Pedro, e a jovem sorriu para ele.

— Eris. — apresentou-se e o loiro pôde ver Caspian o encarando desconfiado. Decidiu ignorá-lo.

— Perdoe-me pela intrusão, mas o que você é? — Pedro perguntou, parando de caminhar para esperar ela alcançá-lo.

— Sou uma feiticeira... Uma artesã. — ela se adiantou, quando Pedro arqueou a sobrancelha para ela, as memórias com a Feiticeira Branca ainda frescas em sua mente. — Vivi muitos anos entre os telmarinos graças a isso.

— Conheci alguns artesãos na primeira vez que vim até aqui. Eram um tipo muito nobre. Não se envolveram na guerra contra a Feiticeira Branca, mas estiveram na nossa corte durante os Anos de Ouro. — Pevensie contou. — A maioria deles não vivia sob a forma humana, entretanto. Conheci um Artesão que vivia sob a forma de um urso enorme.

— Sério? — perguntou ela, animada, e o antigo rei confirmou coma cabeça. — Isso é fantástico. Agora existem tão poucos de nós. Para ser sincera, eu sou a única por aqui. — uma órfã, Pedro percebeu. — Espero que existam mais como eu escondidos na floresta, ou no litoral. Quando isso tudo acabar, pretendo procurar mais do meu tipo.

— Bem, da forma como os artesãos são espertos, não duvido que tenham aprendido a se transformar em estrelas na minha ausência e agora estão nos observando de longe. — brincou Pedro e Eris riu.

— Aí está algo que eu realmente gostaria de me transformar. — ela disse. — Mas acho que precisarei de mais anos de treino do que terei de vida.

— Aposto que você consegue aprender todo tipo de artimanha artesã mais rápido do que imagina. — Pedro disse, empático, e o sorriso doce que ele recebeu da feiticeira pareceu um presente bom demais para um comentário tão simples.

Então os dois embarcaram em uma conversa fácil, enquanto Caspian os acompanhava, sua expressão curvada em uma leve careta.

Quando o trio alcançou os outros narnianos, a conversa continuou, com o rei perguntando sobre como eles conseguiram reunir armas, conseguir suprimentos e outras coisas e Eris vez ou outra se virando para Caspian, para tentar incluí-lo na conversa, alheia ao restante dos seres à sua volta.

Estava claro para todos, principalmente para os outros Pevensie, que tanto o príncipe de Telmar quanto o rei de Nárnia buscavam conquistar a atenção da garota e que ela parecia dedicada a reparti-la igualmente.

— Isso deve ser a coisa mais interessante que nós vimos desde que chegamos aqui por aquela estação. — começou Edmundo, para Lúcia e Susana.

Susana observou o irmão mais velho conversando com a garota, cujo braço estava enlaçado ao de Caspian, que não parecia muito interessado no que Pedro tinha a falar.

— Não posso imaginar onde isso vai dar. — Susana comentou.

— Eu posso. — disse Lúcia, ao observar a devoção por trás dos olhos do telmarino. — Talvez haja um coração partido.

— Espero que seu elixir cure isso também. — comentou Edmundo.



     CASPIAN DÉCIMO FINALMENTE encarou as consequências de ter assoprado a trompa da rainha Susana: conheceu o Grande Rei Pedro, que estava grandiosamente lhe tirando os nervos.

O rapaz conseguiu lidar muito bem com seu tio querendo sua cabeça em um prato, com texugos e ratos falantes e com narnianos de diferentes espécies sugerindo sua morte audivelmente, antes dele conseguir convencê-los a se juntar a ele contra Miraz. Por Deus, ele lidou muito bem com os doze ou treze dias em que ele estivera junto a minotauros, faunos e anões em uma empreitada para atrapalhar a construção da ponte que o seu próprio povo tentava fazer.

Mas ver aquele garoto tomando toda a atenção de Eris para si era a gota que faltava para levá-lo ao limite.

Ele percebeu as intenções do Pevensie no momento em que ele perguntou o nome da mestre-espiã, como um nobre rei tentando se reconectar com seu povo. O telmarino precisou fazer força para não tentar atacá-lo com a espada novamente.

Foi por isso que, assim que eles se aproximaram das catacumbas usadas como acampamento dos rebeldes, Caspian interrompeu a conversa de Eris com o garoto e o forçou a ouvi-lo falar sobre o exército narniano.

A mestre-espiã, por sua vez, pouco se importou, apenas sorriu e se afastou, indo fazer companhia a Edmundo e Susana, que caminhavam pouco atrás deles.

— Acho que ainda não fomos apresentadas devidamente. — Susana comentou, quando a feiticeira se aproximou. — Sou Susana e este é Edmundo, meu irmão.

Era óbvio que Eris sabia quem os dois eram, mas o fato dela se importar em se apresentar fora muita gentileza de sua parte — bem, ela era Rainha Susana, a Gentil, então esse devia ser mesmo o seu forte.

— Sou Eris. — a garota se apresentou. — É um prazer conhecê-los, majestades.

Lúcia, ao vê-la conversando com os irmãos, logo se aproximou também, com Trumpkin ao seu lado.

— Então você é a amiga do N.C.A.? — ela perguntou, com um olhar amigável, e Eris uniu as sobrancelhas, confusa.

— O que é isso? — ela perguntou.

Trumpkin revirou os olhos, antes de Edmundo rir e explicar:

— Significa Nosso Caro Amiguinho.

Eris gargalhou e foi uma risada tão vivaz e alta que fez Edmundo corar.

— Sim, Nosso Caro Amiguinho e eu nos conhecemos desde a minha infância. — ela contou, quando finalmente parou de rir (depois da carranca de Trumpkin começar a ficar assustadora). — Moramos em uma toca, com outro anão e um texugo, antes de eu ir viver entre os telmarinos.

— Por que você fez isso? — Lúcia perguntou, curiosa.

Antes que Eris pudesse responder, Trumpkin disse:

— Ela é uma bruxa artesã. Esse tipo é bom em se misturar. Foi o que ela precisou fazer, graças aos tempos difíceis.

Nem o anão nem a feiticeira entraram em detalhes sobre os tempos difíceis: o inverno rigoroso — que apesar de não durar cem anos, era inclemente —, os humanos que se arriscavam na floresta e matavam as criaturas da floresta ao caçar, as colheitas escassas, a desunião entre um lado da floresta e outro, o silêncio das Ilhas Solitárias...

Os Pevensie lhe lançaram olhares piedosos, porém a narniana apenas sorriu, tentando parecer despreocupada.

— Mas agora que vocês chegaram, esses tempos chegarão ao fim. — declarou ela.

Logo o grupo mudou de assunto, Eris iniciando uma conversa com Trumpkin sobre o que aconteceu desde o momento em que fora pego pelos telmarinos, a feiticeira ouvindo sua história para então contar sobre seus feitos ao lado de Caspian, enquanto os três irmãos Pevensie a ouviam atentamente.

Apesar de não dizer muita coisa, a rainha Lúcia estava encantada pela presença da artesã. Ela era tão corajosa quanto Aslam, não parecia temer nada. E tão bonita... A menina logo percebeu o quanto queria ser como ela.

Quando finalmente chegaram até o esconderijo, Caspian, Eris e os antigos reis e rainhas entraram lado a lado e a primeira coisa que viram foram narnianos de todos os tipos manipulando armas roubadas dos telmarinos. Metais eram derretidos e transformados em novos objetos, o som de martelos batendo ecoando por todo canto.

— Talvez não seja como você estava acostumado, mas é defensável. — Caspian falou a Pedro, que observava o lugar com um olhar analítico.

— Conseguimos fazer muito desde que Caspian chegou. — contou Eris, se pondo ao lado do telmarino em suporte. — Foi graças a ele que roubamos tantas armas dos soldados de Miraz. Localizamos várias carroças que tentavam fazer uma rota até a ponte que os telmarinos estão tentando construir e as saqueamos. Conseguimos mantimentos também.

O príncipe sorriu para a garota, envolvendo seus ombros com o braço.

— Mas foi você quem planejou, espiou e executou o roubo, gatuna. — acrescentou ele.

— E bota gatuna nisso... Não confiaria nem a moeda mais enferrujada nas mãos dessa aí. — comentou Ripchip, antes de ser chamado por um grupo de roedores que pareciam estar à sua espera.

Edmundo arqueou a sobrancelha para Eris:

— O que você fez para ganhar essa fama?

A feiticeira lhe lançou um sorriso malicioso que causou arrepios em Pedro: era exatamente igual aos sorrisos que Ed costumava abrir depois de fazer uma coisa deixaria alguém muito irritado.

— Você quer saber antes ou depois de Caspian assoar a trompa? — perguntou ela.

O garoto a encarou, o olhar tão divertido que quase arrancou uma gargalhada de Eris.

— Por Aslam, há quanto tempo você é espiã?

— Bem, eu faço dezoito anos em menos de dois meses, então... — ela fingiu fazer as contas. — Devo espionar os telmarinos há quase nove anos. Vivi no castelo durante sete, quase oito.

Os olhos de Edmundo brilharam. Ele achava incrível conhecer uma espiã de verdade, lembrando-se das histórias que ouvira sobre os espiões de seu mundo natal. Um colega da escola havia contado sobre um tio militar, enviado para se infiltrar entre os nazistas e descobrir seus planos. Escapara com vida e ajudou imensamente os Aliados na Grande Guerra.

Caspian, por outro lado, parecia um pouco incomodado pela ideia de Eris ter estado em Telmar apenas para espionar. Ele vivia ouvindo os narnianos se referindo a ela como uma espiã ou gatuna, mas saber que ela mesma se via daquela forma o chateava, como se o tempo que viveram juntos fosse uma mentira.

— Certo e o que você fez depois de assoprar a trompa, então? — Edmundo continuou a conversa, indiferente aos olhares de Pedro, Lúcia e Caspian, que assistiam a interação entre Eris e ele, enquanto Susana se afastava para observar o restante do esconderijo.

— O episódio mais marcante? Transformei Caspian e eu em dois lordes do gabinete de Miraz. Nós penetramos o acampamento telmarino sem ninguém perceber, enviamos uma carroça de armas para uma emboscada e ajudamos outros narnianos a invadirem o lugar. — seu olhar era feroz e divertido, assim como o de Edmundo. — Devo ter perdido quilos de tanto cansaço que a magia me causou, mas valeu a pena. Foi assim que ganhei meu título de Mestre-Espiã de Nárnia.

— Te dou um baú de ouro se me levar para a próxima missão. Juro. Um baú inteiro. — Edmundo anunciou e Eris riu, feliz por ser admirada.

Eu também a admiro, Caspian pensou, enciumado.

— Trato feito. — disse a narniana, ela e o Pevensie mais novo trocando um aperto de mãos, os olhos de ambos brilhando de malícia.

— Pedro! — Susana chamou o irmão, atraindo a atenção dos outros. — Talvez você queira ver isso.

Seguindo a jovem rainha, os Pevensie, o telmarino e a narniana foram até as paredes do lugar, que, iluminadas por uma tocha obtida por Pedro, revelou gravuras antigas sobre a história dos irmãos.

— Somos nós. — Susana comentou.

— O que é este lugar? — perguntou Lúcia.

Desacreditado, Caspian perguntou: — Vocês não sabem?

O silêncio do quarteto serviu como uma confirmação e Eris e o príncipe se encararam por um segundo, antes da espiã decidir falar.

— Este é o Monte Aslam. — revelou, enquanto Caspian os guiava pelos corredores abaixo. — Talvez fosse diferente quando vocês o conheceram, mas séculos de erosão e mais algumas décadas sendo usado pelos narnianos como esconderijo coletivo o transformou nessas catacumbas.

Quando chegaram a um salão escuro, Caspian usou sua tocha para atear uma pira, que iluminou o local, revelando uma parede com um leão esculpido na pedra e uma enorme mesa retangular quebrado ao meio, que mil anos atrás serviu como o altar no qual a Feiticeira Branca sacrificara Aslam.

O olhar que Lúcia lançou ao lugar foi de partir o coração. A rainha se aproximou da mesa, a observando como se as lembranças daqueles eventos ainda estivessem frescas em sua memória, e se virou para os demais.

— Ele deve saber o que está fazendo. — proferiu, se referindo a Aslam.

Os irmãos encararam a imagem do leão novamente, antes de Pedro dizer:

— Acho que agora é por nossa conta.

O silêncio que recaiu sobre os irmãos Pevensie levou Eris a perceber que eles eram muito mais velhos do que suas aparências diziam. Apesar de sempre ter estado ciente de que o reinado deles durou décadas, vê-los sob a forma de adolescentes tirou aquela impressão.

Mas o olhar cansado do rei Pedro e a forma como a rainha Lúcia se referia a Aslam, como se fosse sua arauta, foi o suficiente para lembrá-la de que os Pevensie eram muito mais experientes do que Caspian e ela.

O restante dos narnianos do acampamento se reuniram no salão, todos ansiosos para saber quais planos os antigos reis e rainhas tinham para derrotar Miraz.

— ...É apenas uma questão de tempo. — a voz de Pedro despertou Eris de seus pensamentos. — Os homens de Miraz e suas máquinas de guerra estão à caminho. — ele deu uma pausa, encarando alguns narnianos. — Isso significa que aqueles homens não estão protegendo o castelo.

A espiã notou a forma que Caspian encarou o Pevensie mais velho quando ele citou o castelo. Ele não estava gostando do rumo que aquela conversa tomava.

— O que propõe que façamos, Vossa Majestade? — Ripchip perguntou.

— Precisamos começar a nos preparar. — Pedro disse, ao mesmo tempo que Caspian começou: — Começar a planejar para...

Os dois pararam de falar e se encararam, a tensão entre eles quase palpável. Ambos pareciam prontos para dar início a uma discussão acalorada sobre quem era o verdadeiro merecedor do poder naquele salão.

Eris, que estava ao lado de Caspian — como sempre ficava nas reuniões dos narnianos —, colocou a mão sobre o ombro do amigo e mesmo que a feiticeira nada tivesse dito, o rapaz relaxou sua postura e acenou para o Pevensie retomar a fala.

Pedro encarou a mão da garota sobre o rapaz com uma expressão esquisita, antes de tornar a falar:

— Nossa única esperança é atacá-los antes que eles nos ataquem.

— Isso é loucura. — Caspian protestou. — Ninguém jamais conseguiu tomar aquele castelo.

— Sempre há uma primeira vez. — Pedro retrucou.

Trumpkin concordou: — Teremos o elemento surpresa.

— Mas estamos em vantagem aqui! — o telmarino observou.

— Se nos protegermos, poderemos segurá-los indefinitivamente. — a rainha Susana interviu.

Eris pôde ver o quanto Caspian parecia aliviado por ter alguém apoiando sua ideia e a percepção de que a própria feiticeira não era tão favorável à ideia do amigo começou a deixá-la nervosa. Não queria que o rapaz achasse que ela estava contra ele.

— Olha — Pedro se virou para o príncipe de Telmar. —, eu aprecio o que você fez aqui, mas isso não é uma fortaleza. É uma tumba.

— Sim. — Edmundo concordou, sentado em uma pedra, de onde observava a discussão. — E se forem espertos, os telmarinos vão apenas esperar nós morrermos de fome.

Eris finalmente se manifestou: — Edmundo está certo. Nosso acampamento é forte, mas se ficarmos isolados por muito tempo, a comida vai acabar e a nossa moral também. Não teremos a energia que temos agora para a batalha. Talvez seja melhor agirmos enquanto ainda temos essa vantagem.

— Nós podemos coletar nozes! — comentou um esquilo, ainda focado no assunto da comida. Eris evitou um suspiro impaciente, assim como evitou olhar para Caspian.

— Sim! E jogá-las nos telmarinos! — concordou Ripchip, sarcástico. Ele lançou um olhar severo para o colega roedor. — Cale a boca! — e se voltou para Pedro. — Sua mestre-espiã está certa. Temos a vantagem de ainda não estarmos cansados ou famintos. Acho que sabe de que lado eu fico então, senhor.

O rei pareceu apreciar o gesto, assim como pareceu apreciar as palavras da mestre-espiã, porque lhe lançou um sorriso aprovador, antes de se virar para o centauro Glenstorm:

— Se conseguir colocar suas tropas lá dentro, consegue lidar com os guardas?

O centauro encarou Caspian por um segundo, antes de confirmar: — Ou eu morro tentando, senhor.

— É isso que me preocupa. — Lúcia finalmente falou. Todos se viraram para ela, surpresos, como se só tivessem se lembrado de sua presença naquele momento.

— O quê? — perguntou Pedro.

— Estão todos agindo como se só houvesse duas opções: morrer aqui ou morrer lá. — a jovem prosseguiu, e Eris sentiu um arrepio na espinha. Se deu conta de que, desde que Caspian e e ela se juntaram ao acampamento, ela esperava por sua morte em algum campo de batalha mais do que esperava pela vitória.

— Acho que você não está ouvindo, Lu. — Pedro tentou dizer.

— Não, acho que você não está ouvindo. — a irmã lhe disse, parecendo nervosa e chateada. — Ou você se esqueceu de quem realmente derrotou a Feiticeira Branca, Pedro?

Eris se lembrou das histórias: a Feiticeira Branca conseguiu matar Aslam uma vez e logo toda a moral de quem lutava por Nárnia acabou. A única pessoa que ainda acreditava no Leão era Lúcia, que conseguiu salvá-lo com seu elixir de cura.

As histórias sobre os Pevensie eram sempre contadas como se Pedro fosse o herói de Nárnia, mas Eris sempre viu Lúcia como a verdadeira heroína: foi ela quem salvou Aslam e foi o Leão quem salvou Nárnia.

O irmão a encarou, tenso.

— Acho que já esperamos o suficiente por Aslam. — disse  e se virou para o restante: — Está decidido então. Enviarei nossa mestre-espiã para descobrir o melhor momento do dia para o ataque. Dentro de uma semana, atacaremos.

E então ele se retirou do salão, deixando claro que aquela discussão tinha chegado ao fim.

Quando o restante dos narnianos começou a se dispersar para voltar às suas atividades, Caspian puxou a amiga pelo braço, os dois permanecendo naquele salão intimidador.

— Você realmente está encantada por ele, não é? — questionou e a jovem o encarou, confusa.

— O quê?

— Você. Está. Encantada. Pelo. Grande. Rei. Pedro. — o telmarino disse pausadamente, o olhar ríspido.

Eris foi tomada por aborrecimento. Caspian a conhecia havia anos. Realmente acreditava que ela tomaria um posicionamento tão importante por causa de um garoto?

— O que diabos há de errado com você? — falou ela. — Conheci o Rei Pedro hoje.

— Sim, mas o que me parece é que você passou a vida inteira esperando ele chegar. — rebateu o telmarino. — Pensei que fôssemos amigos, mas você fica se gabando por ter me espionado durante anos, então não me culpe por achar que você está encantada por esses antigos reis.

A feiticeira o encarou, chocada. Não imaginava que Caspian pensasse daquela forma. Aquilo nunca sequer se passou pela sua cabeça.

— Sinto que fui só um trabalho que você fez para poder contar aos narnianos sobre as estruturas do castelo e das relações da corte e agora que já deu todas as informações possíveis, simplesmente não sei onde eu me encaixo na sua vida. — concluiu o rapaz, seu rosto se avermelhando, como se sentisse vergonha por se expor daquela forma.

Eris o encarou com intensidade, seus pensamentos sendo organizados pouco a pouco em sua mente, até ela finalmente perguntar:

— E o que os narnianos sabem sobre você?

Caspian uniu as sobrancelhas: — O quê?

— O que os narnianos sabem sobre você? — repetiu a jovem. — Você já viu alguém falando alguma coisa sobre sua vida antes em Telmar? Eles ao menos parecem saber de alguma coisa?

O rapaz hesitou, se lembrando de quando ele acordou na toca de Caça-Trufas, com Eris discutindo com Nikabrik sobre alimentá-lo. O anão não sabia que ele era o príncipe de Telmar, mas um soldado. Para uma espiã, aquela era uma informação muito valiosa para ser oculta, e mesmo assim ela ocultou.

— Não. — respondeu Caspian por fim.

— Exatamente. Porque eu espionava Miraz. Eu espionava a corte e os soldados telmarinos. Espionava os planos que tinham para invadir a floresta. Mas não fui para Telmar para espionar, fui porque se ficasse em Nárnia, talvez não sobrevivesse. Te conheci pelo acaso, não porque procurava vigiá-lo. — falou a garota. — E toda vez que me questionavam sobre você, eu me esquivava e dizia que você não era ativo politicamente ou que ainda estava aprendendo com Cornelius. Eles achavam que você era uma criança. E eu deixei eles acharem.

Quando Caspian estava inconsciente na toca de Caça-Trufas, Eris temeu tanto o que Nikabrik poderia fazer com o rapaz se descobrisse que ele era o príncipe de Telmar, que fingiu não lembrar de mencionar aquele detalhe.

E ela nem citou o quanto fora recriminada por isso pelos narnianos, desde o príncipe assoprar a trompa: nos primeiros dias, quando Caspian estava longe, alguém sempre aparecia para criticá-la por tê-lo levado até a floresta — até que a feiticeira comentou que estava praticando transformar anões, centauros, faunos e roedores em insetos.

A jovem suspirou e a forma cansada como encarou o telmarino o fez se sentir egoísta e infantil.

— O que vivemos em Telmar foi de verdade. Você sempre foi meu melhor amigo e mesmo que nunca mais queira falar comigo, continuará sendo. — declarou ela. — Mas eu tenho outra parte da minha vida que não pode ser apagada só porque a escondi de você. Eu passei a vida inteira esperando pela volta dos Antigos Reis e Rainhas, pela volta de Aslam. Acredito em profecias, no alinhamento das estrelas, em uma floresta viva e um Leão tão poderoso quanto os deuses. Esta sou eu.

O príncipe acenou com a cabeça, sem saber o que dizer. Também existia uma parte dele que Eris não conhecia. Quem ele era entre os nobres de Telmar, com as piadas afiadas e charme cortês, ou quem ele era entre os soldados, atrevido e corajoso... Ele não se mostrava completamente assim para Eris.

O que somos nós, se não o que escolhemos mostrar para cada pessoa?, pensou ele.

— Sinto muito por não ter te apoiado desta vez. — prosseguiu a mestre-espiã. — Mas meu posicionamento está sendo incentivado apenas pela tática. Fui educada por Cornelius em Telmar e por Magnus e Trumpkin em Nárnia. Eles são as pessoas mais lógicas que já conheci. Se eu acho que é melhor aproveitar a nossa vantagem, é a minha opinião. Não tem nada a ver com o Rei Pedro ou com você. Tem a ver com a maldita situação.

Então ela encarou o príncipe, o olhar severo.

— Você gostaria de dizer o que estou querendo ouvir, ou terei que esperar mais? — a feiticeira perguntou por fim.

Caspian suspirou: — Me desculpe. Eu só... Estou estressado com tudo isso. Demorei para conquistar a confiança dos narnianos e agora parece que estou sendo descartado.

— Ninguém está se esquecendo do que você fez por nós, ou do que está disposto a fazer. Nós confiamos em você. Eu confio em você. Mas confiar não significa ter obediência cega. — a garota disse e o rapaz acenou com a cabeça. Ela estava certa. — Agora vamos para o treino de espada. Quero ver você roubando a espada de mais alguns guerreiros épicos.

O príncipe até tentou, mas não conseguiu evitar o sorriso quando a garota segurou seu braço, o guiando para longe de todo aquele estresse que o Grande Rei Pedro trouxera consigo.




── NOTAS.

UM.    ︴nós finalmente tivemos o encontro entre eris, caspian e os pevensie e este é um dos meus capítulo favoritos da parte um (depois do futuro capítulo do beijo do casal hihihi).

DOIS.   ︴enfim, me contem se estão gostando. 🌟's e comentários são super bem-vindos!

©︎DEVILEVIE, 2021.
────── evie.

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